quinta-feira, setembro 15, 2016

A pauta certa - RODRIGO CONSTANTINO

GAZETA DO POVO - PR - 15/09

A julgar pela esquerda, as coisas mais relevantes do mundo são a legalização do aborto e das drogas, o clima e o casamento gay ou o “poliamor”, e não as mazelas da população pobre



Andava por uma livraria outro dia quando vi um grupo de adolescentes “debatendo” política. Uns diziam que votariam no candidato do PSol, outros na candidata do PCdoB. Um, solitário, preferia o Partido da Causa Operária. Eram alunos de uma escola particular, num shopping carioca de luxo.

É verdade que a juventude é meio utópica e costuma ter uma queda pelo socialismo. Mas não é apenas isso que explica o fenômeno. Nos Estados Unidos, por exemplo, a garotada votaria em peso no socialista Bernie Sanders. Há algo mais por trás dessa “coincidência”.

Uma das notícias mais importantes da década passou despercebida por nossa imprensa nos últimos dias. Falo do vazamento de dados da fundação de George Soros, o especulador bilionário que financia boa parte da esquerda mundial.

A esquerda sempre foi contra a globalização dos mercados, mas se tornou “globalista” no campo das ideias. Descobriu que é mais fácil fazer uma revolução mundial na cultura, e com isso avançar no controle de nossas vidas, com um Estado cada vez mais intervencionista.

Por isso Soros dá dinheiro para Hillary Clinton, para Fernando Henrique Cardoso e para o Mídia Ninja, de Pablo Capilé. São muitos milhares de dólares por ano para cada um. E qual a contrapartida? O mundo politicamente correto “debate” mais e mais as mesmas pautas, todas com um só denominador comum: o enfraquecimento da família, do cristianismo, o homem branco como vilão da humanidade e a “marcha das minorias oprimidas” como o caminho da redenção.

A solução para tudo – aquecimento global, preconceitos, desigualdades, violência – é sempre mais Estado; para todo problema há de se pregar a mão visível do Estado como resposta. É por isso que vemos tanta convergência na pauta da grande imprensa, dominada por essa esquerda. A julgar por essa gente, as coisas mais relevantes do mundo são a legalização do aborto e das drogas, o clima e o casamento gay ou o “poliamor”, além do desarmamento dos civis inocentes. Esses “formadores de opinião”, bancados por ricaços como Soros e sua trupe, vivem numa bolha, e alguns passam mesmo a crer que essas são as bandeiras mais importantes do momento.

Esqueça as verdadeiras mazelas da população do andar de baixo, o transporte caótico, a falta de saneamento, a comunidade dominada pela bandidagem, a péssima qualidade da educação pública e uma saúde cada vez mais cara. As prioridades da mídia são outras, definidas por uma elite culpada ou interessada em ampliar os tentáculos estatais para benefício próprio.

Voltemos aos garotos da livraria: eles acham que pensam por conta própria, mas nem percebem que são papagaios desses formadores de opinião, sustentados pelo “sistema”. Repetem sem muita crítica aquilo que as “autoridades” e os “especialistas” dizem sobre cada coisa, e ainda se sentem os rebeldes!

Fumar sua maconha em paz, abortar o bebê quando o sexo é descuidado e participar de orgias com novo nome passam a ser suas grandes metas “revolucionárias”, enquanto o pobre luta para sobreviver pagando impostos cada vez maiores e tentando manter sua filha longe do traficante, que o jovem mimado vê como herói, para poder odiar a polícia “fascista”.

Mais de 60% dos partos no Rio, capital nacional dessa “esquerda caviar”, são de mães solteiras, e muitas são adolescentes e sem estudo. É o quadro da destruição real dessas ideias “bonitinhas” que seduzem os filhos da elite, no conforto de seu condomínio.

Precisamos deixar de pautar nossos debates com base nas bandeiras “progressistas” enfiadas goela abaixo pelos globalistas. Há outras prioridades. No curto prazo, recuperar a economia com as reformas estruturais. No longo prazo, resgatar valores morais e impedir essa doutrinação ideológica em nossas escolas. Eis a pauta certa.

Rodrigo Constantino, economista e jornalista, é presidente do Conselho do Instituto Liberal.

Revolucionário, com velhas ideias - CARLOS ALBERTO SARDENBERG

O Globo - 15/09

Cargos em comissão no governo federal brasileiro, a maior parte com nomeação do presidente: 23 mil. Nos EUA, oito mil


Provocado pelo pessoal da Associação Brasileira de Shopping Centers com o tema “O Brasil que temos e o Brasil que queremos”, o ministro do STF Luís Roberto Barroso apresentou um conjunto de dez ideias que a gente poderia chamar de liberal e progressista, não estivessem esses termos tão embaraçados.

E para embaraçar um pouco mais, podemos dizer que o ministro apresenta algo moderno ao buscar temas do passado. O que pode ser mais velho do que dizer que só a iniciativa privada gera riquezas? Pois foi o que Barroso sugeriu: o Brasil precisa de menos Estado, menos oficialismo e mais livre empreendedorismo. Ou seja, capitalismo de verdade, não esse praticado no país nos últimos tempos, uma associação criminosa e imoral entre governo e empresas cartelizadas e, de algum modo, beneficiadas com dinheiro público.

Mas o capitalismo não gera desigualdades?

O ministro, falando no congresso da entidade na última terça, não fugiu do tema. E tomou outra ideia antiga: o mais importante é a igualdade na partida. Aqui aparece talvez a mais importante missão do Estado: fornecer a todos uma educação de qualidade.

Dito de outro modo, não pode haver um bom capitalismo sem um Estado eficiente, que garanta os bens comuns, como escola, saúde, segurança, mas, sobretudo, a educação.

Sim, esta é uma ideia velha e, sobretudo, praticada largamente com sucesso pelo mundo afora. Aliás, neste aspecto, Barroso mostrou-se internacionalista. Sugeriu que a gente contratasse consultorias internacionais para avaliar a escola brasileira, do fundamental ao superior, e apresentar propostas. O ministro já adiantou algumas, ao comentar a decadência das universidades públicas: “Todo ano começa com uma greve”.

A favor de um tipo de internacionalização, Barroso disse que precisamos de mais intercâmbio com as universidades do mundo, precisamos abrir nossas faculdades para o saber externo, trazendo mestres, com aulas em inglês e espanhol, por exemplo.

De novo, é o que se faz nos países bem-sucedidos em educação. Mas se trata de uma proposta odiada pela elite acadêmica brasileira e, especialmente, pelos sindicatos de professores. Dizem que é para proteger nossa cultura. Na verdade, é reserva de mercado e, sobretudo, medo da competição, da comparação.

Por contraste, ao sugerir a abertura, o ministro Barroso parece um revolucionário.

E também quando sugere um corte radical nos famigerados cargos em comissão — esse instrumento do aparelhamento do Estado e da corrupção, isso agora por nossa conta.

Os números são eloquentes. Cargos em comissão preenchidos no âmbito do governo federal brasileiro, a maior parte com nomeação do presidente da República: 23 mil. Nos EUA, oito mil. Na França, 550. E ainda temos um crescente quadro de concursados.

Barroso defendeu a reforma da Previdência — a necessidade disso “é intuitiva” — o equilíbrio fiscal e, neste item, a recuperação do Orçamento como peça política de alocação de recursos para o benefício da sociedade, em vez do Orçamento assaltado todo ano pelas forças políticas — aqui, de novo, comentário por nossa conta.

O ministro disse que o combate à corrupção em curso é um avanço notável e defendeu a regra pela qual a pessoa deve cumprir pena depois de ter sido condenada em segunda instância.

Tema crucial este, que está para ser revisitado pelo Supremo Tribunal Federal. A tese contrária, resumindo, diz que a pessoa só pode ir em cana depois de condenada em “última, ultimíssima instância”, o STF — o que abre espaço para quem pode contratar bons advogados e, com uma farra de recursos, protelar para sempre o julgamento. Aqui também o acréscimo é nosso.

Barroso citou ainda a reforma política, aliás a primeiro item de seu decálogo. Defendeu o fim das coligações em eleição proporcional — regra pela qual o eleitor não sabe qual deputado elegeu e este não sabe quem o elegeu. Defendeu também a cláusula de barreira — isso para o curto prazo. Para o futuro, a proposta é o sistema distrital misto, como o alemão.

Como políticas públicas, Barroso mostrou a necessidade de um esforço máximo no saneamento básico e preservação do meio ambiente. Aqui, de novo, foi moderno ao comentar ideia velha: é preciso ter um sistema no qual preservar a floresta seja mais lucrativo e mais eficiente economicamente do que destruí-la.

A pergunta que fica é a seguinte: por que a sociedade brasileira simplesmente não copia o que deu certo em outros lugares?

Bola em jogo - CIDA DAMASCO

ESTADÃO - 15/09

Depois dos tropeços das últimas semanas, parece que o presidente Michel Temer finalmente começa a pôr a bola em jogo. Mas, a julgar por suas últimas manifestações, o jogo pode ser mais retrancado do que se anunciava


Foi-se o impeachment, foi-se a cassação de Eduardo Cunha e faltam pouco mais de duas semanas para o primeiro turno das eleições municipais. Mais do que na hora, portanto, de o governo entrar em campo, com a real definição de prioridades e articulações necessárias para viabilizá-las. Depois dos tropeços das últimas semanas, parece que o presidente Michel Temer finalmente começa a pôr a bola em jogo. Mas, a julgar por suas últimas manifestações, o jogo pode ser mais retrancado do que se anunciava.

Após o lançamento do novo programa de concessões e privatizações, nesta terça-feira, o que está no foco das prioridades é a briga pela aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) dos gastos públicos. Apesar da impaciência de parte dos aliados – especialmente dos tucanos – , dos mercados e de setores empresariais, o envio da reforma da Previdência ao Congresso Nacional ainda não tem data para acontecer. E a reforma trabalhista, com os estragos provocados pela incontinência verbal do ministro da pasta, fica mais distante a cada declaração de Temer: tudo o que ele tem feito, nos últimos dias, é enumerar o que não vai mudar na legislação trabalhista.

O lançamento do programa de concessões, com uma cesta de 34 projetos e RS$ 30 bilhões de dinheiro público, caiu bem, pelo menos em termos de expectativas. Conforme o governo havia prometido aos empresários, o que vai balizar a disputa agora é a garantia de retorno do investimento e não mais a menor tarifa a ser cobrada pelo serviço – compromisso que, para ser honrado, exigia muitas vezes a entrada maciça do BNDES no empreendimento. Mas ainda faltam muitas definições para se avaliar o alcance do programa: há dúvidas, principalmente, se o novo modelo fará com que haja maior participação de recursos privados no financiamento dos projetos.

Vamos, então, para a bola da vez, a PEC do gasto público. Considerada um primeiro passo necessário para a solução para a crise fiscal, a proposta começa a receber algumas críticas. São três os principais questionamentos:

1) O reajuste das despesas da União com base na inflação do ano anterior. Nesse ponto, há ressalvas de dois lados. Uns consideram que limitar gastos em geral, agora, significa mais recessão. Outros, ao contrário, argumentam que utilizar a inflação do ano anterior para calcular a correção, e não a variação do PIB, não garante o aperto desejado, pelo menos nos dois primeiros anos;

2) O prazo de 20 anos para a vigência da PEC. A contestação é que esse prazo é muito longo, porque amarraria os próximos governos, comprometendo, inclusive, a formulação dos chamados Planos Plurianuais de Investimentos;

3) A inclusão de gastos de saúde e educação na regra geral. Embora o Congresso tenha condições de direcionar mais recursos para essas áreas, especialistas consideram irrealista essa possibilidade, simplesmente porque lobbies mais eficientes se sairiam melhor na distribuição de verbas. Como ironiza um especialista, é mais ou menos como se o “representante” de uma fila de pacientes do SUS tivesse de disputar espaço nos gabinetes do Congresso com os lobistas dos servidores do Judiciário.

Que uma limitação a gastos vai sair dessa discussão, não há dúvida. Mas dificilmente será a PEC dos sonhos da equipe econômica. O relator da proposta, deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS), promete fechar o relatório na semana que vem e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), fala em iniciar a votação em outubro.

Henrique Meirelles e Maia bateram forte ontem na “herança maldita” da política econômica de Dilma. E usaram como exemplo os Estados do Norte e Nordeste, cujos governadores ameaçaram decretar calamidade pública na semana que vem, caso não recebam ajuda de R$ 7 bilhões. Mas eles sabem que, se problemas como esse dos Estados põem às claras o custo do descontrole fiscal do passado, significam também mais pedras no caminho do ajuste futuro.

Denúncia é petardo triplo para Lula e o PT - VERA MAGALHÃES

ESTADÃO - 15/09

A denúncia apresentada nesta quarta-feira pelos procuradores da força-tarefa da Lava Jato é um petardo triplo que atinge em cheio Lula e o PT no momento em que ensaiavam tomar as ruas denunciando o suposto golpe de Estado e a vindoura supressão de direitos sociais.

Agora, o partido e seu líder máximo terão de recolher tropas e munições que pretendiam manter nas ruas, na esperança de evitar um desastre completo nas urnas no mês que vem, para tentar desconstruir a peça que é avassaladora politicamente e muito bem fundamentada do ponto de vista técnico.

O petardo é triplo porque faz desmoronar de uma só vez o discurso do golpe, as chances eleitorais do PT e a esperança que ainda havia nas hostes petistas de que haveria espaço para uma campanha Lula 2018. Não há.

A entrevista foi propositalmente dividida entre três procuradores. Coube a Deltan Dallagnol, o mais “midiático” dos procuradores, fazer o que ele chamou de montagem do “quebra-cabeça”: a tese segundo a qual Lula era o “elo”, “comandante” ou “maestro” de um esquema criminoso que ele batizou de “propinocracia”.

Citando em looping o nome do ex-presidente, como para marcar de forma indelével a tese, Deltan também tratou de fixar graficamente o que dizia, por meio de um diagrama que logo viralizou nas redes sociais com círculos de partes do esquema que levavam a Lula, no centro da tela.

Foi a mais clara ligação feita até aqui por uma autoridade da Lava Jato entre os esquemas do mensalão e do petrolão, que seriam ambos “faces” de um mesmo esquema destinado a “perpetuar criminalmente” o PT no poder, segundo o procurador.

Mais: pela primeira vez, o Ministério Público acusou o ex-presidente de ter sido beneficiado pessoalmente com “pelo menos” R$ 3,7 milhões do esquema de propinas vindo da Petrobras, por meio da empreiteira OAS.

Depois do show de Lula feito pelo “maestro” da Lava Jato, coube a outros dois procuradores elencarem as provas a embasar a denúncia, que teve como foco a compra e reforma do tríplex do Guarujá, que a Lava Jato sustenta que foi dado a Lula e sua família para lavar recursos oriundos de propinas, e no armazenamento dos “presentes” de Lula como presidente pela mesma construtora.

O estrago na defesa de Lula é imenso. A Lava Jato reuniu documentos, fotos e fez até exame grafotécnico no documento do tríplex. Não será possível desconstruir a denúncia apenas com base no discurso de que há uma perseguição ao ex-presidente.

Eleitoralmente para o PT é um strike. Equivale, em termos de estrago, à foto da pilha de dinheiro que seria usada para comprar um dossiê contra José Serra às vésperas do primeiro turno da eleição presidencial de 2006.

Candidatos petistas como Fernando Haddad estavam começando a ensaiar uma estratégia eleitoral de se irmanar à tese do golpe e tentar consolidar o voto dos anti-Temer. Diante da cena de Lula denunciado como chefe de um esquema criminoso, haverá menos apelo para esse discurso.

* Texto originalmente publicado no Broadcast Político, às 17h57 desta quarta-feira.

‘Propinocracia’ e ‘cleptocracia’ - ELIANE CANTANHÊDE

ESTADÃO - 15/09

Na longa entrevista de ontem, com formato e tom professoral, os procuradores da Operação Lava Jato não apresentaram nenhum fato novo, nenhum documento novo, mas contaram uma história com começo, meio, fim, e nexo, jogando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no centro da “propinocracia” que depenou os cofres de empresas públicas brasileiras. Uma história que tem evidente e até dramático impacto político, num momento já tão turbulento do País.

Adjetivos não faltaram para definir Lula no esquema de corrupção: “comandante”, “general”, “maestro”, “chefe”, já que tanto ele quanto o próprio esquema continuaram e até se ampliaram e se sofisticaram depois da saída de José Dirceu da Casa Civil e, portanto, do próprio governo Lula. Durante o julgamento do mensalão, Dirceu foi o “chefe da quadrilha”. No petrolão, ele volta a ser o “braço direito”, porque o “comandante” era outro: Lula.

Segundo os procuradores, recheando a exposição com organogramas e gráficos em que Lula está sempre no centro, em destaque, o mensalão e o petrolão são duas faces da mesma moeda. E o elo entre elas é justamente Lula, que passa a ser também o centro dos debates políticos, depois do impeachment de Dilma Rousseff, há duas semanas, e da cassação do deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), dois dias antes.

O estrago é monumental e é em cadeia (sem trocadilho): deixa em frangalhos a imagem de Lula, os debates já muito tensos sobre o futuro do PT e as chances do partido nas eleições municipais, que estão logo aí. Se já estavam em situação difícil, os candidatos petistas ficam agora sem pai, Lula, e sem mãe, Dilma. Quem Fernando Haddad pode chamar para seu palanque em São Paulo, por exemplo?

Como tudo na vida tem dois lados, e como Lula e o PT sempre foram bons de marketing, a reação deles será a vitimização. Na campanha, nas entrevistas, nas redes sociais, atacarão o juiz Sérgio Moro, o Ministério Público Federal, a Polícia Federal e até a imprensa, que divulga os fatos. Quando não há defesa, parta-se para o ataque. Às vezes dá certo, às vezes não. Mas é o que resta a Lula e ao PT.

Quanto ao governo Michel Temer, só resta fingir que não é com ele. A orientação no Palácio do Planalto é não haver comentários e muito menos comemoração diante da desgraça do parceiro de até poucos meses atrás. Primeiro, porque Temer não lucraria nada com isso. Segundo, porque nunca se sabe o que pode surgir sobre a cumplicidade do PMDB na “propinocracia” do PT.

Essa palavrinha, aliás, lembra o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que acusou os governos do PT de “cleptocracia” com um “plano perfeito” para se eternizar no poder. Logo, a força-tarefa da Lava Jato e o ministro estão falando a mesma língua. Uma língua ferina, que conta uma história que certamente terá efeitos políticos, jurídicos e policiais.

Realismo nas concessões - EDITORIAL ESTADÃO

ESTADÃO - 15/09

Se a iniciativa tiver o sucesso previsto pelo governo, o Brasil será beneficiado por importantes ganhos de produtividade



Essenciais para a retomada do crescimento e para a consolidação de uma nova fase de expansão econômica, os grandes investimentos em infraestrutura poderão recomeçar no próximo ano, com o novo esquema de parceria entre o setor público e o capital privado. Se a iniciativa tiver o sucesso previsto pelo governo, o Brasil será beneficiado por importantes ganhos de produtividade, custos serão cortados e a produção nacional se tornará mais competitiva em todos os mercados. Mais postos de trabalho serão abertos nos próximos anos e haverá mais empregos de qualidade.

A ideia é atrair investidores com um programa realista, sem limitação artificial de tarifas, mas com maior participação privada no financiamento dos projetos. Uma lista inicial de 34 projetos – de rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, eletricidade, petróleo e mineração – foi apresentada pelo presidente Michel Temer na terça-feira passada, numa cerimônia de lançamento do programa de concessões.

O governo se dispõe a participar dos financiamentos com R$ 30 bilhões. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deverá fornecer R$ 18 bilhões. Outros R$ 12 bilhões virão do Fundo de Investimento do FGTS, por intermédio da Caixa. Essas verbas serão usadas na compra de até 80% das debêntures emitidas pelas empresas vencedoras das licitações. Essas empresas deverão providenciar os outros 20%. Ainda haverá subsídios, mas a parcela subsidiada poderá variar de acordo com o tipo de projeto.

O envolvimento dos grupos privados nesse novo esquema dependerá, naturalmente, das condições do mercado de financiamentos e da segurança de rentabilidade. A ação do governo poderá influenciar os dois fatores. O acesso ao mercado poderá tornar-se mais fácil, nos próximos meses, se a nova política econômica restabelecer a credibilidade da administração federal e, por extensão, de seus mais ambiciosos programas. Em segundo lugar, critérios mais adequados de parceria deverão tornar os projetos mais atrativos para o setor privado. O governo anterior se dispôs a assumir grande parte do financiamento das obras, mas seu excessivo intervencionismo tornou os projetos menos interessantes para as empresas.

O governo do presidente Michel Temer deve ter o cuidado de evitar esse erro. “Assegurar a estabilidade e a segurança jurídica, com a garantia de mínima intervenção nos negócios e investimentos”, é um dos objetivos indicados na medida provisória que criou o Programa de Parcerias de Investimentos, transformada em lei em vigor desde terça-feira. Ao anunciar os 34 projetos e as linhas principais da política, o presidente cuidou de eliminar preocupações quanto aos critérios de fixação de tarifas. “Não haverá substituição da aritmética pela ideologia”, prometeu. A definição de tarifas, acrescentou, será baseada em dados da realidade, “em estudos técnicos”.

Os bancos estatais deverão vender as debêntures somente quando os empreendimentos começarem a dar lucro. Fundos de pensão, espera-se, deverão estar entre os principais compradores. O Banco do Brasil será o principal fiador, garantindo o pagamento dos juros das debêntures entre o começo da operação e o início do recebimento de receitas pelas concessionárias. A função de fiador deverá ser complementada por um parceiro privado.

Com cautela, o presidente e seus ministros evitaram antecipar valores dos investimentos previstos. Mas a programação financeira do próximo ano inclui uma receita de R$ 24 bilhões proveniente das concessões. Sem esse dinheiro, o governo terá de encontrar uma alternativa para manter o déficit primário (sem a despesa de juros) dentro do limite previsto de R$ 139 bilhões. A curto prazo, o programa de licitações de infraestrutura deve ser, portanto, um componente da política de ajuste das contas públicas.

Mas o ajuste só será duradouro se se tornar independente de recursos excepcionais, como esses. A importância efetiva do programa de infraestrutura é outra: recompor e ampliar condições essenciais tanto à atividade produtiva como ao bem-estar do brasileiro.

Dois mundos - MÍRIAM LEITÃO

O Globo 15/09

Para se defender bem, Lula terá que ir além da teoria da conspiração e da perseguição política. A defesa do ex-presidente Lula atacou o procurador Deltan Dallagnol como se ele tivesse agido sozinho. “Sua conduta é política e incompatível com o Ministério Público”, disse o advogado Cristiano Zanin. Minutos antes, Deltan já havia respondido a essa acusação. Disse que mais de 300 funcionários públicos, concursados, de diversos órgãos, trabalharam em conjunto de forma “técnica, imparcial e apartidária”.

Essas duas falas juntas mostram dois mundos. “Nasce hoje um novo Brasil sob a batuta de Deltan Dallagnol”, leu o advogado, insistindo na ideia de que o trabalho de um só homem havia produzido a denúncia contra o ex-presidente. A entrevista em Curitiba derrotava essa linha de defesa. Eram duas mesas longas, com vários procuradores, delegados da Polícia Federal, auditores da Receita Federal. Um mundo, o da defesa de Lula, acreditava numa conspiração comandada por um procurador contra Lula “apenas porque ele foi eleito e reeleito presidente do Brasil”, e o outro mostrava agentes públicos agindo em rede para se chegar ao que Dallagnol chamou de “quebra-cabeças probatório”.

Durante a entrevista, os advogados de Lula rebateram os diversos indícios de que a cobertura de Guarujá foi preparada, reformada, mobiliada para ser oferecida como um benefício para Lula com argumentos que têm uma óbvia lacuna. A cota-parte de um apartamento teria sido adquirida por Marisa Letícia em 2005, mas só em 2014 a família foi visitar o apartamento para saber se queria mesmo adquirir e só em 2015 entrou na Justiça para reaver o dinheiro aplicado. Já o Ministério Público tem, para apresentar, conexões muito mais robustas. Sustenta que o apartamento e a armazenagem de bens, onde se lia que iriam para a “praia” ou para o “sítio”, foram parte de pagamentos de vantagens obtidas ilegalmente pela OAS em contratos na Petrobras.

Ao longo de todo o devido processo legal, tudo se esclarecerá. Se o que os procuradores, policiais federais e auditores da Receita mostraram em Curitiba for apenas fantasia que não se sustenta em prova alguma, Lula e Marisa Letícia nada têm a se preocupar. Se é uma idiossincrasia de apenas um procurador que age por motivações políticas, então também não será um problema para os denunciados, porque a Justiça tem as mais diversas instâncias para corrigir qualquer acusação sem prova.

Mas se o que estamos vendo é uma etapa de um processo que exigiu, como disse o procurador Roberto Pozzobon, a análise de centenas de gigabytes de informação para se formar a convicção que levou à denuncia o ex-presidente, os denunciados estão em apuros. Para essa análise, colaboraram funcionários de órgãos diferentes do setor público. Essa é a novidade que se abateu sobre o mundo do ex-presidente: o combate à corrupção no país se dá de forma institucional e parte de órgãos que colaboram entre si. Não é uma questão pessoal. Essa mesma força pública está sobre outros investigados por corrupção no país, seja ele integrante dos governos do PT, do PMDB, seja de que partido for. O país está determinado a combater a corrupção, e os agentes públicos atuam de forma conectada. O que está acontecendo é resultado de 30 anos de democracia, de 30 anos de Ministério Público independente, dos esforços de diversos governos, inclusive do próprio Lula, de fortalecer o setor público com funcionários especializados em diversos órgãos.

O que houve ontem foi mais uma etapa de um longo processo que se desdobrou em dezenas de fases e que provou que a Petrobras foi saqueada por uma conspiração que uniu empresários, políticos e integrantes dos partidos que estavam na coalizão de governo. Ontem, o MP deu um passo adiante e afirmou, com base em 14 evidências, que Lula foi o mentor, o comandante máximo, o maestro, o general do esquema que lesou os cofres da maior empresa do país.

Que o crime foi perpetrado não há dúvida. Se Lula era o comandante, é a hipótese que o Ministério Público apresenta agora, dizendo que isto está “acima de qualquer dúvida razoável”. Para Dallagnol, “provas são pedaços da realidade que formam convicção”. Mas há daqui para diante uma enorme estrada jurídica. Será preciso a Justiça receber a denúncia para então começar a transitar em julgado. Nesta estrada, a defesa terá tempo e meios de derrubar as acusações, se elas forem falsas.

Lula, o chefe da “propinocracia” - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - 15/09

Se a mitologia petista já tinha começado a ruir com o mensalão, a crise e o impeachment, ainda faltava a desconstrução do mito-mor



A Lava Jato continua trabalhando – mais que nunca, provavelmente. Quem sentiu falta de novas fases da operação nos últimos dias agora sabe que a força-tarefa estava era se preparando para uma das mais importantes ações da investigação sobre o assalto à Petrobras perpetrado para facilitar o projeto de poder petista: a denúncia contra o ex-presidente Lula e mais sete pessoas (incluindo a ex-primeira-dama Marisa Letícia e o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto), detalhada nesta quarta-feira em entrevista coletiva realizada em Curitiba.

A ponta solta a que policiais e procuradores se agarraram neste momento está no famoso triplex do Guarujá. Lula teria recebido “benesses” da empreiteira OAS – uma das mais encrencadas no petrolão e cujo ex-presidente Léo Pinheiro também foi denunciado –, somando obras no imóvel e aquisição de eletrodomésticos e móveis, de acordo com o texto do indiciamento feito pela Polícia Federal, em agosto; depois disso, os procuradores do MPF pediram 90 dias para apresentar a denúncia – no caso de Lula, por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica –, o que ocorreu nesta quarta-feira. Os valores relativos ao triplex seriam parte de um total de R$ 3,7 milhões em propinas para Lula, referentes a três contratos da OAS com a Petrobras.

Mas a força-tarefa reuniu elementos para ir muito além da questão do triplex na exposição feita em Curitiba. As expressões usadas por Deltan Dallagnol não deixam dúvidas: Lula foi descrito como “o elo comum e necessário do esquema criminoso” que pilhou a Petrobras; “sem o poder de decisão de Lula, o esquema seria impossível”, acrescentou o procurador. O ex-presidente foi, em resumo, o “comandante máximo”, o “verdadeiro maestro”, o “grande general que comandou a realização e a prática dos crimes”. A força-tarefa explicou como o petrolão surgiu na esteira do mensalão, “duas faces de uma mesma moeda”, para garantir o apoio parlamentar a Lula, e a denúncia inclui diversos depoimentos de delatores que apontaram o ex-presidente como líder do esquema de corrupção.

De todos os termos usados, no entanto, talvez nenhum tenha sido tão feliz ao explicar o lulopetismo no poder quanto “propinocracia”, o “governo regido pelas propinas”, o uso indiscriminado de cargos públicos e em empresas estatais com três objetivos: não apenas o enriquecimento ilícito de políticos e outros agentes públicos – prática que antecede em muito o governo Lula e não tem coloração partidária, infelizmente –, mas também (e principalmente) a obtenção da governabilidade e a perpetuação do PT no poder. São os mesmos elementos que, presentes no mensalão, levaram o então ministro do STF Carlos Ayres Britto a falar em “golpe contra a democracia” quando do julgamento dos mentores do esquema, em 2012.

Os procuradores não disseram se chegaram a pedir a prisão de Lula. Por enquanto, ele não é réu – isso depende do acolhimento da denúncia pelo juiz Sergio Moro. Mas o valor simbólico da denúncia, e da enxurrada de elementos apresentados na entrevista coletiva, é incomensurável: eles fazem cair por terra as alegações da “alma mais honesta do país” – que, aliás, já responde, na Justiça do Distrito Federal, a processo por tentar comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.

Nada de “perseguição política”, como alegam tantos petistas; nada de “tortura” nas delações premiadas, como acusava o deputado petista Wadih Damous – Dallagnol derrubou essa falácia ao mostrar que, das 71 delações, 50 ocorreram com réus soltos. O que houve, sim, foi um trabalho monumental da força-tarefa ao montar o complexo quebra-cabeça exposto na quarta-feira. Se a mitologia petista já tinha começado a ruir com o mensalão, a crise e o impeachment, ainda faltava a desconstrução do mito-mor. Não mais: a Lava Jato está mostrando ao Brasil o verdadeiro Lula.

A propinocracia denunciada - EDITORIAL ZERO HORA - RS

ZERO HORA -15/09

A Operação Lava-Jato, que investiga o maior esquema de desvios de recursos públicos da história do país, chegou ontem ao seu ponto culminante com a apresentação de denúncia formal contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sua mulher Marisa Letícia e mais seis pessoas, por corrupção, lavagem de dinheiro e recebimento de propinas. O alvo principal da denúncia é o ex-presidente Lula, apontado pelo porta-voz da força-tarefa da Lava-Jato, Deltan Dallagnol, como "comandante máximo do esquema criminoso" e "maestro da grande orquestra concatenada para saquear a Petrobras e outros órgãos públicos".

A denúncia é bombástica e certamente terá repercussão internacional, uma vez que Lula ainda é reconhecido como o operário que se tornou presidente e promoveu mudanças sociais históricas no Brasil. Mas as provas e indícios levantados ao longo da investigação não deixam dúvidas de que o político mais popular do país tem muitas explicações a dar à Justiça. Oportunidades para se defender não faltarão, pois o processo está sendo acompanhado com lupa pelo STF e por todo o Brasil. Oficialmente, ele está sendo acusado de receber propinas da empreiteira OAS, de forma indireta, por meio do triplex do Guarujá, cuja propriedade nega, pelas reformas do sítio de Atibaia e pelo custeio do depósito de seus bens. Porém, a sua participação no esquema criminoso, segundo o MP, é bem mais ampla: Lula é apontado como cabeça do conceito de governo que os procuradores definem como "propinocracia", baseado em três pontos: governabilidade corrompida, perpetuação criminosa e enriquecimento ilícito de seus integrantes.

De acordo com o minucioso levantamento de dados e testemunhos apresentado pelos investigadores, o Partido dos Trabalhadores comandava um núcleo político, integrado também pelo PMDB e pelo PP, que subtraía recursos públicos com a cumplicidade de servidores graduados e de empresários que prestavam serviços ao governo. No centro deste núcleo, segundo os denunciantes, sempre esteve Lula, que tinha poder, prestígio e influência para gerenciar cargos nas estatais e negociar com as empresas, ainda que por intermediários.

Os valores divulgados pelos procuradores são estratosféricos. Lula está sendo acusado de ter recebido indevidamente R$ 3,7 milhões, mas o total de propina pago no petrolão teria atingido R$ 6,2 bilhões e o prejuízo da estatal é estimado em R$ 42 bilhões. Significa que muito ainda precisa ser apurado e que todos os responsáveis pela roubalheira têm que ser punidos para que os brasileiros se sintam minimamente desagravados por terem sido vítimas de tanta infâmia.

O Partido dos Trabalhadores e seus aliados nos últimos governos saem fortemente chamuscados das denúncias apresentadas ontem, pois são apontados como beneficiários das propinas pagas pelas empresas detentoras de contratos públicos, de modo a se manterem como maioria política no comando do país e a garantir a perpetuação do esquema no poder.

Independentemente de quem for efetivamente responsabilizado pelos crimes apontados, o Brasil não pode mais tolerar essa indignidade apelidada de propinocracia.

O Comandante - MERVAL PEREIRA

O Globo - 15/09

O conjunto da obra não é nada favorável àquele que já foi o maior líder político deste país. Mais importante, a longo prazo, que as denúncias pontuais feitas ontem ao ex-presidente Lula pela Operação Lava-Jato é a caracterização dele como “o comandante máximo do esquema de corrupção da Petrobras” ou “o verdadeiro maestro dessa orquestra criminosa”, palavras duras usadas pelo procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa de Curitiba.

As denúncias podem levar, a curto prazo, à condenação de Lula por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, mas é a acusação explícita de que ele é o chefe do esquema de corrupção que foi montado em seu governo desde o mensalão até o petrolão que o atinge politicamente de maneira quase letal, ao mesmo tempo que gerará a maior pena, caso seja aceita quando apresentada.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que está a cargo do processo-chave sobre o esquema de corrupção, já disse em alguns despachos que Lula é o chefe do grupo criminoso. Como já escrevi aqui, a Justiça brasileira levou quase dez anos para ter condições políticas de denunciar o ex-presidente Lula como chefe da quadrilha, que todo mundo sabia que era desde o início, no mensalão.

Agora ficou demonstrado que mensalão e petrolão são a mesma coisa — um segmento do mesmo esquema de corrupção montado pelo PT no Palácio do Planalto, que não poderia funcionar sem que Lula fosse o chefe, como sublinhou Dallagnol ontem.

A denúncia dos procuradores de Curitiba foi contextualizada dentro de um esquema de corrupção que teria três objetivos: montar uma base política no Congresso, a perpetuação no poder, e o enriquecimento ilícito de lideranças políticas. O apartamento tríplex no Guarujá e o armazenamento de pertences pessoais de Lula por cinco anos, a cargo da empreiteira OAS, são apenas parte desse último ramo do esquema, e não apenas eles.

Lula ainda está sendo investigado pelo pagamento de palestras que os investigadores desconfiam que foram superfaturadas, e em alguns casos nem existiram; pelo lobby a favor de empreiteiras em países amigos; e pelo sítio em Atibaia, que também teve outra empreiteira, a Odebrecht, a fazer reformas e melhorias.

Essas e outras denúncias serão reforçadas pelas delações premiadas de Leo Pinheiro, da OAS, e Marcelo Odebrecht. Pinheiro já disse na delação que foi anulada por Janot que o tríplex foi abatido da propina devida ao PT.

A obstrução da Justiça, para evitar a delação de Nestor Cerveró, é outra investigação que está em progresso. Juntando-se as vantagens pessoais com o esquema de corrupção montado a partir da sua chegada ao Planalto para comprar apoio político e manter o PT no poder o maior tempo possível, temos um retrato de um grupo político criminoso que tomou de assalto as instituições do país.

E que pode ter cometido crimes antes mesmo de chegar ao poder central. A Lava-Jato está também exumando outro fato escabroso, os aspectos políticos do assassinato do exprefeito Celso Daniel, de Santo André. O publicitário Marcos Valério confirmou ao juiz Sérgio Moro que foi procurado para resolver uma questão financeira envolvendo uma chantagem do empresário Ronan Maria Pinto contra os líderes do PT José Dirceu e Gilberto Carvalho.

Ele confirmou que o empréstimo do banco Schahin foi para pagar essa chantagem, e em troca o banco ganhou uma encomenda bilionária da Petrobras para compra de sondas. Valério, no entanto, recusou-se a revelar a razão da chantagem, assumidamente por receio de ser alvo de represálias. “O senhor não pode garantir a minha vida”, disse a Moro.

Bruno, irmão de Celso Daniel, e outros parentes do ex-prefeito de Santo André consideram que foi crime político; ele teria sido assassinado para evitar que denunciasse esquemas de corrupção em financiamento de campanhas petistas e de aliados. O conjunto da obra não é nada favorável àquele que já foi o maior líder político deste país.

Mercosul livre de Maduro - EDITORIAL ESTADÃO

ESTADÃO - 15/09

Decisão, para a qual foi fundamental a atuação firme do Brasil, salva o Mercosul de ser arrastado pelas vagas do populismo e da irresponsabilidade do 'socialismo bolivariano'



A firme posição a que chegaram os países fundadores do Mercosul – Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, este depois de um momento de hesitação, ditado por razões de política interna – a respeito da presidência do bloco neste semestre impediu que a Venezuela assumisse esse posto. Frustrou-se assim a tentativa de Nicolás Maduro – cujas consequências eram facilmente previsíveis, em vista do desastre monumental produzido na Venezuela pelo regime chavista – de tomar de assalto o Mercosul, valendo-se de formalismos interpretados espertamente a seu favor.

Valendo-se de um dispositivo do tratado que criou o bloco, pelo qual a sua presidência é ocupada, rotativamente, em ordem alfabética, Maduro queria a todo custo assumir o posto, vencido o período do Uruguai. Só que acima desse critério, puramente formal, se colocavam dois outros, como lembraram Brasil, Argentina e Paraguai: o descumprimento de obrigações que a Venezuela aceitou para integrar o bloco e a grave crise política, institucional, econômica e social em que está mergulhado o país, e que impede que Caracas tenha um desempenho minimamente satisfatório na condução dos negócios do bloco.

Na nota em que anuncia a decisão de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai de não passar a presidência do Mercosul à Venezuela, assinada pelo ministro José Serra, o Itamaraty lembra que este país não respeitou o prazo de 12 de agosto para cumprir obrigações impostas pelo bloco, entre elas o Acordo de Complementação Econômica n.º 18 (de 1991), o Protocolo de Assunção sobre Compromisso com a Promoção e Proteção dos Direitos Humanos (de 2005) e o Acordo sobre Residência para Nacionais dos Estados Partes (de 2012).

São, portanto, compromissos da maior importância – que vão da economia aos direitos humanos – sem os quais seus parceiros têm todo o direito de considerar que a Venezuela não reúne condições para integrar o Mercosul e muito menos para liderá-lo.

No seu lugar, diz a nota, o comando do bloco neste semestre será exercido por meio da coordenação de seus membros fundadores, “que poderão definir cursos de ação e adotar as decisões necessárias em matéria econômico-comercial e em outros temas essenciais para o funcionamento do Mercosul. O mesmo ocorrerá nas negociações comerciais com terceiros países ou blocos de países”.

Essa decisão, para a qual foi fundamental a atuação firme do Brasil, salva o Mercosul de ser arrastado pelas vagas do populismo e da irresponsabilidade do “socialismo bolivariano”, que mergulhou a Venezuela numa das piores crises de sua história. Em agosto, Serra colocou o dedo na ferida, quando afirmou, com duro realismo: “Convenhamos que hoje o governo (de Nicolás Maduro) não consegue governar a Venezuela. Imagine governar o Mercosul”.

A medida que impediu que o Mercosul fosse colocado na trilha dessa aventura se impunha como algo evidente desde que Maduro se julgou no direito de assumir seu comando. Só demorou por causa das hesitações do Uruguai, onde o presidente Tabaré Vázquez se vê obrigado a agradar a sua base parlamentar de esquerda, simpática ao regime venezuelano, para conseguir seu apoio a um indispensável, mas impopular programa econômico de austeridade. Felizmente, ele optou pelo bom senso e os interesses maiores de seu país.

O risco de o bolivarianismo comprometer o Mercosul não foi reduzido apenas porque se evitou que Maduro assumisse sua presidência rotativa. Os países fundadores foram mais longe: decidiram que, se a Venezuela não cumprir suas obrigações com o bloco até a nova data estabelecida, 1.º de dezembro deste ano, ela será suspensa. É o que certamente acontecerá, dada a clara incapacidade desse país de fazer o que dele é legitimamente exigido.

A verdade, que esse episódio torna ainda mais evidente, é que a aceitação da Venezuela, sob o atual regime, no Mercosul foi um erro grave – pelo qual se está pagando caro – cometido em 2012 pelo Brasil, Argentina e Uruguai, então governados por presidentes de esquerda.

Melhoram condições para atrair setor privado - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 15/09
Regras para leilões de projetos de infraestrutura abandonam ideologia estatista e dirigista do lulopetismo. Falta o Congresso garantir a solvência do Tesouro
A primeira ação objetiva do governo Temer para reanimar o “espírito animal” dos investidores, oferecendo-lhes três dezenas de projetos de infraestrutura, não trouxe novidades no conteúdo da oferta, mas na forma como o governo pretende operacionalizar parcerias com o setor privado. E nisso está sua importância.

O que foi “PAC” nos governos Lula e Dilma pode ser chamado de “Crescer” na gestão Temer, mas na sua essência os projetos, 34 ao todo, são mais ou menos os mesmos. Aeroportos, portos, ferrovias, estradas etc.

Não poderia ser diferente, porque as carências do país na infraestrutura continuam as mesmas, sob Dilma e sob Michel Temer. Apenas, agora, por exemplo, colocaram-se na lista projetos na área de mineração e o setor de saneamento.

A grande mudança, para melhor, neste Programa de Parcerias e Investimentos (PPI), outra marca do governo Temer, é a revogação da filosofia estatista e intervencionista, com tinturas de populismo, que pairou sobre licitações e concessões feitas nos governos lulopetistas.

Devido a isso, haverá mais transparência nos subsídios a serem concedidos. E esses próprios incentivos serão menos copiosos que nos governos petistas. Até por motivos fiscais.

Aposenta-se, também, o populismo tarifário, pelo qual os lances para concessões de rodovias eram avaliados também pelo pedágio mais baixo. Uma fórmula que rendeu palanque, mas não os investimentos prometidos pelos licitantes vitoriosos nos certames. Com baixo faturamento, o concessionário retarda ou paralisa a construção, ou reforma, da via.

Outro aspecto a se destacar, em que aflorava o preconceito contra o lucro — uma excrescência num país capitalista —, é o abandono do tabelamento da margem de retorno dos projetos.

O BNDES continua a ser chave no financiamento de projetos. Mas, segundo a presidente do banco, Maria Sílvia Bastos Marques, o mecanismo financeiro preferencial será a emissão de debêntures. Títulos que depois serão negociados pelo banco no mercado. A ideia, boa, não é nova, mas dependerá das condições do próprio mercado.

O governo anuncia que colocará R$ 30 bilhões em financiamentos à disposição dos 34 projetos, sendo que os leilões começarão apenas no ano que vem.

Fora questões administrativas ainda a serem equacionadas, para que este grande programa de investimentos comece a se mover, também deve ter levado o governo a prometer apenas para 2017 os primeiros passos do projeto a necessidade de o Congresso aprovar o teto de contenção dos gastos públicos e iniciar a reforma da Previdência.

São indicadores capitais de que o país conseguirá de fato reverter o processo em andamento de insolvência do Tesouro, visível no crescimento da proporção da dívida pública em relação ao PIB. Se o Congresso realizar o que tem de fazer, estes projetos ficarão bem mais atrativos para os investidores estrangeiros. Num mundo ainda com enorme liquidez e juros muito baixos — até negativos, em certos países —, a segurança jurídica e taxas de retorno brasileiras poderão ser decisivas no financiamento da modernização e expansão da infraestrutura do país.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

“Agora, Lula não pode mais dizer que não sabia de nada”
Deltan Dellagnol, procurador, ao denunciar Lula como o chefão da propinocracia


AGORA SÓ FALTA PRENDER O CHEFE DA PROPINOCRACIA

A denúncia devastadora contra o ex-presidente Lula, apresentada nesta quarta (14) pela força-tarefa da Lava Jato, provoca a pergunta que não quer calar: “Por que o ‘comandante máximo da propinocracia’ ainda não foi preso?” O meticuloso procurador Deltan Dallagnol mostrou como Lula, seu PT e cúmplices implantaram um esquema criminoso que resultou, só na Petrobras, num roubo de R$ 6,2 bilhões.

DEVOLVE AÍ, COMPANHEIRO

Num primeiro momento, o MPF exige na Justiça que o ex-presidente Lula devolva R$ 87 milhões aos cofres públicos em apenas um caso.

PODER CORROMPIDO

Segundo Dallagnol, o objetivo de Lula com a ladroagem era “garantir a governabilidade”. Mas só assegurou a “governabilidade corrompida”.

VIROU REGRA

Procuradores verificaram que o esquema de Lula chegou ao ponto de não ser mais necessário cobrar propina. Já havia virado regra.

POLÍTICO 171

Lula é acusado de corrupção passiva, lavagem de dinheiro, ocultação de patrimônio, enriquecimento ilícito, falsidade ideológica etc.

PF MONITORA LULA POR NÃO DESCARTAR POSSÍVEL FUGA

A Polícia Federal monitora Lula por não pode descartar a hipótese de fuga. Afinal, há possibilidade concreta de decretação de sua prisão. O ex-presidente tem dito que não “reconhece” a autoridade do juiz Sérgio Moro e insiste em ser julgado só pelo Supremo Tribunal Federal. Mas foi a fuga de Mauricio Funes, ex-presidente de El Salvador, amigo de Lula, acusado de corrupção, que ligou o “alerta” na força-tarefa.

À IMAGEM E SEMELHANÇA

Mauricio Funes se diz “petista”, o marqueteiro João Santana fez sua campanha e ele era casado com uma brasileira filiada ao PT.

PARTIU ‘EXÍLIO’

Investigadores apuram contatos de Lula com governantes da América do Sul e da África que seu governo financiou fortemente.

SEMPRE OS MESMOS

Além do Uruguai, Lula tem relações próximas com governantes da Venezuela e Equador e outros países integrantes do “Foro São Paulo”.

PRISÃO SOLICITADA

O procurador Deltan Dallagnol não informou se havia pedido a prisão de Lula, lembrando que o MPF jamais divulga o que pretende fazer. Mas a verdade é que a prisão de Lula foi mesmo solicitada.

PT PODE SER EXTINTO

A devastadora denúncia contra Lula terá efeito colateral: o Tribunal Superior Eleitoral retoma o processo da extinção do PT, cancelando seu registro por “doações” de dinheiro roubado da Petrobras.

CORRENDO PARA O ABRAÇO

Enquanto a força-tarefa da Lava Jato revelava detalhes da denúncia contra o “poderoso chefão”, a pergunta se recusava a calar: quando é que Lula, que para o MPF é o “chefe supremo da corrupção”, vai se juntar na cadeia a José Dirceu, o “gerente da organização criminosa”?

SÓ VÊ O QUE QUER

Deputado Pedro Uczai (PT-SC) viaja na maionese, na Câmara. Ele disse que Lula, denunciado pelo Ministério Público por corrupção, é “perseguido”. Ele não vê qualquer caso envolvendo o ex-presidente.

CRUELDADE

Na Câmara, deputados ficaram estarrecidos com a morte do labrador Nego, cão sacrificado pela ex-presidente Dilma após o impeachment. “Não estava acreditando”, disse o perplexo Laércio Oliveira (SD-SE).

HONROSAS EXCEÇÕES

Os senadores Reguffe (Sem partido-DF) e Eunício Oliveira (PMDB-CE) não participaram da farra de pedidos de “ressarcimento” de gastos. Esse tipo de despesa já nos custou R$ 12,18 milhões só até agosto.

VOLTOU AO NORMAL

A Câmara retornou ao ritmo normal... de falta de trabalho. Após a cassação de Eduardo Cunha, só meia dúzia de gatos pingados apareceu para trabalhar, ontem. Mas os salários não serão cortados.

RECORDAR É ELEGER

Dos dez senadores do PT e de Dilma, sete são investigados ou respondem a processos. Ângela Portela (RR), Gleisi Hoffmann (PR), Humberto Costa (PE), Jorge Viana (AC), Lindbergh Farias (RJ) e Paulo Rocha (PA) são alvos de investigação no Supremo Tribunal Federal.

PENSANDO BEM...

...não foi a casa que caiu; foi o tríplex.


PODER SEM PUDOR

CORRENDO FROUXO

Então senador pelo Piauí, o folclórico Mão Santa (PMDB) acusou Lula de editor de flâmula:

- Ele tirou o "Ordem e Progresso" da bandeira do Brasil e botou "Desordem e Regresso"!

Presidindo a sessão, Tião Viana (AC), ex-líder do governo, caiu na risada, como quase todo o plenário. Mas não saiu em defesa de Lula.