terça-feira, julho 19, 2016

O Brasil em alerta - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 19/07

As longas filas em aeroportos são os primeiros efeitos que os brasileiros estão sentindo da proximidade dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. O maior rigor na segurança cumpre uma determinação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), repassada há semanas. Mas o primeiro dia com o novo protocolo mostrou como o país engatinha em relação a planejamento, organização e execução de mudanças que afetam grande parcela da população. Há uma expectativa de que os problemas se diluam a partir de hoje, quando os passageiros mais precavidos deverão chegar até duas horas antes do embarque. Mas a ausência de reforço no quadro de funcionários nos terminais aeroviários mantém a desconfiança de que, mais uma vez, faremos um evento internacional em meio a uma cambulhada.

A nossa inexperiência em lidar com situações de massa impôs a revisão no protocolo de segurança para as Olimpíadas. A medida foi determinada pelo Palácio do Planalto após o atentado de Nice, que matou uma brasileira e pelo menos outras 83 pessoas na semana passada, em uma ação terrorista com modus operandi diverso do conhecido pelas autoridades francesas. A própria França já debatia, como revelou a imprensa local, rumores de um possível ataque sendo engendrado contra a delegação de atletas que virá competir na Rio 2016. O avanço do terrorismo em território francês levou a Agência Brasileira de Inteligência a estreitar a cooperação com os serviços secretos do governo de François Hollande. E impõe uma pergunta crucial: somos capazes de impedir tragédias como a que ocorreu no balneário francês? A resposta: não.

O trabalho de inteligência e prevenção consiste no maior desafio para as autoridades de segurança nos jogos do Rio. As megassimulações promovidas nos últimos dias auxiliam no momento da tragédia, mas são insuficientes para evitar uma calamidade. O terrorismo do século 21 mantém a estratégia de promover ações chocantes e de caráter simbólico de seus ataques. Mas se difere ao incluir "soft targets", os chamados alvos fáceis, em sua lista assassina. Essa motivação em praticar a violência de forma aleatória e gratuita explica a tragédia de Nice e o ataque a cafés parisienses nos atentados de 13 de novembro em Paris.

Inserido no contexto internacional e sede de um evento de visibilidade global, o Brasil precisa adotar postura vigilante e preventiva. A possibilidade de um atentado nos Jogos Olímpicos obriga o poder público a analisar fragilidades no controle de fronteiras, na imigração e na conduta de extremistas inclinados a cometer banhos de sangue. Os governos dos EUA e da França estimam que há 500 mil pessoas em todo o mundo com algum tipo de envolvimento com o terrorismo. O caso de Nice sugere um cenário ainda mais complexo, pois até o momento faltam evidências sólidas de que o autor do massacre tivesse algum vínculo com o Estado Islâmico. Em meio a tantas incertezas, o governo aumentou o nível de alerta. Convém aos cidadãos brasileiros, por sua vez, seguirem o trinômio indicado para esse período olímpico: paciência, cautela e vigilância.

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