sexta-feira, julho 29, 2016

Altos e baixos - MÍRIAM LEITÃO

O Globo - 29/07

Os dados divulgados pela Fazenda comprovam o que a equipe econômica temia: a frustração de receita continua. Foi o pior resultado primário para junho em 20 anos e a arrecadação do semestre voltou a 2010. Na semana, o BC deu uma boa notícia: leve queda da inadimplência e dos juros cobrados das pessoas físicas em junho, mas o Ministério do Trabalho mostrou que o corte de vagas foi pior do que a pior estimativa.

O momento atual é de recuperação da confiança em vários setores, ao mesmo tempo em que a economia real continua sofrendo os impactos da recessão. Então os indicadores ficam oscilando entre a leve esperança da melhora ou a dura realidade da recessão. As sondagens recentes com consumidores e empresários melhoraram. Subiu também a expectativa de executivos do setor financeiro, em um levantamento bimestral realizado pela consultoria de crédito GoOn. Por essa pesquisa, ficaram mais positivas as perspectivas de concessão de crédito, inadimplência e corte de vagas para os próximos meses.

— O brasileiro é esperançoso e quando vê uma luz no fim do túnel acredita na melhora. Apesar disso, ainda é cedo para dizer que o crédito voltará a impulsionar a economia. A inadimplência deve voltar a subir, pela sazonalidade desfavorável do segundo semestre e porque o desemprego continua aumentando — afirmou Eduardo Tambellini, diretor e sócio da consultoria.

Segundo o consultor, mesmo que o Banco Central comece a cortar a Selic, ainda levará meses para que os bancos voltem a abrir a torneira dos empréstimos e os consumidores se sintam seguros para contratar novas dívidas. Ele explica que enquanto várias carteiras de crédito ao consumo seguem encolhendo, como por exemplo para aquisição de veículos, as linhas para crédito pessoal e refinanciamento de dívidas estão em alta. O processo ainda é de ajuste e redução das dívidas das famílias.

— A carteira de crédito voltada para renegociação de dívidas cresceu 17,9% em junho, em relação ao mesmo mês do ano passado. O problema é que muita gente pagou uma ou duas mensalidades, para deixar de ficar negativado, mas logo depois parou de pagar. A inadimplência nessa carteira teve crescimento de 12,5% na mesma comparação. Isso tira a confiança dos bancos — afirmou.

No setor público, o desequilíbrio continua. O déficit primário de junho, de R$ 8,8 bilhões, quando se calcula junto as contas do Tesouro, Banco Central e Previdência, é uma péssima notícia. Nos últimos 12 meses, o rombo chega a 2,4% do PIB. O déficit da Previdência chegou a R$ 61 bi no primeiro semestre, com crescimento real de 63% sobre o mesmo período do ano passado. O aumento do desemprego no mercado formal atinge diretamente as receitas do INSS, e a indexação do salário mínimo à inflação pressiona as despesas.

A equipe econômica está preocupada exatamente com isso. A projeção do déficit da previdência continua a crescer, como disse aqui. Calcula-se agora R$ 148 bilhões para o rombo do INSS este ano. A frustração de receita foi maior do que o esperado. E olha que, ao assumir, o governo Temer recalculou as projeções de receitas feitas pelo governo Dilma, que previa um aumento de 9% real na arrecadação. Mas agora até a projeção mais modesta de arrecadação não está ocorrendo. O governo Dilma cortou despesas discricionárias, que estão em queda, mas elevou muito os gastos obrigatórios. Por isso as soluções passam por reformas que exigem aprovação do Congresso.

O país continuará tendo alguns indicadores melhores e outros desanimadores, como nesta semana em que houve redução da inadimplência, mas ao mesmo tempo foi divulgada uma perda de 91 mil empregos formais só em junho. No primeiro semestre, as perdas passaram de 500 mil.

Hoje, o IBGE divulga os dados do desemprego do trimestre encerrado em junho, pela Pnad, e a expectativa de vários economistas de mercado é que o número fique estável em 11,2%. Mas como a perda de vagas divulgadas pelo Caged na quarta-feira veio pior do que o esperado, não será surpresa se a taxa de desocupação também surpreender e continuar subindo.


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