terça-feira, abril 19, 2016

O Congresso é nosso - CARLOS ALEXANDRE

CORREIO BRAZILIENSE - 19/04

A veemência dos nobres deputados ao aprovar a admissibilidade do processo de impeachment contra Dilma Rousseff foi uma das impressões marcantes na sessão histórica de domingo. Paralelamente à alegria ou à decepção provocadas pelo resultado em plenário, o brasileiro ficou espantado com o nível das participações dos parlamentares.

Chamou a atenção a carência de argumentos para justificar o voto dos congressistas em favor da saída da presidente da República. Uma imagem corriqueira durante a votação foi o parlamentar, enfeitado com bandeiras e fitas, a elencar os mais diversos motivos para exigir a saída de Dilma: Deus, família, sobrinha, sobrinho, neto, neta, pai falecido etc. Poucos se detiveram sobre as pedaladas fiscais, um dos crimes atribuídos à presidente da República que constam no relatório aprovado pela Comissão Especial da Câmara. Do lado governista, também eram frequentes as ofensas e os ataques direcionados a Eduardo Cunha, réu da Lava-Jato no Supremo - mas ainda sem qualquer condenação no âmbito da operação. Pode-se exigir a saída de Dilma e Cunha, mas que seja ao menos por razões objetivas. E há instituições competentes que, no momento oportuno, darão o veredicto para cada caso.

A virulência dos ataques na Câmara deve ser considerada, pois, mais um termômetro da disputa política em curso no país e menos uma análise do Legislativo sobre o teor das acusações contra a presidente da República. Como assinalou o Supremo Tribunal Federal, o papel da Câmara se limitou a deliberar sobre a admissibilidade das denúncias, cabendo eventualmente ao Senado a análise de mérito. A hora do julgamento se aproxima, e espera-se da Casa Alta a solene circunspecção magistralmente definida pela cúpula projetada por Niemeyer.

Em relação à atuação dos deputados no domingo, somente quem não conhece o Congresso se assusta com a qualidade dos nossos representantes. Poder marcado pela diversidade, o Legislativo é o espelho da sociedade brasileira. Se a conduta dos parlamentares causou náuseas a quem assistiu à sessão, deve-se iniciar outra reflexão. Se quisermos um Congresso mais qualificado, é preciso qualificar o voto. O Congresso é nosso, queiramos ou não.


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