sexta-feira, abril 08, 2016

Cenário, roteiro e elenco - NELSON MOTTA

O GLOBO - 08/04

No sonho de Dilma não tem golpe, nem impeachment, nem renúncia, nem novas eleições. Tudo continua como está, pior do que nunca


Que pacificação pode ser feita, que governabilidade será possível, que confiança pode ser restaurada, se a presidente ganhar raspando na Comissão de Impeachment da Câmara, ou, mesmo fazendo o diabo, perder na Câmara, mas escapar por um focinho no Senado? Com minoria mínima no Congresso, terá o governo ocupado por pepistas e nanicos, numa situação que lembra a “antropofagia de anões” prevista por João Santana, “com Dilma pairando sobranceira e ganhando no primeiro turno.”

No sonho de Dilma não tem golpe, nem impeachment, nem renúncia, nem novas eleições. Tudo continua como está, pior do que nunca. Com Lula na Casa Civil como presidente executivo, mas com seu poder e credibilidade abalados, como poderá ajudá-la a formar uma base de apoio sólida no Congresso e compor um “ministério de notáveis" acima dos partidos? Que “notável” aceitaria uma roubada dessas em um governo, ainda legal e legítimo, mas moribundo? Quem quer ser sócio em falência ?

Então com quem ela vai governar? Nem um gênio político poderia fazer algo de bom com esse Ministério bagaceiro e com postos-chave da administração e de estatais entregues a pepistas e nanicos como bolsa anti-impeachment.

A pergunta não é o que pode salvar Dilma, mas o que pode salvar o país. Sim, milagres acontecem, mas além dos que esperam uma segunda volta de Jesus, ninguém consegue imaginar algum que nos dê um pouco de ordem e progresso.

Acredito que a grande maioria de petistas e tucanos é de cidadãos de bem, de boa fé, que creem, alguns cegamente, em ideias diferentes para melhorar a vida de todos. Lideranças podres, quadros incompetentes, farsantes e corruptos profissionais estão em todos os partidos e corporações. São eles os grandes inimigos da democracia e do Estado de Direito.

Para tentar acalmar os ânimos nestes dias de ira, e talvez melhorar a discussão política, aderi a um grande pacto nacional voluntário: nunca rebater acusações acusando o acusador de crimes iguais ou piores.

Em vez de perder tempo na briga sem fim por quem é mais maligno, quem sabe uma ou outra ideia construtiva poderia surgir, enquanto a Justiça faz o seu trabalho.

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