terça-feira, fevereiro 16, 2016

Libelo contra o lulopetismo - EDITORIAL O ESTADÃO

ESTADÃO - 16/02


São “crimes sem precedentes na História do País” que colocam a sociedade brasileira “diante de uma grave afronta à ordem constitucional e republicana”. “Pelo até aqui apurado, o uso de apoio político deixou de ser empenhado em razão de propostas ou programas de partido. As coalizões deixaram de ocorrer em razão de afinidades políticas e passaram a ser decididas em razão de pagamento de somas desviadas da sociedade, utilizando-se, para tanto”, da Petrobrás.

Essa avaliação, que não deixa dúvidas a respeito das bases podres sobre as quais os governos petistas montaram seu chamado “presidencialismo de coalizão”, não é de responsabilidade de nenhum representante da “oposição de direita” nem da “mídia monopolizada”. Trata-se da convicção do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que não explicita, mas deixa evidente, em benefício de quem “passaram a ser decididas” com base na corrupção as “coalizões” políticas.

A opinião de Janot foi manifestada ao Supremo Tribunal Federal (STF), em documento no qual pede a rejeição de agravo apresentado pela defesa do ex-ministro Antonio Palocci, por meio do qual se pretendia anular benefícios de delação premiada concedidos ao doleiro Alberto Youssef e ao lobista Fernando “Baiano”. A pretensão de Palocci já havia sido rejeitada pelo ministro Teori Zavascki. Inconformada, a defesa do ex-ministro entrou com pedido de agravo, a respeito do qual Zavascki solicitou a manifestação da Procuradoria-Geral da República.

No processo em questão, Palocci é acusado, com base na delação premiada do doleiro e do lobista, reforçada pelo depoimento do ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa, de ter exigido, no âmbito do esquema de propinas do petrolão, uma contribuição milionária para a campanha eleitoral de Dilma Rousseff em 2010. Essas denúncias embasaram também o pedido encaminhado pelo PSDB ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para a cassação dos mandatos de Dilma e de Michel Temer devido à fraude eleitoral relacionada com a captação de recursos ilegais. A propósito, em outubro último o juiz Sergio Moro, que conduz as ações da Operação Lava Jato na primeira instância, havia encaminhado ofício ao TSE apresentando documentos e sugerindo que os mencionados delatores sejam ouvidos também no processo que pede a impugnação da chapa Dilma-Temer.

Depois de quase dois anos de trabalho da Operação Lava Jato e da consequente condenação judicial de vários empresários e executivos de empreiteiras de obras federais, bem como de ex-diretores da Petrobrás e operadores financeiros, resulta perfeitamente comprovado que o propinoduto montado na maior estatal brasileira visava a beneficiar o PT e seus aliados, além, é claro, de engordar algumas contas bancárias de pessoas físicas. E o vigoroso libelo do procurador-geral da República não deixa dúvidas quanto à promiscuidade entre interesses públicos e privados que inspirou o escândalo da Petrobrás: “Os autores dos delitos utilizaram-se de complexa trama política, financeira e logística para a prática de seus crimes, resultando em bilhões de reais de prejuízos aos cofres da Petrobrás e da União, sua sócia majoritária”.

Em uma de suas mais recentes intervenções públicas em defesa de Lula e do PT diante da proliferação de evidências de que, como afirma Janot, as afinidades políticas foram substituídas pela mais deslavada corrupção nas relações do governo com seus aliados, o presidente nacional petista, Rui Falcão, acrescentou uma nova categoria na relação de seus inimigos: “setores do aparelho do Estado capturados pela direita”. Naquela oportunidade Falcão não teve coragem de nominar seus novos inimigos, que são, obviamente, a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e setores do Judiciário, dos quais a figura mais notável é o juiz Sergio Moro. É muito provável que, daqui para a frente, na medida em que o desespero aumentar, Falcão se torne mais explícito. E Rodrigo Janot passe a ser alvo certo.

Mas o presidente do PT e sua turma não estarão inovando. Sempre partiram do princípio de que só existem duas correntes políticas no País: o petismo e o antipetismo. “Nós” e “eles”. E a Justiça, quando condena petistas, o faz sempre “sem provas”, como quando colocou atrás das grades os “guerreiros do povo brasileiro” que integravam a quadrilha de José Dirceu no mensalão.


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