segunda-feira, novembro 16, 2015

Os intelectuais são do bem? - LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 16/11


Tenho me perguntado uma coisa há algum tempo, e o leitor que me acompanha sabe disso. A pergunta que me atormenta é: por que nós intelectuais achamos que somos do bem?


Explico meu estranhamento. Intelectuais são pessoas normais e, portanto, movem-se por interesses que nem sempre podem ser confessados em voz alta. Por exemplo: vaidade, ambição, paixões, racionalizações pragmáticas, inveja, ódio, amor, instintos competitivos; enfim, nada de novo no front. E dinheiro? Claro que sim, mas, em nossa vida de profissionais do saber, normalmente, isso se traduz em "verbas de pesquisa", "horas-aula", "palestras", "concursos".

No fim das contas, é grana. E prestígio, moeda de alto valor em nosso mundo. 

Principalmente porque esse nosso mundo é pobrinho de grana. Logo, vaidades tomam o lugar da pouca quantidade de grana. Mas mente-se com frequência em relação aos interesses financeiros nesse mundo (principalmente no Brasil, que patina numa mentalidade neolítica contra a sociedade de mercado), normalmente por mera pose. E fatos como esses (refiro-me a esta pose) é que me levam de novo à pergunta inicial: por que nós intelectuais assumimos que somos do bem?

Penso que uma primeira resposta está em nossa vaidade: resta-nos a pose de ser do bem, já que não temos muito dinheiro e, fora do nosso mundo, não temos muito prestígio. Ser do bem é uma vaidade que data, no mínimo, do clero católico medieval. Nós intelectuais somos o novo clero do mundo: posamos de representantes do sumo bem, mas agimos como todo humano miserável, movido pelas mesma paixões dos "ignorantes".

Mas tem mais coisa nesse angu. Qualquer um pode ver esta percepção de que somos do bem no modo arrogante como assumimos que as pessoas comuns são meio idiotas (ainda que não digamos isso claramente). Por exemplo, essa gente iletrada a favor da maioridade penal, contra o aborto, que come carne aos montes, que "acredita na família" (só gente inculta comete esse erro), que pensa que com armas nas mãos pode se defender de bandidos, que acha que o mundo está dividido em "gente de bem" e "bandidos", ou seja, essa gente comum é de uma estupidez que choca nosso intelecto muito mais "bem informado".

Acho que há alguns indícios na própria história da filosofia que alimentam essa vaidade de nos tomarmos como gente do bem a priori. Já Platão, ao reagir à religião grega ou à tragédia, vê sua filosofia como uma "reforma do mundo". Com a chegada do cristianismo na filosofia, a ideia de que os "homens do conhecimento" eram homens de Deus tornou-se uma presunção de superioridade moral ainda maior.

Mas é com o advento do iluminismo francês e da teologização da política por gente como Rousseau e Marx (quem quiser aprofundar essa ideia leia Isaiah Berlin) que a arrogância intelectual chegou ao seu perfil contemporâneo. A política se fez teologia, e nós, seus agentes da graça redentora.

É verdade que quando você estuda mais, você fica com um olhar mais "sofisticado" para o mundo. Mas essa "sofisticação" implica que o saber comum, impregnado no cotidiano de milhares de pessoas, seja menor do que o de uma só pessoa que lê muitos livros? Ou que essa "sofisticação" torna você uma pessoa moralmente melhor? Não creio. Intelectuais aderem a toda forma de humilhação cotidiana de outras pessoas, assim como aderiram a toda forma de violência política no século 20. Mas, ainda assim, minha tribo está segura de que representa o néctar moral do mundo.

Basta ver a história recente do PT (grêmio que reuniu a esmagadora maioria dos intelectuais brasileiros nos últimos tempos) para ver o ridículo dessa gente. E o pior é a pergunta que decorre diretamente da derrocada moral do PT: como esses intelectuais "brilhantes" não foram capazes de enxergar que o glorioso partido era na realidade uma assembleia de gente no mínimo "duvidosa" moralmente? Todos esses anos de estudos para apostar numa entidade corrupta como esta?

Intelectuais não são reserva de moral nenhuma. Não somos os guardiões do bem. E é desse "não" lugar que devemos falar.

O preço da pilhagem - EDITORIAL O ESTADÃO

ESTADÃO - 16/11
Os prejuízos em que a Petrobrás incorreu por ter aplicado bilhões de reais em dois projetos lançados por mero interesse político-eleitoral do ex-presidente Lula, mas cuja viabilidade havia sido condenada por pareceres internos e diagnósticos realizados por consultorias privadas, são o retrato do modelo de gestão que o governo petista impôs à estatal. As previsíveis e maléficas consequências que a pilhagem da Petrobrás traria para a empresa e para o País vão agora sendo apontadas e aferidas por auditorias como a que o Tribunal de Contas da União (TCU) concluiu há pouco.

Os projetos de duas refinarias premium - uma no Maranhão, outra no Ceará - foram anunciados por Lula em 2008 para agradar aos governadores daqueles Estados. O relatório de uma empresa contratada pela estatal para melhorar a qualidade dos projetos das refinarias levou à redução do custo total delas de US$ 44 bilhões para US$ 33,7 bilhões. Mesmo assim, o risco de prejuízo continuou muito alto, de praticamente 100%, como apontou uma auditoria externa. A diretoria da Petrobrás, por isso, sabia dos riscos.

Sem que os projetos tenham saído do papel, a Petrobrás gastou com eles R$ 2,7 bilhões. Como mandam as práticas contábeis seguidas por empresas sujeitas a auditorias externas, esse valor foi lançado como prejuízo, o que só aconteceu no terceiro trimestre de 2014.

Não apenas a diretoria executiva da estatal, mas também seu Conselho de Administração - na época presidido pela então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff - tinham informações sobre a má qualidade dos projetos das refinarias. Dadas as evidências das perdas que eles provocaram, o TCU poderá investigar se houve omissão do Conselho de Administração nesses casos.

Grandes festas políticas marcaram o anúncio da construção das duas refinarias - a Premium I em Bacabal (MA), e a Premium II em São Gonçalo do Amarante (CE) - e, depois, o lançamento de suas pedras fundamentais, sempre com a presença de Lula e da então ministra Dilma Rousseff, que vinha sendo preparada pelo presidente para sua sucessão.

No comício que deveria marcar o início das obras da Premium I, no Maranhão - o que, de fato, nunca ocorreu -, com a grandiloquência típica de seu discurso populista, Lula disse que, quando as refinarias passassem a operar, o Nordeste nunca mais seria apontado como a parte pobre do País.

Para mostrar que cumpria a promessa do presidente, em fevereiro de 2010, pouco antes do início da campanha que asseguraria a primeira eleição de Dilma, a diretoria da Petrobrás assinou o contrato de terraplenagem da Refinaria Premium I no valor de R$ 711 milhões com a construtora Galvão Engenharia, investigada na Operação Lava Jato. No mesmo ano, foi assinado o segundo contrato, de US$ 422 milhões, de licenciamento para o uso de tecnologia do projeto básico, assistência técnica e serviços de pré-engenharia. Esses dois contratos, com valores corrigidos, produziram a maior parte do prejuízo contabilizado pela Petrobrás com as Refinarias Premium. De acordo com o TCU, essas obras e serviços foram contratados com antecedência desnecessária, o que pode caracterizar erro de gestão.

Para não admitir a inviabilidade das duas refinarias - determinada por razões técnicas, por mudanças no mercado do petróleo e pela variação da taxa de câmbio -, a Petrobrás tentou alongar o cronograma das obras e aumentar de 25 para 40 anos a vida útil das refinarias. Mas, afinal, acabou tendo de anunciar o abandono dos projetos e arcar com o prejuízo, o que piorou ainda mais os resultados financeiros já severamente prejudicados por uma política irresponsável de preços e pelo esquema de corrupção desvendado pela Lava Jato.

Ao longo da gestão petista, a capacidade financeira da Petrobrás foi dilapidada não apenas pelo vasto esquema de corrupção montado para beneficiar dirigentes da empresa, partidos e políticos da base governista, mas também pela irresponsável transformação da empresa em instrumento político-eleitoral do governo.

Dominância fiscal é obra do Banco Central - SILVIO FIGER

O GLOBO - 16/11
BC financia o déficit público, alimentando o descalabro fiscal; é uma estatal estruturada para administrar a dívida pública em favor do governo

Agora é a figura da dominância fiscal que domina o debate. Pretende-se dizer que o descalabro fiscal anula a política monetária como instrumento de combate à inflação, uma vez que a elevação dos juros — única variável que o Banco Central sabe operar — inviabilizaria de vez as contas públicas, tornando a dívida pública (DP) inadministrável. Portanto, enquanto o Congresso não vota o ajuste fiscal, resta-nos conviver com a inflação crescente.

Dominância implicando a existência de dominadores e dominados, cabe desconstruir esta figura. No caso, os dominadores seriam os responsáveis pela situação fiscal — o Congresso Nacional, que aprovou o Orçamento, e o Tesouro Nacional, encarregado de executar a peça aprovada; e o dominado, por impotente, seria o Banco Central (BC). Um enganoso jogo de palavras criado com o objetivo de vitimizar o BC. O infalível BC. Inflação no centro da meta? Palmas para o BC. Fora da meta? Vaias para qualquer um, menos para o BC.

Precisamos entender que é o BC que financia o déficit público, alimentando o descalabro fiscal; que o BC é uma estatal estruturada para administrar a dívida pública em favor do governo, jamais em prejuízo dele. Não por outra razão, é a DP o seu único instrumento de política monetária. Troca DP por dinheiro, e vice-versa. Quer criar crédito? Compra DP do mercado, recebendo os títulos e entregando dinheiro. Quer reduzir crédito? Vende DP para o mercado, entregando os títulos e recolhendo o dinheiro anteriormente entregue. Aparentemente, um mecanismo simples, e funcional.

Na realidade, um mecanismo desastroso — as sucessivas destruições de moedas demonstram isso com clareza —, uma vez que, para que isso funcione, o BC se obriga, institucionalmente, a dar liquidez à DP. Ou seja, é um comprador de última instância — o mercado não tendo comprador para a DP, o BC obriga-se a comprar. Daí qualificar-se a DP como soberana. O governo tem o poder soberano, através de sua maior estatal, que é o BC, de emitir quanta moeda for necessária para pagar aos portadores. Inflaciona, mas paga.

Querem verificar? Em 31/12/2007 (último ano antes da “marolinha”), a DP total era de R$ 1,6 trilhões, dos quais o BC possuía (ativo) R$ 0,36 trilhão. Em 30/09/2015, a DP total era de R$ 3,8 trilhões, dos quais o BC possuía R$ 1,2 trilhões. Ou seja, dos 2,2 trilhões de DP adicional emitida pelo Tesouro no período, o BC ficou com quase R$ 1 trilhão!

E, para completar o apoio do BC à farra fiscal, este ainda se transformou em operador direto da DP ao entrar pesado no mercado garantindo posições de tomadores de DP através da conta Compromissos de Recompra (passivo). Esta conta passou de R$ 190,2 bilhões, em 31/12/2007, a R$ 890 bilhões em 30/09/2015.

Por que o Copom, em suas atas, nunca explicitou que, sendo fiscalmente submisso por natureza, estava financiando um descalabro fiscal? Será que não entendem a natureza da instituição que dirigem?

O BC, não tendo a opção de quebrar o governo, continuará cumprindo com sua função de alimentar a dominância fiscal até o ponto em que a DP se tornará insustentável, senão pela disparada das taxas de juros reais, então pela disparada da inflação, que levará as taxas de juros reais ao entorno de zero. E aí teremos o verdadeiro ajuste fiscal — que vai custar muito caro.

Silvio Figer é economista

A tortura dos números - DENIS LERRER ROSENFIELD

ESTADÃO - 16/11

Números, por mais que sejam torturados, não permitem que se diga algo diferente do que expressam. Distorções têm racionalmente limites, salvo para os que se contentam com imposturas ideológicas.

Essa impostura está presente em Mato Grosso do Sul, na atuação do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), órgão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Essa entidade da Igreja Católica entrou na luta propriamente política, denunciando um suposto “genocídio” da etnia guarani no Estado. Procura, com isso, prejudicar os empreendedores rurais, como se fossem responsáveis por tal “situação”. Vão mais longe, apregoando um boicote internacional a seus produtos. A impostura não conhece fronteiras!

Os números da Superintendência da Inteligência de Segurança Pública do Estado são eloquentes. Eles mapeiam os homicídio dolosos tendo indígenas como vítimas, nos anos de 2008 a 2015, no total de 229 casos, com os respectivos boletins de ocorrência e inquéritos policiais instaurados. Os inquéritos permitiram apurar a definição de autoria de 167 casos, perfazendo um porcentual de esclarecimento de 72,9%. Nestes, 85 são de adolescentes infratores indígenas, mais de 50% dos casos apurados.

Os autores indígenas perfazem 155 dos casos apurados, enquanto autores não indígenas somam apenas 9. Ou seja, a violência é de indígena contra indígena, e não de branco contra indígena, como os agentes ideológicos não se cansam de apregoar. Eles criaram o conceito de “genocídio” em completo desapego aos fatos. Buscam a plateia das ONGS nacionais e internacionais, que estão mais preocupadas em denegrir a imagem do Brasil do que em ajudar os indígenas.

Se atentarmos para a motivação dos crimes, os oriundos do consumo de bebidas e drogas totalizam 88, restando 4 por vingança, 44 por desentendimento interpessoal/ciúmes e 47 por motivos fúteis. Ali não são os conflitos agrários que estão em causa, mas sim o abandono, a falta de políticas públicas e uma maior integração social e econômica.

A tendência do Cimi e da Funai, além de ONGs nacionais e internacionais, é tudo reduzir a um conflito fundiário, na verdade, à luta que “representam” contra o lucro, o agronegócio e o capitalismo em geral. Sua posição esquerdizante os impede perceber as mudanças culturais profundas que essas tribos sofreram. Clamam, isto sim, por melhores condições de saúde, de educação e por políticas públicas que reduzam e eliminem os preconceitos de que ainda são objeto.

A posição do Cimi é particularmente reveladora, pois foram as políticas missionárias da Igreja que, no passado, mudaram, se não destruíram as formas religiosas tribais, produzindo importantes conflitos identitários. Ou seja, pessoas que perdem sua identidade, no caso, tribal e religiosa, são as que se sentem abandonadas no mundo. Suicídios têm também causas culturais, religiosas.

Ora, esse órgão da CNBB está, na verdade, transferindo para os empreendedores rurais uma responsabilidade que, de certa maneira, é sua. Trata-se de uma espécie de sentimento de culpa, acompanhado de uma desresponsabilização moral. No caso, operaram uma conversão, a conversão ao marxismo via Teologia da libertação, como se assim pudessem voltar a outro tipo de trabalho missionário.

No estágio de aculturação em que essas tribos se encontram, o mais adequado seria a adoção de políticas públicas que os contemplassem como pessoas em busca de bem-estar, e não meras peças de museu que devem ser preservadas. Necessitam, isso sim, de políticas públicas voltadas para uma melhor qualidade de vida. Querem médicos, TV, automóveis e instrumentos de trabalho, não a volta do xamã.

Em boa hora a Assembleia Legislativa sul-mato-grossense criou a CPI do Cimi, tendo como presidente a deputada Mara Caseiro e como relator o deputado Paulo Corrêa. Trata-se de um trabalho sério de investigação, voltado para desvelar a névoa ideológica que cerca as atividades dessa entidade e de ONGs correlatas.

Não estamos diante de um filme de faroeste, em que se possam discriminar mocinhos e bandidos. A realidade é muito mais complexa e nuançada. Ambos, na verdade, são vítimas - vítimas de políticas estatais e, mesmo, eclesiásticas, que têm como objetivo pôr as duas partes, com suas expectativas de direito, em confronto.

A Funai nada faz para equacionar os conflitos. De fato, é parte do problema, não de sua solução, incentivando lutas e confrontos. Considera sagradas suas “demarcações de terras”, quando são frequentemente distorcidas, com base em laudos antropológicos de cunho ideológico.

Ademais, aferra-se a desrespeitar as decisões do STF estabelecidas quando do julgamento do caso da Raposa-Serra do Sol. Ora, dentre outras condicionantes, estipulou a Corte Máxima o marco temporal da Constituição de 1988 como linha divisória das terras indígenas e vedou a ampliação de seus territórios. Termina, assim, por criar uma infinidade de conflitos e judicializações, enquanto reclama dessa mesma judicialização!

Na verdade, esse órgão estatal procura colocar-se acima do Estado e do STF. Se seguíssemos sua política, empreendedores rurais seriam simplesmente expropriados de suas terras, como se não tivessem títulos de propriedade reconhecidos pelo Estado há décadas, anteriores à Carta de 1988.

Logo, se há necessidade de mais territórios indígenas em algumas áreas, por causa de explosão demográfica ou outra, não adianta insistir no conflito. A razão exigiria apostar na solução e esta passa pela compra de terras, pelo valor de mercado, pagas em dinheiro. Assim, ambas as partes poderiam ter suas expectativas de direito atendidas. Por que não uma aposta na negociação e no reconhecimento mútuo de direitos?

*Denis Lerrer Rosenfield é professor de Filosofia na UFRGS

Estamos de olho - NATUZA NERY - COLUNA PAINEL

FOLHA DE SP- 16/11

Na avaliação de interlocutores de Dilma Rousseff, o resultado da votação que aprovou a lei da repatriação na Câmara, com 230 deputados a favor, fez o governo “mudar de patamar” nas pautas difíceis. “Saímos de 130 para 230, mas ainda é pouco por tudo que fizemos na reforma”, diz um assessor da presidente. O que mais irritou o Planalto foram com as “traições” de partidos da base aliada, principalmente do PP e PSD, este último com mais votos contrários do que favoráveis ao governo.


Na parede 
Assessores de Dilma já foram orientados a cobrar as direções tanto do PP como do PSD para que seus deputados “entreguem mais” da próxima vez.


Digitais 
O Planalto também notou que, entre os 11 deputados do PMDB que votaram contra o governo, estavam parlamentares ligados ao ministro Eliseu Padilha e o ao vice-presidente Michel Temer, como Baleia Rossi, que preside o partido em São Paulo.


Ninguém me tira… 
Embora deputados governistas tenham feito uma manobra para esvaziar a sessão da CPI do BNDES que aprovou, semana passada, a convocação de José Carlos Bumlai, amigo de Lula, o deputado Goulart (PSD-SP), integrante da base, resistiu à pressão e ficou para votar a favor.


… daqui 
“Se não aprovássemos a convocação de Bumlai, a comissão estaria morta”, disse o deputado.


A calhar 
Com a viagem de Dilma para o encontro do G20 na Turquia, a reunião da coordenação política desta segunda será no gabinete de Temer. Segundo assessores do Planalto, “foi providencial” para que o governo possa acompanhar de perto os preparativos do congresso do PMDB, na terça-feira.


Cão que ladra
Assessores palacianos dizem que os integrantes do PMDB que desejam o afastamento do governo e do PT receberam o apelido de “Ala do Barulho”: incentiva a gritaria, mas não tem força suficiente para puxar um rompimento já.


Olha eu…
Em sua fala no congresso do PMDB, a senadora Marta Suplicy, pré-candidata à prefeitura paulistana, defenderá o”engajamento de São Paulo para a solução dos problemas nacionais”.


… aqui
Marta retomará o slogan de sua filiação ao PMDB, “São Paulo pelo Brasil”, para reforçar o papel da ala paulista na definição das reformas por uma nova política econômica no país.


Quem dá mais
O ministro Augusto Nardes, do TCU, divulgará relatório, esta semana, sobre os gastos na Previdência. Dirá que o maior problema está no fato de o Brasil ter importante parcela da população aposentada por tempo de contribuição.


Lá e cá
Nardes comparou o sistema previdenciário brasileiro com o de quatro países da União Europeia: lá predomina a aposentadoria por idade, enquanto aqui as por tempo de contribuição, somadas às pensões por morte, representam a principal despesa da Previdência.


Em pauta
As bancadas feminina e afrodescendente na Câmara pedirão que Eduardo Cunha coloque em votação o projeto que acaba com os autos de resistência –homicídios em decorrência de ação policial e que estão livres de investigação.


Pressão
Jandira Feghali (PC do B-RJ) articula movimento na Câmara contra Claudio Lessa, diretor-executivo da Comunicação Social da Casa. Depois de fazer enquete em seu blog sobre Dilma, ele escreveu no Twitter que as mulheres do governo formam um “plantel feminino dos infernos”.


Pede pra sair
A deputada quer que Lessa se retrate e, caso isso não ocorra, deixe o cargo. Nesta segunda, ela se reúne com Eleonora Menicucci (Secretaria das Mulheres) e a ministra Nilma Gomes (Cidadania) para pedir apoio.

CONTRAPONTO

Expectativa x realidade
Horas depois do encontro com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, no início do mês, Paolo Gentiloni, ministro das Relações Exteriores da Itália, foi recebido em um jantar no Terraço Itália que reuniu cerca de 30 empresários brasileiros.
O ex-ministro Luiz Fernando Furlan usou sua fala para afirmar que o “tempo de crise é também um momento de oportunidades para o país”.
Logo depois, o economista Andrea Calabi, ex-secretário da Fazenda de São Paulo, foi ao microfone:
–A crise que o Brasil atravessa é grave, profunda e será longuíssima –disse, provocando um imenso silêncio.

Ponte para o futuro - PAULO GUEDES

O GLOBO - 16/11

Após oito mandatos, os social-democratas anunciam em documento político, pela primeira vez, ataque frontal ao excesso de gastos públicos

“Dilma Rousseff confiou demais em sua precária formação de economista. Ao escolher paus-mandados, tornou-se indissociável do fracasso. A presidente tem de interditar a economista. Para reverter expectativas adversas, atenuando os sacrifícios da estabilização em perdas de produção e emprego, Dilma deve se comprometer com mudanças, indicando pessoas com quem não gostaria de trabalhar e que provavelmente também não gostariam de trabalhar com ela”, prescrevia esta coluna em 10 de novembro de 2014.

“A indicação de Levy é um sinal de que o governo reconhece a importância da transparência e da credibilidade da política fiscal para escapar da estagflação. Caberia ao ‘Mãos-de-Tesoura’ recuperar os fundamentos fiscais da República, estabelecendo metas de superávit para reverter o descontrole orçamentário ora instalado. Mas uma desigual batalha se prenuncia. A cada evidência de compra de sustentação parlamentar, mais fragilizado o governo e maior a necessidade de lubrificar o presidencialismo de cooptação. Como aumenta o cerco do Poder Judiciário a essas práticas degeneradas, deve haver um estouro da boiada para cima de Levy em busca de verbas”, registrava esta coluna em 5 de janeiro de 2015, antecipando as dificuldades do ajuste fiscal.

A falta de apoio da presidente e do Congresso transformou o “Mãos-de-Tesoura”, o homem que ia cortar gastos, em mais um coletor de impostos. Descredenciando os esforços do ministro que lhe emprestava a credibilidade, a presidente desmoralizou seu próprio plano de estabilização. Continua emparedada entre a “sarneyzação” de seu mandato, em meio ao desastroso “feijão com arroz” na economia, e a “collorização”, o impeachment tentado pela oposição. Aumentar impostos, ceder à Velha Política e esfriar o Judiciário seria sua tentativa de sobrevivência política.

Não acredito que tenha sucesso por esse caminho. O aprofundamento da crise escreverá novo roteiro. Caminhamos para outro desfecho, mas não antes de quatro a cinco meses e não depois de outubro do ano que vem, quando ocorrerão as eleições municipais. Qual é a novidade? É o plano do PMDB, que ataca de frente, pela primeira vez, o problema estrutural do excesso de gastos públicos. Essa “ponte para o futuro” será atravessada, se não por Dilma, por Temer.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

CPI FARÁ DEVASSA NO FINANCIAMENTO PÚBLICO DO MST
Membros da CPI da Funai e Incra articulam a aprovação de requerimento para devassar o financiamento público que banca as atividades do MST. Estão na mira do relator, Nilson Leitão (PSDB-MT), ONGs como a Associação Estadual de Cooperação Agrícola de São Paulo (Aesca), que recebeu muito dinheiro do Ministério do Desenvolvimento Agrário e é suspeita de repassar dinheiro para o caixa da entidade.

PRETO NO BRANCO
O presidente da CPI, Alceu Moreira (PMDB-RS), diz que o ministro petista Patrus Ananias (Desenvovimento Agrário) pode ser convocado.

CASO DIVINO
Erika Kokay (PT-DF) tenta barrar a comissão na Justiça. Moreira diz não entender o motivo e alfineta: “PT foge da CPI como o diabo foge da cruz”.

ONG: NEGÓCIO LUCRATIVO
Dados do Contas Abertas apontam que R$ 6 bilhões/ano saem do bolso do contribuinte diretamente para “entidades sem fins lucrativos”.

MARCHA VERMELHA
A Marcha das Margaridas (2015) contou com farto dinheiro do governo. Ao menos R$ 855 mil rateados entre Caixa, BNDES e Itaipu Binacional.

CUNHA APOSTA NA LENTIDÃO DA JUSTIÇA DA SUÍÇA
O presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB), acredita que a Justiça da Suíça deve demorar no mínimo um ano para responder a todos os seus pedidos de esclarecimento. Essa demora poderá retardar por igual período o processo a que responde no Conselho de Ética. Se isso não lhe for concedido, está pronto a recorrer à Justiça, alegando “cerceamento ao direito de ampla defesa”.

APOSTA PERIGOSA
Eduardo Cunha não deveria apostar todas as suas fichas na estratégia de protelar o processo. A justiça suíça tem sido ágil, em relação a ele.

TRATAMENTO VIP
O ministério público suíço também tem sido ágil, e atende prontamente às demandas dos colegas brasileiros. O próprio Cunha que o diga.

DITO E FEITO
Empresário e senador nordestino (PMDB) há anos disse a esta coluna ser difícil “pegar” o Cunha, mas ele não resistiria a uma investigação.

MÃO QUE LAVA A OUTRA
O acordo para sepultar a CPI do BNDES passa por Eduardo Cunha, que se comprometeu com Lula a não avançar sobre negócios que podem comprometer as empresas da família do ex-presidente.

PRESSÃO CONTRA LEVY
Lulistas críticos de Joaquim Levy levaram indicadores para Dilma, na tentativa de convencê-la a demiti-lo. Até mentem, dizendo que a saída de Levy faria a bolsa subir e o dólar cair. Mas ela não é tão boba assim.

SANGUE NOVO
Deputados federais tucanos de primeiro mandato mandaram um recado para quem deseja suceder ao líder atual, Carlos Sampaio (SP): não aceitam qualquer dos líderes do PSDB dos últimos cinco anos.

MEDIDA AUTORITÁRIA
Com a medida que proíbe o bloqueio de rodovias por caminhoneiros, a Câmara aprovou a convocação do ministro José Eduardo Cardozo. Os ruralistas já avisaram: convocarão Jaques Wagner nesta terça (17).

VIDA QUE SEGUE
O presidente do Conselho de Ética, José Carlos Araújo (PSD-BA), não se impressiona com as sete representações contra deputados: “Quando chega uma nova (representação), a gente toca o barco”.

MANOBRA DETECTADA
É consenso no Congresso: a oposição percebeu o movimento de Eduardo Cunha em sintonia com o governo. “Por isso, a oposição deve ter partido para cima dele”, conclui o aliado Artur Lira (PP-PB).

GATO NO TELHADO
“O impeachment de Dilma subiu no telhado”, afirma o deputado Betinho Gomes (PSDB-PE), representante tucano no Conselho de Ética da Câmara. Segundo ele, “não seremos usados como moeda de troca”.

OS SEM-OPINIÃO
O que anima Eduardo Cunha na representação por quebra de decoro é a composição do Conselho de Ética. Segundo ele, os deputados eleitos por “voto de opinião” são minoria, o que o beneficiaria.

PENSANDO BEM...
...até d. Elza, se viva fosse, teria dificuldades de acreditar nas versões do filho Eduardo Cunha, sobre a dinheirama na Suíça.