domingo, outubro 18, 2015

O grande jornalismo - SACHA CALMON

CORREIO BRAZILIENSE - 18/10

O Brasil sediou, há dias, grande encontro de jornalismo investigativo, o que atua com total independência dos governos e dos interesses das grandes corporações. Seymour Hersh esteve presente. O americano, com passagens pelo New York Times e pelo Washington Post, foi o primeiro a desmascarar a farsa espetaculosa do assassinato de Bin Laden, com fuzileiros navais descendo em cordas bambas, à noite, de barulhentos helicópteros estacionados a 20 metros acima da fortaleza do terrorista no Paquistão, sem encontrar resistência armada.

Desde quando Bin Laden não teria guarda de pelo menos 30 talibãs treinados e superarmados? O jornalista desmontou a farsa com vários argumentos, mas o mais convincente foi o do sumiço do corpo do terrorista mais procurado do mundo, morto havia tempos, segundo ele, sabe-se lá como, onde e por quê. Não exibiram o corpo em nenhum momento. Custava fazê-lo? E, para culminar, disseram que o jogaram no mar para a sua sepultura não virar lugar de peregrinação. Hoje é sabido ter sido uma filmagem que, aliás, catapultou a reeleição de Obama.

É desse jornalismo que os brasileiros precisam. Claro está que, no caso em apreço, se tratou de um lance propagandístico com fins eleitorais, mesmo assim reprovável por iludir os votantes, em nada parecido com a arapongagem de Nixon em Watergate para espionar os democratas. Aqui achamos à época ser fato pequeno. Os jornalistas do Washington Post, entretanto, desmascararam Nixon. Dissera não saber de nada. A pecha de mentiroso levou-o ao descrédito. A Procuradoria-Geral nomeou um membro independente para investigá-lo. Ele pediu ao Congresso o impeachment. Premido pela opinião pública, decepcionada em ter um presidente mentiroso, Nixon renunciou.

Aqui as mentiras de Lula e de Dilma são muitas, mas ninguém se importa. Nas eleições de 2014, Dilma "fez o diabo" e mentiu como nunca, enganando o povo e os eleitores. Ficou tudo por isso mesmo, fraco o nosso senso ético. Agora mesmo a OAB vem de constituir comissão para avaliar se os 13 ilícitos orçamentários da presidente são aptos a embasar pedido de impeachment. Comenta-se em Brasília que será comissão chapa-branca. A estranha atitude da OAB a põe em risco de partidarismo.

Se a comissão for de esquerdistas, cairá no ridículo. Somente se composta de juristas de alto coturno, desvinculados do governo, a opinião terá valor, assim mesmo relativamente. Juízes julgam, juristas emitem pareceres, advogados patrocinam. A OAB é órgão de classe, sem viés governista (quinta coluna). Pessoalmente, me nego a crer que Marcus Vinicius Coêlho, presidente da OAB, seja venal.

No Brasil, se o presidente não deixar a digital na cena do crime, é inocente. (Uma ova! Tem o domínio dos fatos.) A tese de que seus auxiliares foram os culpados pelos 13 desvios não passará. Se passar, o Congresso será vaiado. O PT nos faz retroceder em tudo, quer emplacar a ideia de que o governante eleito é irresponsável, juridicamente falando, contra a Constituição. O PT agora é monarquista, volta ao século 17 (the king do not wrong). O rei não pode errar. Aliás, pode, segundo Lula, para quem a transgressão das leis orçamentárias foi feita para pagar o Bolsa Família (confissão).

Mas as mentiras maiores ainda vão aparecer. O PT criou deficits nas contas para ajudar empreiteiras, cobrar comissão e fazer bonito nos países de esquerda. E a gente precisando tanto de obras urbanas e de infraestrutura. Vamos expor algumas, coligidas pelo movimento Consciência Patriótica: Barragem de Moamba Major (Moçambique), custo BNDES: US$ 350 milhões; BRT (corredores de ônibus) de Maputo (Moçambique), custo BNDES: US$ 180 milhões; Hidrelétrica de Tumarim (Nicarágua), custo BNDES: US$ 343 milhões; Projeto Hacia El Norte Rurrenabaque-El-Chorro (mais conhecida como entrada da cocaína - Bolívia), custo BNDES: US$ 199 milhões; Abastecimento de água em Lima (Peru), custo BNDES: não informado; Renovação da rede de gasoduto de Montevideo - Uruguai, custo BNDES: não informado.

Mais: Via Expressa Luanda - Kifangondo, custo BNDES: não informado; Segunda ponte sobre o rio Orinoco (Venezuela), custo BNDES: US$ 300 milhões; Linhas 3 e 4 - Metrô Caracas (Venezuela), custo BNDES: US$ 732 milhões; Soterramento do Ferrocarril Sarmiento (Argentina), custo BNDES: US$ 1,5 bilhão; Aqueoduto de Chaco (Argentina), custo BNDES: US$ 180 milhões; Autopista Madden-Colón (Panamá), custo BNDES: US$ 152,8 milhões; Metrô cidade do Panamá (Panamá), custo BNDES: US$ 1 bilhão; Hidrelétrica de Chaglla (Peru), custo BNDES: US$ 320 milhões; Hidrelétrica Mandariacu (Equador), custo BNDES: US$ 90 milhões; Porto Mariel (Cuba), custo BNDES: US$ 682 milhões; Aeroporto de Nagala (Moçambique), custo BNDES: US$ 125 milhões. Abrir a caixa-preta do BNDES é imperioso.


Pobreza modelo 2015 - VINICIUS TORRES FREIRE

Folha de SP - 18/10

UM, DOIS, TRÊS anos de recessão vão tirar quanto do rendimento de cada brasileiro? A crise vai empobrecer os mais pobres, os remediados ou tornar os ricos um tico menos ricos? A resposta está longe de ser óbvia e pode ter alguma relevância política.

Desde 2004 até ao menos 2013, o rendimento médio cresceu muito mais que o PIB por cabeça, per capita (o PIB, produto interno bruto, é a medida mais geral de renda ou produção gerada pela atividade econômica). Nem sempre PIB e rendimento médios andam no mesmo passo.

Em 1999 e 2003, anos das piores crises recentes, o rendimento médio caiu muito mais que o PIB per capita (o valor do PIB dividido pela população). O rendimento médio aqui é o medido pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE, levantamento anual mais completo e detalhados das condições materiais de vida no Brasil.

A queda do PIB per capita em 2015 deve ser uma das maiores da história registrada do país. Numa conta feita com base na previsão mediana da variação do PIB para este ano, o PIB por cabeça deve cair 3,8%. Em 2003, caiu apenas 0,1%; em 1999, 0,8%. Nesses dois anos, o rendimento médio medido pela Pnad caiu mais de 5%.

Na pequena recessão de 2009, ano pois de queda de PIB per capita, o rendimento médio ainda cresceu.

A mais notável diferença positiva de 2015 em relação a esses anos ruins é que o rendimento médio dos brasileiros é muito maior, embora exista alguma controvérsia sobre quão menos desigual deva ser (mas é). De qualquer modo, o número de brasileiros à beira da pobreza ou da indigência é muito menor. Enfim, os dados da Pnad relativos a 2014 ainda não foram publicados, mas o rendimento de 2013 era mais de 60% maior que o de 2003.

Um fato muito negativo desta crise será sua duração. O PIB per capita caiu 0,7% em 2014. Deve cair, 3,8% neste ano. Pelas projeções para 2016, encolhe 2%. Será o terceiro pior triênio desde quando se passou a medir o PIB, após a Segunda Guerra (o pior ocorreu no fim da ditadura militar; o outro, nos anos Collor).

Pode piorar. A partir desta semana, instituições financeiras e consultorias vão começar outra rodada de baixas feias das estimativas de crescimento do PIB. Por ora, as previsões são recessão em torno de 3% neste ano e de 1,5% em 2016.

Devem passar para 3,5% e 2%, respectivamente, nas melhores casas do ramo.
Ainda assim, há atenuantes para o Brasil desta década. Transferências de renda e os aumentos recentes e restantes do salário mínimo devem amortecer o baque na vida dos mais pobres (há mais Previdência, Bolsa Família e outros seguros sociais).

Há motivos diversos para que a variação do PIB por cabeça, do crescimento da economia, possa não andar no mesmo ritmo que a variação da média dos rendimentos, discussão que não cabe aqui, agora, nestas colunas. Aliás, parte do descompasso recente, esquisita e aparentemente grande, tem sido motivo de controvérsia entre os entendidos, faz meia década. A ideia aqui é apenas observar que, apenas com os números do PIB, não é possível deduzir o impacto da crise, a distribuição social dos prejuízos e menos ainda seu efeito político, quase nunca uma simples função da renda.

O feiticeiro de plantão - GAUDÊNCIO TORQUATO

BLOG DO NOBLAT - O GLOBO - 18/10

Luiz Inácio Lula da Silva é um “feiticeiro” de plantão. O epíteto se deve à capacidade que ele tem de produzir e vender “feitiço” às massas. Mas não são poucos os que questionam: “ele não tem mais esse poder de vender gato por lebre; os escândalos que sujam a imagem do PT quebram sua força, esvaziando o estoque de carisma com que engabela as massas”. Verdade? Analisemos. O ex-partido da moral e dos bons costumes – o Partido dos Trabalhadores – é o mais identificado com a lama que escorre dos porões da política. A sigla perdeu a aura que possuía por ocasião de sua criação. Nem por isso se pode menosprezar o papel de Lula, jogando-o no baú de quinquilharias. O palanqueiro, com seu timbre rouco de voz, continua a disparar tiros a torto e a direito, principalmente em direção às elites, à imprensa e a oposicionistas que querem destronar sua pupila, a mandatária que teve 54 milhões de votos.

O ex-presidente volta à linha de frente no esforço de resgatar a imagem positiva de Dilma. Vê que têm sido inócuos os esforços de A, B e C, integrantes do exército ministerial, ou D, E e F, guerreiros do PT e de outros partidos da base, para reconstruir a identidade de uma governante que, no início do primeiro mandato, exibia como trunfo os atributos de excelência técnica, eficiente gestora e um perfil de alto nível. Os tempos mudaram. Hoje, Dilma enrola-se nos farrapos de uma administração que parece sem rumo. E sem recursos. Envolvê-la em tecido limpo passa a ser tarefa primordial para Lula. E o que aparentemente ele decidiu fazer? A saída das feras acuadas: atacar, furar o cerco imposto por inimigos. Luiz Inácio volta ao palanque com a visível intenção de construir um abrigo de cor vermelha. E não teme confessar: pedaladas fiscais foram feitas para pagar o Bolsa Família. Fica implícita a estratégia: puxar as massas para o lado de Dilma, comover a galera das margens. Só o conforto do povão poderia tirar Dilma do inferno.

Ao fazer a ligação entre Dilma, o bolso e a barriga das margens carentes, Luiz Inácio deverá se valer do batido refrão: “nós contra eles”, as elites endinheiradas e poderosas. Terá condição de se transformar novamente em paladino da causa social? Ganhará de novo os louros de Pai da Pátria, Salvador dos Carentes e Oprimidos? Dilma entra na onda e segue a cartilha. Nunca antes neste país, ressaltou em peroração no Concacut, um governo como o de Lula e o dela fez tanto para combater a corrupção. (Do outro lado do palanque, espraia-se a lama do maior escândalo de corrupção da história política, que deixou vazar pelo propinoduto cerca de R$ 20 bilhões). “Atacar para não morrer”. Sob esse lema, a presidente Dilma denuncia a trama arquitetada pelos inimigos da Pátria, um golpe para apeá-la do poder. É o que ouviremos nos próximos tempos.

Não será fácil sair-se bem sob essa engenharia vocabular. Como é sabido, a presidente é o alvo de um intenso tiroteio social, não apenas midiático (como dizem Lula e outros petistas), bastando ver os míseros 8% da aprovação popular que detém. O discurso de defesa será confrontado com a realidade. A política, como exercício de sedução, será testada. Para cooptar as massas, os atores políticos, principalmente os carismáticos, costumam vestir o manto dos heróis. Lula, por exemplo. O que procura oferecer? Esperança. Ora, mas a esperança que ele vendeu no passado foi consumida pela dura realidade desses tempos de economia em recessão. Falta grana no bolso para encher a geladeira, pagar o carro, as prestações do fogão novo. O instinto de sobrevivência e o instinto nutritivo, da lição de Pavlov, estão ameaçados. Lula, mesmo querendo parecer um “deus de plantão”, poderá cair das nuvens. Subterfúgios, adjetivos, acusações fortes e promessas de um mundo melhor já não terão o efeito que causavam há 10, 15 anos.

É possível que ainda vejamos pessoas de boa vontade, carentes e dóceis, cheias de ternura e afeto, trabalhadoras, aplaudindo o paladino do “nunca na história desse país”. Afinal, o apelo de quem saiu das margens para o topo da pirâmide será sempre ouvido por uns e outros. A mistificação faz parte do jogo político. Não sem razão, Saint-Just, um dos jacobinos da Revolução Francesa, expressando sua desilusão com a política, dizia: “todas as artes produziram maravilhas, exceto a arte da política que só tem produzido monstros”. Exageros à parte, urge reconhecer a existência de quadros decentes. O fato é que há políticos conhecidos pela capacidade de se esconder sob as lágrimas do crocodilo, esse animal que chora para atrair a presa e devorá-la.

E mais: Lula deverá manter a estridência do discurso. E haja repetição. A linguagem da política ensina que a mentira repetida seguidas vezes tem o dom de fazer com que os ouvintes a tomem como verdadeira. E o próprio orador, de tanto mentir para os outros, passa, ele próprio, a acreditar no que diz. Esse mecanismo foi utilizado por Hitler e estudado por muitos cientistas. A cartilha do engodo abrigará orientações como esta: tergiversar; contar os fatos pela metade; omitir situações; acrescentar dados; ridicularizar adversários para encobrir sua montanha de defeitos; buscar de todas as formas abrir espaços de simpatia social, e até transformar o errado na coisa certa.

Fingimento, despistamento, simulação, dissimulação – eis os substantivos do discurso político nos próximos meses. A esperteza, o vale-tudo, a dramatização, os recursos artificiais, a hipocrisia e a insinceridade compõem a base da cultura política na sociedade pós-industrial. No Brasil, essa moldura é ainda mais tosca em decorrência das mazelas que solapam nossa democracia.

Afinal, Lula terá sucesso? Nem ele mesmo acredita. Seu feitiço deverá atrair grupos pequenos, profissionais de mobilizações vestidos de vermelho. Mais provável é que a armadilha do discurso demagógico não entre na cachola cada vez mais apurada dos brasileiros. Incluindo as margens.

Histórias mal contadas - ELIANE CANTANHÊDE

ESTADÃO - 18/10

O ex-presidente Lula entrou de cabeça na defesa do deputado Eduardo Cunha e da presidente Dilma Rousseff, mas ele deve estar tenso e preocupado mesmo com ele próprio e com a sua família. E, atenção, isso não tem a ver com um confronto entre esquerda e direita, é genuinamente uma questão de polícia e de justiça.

“A convite”, Lula já teve de dar explicações à Procuradoria-Geral da República, na sexta-feira, sobre suas intrincadas relações com as maiores empreiteiras do País, nas asas das quais voava pela África e pela América do Sul, esbanjando carisma e dando uma forcinha para os negócios.

Na Polícia Federal, há dúvidas se Lula funcionava como chefe das empreiteiras brasileiras com vultosos negócios no exterior ou se, na verdade, ele acabou virando uma espécie de alto funcionário a serviço delas ainda como presidente da República.

A dúvida é reforçada por mensagens e dados levantados na Operação Lava Jato, como um e-mail escrito por um executivo da Odebrecht às vésperas de um almoço de Lula com o presidente da Namíbia: “Seria importante eu enviar uma nota memória antes via Alexandrino com eventualmente algum pedido que Lula deve fazer por nós”. O “deve” soou como uma ordem. E o tal Alexandrino, que foi preso na Lava Jato, era o companheiro de viagem de Lula nos jatos da empreiteira.

Para os defensores incondicionais de Lula, o presidente interferia a favor das empreiteiras em defesa dos “interesses nacionais”. O problema é que as dúvidas sobre Lula não são isoladas. Ocorrem em meio a grandes suspeitas envolvendo o seu governo com histórias do arco da velha na Petrobrás e arrastando seus filhos e uma nora para o centro do noticiário que deveria ser político.

Segundo o Estado, Luiz Cláudio Lula da Silva abriu uma empresa na mesma época em que escritórios de lobby despejaram R$ 32 milhões para aprovar uma medida provisória que prorrogou isenções fiscais para montadoras de automóveis. Ato contínuo, a empresa do filho de Lula – que atua na área do “marketing esportivo” – recebeu a bolada de R$ 2,4 milhões de um desses escritórios – que não tem nada a ver com marketing esportivo. Nem quem pagou nem quem recebeu sabe explicar que negócio foi esse.

Segundo o O Globo, o delator Fernando Baiano, operador do PMDB na Petrobrás, disse em depoimento que pagou R$ 2 milhões de despesas pessoais de outro filho de Lula, Fábio Luiz (o “Ronaldinho” da Gamecorp), que também virou empresário de sucesso depois que o pai virou presidente. E, segundo a TV Globo, Baiano especificou aos procuradores que teria dado R$ 2 milhões para que uma nora de Lula quitasse parte (só parte...) de um imóvel. O intermediário teria sido o “irmão” de Lula José Carlos Bumlai, depois de uma negociação suspeita com a Petrobrás.

Na primeira vez, pode ser exagero ou simplesmente fofoca. Na segunda, começa a ficar esquisito. Na terceira, quando atinge o pai, um filho, outro filho e a nora, começa a assumir ares de verdade. É por isso que Lula gasta muita energia para salvar Dilma e Cunha – neste caso sem tanto sucesso, vide o racha na bancada do PT –, mas deveria guardar alguma para se defender e aos seus.

Esses delegados, procuradores e juízes que andam por aí azucrinando ricaços e poderosos têm uma formação impecável, sabem o que estão fazendo e têm fortes conexões com os Estados Unidos, a Itália, o Uruguai, a Suíça... Eles não são nem de direita nem de esquerda. E não estão aí para brincadeira.

Anuncia-se nos bastidores que Lula já está em campanha para voltar ao Planalto em 2018 e dizem que, quando o leão passa, mesmo ferido, os outros bichos se escondem. Lula é sem dúvida um leão da política, mas, para passar, precisa estar livre, leve, solto e sem ter de explicar o tempo todo mil e uma histórias mal contadas.

GOSTOSA




A verdadeira herança maldita - CELSO LAFER

ESTADÃO - 18/10

O julgamento, pelo STF, do “mensalão” e agora as surpreendentes e cotidianas revelações da Operação Lava Jato põem na pauta brasileira a magnitude da transgressiva relação entre o dinheiro e o poder e seu impacto na vida do nosso país.

Todos os indícios apontam para a existência de uma convergência sistêmica entre ilícitos que transitam pelo enriquecimento pessoal, pelo fraudulento desvio de recursos públicos para projetos de manutenção e aquisição de poder de partidos e personalidades políticas e por uma espúria coabitação entre empresas e o poder público. Esta faz da propina e dos “arranjos” um ingrediente relevante tanto na seleção de que grupos empresariais se vão incumbir de grandes projetos no País, e também no exterior, quanto no tamanho do sobrepreço cobrado na execução de importantes obras.

Salta aos olhos que tudo isso fere frontalmente as normas e os princípios do artigo 37 da Constituição, que regem a administração pública e assentam os padrões de conduta que tutelam o interesse público. Destaco: o da impessoalidade, que estipula que todos devem ser tratados sem distinções, e não com favorecimentos e compadrios, em obediência ao princípio da igualdade; o da eficiência, que exige da administração pública fazer o melhor sem desvios e sobrepreços, com recursos públicos escassos, no atendimento do interesse coletivo; e o da moralidade. Este aponta para o fato de que o Direito como a disciplina da convivência humana sempre tem como piso um mínimo ético. O princípio da moralidade é a cobertura axiológica da boa-fé e da confiança que deve cercar, na relação governantes-governados, a aquisição e o exercício do poder.

Faço essas observações para apontar que o alcance do que está na ordem do dia vai além do que está tipificado como sérios ilícitos na legislação penal. Impacta o sistema político como um todo por obra do efeito deletério da corrupção.

A palavra corrupção vem do latim, do verbo corrumpere. O significado originário do termo é estragar, decompor. Na filosofia aristotélica, é uma das espécies de movimento que levam à destruição da substância. Políbio, tratando dos modos como os regimes políticos mudam e, por isso, alteram a sua substância por obra do movimento da corrupção, recorre a uma metáfora esclarecedora. Indica que a corrupção nos regimes políticos exerce papel semelhante ao da ferrugem em relação ao ferro ou dos cupins na madeira: é um agente de decomposição da substância das instituições públicas.

Valendo-se da “lição dos clássicos”, Michelangelo Bovero em seu Contra o Governo dos Piores, ao pensar problemas da política contemporânea, aponta os riscos do movimento da corrupção. Um dos mais significativos é o de favorecer umakakistocracia, literalmente o governo dos piores, que abre espaço tanto para a demagogia do pão e circo quanto para a plutocracia, na qual prevalece a influência do dinheiro na gestão governamental.

Estas rápidas remissões à teoria política têm como objetivo realçar que um dos efeitos da corrupção que transcende o penal é o de trazer a corrupção do espírito público, como aponta Raymond Aron em seu Democracia e Totalitarismo.

A corrupção do espírito público mina a confiança das pessoas nas instituições democráticas, que nelas não vislumbram uma postura efetivamente voltada para o interesse comum.

Como diz Bobbio em artigo de 1993, recolhido no seu livro Verso la Seconda Repubblica, redigido numa época da política italiana que tem semelhanças com a nossa atualidade: “A democracia requer confiança. A confiança recíproca entre os cidadãos e a confiança dos cidadãos nas instituições. A confiança, por sua vez, requer a transparência que exige que tudo o que diz respeito aos cidadãos se faça à luz do sol”. Daí a importância do princípio da publicidade, que também integra o artigo 37 da Constituição.

A revelação da magnitude da corrupção solapa a necessária confiança recíproca exigida pela democracia. É um cupim que está decompondo as aspirações republicanas consagradas na Constituição de 1988, pois a res publica – o bem comum – está sendo confundida e não diferenciada, como na formulação de Cícero, do bem privado (res privata), do bem doméstico (res domestica) e do bem familiar (res famialiaris).

Realço o que isso significa nos dias de hoje porque o declínio de políticas ideológicas e a complexidade dos assuntos que são da responsabilidade de um governo fazem da credibilidade um elemento fundamental da governança. A corrupção é um redutor da confiança na classe política e nos partidos, que tem, assim, consequências para o bom funcionamento do sistema político, pois cupiniza o seu capital simbólico.

Uma medida da dimensão política da corrupção é a dada por todas aquelas ações ou omissões dos detentores do poder político que violam normas jurídicas gerais para perseguir interesses e vantagens particulares. Lembro, neste contexto, que uma das virtudes do Estado Democrático de Direito é o respeito às leis e, muito especialmente, à Constituição; e uma dimensão da falta de espírito público, instigada pela corrupção, é a complacência com o afrouxamento da sua força obrigatória.

Machado de Assis observa: “Corrupção escondida vale tanto como a pública; a diferença é que não fede”. A Operação Lava Jato, em linha com o princípio da publicidade, está pondo diariamente à luz do dia o quanto “fedem” as modalidades de corrupção que estavam escondidas no âmbito do criptogoverno e do subgoverno do Brasil. Está, assim, indicando a existência, esta, sim, de uma verdadeira herança maldita.

A superação desta herança maldita, que resulta do exercício do poder pelo PT, exigirá a descupinização do sistema político para recuperar a confiança e restaurar a credibilidade necessária para abrir horizontes para o País.


Horizonte crítico - EDITORIAL FOLHA DE SP

Folha de SP - 18/10

A campanha quase aberta das lideranças maiores do petismo contra o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, contribui para levar a um ponto crítico a política econômica que, segundo se supõe, é a do governo Dilma Rousseff (PT).

O programa de ajuste precário das contas públicas emperrou em um Congresso tomado pelo tumulto político, no qual a presidente da República não consegue formar nem mesmo maiorias circunstanciais.

As recentes intervenções do ex-presidente Lula, em particular na reforma ministerial, animaram os adversários de Joaquim Levy e da política econômica que ele quase solitariamente personifica.

Ataques descabidos contra as diretrizes propostas pelo ministro solapam o apoio necessário para que sejam aprovados projetos de aumentos de impostos. Nas atuais circunstâncias, dissipam-se, sem tais medidas, as possibilidades de mero equilíbrio entre receitas e despesas primárias do governo (excluídos gastos com juros da dívida).

Assim, praticamente se relega para o ano que vem a vigência dos novos tributos.

Tal atraso, uma espécie de sabotagem, adia ainda mais –talvez para 2017– a desejada retomada de algum crescimento.

Pior, esse pode nem ser o maior dos danos. O governo fracassou no cumprimento das metas de economia que anunciara neste ano.

Em julho, reduziu a quase zero o superavit primário para 2015. Em agosto, enviou ao Congresso um Orçamento deficitário para 2016. Tais recuos provocaram o rebaixamento do crédito do país, com as decorrentes altas de taxas de juros e do preço do dólar. No momento, o governo está à beira de reconhecer que deve ter deficit neste ano.

Uma nova rendição do Planalto, em especial quanto às metas de 2016, tende a provocar outra rodada de descrédito, com deterioração ainda maior da economia.
Além das turbulências imediatas, tal degradação deve implicar o aprofundamento da recessão.

A reversão de tal estado de coisas, no entanto, é tão possível quanto uma piora adicional e aguda da crise.

Na maior parte, tal risco se deve à incerteza sobre a disposição do governo de controlar o acentuado aumento de sua dívida. Em outros termos, deve-se à incapacidade do Planalto de oferecer um programa de reformas que, mesmo sem impacto imediato, crie esperança de estabilidade no horizonte.

A aprovação do pacote de ajuste, a apresentação de um plano de reformas crível e a derrota dos quintas-colunas no governo não daria cabo da crise, mas seria um ponto de inflexão –o sinal de que se aproxima o fim de um ciclo desastroso.

O preço de adiar soluções - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 18/10

O pleno funcionamento das instituições democráticas no Brasil é garantia de que o Estado de direito não apenas vigora como paira sobre a gravidade da crise política e econômica que domina o país. Mas é também dessas instituições que se esperam decisões que ajudem a sociedade e seus representantes a encontrar, com a urgência possível, as soluções para estancar a caminhada ladeira abaixo da atividade produtiva, do emprego e da renda dos brasileiros.

É nesse contexto que não se pode negar ao homem comum a frustração de ver mais uma semana perdida na busca de soluções para o impasse político que contamina todo o resto e impede que se destravem os negócios, a disposição de investimento dos empresários e de consumo do cidadão. Foi o que provocaram as decisões dos ministros Teori Zavascki e Rosa Weber ao definir limites à Presidência da Câmara dos Deputados no estabelecimento do rito para eventual processo de impeachment da presidente da República.

Controversas - tanto que serão contestadas em recurso do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que, aliás, continua tendo o poder de aceitar ou não pedido de impeachment -, as liminares sustaram muito mais do que a agenda do impedimento de Dilma Rousseff. Tiveram o efeito de ampliar a paralisação das votações de medidas que contam para o ajuste fiscal, como os vetos a projetos que criam despesas e medidas complementares de corte de gastos propostas pelo governo.

Como não há saída para a retomada da economia que não passe por acerto no campo político - pelo qual o governo recupere o diálogo com o parlamento -, a perda de uma ou mais semanas pode representar meses de atraso na retomada da confiança e da normalidade da atividade econômica. Não foi por outro motivo que mais uma agência internacional de risco, a Fitch Ratings, rebaixou a nota de crédito do país.

Pior do que o rebaixamento foi o viés de baixa adotado pela agência, sinalizando que os analistas perceberam que o país não só não avançou na reversão do grave desequilíbrio fiscal e consequente aumento do endividamento, como também não emite sinais confiáveis de que caminha para alcançar esse objetivo. Pelo contrário, na sexta-feira, o governo sinalizou ao Congresso que enviará, nesta semana, emenda à proposta de Orçamento trocando a meta de um modesto superavit para assumir que vai fechar o segundo ano seguido com deficit primário.

Isso, certamente, levará o país à perda do grau de investimento por mais de uma agência internacional, com evidente aumento das dificuldades do governo e das empresas brasileiras de obter financiamento para os investimentos e crédito para seus negócios. Mais recessão e desemprego à vista. Ou seja, o Brasil, por meio de suas instituições - todas elas - não pode continuar adiando soluções que não dependem da situação internacional, como muitos tentam fazer crer, mas tão somente do próprio bom senso e boa governança.


GOSTOSA DO TEMPO ANTIGO



Pedalando o BNDES - SAMUEL PESSÔA

Folha de SP - 18/10

Muito se tem discutido as pedaladas fiscais do governo. Como argumentei em colunas anteriores, o maior estrago desta prática é encobrir a realidade e impedir ou atrasar o debate sério pela sociedade da estrutura do gasto público.

De alguma forma que não entendo, o atual governo avaliou que postergar as inconsistências orçamentárias e acumular débitos escondidos era a estratégia correta para sei lá o quê. Simplesmente me escapa.

Uma das principais práticas de adiar gastos resultou da portaria nº 357 de 15 de outubro de 2012, assinada pelo à época secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, atual ministro do Planejamento. Para entender os efeitos dessa portaria, precisamos compreender como funcionam os subsídios do BNDES.

A taxa básica que baliza os empréstimos do BNDES aos seus tomadores é a taxa de juros de longo prazo, TJLP. Na prática, o banco empresta à TJLP mais um spread para cobrir o custo da intermediação financeira e o risco da operação.

Esse tipo de operação já encerra enorme subsídio, pois a taxa pela qual o Tesouro Nacional se financia é a Selic, muito superior à TJLP. Hoje a Selic é de 14,25% ao ano, e a TJLP, de 6,5%. Os juros sobre um empréstimo de R$ 1 milhão seriam de R$ 142 mil pela Selic, ante R$ 65 mil se empregarmos a TJLP, um subsídio anual de R$ 77 mil. Note-se que a TJLP está abaixo da inflação!

O BNDES considera que seu custo de captação é a TJLP, e não a Selic. O motivo é que a Constituição Federal (CF) direciona ao BNDES os recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Adicionalmente a CF fixa que a TJLP será a taxa pela qual o BNDES remunerará o FAT.

Observe-se, entretanto, que ambos, FAT e BNDES, são instituições cujo único controlador é a União. O fato de a CF estabelecer que o FAT seja remunerado pelo BNDES pela TJLP não altera o fato de que o "custo de oportunidade" dos recursos do FAT –fruto da receita das contribuições para o PIS e o Pasep– seja o custo pelo qual o Tesouro capta recursos no mercado, a taxa Selic.

Em outras palavras, o Tesouro sempre pode empregar os recursos do PIS e do Pasep para abater a dívida pública e, portanto, economizar juros atrelados à Selic.

Assim, seja qual for o discurso oficial do BNDES, quando o banco de fomento empresta à TJLP, já está transferindo enorme quantidade de recursos do contribuinte ao tomador do empréstimo.

Como resposta à crise de 2008, criou-se o programa de sustentação do investimento (PSI). No âmbito do PSI, o BNDES empresta a taxas inferiores à TJLP –foram comuns empréstimos a juros fixos de 3% ao ano! A diferença entre a taxa do PSI e a TJLP mais spread de 1% ao ano seria devida pelo Tesouro ao BNDES.

A diferença seria considerada gasto primário do Tesouro na forma de um subsídio. Esse tratamento contábil está correto. A cada semestre o Tesouro deveria transferir ao BNDES o pagamento referente à diferença entre a TJLP e a taxa de empréstimo dos programas do PSI.

Aqui voltamos ao início da coluna (ufa!). A referida portaria dispôs, no 3º inciso do 7º artigo, que os valores somente seriam "devidos 24 meses após o término de cada semestre de apuração". O pagamento do Tesouro ao BNDES foi pedalado por 24 meses.

Criou-se uma dívida do Tesouro para o BNDES que, em dezembro de 2014, estava na casa de R$ 26 bilhões, segundo o balanço do BNDES.

Esse é somente um dos itens que o TCU alega que foram pedalados em explícita violação da Lei de Responsabilidade Fiscal.


Fritura - CELSO MING

O ESTADO DE S.PAULO - 18/10

A atual política nem é de Levy, é de Dilma, que o nomeou para colocar em prática o que vem tentando, até aqui com insucesso

Desde o fim de agosto aumenta o fogo amigo, do PT e especialmente do ex-presidente Lula, para que o governo Dilma demita o ministro da Fazenda, Joaquim Levy.

As justificativas não obedecem a nenhuma lógica. Isso é como a situação de técnico de futebol que perde vários jogos seguidos: cai porque tem de cair, não importando aí competência profissional nem linha de trabalho.

Há os que argumentam que a política fiscal sustentada pelo ministro Levy é negativa, na medida em que só pede sacrifícios e não aponta para o crescimento econômico e para o sonho de que precisa qualquer mortal. É bobagem pura. A atual política nem é do ministro Levy, é da presidente Dilma, que o nomeou para colocar em prática o que vem tentando, até aqui com mais insucesso do que com sucesso. Além disso, a austeridade na condução das contas públicas não é exigência de um obcecado; é pressuposto do crescimento sustentado que se quer.

Às vezes, as críticas não passam de jogo de palavras. A afirmação do ex-presidente Lula, como se viu nos jornais, de que “o ministro perdeu o prazo de validade” é moldura no vazio. Atribuir a ele a culpa por não ter convencido as agências de classificação de risco a não rebaixar o Brasil também não faz sentido. As decisões das agências foram tomadas com base na irrefutável deterioração das condições da dívida do Brasil, mostradas nos relatórios oficiais.

A recessão braba que aí está não tem nada a ver com as decisões do ministro Levy. Começou antes mesmo de sua posse e suas causas são conhecidas. Tem a ver com os graves erros de política econômica do primeiro governo Dilma, que não mostrou compromisso com a saúde das contas públicas porque deu prioridade a vencer as eleições, não se importando com as consequências.

Mas se for para sacrificar mais esse cordeiro aos deuses, ou o governo optará por alguém que conduzirá a mesma política que Levy não vem conseguindo emplacar ou jogará a toalha, desistirá do cumprimento das metas fiscais e deixará que a inflação se encarregue do serviço principal.

A substituição por outro que pense do mesmo jeito, mas que possa administrar melhor corações e mentes e arrancar algum entusiasmo dos agentes econômicos, só dará certo se o ajuste também avançar e desembocar no equilíbrio das contas públicas.

Mas se a escolha for derrubar o balde, a falta de confiança se encarregará de solapar o investimento e o crescimento futuro.

É a situação em que a inflação rolará solta e, com ela, o governo arrecadará o imposto inflacionário, que nada mais é do que a desvalorização do patrimônio e do salário dos brasileiros. Isso, por sua vez, implicará tirar do Banco Central a condição de guardião da moeda. Será deixar que a política monetária (política dos juros) perca consistência. Não é voltar a vender esperança, como alguns líderes do governo vêm afirmando. É voltar aos anos 80, desistir da estabilidade duramente conquistada com o Plano Real e reinstalar no País a luta feroz pela defesa da sua própria fatia no bolo nacional.


O veneno que corrói o Brasil - CLÓVIS ROSSI

Folha de São Paulo - 18/10

A concessão do Nobel de Economia a Angus Deaton deveria servir de alerta para o rumo que o Brasil está seguindo.

Refiro-me especificamente a uma frase sua em entrevista no dia do anúncio do prêmio: crescimento mais lento "envenena tudo", disse.

Vale para o mundo todo, vale mais ainda para o Brasil neste 2015: envenenou tanto a política que pôs em risco o emprego da presidente Dilma Rousseff.
Angus Deaton acha particularmente incendiária a combinação crescimento mais lento/aumento da desigualdade.

Nesse capítulo, o Brasil é um caso especial: dificilmente pode haver aumento da desigualdade porque ela já bateu no teto –e não é de hoje.

É verdade que alguns acadêmicos e alguns lulistas hidrófobos tentaram defender a tese de que a desigualdade diminuiu nos anos Lula. Falso.

O que pode ter diminuído –e ainda faltam estudos realmente conclusivos– é a desigualdade entre salários. Mas não diminuiu e pode até ter aumentado a desigualdade entre rendimento do capital e do trabalho, conforme atestaram pesquisadores do Ipea.

Por sua vez, Dyelle Menezes, no site Contas Abertas, fez a seguinte comparação: apenas neste ano, R$ 277,3 bilhões estão autorizados no Orçamento para "juros e encargos da dívida".

Já o montante destinado ao Bolsa Família nos últimos 15 anos foi inferior a esse gasto com juros (somou R$ 221,7 bilhões).

Quer dizer o seguinte: os portadores de títulos do governo, uns poucos milhões, recebem EM UM ANO mais do que ganham EM 15 ANOS 42 milhões de pessoas, a clientela do Bolsa Família, os pobres entre os pobres.

Preciso desenhar que está havendo transferência de renda dos pobres para os ricos?

O prêmio a Deaton inclui um segundo recado sobre a atualidade brasileira: em entrevista a "El País", o agora Nobel disse que "os programas de austeridade que muitos países padecem nos farão infelizes, talvez durante muitos anos".
Completou: "Essas políticas reduzem receita, recortam benefícios e destroem empregos".

Antes de prosseguir, uma observação: a culpa do baixo crescimento brasileiro não é da austeridade defendida pelo ministro Joaquim Levy, pela simples e boa razão que ela nem estava em vigor no ano passado, quando o crescimento já era esquelético, nem está em pleno funcionamento agora, quando se projeta uma baita recessão.

Feita a ressalva indispensável, vale o fato de que políticas como as que Dilma está tentando implementar "reduzem receita, recortam benefícios e destroem empregos".

Se, em um futuro que não está no horizonte, a austeridade gerará o saneamento das contas públicas e, graças a este, levará ao paraíso, é outra história, que o Nobel de Economia não compra.

Não compra porque a maioria de seus colegas erra ao tratar o com­por­ta­men­to do con­su­mi­dor "­mé­dio" como re­pre­sen­ta­ti­vo da va­rie­dade de com­por­ta­men­tos in­di­vi­dua­is.

Não é assim, demonstrou Deaton, em parte do estudo que lhe valeu o Prêmio Nobel.

É o mesmo que dizer que previsões em economia são precárias, posto que dependem de zilhões de comportamentos individuais.


A astúcia tinha limites - BERNARDO MELLO FRANCO

Folha de SP - 18/10

Acusado de se lambuzar no propinoduto da Petrobras, lavar o dinheiro sujo no exterior e intimidar testemunhas da Lava Jato, o deputado Eduardo Cunha está próximo de perder o mandato por um delito menor: mentir a uma CPI.

Em 12 de março, ele disse aos colegas que não tinha "qualquer tipo de conta em qualquer lugar" além da que declarou à Justiça Eleitoral. Foi desmentido por extratos bancários, assinaturas e documentos pessoais enviados por procuradores suíços.

As provas remetidas ao Supremo Tribunal Federal indicam que a decantada astúcia do deputado tinha limites. Ele cometeu erros primários, como apresentar o passaporte diplomático para abrir uma conta secreta. Também usou sua empresa de comércio religioso, a Jesus.com, para ocultar uma frota de carros de luxo.

O Porsche em nome de Jesus inaugura uma nova fronteira na exploração da fé com fins patrimoniais. Cunha existe eleitoralmente graças à aliança com igrejas pentecostais. Ao pedir votos, apresenta-se como uma voz "em defesa da vida e da família". O delator Fernando Baiano revelou que ele costumava interromper reuniões de negócios para pregar aos ouvintes de uma rádio evangélica.

Na noite de sexta, aliados do deputado trocavam ligações para discutir a sucessão na presidência da Câmara. As conversas lembravam uma velha máxima de Brasília: políticos podem chorar no velório e até ajudar a carregar o caixão, mas nunca se jogam na cova com o finado.

Ao peemedebista, restaria uma bala de prata: deflagrar o último cartucho, anunciando o recebimento de um pedido de impeachment de Dilma Rousseff. A estratégia poderia dividir o noticiário negativo entre o deputado e o Planalto, mas enfrentaria ao menos dois obstáculos.

A oposição teria que abraçá-lo novamente, em desafio à inteligência dos eleitores. E o Supremo teria que recuar das liminares de semana passada, quando barrou atropelos à lei para tentar cassar a presidente.

GOSTOSA


O feijão com arroz de Dilma - SUELY CALDAS

O ESTADO DE S.PAULO - 18/10

"Feijão com arroz" e "empurrar com a barriga" são expressões que traduzem a política econômica dos cinco anos de governo José Sarney, marcada por quatro planos econômicos para controlar a inflação. Todos fracassados. Fora do foco da inflação nada acontecia e restou aos quatro e sucessivos ministros da Fazenda da época cozinhar a economia na mesmice do "feijão com arroz" e "empurrar com a barriga" até entregar o País ao próximo presidente. Dilma Rousseff mudou o foco. Agora há dois focos que concentram energia e ação do governo: o ajuste fiscal e algo como um vale-tudo para evitar o impeachment da presidente e a cassação do deputado Eduardo Cunha. A economia está à deriva, nada acontece, os indicadores econômicos e sociais não param de piorar e a primeira mulher presidente do Brasil segue reeditando o maranhense José Ribamar Sarney - no feijão e na barriga.

Quando a economia é submetida à prática política rasteira e medíocre, em que os mais altos dirigentes do Executivo e do Legislativo ignoram os brasileiros e concentram tempo, energia e ação em costurar acordos para salvar a própria pele, a credibilidade afunda, cai abaixo de zero e tudo paralisa: não há novos investimentos, o desemprego cresce, salários e renda são reduzidos, verbas públicas são cortadas e o ambiente de degeneração econômica se espalha. A política medíocre domina, a economia é humilhada, o PIB desaba e a população empobrece. É o que estamos vivendo hoje e, pior, sem enxergar luz alguma à frente.

Com exceção da recessão, do desequilíbrio das contas públicas e dos truques primários para esconder o déficit, os demais fundamentos econômicos do Brasil não são ruins. Foram eles que convenceram a agência Fitch a ainda manter o grau de investimento do País. Mas o sinal negativo da Fitch para uma próxima classificação de risco decorre unicamente do ambiente político degradante que paralisa a economia, impede a aprovação do ajuste fiscal e destrói todas as iniciativas para melhorar o quadro econômico. Além disso, as descobertas de crimes cometidos por políticos, empreiteiros e lobistas trituram mais ainda a confiança, que já está - como diz Lula - abaixo do volume morto. Governo algum sobrevive sem credibilidade.

O tal ajuste fiscal desmorona, vai perdendo substância e o governo já calcula os estragos e uma nova redução da meta fiscal. Parlamentares de todos os partidos já avisaram que a CPMF não passa no Congresso, a receita tributária desaba com o PIB e, para onde se olha, só há perdas de receita e aumento das despesas. Iniciativas de engordar o caixa com venda de ativos são desfeitas exatamente porque a economia capitulou, o momento é desfavorável e o governo corre o risco de vender por preço tão baixo que é melhor desistir.

Foi assim que a Petrobrás adiou por 60 dias o lançamento de debêntures que faria na sexta-feira; a abertura de capital do Instituto de Resseguros do Brasil não sai do lugar por falta de interessados; o mesmo ocorre com a oferta pública de ações da Caixa Seguridade; e o ingresso de capital novo na joia da Petrobrás, a BR Distribuidora, até agora não aconteceu pois a estatal não encontra um sócio que pague o que vale o ativo. E isso tudo ocorre no rastro do rebaixamento da nota do Brasil pela Fitch e na expectativa de perda do grau de investimento pela Moody's.

No primeiro semestre o governo anunciou para junho/agosto rodadas de novas licitações de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, que ajudariam a acumular receitas para o ajuste fiscal. Já estamos no fim do ano e nada, absolutamente nada, foi licitado. Leilão recente de novas áreas de petróleo arrematou apenas 14% do que foi ofertado. E, agora, o governo prepara leilão de 29 hidrelétricas para o dia 6 de novembro, com o que espera arrecadar R$ 17 bilhões em outorgas. A ver.

Mas o que faz Lula correr para Brasília e subtrair muitas horas do tempo da presidente Dilma não são leilões, licitações, investimentos e geração de empregos, mas como barrar o impeachment, distribuir cargos a políticos aliados e tirar Joaquim Levy da Fazenda.


Encurralados - MÍRIAM LEITÃO

O GLOBO - 18/10

A equipe econômica está encurralada. Economicamente, o ano de 2015 já acabou, e ela tenta evitar que a projeção para 2016 piore. O ministro Joaquim Levy não consegue aprovar o que propõe; o ministro Nelson Barbosa terá um Orçamento deficitário; e sobre o Banco Central há dúvidas se a taxa de juros terá algum efeito no esforço para controlar a inflação.

Quem conversa com integrantes da área econômica percebe que eles se fixam em pequenos sinais positivos para se abstrair do grande quadro de impasse que se formou na economia. Eles lembram sempre que a balança comercial voltou ao superavit, que o país tem muitas reservas, e, agora, dizem que o Congresso não aprovou os vetos, mas também não teve força para derrubá-los.

Mas os indicadores econômicos ruins saem semanalmente, demolindo qualquer esperança neste ano que já acabou. Na semana passada, saiu a sétima queda consecutiva das vendas do varejo, um novo número negativo foi divulgado para o setor de serviços, o Banco Central informou que pelas suas projeções a economia encolheu 0,76% em agosto, e o Brasil sofreu novo rebaixamento. A cada semana, o balanço que se faz é desalentador.

Esta semana haverá reunião do Copom, e a inflação está perto dos dois dígitos. O remédio clássico seria mais aumento de juros. O problema é que, entre os economistas, o grande debate agora é a ideia de que a política monetária já perdeu a eficácia. Diante do grau de deterioração das contas públicas, qualquer elevação de juros, em vez de ser remédio, realimenta o problema e aumenta o espantoso déficit nominal de 9% do PIB. O debate iniciado pela economista Monica de Bolle significa, em resumo, que é preciso procurar outras formas de sair da armadilha que os economistas chamam de “dominância fiscal”.

Os especialistas que analisam a questão fiscal com profundidade concluem que, no momento, para fechar o déficit previsto para 2016, só mesmo a CPMF, mesmo não gostando do imposto. O Congresso, no entanto, nem está considerando para o Orçamento de 2016 a receita de uma possível CPMF, como meu blog informou na quinta-feira. Primeiro, porque o ambiente não está favorável à aprovação, segundo, porque o tempo de tramitação impedirá que o imposto, se vier a ser aprovado, obtenha a arrecadação prevista pelo governo. O Orçamento voltará do Congresso com desequilíbrio, ainda que eleve a Cide, como sugeriu o relator.

Concretamente, o ano de 2015 vai terminar com déficit, só que nem há meta fiscal aprovada ainda. Será enviado o pedido de revisão da nova meta ainda pendente de aprovação pelo Congresso. Inicialmente, seria um superávit de 1,1% do PIB, depois baixou para 0,15%, que não foi votado pelo Congresso, e agora serão propostos novos números, diante da perda de receita que superou as previsões mais pessimistas.

Todas as medidas do ajuste que foram enviadas pela equipe econômica para atingir um superávit de 0,7% estão sem chance de serem viabilizadas no Congresso. Diante disso, eles não têm muito o que fazer para reverter o quadro econômico de curto prazo. Para melhorar o gasto do governo a médio prazo seriam necessárias reformas que não estão na agenda política, o governo não tem consenso sobre elas, e se fossem propostas encontrariam um ambiente político hostil. A ideia era de reorganizar as contas públicas para preparar o país para um novo ciclo de crescimento, e isso parece mais distante do que nunca. A equipe, no começo do ano, achou que o país estaria crescendo no terceiro trimestre e estamos afundando mais na recessão.

O ministro Joaquim Levy permanece no governo, mas continua sendo alvejado por todos os lados. É acusado de não ter feito aquilo que não o deixaram fazer: proteger o país contra o risco de rebaixamento da nota de crédito da dívida. Levy não convence justamente aqueles aos quais pensou que ajudaria quando foi para o governo. Sendo assim, não há o que ele possa fazer, mesmo que queira.

Encurralada como está, não há o que a equipe econômica possa fazer para aliviar o quadro de recessão, inflação alta e incerteza fiscal que o país está vivendo. Os que querem no governo e no petismo derrubar Levy não sabem o que propor como alternativa. Por isso, o movimento não faz sentido. Mas nada mais faz sentido neste governo.

A escolha de Sofia - FERNANDO GABEIRA

O GLOBO - 18/10

Quem cai primeiro: Dilma ou Eduardo Cunha?


Quem cai primeiro: Dilma ou Eduardo Cunha? Essa, para mim, é uma escolha de Sofia, a personagem que teve de decidir qual dos dois filhos seria sacrificado. Sofia queria que ambos sobrevivessem, daí a angústia de sua escolha. No caso brasileiro, gostaria que os dois caíssem e, se possível, levassem também o Renan Calheiros.

Para o ex-ministro Joaquim Barbosa, o impeachment de Dilma é uma bomba atômica. Mesmo discordando de sua conclusão, acho que a imagem é útil e nos remete ao período da Guerra Fria, no qual a ameaça de uma hecatombe nuclear se tornou um fator de equilíbrio.

Eduardo Cunha tem contas na Suíça e foi detonado por quatro delatores. Hoje, conta com a simpatia da oposição. O líder do PSDB fez um discurso nauseante de apoio a Cunha na CPI. Fiquei tão chocado que escrevi mensagem de protesto para seu gabinete.

Mas Cunha floresceu no período do PT. Era líder de seu partido, o PMDB, comandava votações e nas questões econômicas fechava com o governo. O processo de degradação que o PT favoreceu acabou levando a uma consequência lógica na Câmara: o mais hábil e experimentado bandido acabaria ocupando a presidência.

A imagem de Barbosa serve, no entanto, para descrever o quadro. O impeachment tem valor para Cunha apenas como ameaça. Ele sabe que o impeachment de Dilma, imediatamente, levaria à sua própria queda. Dilma e Cunha necessitam um do outro e talvez evitem a guerra até que um deles caia por si próprio, derrubado pelos cupins que o consomem. Só existe um fator capaz de trazer alguma esperança: a participação popular. Sem ela, o Congresso fica perdido, os dramas vão se arrastar e reduziremos as chances de prosperidade das novas gerações.

Lula, por exemplo, escolheu um caminho de defesa: os fins justificam os meios. As pedaladas fiscais aconteceram para financiar o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida. É um argumento tenebroso porque engana os mais ingênuos e continua dando à quebra das regras do jogo um certo charme de Robin Hood. Acontece que o governo não pedalou apenas com os gastos sociais. Fez inúmeras despesas, em torno de R$ 26 bilhões, sem consulta ao Congresso. Em qualquer democracia do mundo, isso é crime bem mais grave do que comer um bombom na mesa do delegado da PF.

Não importam Teoris e Rosas e outros juristas vestidos de preto, com uma linguagem empolada. Nessa semana fizeram o que condenamos nos juízes de futebol: apitaram perigo de gol. O governo acentuou seus erros num ano eleitoral precisamente para dizer agora: esqueçam o passado, não sou responsável por ele. E, com esse argumento, pedalou até em 2015.

Enquanto potencialmente puder acenar com o impeachment de Dilma, Cunha ficará vivo. E enquanto tiver Cunha como seu grande oponente, o governo vai propor a ele um acordo de sobrevivência. É uma dádiva para o PT que ele tenha encarnado a oposição.

Dizer que nada vai se resolver enquanto for decidido por cima não é, necessariamente, pessimismo. Milhões de pessoas rejeitam Dilma e Cunha. Mas não podem apenas esperar que um destrua o outro. Ou supor que as instituições, por si próprias, encontrem a saída. O Brasil está vivendo, de novo, aquele dilema do personagem de Kafka que esperou anos diante da porta do castelo, para descobrir que ela sempre esteve aberta.

Nossa oposição é medíocre, o Supremo aparelhado pelo PT, que se gaba de ter pelo menos cinco ministros na mão. Os principais personagens, Dilma e Cunha se equilibram pelo terror.

Milhões de pessoas querem mudança. Mas esperam que aconteça num universo petrificado de Brasília. As coisas se parecem um pouco como aquele poema de John Donne sobre sinos dobrando. Não pergunte por quem dobram, pois dobram por você. De uma certa maneira, não será o Cunha, Congresso ou Supremo que resolverão essa parada. Ela depende de cada um.

Enquanto os atores institucionais e seus cronistas nos reduzirem apenas a expectadores, esse filme de quinta categoria não acaba nunca. Não quero dizer com isso que precisamos fazer manifestações cada vez maiores, para os jornalistas medirem, fita métrica na mão, o nosso avanço.

Com mais de meio século de experiência nas ruas, cheguei à conclusão de que nelas, como em outros lugares, não é só a quantidade que conta. Há um grande espaço para a qualidade e invenção. Mesmo sem nenhuma garantia de que esse caminho dê certo, ele tem, pelo menos, a vantagem de estar nas nossas mãos.

Da anistia às diretas, passando pela queda de Collor, as conquistas populares foram notáveis. Mas assim como na profissão de jornalista, o passado é muito bom mas não serve de consolo para os desafios do momento. O foco é sempre a próxima tarefa.

E o Brasil parece ter empacado na próxima tarefa. Ela não se resume na troca no poder, mas também na busca de um crescimento sustentável em todos os sentidos. Não podemos mais voar como galinha nem seguir, desvairadamente, destruindo recursos naturais.

Alguns amigos sonham com a garotada que vem aí. Mas os ombros dos jovens não precisam suportar o mundo. O futuro interessa também aos que não estarão vivos para presenciá-lo.

A sem-vergonhice sentou praça - EDITORIAL O ESTADÃO

O Estado de São Paulo - 18/10

O panorama de ampla, geral e irrestrita sem-vergonhice escancarado pela divulgação diária de novas e escandalosas roubalheiras, conchavos e chicanas coloca o País diante do risco da banalização de uma rotina que pode acabar transformando em conformismo a indignação que hoje assalta a consciência cívica nacional. Afinal, se todo mundo é ladrão, se é impossível associar política a princípios morais, se a regra é o salve-se quem puder, dane-se o resto, que eu vou cuidar da minha própria vida. Foi algo assim – no caso, o processo de conversão ao “pragmatismo” – que abriu a Lula e a seu PT o caminho de acesso ao poder e à insensibilidade moral.

Passou a valer o debochado aforismo: “Instaure-se a moralidade, ou nos locupletemos todos”, sendo apenas para constar a primeira alternativa do brocardo. É a lógica dos safados, a desculpa dos picaretas, o refúgio da bandidagem engravatada. É a motivação oculta dos idealistas de fôlego curto que acabaram descobrindo que é muito mais fácil e proveitoso desfrutar do poder do que usá-lo para promover o bem geral.

Só que Lula e sua tigrada não consideraram que no clube do “locupletemo-nos todos” teriam de dividir espaço com gente de larga experiência na matéria, velhos e astutos coronéis e capas pretas da política. E, quando os petistas tentaram transformar esses “aliados” em meros coadjuvantes na cena política, deu-se o desastre: surgiu um Eduardo Cunha para mostrar que Lula, Dilma & Cia. eram pouco mais que aprendizes afoitos e desastrados em matéria de malandragem, dissimulação e falta de escrúpulos.

Misturada a sem-vergonhice com a incompetência, o País mergulhou na atual crise, cuja marca mais perniciosa tem sido a falta de esperança numa solução de curto ou de médio prazo.

Os brasileiros não podem, no entanto, simplesmente dar as costas àquilo que repudiam e renunciar ao direito de lutar pela construção de seu próprio destino. O primeiro passo é identificar com clareza as figuras que, por nefastas, merecem ser punidas com a expulsão da vida política. É uma punição para a qual a democracia oferece a todos uma arma poderosa: o voto.

É mais do que óbvio que, depois de 12 anos no governo, a irresponsabilidade do populismo lulopetista é a principal culpada pelas agruras que maltratam hoje os brasileiros, de modo especial os mais pobres, em nome dos quais o PT reclamou o poder. E quem personifica, desde sempre, a imagem do PT? Não é, certamente, a presidente Dilma Rousseff, que já está com prazo de validade vencido. O PT é Lula. E a grandeza de Lula se mede por um de seus últimos atos na Presidência da República.

Em dezembro de 2010, Lula ordenou a seu chanceler, Celso Amorim, que ignorasse o regulamento do Itamaraty e contemplasse com passaportes diplomáticos os petizes Da Silva, que estavam, já então, destinados a iniciar prósperas carreiras como empresários. Que mal há nisso? O mal, na questão dos passaportes, é que está errado, não pode, a lei não permite, nem mesmo um presidente que deixa o cargo desfrutando de altíssima popularidade está acima da lei. Em resumo, é imoral.

Exatamente porque não hesitou em beneficiar a filharada com favores indignos, Lula demonstrou que não teria dúvidas em fazer o mesmo em outras circunstâncias, digamos, menos triviais. O noticiário recente exibe o elenco de possibilidades que se abriram à sortuda prole.

Tudo passa, para recorrer ainda à sabedoria popular de que Lula se vangloria de ser guardião. Dilma, por exemplo, passará. Mas Lula acha que ficará – e mexe os pauzinhos para chegar a 2018 como o salvador da pátria, a mesma que ajudou a enfiar neste buraco fundo em que estamos.

Mais cedo ou mais tarde, Lula terá de se haver ou com a ação conjugada da PF com o MPF ou com as urnas. Da condenação destas últimas só escapará se os brasileiros perderem a fé em que podem ser sujeitos e não meros objetos da História.

Cunha sequestrou o governo e a oposição - ELIO GASPARI

O GLOBO - 18/10

O Planalto acha que precisa de Eduardo Cunha para segurar o impeachment e a oposição acha que precisa dele para consegui-lo. Já o doutor acha que o Planalto e meia dúzia de notáveis de Brasília podem livrá-lo dos efeitos da Lava Jato. É engano.

De acordo com a documentação bancária conhecida, desde o dia 23 de abril de 2014 Eduardo Cunha sabe que a Lava Jato chegaria a ele. Foi quando fechou sua conta Orion no banco suíço Julius Baer, onde ficavam os cofrinhos de Renato Duque, Jorge Zelada e Paulo Roberto Costa.

A Lava Jato tinha um mês de existência e já haviam sido presos Alberto Youssef e Paulo Roberto Costa. No dia 20 de maio, no mesmo banco, Cunha fechou a conta Triumph, aberta em 2007. Nenhuma delas era facilmente identificável a partir de seu nome. Tanto era assim que deixou outras duas em atividade.

Em 2011 a Orion recebera um depósito de 1,3 milhão de francos suíços saídos de uma conta Acona, do BSI. Ela pertencia ao engenheiro João Augusto Henriques, um ex-diretor da BR Distribuidora que quase chegara a diretor internacional da Petrobras, mas indicara o doutor Zelada para o lugar.

Em novembro do ano passado a conta Acona foi bloqueada a pedido do governo brasileiro. Nessa época poucas pessoas falavam de Henriques. O governo, a Petrobras e Cunha preferiram esquecer o que ele dissera ao repórter Diego Escosteguy em 2013: "Do que eu ganhasse (nos contratos intermediados com a Petrobras), eu tinha de dar para o partido (PMDB). Era o combinado, um percentual que depende do negócio".

A notícia do bloqueio da conta de Henriques no BSI chegou a Cunha, que se inquietou. Descobriu que a iniciativa partira de autoridades brasileiras. Calado, o Ministério Público estava atrás do poderoso Henriques.

Cunha foi eleito presidente da Câmara em fevereiro, entrou atirando e anunciou que convocaria os 39 ministros da doutora Dilma para sabatinas. Onze dias depois, colocou em votação e viu aprovada a imposição do orçamento impositivo. Surgira a expressão "pauta-bomba".

Em março o doutor entrou na lista do Janot e passou a ser investigado pelo Supremo Tribunal Federal. Uma semana depois, outra bomba: a Câmara aprovou uma mudança no cálculo do salário mínimo.

No dia 17 de abril o banco Julius Baer fechou as duas outras contas ativas (Netherton e Kopek), que Cunha talvez tenha suposto serem inalcançáveis. Bomba de novo: menos de um mês depois a Câmara aprovou mudanças no cálculo do fator previdenciário.

Em agosto o juiz Sérgio Moro aceitou uma denúncia do Ministério Público contra Henriques. Bomba: a Câmara aprovou a proposta de emenda constitucional que vincula os salários de advogados públicos e policiais aos vencimentos dos ministros do Supremo Tribunal Federal.

Em setembro, como era de se prever, Henriques foi preso. Desde o bloqueio da conta Acona isso era pedra cantada.

Todas as bombas aprovadas pela Câmara, bem como aquelas que estão guardadas no paiol podem ser defendidas em discussões pontuais. O problema é que, no conjunto, simplesmente destroem as finanças do país. Custam R$ 284 bilhões ao longo dos próximos anos.

O governo e a oposição acham que podem fazer acordos com Eduardo Cunha. Deixando-se de lado o fato que um acerto serviria para derrubar a doutora Dilma e o outro para preservá-la, o que há de mais intrigante nessas operações é que nem Cunha, nem a oposição e muito menos o Planalto, controlam o Ministério Público e a Lava Jato. Se controlassem, ela já teria acabado há muitos meses.

Trata-se de um caso de contaminação voluntária de reputações, algumas até boas.

Uma alma danada vem chamando o presidente da Câmara de "Al Pacino". Fica a dúvida do que isso significa. Na vida real ele é um grande profissional, com um Oscar no papel de Serpico, um corajoso policial honesto. Esteve também em filmes como "Um Dia de Cão" (baseado numa história verdadeira) e "O Poderoso Chefão".


VAZAMENTOS

Eduardo Cunha tinha toda razão quando se queixava de que seu nome vazava seletivamente nas denúncias de malfeitos.

A entrada na roda de Renan Calheiros e Delcídio Amaral mostra que havia macumba na encruzilhada.

MALUQUICE

A ideia é maluca, mas tratando-se do comissariado, tudo é possível.

O Planalto estaria interessado em vincular juridicamente à Advocacia Geral da União as agências reguladoras de telefonia, energia e saúde.

Tradução: se a AGU der um refresco aos concessionários, as agências, que nasceram para ser autônomas, devem baixar a cabeça e acompanhar o corneteiro.


SETE BRASIL

A Sete Brasil esclarece: suas negociações com a Petrobras para a construção de 14 sondas de perfuração não incluem a discussão de multas para casos de atraso na entrega dos equipamentos.

O que as duas empresas ainda negociam são as penalidades decorrentes de eventuais descumprimentos das cláusulas que determinam o conteúdo nacional na construção das sondas.


REFRESCO

Depois de ralarem mais de um ano apanhando do Ministério Público na Lava Jato, alguns escritórios de advocacia acreditam que abriu-se uma pequena brecha para futuros litígios nos tribunais superiores.

Na variação ocorrida nos depoimentos do lobista Julio Camargo que, de início, não falou em Eduardo Cunha, teriam entrado mais argumentos do que simples ameaças ou temores.

Se ficar comprovado que houve troca-trocas nesses tipos de depoimentos, mesmo que não se abale a estrutura jurídica das denúncias, tisna-se a moralidade das confissões.


FALAR MAL DO SUS É UM VÍCIO IRRACIONAL

Há dois anos, o Conselho Federal de Medicina divulga uma pesquisa que mostra a avaliação da saúde pública e privada pelos brasileiros. O resultado de 2015 foi óbvio: para 60% dos entrevistados ela é ruim, e para 54% o Sistema Único de Saúde não presta.

Veio embutida nessa pesquisa uma informação menos óbvia e mais relevante.

Quem recorre ao SUS (o andar de baixo) é mais benevolente com seus serviços do que aqueles que não o usam. Treze por cento desses usuários acham-no bom ou excelente e 53%, péssimo ou ruim. Quem não usa o SUS e paga plano privado tende a vê-lo com maus olhos, pois do contrário admitiria que está fazendo mau negócio. Só 8% avaliam-no como bom e 60% como ruim.

Metade dos entrevistados que pagam planos usaram o SUS para consultas e exames e 20% internaram-se na sua rede. Entre os que fizeram cirurgias no SUS (16%), metade achou o serviço bom ou excelente. Não é um número que mereça ser festejado, mas sugere que o SUS vai melhor do que se pensa. Seus gargalos estão nas esperas e na gestão.

Em novembro o Conselho divulgará outra rodada da pesquisa, fechando o foco nos planos privados.

Populismo deixa rastro de ruínas no continente - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 18/10

Na alternância cíclica entre autoritarismo e abertura política, o nacional-populismo aparece como atalho perigoso, que impede a reconstrução democrática

A América Latina, como mostra a História, é marcada por ciclos alternados de autoritarismo e abertura política. Infelizmente, não é raro que, ao sair de um regime ditatorial, o caminho à democracia plena se veja desviado perversamente por atalhos populistas, também autoritários, interrompendo o processo de reconstrução das instituições fundamentais da república. Em nome de uma ideia difusa de “libertação” ou da “defesa nacional" contra um inimigo externo, adultera-se a democracia, intervém-se na economia, personaliza-se o que é público, apadrinham-se segmentos da sociedade e corrompem-se agentes do Estado e atores da sociedade, com alto custo para o desenvolvimento político, econômico e social.

Argentina e Venezuela são hoje exemplos bastante típicos desse processo. Bolívia e Equador também, mas sem ainda enfrentar tantas dificuldades econômicas.

Com os bons ventos da economia internacional, expressos sobretudo na valorização dos preços das commodities, Buenos Aires e Caracas falaram grosso em nome do bolivarismo, categoria política incensada por Hugo Chávez, supostamente a favor do povo e contra o capital e o mercado. O kirchnerismo é da mesma família do bolivarianismo. Os dois países recorreram à retórica nacionalista dos regimes militares para intervir na economia: a Venezuela desapropriou e estatizou empresas; ambos controlaram preços e o câmbio; destruíram institutos de estatística econômica; se isolaram da economia global com políticas protecionistas; cortaram juros a canetadas; subsidiaram setores específicos; e aumentaram salários acima da produtividade real da economia.

Quando estourou a crise internacional em 2008 e os desequilíbrios de suas políticas econômicas bateram firme no bolso da sociedade, o lado autoritário desse nacional-populismo tomou a forma visível da repressão, para conter revoltas e coibir a decepção generalizada. No caso venezuelano, vê-se um país à beira de uma ditadura formal, com a prisão de líderes da oposição, repressão violenta contra manifestantes, cerceamento da imprensa, desequilíbrio entre os poderes, e todo tipo de coerção contra candidatos às eleições parlamentares, cujo realização é incerta. Na Argentina, assiste-se ao ataque contra a imprensa profissional e até mesmo à morte mais que suspeita do procurador que investigava a presidente Cristina Kirchner.

No Brasil, as instituições republicanas mostraram até agora boa resistência às tentativas de hegemonização política do lulopetismo, representante deste nacional-populismo. Mas, no campo da economia, a adoção da “nova matriz macreconômica” empurrou o país para o mesmo caminho de infortúnio dos vizinhos bolivarianos.

O resultado, uma grave crise sem perspectiva de solução a curto prazo, cobra seu preço sobretudo da população mais pobre, inclusive aquele segmento que deixara estatisticamente a pobreza absoluta e corre agora o risco de retroceder. Por ironia, em nome de quem opera o populismo.

Carta aberta - FERREIRA GULLAR

FOLHA DE SP - 18/10

Desculpe se em vez de uma carta pessoal escrevo-lhe na página de um jornal, tornando público o que tenho a lhe dizer. A razão disso é que o assunto que pretendo abordar nada tem de íntimo. Pelo contrário, diz respeito a todos nós. Trata-se de sua posição em face de tudo o que está acontecendo neste nosso país governado, há quase treze anos, pelo seu partido, o PT.

Entendo que você, a certa altura da vida, tenha acreditado que Lula era um verdadeiro líder operário e que, como tal, conduziria os trabalhadores e o povo pobre na luta pela transformação da sociedade brasileira, a fim de torná-la menos injusta.

Era natural que fizesse essa opção, uma vez que lutar contra a desigualdade sempre fez parte de seus princípios. E muita gente boa, antes de você, também pusera sua esperança neste novo partido que nascia para mudar o Brasil. Alguns dos mais notáveis intelectuais brasileiros fizeram a mesma escolha que você.

É verdade também que, com o passar dos anos, essa convicção se desfez: Lula não era o que eles pensavam que fosse, e o seu partido não se manteve fiel ao que prometera. Mas você, não, você continua confiando em Lula e votando em todos aqueles que Lula indica, ainda que não os conheça ou, o que é pior, mesmo sabendo que não são nenhuma flor que se cheire.

Sei que há petistas mais cegos que você, como aqueles que foram às ruas para tentar impedir a privatização da Telefônica, alegando que se tratava de uma traição ao povo brasileiro. Lembra-se? Pois bem, a privatização foi feita e, graças a ela, o faxineiro aqui do prédio tem telefone celular. Mas, quando alguém fala disso, você muda de assunto.

Sei muito bem que política é coisa complicada. A pessoa defende determinada posição do seu partido, discute com os amigos, briga e, depois, aconteça o que acontecer, não dá o braço a torcer.

E, às vezes, chega ao ponto de defender atitudes indefensáveis, mas que, por terem sido tomadas por Lula, você se sente na obrigação de justificar. Por exemplo, quando Lula abraçou Paulo Maluf, quando se aliou ao bispo Edir Macedo, fazendo do bispo Crivela ministro do seu governo e quando viaja à custas da Odebrecht.

Não sei o que você diz a si mesmo quando, à noite, deita a cabeça no travesseiro. Como justificar o mensalão? Você poderia acreditar que Delúbio, tesoureiro do PT, tenha armado toda aquela patranha, sem nada dizer ao Lula, durante os churrascos que preparava para ele, todo domingo, na Granja do Torto. Tinha de acreditar, pois, do contrário, teria de admitir que Lula foi o verdadeiro mentor do mensalão.

Custa crer como você consegue dormir em meio a tanta mentira. E pior é agora, no chamado petrolão, que é o mensalão multiplicado por dez, já que, enquanto naquele a falcatrua era de algumas dezenas de milhões de reais, neste chega a bilhões. E, mesmo assim, consegue dormir? Não é para sacanear, mas você ainda repete aquele lema em que o PT dizia ser "o partido que não rouba nem deixa roubar"?

Quero crer que, pelo menos nisso, você se manca, porque as delações premiadas deixaram claro que ele não apenas deixa, como rouba também.

E a Dilma, que Lula tirou do bolso do colete e fez presidente da República, sem que antes tivesse sido sequer vereadora? Não chego a considerá-la paspalhona, como a chamou Delfim Neto, embora, com sua arrogância, tenha arrastado o país à bancarrota em que se encontra agora. Essa situação crítica a obrigou a adotar um programa econômico que sempre rejeitou e combateu.

Mas, ainda assim, tem o desplante de dizer que esta crise é apenas uma transição para a segunda etapa de seu plano de governo. Noutras palavras: a primeira etapa foi para levar o país à bancarrota e a segunda, agora, é para tentar salvá-lo. Ou seja, estava tudo planejado!

Não me diga que acredita nisso, camarada.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

RECORDE: GOVERNO JÁ ARRECADOU R$ 2,2 TRILHÕES
Ao contrário do que alardeia a presidente Dilma, o total das receitas realizadas pelo governo federal este ano já supera o recorde histórico de R$ 2,2 trilhões, estabelecido em 2014. O valor equivale a tudo que o governo Dilma conseguiu embolsar desde janeiro com impostos, taxas, ações na justiça, multas etc e é ainda mais expressivo por ser 50% maior que os R$ 1,4 trilhão arrecadados em 2010, último ano de Lula.

RECORDE NA CRISE
Se mantiver o ritmo, e o mandato, até o final do ano, o governo Dilma vai chegar a R$ 2,8 trilhões embolsados do contribuinte.

IMPOSTOS
O Ministério da Fazenda, com a Receita Federal, continua sendo o que mais contribui para encher o cofre do governo: R$ 1,8 trilhão este ano

SEU DINHEIRINHO
O governo Dilma se tornou uma máquina de arrecadar desde a posse da presidente, em 2011. Em cinco anos superou R$ 10 trilhões.

IMPOSTOS + SONEGAÇÃO
Nem a soma do Impostômetro (R$ 1,58 trilhão) e o Sonegômetro (R$ 410 bilhões) supera o que o governo já conseguiu arrecadar em 2015.

DOBRADINHA TIROU MANOEL JR. DA PASTA DA SAÚDE
O deputado Manoel Jr (PMDB-PB) foi o futuro ministro da Saúde até os 45 do segundo tempo. Perdeu para Marcelo Castro após atuação de Ciro Gomes (PDT) e do governador paraibano, Ricardo Coutinho (PSB). A pedido de Coutinho, Gomes falou mal de Manoel à presidente Dilma, lembrando que ele havia pedido sua renúncia. Está em jogo a prefeitura de João Pessoa, a ser disputada por PMDB, PSB e PT.

DEU RUIM
PMDB e PSB se aliaram na eleição de Coutinho. Com a disposição do PSB em lançar candidato próprio para à prefeitura, a chapa rachou.

NA BRIGA
O líder do PMDB, Leonardo Picciani, jura que Manoel Junior estava na lista de indicados a ministro da Saúde, mas a escolha foi de Dilma.

DESINFORMAÇÃO
Além de falar mal de Manoel Junior com Dilma, Ciro até o chamou de “semianalfabeto”. Ele é médico com curso de pós-graduação.

PAU QUE DÁ EM CHICO
“Se Eduardo Cunha sobreviver até o fim do ano, ele será favorecido”, diz Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE). Segundo ele, é preciso “derrubar o presidente da Câmara” antes do recesso parlamentar, em dezembro.

EI, VOCÊ AÍ...
A liberação de emendas e a livre nomeação de aspones pelos novos ministros travam a relação do governo com aliados. “Melhorou, mas há pleitos a serem atendidos”, diz o deputado Hugo Motta (PMDB-PB).

EM FAMÍLIA
O deputado Fábio Faria (PSD-RN) pode lançar a mulher, Patrícia Abravanel, filha de Silvio Santos, para se filiar ao partido e se cacifar como candidata a vice-prefeita de São Paulo, em 2016.

GILES QUEM?
O aprendiz de feiticeiro Giles Azevedo, que nunca teve mandato, não tem sido levado muito a sério pelos principais personagens da cena política no Congresso, apesar da sua ligação a Dilma.

QUASE LÍDER
A deputada Eliziane Gama (MA) se apresentava como futura líder do partido Rede, na Câmara. Mas acabou desbancada pelo ex-petista Alessandro Molon (RJ), que está em seu segundo mandato.

BILIONÁRIO PRESO
Com habeas corpus negado semana passada pelo Superior Tribunal de Justiça, a prisão de Marcelo Odebrecht, presidente da empreiteira preferida dos governos petistas, completa hoje quatro meses.

LIGAÇÕES AMISTOSAS
As boas relações políticas, no passado, entre Jaques Wagner (Defesa) e Eduardo Cunha são sempre lembradas por assessores dos dois. Mas nenhum afirma que elas sejam garantia para qualquer tipo de acordo.

SINAL DOS TEMPOS
Numa palestra em Porto Alegre, o general Antônio Mourão disse ver três opções para crise política: Dilma fica, sangrando; sai na boa e assume o vice ou não sai e vem o caos. Faltou a opção Teori Zavascki.

PENSANDO BEM...
... com tanta “blindagem” no Palácio do Planalto e no Congresso Nacional, as autoridades em Brasília se preparam mesmo para tiroteio.