terça-feira, agosto 25, 2015

Pixuleco 171, o herói inflável - GUILHERME FIUZA

REVISTA ÉPOCA

Lula ficou revoltado com Pixuleco, um boneco inflável de 12 metros de altura que apareceu em Brasília nas manifestações do dia 16. Pixuleco é uma caricatura de Lula com roupa de presidiário e a inscrição "13-171" (leia mais em Personagem da Semana). A sátira motivou uma nota oficial do Instituto Lula, afirmando que o ex-presidente nunca fez nada de errado e só foi preso na ditadura militar por defender as liberdades. Nunca antes um ex-presidente da República polemizou com um boneco inflável - que veio desinflar o mito de Lula. E, quando isso se consumar, acabará a bateria da marionete que governa o Brasil.

Lula está indignado, porque a indignação é seu disfarce perfeito. Um dia ele já se indignou de verdade, mas, quando notou que o figurino do injustiçado chorão lhe dava poderes mágicos, não vestiu mais outra roupa. Lula manda no Brasil há 12 anos e continua se queixando da opressão - fórmula perfeita para eleger uma oprimida profissional, que luta dia e noite contra uma ditadura encerrada 30 anos atrás.

Hoje, há quem diga que essa ditadura foi profética ao prender Lula: atirou no que via e acertou no que ainda não existia. É evidentemente uma piada. O autoritarismo militar não tem graça, e Lula não estava destinado a ser o Pixuleco 171.

Quem lhe reservou esse destino, quase sem querer, foi ele mesmo.

Lula não se enrolou por banditismo. Se enrolou por mediocridade. Foi muito pobre e, ao se aproximar do poder, mais forte do que o impulso de combater a pobreza foi o instinto de se vingar dela. Vingança pessoal, bem entendido. Não resistiu aos convites do poder como status, como ascensão social. Quem conviveu com ele nos primeiros anos de palácio se impressionou com os charutos, os vinhos caros e demais símbolos de riqueza. Um ex-operário fascinado pela opulência dos magnatas. Isso não costuma dar certo. Não para um político.

Luiz Inácio da Silva é um cara simpático, engraçado. Não tem o olhar demoníaco de um Collor, que exala prepotência e crueldade. Mas, assim como a imensa maioria dos companheiros petistas, tem uma noção visceral de sua mediocridade. Os companheiros morrem de medo de sua própria covardia. Daí o desespero com que se agarram às tetas do Estado, com a forte desconfiança de que não serão capazes de mamar em outra freguesia. Talvez até alguns fossem capazes - Lula muito mais do que Dilma, por exemplo mas eles mesmos não acreditam. E não pagam para ver. Ou melhor: pagam para não ver.

E pagam bem. A República do Pixuleco é possivelmente um dos mais formidáveis sistemas de corrupção da civilização moderna - se é que se pode chamar isso de civilização. Um sistema montado sobre um trunfo infalível em sociedades infantilizadas e sentimentaloides: a chantagem emocional. Lula da Silva chora, e os corações derretidos ficam cegos para tudo - inclusive para o saque a seus próprios bolsos. O Brasil está sendo roubado de forma obscena há 12 anos pelos coitados, e não se sabe mais quantos exemplares de Joaquim Barbosa e Sergio Moro serão necessários para o país enxotar o governo criminoso.

A Lava Jato já evidenciou: as campanhas presidenciais de Lula e Dilma foram abastecidas com dinheiro roubado da Petrobras. Enquanto Lula batia boca com o boneco inflável, explodia a confissão de Nestor Cerveró sobre o uso de propina do navio-sonda Vitória 10 000 para a campanha de Lula em 2006. O próprio Instituto Lula que foi visto polemizando com o Pixuleco é uma central de arrecadação de cachês milionários do ex-presidente, oficialmente para palestras pagas por grandes empreiteiras - as mesmas que ganham obras no exterior graças ao lobby do palestrante.

Não é que o impeachment de Dilma seja uma saída legítima - ele é a única saída legítima, se os brasileiros ainda quiserem salvar suas instituições da pilhagem desenfreada. A legalidade no país leva todo dia um tapa na cara das trampolinagens companheiras sucessivamente reveladas e expostas, escatologicamente, à luz do sol. Dilma é a representante oficial da pilhagem - e só os covardes duvidam disso.

Se o Brasil tiver vergonha na cara, cercará o Congresso Nacional e o "encorajará" a fazer o que tem de ser feito. Se ficar em casa chupando o dedo, talvez o país tenha de ser libertado por um boneco inflável.

Guilherme Fiuza é jornalista.

O Brasil e a onda chinesa - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADÃO - 25/08

Ruim para a China, ruim para o Brasil, uma economia dependente em excesso da prosperidade chinesa. Mais uma vez a bolsa brasileira foi abalada pela turbulência no mercado chinês. O choque espalhou-se por todos os continentes, em mais uma segunda-feira negra. Esta expressão foi usada pelo Diário do Povo, de Pequim, ao noticiar a queda de 8,49%, a maior desde 2007, do Índice Xangai Composto. Uma queda de 8,48% havia ocorrido em 27 de julho, também uma segunda-feira. Enquanto especialistas, em todo o mundo, discutem a situação da China e especulam sobre a gravidade real da crise, pelo menos uma certeza já é possível: países emergentes e em desenvolvimento, exportadores principalmente de commodities – produtos básicos e semimanufaturados –, são os principais perdedores.

Ninguém pode dizer com segurança, hoje, se a economia da China se acomodará num crescimento próximo de 6%, num patamar um pouco inferior ou mesmo se afundará numa crise mais grave, hipótese por enquanto muito improvável. Mas o Brasil e outros fornecedores de commodities para o mercado chinês já foram afetados pela baixa das cotações internacionais.

Esse movimento acompanhou a desaceleração do crescimento da China, com efeitos mais sensíveis na receita cambial desses países de um ano para cá. Para ficar só no desempenho do agronegócio: nos 12 meses até julho, a receita de exportação do setor, US$ 99,81 bilhões, foi 9,4% menor que a do período imediatamente anterior principalmente por causa da redução dos preços. Nesse intervalo, a cotação da soja em grãos caiu 21,2%; a de farelo de soja, 18,6%; a de óleo de soja, 16,3%; a de açúcar, 10,5%; a de papel e celulose, 8,7%; e as de carnes, 5,2% Os preços do minério também caíram. A queda dos preços médios foi a causa principal da redução de 21,7% da receita proporcionada pelas vendas de básicos e de 5,9% da obtida com a exportação de semimanufaturados, na comparação dos números de janeiro a julho deste ano com os de igual período do ano passado. Outros fatores também contribuíram para a baixa das cotações, mas a desaceleração chinesa foi com certeza um dos mais importantes, talvez mesmo o mais importante.

Todos os países muito dependentes da venda de minérios e de produtos agrícolas foram prejudicados pela mudança das condições do mercado e, de modo especial, pelo menor dinamismo da economia chinesa. As vendas do Brasil para a China ficaram em US$ 22,68 bilhões de janeiro a junho deste ano. Esse valor foi 19,4% menor que o dos mesmos meses de 2014.

A composição das vendas para o mercado chinês é esclarecedora. No ano passado, o Brasil faturou US$ 40,62 bilhões no comércio com a China e os produtos básicos proporcionaram 84,42% desse valor. Somando-se a isso a receita dos semimanufaturados, as vendas de commodities garantiram 95,92% do valor exportado. Sobraram, portanto, apenas 4,08% da conta de manufaturados: apenas US$ 1,62 bilhão.

Neste ano, o padrão se repete, mas com um volume de comércio menor. De janeiro a julho, as vendas de básicos corresponderam a 85,11% da receita e a de commodities (incluídos os semimanufaturados), a 96,69% do total faturado.

Pelo menos um analista estrangeiro, o economista Oleg Melentyev, do Deutsche Bank, chamou a atenção, na segunda-feira, para o problema dos emergentes afetados pela desaceleração chinesa e pela depreciação das commodities.

Governantes mais atentos perceberam a urgência de mudanças na composição das exportações e, de modo especial, na relação de dependência com a China. O governo brasileiro, no entanto, continua dando prioridade, oficialmente, ao chamado comércio Sul-Sul e dando pouca importância, na prática, aos problemas de produtividade e de competitividade da indústria.

A presidente Dilma Rousseff, tudo indica, permanece fiel às escolhas da diplomacia petista, incluída a relação semicolonial com a China.