quarta-feira, fevereiro 25, 2015

A bolha assassina - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 25/02

RIO DE JANEIRO - A presidente Dilma emagreceu 13 quilos em menos de dois meses. Puxados pelos índices econômicos, seu governo, sua força no Congresso e sua popularidade também emagreceram em escala equivalente. Essas quedas bruscas podem ser enganadoras, mas os observadores mais independentes consideram que Dilma já não tem muita gordura para queimar e garantem que seus índices continuarão caindo. Ainda mais agora, por ter contra si um partido capaz de tudo quando se encontra na oposição: o PT.

E é isto que torna a coisa intrigante. Dilma foi criação exclusiva de Lula --fundador, perpétuo inspirador e sinônimo do PT. Feita de barro e posta a andar com um sopro, ocupou cargos-chave nas duas administrações do criador e, por sua identificação com os princípios, programas e posturas do PT, foi duas vezes escolhida candidata à Presidência pelo partido. Em ambas as campanhas, e nos dois turnos de cada, foi solidamente instrumentalizada pelos ideólogos e marquetólogos petistas --nenhuma frase, palavra ou ideia lhe saiu pela boca sem aprovação oficial.

Instrumentalização esta que atravessou seu primeiro governo e se materializou na chuva de benesses populistas, redução de taxas, estímulo ao consumo, vivas ao desperdício e bolsas a cair do céu para tantas categorias. Tudo proposto e aprovado triunfalmente pelo PT, e executado por milhares de militantes ocupando cada espaço da administração e reafirmando ser aquilo apenas uma fiel continuação do governo Lula.

Se, de repente, descobre-se que tal triunfalismo não passava de uma bolha, que a bolha estourou e é preciso conter o pus, por que espremer somente Dilma se, em quatro anos, ela só fez o que os companheiros achavam justo e certo?

Só falta agora que, abandonada por Lula, desprezada pelos companheiros e odiada pelo povo, Dilma engorde tudo de volta.

Depende... - ROBERTO DAMATTA

O GLOBO - 25/02

Quando uma escola de samba tradicional é financiada por uma ditadura estrangeira, chegamos ao fundo do poço



“O Brasil está na idade da tramela!”, dizia um grande intelectual. Tendo estudado nos Estados Unidos e lá, como dizia Monteiro Lobato, fora lapidado, pois jamais rejeitara o seu lado brasileiro (o qual foi, ironicamente, intensificado na convivência por contraste com o que, àquela época, chamava-se de “países adiantados”), ele era capaz de enxergar o que todo mundo simplesmente via como as nossas arqueológicas tramelas.

Quem saiu do Brasil para as “Europa” ou “América” até os anos 60 (como foi o meu caso), ficou espantado com a ausência das “tramelas” e das gigantescas chaves de ferro; esses instrumentos dos superiores que permitiam abrir ou fechar portas, cadeias, porões, dispensas e gavetas. Esses compartimentos que até hoje são vedados a quem continua a ser tratado como “povo”, pois jamais foi lapidado ou visto como cidadão.

Quando visitei os Estados Unidos pela primeira vez, recebi a chave não só do meu modesto escritório mas — eis o susto — a do prédio do famoso Departamento de Relações Sociais de Harvard!

No Brasil, receber essas máquinas “depende”.

O ministro tem a chave de todos os prédios e somente ele abre a sua porta. Nas democracias, todos têm precisamente a chave da porta dos que governam, já que presidentes, ministros, governadores, senadores e deputados servem ao povo. É, pois, do povo a propriedade das chaves!

Não há, nenhum “depende...” a condicionar a transparência. Não existe o famoso, lamentável e onipresente “eu não sabia” ou a divisão permanente entre “público interno e externo”, rotineiros na ditadura militar e no lulopetismo.

O roubo público, o assalto irresponsável em escala bíblica e pornográfica aos bens coletivos e à Petrobras — símbolo de independência econômica que suicidou quem teve honra e foi incestuosamente agredida por quem não sabe o significado dessa palavra — continuam sujeito ao “depende...”

Depende de quem. Se foi do tempo deles vale, se foi nessa nossa década de poder, não vale. Na Alemanha nazista, todos os males eram atribuídos aos judeus vistos como agentes de impureza diante da superioridade indiscutível da raça germânica. Os judeus eram o veneno ao lado dos homossexuais, dos ciganos e dos deficientes. Eles conspurcavam a “raça superior” — emblemática de uma integração perfeita porque seria biológica, entre o indivíduo e a coletividade. Esse problema de todas as nossas antropologias e sociologias que, em geral, leem o individuo como algo separado do grupo quando de, fato, seja nas suas formas mais ativas (como na América sem tramelas) ou brandas, como no Brasil relacional das trancas e frestas, o individuo é a expressão de uma cosmologia ou ideologia. A redução individualista é dominante na vida moderna que, conforme sabem alguns, não é, como o jazz, tão moderna assim.

Sem o “depende” não se entende a hipocrisia política dominante. Ela é a chave que abre ou fecha os baús de escândalos que, de tão rotineiros, chegaram ao carnaval, uma celebração aberta a tudo, mas hoje manchada pelo financiamento questionável.

Todos nós admitíamos cinicamente o financiamento carnavalesco de estabelecidos “contraventores”. Notem que não usamos a palavra “bandido” para os que se legitimavam como mecenas das escolas de samba. Por meio do carnaval e do até hoje não legalizado jogo do bicho, eles eram nossos “heróis-bandidos” ou simplesmente malandros, dentro da ética de ambiguidade que proíbe ou torna reacionário dizer isso “não pode!” ou, o muito mais sério, “isso eu não faço!” Mas quando uma escola de samba tradicional é financiada por uma ditadura estrangeira, chegamos ao fundo do poço porque o “depende” tem desculpa: afinal é (ou era) carnaval.

Ao se despedir, o professor Richard Moneygrand riu de sua profecia segundo a qual o fim do carnaval, conforme revelei na semana passada, assinalava o fim da ordem brasileira. Mas até mesmo a ordem, para vocês, disse ele, depende...

O “depende”, em paralelo ao “desculpável”, é parte do nosso Direito fundado no purgatório. Se os extremos e os limites são evitados, como não aceder a filosófica admoestação de batedor de carteira da presidenta Dilma, quando afirma que se a Petrobras tivesse sido investigada no governo Fernando Henrique Cardoso, toda essa roubalheira teria sido evitada?

E por que não nesses 12 anos de PT? Mas isso seria o questionamento do cronista reacionário que publica mas não é ouvido porque a preferência “depende” de quem fala e não do que é dito.

Público pagante - MÍRIAM LEITÃO

O GLOBO - 25/02

A inflação chegou a 7,36% com a economia estagnada. Foi o dado do IPCA-15 divulgado ontem. Em dois meses, a taxa acumulada é metade da meta do ano. O aumento da energia elétrica em 12 meses é de quase 30%. Dez de 11 capitais pesquisadas pelo IBGE têm inflação acima do teto da meta. O IPCA-15 de 1,33% deve ser confirmado no IPCA do mês de fevereiro.

Até recentemente os economistas brasileiros achavam muito altas as taxas de inflação da Índia, que oscilaram de 7% a 11% entre 2006 e 2012. Os indianos eram o patinho feio inflacionário dos Brics, ao lado da Rússia, pois tinham taxas mais altas quando comparadas às da China, Brasil, e África do Sul. Hoje, a inflação no Brasil é maior que a da Índia, que tem se beneficiado muito da queda dos preços do petróleo, dos alimentos e da energia. O BC indiano está cortando juros.

Nas 11 capitais pesquisadas, apenas Salvador não está com a inflação acima do teto da meta, com 6,19%. As outras 10 estão com índices acima de 6,5%. O Rio de Janeiro é quem sofre mais com a alta dos preços, que dispararam 8,84% em um ano. O Rio passou quase todo 2014 com a inflação acima do teto, e agora se aproxima de 9%. Goiânia e Porto Alegre também têm índices na casa dos 8%. Recife, Brasília, Belém, Curitiba e São Paulo marcam inflação na casa de 7%.

A inflação é mais um caso de Dilma versus Dilma. Ela errou no governo passado, e a conta chegou no atual mandato. Os preços administrados foram contidos artificialmente e agora estão sendo corrigidos. Têm subido muito os grupos transporte e habitação.

Nos transportes, é o efeito da alta da gasolina e da volta da Cide, mas, em fevereiro, foi principalmente aumento de ônibus em todas as cidades pesquisadas. Há dois anos, o então ministro da Fazenda Guido Mantega ligou para prefeitos e governadores pedindo para que eles não reajustassem as tarifas de transporte público. Queria evitar que a inflação do mês de janeiro fosse alta demais. Em junho de 2013, no meio dos protestos, o governo segurou os pedágios nas rodovias federais.

Preço que é contido em um momento aparece em outro. A gasolina e o diesel foram mantidos com preços abaixo do que a Petrobras pagava no mercado internacional. Agora, quando cai a cotação lá fora, os combustíveis sobem aqui dentro. A consequência se viu ontem nas estradas: os caminhoneiros pararam rodovias em oito estados protestando contra o aumento do diesel e a alta dos pedágios. Além disso, o frete, o que eles recebem, não subiu. A paralisação em si já provoca efeitos econômicos. Há cidades desabastecidas e preços subindo. Isso produzirá mais inflação.

Há aumentos que acontecem num período do ano, como o do item educação, o que mais subiu no IPCA-15 de fevereiro. Há outros que vão incomodar o ano inteiro, como a energia. Além dos 29,5% de alta nos últimos 12 meses, o item vai continuar subindo pelos reajustes nas datas de cada concessionária e elevações extraordinárias que estão previstas. Vão subir porque o governo derrubou o preço artificialmente, desequilibrou as empresas financeiramente, deixou que elas pegassem empréstimos para serem cobrados do consumidor. É isso que fará o item habitação ficar alto o ano inteiro.

As projeções para a inflação de 2015 estão se distanciando do teto da meta de 6,5%. O economista chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio Leal, estima que a inflação vá terminar o ano entre 7,5% e8%. O Itaú Unibanco estima alta de 7,4%, a mesma projeção da consultoria Rosenberg Associados.

O IPCA-15 é uma espécie de prévia. Pega a metade de um mês e a metade do outro. E subiu em relação ao IPCA de janeiro, que deu 1,24%. Mesmo se essa aceleração não continuar, o IPCA do mês de janeiro deve ficar acima de 1%, o que elevaria a taxa em 12 meses para 7,6%.

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, já havia avisado que esse seria o pior bimestre do ano e que em março a inflação em 12 meses começaria a cair. Tomara que seja só um momento ruim. Há muita pressão de alta. Uma delas é a do dólar. Há dias de queda, como ontem, mas a tendência tem sido de fortalecimento da moeda americana. O aumento do dólar tem efeito em vários produtos, inclusive a tarifa da energia de Itaipu. Dilma recebeu de Dilma uma pesada herança. E o público pagante somos todos nós.

Movimento contra a liberdade de imprensa - JOÃO RICARDO MODERNO

O GLOBO - 25/02

O 'crime' da mídia brasileira é publicar as maiores barbaridades perpetradas contra o nosso país



O desprezo pela liberdade de imprensa e de expressão cresce nos políticos radicais brasileiros; e, no Facebook, valendo-se da liberdade da internet, militantes engrossam a voz contra a mídia. O sonho totalitário é tornar a grande imprensa brasileira de timbre estatal, buscando a "harmonia" ditatorial. Assim, jamais teríamos reportagens estarrecedoras sobre a progressiva e interminável cultura da corrupção, do furto aberto ao dinheiro público e a desavergonhada sucessão de crimes, em uma escalada reconhecida por especialistas como talvez a maior da história da humanidade.

Contudo, nada parece abalar a convicção que a preservação e a expansão política e demográfica do homo corruptus depende da destruição da liberdade. Em latim, corrumpere significa destruir. Assim, corromper a liberdade é a garantia quase constitucional de expandir a corrupção do dinheiro público. O mantra liberticida faz alusão ao "controle social da mídia" ou "regulação da mídia", eufemismos para a repressão. Controle social da mídia faz o consumidor, que escolhe livremente seus veículos de comunicação. Os trabalhadores dos meios de comunicação de massa são oriundos dos mais diversos estados da federação, das mais diferentes origens sociais, econômicas, ideológicas, culturais e políticas.

A guerra de posição gramsciana contra a liberdade de imprensa já começou por meios econômicos, políticos, psicossociais e culturais. Quanto mais são divulgados os malfeitos criminosos, maior o movimento contra a imprensa livre. O "crime" da mídia brasileira é publicar as maiores barbaridades perpetradas contra o Brasil. A chamada revolução bolivariana na América Latina tem especial objetivo de calar a liberdade para implantar uma imprensa subserviente, obediente, corrupta, chapa- branca e autoritária. A liberdade de expressão é a pedra no sapato dos totalitarismos. Por isso, todos os países do eixo bolivariano formam um bloco unido contra a crítica da imprensa.

A guerra contra a mídia atinge diretamente a liberdade da arte, da cultura, da ciência, da religião, da economia, da política, do esporte e demais atividades humanas. O fanatismo ideológico associado ao furor da paixão pelo crime financeiro, o materialismo mais hediondo da adoração ao bezerro de ouro e uma vontade patológica de poder se associam para condenar os mais elevados valores e princípios do Estado Democrático de Direito. É nosso dever, pois, defender a liberdade de imprensa e de expressão de toda tentativa de repressão autoritária, e de todas as agressões explícitas ou dissimuladas. Mais vale corrigir alguns excessos inerentes à democracia que aprovar a exceção do fim da liberdade no Brasil. Democracia é contradição.


À espera de um milagre - ALEXANDRE SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 25/02

Não surpreende que ninguém esteja disposto a assumir o fracasso da 'nova matriz macroeconômica'


É sabido que a economia brasileira encolherá em 2015, se é que já não encolheu um tanto no ano passado.

Também não é segredo que a inflação persistirá alta e deverá superar a registrada em 2014, ultrapassando também o limite superior permitido pela sistemática de metas para a inflação.

Já o mercado de trabalho provavelmente registrará piora visível, liquidando com o último argumento em favor da política econômica prevalecente durante o primeiro mandato da presidente.

Trata-se, enfim, de uma combinação nada invejável. Não chega a ser surpreendente, pois, que ninguém esteja disposto a assumir o fracasso retumbante da "nova matriz macroeconômica". A vitória, já se disse, tem muitos pais; a derrota, porém, é órfã.

Não é outro o motivo para que economistas que apoiaram abertamente as políticas adotadas nos últimos anos venham a público agora afirmar terem feito "inúmeras críticas" a elas.

Contudo, no começo de 2014, quando meus 18 leitores já viam as inconsistências aqui apontadas, membros da mesma tropa não tiveram o menor problema em afirmar que acreditavam "em um crescimento do PIB em torno de 4% para 2014 (...), [pois] o investimento está acelerando neste ano, recuperando o ano passado". E projetavam uma taxa de inflação "entre 4% e 5%".

Como se pode ver, eram previsões que refletiam uma visão profundamente crítica da política econômica então vigente. Só que não...

Isto dito, eu seria injusto se não mencionasse as críticas que de fato foram feitas. A principal, de longe, é a acusação de "austericídio" fiscal, mesmo em face da maior expansão orçamentária em, pelo menos, 18 anos.

Como já notado neste espaço, o governo Dilma registrou simplesmente o maior avanço do gasto federal no Brasil desde que esses dados passaram a ser compilados (mais de R$ 200 bilhões a preços de hoje, ou 2,7% do PIB).

Nesse mesmo período o superavit primário veio em queda, registrando valores menores a cada ano desde 2011, culminando com o registro de um deficit primário em 2014, mesmo pelos números oficiais, que, como se sabe, têm sistematicamente puxado a brasa para a sardinha do Tesouro.

Apenas um habitante da Dimensão Z, alheio a tudo o que acontece neste quadrante da galáxia, poderia sugerir que o Brasil passou por qualquer processo que se assemelhasse a um aperto fiscal. Ao contrário do que afirmavam os "keynesianos de quermesse", foi a falta, não o excesso de rigor fiscal, que jogou nossa dívida pública a 63,4% do PIB em 2014, exatos dez pontos percentuais do PIB a mais do que o registrado em 2010.

Nesse contexto, jogar a culpa do mau desempenho da economia no suposto "austericídio" revela completo desconhecimento dos dados, ou diagnóstico preconcebido.

Trata-se de mais uma instância de desonestidade intelectual: ou porque a conclusão é mantida apesar dos fatos discordantes ou, ainda pior, porque se arrogam o direito de chegar a conclusões sem se preocupar em saber se Sua Excelência, o dado, se mostra minimamente coerente com o argumento.

A verdade é que esses economistas aplaudiram de pé a "nova matriz macroeconômica", no máximo opondo-se a um aperto fiscal que jamais existiu. Foram signatários de documentos que pediam a manutenção da política adotada no primeiro governo da presidente, apesar de sinais inequívocos de deterioração do crescimento econômico, da inflação e das contas externas.

Não se opuseram à maciça intervenção governamental no domínio econômico, que resultou em for- te queda do ritmo de expansão da produtividade e em desarticula- ção de setores importantes da economia, como o energético e o sucroalcooleiro.

Os custos dessas políticas estão expressos na lamentável combinação de crescimento e inflação de 2015. A honestidade intelectual requereria profunda autocrítica acerca dessas consequências, mas é melhor tocar a vida do que esperar por um milagre nessa área.

Dilma fraca e o PT medíocre - O ESTADO DE S.PAULO

O ESTADO DE S.PAULO - 25/02

Em meio à crise política provocada pela incompetência do governo Dilma, o Palácio do Planalto e o PT, não necessariamente articulados entre si, iniciaram esta semana uma ofensiva junto à chamada base aliada na tentativa de garantir um mínimo de apoio à adoção das medidas necessárias, algumas delas impopulares, para botar em ordem as contas públicas e retomar o caminho do equilíbrio fiscal e do desenvolvimento econômico, que são precondições para a manutenção e a ampliação das conquistas sociais.

O desafio que se coloca diante de Dilma Rousseff e do lulopetismo é enorme. Principalmente porque, antes de mais nada, Dilma precisa se entender com seu próprio partido e entrar em acordo com o lulopetismo sobre objetivos comuns que se estendam além de um obsessivo projeto de poder. E a maior dificuldade para esse entendimento parece ser a mediocridade dos quadros mais qualificados do partido, a incapacidade que revelam de enxergar um palmo além do nariz e de seus próprios interesses imediatos.

Essa espantosa mediocridade está estampada em manifestação, muito compreensivelmente off the record, de um senador petista colhida pelo jornal Valor em matéria que trata exatamente dos esforços do partido para rearticular sua base de apoio parlamentar. Incomodado com a posição incômoda e "ridícula" em que, em sua opinião, o governo colocou suas bancadas no Congresso em relação ao debate sobre as medidas de ajuste fiscal que estão sendo propostas pela equipe econômica, desabafou o senador: "Estamos agora com o PT defendendo a tese do patrão e os tucanos, a manutenção dos direitos trabalhistas".

Essa redução do problema a termos tão banais é a tradução mais fiel do maniqueísmo que inspira o discurso político de Lula, o defensor do Bem, do Reino da Luz, em luta contra os representantes do Mal, do Reino das Trevas.

Só pode ser daí que o ilustre senador petista tirou a brilhante ideia de que o grande problema do País é o conflito entre dois valores reciprocamente excludentes: "a tese do patrão" e "a manutenção dos direitos trabalhistas". Não ocorre nem por um instante ao parlamentar que seu papel, como membro de um órgão de representação, antes de defender a "tese do patrão" ou "os direitos trabalhistas" é o de defender prioritariamente os interesses do País. O acirramento do conflito entre os interesses naturais e legítimos dos vários segmentos sociais só leva à desagregação nacional, pois a expressão mais autêntica do espírito de nação consiste na conciliação democrática dos interesses divergentes abrigados no seio da comunidade.

É claro que os vários segmentos sociais, numa sociedade democraticamente institucionalizada, merecem sempre atenção e tratamentos diferentes por parte do governo que representa a todos e - por um imperativo de justiça, e sempre rigorosamente de acordo com a lei - tem a obrigação de estabelecer prioridades no campo social. Mas a prioridade maior será sempre a harmonização dos interesses conflitantes em benefício do bem comum.

Não é isso o que, por conveniência eleitoral, pregam os populistas que estão no poder. Não é isso que Lula e o PT querem para o Brasil quando reduzem os grandes problemas nacionais à opção sectária do "nós" ou "eles".

E é exatamente por isso que Dilma Rousseff está metida até o pescoço numa encrenca da qual procura se livrar mobilizando seus comandados e as (poucas) forças políticas que a ela se declaram fiéis. Não será fácil. A presidente passou quatro anos cometendo erros. Não os admite publicamente. Mas foi obrigada, por imposição dos fatos, a defender medidas que contrariam seu discurso eleitoral populista. Essa contradição está lhe custando a credibilidade. Já ao PT provoca enorme desconforto, pois um partido politicamente medíocre e moralmente carcomido não entende que, para garantir os "interesses do povo", é preciso a coragem de assumir, quando necessário, decisões impopulares.

Em 2002, o PT se desdisse, com a Carta aos Brasileiros. Mas nunca adotou um código ético nem adquiriu respeito pelo povo. Está, agora, com o petrolão seguindo-se ao mensalão e com a revelação da sua incompetência em todas as áreas do governo, pagando o preço da desídia. Lamentavelmente, os brasileiros arcam com o aval dado a pessoa que não merecia confiança.


Perigo externo para os implicados no petrolão - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 25/02

Se o réu de um processo sobre o escândalo for absolvido ou receber pena que a Justiça americana considere insuficiente, ele ainda poderá ser condenado nos EUA


No front interno do petrolão, aumentam as especulações em torno da lista de políticos envolvidos no escândalo, a ser liberada pelo Ministério Público Federal, enquanto se movimentam o Ministério da Justiça, a AGU e a CGU — Advocacia e Controladoria-Geral da União —, para livrar empreiteiras de punições, desejo expresso da presidente Dilma Rousseff.

Também transparece, em toda essa operação política, o temor do governo e do PT com a possibilidade de executivos e acionistas de empreiteiras assinarem acordos de delação premiada, pelos quais poderiam implicar algum poderoso de ocasião no esquema de roubalheira montado por PT e aliados (PP e PMDB) na estatal.

Mas os pesadelos de implicados no petrolão não se esgotam aqui, porque há também um front externo do escândalo, não fosse a Petrobras uma empresa globalizada, com ações na Bolsa de Nova York, títulos de crédito emitidos no exterior e uma enorme malha de fornecedores mundiais, alguns deles envolvidos no esquema de propinas.

Livrar-se de punições no Brasil — por debilidade da legislação, falhas judiciais, amizades em Brasília, o que seja — não significa que o participante do petrolão estará livre de dores de cabeça.

Ele pode, por exemplo, ser apanhado pela Justiça dos Estados Unidos, onde as reclamações formalizadas até há poucos dias somavam prejuízos alegados de meio bilhão de dólares, segundo informações da Bloomberg. A maior parcela dessa cifra é de investidores institucionais, entre eles fundos de pensão de funcionários públicos.

Reportagem do jornal inglês “Financial Times”, da edição de domingo, trouxe a opinião do advogado canadense Marin Kenney, especializado em recuperar dinheiro perdido em fraudes empresariais. Segundo ele, o caso Petrobras transita num “ambiente multijurisdicional". Ou seja, em diversas Justiças.

São citados dois exemplos: estão envolvidas nessa história a britânica Rolls-Royce e a holandesa SBM, citadas como pagadoras de propinas. No caso da SBM, há um processo específico contra a empresa em tramitação na Holanda, porque a companhia distribuiu dinheiro ilegal em escala planetária.

Nos Estados Unidos, transcorrem investigações na SEC (a CVM americana) e no próprio Departamento de Justiça (DoJ). De acordo com o “FT”, se o DoJ considerar as instituições brasileiras muito lenientes nas punições no petrolão, ele deve deflagar ações nos Estados Unidos contra os envolvidos no escândalo.

Cita-se o caso de corrupção ocorrido entre a norueguesa Statoil e o Irã, em 2006. O DoJ entrou no assunto porque a Statoil tem ações em Wall Street, como a Petrobras. Resultado: o Departamento de Justiça triplicou a multa recebida pela Statoil na Justiça do seu país, a Noruega.

Cabe repetir: o lulopetismo não teve visão estratégica ao conectar o caixa da Petrobras a seu projeto de poder.

A conta para o consumidor - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 25/02

O incômodo e os prejuízos causados pelo protesto dos caminhoneiros, que paralisou rodovias em pelo menos sete estados do país nos últimos dias, não constituíram fato isolado. É mais uma das pontas da herança que a presidente Dilma Rousseff recebeu da antecessora, ou seja, dela mesma. O voluntarismo que marcou o primeiro governo abandonou regras elementares de política econômica, aumentou a intervenção do Estado no funcionamento de mercados, forçou a queda de alguns preços e adiou o reajuste de outros para evitar que os índices de inflação refletissem a realidade em ano eleitoral.

O preço dos combustíveis, incluindo o diesel, e o valor cobrado nos pedágios rodoviários fizeram parte do cardápio de analgésicos e panos quentes. Mas, como o dinheiro não aceita desaforos, a conta teria que ser paga mais dia menos dia. Neste começo de ano, ela foi espetada no peito de quem vive do transporte rodoviário, provocando difícil queda de braço entre o caminhoneiro e as empresas que pagam o frete.

Sabemos quem vai pagar o prejuízo: o consumidor da mercadoria transportada. Ou seja, o diesel, o caminhão e o pedágio são apenas elos de várias cadeias produtivas, que podem começar numa fazenda e acabar em um supermercado, nascer na mina de ferro e alimentar a montadora de automóveis. Quanto maior a cadeia, pior o efeito do ato de segurar artificialmente os preços de um dos elos.

Mesmo que o consumidor não perceba a ligação entre uma coisa e outra, a conta de igual trapalhada praticada em outros setores da economia está batendo forte no bolso. Ontem, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a prévia da inflação de fevereiro, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) 15. Trata-se da inflação oficial pesquisada entre os dias 15 de um mês e 14 do mês seguinte.

O resultado, alta de 1,33%, é preocupante, bem acima da apurada em janeiro, de 0,89%. Com isso, o índice acumulado em 12 meses pelo IPCA 15 soma 7,36%, muito longe da meta de 4,5% fixada pelo governo para este ano. Pior: significa que, em apenas dois meses, a disparada dos preços engoliu a metade da meta.

É certo que a inflação de fevereiro carrega a sazonalidade das matrículas e do material escolar. Este ano não foi diferente: o item teve alta no período de 5,98%. Mas esse é impacto localizado no tempo e nas famílias com esse tipo de gasto.

O verdadeiro vilão tem DNA parecido com o do diesel dos caminhoneiros: a energia elétrica, que reflete o resultado de uma maiores trapalhadas do primeiro governo Dilma. Em 2012, a presidente foi à tevê alardear heroica decisão de forçar inédita redução nas contas de luz. Inadequada e inoportuna, a medida não se sustentou mais que um ano, abalou o caixa das concessionárias e estimulou o consumo em meio aos avisos de que havia crise hídrica a caminho.

Resultado: somente entre a segunda quinzena de janeiro e a primeira de fevereiro, a energia subiu nada menos do que 7,7% na média nacional, segundo o IBGE, pesando na inflação do período e sinalizando que as cadeias produtivas que dependem da energia elétrica (a maioria) vão refletir o aumento de custos nos próximos meses. Ao fechar as estradas em protesto legítimo, os caminhoneiros punem a sociedade. Melhor fariam se levassem os caminhões para a grama do Planalto. Teriam, certamente, mais vítimas da alta do custo de vida a apoiá-los.


O governo na defesa dos gatos gordos - ELIO GASPARI

FOLHA DE SP - 25/02

A retórica do Planalto, do ministro da Justiça e da AGU embute uma ajuda às empreiteiras, driblando o MP


Quando o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, trata das malfeitorias das empreiteiras e diz que "é preciso separar as pessoas das empresas", pressupõe que milhões de dólares rolavam porque "pessoas" delinquiam. Ele acrescenta: "Temos que ter cuidado para não atentar contra a economia, contra o emprego e contra o bem-estar da sociedade".

É a doutrina Engevix. Em novembro, quando a Lava Jato começou a cercar as empreiteiras, um de seus maganos anotou: "Janot e Teori sabem que não podem tomar a decisão. Pode parar o país". Ou seja, o procurador-geral Rodrigo Janot e o ministro Teori Zavascki travariam o processo. Não travaram. Essa doutrina ecoa a tolerância com o tráfico de escravos no século 19. A lei o proibia, mas, se fosse cumprida, as fazendas de café quebrariam. Com uma diferença: d. Pedro 2º não recebia doações de negreiros.

Trazendo a doutrina Engevix para a vida real, o advogado-geral da União, Luis Inácio Adams, defendeu a tese segundo a qual as empreiteiras podem negociar acordos de leniência com a Controladoria-Geral da União, um órgão do aparelho do Executivo. Sua argumentação parte da constatação de que há no Brasil uma "especifidade", a "sobreposição" de órgãos e leis. De fato, para caçar larápios, há uma sopa de letras (CGU, TCU, CVM, Cade, MP) e de números de leis (2.864, 8.429, 8.433). Deu no que deu.

Na sua exposição, Adams ofendeu o fatos. Disse o seguinte: "No caso americano, quem faz os acordos é a SEC, que é o nosso correspondente à Comissão de Valores Mobiliários". Nem pensar. Os acordos que a SEC faz, como os da CVM, são pontuais, quando não há processo penal. O ex-diretor financeiro da Petrobras fechou sete acordos com a CVM, no valor de R$ 1,75 milhão, desembolsados pela seguradora da empresa. Num deles estava o "amigo Paulinho". Deu no que deu.

Adams ilustrou sua posição dizendo mais: "A Siemens fez no mundo, empresas americanas fizeram e fazem". Nem pensar.

A Siemens foi apanhada na Alemanha e nos Estados Unidos. Suas "pessoas", como diria o ministro Cardozo, haviam aspergido US$ 1,4 bilhão de dólares pelo mundo afora (inclusive no Brasil). A empresa não propagou a patranha do perigo de desemprego para 400 mil empregados em 190 países. Gastou US$ 1,3 bilhão para se investigar e achou mais US$ 1 bilhão de capilés. Negociou com o governo e propôs acordos ao juiz federal americano e ao Ministério Público alemão. Pagou US$ 1,6 bilhão em multas e chamou um ex-ministro das Finanças da Alemanha para fazer uma faxina em sua práticas. O acordo foi precedido pelas chancelas do juiz e do procurador. Nessas especificidades há lógica.

Como o pulo do sapo de Guimarães Rosa, a balbúrdia de leis e siglas brasileira não é produto da boniteza, mas da precisão. Elas tecem uma rede de atalhos úteis para o andar de cima, inacessíveis ao andar de baixo. Para que os paralelos mencionados por Adams tivessem solidez, as empreiteiras precisariam da chancela do juiz Sergio Moro ou do Ministério Público.

Adams mostrou que um acordo com a CGU não trava o processo penal. Era o que faltava. Ele disse que nesse processo "as provas que forem carreadas levarão à condenação ou absolvição dos culpados". Em seguida corrigiu-se: "dos acusados". Ainda bem.

O espaço do PMDB - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 25/02

Pela enésima vez, PMDB e PT buscam a reaproximação, mas não está fácil para ninguém. Tudo levava a crer que o jantar de segunda-feira com a equipe econômica havia selado um acordo para que o PMDB apoiasse a aprovação do pacote fiscal do governo, quando ficou claro que nem mesmo o PT está disposto a dar sua aprovação cegamente. E por que o PMDB o faria, ficando exposto às críticas da opinião pública, enquanto o PT sai de bonzinho?

O afastamento entre PMDB e PT, explicitado na campanha presidencial, é promessa de crise nos próximos anos, à medida que as forças políticas começarem a buscar seus espaços na reorganização do poder, que todos sentem que está prestes a acontecer, a partir deste que pode vir a ser o último dos governos petistas em sequência.

O desgaste partidário vem ficando evidente nas sucessivas crises políticas em que o PT se vê envolvido desde 2005, o que reduz a expectativa de poder, que é o combustível para a manutenção da base aliada. Mesmo sendo o principal partido da base aliada, o PMDB, descobre a cada dia que perde poder de fato, embora na aparência esteja mais forte, com 6 ministérios e a vice-presidência da República.

Mas os ministérios somados não têm a verba do ministério das Cidades, e quatro são meras secretarias com nível ministerial. E o vice Michel Temer não fala com a presidente sobre coisas concretas, como a ocupação do segundo escalão, há um mês. Quando o PMDB sentiu que o novo "núcleo duro" do Palácio do Planalto, do qual exige fazer parte, estava armando um esquema político para dar mais força a partidos aliados como o PSD de Gilberto Kassab, o PROS de Cid Gomes, o PP e o PTB, que receberam ministérios importantes e com verbas, decidiu partir para a disputa novamente das presidências da Câmara e do Senado, sendo que a eleição do deputado Eduardo Cunha para a presidência da Câmara deu-se derrotando diretamente o governo.

O senador Renan Calheiros, que continua na presidência do Senado, jogou água fria ontem na comemoração da reaproximação do PT quando disse que a coalizão estava "capenga", informando que os cortes serão da ordem de R$ 80 milhões, segundo a equipe econômica comunicou ao PMDB.

Mesmo com o Congresso fragilizado pelas constantes denúncias envolvendo seus membros, o PMDB, continuando a dominar as duas Casas, tem condições de barrar iniciativas do Executivo, de propor ações concretas, de não limitar sua ação ao fisiologismo, se quiser ter um peso decisivo nas próximas eleições.

O deputado Eduardo Cunha assumiu delimitando seus poderes claramente, dando demonstrações de que a independência da Câmara em relação ao Executivo será a base de sua administração. Sinais de ter boa vontade com o governo também cabem nesse figurino, quando defendeu por exemplo a aprovação do pacote fiscal alegando que é preciso ter responsabilidade nos momentos decisivos.

Embora tenha instalado a CPI da Petrobras, Cunha acabou dando a relatoria para o PT, mas guardou a presidência para um aliado de fé, o jovem deputado Hugo Motta, da Paraíba, que até o momento está mais preocupado em marcar sua independência em relação ao governo.

Essa preocupação não é só do PMDB, mas de todos os partidos aliados do governo que têm projetos políticos de mais longo prazo, como o PSB - que já anunciou que continuará independente. O PMDB começa a mudar de posição em relação à disputa presidencial, que não disputou nos últimos anos para se tornar parceiro preferencial de qualquer governo a ser eleito.

Com isso, ao longo dos anos, perdeu uma imagem política nacional, embora domine a política regional mantendo sua estrutura enraizada por todo o país. Há cada vez mais políticos dentro do PMDB que consideram que é chegado o momento de disputar com candidato próprio a eleição presidencial de 2018, para que o partido deixe de ser vítima de sua própria estratégia política, sem condições de governar, mas imprescindível a qualquer governo.

Aqui nas nossas barbas - ELIANE CANTANHÊDE

O Estado de S. Paulo - 25/02

Não foi por falta de aviso que a presidente Dilma Rousseff caiu em mais essa esparrela: se ver, neste momento, perigosamente atrelada ao curioso e decrépito regime da Venezuela, onde Nicolás Maduro está literalmente caindo de maduro. O Itamaraty bem que avisou.

Ainda no primeiro mandato, aquele que já foi tarde, o então chanceler Antônio Patriota procurou a presidente para alertar que a coisa ia de mal a pior e sugerir que o Brasil mantivesse uma distância cautelosa, para não se contaminar nem inviabilizar o diálogo com a oposição (que pode vir a ocupar o poder um dia...).

Cheio de dedos, possivelmente morrendo de medo da presidente (ou "presidenta"...), Patriota relatou que os informes recebidos de Caracas pelas vias oficiais, diplomáticas, davam conta de uma deterioração acentuada do regime: recessão, inflação galopante, grave desabastecimento e até declínio das tão badaladas missões sociais, as "misiones".

Não se sabe como ele disse, mas o objetivo foi dizer que Maduro estava perdendo o controle da situação, a oposição se fortalecia e, portanto, seria conveniente aos interesses brasileiros e à imagem internacional do Brasil enviar sinais de descolamento do regime.

Dilma, que ouvira calada do início ao fim, cruzou os braços, mirou Patriota olho no olho e, conforme relatos, perguntou com jeitão de poucos amigos: "Acabou, chanceler?" E praticamente pôs Patriota porta afora.

Arminio Fraga diz que, na era PT, a economia é carregada de ideologia. Pois isso cabe como uma luva também para a política externa, que deixa de lado o pragmatismo conveniente aos interesses nacionais para agir na base de dois pesos, duas medidas.

Quando a Câmara, o Senado, a Justiça e a opinião pública aprovaram o impeachment do presidente Fernando Lugo dentro dos preceitos legais e constitucionais do país, o Brasil foi rápido no gatilho: condenou publicamente e liderou ligeirinho o movimento para suspender o Paraguai da Unasul e do Mercosul.

E agora, quando o governo Maduro manda prender o prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, e não se vexa de invadir as sedes dos partidos de oposição? Uma nota daqui, outra dali, sempre escritas no Planalto e sem uma condenação explícita nem ao governo nem à ação típica e escancaradamente antidemocrática.

Fica aquela dúvida: aprovar o impeachment de um "cumpanheiro" de esquerda dentro da lei fere as suscetibilidades do governo brasileiro e as regras democráticas da Unasul e do Mercosul. Mas prender arbitrariamente o prefeito da capital e invadir as sedes dos partidos adversários são ações legítimas, aceitáveis?

O governo Maduro diz que se previne contra um golpe, mas não mostrou até agora uma mísera prova de conspiração de Washington, Prefeitura de Caracas, oposição e Forças Armadas - que, aliás, tanto ajudaram Hugo Chávez - para derrubar Maduro.

Ao contrário, é evidente que Maduro é quem trabalha contra Maduro. Seu governo é um desastre histórico para a Venezuela, para os venezuelanos, para o legado de Chávez e, claro, para sua própria biografia.

A prisão de Ledezma e a invasão dos partidos nada mais é do que um velho truque de governos aflitos e acuados: criar inimigos externos e miragens para tentar sobreviver à sua própria incompetência, à própria tragédia imposta a seus países e cidadãos.

E o Brasil com isso? O Brasil, como maior economia, maior território, maior população e principal líder político da região, deveria parar com isso de sobrepor as simpatias ideológicas aos interesses dos cidadãos.

Democracia é um conceito elástico, mas nem o mais ingênuo dos ingênuos pode considerar democrático o que ocorre na Venezuela, aqui nas nossas barbas. O Itamaraty sabe disso, mas quem manda é a presidente e sua assessoria, que fingem não saber. É aí que mora o perigo.

O 15 de março - ROSÂNGELA BITTAR

Valor Econômico - 25/02

O dom de converter as coisas redondas em quadradas 

A crise política, com epicentro no gabinete da presidente Dilma Rousseff, tem, em 15 de março, sua nova data limite para fazer acontecer alguma coisa que provoque correção de rumos. Seja para recrudescer, seja para arrefecer. Não se trata do velho adiamento do início do ano brasileiro, mas de data da manifestação convocada, em sentido estrito, a favor do impeachment, e lato senso contra a ineficiência do governo. O PT joga suas esperanças em fazer a presidente começar a presidir a partir da pressão popular; os partidos aliados também aspiram a que a voz da população, que se fará ouvir ao vivo, como já se fez ouvir em pequisas, aproxime a presidente da realidade do país.

Depois de desfiar interminável relação de problemas que dão substância à crise, os políticos se voltam para o resultado das ruas. Que elas façam o trabalho de persuasão. Lula, o conselheiro presidencial, fez sua parte. Apesar de desalentado, concordou mais uma vez em socorrer a presidente, a quem recomendou sair do isolamento, aproximar-se do PMDB, aceitar a eleição do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, incluir Michel Temer no conjunto de ministros que fazem a coordenação política, conversar com empresários, receber sindicatos, realizar projetos e fazer propaganda do governo.

Antes mesmo de viajar para férias na Bahia, durante o carnaval, Dilma teve um encontro com o especialista em marketing eleitoral, o jornalista João Santana. Na primeira saída do silencioso retraimento, Dilma fez marketing eleitoral e não propaganda das realizações do governo, como havia sido recomendado pela assessoria política. A presidente trouxe à cena a gestão da Petrobras no governo do adversário PSDB, de velhos carnavais, tentando dividir o ônus do escândalo de corrupção na estatal com o ex-presidente Fernando Henrique.

Como não era campanha eleitoral, deu-se mal. Ninguém a ouviu, a propaganda eleitoral não a tirou das cordas neste momento em que a campanha ficou para trás. A presidente ainda não apresentou, nem na realidade nem na propaganda, medidas concretas anticorrupção, ações para a educação, saúde e segurança, uma explicação convincente para o ajuste da economia e sobre o que mais virá por aí, ação de governante eleita e não mais de candidata. O uso do mesmo marqueteiro fez a boca torta.

Dilma, ainda inapetente para a relação política, criou um supermesão de coordenação, ao qual deu assento aos ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil), Pepe Vargas (Relações Institucionais), Ricardo Berzoini (Comunicações), Miguel Rossetto (Secretaria Geral), Jaques Wagner (Defesa), José Eduardo Cardozo (Justiça, presença eventual) e a Giles Azevedo (assessor especial, presença eventual). Todos do PT, ninguém do PMDB, o maior partido aliado e o vice da chapa vitoriosa, e ninguém para conversar com os políticos.

O absurdo de Michel Temer não estar nesse núcleo já foi destacado mais de uma vez à presidente, bem como o PMDB já se cansou de explicar que o ministro propriamente da coordenação política, Pepe Vargas, não tem condições de articular nada com o Congresso, bem como não o tem Aloizio Mercadante, agente de atrito com nove entre dez parlamentares governistas. Já se fez chegar à presidente a informação de que, desse imenso conjunto de coordenadores políticos, apenas Jaques Wagner teria trânsito entre os diferentes partidos para conversar com o Congresso a aprovar medidas do interesse do governo.

Porém, o ministro da Defesa é o mais discreto dos coordenadores petistas e acredita-se que tenha sido obra de inimigos ocultos entre os amigos a sua inclusão precoce no grupo de políticos que poderão ser atingidos pela Lava-Jato. Nesse caso, partiria da própria central de crise o abate do voo de Wagner.

A presidente sabe que os partidos não suportam Mercadante, nem por isso deixou de impor sua presença nas reuniões políticas em lugar do coordenador Pepe Vargas. Quando foi avisada por Michel Temer que o PMDB faria um jantar com os ministros Joaquim Levy, Nelson Barbosa e Alexandre Tombini para explicarem as medidas de ajuste e convencerem o partido a abraçá-las, ela pediu ao vice-presidente para enviar à reunião o ministro Mercadante. Ou seja, o chefe da Casa Civil não entrou no jantar como convidado, mas como olheiro da desconfiança de Dilma na sua equipe econômica.

A insensibilidade tem sido ampla, geral e irrestrita. Quando a água fica pela garganta, a presidente simula uma aceitação dos conselhos, até os pede, marca audiência para empresários, diz que vai mudar, mas não muda. O estilo é errático e deixa a todos no vácuo. A um pedido do presidente do PMDB para que recebesse o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, logo depois de eleito e acatado como líder de todos os deputados, explicou que não, ainda, "não o digeri". Dois dias depois, estavam lá as assinaturas necessárias à instalação da CPI da Petrobras. São registros do próprio PT.

O caso dos encontros de José Eduardo Cardozo e advogados de empreiteiras implicadas na Lava-Jato revelou-se, na definição também corrente no partido, como mais uma produção de "aloprados", termo usado por Lula para definir o grupo de armação de dossiês da campanha de Mercadante para o governo de São Paulo. Nega-se o inegável e enreda-se no próprio novelo.

A providência da presidente Dilma, qual foi? Orientar os ministros do governo a saírem em socorro do ministro da Justiça. E também receber as empresas.

Lula já está funcionando mais ou menos no automático. Não nega os conselhos pedidos, mas vai fazendo a própria relação política à sua maneira, sem esperar o comboio. Amigos contam que ele até parou de reclamar. Recebeu empreiteiras, falou e ainda vai falar mais com o PT, vem a Brasília no meio da semana, foi ao Rio reunir-se com aquele PMDB que produziu o presidente da Câmara e o líder do partido, tem falado com os empresários, voltou seus movimentos à estaca zero.

Para quem queria tirar o poder do PMDB, missão que atribuiu ao chefe da Casa Civil mas também a Gilberto Kassab (Cidades) e Cid Gomes (Educação), Dilma acabou dando mais poder ao partido do vice. Na definição de um frequentador daquele epicentro da crise, Dilma tem o dom de transformar as coisas que estão redondas em quadradas. Depois de colher várias derrotas logo no dois primeiros meses de seu segundo governo, a presidente dá todos os sinais de que está armando situações que a levarão a novas derrotas. O que pode mudar o futuro determinado são os acontecimentos de 15 de março. Para os desesperançados, a presidente, seja qual for o desenlace, continuará sem entender as transformações pelas quais passa o Brasil.

Fim de feira JOSÉ NÊUMANNE

O ESTADO DE S.PAULO - 25/02

Faltam 46 meses para o governo Dilma acabar. É tolice tentar abreviar a agonia que, tudo indica (ou melhor, nada indica que não), nos afligirá em três longas prorrogações deste nada promissor ano de dois mil e cinzas. Impeachment já ou logo, como exigem alguns, que prometem sair em bloco às ruas no dia 15, é inviável e só interessa por enquanto ao ex abandonado Luiz Inácio Lula da Silva. Este não é mais o ai-jesus de antes, mas continua sem adversários na oposição, cuja única novidade a apresentar ao público pagante era a barba de Aécio, que a tirou para não a pôr de molho.

Talvez venha a ser a mais longa caminhada de um pato manco na História desta República, pois a chefe do governo só conseguirá ser a líder política de que o País precisa para administrar a herança maldita que ela própria se legou se parar de mentir e mancar a cada passo. Por enquanto, o único sucesso que ela tem a apresentar ao eleitorado que a levou de volta ao trono é que este não vai vergar sob seu peso por causa de uma invejável dieta evidentemente bem-sucedida. Fora isso, o que comemorar de uma governante(a) que só não erra quando cala - lembrando aquela frase cruel de Romário sobre Pelé: "Calado, é um poeta"?

Dilma cuspiu nos direitos trabalhistas que jurou proteger; aumentou a tarifa de luz (no Sudeste, calcula-se, em 70%), que prometeu reduzir; e deixou de pagar o Pronatec, que esfregou na cara do adversário em campanha. Agora, para dar um jeito no cofre, transferiu a responsabilidade para o economista ao alcance. Joaquim Levy saiu do segundo time do candidato derrotado para assumir o que este teria de fazer se ganhasse. E deve agradecer a Deus pelos três pontos porcentuais que ela teve a mais de votos, sempre que se persigna. Cabe-lhe defender o indefensável e salvar a pele da chefona. Se tiver sucesso, será substituído por um companheiro fiel às ideias muito próprias que ela tem da economia. Se não tiver, será apontado como o substituto de Fernando Henrique na condição de bode expiatório preferencial.

Mesmo tendo um escudo para se proteger do material orgânico em que pode resultar sua tentativa de corrigir os erros do próprio passado, contudo, Dilma continua empenhada em dizer e fazer tudo errado. Produziu, por exemplo, depois da Quarta-Feira de Cinzas a piada do carnaval - que tinha tudo para ser a do voo da Beija-Flor até a Guiné Equatorial -, ao transferir a culpa da roubalheira na Petrobrás ao tucano antecessor dos três governos petistas. Agarrou-se à tábua de salvação da delação premiada do ex-gerente Pedro Barusco, que confessou ter começado a roubar discretamente em 1996 (ou 1997?). O professor passou a ser acusado pelo dilúvio universal bíblico e pela seca em que São Paulo virou sertão.

Antes de ser acusado pela traição de Calabar e pela amputação dos braços da Vênus de Milo, o sociólogo desceu das tamancas e bateu abaixo da linha de sua cintura afinada, ao compará-la com o punguista "que mete a mão no bolso da vítima, rouba e sai gritando 'pega ladrão'!" O adversário não foi muito elegante, mas, ainda se levando em conta a eventualidade, é possível concluir que, tendo sido ministra de Energia, presidente do conselho de administração da estatal assaltada , chefe da Casa Civil e presidente no período de 12 anos em que o furto foi "sistêmico", segundo o delator, ela poderia ter ido dormir sem essa.

A galhofa é nossa, mas sugiro que se preste mais atenção em algo mais sério que ela também disse ao voltar da mudez dos idos de Momo. Depois de ter rasgado a bandeira socialista ao garantir que não se apena empresa, para evitar desemprego, mas gente, para punir corrupção, ela deu uma guinada de 180 graus ao afirmar: "Isso não significa de maneira alguma ser conivente ou apoiar ou impedir qualquer investigação ou qualquer punição a quem quer que seja". E completou, repetindo o lugar-comum traduzido do portunhol do aliado Collor: "Doa a quem doer".

O noticiário dá-lhe duas boas oportunidades de provar que será coerente com o "duela a quién duela" que assumiu. Para fazê-lo terá de interromper imediatamente a tentativa canhestra de seu novo controlador-geral da União, Valdir Moisés Simão, de celebrar acordos de leniência com as empreiteiras acusadas de pagar propina a petroleiros, partidos do governo e políticos aliados para tentar evitar delação premiada de empresários presos. A proposta foi avalizada pelo advogado-geral da União, Luís Inácio (que não se perca pelo nome) Adams, outro funcionário a ela diretamente subordinado, e abençoada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), cuja composição é fiel a seu governo. É, porém, contestada pelo Ministério Público Federal, que tem todas as razões do mundo para temê-la. Pois jogaria por terra a oportunidade inédita que a presidente diz perseguir de, enfim, punir judicialmente corruptores.

Outro episódio constrangedor para ela é o das audiências do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo - um dos militantes que não riem da piada do Fernandinho primeiro bode expiatório -, aos advogados dos empreiteiros presos. Sabe-se que ele chamou de medievais nossas masmorras, mas nunca fixou um prego numa barra de sabão para mudar o fato. Agora recebe causídicos de luxo, mas não faz idêntico esforço para conseguir nas varas de execuções penais a soltura de 9 mil ex-condenados que já cumpriram pena e não saem da cela por não poderem pagar advogados que tenham acesso à agenda dele. Ou melhor: à agenda controlada pela assessora de confiança, e não a que aos pagadores de seus proventos é dado conhecer. Segundo a Folha, o que ele fez em 80 de 217 dias de trabalho desde o início da Operação Lava Jato foi mantido em segredo, o que torna Sua Excelência o primeiro ministro clandestino da história de qualquer democracia.

Só atitudes dela contra essas tentativas de melar o jogo dissiparão o clima de xepa. Segundo minha avó, "desculpa de cego é feira ruim e saco furado".

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

“Não tem como me afastarem da magistratura…”
Flávio Roberto de Souza, juiz flagrado usando carrões de Eike Batista, que apreendeu



Indefinição de Dilma azeda relações com Toffoli

Azedaram as relações do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Dias Toffoli, com Dilma Rousseff. Assim como há sete meses ela não consegue escolher o substituto de Joaquim Barbosa no Supremo Tribunal Federal, não se define quanto a outra vaga no TSE, ignorando o apoio de Toffoli à recondução de ministro Henrique Neves. Tampouco escolhe outro, deixando o TSE desfalcado de um ministro.

Segunda vaga

A indecisão de Dilma deve prejudicar ainda mais o TSE: nesta quinta (26) se encerra o mandato da ministra Luciana Lóssio.

Pedala, Dilma

O ex-presidente Lula até já interferiu, chamando a atenção de Dilma para a necessidade de preencher as vagas no Supremo e no TSE.

Combinado

Toffoli acertou no Supremo que só será definida a lista tríplice para a vaga de Lóssio quando Dilma preencher a vaga de Henrique Neves.

Pelo ralo

A Câmara dos Deputados gastou mais de R$ 243 mil, neste início do ano, para instalar armários novos para suas excelências

PT e PMDB agora brigam por orçamentos obesos

A indefinição de Dilma sobre o segundo escalão acirra os ânimos entre PT e o principal aliado PMDB na briga por cargos, sobretudo aqueles de orçamentos obesos. É o caso da Fundação Nacional da Saúde (Funasa), há anos controlada pelo PMDB e agora pretendida pelo PT para presentear um petista sem mandato, Rogério Carvalho, presidente do PT sergipano. Para o PMDB, é questão de honra manter o cargo.

Costa quente

A Funasa é comandada por Antonio Henrique Pires, indicado pelo vice-presidente Michel Temer e pelo ex-deputado Henrique Eduardo Alves.

De olho em 2016

A ideia do PT é dar “instrumentos” a Rogério Carvalho para que ele possa disputar a prefeitura de Aracaju em 2016.

Já te vi

Rogério Carvalho parece ter certa incompatibilidade com as urnas. Em 2014, disputou o Senado e perdeu para Maria do Carmo (DEM-SE).

Esses bolivarianos...

Esses “bolivarianos” são uns artistas. O diplomata Antônio Simões, conhecido pela idolatria às baixarias da semi-ditadura venezuelana, poderia trabalhar na Bolívia, “farol” do bolivarianismo, mas preferiu o “circuito Helena Rubinstein”: será o embaixador do Brasil em Madri.

Bengala adiada

O governo quer trégua na briga pela “PEC da bengala”, que passa para 75 anos a aposentadoria compulsória. O ministro Pepe Vargas obteve dos aliados a promessa de o tema não entrar em pauta esta semana.

Base esfacelada

Carlos Sampaio (PSDB-SP) acha que não adianta o lobby de ministros pela maldade fiscal. Para ele, a bancada leal a Dilma é a que votou em Arlindo Chinaglia para presidente da Câmara: 136 em 513 deputados.

Pezão nega ligação

O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), refutou outra vez a ligação de seu nome à Lava Jato. Ele está à disposição das autoridades para prestar esclarecimentos até sobre seu patrimônio.

Queda de braço

Pegou fogo a briga do deputado Paulo Maluf (SP) com o senador Ciro Nogueira (PI), ontem. Presidente nacional do PP, Nogueira quer dissolver o diretório paulista e colocar Guilherme Mussi no comando.

Incompetência

O HSBC anda ruim das pernas. Agora sua matriz – a HSBC Holdings – definiu que o Brasil está entre os países “problemáticos”, e admite até abandoná-los. Mas problemático mesmo é o HSBC. Um banco desse porte não fazer lucro no Brasil é sinal de incomensurável incompetência

Líderes fortalecidos

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, oficializou a proibição de candidaturas avulsas para disputa nas comissões permanentes da Casa. Agora, os nomes serão aqueles definidos pelos líderes e ponto.

Sinal fechado

PT e PSOL prometem fazer barulho pela abertura de investigação no Senado contra o senador José Agripino Maia (DEM-RN). Ele foi citado, em delação premiada, nas negociatas no seu Estado.

Lula lá

Apavorados com a reta final da Lava Jato, políticos governistas torcem para que Lula não desembarque em Brasília, nesta quarta, de um dos jatinhos de empreiteiras que costuma usar.


PODER SEM PUDOR

Só por telefone

Benedito Valadares estava no final do último mandato de senador, nos anos 70, e evitava jornalistas. Certo dia, acabou encurralado em um corredor do Senado. Atônito, pegou o telefone mais próximo e fingiu que falava com alguém. Conversa demorada. Os jornalistas se impacientaram e ele reagiu:

- Não têm respeito? Não vêem que estou falando com o Carvalho Pinto?

- Mas o Carvalho Pinto está ali do lado! - apontou um jornalista.

Valadares deu uma olhada, viu o colega, mas insistiu na desculpa:

- É que eu só falo com ele por telefone…