sexta-feira, setembro 05, 2014

Petrodelação despeja óleo queimado na eleição - JOSIAS DE SOUZA

BLOG DO JOSIAS DE SOUZA


Como previsto, Paulo Roberto Costa, o ex-diretor preso da Petrobras, moveu a língua. Em troca de redução da pena, ele revela à Justiça segredos que estavam armazenados abaixo da camada pré-moral da maior estatal brasileira. O repórter Mario Cesar Carvalho conta que pingaram dos lábios do delator os nomes de 62 políticos que morderam propinas. São 12 senadores, 49 deputados e um governador. Gente filiada a três partidos: PT, PMDB e PP.

Na cadeia, Paulinho, como o depoente é chamado na intimidade, vinha dizendo que não haveria eleições em 2014 se ele contasse tudo o que sabe. Enquanto espera pelas novidades, resta à plateia raciocinar com hipóteses, desde as mais amplas —na pior das hipóteses, a sucessão presidencial será engolfada pelo óleo queimado, na melhor das hipóteses ficará com óleo pelo nariz— até as mais específicas.

No caso do que o país pode esperar com uma delação à vera de Paulinho, o leque das hipóteses é enorme, já que todo mundo tem uma noção do que foi feito da Petrobras depois que os partidos tomaram a estatal de assalto. A melhor das hipóteses é que o ex-diretor confirme que o dinheiro saía mesmo pelo ladrão nos contratos da Petrobras. A pior das hipóteses é que ele informe que os ladrões entraram nos contratos da Petrobras com autorização superior.

Dependendo do que está por vir, é possível que os protagonistas do governo tenham que se reposicionar na cena eleitoral. Talvez precisem fazer pose de administradores ingênuos ou políticos distraídos sendo usados por salteadores. Este é um governo dos patrimonialistas do PT, do PMDB e congêneres. Mas quem bota a cara na tevê por eles é a Dilma, quem fica com a má fama é a esquerda guerrilheira, que combateu a ditadura para acabar como marionete.

Por sorte, João Santana dispõe de um bom tempo de propaganda. Na pior das hipóteses, o marqueteiro de Dilma disfarçará os interesses escusos que se escondem atrás da boa biografia. Na melhor das hipóteses, ele ajuda a manter a ilusão de que há em Brasília alguém que comanda.

CAPA DA REVISTA VEJA

Paulo Roberto Costa começa a revelar nomes dos beneficiários do esquema de corrupção da Petrobras

Rodrigo Rangel





Preso em março pela Polícia Federal, sob a acusação de participar de um mega esquema de lavagem de dinheiro comandado pelo doleiro Alberto Youssef, o ex-diretor de Abastecimento e Refino da Petrobras Paulo Roberto Costa aceitou recentemente os termos de um acordo de delação premiada – e começou a falar.

No prédio da PF em Curitiba, ele vem sendo interrogado por delegados e procuradores. Os depoimentos são registrados em vídeo — na metade da semana passada, já havia pelo menos 42 horas de gravação. Paulo Roberto acusa uma verdadeira constelação de participar do esquema de corrupção. Aos investigadores, ele disse que três governadores, seis senadores, um ministro de Estado e pelo menos 25 deputados federais embolsaram ou tiraram proveito de parte do dinheiro roubado dos cofres da estatal.

Ele esmiúça, além disso, a lógica que predominava na assinatura dos contratos bilionários da Petrobras – admitindo, pela primeira vez, que as empreiteiras contratadas pela companhia tinham, obrigatoriamente, que contribuir para um caixa paralelo cujo destino final eram partidos e políticos de diferentes partidos da base aliada do governo. Conheça, nesta edição de VEJA, detalhes dos depoimentos que podem jogar o governo no centro de um escândalo de corrupção de proporções semelhantes às do mensalão.

Conheça nesta edição de VEJA os nomes dos políticos mencionados por Paulo Roberto Costa e outros detalhes do depoimento.

Para ler a continuação dessa reportagem compre a edição desta semana de VEJA no IBA, no tablet ou nas bancas, neste sábado.

EVITE FILA


                                                  

                           VIDEO ENVIADO POR APOLO

Dilma, Marina e o diabo - REINALDO AZEVEDO

FOLHA DE SP - 05/09


Só a democracia, que deu à luz Dilma e Marina, pode salvar das tentações do demônio do autoritarismo


Por mais que alguns torçam por isto, ainda não chegou a hora de eu ir criar galinhas, mas a tentação é grande. Às vezes, vem aquela preguiça enorme, a acídia, que alguém definiu certa feita como "entristecer-se do bem divino"... O Brasil fica muito chato com os mortos que procriam, a reivindicar mais quatro anos para que possam fabricar mais 40 de atraso. A alternativa são ilusões redentoras não menos defuntas a disputar um lugar no futuro. Não nos dispersemos, no entanto. Mas sem essa de "vamos juntos, de mãos dadas". Tou fora! Pensamento em grupo é formação de quadrilha intelectual.

Não achei que viveria o bastante para ver um argumento meu no horário eleitoral do PT, mas vi. Justo eu, o cara que cunhou o termo "petralha", que foi parar na lista negra, elaborada pelo sr. Alberto Cantalice, chefão do partido, das nove pessoas que fazem mal ao país. Sabem como é... Não sou herói do povo brasileiro, como José Dirceu e Delúbio Soares. Só dois presidentes foram eleitos acima dos partidos, notei no meu blog: Jânio Quadros e Fernando Collor. O primeiro deu no que deu. O segundo também. É claro que eu estava criticando o discurso de Marina Silva. Os petistas gostaram e levaram a observação ao ar. Franklin Martins e os blogueiros sujos não conseguiram ter uma ideia melhor do que a minha. O ex-ministro estava ocupado demais escrevendo asnices no site "Muda Mais" sobre a independência do Banco Central...

"Terrorismo!", gritaram os marineiros. Não! É história. O chamado "Eixo 01" do programa de Marina, intitulado "Estado e Democracia de Alta Intensidade", deixa no chinelo o Decreto 8.243, o destrambelho de sotaque bolivariano de Gilberto Carvalho --Dilma só é a "laranja" da proposta. Lá no tal "eixo" está escrito que "a política brasileira vive, atualmente, uma das crises de legitimidade mais agudas da democratização". E o texto prossegue: "Tornou-se comum a ocupação do espaço público por cidadãos que não pretendem mais delegar tudo a seus governantes". Então tá.

Esse modelo "em crise" mandou pra casa o primeiro presidente eleito depois da ditadura; deu posse ao vice; abrigou o Plano Real --que levou o povão a conviver com duas moedas, fato raro na história mundial; elegeu um sociólogo de esquerda (que apelou aos conservadores para fazer reformas vitais para o país); deu posse a um ex-operário, com baixa instrução, oriundo de uma região pobre (que apelou aos conservadores para não fazer reformas vitais para o país); elegeu uma ex-terrorista e tem, no momento, duas mulheres liderando a disputa presidencial: uma delas, a ex-seringueira dos pés descalços, ambientalista e sem partido, é justamente quem acusa a... crise do "modelo".

Que coisa, né? O PT chegou ao poder por intermédio da democracia representativa e propõe um simulacro de democracia direta, via decreto, para que seus "conselhos populares" possam, definitivamente, tomar conta do Estado. Esse mesmo sistema fez da Marina Descalçada uma figura mundialmente conhecida e pode lhe render até a Presidência da República, mas também ela não já não vê virtudes no modelo e pretende abrir o caminho para que suas ONGs substituam o povo.

É um escândalo intelectual que aquela glossolalia autoritária, disfarçada de "democracia de alta intensidade", não tenha sido destrinchada pela imprensa. Em vez disso, preferiu-se dar destaque à religiosidade de Marina. Suas considerações sobre o universo LGBT --e não consigo, de fato, imaginar nada mais urgente no Brasil...-- em nada diferem, em substância, das feitas por Dilma ou Aécio. Mas a máquina de difamação petista resolveu caracterizá-la como homofóbica. Parece que ela lê a Bíblia antes de tomar decisões. E daí? Logo se viu nisso um mal terrível. Bem fazia Stálin, por exemplo, que lia livros de linguística antes de mandar matar.

Acreditar em Deus nunca foi um problema no Brasil. Não acreditar em Deus nunca foi um problema no Brasil. Só a democracia, que deu à luz Dilma e Marina, pode salvar crentes e ateus das tentações do demônio do autoritarismo.

Ainda sobre a verdade no debate público - ARMINIO FRAGA

FOLHA DE SP - 05/09


Ninguém tem o monopólio da indignação e do repúdio à pobreza e à desigualdade. Nada justifica o descuido com os fatos no debate público


Estamos em época de debate. Como mencionado em meu artigo "Mitos do PT", publicado na quinta-feira (28/8) nesta página, alguns simpatizantes daquele partido insistem em distorcer os fatos. Um perfeito exemplo surge no artigo desta última segunda-feira (1º), de Jorge Mattoso e Pedro Rossi, no qual manipulam duas frases minhas e erram, propositalmente ou não, sobre um dado público e fundamental. Não por acaso, essas criações são pilares da argumentação dos autores.

Os autores põem duas vezes entre aspas que acusei o governo de "preconceito ideológico com o investimento", quando escrevi que "falta investimento (no Brasil), vítima de preconceitos ideológicos e má gestão". Trata-se de tema de artigos e entrevistas que concedi ao longo de quatro anos.

Registre-se aqui também meu protesto contra outras aspas indevidas com que me brindou recentemente a deputada Margarida Salomão do PT em uma rede social. Ela pôs em minha boca que "o salário mínimo subiu demais", quando eu disse, em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo" que tinha subido "muito". Sutil talvez, mas bem diferente. Essa mesma frase é convenientemente repetida pelos autores citados acima em seu artigo, demonstrando um padrão de desonestidade ou, no mínimo, de descuido.

Ainda sobre o investimento, constatei apenas que os resultados foram pífios, pois permanece deprimido como porcentagem do PIB. Não há preconceito ideológico contra o investimento, apenas contra o mercado, e incompetência em mobilizá-lo. O governo mascara seu fracasso quando a candidata oficial lista com valores inúmeros investimentos e programas, sem registrar que no agregado foi pouco. Equivale a dizer que fez dois gols e omitir que levou cinco. A propósito, cabe registrar que, de acordo com o IBGE, a taxa de investimento em 2013 foi de 17,9% do PIB, e não de 20,9%, como publicado no artigo dos autores (chegando hoje a 16,5% do PIB).

Os autores prosseguem cobrando uma série de respostas a perguntas que, para um leitor desavisado, podem dar a impressão de que tudo vai bem na economia, e que nós somos uma ameaça, uma certa cara de pau dado que a economia está em recessão, inclusive com perda de emprego na indústria.

Uma dessas perguntas liga a falsa referência aos salários à nossa postura quanto à distribuição de renda no Brasil. Aqui faltou reconhecerem os ganhos sociais do fim da hiperinflação e os ganhos de produtividade das muitas reformas de FHC, da mesma maneira que nós reconhecemos o mérito de Lula ao turbinar os programas sociais (alguns criados por FHC) e preservar em seu primeiro mandato os fundamentos da estabilidade macroeconômica e a agenda de reformas.

No campo da distribuição e igualdade de oportunidade, além de continuar com bons programas como o Bolsa Família, pretendemos se nos for dada a chance focar na qualidade da educação, saúde, transportes e segurança públicos. Pretendemos também eliminar ao longo do tempo a parte injustificada das medidas de proteção, subsídio e desoneração voltadas a empresas (o chamado bolsa empresário do atual governo) e direcionar esses recursos para programas de maior retorno social, com relevantes benefícios distributivos.

Nem tudo deu errado no âmbito da economia durante os anos do PT no poder, mas o modelo de Dilma nos deixou mal parados, precisando urgentemente de uma correção de rumo. No mais, sigo enjoado com a maneira desonesta pela qual pessoas como Mattoso e Rossi se colocam. Ninguém tem o monopólio da indignação e do repúdio à pobreza e à desigualdade. Nada justifica o descuido com as palavras e os fatos no debate público.

'Recessão técnica' - MONICA BAUMGARTEN DE BOLLE

O ESTADO DE S.PAULO 05/09


"O Brasil está em recessão técnica", disse-nos o IBGE na semana passada. Para os iniciados, recessão técnica é nada mais do que a constatação de que a atividade econômica do País se retraiu pelo segundo trimestre consecutivo. Para os incautos, "recessão técnica" é um péssimo termo para expressar as mazelas que nos afligem. Lembra "parada técnica", aquela regra que a Fifa inventou e que vimos na Copa, quando a temperatura excedia os 32° e os jogadores precisavam parar para dar aquela respirada, aquela hidratada, para então retornar ao campo a pleno vapor.

A economia brasileira não há de voltar ao campo a pleno vapor. Há quatro anos a coitada tenta se reerguer e dá de cara com os obstáculos que o governo impõe, inadvertidamente. Inadvertidamente porque pensa estar fazendo o melhor para o País e se recusa a perceber que nada funcionou até agora. Culpa a "crise externa" - ainda que os EUA estejam se recuperando e a China, crescendo -, secas e caprichos da natureza. Culpa até a Copa das Copas: "Foi a falta de dias úteis", diz Guido Mantega, e ecoa a presidente Dilma Rousseff.

Por certo, o mundo não está fácil. Problemas geopolíticos são muitos, das ameaças de Vladimir Putin às investidas do movimento islâmico Isis. A Europa está à beira de tornar-se um novo Japão: economia que não cresce, risco de deflação ou de queda generalizada dos preços. Nada disso, entretanto, tem impedido nossos pares de crescer. Podem até não estar se expandindo no ritmo que gostariam, mas crescem ainda assim. Afora as Argentinas e Venezuelas do mundo - casos escrachados de má gestão econômica -, os demais países emergentes têm conseguido contornar os problemas globais com alguma destreza. Não o Brasil. O Brasil do investimento que "ia se recuperar", mas que caiu 11% no segundo trimestre de 2014. Brasil, país da poupança de míseros 14% do PIB, montante que não dá nem para o começo dos ambiciosos planos de desenvolvimento do atual governo.

As políticas do governo deram errado. E agora? Como sair do atoleiro criado pelas supostas boas intenções que resultaram no pior resultado para a atividade desde 2009, ano das sequelas da maior crise financeira internacional do século? Essas são as questões que o próximo governo deverá enfrentar. Não nos iludamos: os próximos quatro anos hão de ser dedicados a consertar os estragos provocados pela má condução econômica do atual governo. A infraestrutura, o resgate da competitividade da economia brasileira, as reformas estruturais relativas à estrutura tributária e ao mercado de trabalho ficarão para depois. Não importa o que digam os candidatos hoje. A verdade inconveniente é que nenhum esforço para resolver os problemas estruturais do País resultará em algo se a estabilidade macroeconômica - hoje desmontada - não estiver consolidada.

Promessas sobre o que um ou outro fará para melhorar a saúde, a educação, a segurança nada significam se o País não voltar a crescer com inflação baixa, o que só pode ocorrer se a política fiscal for aprumada e a política monetária, resgatada. A política monetária, como comentei recentemente em entrevista para este jornal, é a parte fácil. Difícil mesmo é desembaralhar os balanços do Tesouro, das empresas do setor elétrico, do BNDES, da Caixa Econômica Federal. Sem isso, não há saneamento fiscal possível. Por onde começar? Confesso que não sei.

O que sei é que as promessas do atual governo perderam o sentido, as explicações fracassaram e não há mais espaço, tempo ou paciência para aguentar o discurso enfadonho que nos levou à "recessão técnica". O PT teve a sua era e deixou seu legado - uma melhora passageira da distribuição de renda. Passageira porque não souberam fazer a economia crescer e pouco se importaram com a inflação em alta. Repetem à exaustão que o mercado de trabalho está bem, mas a verdade é que o país que encolhe perde empregos, mais cedo ou mais tarde. Se nem sempre é vantajoso mexer em time que está ganhando, em time que está perdendo essa é uma necessidade premente. Está na hora de mexer.

Os empresários, os banqueiros e as pessoas - JOSÉ PIO MARTINS

GAZETA DO POVO - PR - 05/09


“Difícil não é matar o monstro; difícil é remover-lhe os escombros.” Essa frase do grande Goethe me veio à mente após ouvir um candidato dizer que o governo tem de parar de governar para os empresários e os banqueiros, e passar a governar para as pessoas. A frase sugere que os empresários e os banqueiros não são pessoas. Mas, mesmo entendendo o espírito da coisa, há algo de contraditório na afirmação.

Tornou-se consenso nacional que o país precisa muito de empreendedores e, por isso, a população deve ser educada e treinada para ter iniciativa e empreender. As escolas estão sendo convocadas a educar mais para o empreendedorismo do que para a busca de emprego, mesmo porque somente haverá empregos se houver empreendedores e empresários.

O mundo precisa de inventores e investidores com iniciativa e capacidade de correr riscos, produzir, gerar empregos e pagar impostos. Quanto mais deles houver, mais riqueza será produzida e maior será o bem-estar social. O próprio governo, para existir, depende de impostos gerados pela produção; logo, é necessário haver produtores. O discurso antiempresarial é uma dessas coisas totalmente ultrapassadas, mas que ainda fazem sucesso no Brasil.

Tomemos o caso dos bancos. Estes existem desde que a humanidade inventou a moeda como instrumento de troca. Na sociedade do escambo (troca de mercadoria por mercadoria), os bancos não eram necessários. Muitos críticos não são contra a existência dos bancos. São contra bancos privados e querem apenas bancos estatais. Fui diretor e presidente de banco estatal e aprendi que, com raras exceções, colocar banco nas mãos de políticos é um perigo; é como dar uma espada a uma criança.

Quando um banco quebra e o Banco Central (BC) o socorre, as críticas pululam. O banco é uma instituição que faz intermediação financeira, ou seja, capta depósitos de pessoas e empresas e faz empréstimos a pessoas, empresas e governos. Em geral, de tudo o que um banco empresta, menos de 10% é capital do banqueiro. O resto vem dos depósitos do público. Se o banco quebra, mais de 90% da perda é de quem depositou seu dinheiro lá. Ademais, bancos trabalham sob concessão estatal e normas baixadas pelo governo, a fiscalização é feita pelo BC e existe o Fundo Garantidor de Depósito, destinado a reembolsar os depositantes em caso de quebra bancária.

Banqueiros são vistos como gananciosos. Mas eles não diferem das pessoas, pois estas, quando depositam dinheiro no banco ou aplicam suas reservas, também querem receber a maior taxa de juros possível, e isso é normal; porquanto, o juro é a recompensa pela renúncia ao consumo presente em favor do consumo futuro.

Poder-se-ia argumentar que o banco paga 11% ao ano por minha poupança e cobra 40% de meu vizinho no financiamento de uma geladeira. Ocorre que, no cálculo da taxa de juros bancários, entram pelo menos cinco fatores: a taxa juro paga ao poupador, os custos administrativos do banco, a inadimplência de parte dos devedores, os tributos cobrados pelo governo e o lucro bancário. Quanto aos lucros dos bancos, fonte de críticas, existe a crença de que eles são astronômicos. São altos, sim, mas cabem ressalvas.

O lucro de uma empresa deve ser comparado com o capital investido pelos acionistas. Nesse sentido, os lucros bancários relativos não são muito diferentes das empresas saudáveis de tamanho equivalente. E uma economia saudável exige um sistema financeiro forte e lucrativo. Mas a crença no inverso é um monstro cujos escombros, no Brasil, tornaram-se irremovíveis.

Alívio relativo - DORA KRAMER

O ESTADÃO - 05/09


Não resta dúvida de que as duas pesquisas divulgadas nesta semana trouxeram boas notícias para a presidente Dilma Rousseff e que levaram ao adversário tradicional, o tucano Aécio Neves, informações desanimadoras. Ocorre, porém, que os institutos Datafolha e Ibope* deram à candidata Marina Silva ótimas informações.

Disseram a ela o seguinte: não obstante seus parcos minutos no horário eleitoral, sua frágil estrutura partidária, as divergências internas, as cobranças por objetividade nas propostas, os ataques, os recuos nas questões programáticas e a enorme diferença entre o arsenal publicitário do governo e o alcance da propaganda do PSB, ela continua praticamente empatada com a presidente da República na disputa do primeiro turno.

Mais: mantida essa tendência, vence Dilma na etapa final. Consta que o resultado das pesquisas provocou um alívio nas hostes petistas. Refresco este decorrente da expectativa presente em todas as campanhas de que a candidata do PSB nessas pesquisas já aparecesse à frente da presidente. Não aconteceu assim. Os números frios e a realidade quente, contudo, não autorizam grandes comemorações. Dilma mostra que tem um eleitorado sólido, notadamente no Norte e Nordeste. Conta com a estrutura do governo, com 11 minutos de propaganda eleitoral, com o “recall” de toda a exposição nos últimos quatro anos e a sustentação dos programas sociais. Não é pouco.

Ainda assim, Marina encosta no primeiro turno e ganha no segundo É de se perguntar: numa disputa em igualdade de condições, como seria? Na etapa final, ao menos o tempo de televisão será o mesmo. Note-se o detalhe: do primeiro para o segundo turno Dilma sobe dois pontos porcentuais no Ibope e seis no Datafolha. Marina registra sete no Ibope e 14 no Datafolha. Se for para usar imagem bíblica ao gosto de Marina, é situação comparável à disputa entre Davi e Golias.

Se o PSDB realmente ficar de fora da etapa final pela primeira vez em 20 anos, confirmadas as tendências das pesquisas, os tucanos não se omitirão como Marina em 2010. Aquele pode ter sido por parte dela um lance esperto na ocasião, mas com duração de mais longo prazo não foi um gesto adequado a quem agora reconhece méritos no candidato à época, José Serra.

Cobranças que vão requerer revisões de posições. Com mais força para Marina, mostrando que não é só uma terceira força bamba, mas uma alternativa forte de oposição.

Multiúso. Não é a primeira vez que o PT recorre à comparação de adversários com Fernando Collor. O próprio Lula o fez várias vezes, sendo a última em março, ao insinuar que a candidatura de Eduardo Campos poderia representar uma aventura. “A minha grande preocupação é repetir o que aconteceu em 1989: que venha um desconhecido, que se presente muito bem, jovem e nós vimos no que deu”, disse ele, numa reunião com empresários. Collor serve como arma de ataque e ao mesmo tempo tem serventia como aliado. O mesmo se pode dizer de Fernando Henrique Cardoso, cujo governo é usado para comparações negativas, mas cuja política econômica sustentou o sucesso da economia no governo primeiro Lula.

Na real. O temor da direção atual do PMDB não é só que a derrota de Dilma resulte da perda do poder para o PT, mas que repercuta na correlação interna nas forças do partido. Ao ponto, por exemplo, de ameaçar as eleições de Renan Calheiros e Eduardo Cunha para as eleições das presidências da Câmara e do Senado em 2015..

Polarizações regionais - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 05/09
Pesquisas do Datafolha em seis estados e no Distrito Federal ajudam a entender melhor as razões por que os três principais candidatos à Presidência da República se encontram na situação atual de empate técnico entre a presidente Dilma Rousseff e a candidata do PSB, Marina Silva, deslocando para o terceiro lugar o candidato tucano, Aécio Neves
Marina está à frente em dois dos três principais colégios eleitorais do país (São Paulo e Rio), enquanto Dilma lidera em Minas Gerais.

Em Pernambuco e no Ceará, dois dos principais estados nordestinos, Dilma tem uma votação expressiva no Ceará, atingindo 57% das intenções de votos, como nos melhores momentos de sua votação em 2010, e Marina tem quase metade dos votos de Pernambuco, terra de Eduardo Campos.

Como se vê, o candidato do PSDB perde terrenos nos redutos que deveriam ser suas principais fontes de votos. Em Minas, está em terceiro lugar com apenas 22%, acima de sua média nacional de 14% mas bem abaixo de seu potencial. Em São Paulo, outro território do PSDB, Aécio Neves está com apenas 18% das intenções de voto, enquanto no Rio, onde montou um esquema paralelo de apoio com os partidos da base do governo, o Aezão (apoio a Aécio e Pezão) não funcionou até o momento. Aécio tem apenas 11% de votos no estado.

A disputa entre Dilma e Marina está bem expressa nos números estaduais. Onde uma vence com votação forte, como é o caso de Marina em São Paulo com 42%, Dilma vem bem votada com 23%, mesmo que seja uma votação abaixo de sua média nacional de 35%. Em Minas, dá-se o contrário: Dilma, que é mineira e venceu lá a eleição de 2010, está com 35% dos votos e Marina tem 27%.

A estratégia básica de Aécio Neves, que determinava toda a sua campanha, era tirar em Minas e em São Paulo uma votação suficiente para neutralizar a grande votação de Dilma Rousseff na região, que lhe deu em 2010 cerca de 10 milhões de votos de dianteira contra o PSDB. Na verdade, porém, até o momento quem está conseguindo neutralizar a influência da presidente no Nordeste é a candidata do PSB Marina Silva, que tem uma votação média de 30% nos estados nordestinos, baixando a média da presidente para 45% dos votos, e coloca uma dianteira em dois dos três maiores colégios eleitorais do país.

No Rio Grande do Sul, onde a senadora Ana Amélia lidera a corrida pelo governo do estado contra o candidato petista Tarso Genro, quem lidera a disputa presidencial é a presidente Dilma, apesar de a candidata do PP apoiar o tucano Aécio Neves. Dilma tem 38% das preferências e Marina, 30%, enquanto Aécio Neves fica em 15%. De maneira geral, as melhores taxas de intenção de votos da presidente Dilma correspondem aos estados onde a aprovação de seu governo é maior.

No Ceará, por exemplo, Dilma obtém seu melhor desempenho, tanto na simulação de 1º turno quanto na de 2º turno. Chega no 2º turno, contra Marina, a ter 60% dos votos. A aprovação ao governo Dilma no Ceará e em Fortaleza chega a 57% e 45%, ante 36% nacional.

O Datafolha destaca que Dilma apresenta intenção de voto semelhante a sua média nacional em Minas Gerias (estado onde nasceu) no Rio Grande do Sul (onde exerceu parte da sua carreira profissional) e em Pernambuco (terra do seu padrinho político Lula).

Por outro lado, obtém taxas de intenção de voto menores nos estados onde a aprovação ao seu governo é mais baixa: em São Paulo e no Distrito Federal, o governo Dilma é reprovado, respectivamente, por 36% e 40% dos eleitores. A candidata Marina Silva recolhe seus melhores índices nas capitais, especialmente no Rio (41%) e no Recife (52%). A presidente Dilma vence em Porto Alegre (37%) e em Fortaleza (42%).

Também no Distrito Federal, onde Aécio Neves chegou a liderar a corrida presidencial quando competia com Eduardo Campos pelo PSB, Marina retomou a dianteira que já tivera em 2010, quando venceu a eleição na capital do país. Aécio hoje está empatado tecnicamente com a presidente Dilma em Brasília.

Segurando a soberba - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S.PAULO - 05/09


A presidente Dilma Rousseff parece que só pega no tranco. Ao que tudo indica, foi preciso que o seu criador, Luiz Inácio Lula da Silva, desse enfáticos sinais de que se cansara de aconselhá-la a se achegar ao empresariado que quer vê-la pelas costas para a criatura se tocar. Até ele, o do "nunca antes neste país", já há tempos via com clareza e crescente desconforto a sua recusa ao imperativo eleitoral de mudar o disco arranhado dos seus êxitos na gestão da política econômica - limitados, na narrativa dilmista, apenas pela "crise externa" e negados apenas pelo "pessimismo" desinformado ou de má-fé.

Finalmente, a realidade conteve a soberba. E, pela primeira vez, a candidata admitiu que a economia brasileira anda devagar, quase parando. "Eu gostaria que o Brasil estivesse crescendo num ritmo mais acelerado", disse, ao discursar anteontem em um evento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Belo Horizonte. E pela primeira vez também fez uma promessa diferente da modalidade mais do mesmo para o segundo mandato que um dia, não faz muito, ela imaginava conquistar de uma tacada só. "Obviamente, novo governo, novas e necessariamente atualização (sic) das políticas e das equipes", enunciou, como quem declara que o prazo de validade do economista Guido Mantega no Ministério da Fazenda expira em 31 de dezembro, ainda que o dela vá até 1.º de janeiro de 2019.

Obviamente, como ela diria, não há como saber se acredita no que disse - ou melhor, se, acreditando, terá a determinação e a competência para não repetir, caso as urnas lhe derem uma segunda chance, a coleção de erros que esfiaparam a sua credibilidade a ponto de 8 em cada 10 eleitores desejarem mudanças na condução do governo. Desde logo, porém, é de recear que a "atualização" venha a ser tão trôpega como o fraseado a que ela recorreu para formulá-la, no pedregoso português que é um de seus vícios insanáveis. O outro, de que não consegue se livrar nem quando se trata de ganhar votos, como se viu nos debates pela televisão, é a mistura de enfado e impaciência que exibe diante de opiniões que não ecoam as suas próprias. Isso importa porque tal característica de personalidade, a julgar por estes quatro anos que se aproximam do fim, condiciona a sua conduta e pesa nas suas decisões como presidente da República.

A Dilma confeccionada em estúdio, para figurar no horário eleitoral, é outra coisa. Assim também o Brasil que desfila ao longo dos 11 minutos ao seu dispor duas vezes por dia, três vezes por semana, graças à opulenta coligação de nove partidos que os recursos de poder do Planalto lhe permitiram arregimentar. "Hollywoodiano" foi como a rival Marina Silva qualificou o País da propaganda dilmista - sem contar os dois dentes frontais que a afortunada sertaneja Marinalva Gomes Filha ganhou, além de um upgrade no fogão a lenha, para aparecer "produzida" ao lado da presidente. Ela pode maquiar os fatos, mas os seus críticos não podem brigar com eles. Os mais recentes desta campanha sucessória marcada indelevelmente pelo imponderável sugerem que está dando resultados o embelezamento publicitário da paisagem social brasileira e do desempenho do "poste" que Lula fincou em Brasília há quatro anos.

As novas pesquisas do Ibope e do Datafolha indicam que o bastião de Dilma resistiu à primeira arremetida do "furacão Marina". Dizia-se há pouco que a sua ascensão teria gás para prosseguir pelo menos até o primeiro turno, dado o tempo presumivelmente escasso entre a irrupção de seu nome e a inevitável estabilização de sua popularidade. Os números de agora põem em xeque o prognóstico. No Ibope, os quatro pontos ganhos por Marina desde a sondagem anterior foram neutralizados pelos três da presidente, que assim manteve a liderança, embora no limite da margem de erro. No Datafolha, continuam empatadas. A presidente, por sinal, parece ter mais eleitores convictos (61% das intenções declaradas) do que a oponente (50%). O seu pesadelo é o segundo turno: entra pesquisa, sai pesquisa, Marina segue favorita. E ela, Marina, com o seu voluntarismo, parece crer que ganhar a eleição é um fim em si - e não a condição necessária, porém insuficiente, para governar.


Reflexos no IBGE - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 05/09


Principal fornecedor de dados e estatísticas sobre o Brasil, o IBGE tem enfrentado dias difíceis. Não é de hoje que se registra no respeitável órgão a insatisfação de funcionários com a escassez de recursos e os indícios de sucateamento do instituto --para nada dizer de apreensões com os sinais de partidarização do serviço público.

Durante dois meses, parte dos servidores entrou em greve para reivindicar valorização salarial, orçamento condizente com as tarefas do órgão, garantia de autonomia técnica e menos interferência governamental no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

O movimento terminou em agosto, mas os problemas continuam. No início desta semana, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, anunciou novo corte de verbas.

O instituto pleiteava R$ 776 milhões para 2015, tendo em vista o preparo de dois levantamentos relevantes: a Contagem da População e o Censo Agropecuário. No entanto, o projeto de lei orçamentária enviado pelo governo ao Congresso prevê apenas R$ 204 milhões.

O valor é pouco superior ao efetivamente chancelado para 2014, após contingenciamento determinado pelo ministério --R$ 193 milhões, o suficiente para o custeio das atividades no período.

De acordo com a presidente do IBGE, Wasmália Bivar, a tesourada provocará o adiamento das pesquisas e trará o risco de perda de qualidade das estimativas anuais, em especial no caso da contagem populacional, feita a cada dez anos.

Projeções menos precisas, embora possam ser corrigidas no futuro, dificultam o planejamento de medidas em áreas importantes, como educação e saúde.

Além disso, podem levar a contestações políticas e judiciais, já que esses dados servem de referência para a distribuição do Fundo de Participação dos Municípios.

As restrições financeiras ao IBGE decorrem de ações equivocadas que levam ao oposto do que pregam seus artífices. A ideia de valorizar o serviço público, sempre presente no discurso de fundo estatista do PT, esbarra no aparelhamento de órgãos, inclusive técnicos, e na falta de investimento.

Num ambiente de estagnação econômica, inflação elevada e descaso com a eficiência do Estado, o governo Dilma Rousseff (PT) vê-se compelido a promover ajustes de todos os tipos para remendar o descontrole de suas contas. A crise do IBGE é somente mais um triste reflexo desse estado de coisas.

O Ideb atrasado - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - PR - 05/09


A cada dois anos, o Ministério da Educação divulga o mais importante indicador da qualidade das escolas brasileiras, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), um dado precioso para orientar as políticas educacionais de estados e municípios. Em 2008, os dados vieram em junho; dois anos depois, em julho; o Ideb seguinte saiu em agosto de 2012 e, neste ano, a promessa era de que não entraríamos em setembro sem que os dados fossem divulgados. No entanto, já se passou quase uma semana do fim do prazo e nem sequer há previsão segura de quando o Ideb será publicado.

O ministro da Educação, Henrique Paim, atribui a demora à burocracia que analisa os dados para conferir a eles o devido grau de segurança. O levantamento já está pronto, já passou pela avaliação do Inep e pode ser divulgado nos próximos dias, afirma o ministro, embora o processo esteja ainda embaraçado em razão de recursos impetrados por escolas de todo o país, alega.

Estaria o Ideb sendo vítima do clássico “o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente esconde”? Teriam as notas da educação nacional caído tanto que, politicamente, seria inconveniente divulgar o Ideb neste período pré-eleitoral? Houve quem fizesse ilações sobre o atraso de acordo com esse raciocínio, mas, como não se conhecem os números, é impossível tê-las como verdadeiras neste momento.

O atraso em si mesmo é um mal menor. O mal maior que ele faz é provocar a desorientação dos gestores públicos da educação básica que, desconhecendo o desempenho (bom ou ruim) das escolas situadas em suas jurisdições, não têm tempo para planejar medidas de correção de rumos a implantar já no próximo ano. O mal, portanto, se faz contra toda a educação nacional, condenada à cegueira por falta de diagnóstico precoce.

O Paraná, por exemplo, que em 2012 viu sua posição no ranking nacional cair nos ensinos fundamental e médio em relação ao Ideb de 2010, certamente deve ter tomado medidas para melhorar a situação. Deram resultado as medidas adotadas? Outras correções de rumo precisam ser tomadas? Sem se saber em que média se situam as escolas paranaenses; sem se saber quais são as melhores e as piores; sem se saber onde deram melhor resultado as providências tomadas, veem-se as secretarias estadual e municipais de Educação em dificuldade para planejar os próximos passos.

Independentemente da grave perturbação que causa ao planejamento a demora do Ideb deste ano, não custa lembrar que outros índices importantes para o país também vêm sofrendo ultimamente do mesmo mal. É o caso da Pnad Contínua, a pesquisa domiciliar do IBGE, cuja divulgação foi suspensa em abril por pressão do Planalto – os dados do 4.º trimestre de 2013, por exemplo, indicavam desemprego de 6,2%, bem acima dos 4,3% da Pesquisa Mensal de Emprego. A decisão levou uma das diretoras a pedir exoneração. Depois, o IBGE decidiu seguir em frente com a pesquisa, mas os dados que deveriam ter sido divulgados em 28 de agosto só serão conhecidos em novembro, devido à greve dos servidores do instituto, que durou quase 80 dias e foi encerrada no mês passado – greve, aliás, que, entre outras razões, era uma maneira de resguardar a autonomia do órgão. Mostraria a última Pnad Contínua números desanimadores sobre a economia e o emprego que pudessem ser usados contra o governo neste período de campanha eleitoral?

Adiar ou manipular dados por razões políticas é prática que levaria o Brasil ao mesmo descrédito internacional de sua vizinha Argentina. Oxalá não seja esse o ânimo que move os responsáveis pela divulgação de estatísticas tão importantes para setores como a educação.

O conto do horário premiado - NELSON MOTTA

O GLOBO - 05/09

A essas alturas, talvez os estrategistas dilmistas estejam questionando o tempo, dinheiro e cargos que gastaram para conseguir 12 minutos na propaganda eleitoral



Cerca de 30 milhões de pessoas estão vendo o horário eleitoral na TV aberta, informa o Ibope. Mas quase metade diz que vê “sem nenhum interesse”, um terço diz que tem “um pouco” de interesse, e só 20%, cerca de seis milhões de eleitores, entre uma garfada e outra, estão prestando alguma atenção às pirotecnias e armadilhas publicitárias dos filmes que custam fortunas e são os maiores gastos das campanhas.

Mas, além das maiores despesas, os filmes para TV são sempre as maiores esperanças das campanhas, “vocês vão ver quando entrar o horário eleitoral, vamos poder mostrar o que fizemos” ou “com o horário eleitoral vão me conhecer melhor e saber minhas propostas de mudanças”.

A essas alturas, talvez os estrategistas dilmistas estejam questionando o tempo, dinheiro e cargos que gastaram para conseguir 12 minutos no horário eleitoral. Sem falar no que custa produzir esses 12 minutos por dia, embora dinheiro não seja o problema da campanha. Tudo isso só para reiterar a esses seis milhões, nas faixas de menor escolaridade e renda, que o Bolsa Família vai continuar, que Dilma é sua pastora e nada lhes faltará?

Não é muito caro para chover no molhado? Não estão pagando cada vez mais e fazendo maiores bandalhas por um tempo que vale cada vez menos?

Será que só os spots de 30 segundos, que são vistos por todos os segmentos sociais durante a programação, serão capazes de decidir o jogo e justificar seu preço? Há controvérsias. Além dos 60 milhões que assistem à TV por assinatura, todo mundo está ligado na internet, as redes sociais são incontroláveis. Será que vale a pena pagar tropas digitais para virarem dia e noite trolando ofensas, difamações e slogans nas redes e pregando para convertidos? Todos já sabem: nem tudo que cai na rede é pixel.

Se Marina for ao segundo turno com dois minutos de TV, produzidos com alguns trocados, ou se vencer a eleição, esse formato do horário eleitoral gratuito, que virou moeda de troca dos partidos ao custo de 700 milhões de reais ao contribuinte, estará com os minutos contados na reforma eleitoral que a sociedade está exigindo.

O que se espera de Marina - JOÃO MELLÃO NETO

O ESTADÃO - 05/09


Aconteceu o que ninguém esperava. Com a inesperada morte de Eduardo Campos, a candidata a vice em sua chapa, Marina Silva, assumiu a vaga do ex-governador de Pernambuco e com isso embaralhou todos os prognósticos até então existentes sobre a sucessão presidencial.

Nesse aspecto, o único órgão de imprensa que acertou o futuro próximo nem sequer é brasileiro. Trata-se do Financial Times, da Inglaterra. Em sua edição eletrônica - redigida no calor da hora -, seus editores ousaram afirmar que a morte de Campos traria consequências imprevisíveis para o quadro sucessório brasileiro. Todos nós, ainda discutindo as circunstâncias do fatídico acidente, lemos a manchete do jornal britânico com ceticismo. No que, afinal, o falecimento de Eduardo Campos poderia afetar as eleições brasileiras? Campos estava em terceiros lugar nas pesquisas de intenção de voto e sua posição parecia já consolidada. Não havia nenhum fato que o fizesse superar a linha dos 10%.

Naquela altura ninguém pensou no fator Marina. Havia até mesmo quem acreditasse que, ainda que fosse convidada, ela dificilmente aceitaria ser candidata na vaga deixada por Eduardo Campos. Novamente todos subestimaram a sua tenacidade. Mas bastava que se dessem ao trabalho de reler a sua biografia para constatarem que a carreira de Marina Silva demonstrava ainda mais resiliência e espírito de superação que a do próprio Lula.

O ex-presidente apaixonou-se por sua própria história e se vendeu ao mundo como exemplo de sucesso e vitória contra as adversidades. Nem Lula teria percebido que a trajetória de Marina era ainda mais épica que a dele. Ambos nasceram pobres e desesperançados. Mas enquanto Lula fazia carreira no sindicalismo, Marina tratou de estudar - formou-se em História na Universidade Federal do Acre e especializou-se em Teoria Psicanalítica e em Psicopedagogia na Universidade de Brasília.

Quando foi nomeada ministra do Meio Ambiente, no governo Lula, entrou em conflito aberto com a então também ministra Dilma Rousseff por questões ambientais. A essa altura, era senadora eleita pelo Estado do Acre e ao Senado voltou depois de ter apresentado a sua carta de renúncia ao presidente. Jamais abriu mão de suas convicções, o que lhe tem garantido prestígio internacional. Também, ao que se sabe, ninguém ligado a ela se envolveu em escândalos como o do mensalão e, aos olhos de seus eleitores (34%, segundo o Instituto Datafolha), isso lhe garante uma imagem de quem "não rouba nem deixa roubar".

Quanto à eventual equipe de governo de Marina, sobressaem nomes como André Lara Rezende, um dos formuladores do Plano Real, e Eduardo Gianetti da Fonseca, economista que se destaca como sendo um dos melhores do Brasil, segundo a opinião de muitos.

Esta semana surgiram nos jornais especulações sobre uma possível volta de Lula para disputar a Presidência da República no lugar de Dilma. Até agora ele tem relutado a aceitar a ideia, embora o prazo para fazê-lo vá até 15 de setembro, de acordo com a legislação. Para Lula, essa seria uma aposta arriscada, pois implicaria pôr o seu inegável prestígio em jogo: se ganhasse, seria uma vitória humilde; se perdesse, uma derrota humilhante. Enquanto isso, ele aguarda...

O choque de honestidade que os eleitores esperam de Marina, em caso de vitória, significará defenestrar dezenas de milhares de pessoas do serviço público, em especial das empresas estatais. O fato é que o PT empregou à vontade gente não qualificada, em prejuízo do bom funcionamento da máquina pública. Calcula-se o número desses "militantes profissionais" em, no mínimo, 20 mil. É gente eficiente para organizar passeatas, mas incapaz de organizar governos. No mercado de trabalho privado não existe colocação para "profissionais" desse tipo. É por isso que todos temem a eventual derrota de Dilma. Trava-se um desesperado diálogo entre os pescoços e a guilhotina.

A vitória de Marina, no entanto, não representa nenhuma garantia de sossego e paz. Basta-lhe ter uma recaída e voltar-se para seu "alter ego de fada do bosque" para criar encrencas que ela nem imagina. Por exemplo, com o agronegócio, que é hoje a principal fonte de renda do Brasil e o único setor produtivo em que nosso país compete com vantagens com a concorrência estrangeira. Querer mexer com isso, na vã imaginação de ser possível reflorestar todo o território nacional, é um mau negócio, representa um tiro no pé para a nossa economia. Os ideais "sonháticos" de que Marina tem falado tampouco são exequíveis ou viáveis.

Marina Silva representa hoje mais uma aspiração do que uma realidade concreta. Ela mantém a sua popularidade menos pelo que promete e mais pela repulsa a Dilma, que, além de todas as atitudes erradas que tomou, está literalmente se liquefazendo por um problema de "fadiga de material". O povo que foi às ruas em junho do ano passado, embora em muito instigado pelo próprio PT, saiu de casa motivado pelo desejo de "mudanças". Embora ninguém saiba ao certo que mudanças seriam essas, todos concordam que como está não dá mais. Dilma, mesmo que recauchutada, está longe de representar uma mudança, por menos significativa que seja. As pessoas, agora, estão vendo em Marina o símbolo da mudança.

Eu ainda prefiro não me envolver com ideais utópicos e discursos inspiracionais. Confio mais em preparo e experiência. Mas o que se há de fazer? É o povo que haverá de decidir. E o povo, certo ou errado, é a última instância da vontade coletiva.

Como desfecho, lembro-me agora de um pensamento que li num livro antigo, cujo teor anotei porque muito me impressionou: "Um país assim, que ria das roubalheiras oficiais; que achava graça nas vigarices governamentais; não haveria de aceitar, sem incômodo e sem dor, uma passagem violenta para a moralidade no trato do dinheiro público, do direito de cada um e nos deveres de todos".

Dilma e Marina não decantam - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 05/09


BRASÍLIA - Numa eleição tão destrambelhada, um dado tem grande significado: a desconexão entre a eleição presidencial e as eleições estaduais. A presidencial parece definitivamente embicada para o PT e o PSB, mas os dois não estão surfando nessa onda nos Estados.

O PT atolou nas pesquisas de intenção de voto em São Paulo e no Rio, dois dos três maiores colégios eleitorais. E, se está na dianteira em Minas, o candidato tucano está crescendo, e o segundo turno será pauleira, com resultado imprevisível.

Ainda sobre o PT de Dilma: não consegue liderar nem mesmo onde já tem a máquina e disputa a reeleição ou a manutenção nos palácios. Os governadores petistas ou seus candidatos na Bahia, no Distrito Federal e no Rio Grande do Sul estão levando um suadouro dos adversários.

E o PSB? Fora do jogo em São Paulo, Rio e Minas, só tem praticamente a comemorar a disparada do seu candidato em Pernambuco. Também, só faltava essa. Trata-se do Estado de Eduardo Campos, que foi não apenas campeão de votos, mas o governador mais aprovado e vive seu momento mito após a morte recente.

Já o PSDB vive uma situação inversa à dos dois partidos hoje favoritos para subir a rampa do Planalto. Apesar de empurrados para o terceiro lugar das eleições presidenciais, os tucanos têm boa chance de vencer no principal Estado da Federação, que é São Paulo, já no primeiro turno.

Mesmo estando em segundo lugar, não podem ser menosprezados em Minas, onde a polarização PT-PSDB insiste, apesar de não estar sobrevivendo para a eleição presidencial. E, no Paraná e em Goiás, por exemplo, uma boa aposta é a reeleição dos governadores tucanos.

Nessa barafunda, só não há uma surpresa: vem PSDB, vai PSDB; vem PT, ameaça ir-se o PT; e lá está o velho PMDB de guerra. Devagar e sempre, caminha para a vitória no Rio e não está fazendo feio em São Paulo. Ganhar a eleição é improvável, mas já venceu o PT. É um bom troféu.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

‘Vamos multiplicar a nossa presença em Minas’
Aécio Neves (PSDB), sinalizando que pretende se dedicar mais à campanha em Minas



PT PODE SER ‘VARRIDO’ DOS ESTADOS QUE GOVERNA

O PT vive maus bocados. Como se não bastasse Marina (PSB) dando um calor na nuca de Dilma (PT), na corrida presidencial, as pesquisas mostram chances modestas para candidatos petistas nos estados. Há o risco de o PT ser “varrido” de quase todos os governos estaduais que o partido conquistou. Dos cinco governadores eleitos pelo PT em 2010, apenas Tião Viana, do Acre, tem chances reais de vitória no 1º turno.

BATALHAS ÁRDUAS

Estão atrás nas pesquisas os candidatos à reeleição Tarso Genro, no Rio Grande do Sul, e Agnelo Queiroz (DF), no Distrito Federal.

A VOLTA DO CARLISMO

Na Bahia, governada pelo PT, o petista Rui Costa tem 15%, segundo o ultimo Ibope, contra eloquentes 44% do adversário Paulo Souto (DEM).

SEM CANDIDATO

Em Sergipe, com o falecimento de Marcelo Deda, o PT nem disputa o governo. Jackson Barreto (PMDB), atual governador, tenta a reeleição.

APOSTAS ERRADAS

Grandes apostas do PT, os ex-ministros Alexandre Padilha, em São Paulo, e Gleisi Hoffman, no Paraná, patinam em 3º lugar.

ARRUDA ADOTA ESTRATÉGIA DE ‘CUTUCAR’ MAGISTRADOS

Candidato ao governo do DF à frente nas pesquisas, mas “pendurado” na Justiça, José Roberto Arruda (PR) gosta de cutucar magistrados que julgam seus processos. Primeiro, tentou desqualificar o juiz Álvaro Ciarlini, que o condenou por improbidade, mas perdeu no Tribunal de Justiça. Ontem, tentou afastar o ministro Napoleão Nunes da relatoria de processo contra ele no Superior Tribunal de Justiça. Perdeu de novo.

COMO PEIXE

Tem gente que “morre” como peixe: pela boca. Dias atrás, um vídeo mostrou Arruda contabilizando votos de ministros no TSE. Pegou mal.

JULGAMENTOS

Arruda enfrentará julgamentos no STJ e no Tribunal Superior Eleitoral, na próxima semana, que definirão seu futuro.

CHANCE

Se conseguir anular a sentença de primeira instância por improbidade, Arruda terá chance de reverter seu enquadramento na Lei Ficha Suja.

CHEIRO DE DERROTA

Lula já não sabe o que fazer para melhorar o desempenho do PT, Brasil afora. Está feia a coisa. Ele vem socorrendo campanhas petistas nos estados, inclusive com sacrifício pessoal, mas isso não tem sido suficiente para afastar o que ele chama de “cheiro de derrota”.

CANDIDATO LULA

Marina deixou mesmo o PT desnorteado. Ontem, o partido trombeteava em Pernambuco: “Hoje é dia de vermelho: tem Lula em Petrolina!” Com direito ao jingle “Lulalá”, de 1989. Sobre Dilma, nada.

INTENSIVÃO

Dilma e o ministro Guido Mantega (Fazenda) receberam ontem o brasileiro Artur Ávila, ganhador da Fields Medal, Nobel da Matemática. Boa chance para aprender a fazer contas de somar e multiplicar.

TEM DE TUDO

O ministro Luís Roberto Barroso (STF) dava aula sobre “Judicialização da Política” para alunos da Faculdade de Direito da USP, e arrancou gargalhadas ao afirmar que “a Constituição brasileira só não traz a pessoa amada em três dias, mas, fora isso, quase tudo está lá”.

MULTIPLICADOR DE VOTOS

Orgulho de Alagoas, onde já fez quase 30 mil cirurgias do coração, incluindo dezenas de transplantes, o ex-governador José Wanderley Neto, é o “cabo eleitoral” mais ambicionado pelos políticos, no estado.

NÃO SE EMENDAM

As vendas de automóveis “nacionais” continuam despencando, mas as montadoras insistem em não reduzir seus preços, tampouco melhorar a qualidade dos produtos. Preferem apostar em nova renúncia fiscal.

OUTRO ESCÂNDALO

A ação de despejo do Sesc-RJ contra Senac-RJ tem sido interpretada como manobra para justificar o projeto de nova sede que, orçada em R$ 120 milhões, vai virar um escândalo até pelo seu perfil faraônico.

OUTRA MORTE

Na último domingo o Sindicato dos Policiais Federais confirmou a morte do agente da Polícia Federal Marcelo Clay Chen. Segundo relatório, Chen se enforcou em casa. É o 16º suicídio na PF nos últimos anos.

TUCANO E ANTA ABATIDOS

Piada na internet: “Marina Silva poderá ficar inelegível! É que, segundo o Ibama, ela abateu um tucano e liquidou uma anta em uma semana”.



PODER SEM PUDOR

LONGE É MELHOR

Jânio Quadros só perdeu no Maranhão, na disputa presidencial de 1960, contra Henrique Teixeira Lott, graças ao apoio que o pesadíssimo marechal recebeu do cacique Vitorino Freire. Um pouco antes da eleição, um repórter perguntou a Vitorino:

- Há perigo de o Jânio ganhar no Maranhão?

Ele não precisou pensar muito para responder, convicto:

- Perigo, existe. Basta que o Lott volte duas vezes ao Maranhão.

Não voltou, e venceu.