quarta-feira, agosto 13, 2014

Usar raticida - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 13/08


RIO DE JANEIRO - Em matéria de futebol, qual é o seu campeonato favorito? O Italiano, o Espanhol, o Inglês? Ou o Francês, o Português, o Argentino? Seja qual for, são grandes as chances de que, sintonizando algum canal de TV por assinatura, à tarde ou à noite de qualquer dia, você conseguirá acompanhá-lo. E aposto que logo poderemos torcer pelo Dínamo de Moscou, o Lokomotiva de Zagreb ou o Changchun Yatai de Pequim.

O contrário não se dá. Em viagem pela Europa ou pela vizinhança, tente assistir a uma final do Campeonato Brasileiro no seu hotel. Não existe essa possibilidade. Não passa em lugar nenhum. Você dirá: "Há a internet". Sim. Mas refiro-me à recíproca: nosso campeonato não interessa às redes internacionais de TV. É o grande produto do futebol pentacampeão do mundo e não vale nada.

E, pelo que a maioria dos nossos times tem jogado nos últimos anos, é até bom que seja assim. É o campeonato recordista em número de faltas --reais ou simuladas--, passes errados e péssimos gramados. Em compensação, é ridículo em média de gols, de bola rolando e de público. E não se sabe de outro em que tantas torcidas se massacrem antes, durante ou depois do jogo.

Uma entrevista recente com o ex-craque Leonardo, de brilhante carreira no Flamengo, São Paulo, seleção e Europa --nesta, também como dirigente--, produziu um diagnóstico construtivo da situação. Ele prega o fortalecimento econômico dos clubes em relação às federações, sua transformação em empresas com fins lucrativos e o gerenciamento criativo do futebol, para que não dependam de benesses do governo ou da venda de jogadores mal saídos das fraldas.

Leonardo conhece os intestinos do esporte, entende de administração e, acredito, não hesitaria em usar raticida para sanear o que restou do nosso futebol. Seria um grande presidente da CBF. Hei, boa ideia!

GOSTOSA


Onde fui amarrar meu bode? - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 13/08
 

Sempre simpatizei com essa expressão, tanto que a uso direto em conversas entre amigos, mas nunca a relacionei com meu trabalho. Pois chegou o momento: onde fui amarrar meu bode na hora em que resolvi dar pitaco sobre Torres?

Não leio o que rola nas redes sociais, mas já soube que fui esculhambada num grau temeroso: não duvido que temperem minha casquinha de siri com soda cáustica caso eu ouse retornar à cidade.

Bom, aos fatos. Quarta passada, publiquei uma bronca por a praia da minha infância não ter realizado seu potencial, com a burrada de ter falado em beleza, charme e bom gosto quando se sabe que são valores relativos, e de ainda ter concluído o texto subestimando o estrago dos prédios altos à beira-mar, como quem diz: perdido por um, perdido por mil. Com 20 anos de colunismo nas costas, eu já deveria ter aprendido algumas coisinhas sobre o poder desastroso das ironias.

A boa notícia é que estou desinformada, segundo os moradores. É possível. Fui a Torres poucas vezes nos últimos anos, por no máximo 48 horas, sendo que a última foi em fevereiro deste ano, quando me hospedei na Prainha, que é onde a Torres real ainda equaliza com a Torres da minha fantasia.

Não circulei, não fiquei 10 dias, um mês, e por isso não sabia nada sobre o que me contaram: que a atual gestão está empenhada em corrigir os descasos das gestões anteriores, que Torres faz parte de uma Rota Gastronômica, que há muitos hotéis e pousadas de primeira linha, que turistas estrangeiros costumam visitar a cidade com frequência, que um cinema 3D será inaugurado em novembro, que não há mais areia sobre o calçadão e que eu sou uma toupeira, claro.

Assim como eu não sabia dessa evolução toda, talvez muitos brasileiros também não saibam, já que Torres não costuma ser indicada como destino turístico imperdível. A revista Claudia, publicação feminina de maior circulação do país, veiculou uma matéria na edição de julho cujo título foi “Seja bem-vindo, tchê!”, em que personalidades nacionais nascidas aqui (escritores, atores, atletas, blogueiros, apresentadores, chefs de cozinha) recomendavam os lugares que não se deve deixar de visitar no Rio Grande do Sul.

Eles citaram as cidades da Serra, os aparados, os vinhedos, o pampa, algumas cidades do Interior e a Capital. O esquecimento da mais bela praia do litoral gaúcho pode ter sido por causa do inverno, mas aconteceu: Torres foi mencionada uma única vez. Modestamente, por mim. Que minha defesa arrole isso nos autos.

Continuo achando que Torres merecia uma infraestrutura turística de muito mais qualidade, mas já que os moradores garantem que estão chegando lá, retiro o desânimo, peço desculpas pelo mau jeito e em breve voltarei à cidade para conferir in loco. Garçom, a minha caipirinha sem cianureto, por favor.

Orangotangos - ROBERTO DAMATTA

O ESTADÃO - 13/08


No dia 11 de março de 1967, nascia em Niterói meu filho Renato e eu, inocente e amarrado ao aqui e agora, ouvia, na aldeia de Mariazinha dos índios apinaiés, a narrativa que segue, contada pelo meu guia e amigo Aldírio, um sertanejo semianalfabeto que foi o homem mais talentoso que jamais conheci.

E olha que eu conheci muita gente de talento e pelo menos dois gênios, um santo indubitável, bem como um f.d.p. absolutamente autêntico e profissional. Coisa tão rara de encontrar quanto uma alma verdadeiramente pura.

Mas eram todos especializados, ao passo que o Aldírio caçava, lidava com animais e motores, guiava-me pelo sertão arenoso de Goiás, chamava os índios de senhor e senhora, fabricava tamboretes e tinha premonições - ele me disse que alguma coisa importante estava acontecendo comigo naquele 11 de março.

Foi dele que ouvi essa história: "Há uma região desconhecida nas matas do rio Araguaia onde habitam enormes macacos orangotangos muito parecidos com o homem. Um dia, uma moça foi roubada por um desses macacos e com ele conviveu. Tiveram um filho monstruoso: uma mistura de mulher com macaco. Numa das vezes em que o orangotango saiu para caçar, a raptada ouviu o barulho de um motor. Chamou pelo barco, contou o que lhe havia acontecido e pediu que a tirassem dali. Quando o barco se afastava para a margem segura do rio, porque os macacos não sabiam nadar, ouviram um urro horripilante. Olhando para trás, viram o orangotango chamando a mulher com gestos desesperados. Os homens perguntaram se ela queria voltar, mas a moça mandou que se afastassem. Viram, então, que o bicho foi à cabana e de lá saiu com o menino nos braços. Acenou com a criança, mas vendo que nem assim a mulher voltava, ele tomou a criancinha pelas pernas e a rasgou ao meio. De longe, todos viram o sangue do inocente batizar o corpo peludo do orangotango".

Gravei o relato e, dias depois, recebi a notícia do nascimento do meu filhinho. Vivi as angústias inesperadas sobre as quais antropólogos profissionais nada dizem nos seus livros, pois nas ditas "ciências sociais" não cabem saudade ou amor, objetos da literatura e do romance.

Alguns anos depois, encontrei na página 47 do livro de Afonso Arinos de Mello Franco O Índio Brasileiro e a Revolução Francesa, publicado em 1937 pela José Olímpio Editora, a seguinte história:

"(...) conta Jean Mocquet (no livro 'Voyages en Afrique, Asie, Indes Orientales et Ocidentales', Paris, 1616) uma história dramática que procura estabelecer um paralelo entre a fidelidade amorosa de um índia e a falta de sentimentos de um suposto civilizado, no caso um inglês por quem se apaixonou uma jovem filha da terra, e a qual o 'bárbaro branco' (como os índios costumavam chamar os ingleses), prometia sempre uma indissolúvel ligação. Juntos habitavam, juntos viajavam longamente. Chegados a um porto onde se encontrava um navio inglês, nele embarcou o branco, tendo vergonha de levar consigo sua companheira. Furiosa e abandonada, a pobre, que teria sido capaz de morrer mil vezes pelo ingrato, pegou o filhinho que também era dele, despedaçou o corpinho tenro com uma sanha feroz e atirou metade do cadáver ao mar, em direção ao navio, enquanto apertava, soluçando com o resto sangrento que lhe ficara entre as mãos. Como os marinheiros perguntaram ao inglês o que significava aquela cena horrenda, este se limitou a dizer que a mulher era uma selvagem e que o caso não merecia nenhuma atenção".

Fiquei tonto com essa prova de como as relações de afinidade - os casamentos entre seres diferenciados e seus rebentos se repetem em variantes trágicas, com significativas permutações de papéis e funções.

Se o leitor achar que isso não tem nada a ver com o Brasil, pense em substituir o orangotango pelo governo (que já foi gorila), a moça pelos santos ativistas ou pelo povo inocente; e as grandes empresas, como a Petrobrás, pela criança - fruto de uma aliança matrimonial impossível entre as demandas democráticas e o poder pelo poder que, na sua hipocrisia, vai além do que pode presumir a nossa moralidade.

Pior do que bisbilhotar - ZUENIR VENTURA

O GLOBO - 13/08


Eu nunca confiei na tal ‘enciclopédia livre que todos podem editar’. Se todos podem editar, podem adulterar também, como ficou provado


Há cerca de um ano, repercutiram como escândalo as revelações do ex-agente Edward Snowden sobre a extensão da espionagem americana no Brasil, que incluía até grampos nos telefones da presidente Dilma. O nosso governo indignou-se com razão, protestou com veemência, convocou o embaixador deles para dar explicações, e o desconcertante episódio deixou embaraçado o próprio Obama na reunião do G20, em 2013, na Rússia. Quase houve uma séria crise diplomática. Os EUA, pelo menos, tinham como álibi a paranoia de sempre, a ameaça terrorista. Mas e agora? O que é pior, gravar conversas telefônicas para bisbilhotar o que se diz ou interferir clandestinamente em textos de uma autoproclamada enciclopédia, adulterando-os e deturpando-os com falsas informações para difamar a reputação de jornalistas, como fizeram com Míriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg, a partir de computador que se utiliza da rede do Palácio do Planalto?

O governo também condenou a ação, mas começou alegando que era “tecnicamente impossível identificar os responsáveis”, para depois prometer apuração em 60 dias. “Nossa rede de wi-fi é usada por muita gente em reuniões”, justificou Gilberto Carvalho, ministro da Secretaria-Geral da Presidência, que considerou o ato “abominável”, sem explicar, porém, por que não existe controle sobre acesso e uso dos computadores do palácio. Pedro Doria, por exemplo, revelou, em sua coluna Vida Digital de ontem, que nos últimos dez anos algum palaciano “dedicou-se com afinco à edição de artigos” para a mesma Wikipédia.

Aliás, por falar nela, que hospedava os perfis dos dois jornalistas, não é a primeira vez que esse tipo de intromissão indevida acontece ali. O colunista Merval Pereira acaba de saber que, a partir de 2011, teve seu perfil na página alterado seis vezes para “acrescentar comentários desairosos ou informações falsas”, de origem não identificada. Talvez porque desconfie da internet desde que ela anunciou minha morte há anos e parece que ainda não conseguiu provar, nunca confiei na tal “enciclopédia livre que todos podem editar”. Se todos podem editar, podem adulterar também, como ficou provado. Para quem é do tempo em que dicionários como o “Aurélio” (Buarque de Holanda Ferreira) e o “Houaiss” (de Antônio) eram feitos por equipes especializadas que pesquisavam, checavam, comparavam palavras e verbetes, paciente e criteriosamente, durante anos de trabalho conjunto, orientado e supervisionado por dois mestres da língua, como acreditar numa obra em que qualquer um pode dar um pitaco, “democraticamente”, como se não houvesse uma hierarquia no saber, como se umas pessoas não fossem mais credenciadas do que outras para as tarefas do conhecimento?

Construtoras e a terceirização de culpa - MARCELO TAPAI

O ESTADÃO - 13/08


Diante de um levantamento do Procon que mostra que o atraso na entrega de imóveis é a principal reclamação dos consumidores e do crescimento de 2.600% nas ações contra construtoras nos últimos cinco anos, as incorporadoras/construtoras encomendaram um estudo para entender as razões dos atrasos que elas mesmas ocasionam.

É surpreendente observar que o resultado do trabalho contratado pelas incorporadoras aponte a burocracia como o cerne do problema. Segundo a pesquisa, existem cinco fatores - culpa das esferas públicas - que impedem a entrega da obra no prazo: mudança no zoneamento, atraso na avaliação de licenças ambientais, demora na aprovação de projetos na Prefeitura, problemas com registros em cartórios e dificuldades para conseguir o Habite-se.

Agora, vamos à realidade: dos 5 pontos apresentados, 3 ocorrem antes do lançamento dos empreendimentos e não influenciam em nada o prazo prometido, pois, quando um imóvel é posto à venda, essas fases já devem ter sido superadas e, por óbvio, o prazo para a construção só começa a ser computado depois desse ponto. Citar tais fatos como motivadores de atrasos é zombar da inteligência dos consumidores.

Mudanças na lei de zoneamento não são fatos corriqueiros e inesperados, que acontecem no meio de uma obra e impedem sua continuidade. Mesmo que haja mudanças no zoneamento, projetos já aprovados e vendidos são concluídos como concebidos. Além disso, a avaliação de licenças ambientais e a aprovação de projetos construtivos, por mais burocráticas e demoradas que sejam, são preparatórias para o lançamento, que só poderá ocorrer, pela lei, quando tudo estiver em ordem.

Em outras palavras, todo e qualquer empreendimento somente poderá ser anunciado e vendido quando todas as liberações e autorizações para a construção estiverem em ordem. Portanto, até esse ponto, os citados embaraços não interferem na data de entrega.

Problemas com registros em cartórios só ocorrem quando há pendências nos imóveis. Fora isso, os cartórios, que são um serviço privado e ganham para fazer as regularizações, não costumam protelar a realização do trabalho.

Por fim, no que diz respeito ao Habite-se, o prazo para concessão do documento é conhecido pelas empresas há anos e vem diminuindo em muitas cidades, com a adoção de meios eletrônicos para seu trâmite. Além disso, também não houve mudanças significativas nos últimos anos que justifiquem qualquer alegação de fato imprevisto.

É evidente que todas as alegações são absurdas chicanas das empresas para tentarem justificar o verdadeiro caos que vive o setor, com o descumprimento sucessivo de diversos contratos de promessa de compra e venda, cobrança de taxas ilegais, contratos abusivos, atrasos, obras mal feitas e o consumidor à míngua.

Até ontem, a culpa dos atrasos era de São Pedro: chuvas em excesso e falta de materiais e de mão de obra eram as responsáveis pelos problemas. Como as alegações ficaram velhas e não convenciam mais os juízes - enquanto os problemas permanecem atuais e cada vez maiores -, as empresas, na esperança de limparem a imagem, buscam encontrar novos culpados e terceirizar sua responsabilidade.

Então, onde está o gargalo? Certamente, dentro das próprias empresas, que em grande parte buscam um crescimento descontrolado e lucros cada vez maiores, prometendo para a venda aquilo que sabem que não podem cumprir ou estabelecendo prazos de construção irreais, para saltar à frente da concorrência e abocanhar um filão maior de mercado.

Em tempos de grande concorrência e ofertas bastante semelhantes, as incorporadoras passaram a prometer sonhos cada vez mais encantadores em prazos mais curtos, e o resultado dessa disputa desmedida está sendo sentido pelos compradores.

Fato é que o problema só será resolvido com trabalho sério, respeito ao consumidor e aos contratos, honradez aos compromissos assumidos e atitude ética e profissional das empresas. Agindo assim, podem dispensar as desculpas e evitar centenas de novos processos.

A outra goleada - ALEXANDRE SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 13/08


O mundo não só cresceu bem mais que o Brasil como o fez a uma diferença de velocidade jamais vista


No primeiro semestre, a produção industrial brasileira caiu pouco mais de 2,5%, segundo dados divulgados pelo IBGE, e o consenso dos analistas aponta para queda superior a 1% em 2014 (acredito que vá ser pior, mas fiquemos com o consenso).

Dado esse desempenho, o crescimento do PIB neste ano talvez não chegue a 1%, implicando expansão média no período 2011-2014 inferior a 2% ao ano, a mais fraca em um quadriênio desde 1999.

A resposta oficial aponta para a conjuntura internacional como a responsável. Recentemente, por exemplo, a presidente admitiu ter "minimizado os efeitos da crise externa sobre a economia brasi- leira", ao atribuir a ela a culpa pelo crescimento medíocre durante sua gestão.

Parece um bom argumento, exceto, é claro, por não fazer nenhum sentido à luz dos números disponíveis. A valerem as projeções do FMI para a economia global neste ano (crescimento de 3,4%), a média da expansão do PIB mundial nos últimos quatro anos aceleraria a 3,3% anuais, comparados a 3,0% ao ano observados no quadriênio anterior. Por outro lado, o desempenho nacional revelaria desaceleração expressiva no mesmo período, de 4,5% para 1,8% ao ano.

Posto de forma mais delicada, apenas um exercício delirante de imaginação poderia atribuir a piora do desempenho brasileiro à conjuntura internacional, que, longe de ser brilhante, apresentou melhora modesta, embora visível, no mesmo período. Não bastasse isso, a diferença entre o crescimento mundial e o nosso (1,5 ponto percentual) é a maior em pelo menos 12 anos, outro recorde a somar à maior goleada sofrida pelo país.

O caso pode ser ilustrado em maior detalhe pelo gráfico que compara a produção industrial brasileira à mundial. Como se vê, a indústria nacional seguiu sua contraparte global até o fim de 2010, em que pesem alguns desvios pontuais, refletindo momentos de crescimento um tanto mais forte ou mais fraco.

Em particular, é aparente a recuperação mais rápida do país em seguida à crise de 2008-2009, pois demoramos apenas dois anos para atingir o pico anterior (de outubro de 2008 a outubro de 2010), enquanto a indústria global precisou de quase três anos para isso.

No entanto, a partir de 2011 o Brasil "andou de lado", situação que ainda perdura: nos 12 meses terminados em maio deste ano, a produção nacional era 1% inferior à registrada em 2010 e indistinguível do pico que antecedeu à crise. Já a produção global no mesmo período era 10% superior à observada em 2010 e cerca de 7% maior que o pico pré-crise.

Qualquer que seja a métrica adotada, a verdade é que o mundo, mesmo combalido, não só cresceu bem mais que o Brasil como o fez a uma diferença de velocidade jamais vista na história deste país.

Por tudo o que foi dito, deve ficar claro que a origem do problema de baixo crescimento tem raízes locais. Da forma como entendo, a questão relaciona-se essencialmente ao aumento dos salários muito à frente da expansão insignificante da produtividade, em particular no setor manufatureiro.

Diferentemente do que ocorre no caso dos serviços, esse aumento do custo do trabalho encontra dificuldades de repasse para preços diante da concorrência externa. Assim, as margens industriais se contraem, limitando a expansão do setor, ao mesmo tempo em que a inflação de serviços segue vigorosa (acima de 9% nos 12 meses até junho).

A nota curiosa da desculpa (esfarrapada) para o baixo crescimento é que seus autores não parecem ter notado que, se fosse verdadeira, implicaria concluir que a aceleração observada no período 2004-2010 também resultaria do mundo mais forte, e não de méritos do governo de plantão.

Não sei se o presidente Lula se deu conta da crítica de seus aliados a seu desempenho à frente do país. Provavelmente não, mas, em nome da verdade, seria bom alertá-los para achar uma justificativa mais sólida para o desempenho lamentável dos últimos anos.


Retomada do crescimento e da agenda federativa - MAÍLSON DA NÓBREGA E FELIPE SALTO

O ESTADÃO - 13/08


O sistema tributário brasileiro tornou-se, ao longo dos últimos 30 anos, uma das principais fontes de elevação dos custos de transação. Assim, exerce influência negativa na produtividade e inibe a expansão do potencial de crescimento da economia. Isso deriva da complexidade associada às formas de incidência, às regras de recolhimento e ao desenho institucional de cada um dos impostos e contribuições. O Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) é o exemplo mais destacado desse quadro de complexidade e de dificuldade para se fazerem negócios. Temos uma bagunça provavelmente sem paralelo entre os mais de 150 países que tributam o consumo pelo método do valor agregado. É o caos. Em benefício dos interesses federativos e do desenvolvimento do País, é preciso mudar.

A impressão (correta) das pessoas é que a carga tributária brasileira não gera o retorno esperado e atravanca o crescimento. É preciso, no entanto, qualificar melhor o debate para que se tenha um bom diagnóstico, capaz de criar as condições para a formulação, a discussão e a aprovação de um projeto de reforma digno desse nome. A capacidade de investimentos e de produção da economia nacional precisa voltar a ser ampliada e, ao mesmo tempo, a agenda federativa demanda, com urgência, maior atenção do poder central.

Não se deve imaginar que uma solução seja encontrada sem que esses dois grandes âmbitos sejam amplamente discutidos - o eixo dos objetivos econômicos e fiscais pretendidos com a reforma e a dimensão do compromisso com a garantia de autonomia às jurisdições locais. A correta defesa da autonomia estadual não pode obscurecer a necessidade de um mínimo de harmonia entre as instituições que regulam o sistema tributário. É inadmissível, sob o ponto de vista econômico e social, que uma tributação mal concebida se torne um obstáculo à elevação dos ganhos de produtividade e da competitividade dos produtos brasileiros nos mercados mundiais.

Segundo o relatório Doing Business, do Banco Mundial, no Brasil são gastas 2.600 horas/ano para "preparar, arquivar e pagar (ou reter) o imposto de renda das empresas, o imposto sobre o valor agregado e as contribuições de previdência social". A média da América Latina é de 369 horas/ano e nos países da OCDE, apenas 175 horas/ano. Não custa lembrar que a complexidade do ICMS impede que as empresas exportadoras possam recuperar todos os créditos que acumulam nas vendas para o exterior, o que resulta numa barbaridade, isto é, a tributação, na prática, das exportações. Acresce notar que o ICMS é o mais importante tributo do País, em termos de arrecadação. Responde por 20,9% da arrecadação total de todos os entes federados, ou seja, algo como 7,5 pontos porcentuais do produto interno bruto (PIB), da carga tributária total de 35,9% do PIB, (dados de 2012, conforme a última estatística posta à disposição pela Receita Federal).

O Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) deveria ser o órgão encarregado da aprovação de convênios entre os Estados para estabelecer regras sobre regimes de tributação, obrigações acessórias e incentivos fiscais. Acontece que o Confaz perdeu muito de seu papel a partir da Constituição de 1988, que atribuiu ampla competência aos Estados para fixar normas e alíquotas do ICMS. O órgão foi politicamente esvaziado. Como, além disso, a União não dispõe, a rigor, de instrumentos para punir os Estados que se excedem em sua competência e bagunçam o ICMS, cada um deles pode, na prática, fixar suas próprias regras. A autonomia concedida pela Constituição transformou-se numa espécie de "liberou geral" que impede a harmonização do ICMS no território nacional, condição essencial para o bom funcionamento de um tributo sobre o valor agregado arrecadado em várias jurisdições.

O ICMS é um caso típico de "soma negativa", em que todos perdem. O conjunto da sociedade é prejudicado na medida em que a complexidade estapafúrdia do tributo mina os investimentos, desestimula a produção e fere os princípios federativos mais basilares.

Mudar essa situação requer um compromisso novo com a agenda federativa e a agenda do crescimento econômico. No melhor dos cenários, seria necessário criar um Imposto sobre Valor Agregado (IVA), a ser cobrado pela União e partilhado automaticamente com os Estados e municípios (atualmente uma parte do ICMS é transferida aos municípios, vale lembrar), como acontece em todas as federações do mundo que adotam o método. O Brasil tem ampla experiência nesse mecanismo de partilha. O Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e o Imposto de Renda (IR) pertencem constitucionalmente a todos os entes federados, mas são arrecadados centralmente e partilhados via Fundo de Participação dos Estados e Fundo de Participação dos Municípios. Um plano alternativo, embora de menor impacto, seria unificar as 27 legislações estaduais, o que permitiria uma harmonização semelhante à que vigora na União Europeia. Lá regras uniformes são aplicadas, com raras exceções, por todos os 27 países-membros.

Trata-se de um desafio político ambicioso. A busca de um novo equilíbrio, melhor do que o atual, é parte do processo de construção democrática, de bons princípios federativos e de eficiência econômica na tributação do consumo.

O Brasil precisa crescer e para isso tem de firmar, sob liderança política transformadora, um compromisso entre os governadores, a classe política, os empresários e os trabalhadores para que a força da mudança se sobreponha às das coalizões de veto hoje existentes e dos interesses individuais dos Estados, que não podem ser maiores que os do Brasil.


Agronegócio - ANTONIO DELFIM NETTO

FOLHA DE SP - 13/08


Com a coordenação do ilustre ex-ministro da Agricultura o competente Roberto Rodrigues, a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) reuniu renomados especialistas para formular uma "carta de princípios" que transmitirá aos candidatos à Presidência da República.

A ideia fundamental é mostrar que o agronegócio tem que ser pensado como um conjunto de operações divididas em três estágios: 1) o que fornece insumos e tecnologia à unidade produtiva (a fazenda); 2) como esses insumos são convenientemente combinados dentro da porteira da fazenda para produzir eficientemente os bens desejados e 3) como esses bens são transferidos para os consumidores internos e externos, o que acontece fora da porteira da fazenda.

Os três estágios devem ser integrados numa visão macroscópica capaz de dialogar, no mesmo nível de autoridade, com outros componentes do governo (Infraestrutura, Fazenda, Ciência e Tecnologia, Comércio e Indústria, Relações Exteriores etc.).

Tal pretensão é respaldada no evidente sucesso do agronegócio do Brasil (com a triste exceção do etanol, exatamente por falta da visão macro), que em si mesmo é, talvez, o mais importante setor da nossa economia, com aproximadamente 1/3 dos empregos, produzindo 1/5 do PIB e gerando 2/5 do valor das exportações.

Os "princípios" são cinco:

1) Desenvolvimento sustentável, no sentido econômico, social e ambiental, que garante rentabilidade para o agricultor eficiente, preparo técnico e proteção do meio ambiente;

2) Competitividade, um planejamento que garanta os investimentos de longo prazo de infraestrutura, logística e pesquisa científica e tecnológica de fronteira;

3) Orientação aos mercados, que estimulem inclusão social, agregação de valor, boas práticas agrícolas, descarbonização da produção, uso eficiente dos recursos naturais, proteção sanitária para evitar pragas exóticas, o que exige a regulação pelo Estado que deve respeitar;

4) A segurança jurídica, dentro das especificações do art. 170 da Constituição Federal. Este determina que a economia brasileira terá um setor produtivo baseado na iniciativa privada, apoiada na propriedade privada condicionada à sua função social;

5) E, finalmente, governança institucional, que exige que a política agrícola deve ficar a cargo de um único e forte Ministério da Agricultura, para unificar "sua inteligência estratégica" e diminuir o excesso de burocracia que pesa, principalmente, sobre os pequenos e médios agricultores.

A unificação das ações deve garantir que elas satisfaçam, simultaneamente, os limites impostos pelos cinco princípios, o que parece muito razoável para a continuação do sucesso do agronegócio.

O petróleo perde preço - CELSO MING

O ESTADÃO - 13/08

A baixa está sendo favorecida tanto por fatores ligados à demanda quanto à oferta


Há algo de diferente no mercado internacional do petróleo. Até recentemente, em momentos de grande tensão internacional, as cotações tendiam a disparar, no pressuposto de que o suprimento ficaria mais difícil. No entanto, apesar do recrudescimento da crise na Ucrânia, por onde passam gasodutos vitais para a Europa, e do aumento da beligerância no Oriente Médio, principalmente, no Iraque e no Irã, os preços estão em queda.

Desde junho, as cotações do West Texas Intermediate (WTI), o petróleo mais leve, dos Estados Unidos, e do tipo Brent, negociado em Londres, caíram, respectivamente, 7% e 7,6%.

Ontem foi divulgado o relatório de julho da Agência Internacional de Energia, com sede em Paris, que faz o levantamento das principais variáveis do mercado global do ponto de vista dos grandes consumidores mundiais. E lá ficou dito que a tendência a curto e a médio prazos é de baixa de preços, em consequência da maior oferta do que da demanda do produto.

Essa pode ser uma boa oportunidade para que o governo Dilma promova o realinhamento dos preços nacionais aos internacionais dos combustíveis. Estivesse o mercado em alta lá fora, seria maior a brecha entre preços a ser coberta e o impacto inflacionário, mais alto.

A baixa está sendo favorecida tanto por fatores ligados à demanda quanto à oferta. Do lado da demanda, o baixo desempenho da economia europeia e a desaceleração da economia chinesa explicam uma redução do consumo de cerca de 90 mil barris diários (o barril tem 159 litros) em relação aos 180 mil barris diários anteriormente projetados.

Do lado da oferta, o que se vê é maior aumento da produção em 2015 pela Arábia Saudita, pelos Estados Unidos e pelo Brasil. Até 2020, os Estados Unidos deverão chegar à autossuficiência, graças ao crescimento da produção de gás e petróleo a partir do fraturamento de xisto e, com maior contribuição do pré-sal, o Brasil poderá ultrapassar os 4 milhões de barris diários (hoje produz cerca de 2,1 milhões) e se tornará exportador.

O realinhamento dos preços internos do Brasil aos externos se impõe por três razões: primeira, porque eliminaria o subsídio pago pela Petrobrás, especialmente, na gasolina e no diesel, fator que está sangrando seu caixa. Segunda, porque eliminaria distorções, como a desidratação do setor do etanol, que enfrenta a concorrência desleal da gasolina subsidiada. E, terceira, porque, sem o realinhamento, a Petrobrás não conseguirá atrair sócios para as novas refinarias.

A tendência à moderação das cotações internacionais do petróleo não é a única variável a levar em conta se o governo atender a essa necessidade de corrigir os preços. Outra variável é o comportamento do câmbio, cujas cotações são hoje artificialmente achatadas pelas intervenções diárias do Banco Central.
Mas não bastaria corrigir os preços. É preciso definir uma regra de conversão para dar previsibilidade. Na atual política, os preços internos são determinados subjetivamente pelo governo, cujo critério é apenas ajudar a combater a inflação, não importando as enormes distorções criadas por esse jogo.

CONFIRA:

“Só louco investe no Brasil”

O presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que agora responde, também, pela presidência da Fiesp, Benjamin Steinbruch, avisou nesta terça-feira que a economia brasileira “tem muita margem para piorar”. Ele reclamou do “grande distanciamento do governo em relação à indústria”. E arrematou: “Só louco investe no Brasil”. A presidente Dilma deve achar que Steinbruch entrou no cordão de pessimistas. E, no entanto, só está dizendo o que os industriais sentem.

Inimiga tinhosa - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 13/08


É um erro pensar que ela já está vencida. Um mês de inflação zero e há quem considere que o problema foi resolvido. O IPCA do ano está em 3,8%, o que é, por exemplo, a taxa anual no México; em 12 meses, está no máximo permitido, 6,5%. A energia teve uma alta de 4,5% só em julho. Cidades como Rio de Janeiro, Recife, Porto Alegre e Curitiba estão com números em torno de 7% em 12 meses.

Pelo contexto, os índices deveriam ser melhores. A economia está esfriando, há um ambiente de desinflação no mundo, commodities importantes estão em queda, o BC está segurando o câmbio através da venda forte de hedge e alguns preços administrados estão defasados. Há uma inflação hoje e outra prevista no futuro, quando houver menos represamento de tarifas sobre as quais o governo tem controle.

Seria tão equivocado anualizar a taxa dos últimos três meses e dizer que isso a leva para a meta quanto anualizar a do período em que sazonalmente ela fica muito alta e dizer que ela está fora de controle. Não está fora de controle, mas há riscos de que suba exatamente pelos elementos artificiais da inflação de hoje, com a manipulação de preços da gasolina, energia e outras tarifas, e a ação do BC no câmbio.

No futuro, será mais difícil segurar o câmbio, porque a tendência no ano que vem é de elevação do dólar no mundo inteiro pelo fortalecimento americano e o possível início do ciclo de alta das taxas de juros lá.

A economista Monica de Bolle acha que o Banco Central não poderá usar indefinidamente o mesmo instrumento de venda de operações de swap para segurar o dólar:

- Isso é bom quando o país enfrenta um período passageiro de crise de confiança. Mas o BC está usando isso há tempo demais, já há um volume alto de operações vendidas e tem uma hora que bate nas reservas. O país tem um bom volume de reservas, mas a tendência no futuro é de alta do dólar.

Como mostrei aqui ontem, outros países vizinhos têm inflação mais baixa. E eles costumam ter metas mais baixas também. O Brasil há quatro anos tem estado com a inflação oscilando em torno do teto de 6,5%, quando o que se considera um bom desempenho é oscilar perto de 4,5%, e o governo vem dosando reajustes que precisam ser feitos para evitar ficar acima do limite.

O ponto é esse: o tempo excessivamente longo em que a taxa anual tem ficado resistente em níveis altos demais. O Banco Central até tem falado sobre essa "resistência" da inflação em seus comunicados. Isso não mudou porque circunstancialmente o país teve a boa conjugação de uma deflação de alimentos em grande parte sazonal, com a redução dos preços de hotéis e passagens que haviam subido exageradamente durante a Copa.

A inflação da energia residencial foi, em julho, de 4,5%. Em um único mês. A tendência é continuar pesando nos orçamentos das famílias e das empresas este ano. E vai continuar subindo nos anos seguintes numa escala sobre a qual não há certeza, pela barafunda que virou o setor elétrico brasileiro. A cada dia, uma agonia. Ontem, foi o dia do empréstimo de R$ 6,5 bilhões só para a Eletrobrás pagar a Petrobras. Antes, havia sido o dia do empréstimo de R$ 6,5 bilhões para as distribuidoras pagarem as contas atrasadas, um papagaio que as distribuidoras espetam para que os consumidores paguem no futuro. A gasolina defasada tem prejudicado as contas da Petrobras, e o governo já deixa saber que depois das eleições dará um aumento à gasolina.

Esses meses estão bons, como era de se esperar, e a inflação zero de julho aumentou o sabor da trégua. Se o governo achar que está tudo resolvido alimentará o risco de que ela suba mais no futuro.


Rito de passagem - DORA KRAMER

O ESTADÃO - 13/08


O presidente do PT, Rui Falcão, não poderia ter sido mais claro sobre os planos do partido para um segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, caso vença as eleições, em longa entrevista publicada nesta segunda-feira, no jornal Valor Econômico.

Falcão elucida algumas questões que a candidata à reeleição não pode abordar com tanta franqueza por razões de estratégia eleitoral. Por exemplo, o discurso sobre a "mudança" para fazer frente ao anseio da maioria do eleitorado. Falcão afirma que os "pilares" continuarão exatamente os mesmos.

E o compromisso primeiro é "com a própria maneira como o governo tem tratado o País, com retidão, com transparência, (compromisso) com crescimento econômico, dentro daqueles pilares que a Dilma disse que não vai mudar". Em seguida cita para o segundo mandato exatamente o mesmo cardápio do primeiro.

Dito isso Falcão esclarece a razão pela qual é necessário que a atual presidente governe o Brasil por mais quatro anos: "Precisamos eleger a Dilma para o Lula voltar em 2018. Isso significa que, ela reeleita, começa o ciclo de debate, de planejamento, para que o nosso projeto tenha continuidade com o retorno de Lula, que é a maior segurança eleitoral de que o projeto vai continuar".

Ou seja, não são mais as qualidades gerenciais da presidente, como em 2010, que justificam sua escolha pelo eleitorado, mas o interesse do PT em segurar o lugar no Palácio do Planalto a fim de garantir a posição vantajosa dos ocupantes do poder na campanha presidencial de 2018.

A reeleição de Dilma Rousseff fica, assim, reduzida a um mero rito de passagem para um segundo mandato que, caso reeleita, seria posto a serviço da volta do ex-presidente Lula. É o que informa Rui Falcão.

E vai além antecipando que Lula terá presença de destaque nesse novo período. Muito mais acentuada do que a participação no primeiro mandato durante o qual, de acordo com Rui Falcão houve "um afastamento deliberado" a fim de que Dilma pudesse ter brilho próprio e que o antecessor não a ofuscasse com a sua liderança.

O presidente do PT não explica como seria esse "protagonismo", mas ao que se depreende de suas palavras, já não haveria preocupação com a sobreposição de comandos. Terá querido dizer que o ex-presidente governará junto? Ou pretendido acenar ao eleitorado, aos aliados e aos grupos de interesse que não gostam do jeito de Dilma que podem votar sossegados, pois desta vez Lula será mais que um fiador?

Só nesse ponto Falcão deixou dúvida. Ele foi bastante transparente também sobre a necessidade de se providenciar alguns ajustes na maneira de conduzir as políticas de governo de modo a extrair delas um melhor aproveitamento eleitoral.

Perguntado sobre qual foi o maior erro do governo Dilma, Rui Falcão apontou a falta de mais diálogo com a chamada nova classe média, aquela beneficiada pelas políticas assistenciais e de incentivos ao crédito e ao consumo.

"Era preciso ter uma identificação mais rápida do que estava acontecendo e um direcionamento mais rápido para a disputa política, para o esclarecimento sobre as políticas públicas para que tivesse uma base maior de apoio desses setores."

Em suma, o presidente do PT lamenta que a clientela tão tenha sido suficiente e competentemente fidelizada ao ponto de fazer uma ligação direta entre os benefícios recebidos, o sentimento de gratidão e a devolução em forma de votos e devoção eterna.

Defende que se desfaça na cabeça desse pessoal a ideia de que a ascensão se deu por méritos próprios e sobre isso cita Lula. "Ele pergunta assim: se fosse só esforço pessoal, porque não ocorreu antes no governo Fernando Henrique?"

O conceito do mérito próprio, na opinião de Falcão "estimula a fragmentação, o individualismo". Faltou acrescentar: dificulta o populismo, o clientelismo.


Desânimo e esperança - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 13/08

Entra eleição, sai eleição, tão certo quanto a noite chega ao fim do dia, as campanhas presidenciais são marcadas por baixarias. As denúncias se sucedem, desde o nível municipal até o Palácio do Planalto, que este ano entrou no circuito de campanha à medida que foram se perdendo ao longo do tempo as divisas entre o governar e o uso eleitoral do governo, entre o público e o privado na sua acepção mais ampla.

Usar o Palácio para propaganda eleitoral, usar viagens presidenciais para gravar programas de propaganda de governo, tudo vai se misturando em todos os níveis do Estado brasileiro, piorando o que já era ruim. As regras complacentes para a atuação dos incumbentes que se candidatam à reeleição foram feitas com esse propósito, de alargar os limites do aceitável.

Por isso, é muito grande a chance de um governante se reeleger. Esgotada a capacidade de mobilizar a sociedade à base de promessas que não se realizaram, o PT passou a adotar a tática do medo contra seus adversários, especialmente os tucanos, que haviam usado a mesma tática em 2002 sem resultado, pois naquela ocasião o ambiente político pedia mudanças.

Os tucanos pagam até hoje pelo erro político de terem aprovado a reeleição para o mandato de Fernando Henrique, o que à época parecia uma providência necessária para garantir a continuidade do Plano Real, e hoje se tornou um golpe político a purgar. Não é por acaso que o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, tem como um dos projetos o fim da reeleição.

Apesar do mensalão em 2005, Lula se reelegeu em 2006 na base da ameaça de que os programas sociais corriam perigo sem ele na Presidência, e com uma campanha contra as privatizações que o então candidato tucano Geraldo Alckmin não soube combater. Foi nessa campanha que surgiram os aloprados, presos com dinheiro em um hotel em São Paulo para a compra de dossiês contra os tucanos, especialmente José Serra, que acabou se elegendo governador de SP.

Em 2010, a baixaria começou cedo com dossiês contra Serra, então candidato à Presidência, surgindo no QG de Dilma, e mais adiante a invasão de dados de familiares de Serra na Receita Federal.

Nesta atual campanha, a internet tem sido usada de maneira desabrida contra Aécio, e de maneira generalizada contra jornalistas e políticos considerados inimigos do regime. A tensão tende a ser maior durante a campanha, pois, mesmo sendo Dilma a favorita para vencer a eleição, nunca a vitória esteve tão ameaçada, seja pela fragilidade de seu governo, seja pelo anseio de mudanças na condução do país.

Apesar dos pesares, a resiliência da candidatura petista é uma demonstração de como quem está no governo tem instrumentos para continuar, mesmo com a economia em pandarecos e com crescimento médio abaixo de 2% ao ano nos últimos quatro anos. A questão é saber se a velocidade das notícias ruins combinará com o timing das urnas, e não é à toa que os petistas voltaram a falar com força em uma vitória no 1º turno.

A falta de mobilidade das candidaturas, todas elas praticamente em linha reta há alguns meses, e a insistência de um eleitorado desiludido em votar branco ou nulo ou se ausentar da eleição faz com que esse sonho de vitória imediata volte a ser factível.

Além do mais, pesquisas mostram que num eventual e ainda provável 2º turno, os candidatos de oposição ganham novo alento diante do duelo entre Dilma e qualquer um deles. Todas mostram a possibilidade real de um empate técnico entre Aécio e Dilma.

Já Eduardo Campos se aproxima a cada rodada de Dilma, reduzindo a diferença que, no 1º turno, é grande.

Quando ele é a única opção oposicionista, suas chances crescem com o voto útil, o que mostra uma tendência de mudança na motivação do eleitorado.

Estudos de Macrométrica do economista Chico Lopes, utilizando-se de um programa do matemático americano Nate Silver, perito em previsões corretas dos resultados eleitorais hoje com um blog no "The New York Times", mostram que Aécio pode vencer no 2º turno se o número de brancos e nulos e mais as abstenções forem nos níveis normais das eleições anteriores. Se, no entanto, confirmar-se a tendência de denunciar os métodos políticos em prática rejeitando as eleições, o efeito deverá ser contrário, confirmando na Presidência quem a maioria quer ver fora, segundo as pesquisas. Será esse o caso se os oposicionistas não conseguirem reverter a situação em que o desânimo derrota a esperança.

Juventude carrancuda - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 13/08


SÃO PAULO - Reportagem de Thais Bilenky publicada no domingo mostrou que os professores de cursinhos pré-vestibulares estão aposentando as piadinhas e comentários jocosos. O motivo é o clima PC (politicamente correto) que se instalou em parte da juventude. Hoje, tiradas que constituíam o feijão com arroz das aulas de cursinhos até alguns anos atrás geram indignação e até protestos por parte de alunos.

Há duas questões interessantes aqui. A primeira é prática. Cursinhos não haviam se tornado centros de produção de piadas por abrigar comediantes frustrados que, por algum motivo, abraçaram o magistério. Gozavam dessa condição porque chistes, além de manter desperto o interesse do estudante estafado, são um excelente auxiliar da memória.

Uma forma razoavelmente eficaz de reacessar um conteúdo cognitivo que já tenha sido aprendido é associá-lo a um trocadilho infame ou qualquer outra bobagem. Professores de pré-vestibulares, com graus variáveis de sucesso, tentavam explorar essa faceta de nossa arquitetura cerebral em favor dos alunos. É claro que ninguém vai morrer se ficar sem essa muleta mnemônica, mas receio que algo se perca com o banimento das piadas de cursinho.

A outra questão diz respeito ao próprio PC. Ao contrário de outros defensores do humor sem patrulhas, não vejo o politicamente correto como o inimigo a ser esmagado. Prefiro descrevê-lo como o efeito colateral de um movimento civilizador, que foi a mobilização da sociedade para conter seus impulsos racistas e sexistas. É claro que o fato de o PC ter uma origem bacana não elimina a necessidade de combater seus exageros.

Se há alto tão ruim quanto uma pilhéria de gosto duvidoso, é perder a capacidade de rir das incongruências do mundo. A diferença é que, enquanto a primeira tende a ser resolvida com o silêncio que reservamos às piadas sem graça, a falta de humor priva a vida de seus sabores.

De Obama@edu para Dilma@gov - ELIO GASPARI

O GLOBO - 13/08


A senhora ficou zangada com a minha xeretagem na sua rede e agora mostrou que não cuida dela


Estimada presidente,

No ano passado a senhora zangou-se porque a minha National Security Agency monitorava comunicações do seu governo. Fez muito bem. Agora fiquei sabendo que alguém, usando o serviço da rede do Palácio do Planalto, alterou os perfis de dois jornalistas e a senhora mandou abrir uma sindicância, dizendo que isso é "inadmissível". Contudo, uma nota do seu governo informou que, por razões técnicas, "é impossível" identificar os responsáveis.

Eu tenho mais horror a jornalistas que a senhora e sou viciado em BlackBerry. Outro dia, durante um jantar, Hillary e Bill Clinton ficaram passados porque eu checava meu aparelho enquanto ele falava. (O casal decidiu me acertar, mas essa é outra história.) Vivendo na Casa Branca, tenho sempre que vigiar os aloprados que me cercam. Um deles inventou que o ataque à nossa embaixada em Benghazi não era um ato terrorista, mas consequência espontânea de uma charge anti-islâmica. Caí no conto e pago por ele. O paranoico do Richard Nixon deixou-se encantar por eles e acabou posto para fora da Presidência. Nossas dificuldades são até parecidas. Eu só lhe escrevo porque a nota dizendo que é "impossível" identificar os aloprados é mais aloprada que eles e ameaça a segurança do seu país.

Um sujeito usa a rede do Planalto e não deixa a impressão digital? Admitamos que uma pessoa resolva fazer isso para transmitir dados confidenciais, segredos de Estado. A Chelsea Manning e o Edward Snowden contrabandearam segredos, mas não usaram a rede do Estado para passá-los adiante. Se um não fosse falastrão, talvez tivesse sido impossível achá-lo. O outro veio a público. O que seu governo diz é que não rastreia permanentemente as comunicações de sua rede. Esses dados precisam ficar armazenados pela eternidade, não por seis meses.

Senhora, a segurança de suas comunicações está bichada. Além da necessidade do rastreamento e do arquivo, nenhum servidor público pode tratar de assuntos oficiais com endereços eletrônicos privados. Faço-lhe uma confidência, há funcionários do seu palácio que, além de manterem endereços privados, armazenam assuntos de Estado na memória de seus computadores pessoais, sem passá-los aos arquivos oficiais. Acham que estão seguros porque podem apagá-los. São tolos. Apagar disco é tarefa complexa e demorada. Se por acaso o computador vai para oficina, um curioso esperto pode extricar do disco quase tudo o que foi apagado. Ademais, arquivando em computadores pessoais informações do Estado, cometem uma infração.

Procurei informar-me e soube que existem no Brasil servidores civis e militares que conhecem esse assunto. Há até uma entidade privada, o Instituto Brasileiro de Peritos, capaz de ensinar a quem quiser aprender. Recorra a eles, presidente, ou chegará o dia em que seu neto Gabriel encontrará na rede boa parte dos assuntos secretos que passam por sua mesa. E não serão maledicências de Wikipédia, serão coisas muito mais sérias.

A rede de comunicações do governo brasileiro é vossa, cuide dela, pois os outros não haverão de fazer isso.

Michelle manda-lhe lembranças e Sasha espera voltar ao seu Palácio da Alvorada. Ela diz que é o lugar mais bonito em que esteve.

Atenciosamente

Barack Obama

Em nome de Deus - RODRIGO CRAVEIRO

CORREIO BRAZILIENSE - 13/08
Alá, Jeová, Tupã, Olodumaré, Oxalá, Guaraci, Brâman. Todos o mesmo Deus, representado por crenças de códigos e rituais distintos. Em nome da mesma deidade, o homem ignora preceitos invioláveis de sua fé para cometer barbáries. No Iraque, militantes do Estado Islâmico ocuparam cidades ao norte e impuseram um código de horror. Cristãos e yazidis - seguidores de uma doutrina que mistura traços do judaísmo, do cristianismo e do zoroastrismo e que crê no demônio como o líder dos anjos - são obrigados pelos jihadistas à conversão ao islã. Quem não se curvar ao islã e não pagar uma taxa imposta aos "infiéis" ou não muçulmanos pode ter uma morte dolorosa ao extremo, que inclui a decapitação ou a crucificação. O mesmo ocorre na Nigéria, onde os terroristas do Boko Haram explodem igrejas e massacram a minoria cristã do norte.
Qualquer tipo de intolerância - seja ela religiosa, seja sexual, seja racial - fere a dignidade e a liberdade do homem. Impor uma fé, espezinhar uma crença ou matar em nome de uma verdade individual equivale a retornar à idade das trevas e renegar qualquer traço de civilidade. É voltar ao obscurantismo da Idade Média, quando a própria Igreja Católica perseguiu os "hereges", termo que reunia adeptos de outras doutrinas, ateus e cientistas.

O bispo evangélico que chuta a imagem da santa católica, os protestantes que "decapitam" as estátuas dos orixás na Prainha, as ofensas propagadas ao candomblé e a outras religiões de raiz africana por meio das redes sociais destoam do caráter ecumênico e harmônico da sociedade brasileira. Caluniam um direito que deveria ser considerado inviolável e particular, o de seguir ao Deus que assim desejar. Não cabe a ninguém contestar ou criticar outra pessoa apenas porque ela professa crença estranha a seus conceitos ou dogmas.

Não existe uma fé errada. O radicalismo cego e alçado à condição de verdade única e absoluta viola o senso de misericórdia e de amor propagado pelas religiões. Agride a privacidade alheia e vilipendia o caráter laico do Estado. Em nome de Deus, fonte de compaixão e misericórdia, o homem devia aprender a tolerar e a respeitar. Antes que sua própria fé mate qualquer resquício de humanidade.

A covardia da solidão e a garantia da impunidade - JOSÉ NÊUMANNE

O ESTADÃO - 13/08


A internet é o paraíso dos covardes e lhes dá a garantia da impunidade. Diante do computador, praticamente ao arrepio da lei, o poltrão sente-se deus, um titã implacável e agressivo, como Jeová no Velho Testamento, não seu compassivo filho no Novo. O autor destas linhas já sentiu isso na pele quando provou e se viciou numa droga que não faz mal ao organismo, mas praticamente anula o tempo e escraviza e expõe o adicto às vicissitudes e misérias da alma humana. Disso ninguém escapa. Nem Chico Buarque de Holanda, que uma vez mestre Millôr Fernandes chamou de "unanimidade nacional". O compositor inspirado e censurado na ditadura, mimado por todos, cortejado nas ruas, descobriu-se odiado ao seguir o próprio apedrejamento moral na internet e nas redes sociais, como se fosse uma adúltera bíblica.

A rede mundial dos computadores é a ágora eletrônica do boato não confirmado e iniciativas tidas como exaltação à liberdade de expressão, caso da enciclopédia virtual Wikipédia, o paraíso achado de biógrafos não autorizados. Em seus verbetes, poder, prestígio, fama e glória viram cinzas nas mãos de qualquer caluniador com um ratinho ao seu alcance.

Em 2012, a revista CartaCapital fez reportagem de capa acusando o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes de "sonegação fiscal, de ter viajado em aviões cedidos pelo ex-senador Demóstenes Torres, de intervir em julgamentos em favor de José Serra, de nepotismo e testemunho falso ao relatar uma chantagem do ex-presidente Lula para que adiasse o processo do mensalão para depois das eleições municipais de 2012". Segundo a "enciclopédia livre" relata em seu verbete até hoje, "a revista repercute acusações de certos movimentos sociais (quais?) de ele ser o 'líder da oposição', de estar destruindo o judiciário e de servir a interesses de grandes proprietários". E faz uma concessão: "Mendes porém (sic) volta a afirmar não ser o líder da oposição". Dois anos depois, sem que nada tenha sido provado, Mendes atua no STF, mas o registro permanece.

A liberdade de que a enciclopédia virtual se jacta em seu lema e slogan dá ensejo à disseminação da maldade e serve de pretexto à impunidade de quem, por qualquer motivo, seja ódio pessoal, seja interesse político, resolver atirar na lama a reputação de qualquer desafeto. O fato de a imagem de um poderosíssimo dirigente do poder judicante da República se tornar impotente diante da aceitação generalizada de que prevalece o direito da liberdade de divulgar também mentiras é prova irrefutável de que na prática nada há a fazer para evitar que o veneno da maldade comprometa a fama de qualquer um. No reino da futrica cibernética, ninguém tem como defender a própria intimidade.

Na semana passada, contudo, surgiu um fato novo que pode esclarecer a origem de certas calúnias e levar à descoberta de caluniadores que devem, enfim, ser levados às barras dos tribunais e julgados por ofensas criminosas graves contra a honra alheia. Na sexta-feira 8 de agosto, o jornal O Globo, do Rio, noticiou que Miriam Leitão, sua colunista de economia, e Carlos Alberto Sardenberg, comentarista da rede de emissoras de televisão da empresa, tiveram seus perfis na Wikipédia alterados por mensagem transmitida pelo IP 200.181.15.10, da Presidência da República. Miriam teve análises desqualificadas como "desastrosas" e foi acusada de defender em sua coluna os interesses do milionário baiano Daniel Dantas, do grupo Opportunity. No mesmo IP do computador instalado no Palácio do Planalto, onde a presidente Dilma Rousseff despacha, Sardenberg foi "incriminado" por ser irmão do economista Rubens Sardenberg, funcionário da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), o que contraria o solerte autor das emendas aos perfis da Wikipédia. "A relação familiar denota um conflito de interesse em sua posição como colunista econômico", escreveu. "Uma canalhice", disse-o bem o ofendido.

Ao tomar conhecimento da lambança, a presidente Dilma Rousseff considerou "inadmissível" a intervenção do usuário do computador na sede do poder republicano e informou que abriu sindicância para descobrir e punir o autor da "baixaria" (apud novamente Sardenberg). "Esse tipo de ação é abominável. Faremos de tudo para punir duramente", ecoou o secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. A Nação espera que a aparente indignação de dois dos mais poderosos usuários dos computadores instalados no Planalto resulte na identificação e exemplar punição do "aloprado" revisor de perfis de jornalistas independentes que desagradam a companheiros de partido de ambos.

O episódio não se circunscreve ao disparo a esmo de injúrias contra inimigos, abusando da "vulgaridade prazerosa" a que se refere o especialista Luiz Flávio Gomes ao debater o dilema da intimidade invadida e da "extimidade" procurada na internet e nas redes sociais. O intruso que feriu a honra dos dois jornalistas não pode sequer alegar o surrado pretexto de estar exercendo o seu direito de se expressar na "enciclopédia livre". Nada disso: possivelmente se aproveitando do acesso ao computador a ser usado por funcionários públicos na sede do poder republicano, ele se arvora em censor da opinião de dois profissionais respeitados pelo público que lê a coluna ou vê o comentário. Cabe ao leitor e ao telespectador dar ou não crédito às opiniões que ambos enunciam. E cabe ao governo federal tratar o caso como crime.

Mas não basta limpar a sujeira debaixo do tapete e seguir pisando nele como se fosse um caso isolado. Não é. A disputa eleitoral é o cenário ideal para a disseminação desse delito. A covardia da solidão diante da máquina não pode usufruir a garantia da impunidade, não só porque o direito da liberdade de interferir assim na biografia de alguém termina onde começa o direito de este atuar livremente. Mas também porque isso configura canalha violação do direito de opinião.

Contas inúteis - FERNANDO RODRIGUES

FOLHA DE SP - 13/08


BRASÍLIA - Muitas análises foram publicadas sobre a prestação parcial de contas de candidatos nas eleições deste ano. Sabe-se que o frigorífico Friboi já doou mais de R$ 50 milhões a políticos de vários partidos. O PMDB desponta como um dos campeões em arrecadação.

Essas informações só são boas para produzir estatísticas, mas inúteis para revelar quem de fato acabará financiando os candidatos. No Brasil, a lei exige duas prestações de contas durante a campanha, sempre nas primeiras semanas de agosto e de setembro. A contabilidade final sai apenas depois da eleição --quando o dado será de pouca utilidade.

A transparência nas contas de campanha serve para o eleitor considerar esse dado na hora de votar. O cidadão interessado em preservar o meio ambiente pode se sentir desestimulado a apoiar um candidato bancado por uma madeireira. Quem é de esquerda talvez rejeite políticos financiados por grandes bancos.

Ocorre que a contabilidade parcial só revela o que é conveniente aos doadores, e não ao eleitor. Por exemplo, interessa a uma empresa pendurada em empréstimos do governo fazer doações ecumênicas logo no início da campanha. O frigorífico Friboi direcionou R$ 5 milhões para Dilma Rousseff (PT) e outros R$ 5 milhões para Aécio Neves (PSDB). Apostou em duas canoas. Não quer perder, pois recebeu investimentos do BNDES na casa dos bilhões de reais.

Já alguma empreiteira talvez prefira ser mais prudente esperando até o final do processo para dar dinheiro a candidatos. Se doar depois do dia 10 de setembro, a informação permanecerá em segredo até depois do encerramento das eleições.

Para haver transparência real, seria necessária uma contabilidade diária, on-line e sem a possibilidade de receber dinheiro depois da eleição. O Congresso jamais aprovará tal regra. Mas será compelido a fazer algo quando o STF proibir doações de empresas a políticos, o que já é certo.

Compre Dilma, leve Lula - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S.PAULO - 13/08


O presidente do PT, Rui Falcão, avisou: quem votar em Dilma Rousseff estará votando, na verdade, em Lula - aquele que, segundo suas próprias palavras, não consegue "desencarnar" da Presidência.

A "promoção casada" foi explicitada em entrevista de Falcão ao jornal Valor. Respondendo a uma questão sobre se Lula terá "maior participação" em um eventual segundo mandato da presidente, o petista disse que "sim" e explicou, praticamente sem rodeios, que a passagem de Dilma pelo Planalto serviu apenas para guardar lugar para seu chefe.

"Precisamos eleger a Dilma, para o Lula voltar em 2018", disse Falcão. "Isso significa que, ela reeleita, começa o ciclo de debate, de planejamento, para que o nosso projeto tenha continuidade, com o retorno do Lula, em 2018, que é a maior segurança eleitoral de que o projeto pode continuar."

A preocupação de Falcão e da militância petista é compreensível. Embora a propaganda oficial martele que o PT está fazendo um governo revolucionário, que tirou milhões de pessoas da miséria e as levou ao paraíso do consumo, os eleitores em geral parecem cada vez mais descontentes. Com crescimento econômico pífio, inflação alta e perspectivas sombrias para o emprego, é natural que o tal "projeto" petista esteja sendo questionado, conforme mostram todas as pesquisas de opinião e de intenção de voto.

Para Falcão, porém, a chamada "nova classe média" tem reclamado do governo porque não foi devidamente instruída sobre os benefícios que a administração petista lhe deu. Faltou que Dilma lembrasse a essa gente que sua ascensão social se realizou não graças a seus méritos pessoais, mas pelas magnânimas políticas do governo. É a tese da ingratidão, levantada pelo ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, e corroborada por Lula. "Essa ideia do mérito próprio estimula a fragmentação, o individualismo, afasta as pessoas de coisas mais sociais, coletivas", disse Falcão. Para ele, Dilma errou ao não "dialogar" com essa classe média "individualista".

O recado de Falcão é que, se Dilma conseguir se manter no cargo - graças à imensa exposição que ela terá na campanha na TV e aos programas sociais que sustentam uma formidável base de clientes do PT -, a presidente não terá mais autonomia para imprimir o seu estilo de governar. A mensagem da cúpula do partido serve tanto para Dilma quanto para o eleitorado, ressabiado com a possibilidade de que a presidente, uma vez reeleita, imponha de vez uma agenda vinculada às suas convicções ideológicas, que hostilizam o capital e desconfiam da democracia representativa.

O dirigente petista afirmou que, até agora, Lula procurou não se intrometer, para que Dilma "se afirmasse". Foi, segundo suas palavras, um "distanciamento planejado e deliberado". Não que Lula tenha deixado de se imiscuir em assuntos que diziam respeito apenas à sua sucessora ao longo do primeiro mandato. Ele teve de aparecer várias vezes para apagar incêndios políticos diante do notório alheamento da pupila em relação ao Legislativo, incluída aí a própria bancada do PT.

Lula também deu pitacos sobre a política econômica. Em algumas oportunidades chegou a ser absolutamente direto: "Nós poderíamos estar melhor, e a Dilma vai ter que dizer isso na campanha claramente: como é que a gente vai melhorar a economia". Além disso, Lula incluiu no governo de Dilma olheiros de sua estrita confiança, como Gilberto Carvalho e Ricardo Berzoini, ministro de Relações Institucionais.

Agora, porém, a intenção, a julgar pelo que declarou Falcão, é ir além. Lula e a cúpula do PT farão de tudo para limitar o raio de atuação de Dilma e, portanto, tentar reduzir os danos eleitorais causados pelo desgoverno de sua administração, que criou um fosso entre a Presidência e o Congresso, os empresários e a classe média.

Como se Dilma fosse uma "trainee" no Planalto, Falcão disse que ela fará um segundo mandato melhor do que o primeiro porque "aprendeu muitas lições". A principal delas talvez tenha sido a de que, como criatura de Lula, não é possível se libertar dele.

Por que acionista da Petrobras reage a pesquisas - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 13/08


Atingida pelo escamoteamento de inflação e envolvida pela corrupção, devido ao aparelhamento de que tem sido vítima, a Petrobras é um dos temas da campanha eleitoral



A Petrobras continua a mostrar nos balanços o tamanho da sangria causada pelo descompasso entre o preço dos combustíveis no posto e seu custo. No segundo trimestre, o lucro da empresa, de R$ 4,9 bilhões, caiu 20% em relação a idêntico período de 2013. Mais uma vez, a presidente da Petrobras, Graça Foster, se referiu à necessidade de reajustes para acabar com esta defasagem.

O assunto é tão vital para a companhia e, por consequência, seus acionistas, que o fato de a presidente Dilma ter feito vaga menção a um aumento, possibilidade referendada pelo diretor financeiro, Almir Barbassa, elevou as ações da estatal, segunda-feira, em 3,47% (ON) e 4,3% (PN).

Movimento idêntico tem acontecido quando há sinalização em pesquisa eleitoral de que Dilma poderá ser substituída no Planalto. Afinal, por impor à empresa o pesado ônus do subsídio aos combustíveis, por razões eleitorais, Dilma deixou de ser confiável para os acionistas minoritários da empresa.

O Planalto faz o mesmo com o setor elétrico, desarticulado para que as tarifas não reflitam o custo real da energia numa fase crítica de falta de chuvas e, por isso, de necessidade de que as termelétricas, de custo operacional elevado, sejam mantidas ligadas durante todo o tempo. Se nos combustíveis o subsídio explode no caixa da Petrobras, na energia elétrica ele é bancado por repasse do Tesouro — leia-se, aumento da dívida pública — e empréstimos bancários exóticos, a serem pagos nas contas de luz, depois das urnas de outubro.

Preocupação do mesmo tipo tem o governador tucano Geraldo Alckmin, candidato à reeleição em São Paulo, ao não formalizar, como é necessário, algum racionamento de água na região metropolitana da capital. Em nome da vitória em eleições faz-se o diabo, no PT e no PSDB.

A indevida crítica pública do PT, do ex-presidente Lula e da presidente Dilma a analistas do Santander, por terem mencionado, em análise para correntistas, esta relação entre cotação de ações da Petrobras e pesquisas, foi desastrosa. Para o banco, atingido em sua imagem por ser tíbio e aceitar a crítica e demitir os analistas. E para Lula, partido e Dilma, ao exporem uma faceta autoritária. Tudo isso inútil, porque a relação existe. Pois, como mostram os números, a estatal tem sido mesmo bastante penalizada por esse subsídio.

E é possível que a subordinação da Bolsa a pesquisas eleitorais aumente ainda mais depois da entrevista do candidato do PSDB Aécio Neves ao Jornal Nacional, na terça, em que ele afirmou que, eleito, realinhará os preços de combustíveis e energia, contidos artificialmente pelo governo Dilma.

Atingida pela política de encobrimento de inflação praticada pelo Planalto e envolvida em casos de corrupção devido ao aparelhamento de que tem sido vítima, a Petrobras está escalada para ser um dos temas da campanha presidencial.

Governo insiste no consumo - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 13/07

Sem saber ao certo o que fazer para evitar que se confirmem as previsões de mais um ano de baixo crescimento - as últimas projeções do mercado são de que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça menos de 1% em 2014 -, o governo Dilma Rousseff prepara mais uma medida tópica. E novamente demonstra sensibilidade para com os setores que conseguem pressionar com eficácia, ainda que os benefícios a serem concedidos apontem para alvos distantes das verdadeiras causas do problema.

A produção da indústria automotiva despencou 17,4% nos sete primeiros meses deste ano em relação a janeiro/julho de 2013. Somente em julho, a queda foi de 20,5% e várias montadoras estão demitindo ou apelando para férias coletivas e dispensas temporárias de pessoal. Pior: o principal mercado importador de nossos carros, a Argentina, está em crise.

À falta de uma política horizontal de estímulos à atividade econômica, esse argumento das montadoras é o que mais tem abalado os alicerces do Planalto. Por isso, a equipe econômica está há semanas envolvida em novo pacote de ajuda ao setor. O problema é que o governo já gastou demais durante o ano, além de ter ido longe na renúncia fiscal, inclusive para incentivar a realização do sonho do carro na garagem das classes C e D.

Resta então incentivar mais uma vez o crédito. Também aí há um problema: os bancos estão arredios. Por mais que isso irrite o ministro da Fazenda, Guido Mantega, não se trata de má vontade ou de conspiração. É que motivos não faltam às instituições bancárias. Elas já perceberam que a farra da expansão do crédito acabou.

Por ser um dos principais motores da economia, a expansão do crédito é positiva. Mas, como ocorre com os remédios eficazes, tudo depende da dose. De 2003 a 2013, o crédito do setor financeiro para as famílias e as empresas dobrou, passando de 24% para 56% do PIB. Para a realidade de um país ainda pobre, essa dose foi excessiva e resultou em perigosa elevação do endividamento das famílias como proporção do orçamento que, segundo dados do Banco Central, pulou de 18,3% para 46%, entre janeiro de 2005 e março de 2014.

Duas consequências disso eram (ou deveriam ser) previsíveis. A primeira foi o comprometimento da renda das pessoas para o pagamento dessas dívidas (subiu de 15,6% para 21,4% do orçamento familiar nesse período). A segunda é pior ainda: a inadimplência vem crescendo no país e, ontem, a Serasa Experian, empresa especializada em análise de crédito ao consumidor, revelou que o calote subiu 11% em julho na comparação com o mesmo mês de 2013.

O governo está até mesmo estudando uma forma de facilitar a tomada pelos bancos do bem financiado que o consumidor não conseguiu pagar. O Planalto insiste em fazer de tudo pelo consumo. É mais um remendo na equivocada condução da política econômica, que se esgotou e está levando o país à recessão. Sobra a constatação de que é preciso trocar o intervencionismo improvisado pelo estímulo consistente ao investimento e ao aumento da produtividade.

É a produtividade - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 13/08


Para o Brasil crescer mais, não basta criar empregos; é preciso tornar a mão de obra mais qualificada, o que passa por um salto educacional


Depois de acelerar para 4% ao ano, em média, durante o segundo mandato do presidente Lula (PT), o PIB retomou, nos últimos anos, seu enervante ritmo de tartaruga. Na administração Dilma Rousseff (PT), a alta anual será inferior a 2%.

Num aparente paradoxo, a geração de empregos manteve-se positiva até o ano passado, com razoável crescimento da renda. De 2007 a 2013, criaram-se 9,4 milhões de postos formais no país. Se o mercado de trabalho se expandiu tanto, por que não o PIB?

A série de reportagens "O Brasil que trabalha", publicada por esta Folha, ajuda a compreender a dificuldade do país para crescer mesmo num contexto de expressivo avanço do emprego e da renda.

Ocorre que, do total de vagas geradas nesse período, metade corresponde aos dez setores de menor qualificação, que têm índices baixos de produtividade. São ocupações de pouca especialização, como ajudante em construções, faxineiro, vigilante e recepcionista. Somente o cargo de auxiliar de obras, por exemplo, teve 921 mil novos postos, quase 10% do total.

Não se pode subestimar o impacto benéfico de tais empregos. A formalização das relações de trabalho viabiliza a participação do cidadão na economia de mercado; a carteira assinada representa um passaporte para a conta bancária e o consequente acesso ao crédito, inclusive ao financiamento da tão sonhada casa própria.

Outro aspecto positivo é a diminuição do fosso social. Os salários de menor qualificação foram os que mais cresceram --oito vezes mais, na comparação entre trabalhadores com até quatro anos de estudo e os mais escolarizados, com 17 ou 18 anos de instrução.

Por outro lado, houve redução de vagas em setores que demandam maior qualificação, como operador de máquinas, supervisor administrativo e pessoal ligado à pesquisa. De modo geral, as categorias com escolaridade mais alta tiveram crescimento menor.

Esse padrão de criação de empregos, concentrado em ocupações menos qualificadas, não contribuiu para acelerar a produtividade da mão de obra como um todo, que cresceu menos de 1,7% ao ano de 2010 a 2013.

No fundo, o principal obstáculo à expansão da economia brasileira --mais que outros aspectos, como ambiente internacional e falta de investimentos-- continua sendo a falta de produtividade, que deriva, entre outros fatores, da baixa escolaridade.

O foco primeiro e último para um verdadeiro salto de desenvolvimento, portanto, deve ser a educação da mão de obra, que precisa estar voltada para as capacitações exigidas pela economia moderna.

Estatais emperradas - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S.PAULO - 13/08


O próximo governo terá de pisar no acelerador do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), se quiser desemperrar a economia nacional. Agirá ainda melhor se trocar esse programa fracassado e mal concebido por um planejamento sério da infraestrutura. A incompetência do setor público para fixar objetivos, elaborar projetos e investir foi comprovada mais uma vez com a redução dos investimentos das estatais no primeiro semestre. O total investido entre janeiro e junho ficou em R$ 44,6 bilhões, R$ 5 bilhões abaixo do valor aplicado um ano antes, segundo números do Ministério do Planejamento coletados pela organização Contas Abertas, especializada em finanças públicas. Os dados, segundo a organização, foram atualizados com base no Índice Geral de Preços da Fundação Getúlio Vargas.

O orçamento de obras e compras de equipamentos das estatais foi reduzido de R$ 118,3 bilhões, no ano passado, para R$ 105,9 bilhões, neste ano. A maior parte da execução deve caber, como tem sido normal, aos grupos Eletrobrás e Petrobrás. Pelo relatório do Ministério do Planejamento, a Petrobrás investiu R$ 39,1 bilhões no primeiro semestre, 12,1% menos que o valor acumulado até junho de 2013. O balanço publicado pela empresa na sexta-feira passada mostrou um número pouco maior, R$ 41,5 bilhões.

De acordo com os números da estatal, o valor deste ano ficou 6% abaixo do contabilizado nos primeiros seis meses do ano passado. De toda forma, houve um recuo considerável. Se a empresa fosse administrada normalmente, segundo padrões internacionais, a tendência seria de aumento.

Mas a gestão da Petrobrás há muito tempo deixou de ser normal. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva forçou o grupo a servir a seus interesses políticos e, de modo especial, à diplomacia econômica baseada em padrões petistas. Nada mais poderia justificar, por exemplo, a imprudente e custosa orientação bolivariana seguida pela empresa. O mal planejado investimento na Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, é parte dessa história. A prometida participação da PDVSA nunca se concretizou, apesar da aliança do governo brasileiro com o regime implantado na Venezuela por Hugo Chávez.

O controle de preços dos combustíveis, como forma de conter os índices de inflação, também prejudicou a empresa e reduziu sua capacidade de investir. Outro efeito da ingerência política na gestão da empresa foi a expansão de seu endividamento. Dirigentes da estatal continuam defendendo o alinhamento dos preços com os valores internacionais, mas ainda sem resultado.

Pelos números do Ministério do Planejamento, a Petrobrás investiu no primeiro semestre 46,3% do previsto para o ano. Pelo relatório da empresa, a parcela correspondeu a 49,1% do previsto - resultado razoável só na aparência, já que a soma aplicada um ano antes foi maior em termos absolutos.

O desempenho da Eletrobrás foi bem pior. De acordo com os números do Planejamento, o investimento até junho, de R$ 2,5 bilhões, foi pouco superior a um quarto do previsto para 2014. O total estipulado para o ano (R$ 9,9 bilhões) é bem menor que o fixado para 2013. Dos R$ 11,7 bilhões programados para o ano passado, apenas R$ 2,4 bilhões, ou 20,8%, foram executados nos primeiros seis meses. A Eletrobrás, segundo a organização Contas Abertas, nega a redução orçamentária e os dados de investimento publicados pelo Ministério. Para este ano, segundo a empresa, o total previsto - incluindo-se os números das controladas e dos programas em parceria com o setor privado - é de R$ 14,1 bilhões. Mas o total realizado na primeira metade do ano, R$ 4,6 bilhões, continua bem longe da meta anual. Também a Eletrobrás foi prejudicada pela política de preços. As tarifas caíram 20% quando a presidente Dilma Rousseff decidiu reduzir as contas de luz.

Ontem, quando o balanço de investimentos apareceu no site de Contas Abertas, a presidente Dilma Rousseff revisitou um trecho da Ferrovia Norte-Sul inaugurado em maio com três anos e meio de atraso. Qualquer esforço vale para mostrar o sucesso do PAC.


COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

“Eu não sou mulher que seja comprada”
Roseana Sarney sobre denúncias que ligam seu governo ao doleiro Alberto Youssef


LAVA JATO: CÚMPLICES TEMEM ‘STRESS’ DOS PRESOS

Informações de que os onze presos na Operação Lava Jato, da Polícia Federal, estão “estressados” preocuparam políticos e empresários vinculados ao esquema de corrupção pilotado pelo doleiro Alberto Youssef. Na cadeia há 150 dias (completados nesta quarta), os presos estariam “no limite emocional”, por isso os cúmplices temem acordos de delação para redução de pena ou para responder em liberdade.

TAMOS AÍ

Cúmplices influentes no caso Lava Jato oferecem assistência aos familiares dos presos para mantê-los calmos e garantir a “blindagem”.

LÍNGUA LETAL

Dos presos, o impaciente ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, é de longe a língua mais temida pelos donos de grandes empreiteiras.

ARQUIVOS VIVOS

Além de Youssef, os doleiros Nelma Kodama e Carlos Habib Chater estão presos há quase 5 meses. Outro, Raul Henrique Srour, foi solto.

À BEIRA DE UM ATAQUE

Seguem presos Carlos Alberto Costa, Iara Galdino, André Catão, André Santos, João Procópio Almeida Prado, Ediel Viana e Renê Pereira.

CONTRIBUINTE PAGOU VIAGENS DE EX-PRIMEIRA-DAMA

Mulher do ex-governador Paulo Hartung (PMDB-ES), Cristina Maria Soares Gomes, gastou sem piedade na última gestão do marido, de 2007 a 2010: foram R$ 83,7 mil em viagens no Brasil e no exterior. Os maiores gastos da ex-primeira-dama foram com passagens para Paris, Xangai, Cingapura, Beijing, Frankfurt, Berlim, Cologne, Houston e Nova York, que custaram R$ 47,7 mil ao bolso do contribuinte.

DOCUMENTADO

O custo das viagens da ex-primeira-dama foram informadas pela Casa Militar, sob requerimento, ao deputado estadual Sandro Locutor (PPS).

TOUR NO MUNDO

O tour da ex-primeira-dama capixaba foi realizado entre 15 e 26 de maio de 2008, 22 a 31 de agosto de 2008 e em fevereiro de 2010.

HOTÉIS DE LUXO

Só em diárias, de 2007 a 2010, Cristina Gomes gastou o total de R$ 9,6 mil. Pagou diária em hotel de luxo, no Rio, no valor de R$ 812,26.

LIGAÇÕES PERIGOSAS

Citado pela ex-contadora do doleiro Youssef, João Abreu não foi só chefe da Casa Civil do governo de Roseana Sarney, no Maranhão. É sócio do marido dela, Jorge Murad, no Jacaraty Shopping. Outro citado, João Bringel, secretário de Planejamento, era homem forte do governo.

DOAÇÃO

Dona do helicóptero usado pelo deputado Luiz Argôlo (SDD-BA), sócio do doleiro Alberto Youssef, a empresa Multimedica doou R$ 50 mil à campanha de Ademar Delgado (PT) a prefeito de Camaçari, em 2012.

É ELE, PEGA!

O ex-diretor Nestor Cerveró, que depõe na CPMI da Petrobras nesta quarta, foi o autor do “resumo-executivo” ao conselho de administração da estatal, conforme revelou Dilma, omitindo cláusulas que fizeram o Brasil pagar US$ 1,3 bilhão pela refinaria que valia US$ 42,5 milhões.

LAVADEIRA EM PESSOA

Integrantes da CPMI da Petrobras chamam Meire Poza – ex-contadora de Alberto Youssef – de “lavadeira em pessoa”. Ela era responsável por emitir notas fiscais para o doleiro e revelou detalhes do esquema.

MINISTRO BRUNO

Políticos que ainda podem ser encontrados em Brasília marcarão presença no Tribunal de Contas da União, nesta quarta-feira, para a posse do novo ministro Bruno Dantas. A solenidade começa às 10h.

TÁ FEIA A COISA

O governador Cid Gomes (Pros) anunciou racionamento de água em várias cidades do Ceará. Com problemas de seca, ele também decidiu remunerar agricultores que não cultivem a terra para poupar água.

AH, BOM

O deputado Antônio Reguffe (PDT-DF) diz que, ao contrário do afirmam os adversários, suas aplicações financeiras é que somam R$ 900 mil e não seu patrimônio, que evoluiu de R$ 1,8 milhão para R$ 2,8 milhões.

GENTILEZA

Segunda (11) à noite, no voo da TAM São Paulo-Brasília, um cidadão gentil, com trajes simples, suéter vermelho no pescoço, ajudou um casal a colocar as malas no bagageiro, acima das poltronas. Era Celso de Mello, ministro do Supremo Tribunal Federal.

É BOLA

Ebola que nada... É bola o grande trauma dos brasileiros, este ano, após os 7x1 da Alemanha.


PODER SEM PUDOR

INSETOS E POLÍTICA

Governador de São Paulo, Franco Montoro, era conhecido pelas gafes, por confundir nomes e pessoas. Certa vez, em uma cerimônia no Palácio dos Bandeirantes, ele reconheceu um político do interior conhecido por Mosquito. Simpático, abraçou o homem e, após os cumprimentos, ficou em silêncio. Não se lembrava do nome, nem do seu município. Perguntou:

- Como é que está sua cidade, Formiga?