sexta-feira, junho 20, 2014

O Nacional-Socialismo Petista - REINALDO AZEVEDO

O GLOBO - 20/06

O PT pode se perder nos fatos, e está perdido, mas sempre se arranja nas versões


Sim, eu estava perplexo com o "Dilma, vai tomate cru"! Pensava: "O que aconteceu com o povo cordial dos que não leram Sérgio Buarque de Holanda e dizem que o nosso povo é cordial?". Muitos cronistas se arrepiaram de emoção com o hino a capela e de horror com o protesto, especialmente porque quem cantou uma coisa também cantou outra. Deve ser bom se arrepiar por tão tolos motivos... De súbito, apareceu o coro dos Catões dispostos a moralizar a República, rebaixando os torcedores a uma "elite branca sem calo na mão". Houve até quem pedisse desculpas a Dilma em nome dos brasileiros! Em meu nome? Não endosso xingamentos. Mas eu é que espero que a Soberana se desculpe por ter usado o meu dinheiro para tirar uma casquinha eleitoral da Copa. Ela não tem o direito moral de recorrer à Rede Nacional para não ouvir o Itaquerão.

O PT pode se perder nos fatos, e está perdido, mas sempre se arranja nas versões. Esta semana foi tomada por uma avalanche de notícias assegurando que as vaiais foram excelentes para a presidente porque ela pôde, assim, exercer o poder da vítima. Não é Nietzsche, mas malandragem política. As vaias e os xingamentos teriam servido à estratégia petista de fazer a luta do "nós" (a turma do amor) contra "eles" (a turma do ódio). Então tá!

Se assim é; se, há tempos, os petistas esperavam uma boa notícia para a campanha eleitoral, e se as vaias e os xingamentos ajudaram o PT a encontrar um discurso, o que dizer? Vai ver os companheiros decidiram se comportar como Odorico Paraguaçu, de "O Bem-Amado", de Dias Gomes. Quando ele queria um pretexto para empastelar o jornal da oposição, mandava pichar na parede: "Odorico é ladrão". Se as ofensas são um ativo eleitoral, quanto mais, melhor! O PT me obriga a ser binário: então quem vaia vira cabo eleitoral de Dilma. Qual é a razão do chororô?

É evidente que o lado positivo da vaia é cascata. Essa versão é obra de "spin doctors", cujo trabalho só é efetivo quando conta com a opinião abalizada de "especialistas" e com a sujeição voluntária ou involuntária da imprensa.

No dia seguinte à vaia, o PT e suas franjas no jornalismo e no subjornalismo a soldo já espalhavam a versão de que a hostilidade era obra da "elite branca", em conluio com a oposição e com a imprensa. Desta feita, o partido inovou. O sr. Alberto Cantalice, seu vice-presidente, publicou no site da legenda uma primeira lista de profissionais do mal: Reinaldo Azevedo, Augusto Nunes, Diogo Mainardi, Lobão, Demétrio Magnoli, Danilo Gentili, Guilherme Fiuza, Marcelo Madureira e Arnaldo Jabor.

Segundo ele, nossas "pregações nas páginas dos veículos conservadores estimulam setores reacionários e exclusivistas da sociedade brasileira a maldizer os pobres e sua presença cada vez maior nos aeroportos, nos shoppings e nos restaurantes", de sorte que "o subproduto dos pittbuls (sic) do conservadorismo teve seu ápice nos xingamentos torpes e vergonhosos à presidenta (...)" --aqueles mesmos que, dizem os próprios petistas, fizeram um imenso bem a Dilma...

É calúnia e difamação, mas isso é para o tribunal. Falas como a do sr. Cantalice têm história. Fiz uma tradução (is.gd/iOAfO5) do discurso proferido por Goebbels no dia 10 de fevereiro de 1933, 11 dias depois de Hitler ter assumido o cargo de chanceler. Seu alvo era a "imprensa judaica", que acusava de "ameaçar o movimento Nacional-Socialista". Advertiu: "Um dia nossa paciência vai acabar, e calaremos esses judeus insolentes, bocas mentirosas!" Cumpriu a ameaça.

À lista de Cantalice seguiu-se um previsível silêncio na própria imprensa --vai ver somos mesmo os "judeus insolentes" da hora. Mais uma advertência de Goebbels para quem está aliviado por ter sido poupado: "E, se outros jornais judeus acham que podem, agora, mudar para o nosso lado com as suas bandeiras, então só podemos dar uma resposta: Por favor, não se deem ao trabalho!'".

Pronto! Já escrevi o que queria, menos uma coisa: "Goebbels, vai tomate cru!".

Show de bola - NELSON MOTTA

O GLOBO - 20/06

Pobre Lula, que imaginou desfrutar da ‘sua’ Copa na Tribuna de Honra, assistindo à vitória da seleção e ovacionado pela multidão, vendo TV em São Bernardo com dona Marisa



Os estádios estão lindos e cheios, os jogos de ótimo nível, com muitos gols e surpresas, as torcidas animadas e pacíficas, as ruas fervilhando de gringos e de alegria. Independentemente da performance da seleção brasileira, a Copa é um sucesso. Quem ama o futebol está feliz.

Assaltos, arrastões, tiroteios, roubos e furtos, achaques policiais, saidinhas de banco, sequestros-relâmpago — o habitual cotidiano urbano brasileiro — sumiram dos noticiários e, aparentemente, das ruas. Com o Congresso em recesso futebolístico, cessam temporariamente as negociatas vergonhosas, as tenebrosas transações políticas e as propostas indecentes que prejudicam o país. Quem ama o Brasil está feliz.

Todo mundo que ama futebol e já foi a um estádio sabe que nada se compara a ver um jogo ao vivo, no meio do calor da torcida. Mesmo com todos os fabulosos recursos da televisão, o espetáculo no estádio ainda é insuperável. Enquanto a câmera apenas segue a bola, da arquibancada se vê a totalidade do campo e a movimentação dos jogadores, as manobras táticas e as possibilidades de jogadas e lançamentos, que são parte importante da emoção do futebol.

Agora que se pode assistir ao jogo no estádio ouvindo rádio e conferindo no celular os replays e os detalhes da transmissão da televisão — e ainda comentando cada lance com os amigos, um dos maiores prazeres do futebol, pelas redes — é show de bola.

Quem não deve estar tão feliz é Lula, que trabalhou tanto pela Copa e ajudou o seu Corinthians a construir um estádio, que adora futebol, mas não vai assistir a nenhum jogo porque tem medo de ser vaiado, como nos Jogos Pan-Americanos de 2007, embora atribua a vaia a uma conspiração de César Maia, que teria até treinado milhares de militantes da prefeitura para vaiá-lo… rsrs.

Pobre Lula, que imaginou desfrutar da “sua” Copa na Tribuna de Honra, assistindo à vitória da seleção brasileira e ovacionado pela multidão, vendo televisão em São Bernardo com dona Marisa. Para quem adora futebol não pode haver pior castigo.

A vaidade vai vencer a paixão? O que é uma vaiazinha diante de um jogão? Vai, Lula, vai!

Grandes jogos nos esperam - FERNANDO GABEIRA

O ESTADÃO - 20/06

Fiquei triste em 50 e pensei em torcer contra o Brasil em 70. Inutilmente.

Tenho várias Copas na bagagem. Esta é realizada no Brasil sem que os brasileiros fossem consultados. Mesmo assim nos envolve. Resistir é tão difícil como distribuir panfletos políticos nas vésperas do Natal - essa lição aprendi em dezembro de 68, protestando contra o AI-5.

Sigo a Copa como torcedor apaixonado, mas com uma ponta de razão anoto meus limites. Força, Brasil! Porém não posso comprar tudo o que o Neymar anuncia porque estaria quebrado em pouco tempo. Tampouco posso comer os frangos e lasanhas que o Felipão nos oferece na TV porque engordaria uns dois quilos nesta Copa.

Também sou brasileiro, mas não consigo achar, como os locutores de TV, ter sido uma indelicadeza escalar um árbitro japonês para apitar Brasil x Croácia. Afinal, ele expulsara Felipe Melo em 2010 na partida contra a Holanda, e o fez com absoluta correção. Por que despertaria más lembranças, por que deveria ser evitado? Yuichi Nishimura marcou um pênalti duvidoso a favor do Brasil. Agora consideram uma delicadeza escalá-lo para apitar nossos jogos.

Moreno como vocês, não posso embarcar nessa. Muito menos nos insultos a Dilma.

Sou oposição desde cedo, meio de 2003. Mas acho que as circunstâncias eram especiais. Uma abertura de Copa do Mundo revela um pouco o País. Não precisava uma festa tão mixuruca. Nem, por mais ásperos que sejam os estádios, dizer aquilo a uma senhora, em voz alta, diante de bilhões de espectadores.

Capitão do time que trouxe a Copa ao Brasil, Lula assistiu ao jogo diante de uma televisão, possivelmente na tranquilidade do lar, ou num refúgio petista.

Não se xinga uma senhora, mas também é preciso alguma eficácia para executar a tarefa de enfrentar um estádio num momento em que o País está enfurecido com a política. Dilma foi xingada em três estádios no início da Copa. No ano passado houve apenas o que chamamos de uma vaia básica. Ninguém notou gradação, a passagem de uma etapa para outra, que, aliás, já estava aparecendo em alguns shows musicais.

Tenho insistido na tese da separação radical entre políticos e a sociedade. O Brasil é um carro sem as molas da mediação parlamentar, sem o lubrificante do diálogo democrático: marcha aos solavancos. Mostramos isso ao mundo, ao vivo e em cores.

Em Brasília os políticos querem que o povo se estrepe, com um verbo começado com f. Nos estádios parcela do povo quer que os políticos tomem naquele lugar. É simples assim, apesar da vulgaridade do enunciado.

Pelos descaminhos da nossa História recente passamos a nos detestar. E pelos labirintos da nossa cultura erotizamos nossa antipatia recíproca. Supondo que os repórteres tenham o hábito de traduzir as coisas (era assim no passado), grande parte do mundo ficará sabendo a que ponto chegamos. E lamentará, como muitos brasileiros lamentam, que para tanto futebol tão pouco avanço político.

Quando um governante abraça a ideia da Copa do Mundo em seu país, pensa na sua própria glória. É irônico ser hostilizado na abertura do evento. Lula soube tirar o corpo da reta, deixando Dilma ouvindo frases que não se podem dizer diante das crianças. O ideal seria fingir que não houve nada, seguir com a festa. Nas minhas análises, a explosão de parte do público é o resultado de um longo processo de desgaste. Outros políticos que ali se apresentassem teriam destino semelhante ao de Dilma.

Lula e o PT não interpretam assim. Continuam se achando populares e bem-amados. Tanto que pretendem radicalizar, a julgar pelas notícias, caso vençam as eleições de novo. Eles acham, como Lula declarou, que os palavrões contra Dilma foram estimulados pela imprensa. Num momento de sua fala menciona o PT na oposição e diz que nunca fez o que fizeram com Dilma. Ora, a imprensa jamais defendeu xingar alguém, apenas despertou a curiosidade para a roubalheira entre o governo e aliados. E os gritos no estádio não podem ser atribuídos a algo organizado pela oposição.

Lula usou o episódio para fortalecer sua vontade de controlar a mídia e isolar a oposição. É uma reação clássica: supor que as coisas não andam bem por falta de mais repressão e controle.

A partir dessa lógica, é possível prever dias piores. O PT escolheu os culpados pela reação a Dilma e, como sempre, vai partir para cima. Não se pode dizer que seja uma saída brilhante. Mas foi Isaac Deutscher, na sua trilogia sobre Trotsky, que lembrou bem: as pessoas parecem burras, mas não são; apenas não têm mais margem de manobra.

Criar conselhos populares numa época informatizada, em que todos podem participar, faria Lenin mexer-se no túmulo, apesar de sua rigidez de corpo e alma. Em pleno século 21, estabelecer o controle da mídia e cair de pau na oposição vai ser muito difícil: pede quadros dispostos a matar ou morrer. Conheço apenas alguns no PT, assim mesmo sobreviventes dos anos 60. Será que a maioria deles, perdida em seus empreguinhos, seus gadgets, suas escapadas à Disneylândia, vai encarar essa tarefa, quase impossível hoje em dia?

No futebol temos visto a derrota de alguns favoritos, algumas zebras e até a humilhação de grandes times, como o da Espanha. Na política, o ano eleitoral está só começando. Com tantas Copas na bagagem e a lembrança das revoluções do século 20, é preciso sempre cantar para os detentores do poder o verso de Jimmy Cliff: "Ooh, the harder they come, the harder they fall, one and all". Quanto mais forte vierem, mais forte eles cairão, todos e cada um. O que a muitos pareceu um episódio marginal, o clima da abertura da Copa, com as pessoas cantando apaixonadamente o Hino Nacional e insultando a presidente, é um grande sintoma de mal-estar na vida cotidiana brasileira.

Vinicius falava da grande ilusão do carnaval: a gente trabalha o ano inteiro por um momento de sonho e tudo acaba na quarta-feira. Como no carnaval, tudo acaba com o apito encerrando a Copa. Aí virão os duros meses da ressaca e, lamento prever, o jogo feio e sujo do poder a qualquer custo. Quem seremos no final disso tudo, como revigorar a terra arrasada da nossa convivência política?

Grandes jogos nos esperam.

Pior do que empatar - LUIZ GARCIA

O GLOBO - 20/06

Em todo este mês, o Senado terá apenas três dias de trabalho. A Câmara, até agora, foi um pouco mais patriótica, com a programação de quatro exaustivos dias de sessões



Um mandato legislativo, pelo menos em tese, não é um prêmio concedido aos políticos do país por bom comportamento ou por seu prestígio junto ao eleitorado. Trata-se, simplesmente, de uma oportunidade para que mostrem seu empenho e sua eficiência na defesa dos interesses e esperanças da sociedade.

Coisa muito séria, portanto. E é desanimadora, portanto, a notícia, no jornal de quarta-feira, de que senadores e deputados federais, neste mês, trabalharão, respectivamente, apenas três e quatro dias. É muito pouco num país que, pode-se dizer, ainda está bastante longe de ser considerado pronto.

Nas duas casas do Legislativo, estavam previstas poucas sessões em junho e julho: 15 no Senado e 18 na Câmara dos Deputados. Era o suficiente, com sobras, para que os nossos legisladores se dedicassem também ao objetivo patriótico de torcer pela vitória do Brasil na Copa. No dia do jogo contra o México, em grande parte do Congresso simplesmente não houve expediente, com o pretexto de que o futebol causaria um incontornável engarrafamento de trânsito na cidade. Não é, claro, uma explicação aceitável: Brasília, principalmente na área de largas avenidas que abriga o Legislativo não impede o acesso dos seus membros ao local de trabalho.

Isso não impediu, claro, que senadores e deputados recebessem, integralmente, seus vencimentos mensais: a modesta quantia de R$ 26.700. E mesmo assim o chamado “calendário light” não está sendo obedecido. Em todo este mês, o Senado terá apenas três dias de trabalho. A Câmara, até agora, foi um pouco mais patriótica, com a programação de quatro exaustivos dias de sessões.

Não podemos ser reféns do extremismo - EDSON JOSÉ RAMON

GAZETA DO POVO - 20/06

A pergunta que não quer calar é: quem irá se responsabilizar pelas consequências da paralisação de uma cidade da relevância econômica de São Paulo, por exemplo, em função da greve promovida por uma categoria de trabalhadores, no caso os metroviários, em detrimento de milhões de outros, que, privados do transporte público para chegar a seus locais de trabalho, foram afrontosamente esbulhados em seu direito fundamental de ir e vir?

Diante do anárquico cenário dos últimos meses em várias cidades brasileiras, há quem busque na agricultura um velho símile para a melhor compreensão do que ocorre, lembrando que se colhe aquilo que foi plantado, e quase sempre em quantidades muito maiores do que foi semeado.

O pior dos desdobramentos recentes é que a colheita semeada nos últimos anos demonstra de forma indubitável a péssima qualidade dos frutos, em sua maioria degenerados pela ausência, especialmente da parte do governo da União, de autoridade e responsabilidade no combate e gerenciamento das crises instaladas aqui e ali.

Ainda está na memória a ameaça feita pelo MST de invadir dependências do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF), a fim de protestar contra o que classifica como leniência governamental na condução da reforma agrária. Diante da estupefação da cidadania tão vilipendiada na véspera, no dia seguinte um grupo de integrantes do MST liderados por João Pedro Stedile, peça-chave da coordenação nacional do movimento, cujos métodos não raro confundem liberdade de expressão com balbúrdia e agressão ao patrimônio físico, foi recebido em palácio por ninguém menos que a presidente Dilma Rousseff, para uma conversa em que não faltaram largos sorrisos e descontração, como se todos estivessem participando de fagueira roda de chimarrão. Em outro momento, o ex-presidente Lula chegou a vestir o boné do MST.

O cidadão honesto que empreende com o objetivo de contribuir com a geração de empregos e renda, além de arcar com sufocante carga tributária, indaga a seus próprios botões, sem obter a resposta, até onde irão os limites da insensatez e da frouxidão com que os transgressores são tratados, instigando categorias profissionais manipuladas por líderes impostos por vergonhosas chicanas, ou pela força bruta, a paralisarem serviços essenciais à população, como transporte, saúde, educação e segurança.

Dado emblemático da desfaçatez que se apodera das instituições foi registrado também em São Paulo, a dois dias do jogo de abertura da Copa do Mundo, quando dirigentes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) anunciaram o fim das manifestações que infernizaram a cidade nos últimos três meses. Para isso, bastou a presidente Dilma anunciar a mudança do Minha Casa, Minha Vida para viabilizar a construção de 2 mil casas no terreno onde está a Ocupação Copa do Mundo, em Itaquera.

A sensação é de que o país está sob risco de tornar-se refém de grupos com interesses escusos, estimulados não se sabe ao certo por quem a dar curso à tese do quanto pior melhor, ou seja, a desordem que penaliza a coletividade. Obviamente, isso reflete a exagerada complacência com que o governo trata os movimentos de minorias, desestabilizadores da ordem.

No clima de insolência aos postulados morais, decisões da Justiça são válidas e aplicáveis apenas sobre cidadãos comuns, e só em situações irreversíveis de transgressão à lei alcançam os espertalhões abrigados em instituições instrumentalizadas por partidos que parasitam o poder.

Por que essas coisas ainda acontecem em um país que está entre as principais economias do mundo? Somos uma democracia ou uma anarquia? Sem ordem não vamos a lugar algum. Não podemos permitir que a nação se submeta ao extremismo.

Quem representa a sociedade - CLAUDIO WEBER ABRAMO

FOLHA DE SP - 20/06

É uma virtual certeza que o governo coopte o sistema de conselhos e o use como caixa de ressonância para seus desígnios. É fácil controlá-los


Os confrontos propiciados pelo decreto presidencial que institui uma política nacional para a "participação social" têm servido para exibir a extensão a que chegou o enfraquecimento das instituições políticas.

Caso houvesse razoável segurança de que partidos e Legislativo representam a população, não haveria espaço para a hipervalorização do espontaneísmo que o decreto, embora aproveite, não inventou.

Tampouco haveria motivos para recear que investidas na direção da democracia direta viessem a ameaçar o processo republicano de representação pelo voto e consequente resolução parlamentar de conflitos de opinião.

É óbvio que qualquer governante pode consultar quem quer que seja a respeito de assuntos que lhe aprouver, não necessitando de autorização especial para fazê-lo.

Reciprocamente, ninguém pode proibir um governante de conversar com quem desejar. É também difícil enxergar como se poderia impedir que interlocutores sejam organizados em um "sistema", conforme o decreto estabelece, desde que não se pretenda, com tudo isso, transformar exercícios consultivos em mecanismo deliberativo, ou quase isso.

O risco de que o sistema venha a ser usado pelos governantes para passar por cima do Parlamento só existe porque os verdadeiros representantes da sociedade civil, a saber, os indivíduos eleitos em eleições universais, pouco representam segmentos sociais.

Nunca é demais frisar que ONGs, "coletivos" etc. não são "representantes da sociedade civil", como tantos de seus integrantes apreciam dizer de si próprios e muitos mais ecoam sem reflexão. Essas organizações representam interesses variados, os quais, a despeito de sua possível respeitabilidade, não são necessariamente compartilhados por massas populacionais relevantes.

Sem esquecer que ONGs são notoriamente vulneráveis a captura por interesses partidários, governamentais, religiosos, empresariais e corporativos. Muitas não são capturadas, mas muitas são.

Seja o que for que ONGs proponham, isolada ou coletivamente, decerto merece ser ponderado, mas nunca tomado como reflexo acabado da "vontade popular". No caso em questão, é uma virtual certeza que o governo coopte o sistema de conselhos e o use como caixa de ressonância para seus desígnios.

É de fato muito fácil controlar conselhos. Alguns anos atrás, a Controladoria-Geral da União realizou um estudo sobre eficácia de conselhos gestores de políticas públicas, cuja existência é obrigatória em Estados e municípios para planejar e acompanhar a aplicação de dinheiro de transferências constitucionais (saúde, educação etc.).

Resultado: mais de 90% desses conselhos são inoperantes. Auditorias do Tribunal de Contas da União apontam na mesma direção. Pesquisadores que estudaram o assunto apontam como principais motivos para isso a baixa qualificação dos conselheiros e a facilidade com que são cooptados pelo Poder Executivo.

É claro que é péssimo que conselheiros sejam incompetentes e que prefeitos e governadores neutralizem organismos que existem para vigiá-los. Lamentá-lo, contudo, não muda a realidade.

Se os partidos políticos e o Parlamento brasileiros se aproximassem daquilo que o desenho republicano preconiza, não haveria por que recear atropelamentos e o decreto planaltino poderia, com mais plausibilidade, ser tomado por seu valor de face --propiciar uma comunicação mais ágil entre anseios fracionados e aqueles que tomam decisões administrativas no Executivo.

De modo que o problema em mãos extrapola em muito o decreto em si, originando-se na crise de representatividade política que o Brasil vive.

Há, naturalmente, uma multiplicidade de razões que explicam essa crise. Os próprios diagnósticos diferem entre si, como também diferem os remédios sugeridos. O que não se pode é ignorar a existência da crise.

Ilusionismo com contas de padeiro - ROGÉRIO FURQUIM WERNECK

O GLOBO - 20/06

A presidente Dilma recorre a truque grosseiro para subestimar a relevância dos gastos com a Copa do Mundo



Nas últimas semanas o país tomou conhecimento de duas contas de padeiro que, devido a razões distintas, merecem cuidadosa atenção.

A expressão ganhou destaque na mídia desde que foi usada por Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, para explicar a diferença abismal entre os US$ 2,5 bilhões, em que foi inicialmente orçada a Refinaria Abreu e Lima, e os mais de US$ 18 bilhões que afinal serão gastos no projeto. O que o ex-diretor alegou é que, de início, a Petrobras estava muito mal informada sobre quanto de fato custaria a nova refinaria. E que os US$ 2,5 bilhões teriam resultado de uma simples conta de padeiro.

A outra conta que merece consideração foi a apresentada pela presidente Dilma Rousseff, há poucos dias, em pronunciamento oficial à nação, para tentar desmistificar a ideia de que os investimentos necessários para a realização da Copa do Mundo no Brasil poderiam ter tido uso mais defensável, se destinados à educação e à saúde.

É bom deixar claro que não há nada de errado com contas de padeiro. Muito pelo contrário. A expressão alude a contas rabiscadas em papel de embrulho de padaria, mas é usada para designar qualquer conta feita às pressas, no primeiro papel ao alcance da mão. E é exatamente essa a conotação da expressão equivalente em inglês, cuja tradução literal faz perfeito sentido em português: conta de verso de envelope.

Em muitas áreas, profissionais se veem com frequência obrigados a recorrer a contas de verso de envelope para obter, a partir de hipóteses simplificadoras e valores plausíveis de variáveis e parâmetros, estimativas preliminares aceitáveis de resultados que, em princípio, exigiriam cálculos bem mais rigorosos. Inclusive em áreas especialmente respeitáveis. Entre os físicos, é bem conhecido o talento especial com que o famoso físico nuclear Enrico Fermi sabia recorrer a contas de verso de envelope para obter estimativas aceitáveis de resultados de problemas extremamente complexos.

O que há de tão errado com as duas contas mencionadas acima? A alegação do ex-diretor da Petrobras é de que teria havido só incompetência na conta de padeiro que levou à estimativa inicial de quanto custaria a Refinaria Abreu e Lima. Na verdade, as investigações têm mostrado que houve muito mais. E revelado, com riqueza de detalhes, aspectos tenebrosos do lado escuro do modo de gestão petista.

O mais preocupante é quão longe foi a construção da refinaria com base nessa mera conta incompetente de padeiro. Sabe-se agora que, bem antes de contar com um estudo de viabilidade econômico-financeira, a refinaria já havia sido contemplada com um financiamento de R$ 10 bilhões do BNDES.

Na conta de padeiro apresentada pela presidente Dilma, a incompetência adveio de indisfarçável e mal-intencionada manipulação marqueteira. A opção relevante era entre construir estádios, de um lado, e escolas, hospitais e postos de saúde, do outro. Mas em vez de comparar os supostos R$ 8 bilhões que foram gastos nos estádios da Copa comdespesas de investimento em educação e saúde, a presidente permitiu-se compará-los com despesas totais dos três níveis de governo com educação e saúde de 2010 a 2013. Despesas da ordem de R$ 1,7 trilhão, que, além de investimentos em educação e saúde, incluem, por exemplo, toda a folha de pagamento do funcionalismo ligado à educação e à saúde nas três esferas de governo.

A conta que faz sentido é a que foi feita por Gil Castello Branco (O Globo, 17/6): “O custo dos estádios equivale a dois anos de investimentos federais em Saúde ou à instalação de 2.263 escolas". Não seria surpreendente se, diante dessa conta honesta, a maioria do eleitorado ainda se mostrasse favorável à construção dos estádios. Mas a presidente não quis correr o risco. Para poder arguir de forma peremptória que a questão levantava um “falso dilema", preferiu apresentar uma conta ridícula que faz crer que os gastos com os estádios foram equivalentes a menos de 0,5% do investido em educação e saúde. Um espantoso desrespeito ao eleitorado.

O pior já passou? - ELIANE CANTANHÊDE

 FOLHA DE SP - 20/06

BRASÍLIA - A campanha oficial ainda nem começou (só a partir de julho), mas a convenção nacional do PT neste sábado (21/6) ocorrerá sob a sensação de que o pior para a candidatura Dilma já passou.

A tragédia anunciada reverteu para uma boa Copa, com estádios e aeroportos funcionando e protestos sob controle. Além, claro, de todo mundo estar satisfeito com o espetáculo em si: torcidas multicoloridas e pacíficas nas arquibancadas, muitos gols e grandes surpresas nos gramados.

Confirma-se, assim, a previsão palaciana de "reversão de expectativas" favorável a Dilma: esperava-se um fiasco, tudo, então, parece magnífico.

O PT e Dilma precisam, agora, de uma outra reversão de expectativas --na política. Se a candidata continua bem à frente dos adversários, a nova pesquisa CNI-Ibope comprova que a aprovação do governo e da presidente continua em queda e que o índice de confiança nela é menor do que o de desconfiança. Isso, é óbvio, tem peso imenso em reeleições.

Os bodes expiatórios que Lula e as duas cúpulas de campanha (a lulista e a dilmista) amplificarão na convenção são o "ódio ao PT", a "elite branca", a "direita perversa" e sobretudo a "mídia". Como se PT, governo e Dilma fizessem tudo certo...

Mas, nas reuniões a portas fechadas, em especial sem ouvidos e vozes dilmistas, o tom é outro: as culpas recaem também sobre a economia, os erros de gestão, os descuidos políticos e a teimosia de Dilma. Mais a Petrobras e os Andrés Vargas.

O pior, porém, passou. A Copa e os xingamentos revertem a favor, o Congresso entra em recesso, saiu "pacote de bondades" para a indústria e os aliados dão o tempo de TV. Daí em diante, a tese do "ódio ao PT" serve para justificar o "ódio a todo mundo" --a quem ouse criticar o PT, o governo, Dilma e Lula-- e para o ataque pesado contra a oposição.

Ok, mas o PT e a Dilma-presidente precisam parar de atrapalhar a Dilma-candidata.

Ilusão de ótica - DORA KRAMER

O ESTADÃO - 20/06

Não parou em pé uma semana a justificativa de que os insultos dirigidos à presidente Dilma Rousseff na abertura da Copa foram obra de ação orquestrada pela "elite branca" presente ao estádio.

E quem a derrubou foi o mesmo Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência da República, que em janeiro último pôs abaixo a versão oficial sobre os protestos de junho de 2013. Segundo o governo e o PT, a ebulição era produto do êxito das administrações petistas que tornaram as pessoas mais exigentes e o "Brasil mais forte", na expressão da presidente.

Na ocasião, Carvalho falava no Fórum Social, em Porto Alegre, e desabafou com franqueza sobre as manifestações: "Ficamos perplexos, fizemos tanto por essa gente e agora eles se levantam contra nós". Ele se dirigia a uma plateia amiga, como anteontem, quando disse a um grupo de blogueiros e militantes governistas que no Itaquerão "não tinha só elite branca".

Nesse movimento de duas avaliações diversas para um mesmo fato, o ministro relatou que viu "muito moleque" nas imediações do estádio falando palavrão. Pôde constatar, portanto, que "a coisa desceu".

Por "coisa" ele entende o seguinte: "A história de que não combatemos a corrupção, que aparelhamos o Estado, que somos um bando de aventureiros que veio aqui para se locupletar".

Não é exatamente uma "história", mas sim o que se ouve em toda parte, de todo tipo de gente que nos últimos 12 anos viu o PT contrariar antigas bandeiras, proteger corruptos, abafar escândalos, se aliar ao que de pior existe na política, zombar da ética, ter sua antiga cúpula condenada à prisão, tratar a Petrobrás com desmazelo, ser tolerante com a inflação, irresponsável com o gasto público e governar pela lógica eleitoral.

Nessa mesma reunião, o ministro defendeu a tese para lá de controversa segundo a qual o governo perdeu a batalha da comunicação para a "mídia conservadora" porque não soube "fazer o debate" da maneira correta. Como não houve uma defesa competente, pelo raciocínio de Gilberto Carvalho abriu-se o espaço para a alteração da correlação de forças políticas que resulta agora na "eleição mais dura para o PT".

Ora, o que o PT mais teve nesses anos todos foi espaço nos meios de comunicação tanto para defesa quanto para ataque. Nos dois governos de Lula, o presidente discursava todos os dias. Quando o partido e o governo acharam desnecessário explicar suas propostas, ou apresentá-las à sociedade de qualquer maneira na base da pura enganação, como fez com os "pactos" de junho de 2013, foi em decorrência da soberba sustentada na certeza da popularidade inesgotável.

Esse mesmo governo que agora atribui suas dificuldades eleitorais à influência da "pancadaria" dos meios de comunicação quando estava com altos índices de aprovação jactava-se de "derrotar" sistematicamente a imprensa num combate que só existia na cabeça do partido e do Planalto.

As agruras, a mudança na correlação de forças referida por Gilberto Carvalho tem origem nos fatos. O acúmulo de desmandos formou um passivo em que a realidade venceu o marketing. Simples assim.

Às turras. O clima entre PT e PMDB em São Paulo desmente a assertiva da presidente Dilma de que o governo federal conta com "dois candidatos, Alexandre Padilha e Paulo Skaf" para enfrentar, juntos, a eleição no Estado.



Primeiro, o próprio Skaf tratou de dizer que na Pauliceia o PT é "adversário", e agora Padilha acusa o PMDB de ter plagiado o slogan de sua campanha e ameaça ir à Justiça.


Cesta básica. De um espectador engajado: "Dilma não precisa de mais tempo de televisão; precisa é de votos".

Caindo na real - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 20/06
Num ataque de "sincericídio" que desmontou o álibi de Lula, o ministro Gilberto Carvalho afirmou, diante de blogueiros chapa-branca e ativistas petistas, que "no Itaquerão não tinha só elite branca, não. Não fui pro jogo, mas estive ao lado [do Itaquerão], numa escola (.), fui e voltei de metrô. Não tinha só elite no metrô. Tinha muito moleque gritando palavrão dentro do metrô que não tinha nada a ver com elite branca"
Constatar a realidade é uma ação política muito mais eficaz do que criar uma realidade, é o que parece estar dizendo aos petistas o ministro mais ligado a Lula. A verdade é que o PT está tateando em busca de uma narrativa que compense as evidentes falhas do governo de Dilma Rousseff e até agora não encontrou.

Tentou primeiro a tática do medo naquela propaganda que ameaçava com o fim do mundo se Dilma perder a eleição e não colou. Inventou agora a campanha do ódio, jogando uma pretensa "elite intolerante" contra os "pobres e feios", revelando nesse ato falho o preconceito do próprio Lula.

Como o país não vive uma "luta de classes", essa tática também falhou, e o resultado da nova pesquisa Ibope divulgada ontem pela CNI demonstra que a vitimização da presidente não teve consequência na avaliação do governo, que sofreu queda em rigorosamente todos os quesitos analisados.

Já são, por exemplo, 52% dos brasileiros a dizerem simplesmente que não confiam na presidente da República.

Não seria a tentativa de transformar Dilma de gerentona exigente e rigorosa em uma senhora frágil e digna de pena que faria mudar o sentimento dos brasileiros.

A propósito da tentativa de vitimização por causa dos xingamentos a Dilma no Itaquerão, vale a pena abrir um parêntese para contar a história da reação do então presidente Itamar Franco ao xingamento de Lula, que o chamou de "filho da p..." em 1993, numa conversa com jornalistas.

Sagaz, o político mineiro soltou uma nota oficial em que chama Lula de "elitista e arrogante" e, em suma, dizia o seguinte: "Mesmo que minha mãe fosse uma p..., eu teria por ela o mesmo amor filial". Em matéria de vitimização, muito mais elegante do que o que os petistas tentaram fazer.

Como constatou Gilberto Carvalho, diante de militantes petistas atônitos, "a coisa desceu. Isso foi gotejando, de água mole em pedra dura, esse cacete diário de que inventamos a corrupção, de que nós aparelhamos o Estado brasileiro, de que somos um bando de aventureiros que veio aqui para se locupletar, essa história pegou. Na elite, na classe média, e vai gotejando, vai descendo".

É claro que o objetivo final de Gilberto Carvalho era, como sempre, atacar o que chamam de mídia: "Nós não fizemos o debate na mídia pra valer; nós passamos esse tempo todo com uma pancadaria diária que deu resultado.

E que resulta no palavrão para a Dilma".

De maneira enviesada, Carvalho está fazendo o mesmo que Alberto Cantalice, vice-presidente do PT e coordenador de redes sociais fez na página oficial do partido, nomeando alguns jornalistas como responsáveis em última análise pelos xingamentos a Dilma, numa atitude irresponsável que merece repúdio.

"Fazer o debate da mídia para valer" significa tentar por todos os meios aprovar o tal "controle social da mídia", o que dá margem a que se vincule a criação por decreto presidencial dos tais "conselhos populares" a uma tentativa repetida de aparelhamento pelo PT, desde que chegou ao poder central, das diversas instâncias institucionais do país.

A pesquisa CNI/Ibope divulgada ontem mostra que o governo Dilma está no momento vivendo uma crise que o coloca em pelo menos dois parâmetros que definem a impossibilidade de ser reeleito: a popularidade do governo da presidente Dilma Rousseff caiu de 36% em março para 31% em junho, computados aqueles que consideram o governo ótimo ou bom.

Há pesquisas que indicam que com menos de 35% de ótimo e bom é praticamente impossível se reeleger. A presidente Dilma Rousseff tem também o maior índice de rejeição entre os candidatos, com 43% afirmando que não votariam na petista "de jeito nenhum".

É unânime entre os especialistas que com uma rejeição igual ou maior que 40%, um candidato perde a condição de se eleger.

Pacote ruim e requentado - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S.PAULO - 20/06

Em mais um esforço para reconquistar o apoio do empresariado, a presidente e candidata Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, lançaram um pacote requentado de medidas para "reforçar", segundo a explicação oficial, "a competitividade da indústria brasileira". Alguns benefícios foram remodelados e poderão impor maiores custos ao Tesouro, mas o conjunto dificilmente produzirá resultados melhores que os obtidos nos últimos anos, quando a produção industrial ficou estagnada. Além disso, os investimentos têm permanecido na vizinhança de 18% do Produto Interno Bruto (PIB), muito abaixo do padrão observado em economias emergentes mais dinâmicas, incluídas várias sul-americanas. Antes do anúncio público das bondades, a presidente reuniu-se com 34 empresários no Palácio do Planalto.

"A gente podia ter eleição a cada seis meses", disse o presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato. A frase pode ter sido uma brincadeira, mas brincadeiras também contam verdades. Nem um marciano recém-chegado poderia desconhecer o sentido eleitoral do encontro e do pacote. Também ficaram evidentes a improvisação das medidas e a pouca ambição da pauta de reivindicações empresariais - algo do tipo "qualquer coisa é melhor que nada".

O componente mais velho do pacote é o Programa de Sustentação do Investimento (PSI), criado em 2009, quando o Brasil começava a emergir da recessão. A ideia inicial era usá-lo como instrumento de reativação econômica e abandoná-lo em seguida. Mas o PSI, prorrogado várias vezes, ainda deveria valer até o fim deste ano. O governo acaba de esticá-lo novamente, desta vez até o fim de 2015.

O Tesouro seguirá fornecendo o dinheiro e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) continuará, provavelmente, a aplicá-lo com a mesma eficácia dos últimos anos. Pode-se medir essa eficácia pelo baixo nível do investimento privado e pelo desempenho de uma indústria batida pelos concorrentes em todos os mercados - até na América do Sul e no Brasil.

Os números do comércio exterior e a participação crescente dos produtos estrangeiros no mercado interno mostram também a ineficácia do Reintegra, em vigor desde 2012. Na versão recauchutada, esse programa será permanente e garantirá ao exportador um benefício fiscal entre 0,1% e 3% do valor faturado. A alíquota será fixada anualmente pelo governo e ficará, neste ano, em 0,3%. Com essa medida, o governo contorna, mais uma vez, a tarefa muito mais complexa de propor e negociar uma reforma tributária.

Essa reforma é necessária para eliminar uma das principais desvantagens do produtor nacional diante dos competidores estrangeiros. Deveria servir também para eliminar a guerra fiscal entre Estados e racionalizar a tributação, mas nada disso ocorrerá, se depender da disposição do governo e da articulação do trabalho parlamentar.

Além de ser um pobre substituto para uma reforma tributária séria, o Reintegra beneficia, por enquanto, um número limitado de setores. Segundo o ministro da Fazenda, o governo poderá estudar a inclusão de outros segmentos da indústria, mas nada foi prometido. Também é limitado, por enquanto, o alcance da desoneração dos encargos trabalhistas. Antes do pacote dessa quarta-feira, o governo já se havia prometido tornar permanente essa desoneração.

Todos esses benefícios, permanentes ou passageiros, são retalhos mal costurados e tornam mais frágil e confuso um sistema fiscal já em más condições e especialmente prejudicado, nos últimos anos, pela contabilidade criativa.

Com a mudança do Refis, também anunciada, o governo reduziu o pagamento inicial exigido no refinanciamento de dívidas tributárias. Ampliou, portanto, o estímulo à sonegação, conhecido efeito do programa.

O resto também é o de sempre. A uniformização da margem de preferência para produtos nacionais, nas compras do governo, é mero protecionismo, sem efeito sobre a competitividade internacional. Favorece os acomodados, sem benefício real para a economia.


Convocar fantasmas - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 20/06

Pressões para a revisão da Lei de Anistia, a fim de que agentes públicos responsáveis por crimes cometidos na “guerra suja” travada, na ditadura, com grupos armados da esquerda sejam punidos na Justiça crescem à medida que, no trabalho da Comissão da Verdade, surgem revelações sobre aqueles tempos, feitas por militares e policiais que atuaram no aparelho de repressão política do Estado. Mudar esta lei, porém, não é apenas uma aberração jurídica, como também um erro político.

A chegada ao poder de partido mais à esquerda, o PT, no qual há vítimas da ditadura militar, colocou na pauta de discussões em Brasília mudanças na anistia de 1979. Antes, na Era FH, do PSDB, outro partido de esquerda, porém mais ao centro no mapa das ideologias, também perseguidos pelos militares assumiram cargos no Executivo e se elegeram para o Congresso, sem, no entanto, que os termos da anistia fossem contestados. Na gestão FH instituiu-se uma Comissão da Verdade e se aprovou legislação para se indenizarem vítimas da ditadura.

Em 2010, ação movida pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para alterar a lei e permitir o indiciamento de agentes públicos foi rejeitada pelo Supremo, por sete votos a dois. Confirmou-se, portanto, a amplitude do perdão concedido pelo Congresso, por proposta do último dos governos militares, do presidente-general João Baptista Figueiredo.

Vários argumentos embasaram o veredicto. Eles continuam válidos. Um deles: não bastasse a anistia ter sido aprovada livremente pelo Congresso, ela emergiu de uma negociação da oposição com os generais. Mais do que isso, uma negociação incluída como parte de um processo mais amplo de transição da ditadura para o retorno à democracia, sem violência e maiores transtornos institucionais.

A Lei de Anistia, portanto, não pode ser vista de forma isolada, fora do contexto de uma redemocratização sem turbulências, sem vencidos e vencedores. Embora ficasse evidente a derrota do projeto militar de poder, nutrido a partir de uma geração de tenentes na década de 20, quando patrocinaram rebeliões contra a República Velha.

Outro aspecto é que a Anistia, ao contrário do que aconteceu em alguns países da América Latina, não beneficiou apenas um lado. Ela foi recíproca. Revê-la é ir contra a ideia de que a concessão da anistia ampla pressupunha a impossibilidade de revanchismo. Este mesmo princípio é que permitiu que um dos políticos aliados aos militares, José Sarney, viesse a ser peça-chave na transição. Ele tem sido, não por acaso, fiel parceiro do PT.

A Lei, portanto, se assenta sobre uma construção política tal que revê-la para punir agentes públicos por crimes cometidos até 79 é como se fosse reaberto o processo de transição pacífica para a democratização. Como isto é impossível, a revisão se choca com a própria evolução da História. Não bastasse o movimento ir contra uma decisão do Supremo, acabar com a lei é convocar fantasmas de um passado já longínquo.

Trapalhadas argentinas - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 20/06
Se pudesse contar com a genialidade de Lionel Messi e com a reconhecida capacidade técnica dos demais jogadores de sua seleção para enfrentar os problemas que ameaçam atirá-la na vala comum dos párias do mercado financeiro, a Argentina certamente não estaria vivendo o pesadelo que a atormenta desde quarta-feira e que promete se estender por longo e sofrido tempo.
Mas, bem diferente do que ocorre no futebol, em que os argentinos construíram reputação de competidores eficientes, os atuais ocupantes da Casa Rosada, sede do governo, gostam de tomar decisões perigosas. Ora movidos por velho populismo herdado do peronismo, ora por puro voluntarismo, próprio dos latino-americanos mais inflamados, os Kirchner - primeiro Néstor e, depois, a viúva, Cristina - não param de dar exemplos que não devem ser seguidos por governantes sérios.

A história recente de equívocos portenhos começou em 2001, com um ato vendido ao povo como atitude corajosa: o governo anunciou o calote de sua dívida com bancos e instituições financeiras internacionais de aproximadamente US$ 100 bilhões. Nessa hora, sempre aparece um bando de sonhadores que acreditam ser possível dar o cano em quem teve a coragem de emprestar dinheiro ao país necessitado de financiamento e ficar tudo por isso.

Mesmo no Brasil, nos anos 1990, não faltaram economistas de formação dita desenvolvimentista e políticos que sabiam apenas que soava bonito e patriótico ser contra o pagamento da dívida do país e, em vez disso, usar o dinheiro para tirar parte da população da pobreza. Ou não foram às aulas de economia ou simplesmente não entenderam nada.

Cinco anos depois, a Argentina, vendo o erro que foi o calote, pois não tinha dinheiro nem para bancar suas importações nem muito menos para investir no desenvolvimento, abriu ampla negociação com os credores, resultando numa clássica reestruturação da dívida, com prazos definidos de pagamento em troca de um bom desconto (chegou a 70% em alguns casos).

Mas nem todos os credores aceitaram esse jogo. Um grupo deles, que tem a receber US$ 1,5 bilhão, foi à Justiça dos Estados Unidos para obrigar a Argentina com um "paga lo que debes". Na quarta-feira, o grupo ganhou em última instância todos os direitos, inclusive o de "sequestrar" pagamentos que a Argentina fizer em bancos norte-americanos. O pior é que um desses pagamentos vence em 30 de junho e fica desde já impedido.

É, pois, uma bela enrascada. Em vez de enfrentá-la com serenidade e transparência, o governo argentino inundou Buenos Aires com cartazes com os dizeres "Basta, abutres", aplicados sobre as cores da bandeira dos EUA. É uma tentativa de enganar o povo com o velho truque de desqualificar o oponente, mesmo que ele tenha sido alguém que confiou na Argentina e está apenas querendo reaver o dinheiro.

Pode render votos, mas nem de longe melhora a situação do país, que não soube aproveitar o tempo que ganhou sem pagar para melhorar a economia. Em vez disso, distribuiu benesses para garantir resultados eleitorais. Esse é um filme velho que sempre acaba mal.

Argentina pressionada - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 20/06

Decisão da Justiça dos Estados Unidos determina o pagamento de credores que não aceitaram renegociar dívidas após o calote de 2001


Foi uma bomba. Na segunda-feira, a Suprema Corte dos EUA rejeitou recurso da Argentina e manteve decisão da Justiça de Nova York segundo a qual a Casa Rosada deve pagar US$ 1,3 bilhão a alguns credores que não aderiram à renegociação da dívida externa do país, realizada entre 2005 e 2010.

São os chamados fundos "abutres", que mantêm papéis da dívida externa desde que a Argentina anunciou o calote, em 2001. Anos depois, o governo fez novos acordos em boa parte de seus compromissos internacionais: cerca de 93% de seus títulos, que totalizavam quase US$ 100 bilhões, foram trocados com até 70% de desconto.

Desde então a Argentina vem pagando a dívida reestruturada; além disso, o país procurou dar passos concretos para superar contenciosos com entidades e empresas internacionais. Eram esforços com vistas a normalizar suas relações financeiras com o restante do mundo e, assim, reabrir o acesso aos mercados e a novos meios para financiar seu desenvolvimento.

A decisão da Justiça americana, ao menos a princípio, turva o cenário. A sentença estabelece que o pagamento das parcelas fruto da renegociação --agendadas para o final deste mês-- deve ser simultâneo ao desembolso aos credores que ficaram de fora desse processo e obtiveram vitória judicial.

Se a Casa Rosada não quiser pagar esses antigos credores, estará configurado novo calote. Nesse caso, especula-se que o país ficará sujeito até a arrestos de bens em qualquer parte do mundo, algo incomum quando se trata de um Estado soberano. É fácil adivinhar o debate intrincado que se abrirá no plano do direito internacional.

Por outro lado, obedecer à determinação do Judiciário americano também tem consequências negativas. Todos os credores que não participaram da renegociação na década passada poderão pleitear o mesmo tratamento. Incluindo juros, a conta a ser quitada poderia chegar perto de US$ 15 bilhões --a Argentina tem US$ 28 bilhões em reservas internacionais.

O governo argentino mencionou a possibilidade de manobrar para levar as dívidas renegociadas à jurisdição de Buenos Aires, escapando da americana. Não seria algo simples, contudo.

Em seguida, manifestou disposição para negociar com os credores rebeldes. Ainda assim, há dificuldades: devido a cláusulas contratuais, na prática o governo não pode oferecer, até o fim deste ano, condições mais vantajosas do que as pactuadas entre 2005 e 2010.

Apesar da grita da presidente Cristina Kirchner, a verdade é que interessa à Argentina dar cabo dessas antigas pendências --e a Justiça norte-americana pode ter dado o impulso que faltava para forçar uma solução.

O decreto e a realidade - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S.PAULO - 20/06


Os sofismas são distorções da realidade. Captam um aspecto e extrapolam o seu âmbito, começam com uma meia-verdade e terminam com uma mentira completa. E esse é o percurso que o governo federal tem seguido na defesa do Decreto 8.243. Cria ele novos conselhos? Não. Se apenas criasse conselhos, não haveria maiores problemas. Seria "apenas" uma burocratização a mais na já burocratizada administração pública federal. Mas não foi isso que provocou reações contrárias a ele no Congresso. O decreto cria algo de extremo interesse dos atuais ocupantes do Poder Executivo - uma "política de participação social" gerenciada por ele.

É algo mais profundo do que a mera existência de conselhos, e o seu perigo reside nas segundas intenções. Nada é dito explicitamente. E o governo trata os seus opositores como ignorantes, alegando que existem conselhos desde 1937. Só para lembrar: 1937 foi o ano em que o Brasil mergulhou na ditadura do Estado Novo. É assim que quer defender o decreto?

O governo sustenta que é piada de mau gosto da oposição chamar o Decreto 8.243 de bolivariano. Infelizmente não é. Alegar que são conselhos consultivos é fugir do problema, escorregando novamente para o sofisma. Chávez e seus "muchachos" não estrangularam a democracia em seus países dizendo que assim o fariam. Sufocaram a democracia com as mais belas palavras, "conferindo o máximo poder ao povo".

É verdade que o decreto não iguala Dilma a Chávez. O decreto está vigente e isso não nos transformou ipso facto numa Venezuela. Mas o decreto traz no seu bojo a mesma lógica, idêntica retórica. "A representação tem muitos defeitos", afirmou o ministro Gilberto Carvalho. É óbvio, mas não pode ser um ato do Executivo o meio legal para corrigir essa representação, e ainda por cima encarregando o próprio Executivo de coordenar essa nova representação, com a sua "política de participação social". Aí está o problema.

Na cortina de fumaça que é a defesa do decreto pelo Executivo, afirma-se que a oposição está criando um problema político. Não se trata de um "problema político", mas de um problema institucional, que logicamente afeta a vida política. A questão institucional, em sua essência, é a vontade do Executivo de "alterar" (se vai piorar ou melhorar é uma questão sobre a qual cada um terá sua opinião) a forma de participação social. Ora, não cabe a ele "reequilibrar" representação política nem muito menos proclamar-se gerente dessa nova "política de participação social".

Representantes do governo afirmam que estão dispostos a dar todas as explicações necessárias ao Congresso. Até o momento, tiveram inúmeras oportunidades para fazê-lo, mas o que deles só se ouviu foi mais do mesmo. Na prática, dizem: "Acreditem em nós, não faremos nenhum mal à democracia representativa com a nossa política de participação social". As instituições de um país são organizadas para diminuir a arbitrariedade pessoal, não para criar feudos e atribuí-los a "bonzinhos". A constitucionalidade de um decreto não depende das declarações de boa intenção dos seus criadores. Decorre do que está posto no papel, e o que lá está não é nada republicano.

Não é o medo da voz popular que leva o Congresso a se opor ao Decreto 8.243. É o receio de que alguns, sob a batuta do Executivo, se sirvam dele para monopolizar a voz da sociedade. Uma rendição dos deputados e senadores a este ato da Presidência significaria ferir o mandato que a sociedade brasileira lhes conferiu. É seu dever garantir a pluralidade de vozes da população, não apenas alguns corais ensaiados.

Criar e organizar os Conselhos pretendidos por projeto de lei - como sugerem alguns congressistas - não resolve o problema. Por lei ou por decreto, a ideia é ruim e perigosa, porque atropela as instituições ao dar ao Executivo o direito de organizar - ou melhor, domesticar - a "participação social". Por lei, o máximo que o Congresso poderá fazer é maquiar a ideia, dando-lhe ares de respeitabilidade e legitimidade. Por isso, a emenda poderá ser pior do que o soneto.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

“Quem está preso tem pressa”
Ministro Luís Barroso (STF), novo relator do mensalão, levando euforia à Papuda


GERALDO ALCKMIN PRESSIONA KASSAB A APOIAR AÉCIO

O governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB) entrou na briga para convencer o presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, a quebrar o compromisso com o PT para apoiar a reeleição da presidente Dilma e apostar na candidatura do tucano Aécio Neves à Presidência. Em troca, Kassab sairia candidato a vice na chapa de Alckmin, que o apoiaria na disputa pela sucessão no governo paulista em 2018. 

COPA PARA QUEM?

Orientado por Aécio, Alckmin conversou com Kassab na última terça (17) logo depois do jogo da seleção brasileira contra o México. 

OFENSIVA 

Já Aécio se reuniu no domingo com Henrique Meirelles, ex-presidente do BC, a quem ofereceu a vice, mas só se levar junto o apoio do PSD.

CABEÇA DE MINHOCA

Lula culpa “os que nunca pegaram na enxada” pelos xingamentos a Dilma nos estádios. Ele deveria mostrar as próprias mãos primeiro.

MEU INGRESSO, MINHA VIDA

A venda ilegal de ingressos para jogos do Brasil na Copa do Mundo já virou piada em grupos do WhatsApp: tem cambista estudando “troca por imóvel”. 

MEDALHA DE GENOINO PODE RENDER DOR DE CABEÇA 

O comandante do Exército, general Enzo Peri, nem sequer foi amolado pelo Ministério Público Militar por não cumprir o dever de cassar, de ofício, a Medalha do Pacificador do mensaleiro José Genoino, mas está sujeito a rebordosa. O decreto 4.207/02 prevê a perda da medalha de agraciado que for condenado na Justiça por crime contra o erário. E o general corre o risco de ser enquadrado no Código Penal Militar (CPM).

OLHO VIVO, GENERAL

O CPM descreve como crime “retardar ou deixar de praticar ato de ofício”. A pena é de seis meses a 2 anos de detenção. 

ME ERREM

O general Enzo Peri se recusa a explicar por que preserva a honraria de um condenado cumprindo pena na Papuda por crime de corrupção.

SIM, SENHORA

Segundo quem o conhece de perto, o general Enzo Peri tem muito mais medo de uma bronca de Dilma do que de uma punição judicial.

SAINDO DE CENA

Joaquim Barbosa livrou-se do Supremo e do processo do mensalão, para flanar numa boa, mas adoraria não se livrar de uma candidatura em outubro próximo, caso fosse legalmente possível. 

ORBITANDO NA MAIONESE

Aposentado na sombra após o mico de plantar feijão no espaço para Lula ao custo de R$ 10 milhões para o contribuinte brasileiro, o astronauta-camelô Marcos Pontes mostra na internet vídeo “inédito” para a seleção em 2006, na estação espacial. 

COMPAÑEROS

Com o quase total desabastecimento na ilha, os correios de Cuba (sim, existem) pifaram, diante da avalanche de envios dos médicos cubanos do programa Mais Médicos no Brasil. São piores que a ECT, acredite.

O FEITIÇO DO TEMPO

A agenda do comandante Moura Neto, no site da Marinha, continua a mesma desde 17 de janeiro, quando teve audiência com o ministro da Defesa e se dedicou a “despachos internos”. 

NEM AÍ

O Itamaraty continua despreocupado, após a paralisação inédita dos contratados locais de 13 missões diplomáticas por melhores salários. O chanceler Luiz Figueiredo mandou procurarem a Justiça. E olhe lá. 

EM FAMÍLIA

Antônio Oliveira Santos, que há 34 anos se agarra como carrapato à presidência da Confederação Nacional do Comércio, já tem um plano B para as eleições à própria sucessão, caso se inviabilize: Pedro Nadaf, presidente da Fecomércio-MS, que, para ele, é um genro de sonho. 

CAIXINHA, OBRIGADO

A CUT já festeja novos filiados ao cofrinho: a Comissão de Constituição e Justiça aprovou projeto da deputada Fátima Bezerra (PT-RN) regulamentando a profissão de historiador só com diploma, claro.

ALTERNATIVAS

Restam três opções para vice, ao pré-candidato a governador do DF José Roberto Arruda (PR): José Frejat, ex-deputado ligado a Joaquim Roriz, a deputada Jaqueline Roriz, que, como Arruda, apareceu em vídeo recebendo dinheiro sujo, e a deputada Eliana Pedrosa (PPS).

PENSANDO BEM...

...Dilma prometeu “fazer o diabo” para ganhar a eleição, mas é a torcida brasileira que está aprontando como o capeta nos estádios.


PODER SEM PUDOR

O CORAÇÃO DE DINARTE

Diziam do senador Dinarte Mariz que ele tinha um grande coração, principalmente quando se deparava com algum conterrâneo do Rio Grande do Norte perdido em Brasília. Não faltavam aproveitadores. Certa vez, ele recebeu um sujeito contando um drama capaz de levar qualquer um às lágrimas. Dinarte se comoveu e ordenou ao incrédulo chefe de gabinete, com a voz ainda embargada:

- Arrume um cargo aí para esse pobre homem, e se possível de chefia.

- Mas, senador, ele não tem o primeiro grau, nem ler...

Ainda emocionado, Dinarte Mariz insistiu:

- Então aposente esse infeliz.