sexta-feira, junho 06, 2014

A reconstrução da política econômica - ROGÉRIO WERNECK

O ESTADO DE S.PAULO - 06/06

O melancólico apagar das luzes do atual mandato presidencial vem surpreendendo até mesmo quem jamais escondeu seu pessimismo sobre as possibilidades do governo Dilma Rousseff. O desempenho da economia deteriora-se a cada dia. Na esteira de um colapso na confiança de consumidores e investidores, o nível de atividade praticamente estagnou no primeiro trimestre. E está em queda no trimestre em curso. Já se estima que o crescimento do PIB em 2014 não chegue a 1,5%. O que deixaria a taxa anual média de crescimento da economia no governo Dilma Rousseff abaixo de 1,9%.

Apesar desse crescimento pífio, o quadro inflacionário segue preocupante. A inflação em 12 meses está prestes a ultrapassar o teto de tolerância da meta. Inflação de 7,5%, em 2015, em decorrência da inevitável descompressão de preços administrados que ocorrerá depois das eleições, é o que agora prevê um dos principais responsáveis pela desastrosa pajelança ministrada ao País sob o rótulo de "nova matriz macroeconômica" (entrevista de Nelson Barbosa, O Estado de S. Paulo, 29/5).

É bom não ter ilusões sobre a herança amarga com que terá de arcar o novo governo. Há pela frente uma complexa agenda de reconstrução da política econômica. E, dessa perspectiva, o cenário de reeleição da presidente só pode ser visto com enorme desalento. O governo mostra-se completamente despreparado para fazer o que precisa ser feito. Insiste em negar a necessidade de mudanças na política econômica. E, agarrando-se a um discurso primitivo e populista, que marca retrocesso de pelo menos 20 anos no debate econômico do País, vem denunciando qualquer proposta de mudança como defesa de arrocho salarial e desemprego.

A análise do cenário alternativo, de vitória da oposição na eleição presidencial, permite vislumbrar com mais clareza a agenda de reconstrução da política econômica que terá de ser enfrentada em 2015. É bom notar que, em meio às muitas dificuldades, haveria amplo espaço para uma colheita fácil de resultados iniciais importantes, com o anúncio de medidas que possam dar lugar ao choque de credibilidade que há muito tempo se faz necessário na condução da política econômica.

A simples nomeação de uma equipe econômica respeitável, que soubesse manter um discurso coerente e fosse capaz de restabelecer a sintonia entre as atuações da Fazenda e do Banco Central (BC), já faria grande diferença. Na área fiscal, a restauração da credibilidade do registro das contas públicas seria um grande avanço. Bastaria um anúncio singelo de encerramento definitivo do festival de truques contábeis que vêm pautando a política fiscal. Naturalmente, isso exigiria a desmontagem do gigantesco orçamento paralelo que, há muitos anos, o governo vem alegremente mantendo no BNDES.

A condução da política econômica em novas bases, aliada à percepção de efetivo compromisso do novo governo com a manutenção de regras estáveis, agências reguladoras bem tripuladas e postura desarmada em relação ao papel do capital privado na expansão da infraestrutura, poderia engendrar vigorosa recuperação dos investimentos e do nível de atividade.

Depois de todo um mandato presidencial em que as autoridades monetárias se permitiram manter a inflação muito acima da meta, reancorar as expectativas inflacionárias deverá exigir bem mais do que a simples nomeação de uma diretoria competente para o BC. Em meio à necessidade de reajustar preços administrados represados, é bem provável que o novo Banco Central leve algum tempo para fazer a inflação convergir para a meta, mesmo que se mostre convincentemente comprometido com esse objetivo.

Tudo isso seria só o começo: a reconstrução institucional preliminar que, em seguida, permitiria reabrir uma agenda mais ambiciosa de medidas que possam destravar o crescimento econômico do País. Uma agenda que desapareceu de cena há anos.

É essa possibilidade de ampliar as perspectivas de expansão da economia que estará em jogo na eleição de outubro.

Recessão entra no horizonte da economia - CLAUDIA SAFATLE

VALOR ECONÔMICO - 06/06

Adiada a transição do consumo para o investimento

Recessão. Essa palavra voltou ao vocabulário dos economistas do setor privado como uma possibilidade concreta para os próximos trimestres, mas é vista como uma conclusão prematura por autoridades do governo. Depois de um crescimento de apenas 0,2% no primeiro trimestre do ano, as expectativas se consolidam para uma contração da atividade no segundo e no terceiro trimestres.

"Já estamos em recessão", adiantou, porém, o ex-diretor do Banco Central, Luiz Fernando Figueiredo, da Mauá Sekular Investimentos. Ele explicou: qualquer contração do PIB igual ou superior a 0,2% no segundo trimestre provocará um ajuste sazonal, pelo IBGE, nos dados do primeiro trimestre que passaria a registrar PIB negativo ao invés do crescimento de 0,2%. Isso caracterizaria uma recessão técnica, entendida como dois trimestres consecutivos de queda do produto.


Modelos estão sendo rodados pelos economistas da área financeira com os dados mais recentes da economia real: queda de 0,3% na produção da indústria em abril e retração mais acentuada, de 0,6%, da indústria em maio, segundo dados divulgados pela Anfavea (associação das montadoras), além de menos dias úteis para a produção em junho com o início da Copa do Mundo.

O resultado seria um PIB negativo entre 0,4% e 0,5% no segundo trimestre. Desempenho que gera uma herança estatística ("carry over") ruim para o terceiro trimestre, que também apresentaria taxa negativa de cerca de 0,25%. Nos últimos três meses do ano, a variação do PIB tenderia a zero. Se confirmadas essas projeções, a expansão da economia no último ano da gestão de Dilma Rousseff pode ficar abaixo de 1%.

Técnicos do governo não descartam de todo a possibilidade de recessão. Mas consideram cedo para tomá-la como um cenário provável. Examinando os resultados do IBC-Br de julho de 2013 até o último dado conhecido, de março deste ano, o que se constata é que o país estagnou: teve, na média, uma taxa negativa de 0,02%.

É difícil entender como a inflação resiste no patamar de 6% com uma economia tão fraca, assim como as expectativas de inflação também não cedem.

A resposta está na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, que cita o "realinhamento dos preços domésticos em relação aos internacionais e dos preços administrados em relação aos livres". Ou seja, os destinos incertos da taxa de câmbio e dos preços represados pelo governo (energia, gasolina) concorrem para manter a expectativa inflacionária elevada para 2015. De março para cá os prognósticos do mercado colhidos pelo relatório Focus do Banco Central já agregaram mais de 1 ponto percentual na projeção de aumento dos preços administrados em 2015.

Em resumo: para levar o IPCA para a meta de 4,5% será preciso, antes, passar por uma inflação na casa dos 7% em 2015. A convergência da inflação, portanto, só pode ser vislumbrada de 2016 em diante, na avaliação de importantes fontes oficiais.

Outra questão que a ata ressalta é que mudanças relevantes na composição da demanda e da oferta agregada só devem ocorrer no médio prazo. Isso se traduziria pela transição do crescimento centrado na expansão do consumo para um modelo privilegiado pelo investimento. Apesar de essa mudança constar dos discursos oficiais, ela não se materializou.

O consumo das famílias e do governo cresceram ao limite e sustentaram a demanda agregada. Mas, agora, ambos bateram no teto. De pouco adianta o ministro da Fazenda, Guido Mantega, declarar como fez ontem que "a taxa de crescimento da economia seria maior se houvesse mais crédito para o consumo".

Com os níveis de confiança do consumidor e dos empresários próximos ao que estavam no auge da crise global de 2008/09, não há como incentivar as famílias a se endividarem mais frente ao risco de perda do emprego. Os bancos não vão expandir o crédito a contento nem o governo poderá acelerar seu consumo com aumento do endividamento público, por limitações fiscais.

O crédito externo que financiou o aumento da demanda - processo que levou o déficit em conta corrente do balanço de pagamentos para quase 4% do PIB - também rareou.

O aumento do investimento, porém, não ocorreu, deixando a economia estagnada e o governo sem instrumentos para reanimá-la.

A política monetária implementada pelo Banco Central elevou a taxa básica de juros em 3,75 pontos percentuais e seus efeitos começaram a aparecer. O aperto nos juros derrubou a demanda, mostrando que o juro como elemento central do controle da inflação continua eficaz. Não dobrou as expectativas porque elas estão sendo alimentadas por um eventual choque de preços administrados em 2015.

A elevação da taxa Selic não foi o fator preponderante a desestimular os investimentos. A queda vertiginosa da confiança dos empresários no futuro e a corrosão no relacionamento do setor privado com o governo é que estão na raiz da retração dos investimentos, apesar dos generosos financiamentos do BNDES a juros subsidiados.

Conforme a ata do Copom os juros devem ficar parados em 11% ao ano por um bom tempo. Os efeitos do aumento da Selic sobre a inflação, que são defasados e cumulativos, começaram a aparecer nos indicadores mais recentes da atividade econômica. Ficarão mais evidentes quando em agosto, no auge da campanha eleitoral, o IBGE divulgar o PIB do segundo trimestre.

O tempo econômico está andando mais rápido que o tempo político e isso preocupa o PT, principalmente se o desemprego começar a aumentar de forma visível antes das eleições. Dilma Rousseff concorre ao segundo mandato em uma situação bem mais adversa da que embalou sua campanha em 2010, quando o então presidente Lula turbinou o crescimento para 7,5%, deixou a inflação em 5,91% mas crescente e um ambiente de otimismo no país que elegeu sua sucessora. Foi uma herança ruim. A presidente entrega o primeiro mandato com menos crescimento, mais inflação e o pessimismo está disseminado no país.

Uma enorme perda de tempo - PEDRO LUIZ PASSOS

FOLHA DE SP - 06/06

Sem mudanças necessárias, o governo empurra a economia à estagnação e a indústria à retração


Precisou que os dados do PIB do primeiro trimestre do ano e os últimos resultados do desempenho industrial fossem divulgados para que se cristalizasse a percepção sentida pelos empresários de um modo geral no dia a dia de seus negócios: a economia está prostrada, para não dizer que regride a olhos vistos.

Quem ainda não se deu conta desta realidade, ou prefere não acreditar no que está ocorrendo, é o governo, ao insistir em adotar a política de nada fazer em período eleitoral.

Por que a economia progressivamente dá sinais de enfraquecimento? A razão principal reside na perda de confiança do empresariado na política econômica praticada pelo governo. Vale observar que a menor confiança alcança também o consumidor, de forma que o processo já envolve os principais responsáveis pelo investimento e pelo consumo. Não por acaso, os segmentos que mais prontamente refletem a deterioração do ambiente de negócios, como o de bens de investimento e bens duráveis de consumo, apresentam resultados cadentes --e vão arrastando os setores produtores de bens intermediários e bens de consumo não duráveis.

Neste ano até abril, a indústria de bens de capital produziu 4,8% menos que no mesmo período do ano passado, tendo sido de 1% o recuo de bens duráveis e de 1,2% o da indústria como um todo.

Potencialmente mais grave, por indicar aprofundamento na retração industrial, o tombo em abril merece destaque: a queda da produção industrial em geral, de 5,8% em relação a abril de 2013, foi puxada por bens de capital e bens duráveis.

Por que são relevantes tais considerações sobre a situação da indústria brasileira? A resposta é que esse setor, não é de hoje, está no centro do baixo crescimento econômico, sendo a razão maior da estagnação do PIB no primeiro trimestre.

A indústria, atualmente, tem pequena representação na economia, mas é muito mais expressiva nos investimentos e na inovação. Como investir e inovar são dois ingredientes indispensáveis para aumentar os ganhos de produtividade e assegurar o crescimento e o desenvolvimento social sustentados no longo prazo, o que se exige da indústria é que ela retome o protagonismo nesses processos.

Mas como recuperar o investimento e reativar as iniciativas inovadoras de um setor que vem de três trimestres seguidos de resultados negativos, medidos pela geração de valor agregado? De fato, tecnicamente, a atividade manufatureira, puxada pela indústria de transformação e a construção, está em recessão há nove meses.

Esta é a razão objetiva do desânimo empresarial. Com exceção da política monetária exercida pelo Banco Central, a condução da economia se notabiliza pela ausência de iniciativas que facilitariam a redução das incertezas empresariais e permitiriam a superação dos atuais entraves ao investimento.

Ao transferir para 2015 ações indispensáveis para a retomada econômica, certamente para se preservar de possíveis desgastes políticos-eleitorais, o governo impõe ao mesmo tempo o adiamento de decisões de investimentos que poderiam retirar a economia da má situação em que se encontra.

Por que investir agora, se é líquido e certo que ocorrerão mudanças relevantes na economia em 2015? A disseminação desse sentimento compromete em cheio não apenas a atividade econômica corrente, mas também, possivelmente, a do ano que vem. Enfim, trata-se de uma enorme perda de tempo.

Sem querer esgotar o rol de ações e reformulações que se fazem necessárias, seria fundamental dar partida o quanto antes, e não somente após as eleições, aos processos que permitirão restabelecer ou acelerar as condições para estimular os investimentos representativos de novas fronteiras de crescimento.

A título meramente ilustrativo, estes seriam os casos da infraestrutura, da energia elétrica, do petróleo e do etanol. No campo propriamente da indústria, já deveriam ter entrado em cena novas orientações de política industrial, de modo a diminuir a ênfase protecionista do mercado interno, deslocando o foco para a construção de competências para inovar e aumentar a produtividade. Isso requer, a nosso ver, uma profunda reformulação da política de comércio exterior e de reinserção do país na economia mundial.


Juros, cá e lá - CELSO MING

O ESTADÃO - 06/06

A coluna de hoje fala sobre política monetária em dois lados do Atlântico, aqui e na Europa.

Ontem, na Ata do Copom, o Banco Central do Brasil não chegou a explicar por que manteve os juros básicos (Selic) a 11,0% ao ano. No comunicado emitido logo após a reunião do dia 28 de abril, avisara que os juros permaneceram os mesmos "neste momento", deixando, assim, a porta aberta para mudanças, tanto em uma direção quanto em outra. A ata não sustenta essa mensagem. Passa o recado de que os juros ficarão por aí por um bom tempo, até que o aperto monetário decidido anteriormente produza pleno efeito, supondo-se que leva entre seis e nove meses para isso.

A queda da atividade econômica (avanço fraco do PIB no primeiro trimestre e perspectiva de queda no segundo) parece ter causado profunda impressão no Banco Central, a ponto de levá-lo a mostrar mais firmeza.

Alguém poderia estranhar que o Copom deixou de olhar só para a meta de inflação e passou a trabalhar também para reativar a economia. É uma leitura equivocada. A paradeira da economia é fator que, por si só, poderá desacelerar a remarcação dos preços e, portanto, segurar a inflação. Isso não significa que a inflação em 12 meses não vá mais saltar para acima dos 6,5% ao ano neste e nos próximos dois ou três meses, como se espera. Significa apenas que a alta pode ser contida em alguma proporção que ainda se vai ver.

No mais, o Banco Central avisa que apenas espera que os efeitos do ciclo de aperto monetário dos últimos 13 meses ainda serão transferidos para a economia. A conferir.

A novidade vem do cão de guarda do euro. Além de derrubar os juros básicos de 0,25% para 0,15% ao ano, o Banco Central Europeu (BCE), presidido pelo italiano Mario Draghi (foto), optou pela prática de juros negativos, inédita em grandes bancos centrais.

Na faixa correspondente aos depósitos que os bancos deixam no BCE, os juros serão de -0,10% (menos 0,10 por cento) ao ano. Ou seja, nesses depósitos, em vez de receber, o banco depositante pagará juros. E ainda terá de enfrentar a desvalorização causada pela inflação. A exigência funciona como a cobrança de um imposto.

O objetivo é levar os bancos a emprestar dinheiro ao mercado e, com isso, ajudar a reativar a economia que por lá está mais parando do que até mesmo andando devagar. As decisões de ontem equivalem a um despejo de 400 bilhões de euros na economia do bloco.

Este é o último passo antes da opção ainda mais radical, que é a de injetar centenas de bilhões de euros por meio da recompra de títulos, operação conhecida como afrouxamento monetário quantitativo, semelhante à que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) começa a reduzir.

Se vai ou não levar a economia europeia e o emprego a engatarem a segunda marcha é coisa que ainda vai se ver. Esse despejo de euros no mercado tende a aumentar as disponibilidades de recursos também para o Brasil.


Crime sem castigo - LUIZ GARCIA

O GLOBO - 06/06

Se a pena não é muito severa, é óbvio que o delito não foi de extrema gravidade. Mas nem por isso justifica-se que ela não seja cumprida do começo ao fim


Como deveria ser sabido por todos os cidadãos — e principalmente pelos encarregados de cuidar da paz e da segurança de todos nós — aqueles que cometem crimes precisam ser punidos como manda o Código Penal. Quanto pior o delito, mais sério deve ser o castigo. Para isso servem as penitenciárias.

É com surpresa, portanto, que descobrimos, graças a uma denúncia do secretário estadual de Segurança, José Mariano Beltrame, que uma lei de três anos atrás tornou suave, além do que seria lógico, a punição dos cidadãos condenados a penas de até quatro anos de cadeia. Se a pena não é muito severa, é óbvio que o delito não foi de extrema gravidade. Mas nem por isso justifica-se que ela não seja cumprida do começo ao fim. A lição dada aos culpados tem dupla consequência: vale como castigo e como exemplo.

Devidamente alarmado, Beltrame botou a boca no trombone: diz ele que 16 mil cidadãos foram presos em nosso estado entre janeiro e março deste ano. O que, a propósito, é um número assustador para cidadãos pacíficos. Para os encarregados de manter a lei e a ordem, deve ser desanimador constatar que a tal lei devolveu à rua uma considerável parcela desses 16 mil. Segundo o secretário, a porta giratória nas penitenciárias fez que aumentassem os índices de violência no Rio de Janeiro.

E não vamos esquecer que eles nunca foram baixos. É certo que a condenação à prisão por quatro anos ou menos indica que o réu não é do tipo que decapita criancinhas — mas, por isso mesmo, a pena é relativamente suave. Mas nada sugere que não deva ser cumprida do começo ao fim.

Beltrame afirma, com natural desânimo, que a nova lei teve a consequência de aumentar os números da violência no Rio de Janeiro. Deve ter razão: leis brandas demais obviamente estimulam a criminalidade. Ele propõe mais severidade para crimes como receptação e furtos feitos com auxílio de explosivos. Deve saber por que escolheu esses dois tipos de crime. Possivelmente, porque esses tipos de crime mostram níveis altos no estado. Um observador ignorante provavelmente escolheria delitos mais violentos. Mas é bem possível que esses já sejam punidos na medida certa.

Seja como for, o secretário fez bem em botar a boca no trombone. Infelizmente, uma solução mais enérgica para o problema depende de legislação aprovada pelo Congresso. Um grupo de secretários de Segurança de estados do Sudeste já apresentou proposta ao Legislativo de aprovação de projetos que garantam a punição da bandidagem e reduzam os índices de violência. Não é conhecido o ânimo do Legislativo em relação ao problema. Não vamos desejar isso — mas bem que ajudaria se um senador ou deputado fosse vítima de um assaltozinho brando.

Rua, protesto e desencanto - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 06/06

Clima nas ruas fica mais divisivo e impolítico e há desânimo com alternativas políticas


"QUEREMOS TRABALHAR", gritavam pessoas que quebraram portões e invadiram a estação de trem e metrô Corinthians-Itaquera, fechada ontem pela greve dos metroviários de São Paulo.

O clima nas ruas fica mais e mais divisivo desde o fim do ano passado, se não mesmo mais sombrio, uma desagregação que é impolítica (sem política e incivil), embora tenha efeitos políticos, claro, e talvez até derivações abertamente partidárias. Paulo da Força Sindical, adepto de Aécio Neves (PSDB), prometia ontem parar São Paulo com um protesto sindical contra o governo de Dilma Rousseff (PT).

A irritação das pessoas sem trem não é lá grande novidade. Em cada greve nos transportes públicos, é notório que a massa das pessoas se vira como pode para chegar ao trabalho, quando não àquela consulta marcada faz meses num serviço público de saúde. A vida da massa das pessoas é muito precária, bidu. A perda do emprego ou mesmo da consulta chorada pode resultar em desastres pessoais.

Ainda assim, em muita entrevista de passageiros irados, a gente percebe alguma solidariedade com grevistas, que podem de resto ser parentes, amigos ou vizinhos de quem ficou sem ônibus ou trem. Algo na linha, "entendo o direito deles", mas isso "prejudica os pequenos, não os grandes".

Mas, segundo pesquisas, a tolerância caiu bem, dada a agressividade da greve mais recente de motoristas e cobradores de ônibus, sem aviso, que teve trancamentos de ruas e violências mais diretas.

A greve dos metroviários decidida na noite de quarta, surpreendeu gente que voltava para casa no começo da madrugada de quinta e quem acorda muito cedo e não passa a vida "conectado" a mídias.

Aparentemente, a julgar por pesquisas e pela adesão às manifestações, violências diversas aos poucos envolveram os protestos de rua num clima mais sinistro, ao menos desde as depredações que se seguiram ao refluxo da massa na rua no final de 2013.

A morte do cinegrafista Santiago Andrade, em fevereiro, saques e medo por ocasião da greve da polícia em Recife e os tumultos agressivos das greves de ônibus em dezenas de cidades contribuíram para degradar o clima e a boa vontade do cidadão médio com manifestações de rua.

Além do mais, faz quase dois meses o protesto é dominado por trabalhadores de serviços públicos em greve: professores municipais, estaduais e até federais, rodoviários, metroviários, partes minoritárias do serviço federal (no IBGE, por exemplo) etc. Como é óbvio, o efeito imediato da greve deixa a vida especialmente mais difícil para a maioria mais pobre.

Ainda resta saber o destino dos até agora minguados protestos "contra a Copa" e da tática de movimentos como os sem-teto. Mas há um clima propício a reivindicações de "ordem" e a disseminação de um desânimo que, não sendo de origem propriamente econômica, tem acelerado a baixa da atividade econômica.

Sim, já aconteceu no Brasil democrático de climas ruins em situações socioeconômicas piores se dissiparem em questão de semanas. No entanto, havia então alguma expectativa de mudança, política ou não. Agora, parece haver por ora apenas desencanto.

Três pontos - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 06/06

O Banco Central usou um argumento inesperado, suspendeu uma expressão relevante e fez uma aposta duvidosa na ata da última reunião do Copom. Argumentou que os níveis de confiança “modestos” vão dar mais força à política monetária. Tirou a expressão “neste momento”, dando a impressão de que a parada será longa. E apostou que o investimento vai subir.

A ata traz esses recados. Ao retirar a expressão que havia sido usada no comunicado após a reunião deu um sinal de que essa interrupção de alta da taxa de juros será mais longa. O argumento do parágrafo 26 é de que “é plausível afirmar que, na presença de níveis de confiança relativamente modestos, os efeitos das ações de política monetária sobre a inflação tendem a ser potencializados”. O BC quis dizer que, como os índices de confiança empresarial e do consumidor estão caindo muito, haverá menos atividade econômica. E isso elevará o efeito dos juros altos no combate à inflação.

O Banco Central diz que o país vai crescer menos este ano. A convicção geral é mesmo de que o ano passado foi ruim e este está pior. Mas ele diz que “o consumo tende a crescer em ritmo mais moderado do que o observado nos anos recentes; e os investimentos tendem a ganhar impulso”. Mas está acontecendo o oposto. Os dados de investimento estão caindo e com a queda do nível de confiança — que o próprio BC acha que ajudará no combate à inflação — os empresários costumam adiar as decisões de investimento.

Com esses três pontos o BC explica a decisão de interromper a alta de juros. O BC tinha subido a Selic durante um ano e, no acumulado, a dose foi de quase quatro pontos percentuais. É muito forte. Natural que pare diante da queda do nível de atividade. É normal também que os juros, depois de alta forte, continuem produzindo efeitos na economia, mesmo após o ciclo de aperto estar encerrado. Mas um problema ainda não foi resolvido e esse é o desafio da autoridade monetária: a atividade está cada vez mais fraca, mas a inflação permanece alta.

O IPCA de maio a ser divulgado hoje será menor do que o índice de abril, mas o acumulado em 12 meses pode subir se o número vier acima dos 0,37% de maio do ano passado. Mesmo que a inflação continue caindo na taxa mensal, é difícil conter a alta anual porque as taxas desses meses em 2013 foram muito baixas: 0,26%, em junho, e 0,03%, em

julho. Qualquer valor acima disso, este ano, fará o índice se aproximar do teto de 6,5%, com risco de estouro. Até abril, o índice acumulado de um ano mede 6,28%; muito alto para um país que cresceu apenas 2,2% em quatro trimestres até março.

Ontem, a Anfavea anunciou os números da produção de veículos de maio, que ficou estagnada em relação a abril. Nos cinco primeiros meses do ano, há um recuo de 13,3%, em relação ao mesmo período do ano passado. As exportações caíram 31,6%. Depois do PIB fraco do primeiro trimestre, os sinais são de que haverá um novo número ruim no segundo tri. O cenário de estagflação é o pior dos mundos para qualquer banco central. Se subir a taxa, prejudica ainda mais o PIB. Por outro lado, a inflação alta tira renda das famílias e aumenta custos dos empresários. Não existe saída fácil.

Entre as ameaças para o futuro da inflação está a desordem do setor elétrico. Depois de negar que haveria novo socorro às distribuidoras, o governo já admite que será necessário novo financiamento para cobrir o rombo das empresas descontratadas. Os primeiros números são de que o segundo empréstimo pode chegar a R$ 8 bilhões, depois dos R$ 11,2 bi que foram tomados em março. Tudo isso é pressão inflacionária no futuro porque esses empréstimos serão pago pelos consumidores, em forma de aumento das contas de luz.

O maior constrangimento das atas do Banco Central é a ausência de previsão sobre quando a inflação voltará ao centro de 4,5%, taxa que ainda não foi vista durante a gestão do presidente do banco, Alexandre Tombini. O máximo que a autoridade monetária consegue dizer é que ela estará acima do centro no ano que vem, tanto no cenário de referência quanto no cenário de mercado. A omissão dificulta o trabalho do próprio BC porque mantém as expectativas de inflação elevadas.

Que fase! - NELSON MOTTA

O ESTADÃO - 06/06

Não é a oposição que avança, é o governo que está derrotando a si mesmo


A cada nova pesquisa, ninguém mais tem dúvidas de que a grande maioria da população está insatisfeita com a vida no país e, na mesma proporção, descontente com a economia e preocupada com a inflação. Os números não mentem, a discussão possível é sobre as responsabilidades por esta situação e sobre o que deu errado. E o que fazer para corrigir os rumos e reduzir os danos.

Quando Lula aconselha Dilma a culpar a crise internacional pelos nossos números, a coisa está mesmo feia. Na América Latina, o Brasil só cresceu mais e teve menor inflação do que Argentina e Venezuela.

O sentido mais sensível do eleitor não é a visão, a audição, o tato ou o faro, mas o bolso. Em qualquer democracia, quando a grande maioria da população está insatisfeita — e há três anos a mesma maioria estava satisfeita —, dificilmente o governo consegue ser reeleito. Jimmy Carter e Bush pai foram derrotados pela economia.

Aqui, não é a oposição que avança, é o governo que está derrotando a si mesmo. Ao contrário de 2010, João Santana vai ter que remar contra a corrente, com vento de proa.

Vão dizer que faltaram comunicação e divulgação dos feitos do governo: as pessoas estão vivendo melhor, mas não sabem disso — é preciso informá-las e convencê-las. Apesar dos três anos de propaganda massiva do governo na televisão, incluindo as grandes estatais, que, como no governo Garrastazu Médici, vendem a crença do Brasil Grande.

Hoje, 20 milhões de famílias, 28% delas da classe C, têm TV por assinatura e estarão livres do horário eleitoral. As vantagens no tempo da propaganda partidária, que custaram o loteamento do governo, só valerão para a TV aberta.

Sim, as eleições são decididas mais pela emoção do que pela razão, mas como convencer um eleitor que a sua vida está melhorando se ele está sentindo piorar? Talvez o ameaçando com um novo governo que pode piorar ainda mais as coisas, na esperança que o medo vença a razão.

Mas a pior ameaça de volta ao passado é ter o PT na oposição, sabotando todas as ações de um eventual governo adversário, como fez com o Plano Real e a Lei de Responsabilidade Fiscal.

Dilma, mais quatro anos pra quê? - REINALDO AZEVEDO

FOLHA DE SP - 06/06

O que poderia fazer a presidente que não tenha conseguido operar em condições mais favoráveis?


Jornalistas estrangeiros perguntaram à presidente Dilma Rousseff por que a economia cresce tão pouco. Ela disse não saber. Foi sincera. Não sabe mesmo. Como não tem o diagnóstico, falta-lhe o prognóstico. Entre o passado, que ela ignora, e o futuro, que ela não antevê, há este enorme presente à espera de medidas corretivas e profiláticas. Ocorre que seu governo é como seu discurso: um caos de fragmentos de ideias nem sempre muito claras, (des)ordenadas por locuções fora do lugar "no que se refere" (sic) ao que tem de ser feito. Ninguém entende nada, a começar da própria Dilma.

Dia desses, o ex-presidente Lula julgou ter encontrado a razão do "malaise". Os empresários, de mau humor, teriam deixado de investir. É mesmo? É próprio das cabeças autoritárias --e esse é o caso do Babalorixá de Banânia-- transformar dificuldades que são objetivas, que são técnicas, que têm origem em decisões equivocadas, em mera indisposição subjetiva. Há quanto tempo estão dados os sinais de que o crescimento da economia, ancorado no consumo interno, havia esgotado o seu ciclo? Assim como teve início em razão de circunstâncias que não eram do nosso controle, expirou por motivos igualmente alheios à nossa vontade. E lá ficou Guido Mantega a fazer previsões de crescimento --coitado!--, inicialmente, com margem de erro de dois pontos. Como a situação se deteriorou, ela já está em três...

Dilma pleiteia mais quatro anos, e eu fico cá a me perguntar --e espero, sim, que esta dúvida se alastre: pra quê? Com que amanhãs sorridentes ela vai acenar, que não tenha podido oferecer nesse tempo em que esteve à frente do governo, liderando uma base parlamentar que, no Ocidente, só deve ser menor do que a de Cuba? Qualquer analista razoável sabe que as circunstâncias vindouras são ainda piores dos que as do passado recente. O que poderia fazer a presidente, num cenário ainda mais inóspito, que não tenha conseguido operar em condições mais favoráveis? A resposta é um conjunto vazio.

Mais do que a indignação estridente dos grupelhos de extrema esquerda que estão nas ruas --estes só contribuem para turvar a visão da presidente--, Dilma tem de temer é o silêncio meio melancólico, mas não menos indignado, do homem comum, daquele que não tem uma agenda ideológica e que não pretende reformar a humanidade desde o fim. Contentar-se-ia com uma escola melhor, com uma saúde melhor, com um emprego melhor, com um salário melhor, com uma vida mais previsível. Eu sei, Dilma sabe e sabem os economistas e especialistas que os "gastos com a Copa", se investidos em saúde e educação, seriam de uma danada irrelevância. A conta é falsa, mas o problema para o qual aponta essa não solução é verdadeiro.

De 2002 para cá, o cenário de agora é o mais adverso enfrentado pelos petistas. As migalhas compensatórias já não têm a mesma força de antes para sustentar um projeto de poder. Parece haver no país uma ambição um pouco maior do que a da pobreza agradecida, que reverencia o nhonhô. Está certo o tucano Aécio Neves quando propõe que os programas sociais, ditos de "transferência de renda", passem à condição de políticas de Estado. De resto, eles devem ser apenas o começo da conversa, não o fim. É preciso acabar com a prática nefasta de chantagear os pobres.

A campanha que o PT levou à TV indica que, sem diagnóstico nem prognóstico, restou apenas o terrorismo eleitoral. Dilma pretende que o medo desinformado vença não a esperança, mas as possibilidades de mudança. Pior: sem conseguir entusiasmar nem a sua própria grei, cede a apelos "esquerdopatas" como "controle social da mídia" e criação da sociedade civil por decreto, evidenciando que, sob pressão, pode, sim, voltar à sua natureza. Mais quatro anos pra quê?


Dilma e as uvas - FERNANDO GABEIRA

O ESTADÃO - 06/06

Num de seus recentes discursos, Dilma Rousseff afirmou que as obras para a Copa terão padrão brasileiro, não padrão Fifa. Com essa frase queria dizer também que nossos padrões são mais democráticos, naturalmente referindo-se aos altos preços dos ingressos. Dilma fez tal declaração no fim de um período em que a Copa do Mundo foi perdida fora do campo e todos esperamos, ela com ansiedade singular, que seja ganha dentro do campo.

Essa frase de Dilma marca uma inflexão do governo nas suas relações com a Fifa, cujos dirigentes afirmam que o Brasil propunha a Copa em 17, e não 12 cidades. Foi preciso conter a megalomania de Lula e a própria Fifa foi otimista quando considerou 12 um bom número, levando em conta o tamanho do Pais, não suas reais possibilidades.

O Estádio Mané Garrincha, beirando o R$ 1,5 milhão, custou mais caro que um estádio do Qatar - país com a maior renda per capita do mundo - para 2022. Se os cálculos forem comprovados, o padrão brasileiro foi mais caro, no Mané Garrincha, do que o padrão Fifa sonharia. O estádio de Brasília é um monumento. Não sabemos ainda se é um monumento à incompetência ou à roubalheira, embora no padrão brasileiro os dois joguem no mesmo time, bem perto do gol.

Três estádios foram plantados em cidades cujo futebol não atrai multidões. O velho estádio de Natal só conseguiu lotação plena quando o papa visitou a cidade. Para o novo estádio teremos de combinar com o papa Francisco algumas visitas regulares, algo difícil porque um papa não faz visitas apenas para cumprir tabela.

Em Cuiabá presenciamos um fato inédito na história: no dia da visita de inspeção da Fifa, o governador e o presidente da Assembleia estavam presos. É a Copa das Copas, ou o mico dos micos, como quiserem.

Em Manaus, na imensidão um estádio vazio, uma arena amazônica que me deixa perplexo, sobretudo quando vejo o que vi na Vila de Boim, a seis horas de barco de Santarém: o esforço das comunidades para jogarem a sua própria Copa, numa região da floresta para a qual não existe política de esporte.

Lula quis dar salto maior que as pernas e agora que o fracasso se revela resta apenas ironizar o padrão Fifa que se comprometeu a adotar.

A esquerda não tem o monopólio da duplicidade e da dissimulação. Mas num partido como o PT e, sobretudo, num governo ditatorial como o cubano, são os dois elementos vitais para sobreviver e crescer. Em O Homem que Amava os Cachorros, Leonardo Padura fala de uma família cubana, possivelmente a do próprio escritor, que ensinou aos filhos exatamente o oposto dessa regra da sobrevivência: falar a verdade, ser fiel a si próprio.

O discurso do governo brasileiro em relação à Copa é de um zigue-zague acrobático, uma tentativa desesperada de abordar os fatos de frente e cair na realidade. Não foi uma ideia feliz trazer a Copa para o Brasil e assumir os compromissos que assumiu com a Fifa.

Isso não significa que a Copa não deva ocorrer, muito menos que deixamos de torcer pela vitória dentro do campo. Significa apenas que a linguagem cínica do governo é uma fonte permanente de degradação da vida política. Reflete uma lei interna segundo a qual não é preciso dizer o que pensa, regra válida para todos os que aderem. Basta que façam o jogo, dancem de acordo com a música.

Até que ponto o cinismo triunfará amplamente numa sociedade democrática é o enigma que envolve o futuro próximo do Brasil. Controlar o aparato estatal, o Parlamento e até o Supremo Tribunal ainda é um cobertor curto. Restam a sociedade, a imprensa, a internet.

Os militares compreenderam que não tinham resposta para o futuro e organizaram a retirada para não baterem em fuga desordenada, arriscando a instituição. O PT não acumulou forças para encarar a verdade, arriscar o poder e preservar-se para o futuro.

O discurso de Dilma não é voltado para a frente. Apenas adverte que a vitória da oposição significará um ajuste que vai reduzir salários, aumentar o desemprego e cortar verbas sociais. Embora não reconheça, ela deve saber que é necessário um ajuste, que pode ser moderado, no sentido que lhe dá Amartya Sen. Quer dizer, não precisa reduzir salários nem cortar verbas sociais. Um ajuste desse tipo seria voltado para os gastos irracionais do governo. Mas bateria de frente com o mundo político e burocrático, toda essa gente agarrada a cargos, verbas, negociatas. Às vezes, quando falamos em defender o salário do povo, estamos defendendo os nossos próprios salários. E reaparecem aí a duplicidade e a dissimulação.

Dotar o Brasil de um governo inteligente, aberto e conectado, transformar um sistema político que se tornou uma gigantesca sanguessuga não figuram no seu horizonte. O único caminho é usar os interesses populares como escudo para os seus próprios interesses e agarrar-se ao poder.

Na classificação de presidentes de toda a República no quesito crescimento, Dilma está em penúltimo e Fernando Collor em antepenúltimo lugar, atrás de Floriano Peixoto, portanto, entre os quatro de baixo que vão para a Segundona. Ao afirmar que as dificuldades econômicas foram conjunturais, ela pede uma segunda chance. Mas pede como se estivesse no grupo de cima, preparando-se para a Libertadores.

Como dizia Cazuza, suas palavras não correspondem aos fatos, sua piscina está cheia de ratos. Aceitar que suas palavras não correspondem aos fatos e limpar a piscina política e administrativa dos seus ratos é uma tarefa gigantesca. O caminho mais fácil é controlar o Estado, o Parlamento o Supremo, mobilizar uma artilharia eletrônica.

Que venham todos, porque, independentemente de resultados eleitorais, há um imenso número de brasileiros sabendo o que há por trás dessa duplicidade e dissimulação. Gente que gostaria de falar sério sobre nossos problemas, e não perder a energia desmontando as bravatas de Lula, como essa da Copa. Perdemos tempo, dinheiro, operários, moradias, irresponsabilidade que nem a vitória no campo conseguirá apagar.

Fora do campo - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 06/06
"A situação está tão caótica que os ministros do governo Dilma já estão apelando até mesmo para o patriotismo dos grevistas"
A frase famosa do escritor e pensador inglês do século XVIII Samuel Johnson "o patriotismo é o último refúgio dos canalhas" volta e meia retorna ao debate quando governantes se utilizam do sentimento patriótico para encobrir seus erros. Parece que chegamos a esse ponto.
A situação está tão caótica que os ministros do governo Dilma já estão apelando até mesmo para o patriotismo dos grevistas na tentativa de reduzir os danos que já estão sendo causados pelo trânsito impossível em São Paulo, devido à greve dos metroviários ontem, e a diversas manifestações nos últimos dias, que prometem se repetir hoje no jogotreino da seleção.

Ganhar a Copa também fora do campo virou mantra das autoridades brasileiras, a começar pela própria presidente Dilma. Infensa a entrevistas, a presidente anda procurando programas de televisão em todos os canais para falar bem da organização da Copa do Mundo, e pedir apoio da população para que tudo corra bem.

Não se cansa de repetir "nosso queridíssimo e saudoso" Nelson Rodrigues para dizer que a seleção é a pátria de chuteiras. Interessante que a hoje presidente renda homenagens a um dos maiores autores brasileiros, mas que sempre foi um reacionário de carteirinha.

Certamente a "guerrilheira" Dilma deveria considerar Nelson Rodrigues um direitista repulsivo, e a citação a ele não passa de ação de marketing para tentar uma aproximação com os torcedores. Nelson era dos que considerava que torcer pela seleção brasileira é um ato de patriotismo, e Dilma, embora tenha confessado que em 1970 torceu pelo Brasil mesmo sem querer, necessariamente pensava de maneira diversa antes de chegar ao poder.

ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, mistura política e futebol da mesma maneira que os grevistas oportunistas, que aproveitam a visibilidade do país no mundo para encostar na parede seus empregadores na área estatal.

Quando Cardozo diz que é necessário projetar uma boa imagem do país, está dando a dimensão geopolítica que a organização da Copa do Mundo (e também das Olimpíadas) tem, e que o governo menosprezou, ao dar mais importância a ganhar a Copa do que a realizá- la, na análise correta do secretário-geral da Fifa Jérôme Valcke.

Já o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência, está preocupado com manifestantes e grevistas, que oficialmente são o público- alvo de seu ministério.

É ele o responsável pela ligação com os chamados "movimentos sociais", que o PT cevou com dinheiro público e tratou com leniência até recentemente, imaginando que eles tivessem o "bom senso" de ajudar o governo numa hora como essa da Copa.

Mas o movimento dos sem-teto, que organiza manifestação em São Paulo para hoje, já ameaçou impedir que os torcedores cheguem ao Itaquerão para ver o jogotreino da seleção brasileira.

Falando em tom quase épico, Gilberto Carvalho pediu "uma trégua cívica" aos grevistas que paralisam serviços essenciais nas cidades-sede dos jogos da Copa.

Ora, quando o governo do ex-presidente Lula decidiu considerar de interesse nacional disputar a realização da Copa do Mundo e das Olimpíadas, pensavase que se tratava de uma estratégia de política internacional que o governo havia montado para ressaltar a presença do Brasil nos Brics e, em consequência, no mundo.

A seu tempo, também Rússia, China e África do Sul assumiram esse papel. À importância geopolítica da tarefa não correspondeu, porém, à maneira desleixada como ambos os governos petistas trataram a realização dos eventos, e só na undécima hora veem nossas autoridades apelar para o patriotismo do povo brasileiro.

Surpreendentemente, o povo tão amante do futebol está separando a disputa em si dos erros do governo.

O desânimo que se reflete na falta de ruas enfeitadas certamente dará lugar à alegria dentro dos estádios.

Fizeram bem os jogadores e a comissão técnica em evitar uma ligação mais politizada com as autoridades governamentais e políticos de maneira geral.

Uma vitória do Brasil dentro do campo dará uma alegria à população, mas dificilmente fará o ambiente político se desanuviar. Uma derrota no futebol vai exacerbar os ânimos já exaltados. A vitória fora do campo está cada vez mais difícil.


Casamento aberto - DORA KRAMER

O ESTADÃO - 06/06

A fidelidade partidária não é norma escrita nem praticada entre nós, sabemos disso. Mas, sempre foi costume manter as aparências. Os infiéis atuavam por baixo dos panos, mantinham alguma discrição, deixando espaço para o desmentido da traição.

Desde ontem, porém, ficaram revogadas quaisquer cerimônias depois do ato público do PMDB do Rio de Janeiro de adesão à candidatura do tucano Aécio Neves, cinco dias antes da convenção do partido que, conforme assegura o vice-presidente Michel Temer, renovará a aliança com o PT no plano federal.

Em matéria de infidelidade, nunca se viu nada igual. Houve, em eleições passadas, o movimento "Lulécio", que buscava eleitores de Lula e Aécio, rifando a candidatura presidencial tucana em Minas Gerais. Houve também a adesão do então presidente do PSDB à candidatura de Ciro Gomes, em detrimento do desafeto José Serra.

Mas, nada parecido com o ato de ontem que reuniu nove legendas, mais da metade dos prefeitos do Estado, centenas de pessoas e as principais lideranças regionais do partido num almoço de arromba para celebrar o oponente da presidente Dilma Rousseff por ora mais bem posicionado nas pesquisas.

O movimento chama-se "Aezão", junção dos nomes de Aécio e (Luiz Fernando) Pezão, o vice-governador que assumiu com a renúncia de Sérgio Cabral Filho e que agora concorre pelo PMDB. Com o apoio da presidente Dilma, a quem ele também confere todas as honras. Não a ponto de ter feito um gesto contrário ao ato oficial (sim, pois lá estavam todas as instâncias oficiais do PMDB regional) de adesão ao adversário.

Nem o governador nem Cabral estiveram no almoço, mas digamos que não seria necessário. Ficou muito bem entendido: desta vez, o casamento com o PT é uma relação "aberta". O PMDB dá o tempo de televisão, recebe em troca a vice-presidência, mas não tem obrigação alguma de pôr sua mão de obra nos Estados a serviço da campanha pela reeleição da presidente.

O apoio do PT em eleições anteriores foi um ativo para os partidos aliados. O desafio do governo é que não se transforme em um passivo. Enquanto o Planalto estava bem nas pesquisas, interessava aos políticos seguirem juntos. A virada dos ventos os leva à busca de alternativas.

Note-se o que corre em São Paulo. O ex-prefeito havia declarado apoio a Dilma e já começa a reexaminar a escolha, considerando não apenas a hipótese de ser vice do inimigo Geraldo Alckmin, como de não firmar aliança nacional com o PT para Henrique Meirelles poder ser vice de Aécio.

E Paulo Skaf? Diante da afirmação de Dilma de que ela teria duas candidaturas, a dele e a de Alexandre Padilha, para tentar derrotar o PSDB em São Paulo, deu um alto lá: "Aqui o PT é adversário".

Pela lógica. O jornalista estrangeiro pergunta à presidente Dilma Rousseff por que o Brasil está crescendo tão pouco. Ela responde: "Não sei".

De onde é improvável que saiba como fazer para o País crescer tão pouco.

Outra música. Com toda irritação, contestação aos gastos, megalomanias vexatórias e promessas descumpridas, uma coisa é certa: a maioria das pessoas não vai trocar a oportunidade de aproveitar o espetáculo de festejar uma Copa do Mundo no Brasil pela militância da reclamação.

Até porque os motivos não cessam e haverá tempo de sobra para protestar. Descontada a possibilidade de vaia nos estádios, da qual autoridade nenhuma está livre, o mais provável é que "baixe" no País um clima de relativa trégua no pessimismo.

Seria, porém, conveniente que o governo não tentasse se aproveitar e que a oposição se recolhesse um pouco em reconhecimento da insignificância da disputa eleitoral diante da magnitude das emoções dos embates em campo durante o Mundial.

Quem tentar atrapalhar ou tiver a intenção de se beneficiar vai enfrentar reação.

Salve-se quem puder - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 06/06

BRASÍLIA - Sabe qual a principal conclusão do Datafolha publicado nesta sexta (6)? Que o eleitor e a eleitora estão de mau humor, insatisfeitos e sem conseguir enxergar a luz no fim do túnel, ou melhor, "aquele" candidato na cédula.

Esse cenário é ruim para a política, para a eleição e principalmente para os candidatos, mas quem mais sai perdendo é quem disputa a reeleição. Mesmo com todos os seus instrumentos à mão, mesmo com todas as entrevistas, mesmo com a maior coligação partidária do planeta --ou seria justamente por causa de tudo isso?-- Dilma continua perdendo pontos. Desde fevereiro, lá se foram dez pontos. Não é desprezível.

Curiosamente, porém, nenhum dos expoentes da oposição consegue entrar no vácuo e colher os votos que Dilma vai deixando aos punhados pelos descaminhos da economia, com crescimento ridículo, preços altos e juros altíssimos, sem nenhuma explicação plausível para o digníssimo público leitor e eleitor. Nem explicação, nem porta de saída para um ambiente melhor.

Aécio Neves, que ganhara fôlego com a propaganda do PSDB na TV, estacionou depois disso, oscilando da marca dos 20% para 19%. E Eduardo Campos, que precisava correr muito, coitado, está comendo poeira e se aproximando constrangedoramente do Pastor Everaldo, que seria importante para haver segundo turno, mas nem é mais tanto.

Pela trajetória dos índices, o segundo turno hoje está virtualmente garantido. Dilma tem apenas 34%, contrariou as expectativas de crescimento e mantém a tendência descendente no final do primeiro semestre. Nada indica que terá munição para entrar em alta no segundo.

Aliás, o Datafolha joga luz sobre a fragilidade de Dilma, e fortalece as incertezas sobre sua capacidade de ganhar, justamente no momento decisivo das convenções partidárias. O PMDB, o PSD, o PP e o PR estão com ela, certo? Certo, mas eles têm imenso instinto de sobrevivência.

Onde está o senador Roger Pinto Molina? - MARISTELA BASSO

GAZETA DO POVO - PR - 06/06

Oposicionista do presidente Evo Morales, o senador Roger Pinto Molina tornou-se alvo de perseguição quando denunciou a ligação do governo boliviano com o narcotráfico. Passou a ser perseguido com acusações de corrupção, desacato e venda de bens públicos. Temendo por sua vida, em 28 de maio de 2012 Roger Pinto refugiou-se na sede da missão diplomática brasileira em La Paz com pedido de asilo e proteção ao governo brasileiro.

Em 22 de agosto de 2013, mais de um ano depois, o encarregado de negócios da embaixada do Brasil em La Paz, Eduardo Saboia, retirou, em fuga, o senador da embaixada do Brasil, desencadeando crise diplomática que culminou com a demissão do chanceler Antonio Patriota. Desde essa data, já em território brasileiro, não se tem notícias do senador Roger Pinto.

Descobriu-se, contudo, recentemente, que em 8 de junho de 2012 o governo brasileiro confirmou a concessão do asilo já ofertado pelo embaixador à época, Marcel Biato. Entre junho e julho, na sequência, o vice-presidente da Bolívia ameaçou o Brasil com retaliações e afirmou que a concessão do asilo foi um ato “desatinado” do governo brasileiro. Na mesma oportunidade, o governo boliviano pediu “publicamente” a cabeça do embaixador brasileiro Marcel Biato e pressionou o senador Roger Pinto a deixar a embaixada brasileira e a enfrentar a Justiça boliviana. Dias depois, o governo brasileiro “exonerou” Biato, que voltou para o Brasil, e nenhum outro diplomata foi indicado para a função. Foi então que Eduardo Saboia assumiu a chefia da missão diplomática na Bolívia.

Nesse ínterim, a ministra da Justiça boliviana, Cecília Ayllón, propôs ao Brasil que retirasse o senador de território boliviano sob “as vistas grossas do governo de Evo Morales” e o conduzisse a um terceiro país. Em fevereiro de 2013, pouco tempo mais tarde, Evo Morales pressionou publicamente a presidente Dilma para que resolvesse o problema de uma vez por todas. Em maio de 2013, o chefe da Divisão da América Meridional do Itamaraty desembarcou em La Paz levando carta lacrada, sem selo e sem assinatura, propondo ao senador Roger Pinto que abrisse mão do asilo no Brasil e deixasse a embaixada, dirigindo-se a um terceiro país. Sua resposta foi enfática: “Prefiro cortar os pulsos”.

Na sequência, em 22 de agosto de 2013, Eduardo Saboia retirou o senador da embaixada brasileira. Dirigiu até Corumbá (MS) e, por avião, chegou a Brasília, protegido pelo senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES). Antonio Patriota, pressionado, deixou a Chancelaria e foi deslocado para representar o Brasil na ONU, enquanto Marcel Biato, punido, viu retirada, pela presidente Dilma, sua indicação para a Embaixada do Brasil na Suécia. Do lado mais fraco, Eduardo Saboia sofre sindicância administrativa injusta.

E o senador Roger Pinto?

O governo brasileiro diz que não nos deve satisfação, pois essas são “informações confidenciais – secretas”. Contudo, o que o governo não sabe é que a condução das relações internacionais é uma das mais importantes funções de Estado, e deve ser feita em nome do povo, com transparência e boa fé. Não há dúvida de que o governo brasileiro há muito perdeu a ambição de protagonismo na condução da política externa e na proteção dos direitos humanos, mas será que perdeu, definitivamente, a vergonha também?

Continua a safra de maus indicadores econômicos - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 06/06

Protecionismo, aposta cega no Mercosul e displicência com a infraestrutura e a produtividade em geral ajudam a explicar dificuldades na indústria


A safra de notícias econômicas está tão incômoda para o governo que a informação menos ruim é que a inflação mensal dá sinais de desaceleração. Mesmo assim, por um efeito estatístico, o índice anualizado se mantém em alta e ultrapassará o teto de 6,5%, estabelecido pela meta de 4,5%. O mais recente índice negativo é o 0,3% de retração da indústria em abril, comparado a março. Se a referência for abril de 2013, a queda atinge 5,8%, o pior resultado desde setembro de 2009, segundo o IBGE.

A maior preocupação do governo é com o setor automobilístico, pelo tamanho e enraizamento na economia. Em abril, sua produção subiu 0,6%, mas havia caído 4,2% em março. Houve, em maio, um crescimento de 1,9%, porém, comparado com maio de 2013, ocorreu uma queda de 18%. A diminuição das importações de máquinas e equipamentos (bens de capital) comprova que a retração contaminou os investimentos — outra má notícia.

Endividamento das famílias, crédito escasso, horizonte nebuloso para as empresas — há várias hipóteses de análise sobre a perda de dinamismo industrial. Só que, desta vez, ao contrário de 2009, o álibi da “crise externa" não pode ser acionado pelo governo. Pois, embora haja situações diversas no continente, existem sinais na Europa de que pelo menos a situação deixou de se degradar, enquanto os Estados Unidos aceleram a recuperação. Há estimativas de crescimento entre 3% e 4% este ano, bem mais que o Brasil, condenado a patinar em torno do 1%.

Se a economia brasileira for olhada pelo ângulo da balança comercial, é possível detectar más apostas do governo Dilma com reflexos no setor industrial.

Esgotado o ciclo de lépido crescimento mundial, China à frente, que levou o Brasil a saldar a dívida externa, fato histórico, vive-se o ciclo oposto — é sempre assim no mundo econômico. Commodities essenciais para as contas externas do Brasil caíram de cotação — soja e minério de ferro, bem mais este último. A Petrobras, mal administrada, passou a importar bastante combustível, e de consumo subsidiado. Outro erro. O resultado é a tendência a déficits no comércio exterior ou pequenos saldos positivos — de janeiro a maio, perdas de US$ 4,8 bilhões. Parte das perdas se deve à queda das exportações de veículos para a Argentina, devido à turbulência econômica do vizinho. Por trás do problema, a opção feita pelo governo de dar prioridade cega ao Mercosul.

Tendências protecionistas de Brasília também impedem que a indústria nacional se interconecte como poderia a cadeias produtivas globais. Isso faria aumentar as importações de componentes, mas também elevaria as vendas externas de manufaturados, de valor agregado mais alto.

Tudo isso, somado à displicência com que os investimentos em infraestrutura e outras iniciativas para o aumento da produtividade no país foram tratados, explica parte da safra de indicadores negativos.

Ações e reações - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S.PAULO - 06/06

Na política, frequentemente o que importa, mais do que a ação, é a reação. É a capacidade de corrigir os erros, impedindo ou reduzindo os seus efeitos deletérios. Neste sentido, a reação do Congresso ao Decreto 8.243, da presidente Dilma Rousseff, trouxe esperanças de que ainda existem instituições no Brasil não enfeitiçadas pelo lulismo. Dez partidos - DEM, PPS, PSDB, SDD, PV, PSB, PRB, PSD, Pros e PR, sendo que os últimos três integram a base aliada do governo - assinaram requerimento de urgência para que a Câmara dos Deputados vote um decreto legislativo revogando o ato presidencial. Esses partidos decidiram que não querem assistir passivamente ao solapamento das instituições democráticas pelo PT.

Foi uma reação imediata e proporcional a um decreto que fere a democracia representativa consagrada na Constituição, criando canais paralelos de poder, não legitimados pelas urnas, com o consequente aparelhamento do Estado. Conforme já dissemos em editorial, a mensagem subliminar em toda essa história é a de que o Poder Legislativo é dispensável.

A tomada de posição dos dez partidos foi suficientemente forte para que o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, viesse a público defender o decreto, o que também fez, no dia seguinte, a presidente Dilma Rousseff. É compreensível a atitude de ambos. A dela, por ter assinado um ato que, se pode asfixiar o sistema representativo, está perfeitamente de acordo com suas convicções ideológicas. E a dele, porque o tal ato presidencial só aumenta o seu poder, ao subordinar a Política Nacional de Participação Social à sua pasta.

Mas o que diz o sr. Gilberto Carvalho não tem propósito. Afirma ele que o decreto apenas regulamenta o que existe. Ora, a existência de Conselhos não provocou a oposição dos políticos e também de influentes setores da sociedade civil. A reação ocorreu por força da manipulação expressa no Decreto 8.243, que não se limita a regulamentar o que já existe. O que o decreto visa é criar um complexo sistema de "participação popular" e instituir uma verdadeira política de participação ideologicamente orientada, que se sobrepõe ao Poder Legislativo. Tenta-se fazer, sem a incômoda convocação de uma Constituinte e nem mesmo por meio de uma emenda constitucional, a substituição do sistema representativo por uma "democracia direta e participativa".

Até mesmo os brasileiros mais jovens, que felizmente não tiveram a experiência de viver sob um regime que não sabe respeitar nem conviver com um Congresso livre, podem ter uma ideia do que se pretende com essa "sutil" mudança de regime. Basta observar o que acontece em alguns países latino-americanos, cujos líderes chegaram ao poder prometendo governar ouvindo o povo, sem a intermediação de partidos carcomidos. Fizeram o seu próprio partido, organizaram a sua corriola e governam com poderes extraordinários - embora convoquem eleições regularmente. É a essas ditaduras disfarçadas que o governo do PT continua fiel e orgulhosamente envia sinais de simpatia.

E, se ainda pairasse alguma dúvida sobre o que significa o decreto, o próprio ministro Gilberto Carvalho ofereceu um didático exemplo. Em defesa do ato que lhe conferia tão sonhados poderes, disse que o decreto foi construído em parceria com os movimentos sociais e com a sociedade civil. Ora, como pode ter havido ampla discussão sobre o conteúdo de um decreto que, ao ser publicado, surpreendeu a todos - deputados e senadores, juristas, lideranças civis, etc.? Evidentemente, os movimentos sociais e a sociedade civil a que o ministro se refere são predominantemente as militâncias, encabrestadas ou não, que se iludem achando que serão protagonistas da tal "democracia direta e participativa". Mas a história mostra que esse tipo de regime, uma vez instalado, produz ditaduras ferozes.

E essas coisas são contagiosas. Na quarta-feira passada, o presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), afirmou a quem quis ouvir que não colocaria na pauta de votação da Casa o pedido de urgência dos dez partidos. Indagado sobre suas razões, respondeu, imperioso: "Porque não quero!".

Com inflação não se brinca - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 06/06
Para quem pretende minimizar o impacto dos dados ruins produzidos pelos indicadores da conjuntura econômica, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deve oferecer hoje um refresco. A inflação de maio, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), deve ter ficado em torno de 0,40%, conforme a maioria dos analistas. Não é pouco, mas é bem menos do que o índice de abril: 0,67%.
Mas ninguém deve se enganar, como fez o governo em boa parte do atual mandato presidencial. Não existe inflação boa. Mesmo sendo mais baixo do que o do mês anterior, o índice de maio vai empurrar o acumulado do ano para o teto de 6,5%, aumentando, portanto, a distância em relação ao centro da meta do Conselho Monetário Nacional (CMN), de 4,5%.

Esses números, acompanhados com lupa grossa pelos agentes do mercado financeiro, têm a sua versão popular nas bancas da feira e do supermercado. Qualquer um percebe logo que os preços da batata, do feijão e da carne, depois de terem subido por causa da entressafra, andam se recusando a voltar ao que eram no ano passado e, pior ainda, estão muito longe de dois ou três anos atrás. Esses são produtos de grande visibilidade popular, já que pesam no orçamento das famílias, mais ainda nas de menor renda.

Mas não são os únicos a incomodar. A soma de várias pequenas mordidas no poder de compra dos salários só não é pior do que a desconfiança de que o governo não está cuidando seriamente do problema. Nesse ponto, tudo fica mais difícil. Pois o que grassa por todos os cantos é a redução da disposição para o consumo e, na sequência, a retração dos investimentos na produção.

Depois das manifestações de rua de junho de 2013, o governo nem precisava de mais clareza quanto ao nível de insatisfação dos brasileiros nem quanto ao que anda causando tanta decepção com o cenário de maravilhas que vinha sendo vendido pelo marketing oficial. Mas a última pesquisa do respeitado Pew Research Center, dos Estados Unidos, realizada entre 10 e 30 de abril, revelou que o percentual de insatisfeitos com a situação do país passou de 49%, em 2010, para 72%, em 2014.

E, confirmando que com a inflação não se brinca, a corrida dos preços foi classificada como a principal preocupação por 85% dos entrevistados. Superou até mesmo a gravíssima situação da criminalidade e da saúde no Brasil. Nesse ambiente, é querer demais que os empresários coloquem capital para correr riscos, sem que percebam sinais seguros de mudanças à frente.

É certo que, desde abril do ano passado, o Banco Central retomou a política monetária menos frouxa, elevando a taxa básica de juros de 7,25% para os atuais 11% ao ano. Esse esforço começa a fazer efeito. Mas o preço pela demora em começar essa retomada é a lentidão com que a inflação vem cedendo e a capacidade de contaminação que isso tem sobre a atividade econômica em geral e - aí está perigo para os políticos - até mesmo sobre a avaliação que as pessoas fazem do governo. É uma lição para os próximos mandatários.

Parca poupança - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 06/06

Baixa taxa de recursos acumulados no país prejudica crescimento, mas não há sinal de que governo tenha estratégias para essa questão


Os dados mais recentes divulgados pelo IBGE não preocupam somente por indicar, para este 2014, um PIB minúsculo, talvez abaixo de 1%, e uma possível retração da indústria. Também sobram motivos para inquietação em relação aos próximos anos, nos quais a economia brasileira terá dificuldades para crescer mais.

O problema está na poupança interna do país, que caiu a 12,7% do PIB, o menor patamar deste século. Na comparação internacional, o Brasil é uma anomalia. Seu índice equivale a quase um terço da média verificada entre os emergentes e à metade do padrão global.

Sem uma poupança doméstica razoável, são necessários mais recursos externos para financiar os investimentos que a economia demanda para se expandir; se a oferta não aumentar, o avanço do consumo gera pressões inflacionárias.

A busca por fontes externas, contudo, não é livre de traumas. Países com deficit alto nas transações com o resto do mundo, como é o caso do Brasil, ficam mais expostos a desvalorizações abruptas da moeda e a choques na economia.

Por essa razão, o uso de verbas estrangeiras precisa ser limitado. Normalmente, isso é possível devido a uma dinâmica recorrente: investimentos trazem retornos para a economia, na forma de salários e lucros mais altos; dessa maneira, elevam-se os recursos à disposição do setor privado para, em tese, serem feitos novos investimentos.

No Brasil, contudo, a poupança interna não cresce na mesma proporção que em outros países. A explicação para isso não é consensual entre especialistas; seria simplista, ou mesmo errado, aventar uma particular predisposição dos brasileiros para o consumo.

Trabalho recente do Centro de Estudos de Mercado de Capitais, do IBMEC, por exemplo, aponta que um bom pedaço da redução recente da poupança decorreu da diminuição dos lucros retidos pelas empresas. É evidente que a tributação elevada do Brasil --a carga de 36% do PIB por aqui supera em muito a média dos emergentes, perto de 25%-- reduz a capacidade do setor privado de acumular recursos para depois investir.

O setor público também tem sua parcela de culpa, e ela não é pequena. Gastos excessivos em seu próprio custeio, a transferência de recursos para seguridade e outros programas sociais e as despesas com os juros da dívida deixam pouco lugar para investimentos; a poupança pública é negativa.

É preciso compreender essas dinâmicas para almejar algum sucesso na gestão econômica. Não se vê, porém, nem sombra de pensamento estratégico a respeito desses temas, cruciais para o Brasil chegar a taxas altas de crescimento --um objetivo ainda mais distante depois dos erros dos últimos anos.

A chantagem da Copa - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S.PAULO - 06/06

Entre quarta e quinta-feira, a capital paulista viveu um momento em que estiveram presentes os principais elementos responsáveis pelas agruras por que vem passando a população das grandes cidades, sobretudo no que diz respeito às perturbações na circulação e ao clima de medo e apreensão criado por manifestações selvagens. Mistura de greves com política e desafios lançados por grupos aguerridos como o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), todos usando como elemento de chantagem a ameaça de criar o caos durante a Copa do Mundo. E, em vez de enfrentá-los, não está afastado o risco de o governo, mais uma vez, fazer concessões a movimentos ditos sociais que agem ao arrepio da lei.

Os metroviários iniciaram na quinta uma greve por tempo indeterminado, deixando a pé milhões de paulistanos. Não admira que muitos deles tenham reagido com indignação e até violência, como um grupo que promoveu quebra-quebra na Estação Corinthians-Itaquera, aos gritos de "Queremos trabalhar", que mostra bem quem são os prejudicados pelo movimento. O Tribunal Regional do Trabalho (TRT) determinou que 100% da rede seja operada nos horários de pico e 70% nos demais, sob pena de multa de R$ 100 mil por dia ao Sindicato dos Metroviários.

"Desafio o governo do Estado a fazer isso", respondeu o presidente da entidade, Altino Prazeres Júnior. A adesão à greve foi ampla, mas o Metrô funcionou parcialmente, com trens guiados por supervisores de estação e de operação.

Os sinais de que há influência política na greve são muito claros. A começar pelo fato de a proposta de aumento salarial feita pela Companhia do Metrô ser razoável - 8,7%, além de reajuste do vale-refeição de R$ 247 para R$ 290. Ao recusá-la liminarmente, pedindo 16,5%, mas declarando aceitar a volta ao trabalho com uma oferta mínima de 10%, o sindicato demonstra uma má vontade que certamente não se deve apenas a razões salariais.

Não por acaso, líderes de partidos esquerdistas como PSOL e PSTU estiveram entre os incentivadores da greve. Finalmente, em atitude inusitada, alguns maquinistas usaram o sistema de comunicação sonora de trens, um dia antes do início do movimento, para jogar os passageiros contra o governo, dizendo que seria ele o responsável pela paralisação.

A mesma suspeita paira sobre a greve dos marronzinhos da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), que recusaram proposta de aumento de 8%, bem próxima da feita aos metroviários. O prefeito Fernando Haddad, sempre cheio de dedos com os sindicatos e os movimento sociais, deve estar se sentindo traído.

Enquanto as greves pipocam pela cidade, aproveitando a proximidade da Copa, o MTST não dá trégua e agita o mesmo fantasma. No começo da noite de quarta-feira, promoveu passeata que reuniu 12 mil pessoas, segundo a PM. Ela saiu de frente da Estação Vila Matilde do Metrô, interrompeu o trânsito na Radial Leste e chegou depois de duas horas em frente ao Estádio Itaquerão. Num claro recado sobre o que pode fazer ali, onde se realizará o jogo de abertura da Copa dia 12, o MTST ameaçou impedir o acesso de torcedores ao amistoso do Brasil com a Sérvia, hoje, no Estádio do Morumbi, caso o governo federal não dê uma resposta satisfatória a suas reivindicações sobre moradias populares.

Cada vez mais arrogante, o coordenador do MTST, Guilherme Boulos, foi muito claro e firme: "Se o governo quiser pagar para ver, ele vai ver". O governo vem prometendo firmeza e até apelar ao Exército para garantir a ordem pública ameaçada sem rodeios por grupos irresponsáveis como esse. Mas, a julgar pelos antecedentes, Boulos pode ganhar a aposta. No começo de maio, a presidente Dilma Rousseff já cedeu uma vez à pressão do MTST. Pouco antes de uma visita ao Itaquerão, ela se reuniu com representantes daquele movimento, que saíram triunfantes com a promessa de que ele terá acesso ao programa Minha Casa, Minha Vida.

Se ela ceder novamente, neste momento, poderá pagar um preço muito caro.


A greve e o direito à saúde - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - PR - 06/06


Como exercer adequadamente o direito à greve quando estão em jogo fatores como o acesso à saúde por parte do cidadão?



A greve de funcionários dos hospitais privados de Curitiba não chegou ao terceiro dia. Na noite de ontem, após sucessivas pausas para análise das propostas lançadas na mesa de negociação, a Justiça do Trabalho costurou um acordo entre patrões e empregados. Com a volta dos grevistas ao trabalho, as consequências dos dois dias de paralisação sobre o serviço prestado pelos hospitais pedem uma reflexão sobre como exercer um direito importante, caso da greve, quando outros direitos também estão em jogo.

A paralisação, anunciada já no fim de maio, foi iniciada na quarta-feira, apesar do pedido do Tribunal Regional do Trabalho de que as atividades não fossem interrompidas antes que o Judiciário tivesse terminado de analisar o dissídio da categoria. Na última reunião promovida pelo TRT antes da greve, o sindicato patronal havia aceitado a proposta da desembargadora Ana Carolina Zaina, com ganho real de 2% para os salários acima do piso da categoria, mas os trabalhadores recusaram a oferta – eles pretendiam reajuste de 15% nos salários e nos pisos.

Diante da inevitabilidade da greve, a desembargadora Ana Carolina determinou, em despacho datado de 4 de junho, que seguissem trabalhando 100% dos funcionários dos setores críticos (como pronto-socorro, UTIs, centros cirúrgicos, bancos de sangue e hemodiálise), 70% dos trabalhadores de apoio às áreas críticas (por exemplo, radiografia, tomografia e farmácias) e 30% dos funcionários de outros setores considerados não críticos, como o administrativo e as secretarias. No entanto, o cenário visto nos dois dias de greve mostrou que a população não estava tendo acesso aos serviços de saúde a que teria direito caso o funcionamento dos hospitais ocorresse de acordo com o determinado pela Justiça.

Na Santa Casa, por exemplo, todas as cirurgias eletivas que deveriam ter ocorrido nos dias 4 e 5 foram canceladas, e 70% dos funcionários da Unidade de Terapia Intensiva teriam deixado de trabalhar. O Hospital Marcelino Champagnat chegou ao ponto de não poder realizar cirurgias de pacientes que chegavam pelo pronto-atendimento, situação ainda mais grave que o cancelamento de cirurgias eletivas. No maior hospital pediátrico do estado, o Pequeno Príncipe, faltaram 45% dos funcionários da UTI cardíaca e 75% dos trabalhadores do centro cirúrgico, de acordo com a assessoria do hospital. Até mesmo cirurgias cardíacas e neurológicas tiveram de ser canceladas.

Não se trata, em nenhum momento, de questionar o direito dos trabalhadores do setor de saúde à greve. É um direito constitucional e que pode, sim, ser exercido se a categoria considera que esse é o último recurso para obter os benefícios que a categoria pleiteia. No entanto, o uso desse direito em um setor tão sensível quanto a saúde precisa estar sujeito a critérios de razoabilidade. Foi justamente o risco a terceiros – no caso, os pacientes – que levou a Justiça do Trabalho a determinar patamares mínimos de comparecimento ao trabalho nas áreas mais críticas, acima dos 30% previstos em lei. “Muito embora o exercício do direito de greve seja fundamental, não é absoluto e tão pouco de exercício irrestrito, pois (...) também se impõe, sobretudo nas atividades essenciais e inadiáveis, arredar o risco de violação a outros direitos fundamentais, in caso, o direito à saúde”, escreveu a desembargadora Ana Carolina, demonstrando que a Justiça reconhece haver outros fatores que devem ser levados em conta na hora de exercer o direito à greve.

E, quando cidadãos têm seu acesso à saúde negado dessa maneira, inclusive com a impossibilidade de realizar cirurgias em pacientes vindos do pronto-atendimento, é preciso avaliar se a greve – ressaltamos, um direito dos trabalhadores que não questionamos – estava sendo conduzida da melhor forma possível. Mesmo o cancelamento de uma cirurgia eletiva, não emergencial, causa diversos transtornos, especialmente para quem precisa vir de outras cidades para o procedimento, sem contar o risco de deterioração do estado de saúde do paciente que precisa esperar ainda mais para ser operado. É esse tipo de reflexão que se espera dos trabalhadores da saúde: que, no futuro, saibam defender sua categoria sem esquecer de que cuidam do bem mais precioso das pessoas que lhes são confiadas.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

"Depois vão procurar a Corte Interamericana de Direitos Humanos"
Ministro Joaquim Barbosa (STF) ironizando, às gargalhadas, recurso de mensaleiros


VILELA E REBELO: FAVORITOS AO TCU

Dois políticos alagoanos têm sido apontados, nos bastidores, como novos favoritos para a vaga a ser aberta no final do ano, no Tribunal de Contas da União (TCU), com a aposentadoria do ministro José Jorge: o atual governador de Alagoas, Teotonio Vilela Filho (PSDB), e o ministro Aldo Rebelo (Esporte). Ambos são amigos pessoais e, embora tucano, Vilela tem boas relações com Dilma, tanto quanto Rebelo.

PERDEU, IDELI

A vaga no TCU estava "reservada" a Ideli Salvatti, secretária de Direitos Humanos. Mas é cada vez mais difícil que isso se confirme.

NEM AÍ

Curiosamente, o ministro e o governador não parecem empenhados pela vaga. Seus nomes são defendidos por amigos influentes.

VELHOS AMIGOS

Teo Vilela e Aldo Rebelo são amigos como eram seus pais, que faziam vaquejada juntos, procurando gado espalhado nas caatingas.

ISSO NÃO VAI DAR CERTO

Os adversários do Brasil estão adorando a transmissão ao vivo dos treinos do time do Felipão, principalmente o ensaio de jogadas.

AÉCIO GANHA APOIO

Pré-candidato à Presidência, Aécio Neves (PSDB) ouviu dos deputados Júlio Lopes (PP) e Leonardo Picciani (PMDB), em sua visita ao Rio, ontem, um relato que considerou "animador" sobre o crescimento de dissidentes dos correligionários que apoiam a reeleição de Dilma. Na última reunião da bancada do PMDB, às vésperas da convenção de terça (10), somente três deputados defenderam a aliança com o PT.

NADA É IMPOSSÍVEL

Apesar da "máquina federal", o PSDB sonha com uma reviravolta que coloque em seu colo siglas aliadas de Dilma como PMDB, PP e PSD.

CHANTAGEM

O Planalto vê nas ameaças de rompimento da base aliada apenas uma tentativa de pressionar para a obtenção de mais vantagens.

SUPLENTE COM VOTOS

Weslian Roriz, mulher do ex-governador, estuda convite para suplente de Gim Argello (PTB-DF), candidato a permanecer no Senado.

AGRADO

O presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PSD-SP), recebeu do advogado do enrolado Luiz Argôlo (SDD-BA), Aluísio Reges, uma caixa de doces típicos da Bahia. Sem jeito, mandou devolver o presente.

O TROCO

Enquadrado pelo vice Michel Temer para abandonar a candidatura ao governo do Piauí, o deputado Marcelo Castro (PMDB) entrou em campanha aberta contra a reedição da aliança com o PT de Dilma.

BIBLIOTECA DE ALEXANDRIA

A presidente Dilma disse a repórteres estrangeiros que adora passear incógnita em Roma e Nova York e é leitora compulsiva no Kindle, espécie de iPad só para livros e jornais - em francês, inglês e espanhol - antes de dormir.

RECUO PORTUGUÊS

O primeiro-ministro de Portugal, Pedro Passos Coelho, não vem mais à Copa do Mundo no dia 14: a Justiça restabeleceu regalias e privilégios que seu governo havia cortado, e a crise na economia portuguesa pode recrudescer.

LÁ, COMO CÁ

Vincent Bevins, repórter do jornalão Los Angeles Times no Brasil, disse à Globo News que sempre leva o "dinheiro do assaltante" no bolso, mas somente foi roubado na riquíssima Beverly Hills em L.A., nos EUA.

MICHEL É OUTRO

A internação do deputado distrital Dr. Michel, em Brasília, fez circular boato sobre suposto infarto de Michel Temer. O vice-presidente está bem. No auge da boataria, ontem, ele dava palestra em São Paulo.

CALOTE NO DF

Historicamente mal remunerados, escritores temem agora o possível calote da Secretaria de Cultura do DF, que ainda não lhes pagou o pró-labore pela participação na recente 2ª Bienal do Livro de Brasília.

PAPAGAIOS DE PIRATA

O Congresso virou extensão do Projac. Andaram por lá Camila Pitanga, Xuxa e Letícia Sabatella. Sempre cercadas de velhos babões e pela ministra Idelli Salvatti (Direitos Humanos), como papagaios de pirata.

PENSANDO BEM...

...a Copa terá algum legado se não chover. Se chover terá alagado.


PODER SEM PUDOR

COMUNA NO MURO

Na ilegalidade e abrigado no MDB, o Partido Comunista Brasileiro discutia concentrar esforços numa só campanha para deputado no Rio, em 1966, ou em várias. O dirigente Pafúncio quis contribuir para resolver o impasse:

- Os camaradas que querem um candidato têm razão e os outros também...

- Ou é uma coisa ou é outra! - protestou o dirigente Orestes Timbaúba.

- A proposta do companheiro tem todo o meu apoio - concordou Pafúncio, o mais mineiro dos camaradas daquela reunião no morro da Mangueira.