sábado, maio 24, 2014

O voto evangélico - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 24/05

O candidato Eduardo Campos já começou a receber os primeiros informes sobre o peso da presença de Marina Silva como sua vice.
Em alguns estados, as intenções de voto no socialista chegam a triplicar nas pesquisas.
Eduardo dá a volta por cima nas regiões metropolitanas, onde é forte a penetração das igrejas evangélicas. Mantida a tendência, será vigoroso o embate na oposição.


Quem encarna a oposição? 

A pesquisa Ibope foi bem recebida no PSB. Na disputa pela bandeira da oposição, destacam que Eduardo Campos, com 11%, está acima de Marina Silva (9%) na mesma época em 2010. Enquanto isso, Aécio Neves, com 20%, figura muito abaixo do desempenho de José Serra (37%) em 2010. Ele está do tamanho de Geraldo Alckmin (19%) em 2006. A presidente Dilma aparece no patamar dos que avaliam que seu governo é ótimo ou bom.
Seu crescimento depende da melhoria dessa avaliação. Mas consideram impressionante Dilma estar no mesmo nível de seu desempenho de 2010. Pois, naquela época, o país crescia a 7%, e o governo Lula tinha cerca de 80% de aprovação.



"Para aqueles que querem calar a Polícia Federal, é bom saber que existem 600 operações em andamento. A maioria com previsão de ser deflagrada ainda neste ano" 
Marcos Leôncio Ribeiro Presidente da Associação dos Delegados da PF.


O jeitinho
Na Copa, os motéis de várias capitais serão usados como hotel. O governo convenceu seus proprietários a cobrar diária, e não por hora. Mas a Justiça e o Ministério Público não flexibilizaram a proibição de crianças nesses estabelecimentos.


Yes, I want it
Os Estados Unidos terão um torcedor inesperado na Copa. O ministro Vinicius Lages (Turismo) quer os americanos na final, de preferência contra o Brasil.
Ele acredita que se isso acontecer, além do vice, Joe Biden, que já confirmou presença nos jogos, o presidente Barack Obama poderá também vir assistir àquela partida no Maracanã.


Onda de lançamentos
A presidente Dilma reforçará três programas-chave de seu governo na campanha da reeleição: o Minha Casa Minha Vida, o Pronatec e o Mais Médicos.
Nos dias que antecedem a Copa, serão anunciadas ampliações dessas iniciativas.


Levanta, sacode a poeira
A Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal, o fez renunciar ao governo em 2010. Mesmo assim, o ex-governador José Roberto Arruda (PR) lidera pesquisa para o governo de Brasília. No Instituto O&P, ele tem 23,9%, contra 16,2% do governador Agnelo Queiroz (PT) e 9,9% do senador Rodrigo Rollemberg (PSB).


Pela porta aberta
O PP anuncia seu apoio à presidente Dilma na semana que vem. Mas os diretórios regionais foram liberados. Hoje, em Porto Alegre, o tucano Aécio Neves vai ao lançamento de sua candidata ao governo estadual, senadora Ana Amélia (PP).
O corpo fora Sobre a posição da direção do PMDB do Rio a favor de Aécio Neves, o líder na Câmara, Eduardo Cunha, registra que não tem autorização para falar pelo PMDB fluminense. E que não vai ao ato do movimento suprapartidário pelo tucano.


O AMBIENTE MUDOU. Mas a esta altura, em 2010, Dilma tinha 36%, e os candidatos da oposição, 48%. A presidente só cresceu em agosto, com a TV.

Sem backup - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 24/05

A decisão do ministro do STF Teori Zavascki de suspender os inquéritos da Operação Lava Jato paralisou a análise de computadores e discos rígidos apreendidos pela Polícia Federal. Investigadores acreditam que estão ali documentos e e-mails que provam as transações financeiras entre empreiteiras, doleiros, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e até políticos. Documentos e relatórios foram enviados ao STF, mas os discos rígidos continuam intocados na sede da PF no Paraná.

De chuteiras A Câmara decidiu que não haverá sessões nos dias de jogos do Brasil na Copa do Mundo e quando ocorrerem partidas de outras seleções em Brasília. Assim, os deputados ganham seis dias de folga em junho.

Marasmo Na semana de 16 a 20 de junho, quando há jogo do Brasil e partida em Brasília, não será marcada nenhuma votação, o que deve esvaziar a Casa durante toda a semana. O recesso parlamentar só começa em 18 de julho, depois da competição.

Realeza Do vereador Andrea Mattarazzo (PSDB-SP) sobre a possível visita do príncipe Harry, do Reino Unido, à cracolândia, programada para acontecer durante a Copa do Mundo: "Servirá para confirmar que o programa Braços Abertos, da prefeitura, é para inglês ver".

Reforço O número de "amarelinhos" que circulam pelos aeroportos da Infraero vai aumentar em 41% para a Copa. Dos 473 que trabalham com coletes amarelos para auxiliar passageiros, serão 704 a partir de 10 de junho. Já o efetivo da área operacional vai aumentar 18%, de 1.424 para 1.675.

Diversão Além disso, os terminais terão áreas de acolhimento para receber turistas internacionais, as "funzones" com TV para ver os jogos, wi-fi gratuito, totens com informações turísticas de cada cidade, terminais para sacar dinheiro, pebolim, futebol de botão e videogame.

Parcelas A construtora OAS doou R$ 100 mil por mês à direção do PSD em São Paulo em 2013. A Coopersucar, do setor de açúcar e etanol, repassou R$ 50 mil mensais, completando o R$ 1,8 milhão que a sigla de Gilberto Kassab recebeu no ano passado.

Setorial Já o PT paulista arrecadou R$ 5,2 milhões --84% de construtoras e incorporadoras, como a OAS e a JHSF. O PSDB-SP recebeu R$ 3,9 milhões em doações, sendo 93% de empreiteiras.

Churrasco O recado de Júnior Friboi de que vai acompanhar as eleições de Goiás "como cidadão" preocupou peemedebistas. Acreditam que, irritado com a divisão do partido, ele não doará um centavo para a campanha de Iris Rezende (PMDB).

Ombro amigo Destituído da CCJ da Câmara por ter criticado a apresentadora Xuxa, o deputado Pastor Eurico (PSB-PE) foi confortado por líderes de outras siglas. Ele chegou a receber convites para se filiar ao PR e ao Pros na próxima legislatura.

Quebra... Tucanos começam a esquentar a cabeça com a composição da chapa caso avancem os acordos com PSD e PSB, que pleiteiam o posto de vice na chapa de Geraldo Alckmin (PSDB).

... cabeça Há dúvidas se Márcio França toparia concorrer ao Senado. Auxiliares de Alckmin argumentam, entretanto, que o cenário seria favorável à candidatura de Eduardo Campos (PSB).

Visita à Folha Wasmália Bivar, presidente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), visitou na quinta-feira a Folha, a convite do jornal, onde foi recebida em almoço. Estava acompanhada de Silvia Maia Fonseca, assessora de imprensa.

com BRUNO BOGHOSSIAN e PAULO GAMA

tiroteio
"Barbosa assume o risco de submeter Genoino a condições impróprias nos cuidados com a sua saúde. Postura cruel e arriscada!"
DO ADVOGADO MARCO AURÉLIO CARVALHO, do setorial jurídico do PT, sobre a saúde de José Genoino, que está preso na Papuda e pleiteia prisão domiciliar.

contraponto

A união faz a força
Aproveitando a ausência do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), durante a tradicional visita das candidatas ao título de Miss Brasil ao Congresso, Paulo Paim (PT-RS), que exercia a função, fez graça:

Podem subir. Já que o Renan não está aqui, vou para o sacrifício, para tirar a foto aqui com elas. Sejam todas bem-vindas! Não fiquem com ciúmes aí embaixo. Ok?

Do plenário, Aécio Neves (PSDB-MG) emendou:

Senador Paulo Paim, tenho de reconhecer que foi a melhor performance de V. Exa. na presidência do Senado até hoje. Parabéns!

A economia da marmota - ROLF KUNTZ

O Estado de S.Paulo - 24/05

No filme Feitiço do Tempo, de 1993, um repórter especializado em meteorologia vai a uma pequena cidade para cobrir a celebração do Dia da Marmota. Nessa data, 2 de fevereiro, a reação do bicho ao sair da toca para a luz do dia indica se o inverno logo terminará ou vai durar pelo menos mais seis semanas. Essa é a crença tradicional. Terminado o trabalho, o repórter quer partir, mas fica preso na cidade, numa armadilha de cenas repetidas. O noticiário econômico no Brasil é cada vez mais parecido com a história de Groundhog Day, título original do filme. O governo vai mais uma vez maquiar suas contas com receitas excepcionais, segundo confirmou o Ministério do Planejamento na revisão bimestral do Orçamento. A inflação anual continua rodando em torno de 6%. O déficit em conta corrente permanece na vizinhança de 3,6% do produto interno bruto (PIB) em 12 meses. O País mais uma vez apareceu numa das últimas posições - 54.ª em 60 - numa classificação de competitividade. O crescimento econômico projetado pelo governo, 2,5%, na revisão orçamentária, é mais uma vez um pouquinho melhor que o do ano anterior e, de novo, maior que o estimado pelos economistas fora do setor público.

Também como de costume, o Ministério do Planejamento elevou a inflação projetada para o ano, desta vez de 5,3% para 5,6%. A projeção, como sempre, é mais otimista que a do pessoal do mercado financeiro e das consultorias. Como sempre, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, festeja as poucas novidades positivas e anuncia inflação em queda nos meses seguintes. Mas tudo indica uma repetição mais ampla da história bem conhecida.

Os números mais recentes, o IPCA-15, oficial, e o IPC-S, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), apontaram algum recuo nas últimas semanas. O IPCA-15, divulgado no dia 21, caiu de 0,78% em abril para 0,58% em maio. A queda parece um excelente sinal. Mas o índice de difusão ainda mostrou aumentos em 67,4% dos preços cobertos pela pesquisa. Mesmo com menor pressão dos alimentos, a contaminação permanece muito ampla. O IPC-S, anunciado no dia 23, recuou de 0,78% na segunda para 0,69% na terceira quadrissemana de maio. As médias mensais de aumento dos principais índices de preços ao consumidor continuam acima de 0,5% ao mês - acima, portando, de 6% ao ano. O comentário é o mesmo: falta muito para se alcançar um ritmo civilizado de remarcação de preços.

Além disso, os analistas foram unânimes ao negar qualquer surpresa. Essa evolução era esperada e, além disso, muito parecida com a observada em outras ocasiões. As projeções coletadas pelo Banco Central (BC) indicam recuo das taxas mensais até agosto e em seguida uma reaceleração. Na hipótese mais otimista, os aumentos de juros acumulados a partir de abril do ano passado começam a fazer efeito, impondo freio ao consumo privado. Mas isso, por enquanto, é só uma hipótese.

Além do mais, as contas públicas, um dos principais fatores inflacionários, continuam em mau estado. O governo planeja fechar as contas, mais uma vez, com receitas de concessões, dividendos de estatais e mais uma rodada de pagamentos do Refis, o programa de refinanciamento de dívidas tributárias.

Nada de novo nessa frente. Concessões e dividendos devem render juntos, neste ano, pelo menos R$ 37,4 bilhões. Só isso representa 46,3% do superávit primário de R$ 80,8 bilhões programado para o governo central. Somado o dinheiro do Refis, o total vai além de 70%. Austeridade fiscal? Nem pensar. Também nisso a história se repete, como se o tempo estivesse enfeitiçado.

A repetição é a regra também no conjunto das contas externas. Desde agosto do ano passado o déficit em conta corrente acumulado em 12 meses permanece na vizinhança de 3,6% do PIB. A conta corrente é a soma algébrica da balança comercial, da balança de serviços e rendas e das transferências unilaterais. O déficit final de 2013 chegou a US$ 81,07 bilhões, 3,62% do PIB. O acumulado nos 12 meses até abril bateu em US$ 81,61 bilhões, 3,65% . Para o ano o BC projeta um buraco de US$ 80 bilhões, 3,59% do PIB.

O problema principal, como nos últimos seis anos, é a deterioração do comércio de mercadorias. De janeiro a abril o resultado foi um déficit de US$ 5,57 bilhões, com recuo tanto das exportações quanto das importações. Nas três primeiras semanas de maio houve alguma melhora, mas o acumulado no ano ainda foi um déficit de US$ 4,78 bilhões. Como ocorre há muitos anos, só as exportações de minérios e do agronegócio evitaram um rombo maior. De janeiro a abril o agronegócio contabilizou um superávit de US$ 24,14 bilhões, 0,2% menor que o de um ano antes por causa do recuo de alguns preços. Mas o déficit do conjunto dos manufaturados e semimanufaturados foi mais que suficiente para anular esse resultado e ainda produzir um déficit geral na conta de mercadorias.

Aí aparece, de novo, o problema da competitividade. O agronegócio tem sido capaz de enfrentar os muitos obstáculos da logística, da tributação e outros obstáculos característicos da economia brasileira, mas a maior parte da indústria continua travada pelas ineficiências do ambiente econômico e pelos próprios problemas de produtividade. Feito o balanço geral, a posição do Brasil na pesquisa anual do International Institute for Management Development (IMD), da Suíça, parece muito natural. Numa lista de 60, o País só fica acima de Eslovênia, Bulgária, Grécia, Argentina, Croácia e Venezuela. Em melhores posições aparecem o Chile (31.ª), o México (41.ª), o Peru (50.ª) e a Colômbia (51.ª). Os demais Brics - China, Rússia, Índia e África do Sul - também superam o Brasil.

Se depender da política econômica, ninguém deve esperar grande mudança da história neste ano. Mas se faltar coragem ou competência para a busca de um novo rumo, a repetição será substituída por uma piora do enredo. A marmota, podem acreditar, será inocente.

Condenado por cumprir a lei? - MURILO PORTUGAL

FOLHA DE SP - 24/05

A partir da segunda metade dos anos 1980, o governo brasileiro adotou planos econômicos para conter a forte aceleração inflacionária. Seu êxito foi apenas parcial, mas evitaram a hiperinflação e a ruptura do padrão monetário. Nesses planos, além de congelar preços de bens e serviços, o governo alterou as regras de praticamente todos os contratos da economia.

Isso afetou salários, aluguéis e várias outras obrigações financeiras. Também foram alteradas as regras de correção monetária do setor imobiliário: as cadernetas de poupança e os empréstimos para aquisição da casa própria, que eram financiados com os recursos da poupança.

Passados muitos anos, na década de 1990, alguns detentores de cadernetas de poupança ingressaram com ações na Justiça, alegando que sofreram perdas em função das mudanças nas regras de correção das cadernetas, responsabilizando os bancos por essas supostas perdas.

É sobre estas questões que o Supremo Tribunal Federal deverá tomar uma decisão na próxima semana. A nossa expectativa é que seja feita justiça, o que, em nossa opinião, significa decidir favoravelmente aos bancos. Por quê?

Primeiro, porque os bancos apenas cumpriram rigorosamente a legislação da época e não tinham outra opção. Resoluções do Banco Central, previamente autorizadas por leis aprovadas pelo Congresso, estabeleceram índices e determinaram o mês de sua aplicação. Não parece justo que os bancos venham a ser condenados por cumprirem o que impunha a lei.

Segundo, os bancos não lucraram com os planos econômicos. Sua lucratividade nos anos em que foram editados os planos econômicos foi menor do que a média das décadas de 1980 e 1990. As mesmas regras aplicadas às cadernetas o foram também aos empréstimos habitacionais. Se a mudança dos índices tiver proporcionado ganho a alguém, seria àqueles que tinham financiamentos imobiliários à época.

Terceiro, a maioria dos poupadores não perdeu. A alegada perda reclamada por alguns portadores de caderneta refere-se somente ao mês de introdução de cada plano de estabilização. As mudanças nas regras faziam com que, no mês de sua introdução, o índice de correção ficasse anomalamente alto; e anomalamente baixo nos meses subsequentes. Do ponto de vista econômico, perdas ou ganhos nas circunstâncias de um plano de estabilidade não podem ser avaliados pelo resultado de um só mês, principalmente se tiver sido este distorcido pela mudança.

O Ministério da Fazenda fez estudo comparando o índice antigo com o novo num período de quatro meses, demonstrando que o menor ajuste no mês de edição do plano foi mais do que compensado por correções maiores nos meses seguintes. Quem não sacou os recursos da poupança no mês do plano, que é o caso da maioria das pessoas, não teve perda.

Quarto, do ponto de vista da equidade, não seria justo tratar os poupadores diferentemente dos demais agentes econômicos. Como mencionado, também os preços, salários e aluguéis foram temporariamente congelados e tiveram suas regras de correção alteradas.

Uma decisão contrária aos bancos poderá gerar sérias repercussões macroeconômicas, afetando todos os brasileiros com um impacto negativo no crescimento do PIB. Mais da metade da conta teria de ser paga pelos bancos de propriedade do próprio governo, isto é, por toda a população. Esses riscos levaram ex-ministros da Fazenda e ex-presidentes do Banco Central a externar sua preocupação ao STF, numa carta inédita em nossa história.

Caminho da indústria - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 24/05

A indústria desconcerta e confunde. O que fazer com um setor que encolhe a cada ano, por maiores que sejam os benefícios dados através de redução de impostos? Ela chegou a ser 25% do PIB e hoje é 13%. A queda ocorreu num longo tempo. O pico foi nos anos 1970, e de lá vem com altas eventuais, mas a tendência é ficar cada vez menos importante.

Só que é a indústria que dá o tom do debate, é ela que recebe pacotes de benefícios ficais, é ela que tem fama de ser a atividade nobre da economia. Bom, o primeiro a fazer é entender o movimento de queda. O especialista Regis Bonelli, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia, o Ibre, da GFV, foi ao meu programa na Globonews esta semana com uma série de gráficos. Um deles (veja abaixo) mostra a queda da indústria brasileira, como proporção do PIB. Os outros provavam que não é só no Brasil:

— Os gráficos mostram que a queda da participação da indústria no PIB é uma tendência que se observa desde os anos 1980. E é universal. Não é uma jabuticaba. Na Ásia, a tendência é a mesma. Na China, a série é menor, mas se vê queda. Na Europa, era 30% em 1970, mas, veio ladeira abaixo, e é 13,5%. Na América do Norte, caiu para algo em torno de 12%.

O economista Mauro Rochlin, do IBMEC, acha que, mesmo mostrando que em todos os países há uma queda da participação da indústria no PIB, a desindustrialização é mais forte no Brasil, tanto que se parece com economias maduras como a dos Estados Unidos:

— Os últimos anos foram muito difíceis pelo Custo Brasil e pelo câmbio. Tivemos um processo muito intenso nos últimos cinco ou seis anos. A queda do câmbio, durante muito tempo, estimulou as importações, e relações de clientela se firmaram nesse tempo, o que incentivou os importadores a se estabelecerem de forma sólida no Brasil.

Régis Bonelli nota que as importações que cresceram foram de bens de capital e bens intermediários. No último caso, a indústria se beneficia por ter insumos mais baratos e de qualidade superior. Mauro lembra que os salários da indústria aumentaram muito, e isso também tirou competitividade. Acha, no entanto, que o que realmente nos enfraquece é uma infraestrutura deficiente, nosso velho calcanhar de Aquiles.

O que fazer diante disso? Regis acha que o ideal seria se integrar às cadeias produtivas globais, mas lembra que não é trivial. Até porque isso é feito pelas multinacionais, e quando elas vêm é pelo mercado brasileiro, que é grande, e não para exportar daqui.

A atuação do governo tem sido escolher alguns setores para com isso estimular a indústria como um todo.

— Não é assim que se faz política industrial, mas entendo o governo mirar esse caminho porque dar incentivos à indústria automobilística é dar um tiro certeiro. Pelo tamanho da cadeia, acaba atingindo o setor como um todo — diz Mauro.

Bonelli acha que o único tiro certeiro é investir pesado em infraestrutura porque isso aumentará muito a produtividade da indústria.

O futuro visto pelo retrovisor - JOSEF BARAT

O ESTADO DE S. PAULO - 24/05

Neste início de século, o governo busca seguir o velho modelo econômico do nacional-desenvolvimentismo, que prevaleceu entre 1930 e 1980. Foram 50 anos em que o País se voltou para dentro, cresceu aceleradamente e se industrializou. As características principais desse modelo eram a forte presença estatal nos investimentos, o controle cambial e as reservas de mercado, as restrições às importações, o crédito subsidiado para grandes empresas e o Estado investindo e operando indústrias e infraestruturas de serviços básicos. Três mecanismos garantiam recursos para os investimentos: inflação, fundos vinculados a tributos setoriais e endividamento externo. A inflação, ao final, representou uma brutal transferência de renda dos mais pobres para o Estado e para os grandes grupos empresariais, agravando mais a concentração de renda.

O nacional-desenvolvimentismo foi bom enquanto durou. O contexto mundial era outro, uma vez que prevalecia o protecionismo, a maior presença estatal nas infraestruturas, o descontrole dos gastos públicos e a inflação. No entanto, o mundo mudou com o aprofundamento da globalização. Houve o espalhamento de novas cadeias produtivas transcendendo fronteiras, a decorrente redução das barreiras comerciais e o combate aos desequilíbrios fiscais e à inflação, para possibilitar os avanços na produção e nas trocas em escala mundial. Sempre a reboque das mudanças, a quebra do modelo, nos anos 80, impôs ao Brasil uma longa e sofrida transição. Com atraso, teve de se adaptar ao novo contexto para poder ser um ator de importância na economia globalizada. Por isso, foi fundamental quebrar as barreiras comerciais e instituir o tripé macroeconômico de apoio à mudança para uma economia mais aberta e competitiva. Passamos a ter a gestão coordenada do superávit primário, câmbio flutuante e regime de metas da inflação. O Brasil ganhou estabilidade monetária e maior inserção na economia mundial.

Se a indústria, como um todo, não soube enfrentar a competição externa - seja por estar viciada no protecionismo, seja por ter baixos níveis de competitividade e frágil desenvolvimento tecnológico não será o retorno às proteções que a tornará mais competitiva. Os exemplos da prosperidade do agro-negócio e da mundialização de certos segmentos industriais brasileiros mostram que houve alternativas. Por outro lado, se a falência do Estado nos anos 80 nos impôs infraestruturas precárias e insuficientes, a recuperação veio após a instituição das concessões ao setor privado. Portanto, não será com maior carga tributária e inflação que o Estado retornará à "época de ouro" de seu domínio sobre a economia. O Estado brasileiro é perdulário, incompetente, fortemente controlado por grupos políticos e, portanto, atrasado e corrupto em sua essência. Esperar que venha a comandar o crescimento econômico daqui para a frente - como o fez no passado - é esquecer o velho preceito marxista de que a História se repete como farsa. Ou como tragédia, se a inflação desandar e os investimentos encolherem ainda mais.

O mais curioso nessa guinada para o nacional-desenvolvimentismo é essa espécie de "síndrome de Estocolmo" econômica. Os governos militares levaram ao auge o nacional-desenvolvi-mentismo, ironicamente aprofundando e ampliando parâmetros que vinham das épocas de Vargas e Kubitschek. O fechamento da economia, a industrialização a qualquer custo e o descaso com a inflação dominaram o pensamento econômico. Inegavelmente, o País deu um enorme salto para a contemporaneidade, pois poucos países cresceram aceleradamente como o Brasil, entre 1930 e 1980. Mas os anos 80 e 90 já indicavam a falência desse modelo econômico autárquico, não apenas diante das grandes mutações da economia mundial, mas também diante do quadro de hiperinflaçào associada à estagnação da economia por mais de duas décadas. É estranho ver aqueles que hostilizavam as políticas econômicas dos governos militares quererem repeti-la tanto tempo depois. Hoje o governo vislumbra o futuro olhando pelo retrovisor.

A alavanca de Aristóteles - KÁTIA ABREU

FOLHA DE SP - 24/05


Aristóteles: 'Dê-me alavanca e moverei o mundo'; dê o agro a um governante sensato e ele moverá o Brasil


O anúncio do Plano Agrícola e Pecuário 2014/2015, por sua abrangência e magnitude --e por se destinar ao setor mais dinâmico da economia brasileira--, não poderia deixar de provocar controvérsias. Houve frustrações? Sem dúvida. Houve ganhos? Com certeza.

Os R$ 156 bilhões destinados ao novo Plano Safra podem parecer pouco, mas representam aumento de 26,28% em relação aos recursos ofertados e efetivamente aplicados na safra passada. O ganho é substantivo diante do aumento médio de 10% nos custos de produção nas principais cadeias do agro no mesmo período.

A manutenção do volume de recursos para financiar o seguro rural nos frustrou, é verdade, pois esperávamos que se mantivesse a política de aumento progressivo. A descontinuidade dificulta o plano de atingir, o quanto antes, a meta de 50% da área plantada segurados.

É, portanto, legítimo o protesto dos produtores. Continuaremos a reivindicar mais recursos para o seguro agrícola, na convicção de que o fazemos no mais estrito interesse público.

O essencial a destacar, porém, é que se estabeleceu um canal direto entre o setor e o governo. Nos últimos três anos, limpamos uma pauta acumulada de mais de duas décadas, que incluía, entre outras questões vitais, a concessão dos portos à iniciativa privada e o Código Florestal.

O agronegócio, nesse período, passou a ser ouvido na formulação das políticas do setor, o que não ocorria antes. E isso, por si só, é um ganho inestimável. Tudo o mais torna-se pontual, na medida em que, tendo voz e sendo ouvidos, podemos corrigir adiante o que for necessário.

A elevação das taxas de juros em um ponto percentual foi o limite do admissível. Esperávamos a manutenção, mas, considerando as tendências do mercado de crédito brasileiro decorrentes das políticas de contenção da inflação, fomos relativamente pouco penalizados.

Se não, vejamos: a taxa Selic variou de 7,25%, em março de 2013, para 11%, em abril de 2014, ou seja, aumentou 51,7%. Já a taxa de juros do Plano Safra, para custeio e comercialização, aumentou de 5,5% para 6,5%, o que representa acréscimo de 18%. E a taxa que nos coube, embora ainda alta, é inferior às dos planos agrícolas anteriores à safra 2011/2012.

Como compensação, foram mantidas em 4,5% e 5% as taxas de juros do Programa ABC e do financiamento de máquinas e equipamentos. E houve inovações importantes, como na pecuária. Cheguei a relatar à presidente Dilma nosso temor de que a desatenção para com esse setor levasse o pecuarista a procurar alternativa mais rentável, com o risco de o país se transformar em um grande campo de soja.

Pois, agora, os criadores poderão financiar a aquisição de animais para engorda em regime de confinamento. Mais: a retenção de matrizes, com até três anos para pagamento, e a aquisição de matrizes e reprodutores (limite de R$ 1 milhão por beneficiário, com até cinco anos para pagamento, sendo dois de carência) aumentarão sem dúvida a oferta de carne. Essa proposta foi encaminhada pela CNA e acolhida na íntegra.

E não é tudo: para incentivar a inovação tecnológica no campo, serão aperfeiçoadas as condições de financiamento à avicultura, à suinocultura, à agricultura de precisão, a hortigranjeiros e à pecuária de leite. Trata-se, pois, de um plano que, se tem suas limitações --e as reconheço e enfatizo--, não pode ter suas qualidades e avanços ignorados. Há pendências? Claro. O setor sucroalcooleiro há anos aguarda resposta ao projeto de melhorias que submetemos ao governo.

Outro exemplo: o trigo. Aguardamos resposta dos ministérios da Agricultura e da Fazenda a um programa de incentivo ao trigo, de modo a promover sua autos- sustentação.

Mas não podemos ignorar que hoje temos nossa importância reconhecida. Tanto é assim que uma reivindicação de uma década --a trans- ferência da atividade florestal para o Ministério da Agricultura-- foi finalmente acatada. O setor agropecuário, que antes não tinha nada, agora tem importância econômica e política.

Aristóteles já dizia: "Dê-me uma alavanca e moverei o mundo". Num país como o nosso, dê o agro a um governante sensato e ele moverá o Brasil.

Pausa no garrote - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 24/05

Sobram indícios de que a reunião do Copom marcada para quarta-feira manterá os juros básicos (Selic) em 11% ao ano. Se isso se confirmar, estará interrompido o ciclo de alta acumulada em 12 meses, de 3,75 pontos porcentuais.

Pela extensão da empreitada, os resultados são medíocres. Quando a puxada dos juros começou, em abril do ano passado, a inflação em 12 meses estava nos 6,49%. Não melhorou significativamente. Em abril estava em 6,28% e, em junho, deverá ultrapassar o teto da meta de 6,5%. Não se tratará ainda de uma transgressão formal ao sistema de metas porque, pelo efeito de mais uma dessas jabuticabas nacionais, os dois pontos porcentuais acima da meta de 4,5% não são exigidos em períodos de 12 meses, mas apenas ao final de cada ano.

Os resultados do aperto monetário são medíocres não apenas porque a inflação segue alta demais, mas, também, porque o Banco Central (BC) não vem conseguindo ancorar as expectativas. O mercado, como aferido pela Pesquisa Focus, do próprio BC, aponta para uma inflação bem mais alta para o fim do ano: de 6,42%, contra projeções de 6,0% do Relatório de Inflação de março.

Por trás desse mau desempenho, há um punhado de distorções. A mais citada é a de que o governo vem represando um quarto de todos os preços da economia. Isso mostra que a inflação natural, digamos, considerada uma adequada recomposição desses preços, já estaria acima de 7% ao ano. Este é um fator que, por si só, mantêm armados corações e mentes dos formadores de preços, porque têm de se guardar para quando esse carnaval chegar. Se estiverem com seus catálogos atrasados, terão problemas na recomposição do seu capital de giro e poderão chocar a clientela.

A outra distorção notória é a de que o BC vai usando indevidamente o câmbio como âncora de preços. A derrubada das cotações do dólar pela forte intervenção cumpre o objetivo de segurar os preços dos produtos importados, especialmente os dos combustíveis, numa conjuntura de utilização máxima das usinas térmicas, que contribuem hoje com mais de 30% da geração de eletricidade.

Mas a principal distorção é a baixa contribuição da política fiscal (a que controla receitas e despesas do setor público) no processo de controle da demanda da economia e dos preços. Assim, rédeas soltas demais na condução das finanças públicas vêm forçando a utilização de políticas heterodoxas para a contenção dos preços, com prejuízo para sua eficácia.

Inflação é febre e febre cronicamente alta é sinal claro de desequilíbrios do organismo econômico. O BC tem razão quando argumenta que desajustes dessa ordem não se consertam só com garrote monetário (alta dos juros). Enquanto não houver disposição política para prover realinhamentos estruturais da economia, a inflação continuará dilapidando o poder aquisitivo do consumidor e esse fator também tem potencial para disparar forças políticas, como as que vêm com as manifestações e com essa sensação difusa de mal-estar.

No limbo - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 24/05
As pesquisas de opinião que estão sendo divulgadas contêm, todas elas, um paradoxo que até o momento não foi resolvido: como é possível que cerca de 70% dos eleitores queiram mudanças no governo - e a maioria, inclusive, as quer substituindo a presidente Dilma Rousseff -, e ao mesmo tempo ela continue sendo a favorita da eleição, com o dobro de intenção de votos que o candidato mais bem colocado da oposição, o senador Aécio Neves, do PSDB?
Os números internos da pesquisa mostram mais coerência com esse sentimento de mudança do que seu resultado final, e há estudos que indicam que é real a chance de a presidente repetir a atuação do candidato José Serra, derrotado por ela em 2010. Durante muitos meses o candidato tucano ficou à frente das pesquisas, nessa mesma faixa de 40%, mas os indicadores internos das pesquisas já apontavam para sua derrota.

O índice que obtinha era mais produto do recall de suas campanhas anteriores, assim como o da presidente Dilma hoje se deveria à sua permanente presença em atos públicos e ao recall da última eleição. Que indicadores são esses?

A taxa de rejeição da presidente Dilma hoje é estável e bem acima das dos seus adversários mais fortes: ela tem 33% de eleitores que a rejeitam, enquanto Aécio Neves e Eduardo Campos reduzem suas taxas de rejeição à medida que se tornam mais conhecidos - o tucano para 20%, e o socialista para 13%.

A taxa de aprovação de seu governo está no limbo , na definição do cientista político Alberto Carlos Almeida, do Instituto Análise. Ele tem um estudo que mostra que, em 46 de 104 eleições para governador realizadas entre 1994 a 2010 em que havia um candidato à reeleição, todos os que chegaram à eleição com o índice de ótimo e bom igual ou maior do que 46% foram reeleitos.

Ao contrário, os que disputaram a reeleição com a soma de ótimo e bom igual ou menor do que 34% foram derrotados. Como a presidente Dilma tem atualmente 35% de ótimo e bom, segundo a mais recente pesquisa do Ibope, estaria em situação delicada, à beira da reeleição ou da derrota, segundo a forma como os números se comportarem durante a campanha.

Nesse mesmo estudo, o cientista político Alberto Carlos Almeida mostra que 40% a 43% dos candidatos à reeleição nos governos dos estados que chegaram às urnas com índices de ótimo e bom entre 35% e 45% se reelegeram, o que demonstra que a derrota é mais provável nessa faixa de avaliação, embora não uma certeza.

Uma ressalva importante que Alberto Carlos Almeida faz é que é possível melhorar a avaliação no decorrer da campanha. Dilma terá três vezes mais tempo de propaganda eleitoral que o tucano Aécio Neves e sete vezes mais que Eduardo Campos, do PSB.

Há dois exemplos clássicos na nossa curta história da reeleição para presidente da República: Fernando Henrique foi reeleito em 1998 com 43% de ótimo e bom, tendo saído de 38% em julho. E Lula foi reeleito em 2006 com 47% de ótimo e bom, tendo os mesmos 38% nesses quesitos em julho daquele ano.

O que esses indicadores mostram é que a situação da presidente Dilma na atual eleição é mais desfavorável do que a da eleição de 2010, quando tinha no então presidente Lula um fiador a toda prova, com mais de 80% de aprovação popular e uma economia crescendo a 7,5% ao ano, bem ao contrário do que acontece hoje.

Dilma hoje é a candidata da continuidade, quando a maioria quer mudanças, mas caberá aos candidatos da oposição a tarefa de convencer os eleitores de que eles são capazes de realizar as transformações que a sociedade quer, enquanto a campanha governista trabalha com a ameaça que representaria uma mudança de governo na direção errada.

Além de todos os instrumentos de que um presidente da República dispõe em um presidencialismo forte como o brasileiro, a presidente Dilma tem a seu favor uma tendência que marca as disputas eleitorais na América Latina, justamente pelo poder que o Executivo acumula. A revista britânica The Economist ressalta que, desde 1985, somente dois presidentes no exercício do cargo perderam a reeleição na região.

O nome de um jornal - DEMÉTRIO MAGNOLI

FOLHA DE SP - 24/05

Cuba é um teste para os intelectuais de esquerda. No Brasil, com exceções, eles foram reprovados


"Não queríamos nos apropriar do nome de Cuba para usá-lo como nossa marca e, no seu lugar, escolhemos o mais universal dos códigos: os números." Yoani Sánchez cumpriu a promessa que anunciou em sua visita ao Brasil e lançou, dias atrás, o jornal eletrônico 14ymedio. O nome inspira-se em referências temporais (2014) e espaciais (o andar do apartamento de Yoani, onde funciona a Redação), bem como na ideia de comunicação ("medio": veículo), e inclui um atestado de origem: o Y, referência a seu blog, "Generación Y". Num gesto de respeito à diversidade política, "Cuba" ficou de fora: 14ymedio está dizendo que Cuba é a pátria de todos os cubanos, não uma propriedade ideológica. É por isso que, horas depois da inauguração, o site do jornal foi bloqueado pelos servidores da Cuba castrista.

"Queremos produzir um jornal que não pretende ser anti-Castro, comprometido com a verdade e a realidade cotidiana dos cubanos", explicou o editor Reinaldo Escobar, demitido da publicação oficial "Juventud Rebelde" em 1988 e proibido de exercer sua profissão. 14ymedio evitará usar "palavras carregadas" como "ditadura" e "regime", preferindo expressões como "o chefe de Estado" ou "o presidente general Raúl Castro", completou Escobar. Não são iniciativas destinadas a obter uma (impossível) tolerância do regime, mas a demarcar o terreno: o veículo não é um jornal partidário, militante, mas apenas um jornal. É isso que o torna insuportável aos olhos da ditadura castrista.

"Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados." A célebre definição de Millôr Fernandes não representa um elogio da imprensa militante, mas uma constatação básica, cuja relevância aumenta na razão direta do crescimento dos gastos publicitários governamentais: o jornalismo independente sempre dirá aquilo que não interessa ao poder de turno. O caminho da moderação escolhido por 14ymedio não o torna menos oposicionista, especialmente num país onde discordar do governo é oficialmente classificado como trair a pátria. Em Cuba, os internautas que tentam acessar o novo jornal são redirecionados a uma página consagrada à difamação de Yoani Sánchez. A espúria identificação entre o governo e a pátria é um pilar essencial do regime castrista.

"Deem-me a liberdade de conhecer, de pronunciar e de debater livremente, de acordo com minha consciência, acima de todas as liberdades", escreveu John Milton em 1644 no "Areopagitica", que solicitava ao Parlamento inglês a anulação da exigência de licença oficial para imprimir. O panfleto de Milton está na origem da liberdade de imprensa e da aventura histórica do jornalismo. Seu argumento é que, ao longo do tempo, a obra coletiva de incontáveis autores individuais produziria um saber valioso, muito superior ao saber circunstancial dos censores a serviço do governo. Esse tema, tão antigo, conserva evidente atualidade na nossa era digital. O lançamento de 14ymedio reativa a polêmica deflagrada em meio à Guerra Civil Inglesa do século 17: a liberdade do jornal produzido no 14º andar de um edifício do centro de Havana não é um mero "problema cubano".

"Estou preso e sou feliz, pois me sinto mais livre que muitos que estão nas ruas ou na União de Escritores e Artistas de Cuba", respondeu Ángel Santiesteban, em entrevista publicada na edição inaugural de 14ymedio. Santiesteban já foi agraciado com o Prêmio Casa das Américas, principal distinção literária concedida pelo regime cubano. Há 13 meses cumpre pena por delito de opinião. Cuba é um teste político e moral para os intelectuais de esquerda. No Brasil, até agora e com honrosas exceções, eles foram reprovados. Não se viu um manifesto pela libertação de Santiesteban. Duvido que solicitem a liberdade para o 14ymedio. Eles acham que a liberdade deve ser um privilégio de usufruto restrito aos que concordam com eles.

Os rebelados dos grotões - PLÁCIDO FERNANDES VIEIRA

CORREIO BRAZILIENSE - 24/05
A campanha do medo vai vencer? A última pesquisa na praça, divulgada quinta-feira pelo Ibope, deixa uma interrogação no ar. Nela, Dilma cresce na camada da população em que havia perdido mais terreno: a classe média. Aécio avança sobre o voto dos mais pobres, que já foi curral de coronéis eleitorais, e hoje, devido ao Bolsa Família, seria território do PT. Eduardo, devagar e sempre, conquista adeptos em todos os estratos.
No mínimo, a constatação da pesquisa é intrigante. A presidente se saiu bem logo na classe média, a odiada geni de intelectuais petistas como a filósofa Marilena Chauí? Para uma cientista política da Universidade Federal de São Carlos, trata-se da neoclasse média. Esse segmento, que ascendeu na esteira do real nos anos FHC-Lula, estaria temendo os desacertos econômicos de Dilma. Com a propaganda do terror, teria ficado com medo de o pior piorar mais ainda.

Agora, o que dizer do eleitor dos grotões? Segundo a pesquisa, ele estaria trocando Dilma por Aécio. Como, de todos, seria o mais suscetível ao comercial do medo, fica a pergunta: o que houve? Esse eleitor sentiu-se ofendido porque a propaganda do PT o considera uma pessoa incapaz de evoluir sem uma ajudinha do governo? É pouco provável. Uma resposta mais aceitável seria que o valor da bolsa família começou a perder expressivo valor diante da inflação. E, com isso, teria tocado o ponto mais sensível do ser humado: o bolso.

Na leitura de especialistas, a pesquisa segue a linha dos últimos levantamentos - CNT/MDA, Sensus e Datafolha -, indicando alta na possibilidade de a eleição ser decidida em segundo turno. Agora, é provável que o atual quadro eleitoral só sofra mudanças significativas após a Copa. O Planalto teme que manifestações durante o Mundial influam no humor dos brasileiros quanto ao voto. Mas não há protestos com forte participação popular à vista. O que se vê, até agora, são sindicalistas, sem-teto e sem-terra ligados ao PT se aproveitando do Mundial para levar vantagem. Se houver prejuízo, hoje, os grandes prejudicados serão os governos estaduais na mira dos manifestantes. O gigante de junho de 2013, aquele que cobrava escolas, hospitais e transporte padrão Fifa, escafedeu-se. Não dá o ar da graça nem em pesquisas de intenção de voto.

O pavor das greves - RONALD DE CARVALHO

O GLOBO - 24/05

Hoje, Lula sabe que não pode provar de sua própria recente herança. Atrás de si, não há ninguém para culpar. Dilma é seu poste


No movimento das greves há muitos medos, e o maior deles é o do próprio Lula.

Faz mais de dez anos que um diálogo entre um deputado e o candidato Luiz Inácio Lula da Silva, na presença do então candidato a vice-presidente, José Alencar, dentro da cabine de um jatinho em voo para o Ceará, estabeleceria a lógica que garante que Lula não pode ser candidato à Presidência da República.

Colocar aspas em frases é tarefa ingrata, sobretudo para quem não as ouviu. Entretanto, tentarei reproduzir as sentenças, mais ou menos, como as lembra o deputado: “Meu maior medo é a volta da inflação. Na Presidência, preciso manter a moeda estável porque não saberia governar com trabalhador pedindo aumento de salário. Minha moral, como líder, foi comandando greve por salário, portanto, não posso combater greve. Brasil com inflação, eu não sei governar. Se a inflação voltar, todo o meu poder com os trabalhadores acaba.”

O desabafo de Lula foi grave e sincero, e mais que isso, absolutamente real.

Como apagar o passado, mesmo aquele onde ele ainda não reinava, mas já estava marcado para ser um grande protagonista? Como esquecer a primeira grande greve?

A greve geral dos metalúrgicos de São Bernardo e Diadema durou de 13 de março a 13 de maio de 1979, quando foi votada, em assembleia no Estádio de Vila Euclides, a proposta de acordo. Ela estabelecia, entre outras coisas, pagamento dos dias parados; aumento de 11%, conquistado pelos trabalhadores nas greves de maio de 1978; encaminhamento ao governo de estudos referentes à legislação do Fundo de Garantia e da estrutura sindical, da legislação de greve, da nova sistemática de representação sindical e do sistema de negociação coletiva. Estas foram conquistas reais de que Lula participou.

Deixou uma biografia de vitórias e povoada com admiradores de suas façanhas. Naquela época, tinha uma bonita história para contar.

Hoje, Lula sabe que não pode provar de sua própria recente herança. Atrás de si, não há ninguém para culpar. Dilma é seu poste; e ele, o eletricista do poste. Mas nada disso agora importa, pois, diante da inflação que sabe inevitável, não há tempo para desculpas. O povo cobrará na carne decisões que ele não poderá oferecer. Lula definitivamente não sabe liderar movimentos contra greves. Não há hipótese de Lula ser um negociador onde ele é patrão e mediador ao mesmo tempo. Sua máscara se transformará em farsante e cairá de pronto para o fantasma da cabine no jatinho entrar no corpo e assombrá-lo para sempre.

O Partido dos Trabalhadores e Lula sabem a enrascada em que se meteram quando confiaram uma missão política e administrativa a uma pessoa que não entende de política nem de administração, mas, agora, que fazer? Cortar os pulsos? Todos têm que aproveitar o fato de que os três postulantes ao Planalto estão na corrida do primeiro turno.

Há outra tentação de Santo Antônio que muito imaginam, mas que não é nem bom pensar.

Trair Dilma é uma prática que não passa pela cabeça de Lula e de ninguém de bom senso do PT. Este seria um lance de absoluto desequilíbrio político e de ignorância da alma humana. Não só uma enorme desmoralização para Lula e o PT, mas como uma perigosa brincadeira com fogo.

Mesmo as mais puras e cândidas almas não podem duvidar que Dilma Rousseff tenha guardadas, na gaveta esquerda do seu coração de rancores, lindas lembranças de muitos companheiros de outras vidas já vividas e jamais esquecidas.

Do peleguismo à delinquência - ALBERTO DINES

GAZETA DO POVO - PR - 25/05

O Brasil ofereceu na última terça-feira, em São Paulo, importante contribuição para o descrédito do sindicalismo como instrumento de defesa dos direitos dos trabalhadores, quando uma facção da agremiação que reúne motoristas e cobradores de ônibus urbanos, numa operação de guerrilha, organizou uma greve-surpresa, trancou o trânsito na hora do rush e durante os dois dias seguintes estabeleceu o caos na maior metrópole do país.

A operação comprometeu seriamente a imagem de um sindicato (cujo histórico não é dos mais decentes) e que, na véspera, fechara um acordo com o patronato. Afetou drasticamente a vida de um milhão de trabalhadores de outros sindicatos impedidos de cumprir suas obrigações e prejudicou a sociedade ao descumprir a lei que determina que nas paralisações no serviço público seja garantido um funcionamento mínimo à população.

Mais grave: confirmou as suspeitas de infiltração da grande delinquência nas manifestações promovidas pelos movimentos sociais. Os agitadores retiraram as chaves dos ônibus nas garagens impedindo sua utilização, abandonaram alguns com pneus furados em importantes cruzamentos no perímetro central e depredaram mais de cem coletivos.

As autoridades atônitas denunciam a sabotagem, mas na véspera de um evento mundial com as dimensões da Copa do Mundo acautelam-se e procuram evitar um aumento das tensões com a entrada em cena das grandes centrais ávidas para incrementar a sua influência política. As polícias, por sua vez, mantêm a tática de minimizar a infiltração das facções criminosas imaginando com esse faz de conta que pode ocultar da população o poder crescente do crime organizado na vida nacional.

O sindicalismo moderno tem as suas origens na Revolução Industrial no final do século 18 e suas primeiras ações dirigiram-se contra as máquinas que ofereciam aos patrões a oportunidade de diminuir postos de trabalho e impor baixa remuneração. Marx e Engels lembraram em meados do século 19 que o proletariado deveria unir-se para obter melhores condições: o inimigo não era a máquina, mas aqueles que as empregavam para fomentar a desunião.

Nos anos 20 e 30 do século passado, o fascista Benito Mussolini adotou a Carta del Lavoro que serviu de inspiração a inúmeros governos autoritários, inclusive ao Estado Novo, implantado por Getúlio Vargas em 1937. Os sindicatos mudaram meta e táticas: o objetivo passou a ser o fortalecimento do Estado e não a melhoria das condições de vida e trabalho. O sindicalismo chapa-branca estimulado por Vargas apelidado de “pelego” (a pesada manta colocada entre os arreios e a pele dos cavalos para amenizar os efeitos do trote) foi igualmente utilizado na ditadura militar para oferecer uma base de apoio popular a um governo discricionário.

Quem liquidou o peleguismo foi o líder Luiz Inácio Lula da Silva a partir das greves no ABC, São Paulo, nos fins dos anos 70 com o saneamento dos sindicatos, especialmente os de metalúrgicos, reconduzidos ao caminho original de lutar por melhores condições sociais e políticas.

Três décadas depois, é preciso que os seguidores de Lula não permitam a substituição dos pelegos por malfeitores. Há indícios de que alguns militantes estão deixando os escrúpulos de lado para obter apoios em esferas próximas ao crime organizado. A proximidade das eleições justificaria a jogada. É insanidade.

Perdendo as estribeiras? - EDITORIAL O ESTADÃO

O Estado de S.Paulo - 24/05

Para quem vive no Brasil, não é propriamente uma novidade, mas a recente fala de Lula, classificando como "babaquice" o desejo popular de que os estádios de futebol tenham boa conexão com o transporte público - discursava naturalmente para uma plateia condescendente -, traz um dado novo ao atual contexto político. Demonstra que com certo atraso ele entendeu as pesquisas de opinião de abril. Percebeu o problema que tem pela frente e está desnorteado, falando a coisa errada na hora errada.

A pesquisa do Ibope do mês passado apontava, por exemplo, que 68% dos entrevistados tinham a expectativa de que se modifique a forma de governar o País e 64% diziam que preferiam essa mudança com "outro presidente". Lula entendeu o recado: Dilma precisa desesperadamente dele. Mas não é apenas isso o que está fazendo Lula perder as estribeiras; o problema é mais profundo.

A situação atual é muito diversa da de 2010. Há quatro anos, tratava-se de criar uma personagem a partir do zero. Agora, ele precisa recriar uma candidata com enorme passivo político, que não poupou esforços em desmentir a imagem de gerente competente.

Dilma não pode culpar as circunstâncias, internas ou externas, pelo seu pífio governo. Teve maioria no Congresso e, por bom tempo, altos índices de popularidade, a economia internacional melhorou, a arrecadação interna aumentou. E ainda recebeu um generoso dote do padrinho político: a realização da Copa do Mundo no seu governo. Quem poderia imaginar melhor cenário do que esse para a mãe do PAC atuar e deixar patente ao mundo inteiro a sua competência?

Mas a companheira Dilma, tão obediente nos tempos de juventude, insistiu na incompetência e em incompetentes, manifestando uma incrível capacidade de transformar oportunidades em problemas. A Copa do Mundo é o exemplo mais evidente dessa sua "qualidade".

Há motivos para acender a luz vermelha no painel político de Lula. Os dois presidentes anteriores reelegeram-se. Agora, quando era a vez de Dilma, a imprevisibilidade é consenso, e Lula precisa entrar novamente em cena, para recriar a candidata. Isso não significa que está afastada a possibilidade de ele concorrer. Se alguma coisa o recente doutor honoris causa por Salamanca ensinou-nos durante os últimos anos é a de que não se deve ouvi-lo literalmente. Até a Convenção Nacional do PT, em junho, tudo pode acontecer.

O destempero da fala de Lula sobre a expectativa do brasileiro em relação aos serviços públicos evidencia também que ele captou a mensagem das manifestações de junho. Embora não tenha se dirigido diretamente contra o ex-presidente petista, a voz das ruas protestou contra a situação, e ninguém mais do que ele é responsável pelo que está aí. Os onze anos de governo do PT deixam uma herança maldita não apenas na economia e nos serviços públicos, mas de retrocesso político (que é a outra face da moeda do populismo), administrativo (não é novidade que Pasadena é apenas a ponta do iceberg) e institucional (a começar pelas agências reguladoras).

Mas será que isso é suficiente para que Lula ande dizendo o que está dizendo? Não é novidade que ele fale coisas sem muito nexo. Tem a rara capacidade que Andy Hertzfeld, um dos pais do Macintosh, atribuiu certa vez a Steve Jobs: a de criar um campo de distorção da realidade, posteriormente definida como a habilidade de acreditar e fazer acreditar em quase tudo, pelo carisma, exagero e marketing persistente, distorcendo o sentido coletivo de proporção e dimensão.

No entanto, Lula não está apenas falando coisas sem nexo. A sua própria bússola política está desorientada: enfrenta ele legítimas aspirações populares com uma arrogância típica da sua sucessora? Talvez seja um sintoma de que tenha compreendido o seu verdadeiro problema político. Gaba-se de eleger qualquer poste, mas agora - e aqui está o seu calcanhar de aquiles - ele não pode escolher o poste. Já foi escolhido há quatro anos, noutro cenário político. Certamente, a companheira Dilma, combalida por sua própria incompetência, não seria a sua atual opção. É uma das consequências de ser governo, que ele parece não ter aprendido: os seus atos geram responsabilidade. Mas essa palavra ainda não está no seu dicionário.

Competitividade do Brasil se mantém em queda - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 24/05

Em quatro anos, o país perde 16 posições em ranking e se torna uma das dez economias menos eficientes. Período coincide com a adoção da ‘nova matriz’ por Brasília



Mesmo nos bons momentos em que, com exagero, o país era visto do exterior como se estivesse na porta de entrada do bloco das economias desenvolvidas, algumas fragilidades persistiam em campos estratégicos. Educação, um deles, bem como na infraestrutura e em vários itens que compõem o que se chama de “ambiente de negócios” — burocracia, tributos, entre outros itens.

O governo Dilma tentou aplicar um modelo, batizado de “nova matriz econômica”, pelo qual a produção seria puxada pelo consumo, sem se abrir espaço ao setor privado nos investimentos, e ainda fazendo-se pouco caso do equilíbrio fiscal, logo, da inflação. Não deu certo. O governo tentar refazer o caminho nos investimentos, mas a inflação se firma como destaque na lista de problemas graves, enquanto o crescimento do PIB se mantém anêmico. Os velhos problemas persistem e eles estão expostos no último ranking de competitividade, referente a 2014, montado pelo International Institute for Management Development (IMD), com apoio no Brasil da Fundação Dom Cabral.

Neste levantamento, o país perdeu mais três posições e está em 54ª lugar numa relação de 60 economias. Ou seja, o Brasil é um dos dez piores em poder de competição no mundo.

Tudo muito coerente com os resultados obtidos, por exemplo, na balança comercial, em que a queda das cotações mundiais de commodities e elevação das importações de combustíveis nem de longe são compensadas pelas vendas de manufaturados. Nestas, os problemas da baixa competitividade do país são visíveis.

É sugestivo que nos últimos quatro anos — período no qual foi testada a “nova matriz” —, o Brasil haja perdido 16 posições no ranking do IMD, e hoje esteja à frente apenas de Eslovênia, Bulgária, Grécia, Argentina, Croácia e Venezuela. Portanto, em más companhias, principalmente Argentina e Venezuela, aliados ideológicos de Brasília, em diversos estágios de uma crise econômica grave.

Afetada pela má colocação do país em termos de gestão governamental (58º lugar), qualidade da infraestrutura (52º) e inflação (54º), a eficiência empresarial caiu de 37ª para 46ª posição.

Todo este cenário empurra o próximo governo para fazer reformas que destravem a economia — tributária, trabalhista, entre outras. Se não for estancada a tendência de os gastos em custeio cresceram sempre mais que a arrecadação e o PIB, em meio a um persistente intervencionismo governamental, os horizontes continuarão turvos e os investimentos, travados.

A vantagem é que, segundo o IMD, o Brasil continua bem avaliado em tamanho da economia e poder de atração de investimentos diretos externos. Deve-se aproveitar enquanto é assim.

Contas externas desequilibradas - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 24/05
Vai muito mal o desempenho dos negócios do Brasil com o resto do mundo. Esse é um dado que não tem o charme do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nem chama tanta atenção como o comportamento da inflação. Mas é indicador importante da saúde da economia de um país. E deveria ser acompanhado com mais atenção. É como medir a capacidade de gerar riqueza pela via das relações internacionais; ou seja, o que se ganha na contabilidade entre o que entra com as exportações e o que sai com as importações, o que pagamos e o que recebemos dos parceiros comerciais no exterior.
Depois de acumular perdas preocupantes no primeiro trimestre, o país registrou em abril mais um deficit em transações correntes: US$ 8,29 bilhões, um recorde para o mês. Com isso, o Brasil acumula deficit em conta- corrente de US$ 33,4 bilhões nos quatro primeiros meses, também o maior da série histórica iniciada em 1947. O valor corresponde a 4,65% do PIB, proporção considerada alta pela maioria dos especialistas internacionais. Para economias menos desenvolvidas, é tolerável que esse percentual chegue a 3%, mas passa a ser monitorado com mais preocupação o país que tem resultado pior do que esse, como ocorre com o Brasil.

O dado só não pesa mais contra nosso crédito, por enquanto, por causa das reservas cambiais de US$ 375 bilhões, espécie de aval para as compras a prazo e a contratação de empréstimos. Mas é sempre bom lembrar que foi graças a festejados superavits comerciais no tempo das cotações em alta das commodities (período anterior à crise financeira internacional de 2008/2009) que o país conseguiu pagar em dia suas dívidas e acumular as reservas que tem hoje.

As contas de abril refletem a crescente perda de competividade de nossa economia, como revelou a última pesquisa do International Management Developmeent (IMD), de Lausanne, na Suíça, envolvendo 60 países. O Brasil caiu da 38ª posição, que ocupava há quatro anos, para a 54ª.

Em abril, as exportações brasileiras não conseguiram ir além de um pífio superavit de US$ 506 milhões, insuficiente para compensar as perdas na balança de serviços, que inclui os gastos dos brasileiros no exterior, além das contas de remessas de lucros das empresas estrangeiras aqui instaladas.

A manutenção de deficits nas contas externas pode acabar comprometendo a condição de grau de investimento obtida pelo Brasil. Mas, para voltar a ter renda em moeda estrangeira, o país não pode mais contar apenas com a eventual retomada dos preços das commodities agrícolas e minerais. Por isso mesmo, precisa enfrentar com determinação os gargalos que tornam o país cada dia menos capaz de competir nos mercados internacionais. Rever o tamanho e o custo do Estado para viabilizar a reforma tributária, reduzir a burocracia, iniciar uma arrojada revolução na educação e acelerar os investimentos em infraestrutura estão nessa agenda, da qual o próximo presidente não terá como fugir.

A Copa na balança - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 24/05

Colocados em seus reais e devidos termos, os gastos governamentais com a Copa do Mundo se revelam menos significativos do que se tem imaginado. Correspondem, segundo reportagem desta Folha, a cerca de um mês (9%) do que se despende para custear a educação.

União, Estados e municípios canalizam anualmente R$ 280 bilhões para a escola pública. É de R$ 25,8 bilhões o investimento no Mundial –cabendo ainda lembrar que está previsto o reembolso, ao erário, do que se gastou na construção de estádios e outras obras.

Feitas as contas, surge como inegavelmente exagerada a opinião corrente de que o governo poderia usar o dinheiro aplicado em sedes esportivas para resolver o problema da educação no país.

Essa comparação não diz tudo. Os R$ 25,8 bilhões que se desembolsam com o campeonato quase equivalem, por outro lado, à maior obra de infraestrutura do governo, a usina hidrelétrica de Belo Monte, orçada em R$ 30 bilhões.

Relativamente pequeno e, ao mesmo tempo, desproporcional, o investimento realizado com a Copa pode ainda ser avaliado segundo o seu retorno futuro: erigem-se pelo país arenas capazes de abrigar dezenas de milhares de pessoas, quando alguns torneios regionais têm público médio ínfimo.

Do balanço dessas constatações alternativas pode-se tirar conclusão consternadora. Se, comparado a outros investimentos em obras públicas, o gasto com a Copa é elevadíssimo, isso se deve ao fato de que o próprio Orçamento tem reservado uma parcela muito pequena do total para a infraestrutura.

Dada a enorme quantia que o Estado desembolsa com juros da dívida pública (cerca de R$ 270 bilhões) e Previdência (perto de R$ 390 bilhões), para nada dizer dos notórios desperdícios com a máquina administrativa, surgem de certa forma diminutos os recursos lançados nos estádios.

Cálculos desse tipo são importantes para reavaliar o sentimento geral de que os problemas do investimento público no Brasil seriam de fácil solução. Nem por isso os protestos contra a Copa deixam de ter motivos, ainda que se baseiem numa matemática simplista.

É que representam, em parte, uma reação contra a mística de que o país está pronto para ingressar no Primeiro Mundo, ou, no uso de vocabulário mais atualizado, a seguir o "padrão Fifa" no atendimento das necessidades da população.

Salta aos olhos o contraste entre o mundo real e as ilusões da Copa do Mundo –alimentadas pela retórica do governo. O qual, ainda uma vez, adia as reformas imprescindíveis, nas áreas previdenciária e fiscal, capazes de dissipar em definitivo os paradoxos –e os descontentamentos– que os números do Orçamento revelam.

O aparelhamento dos fundos - EDITORIAL O ESTADÃO

O Estado de S.Paulo - 24/05

A disputa eleitoral para dois cargos de diretores e seis de conselheiros da Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ) tem servido para lançar mais luz sobre o aparelhamento dos fundos de pensão das estatais pelo PT, principalmente, mas também por seus aliados. Informações detalhadas sobre a situação desse fundo, publicadas pelo jornal Valor, mostram como é feita e a que ponto chegou a sua ocupação pelo partido do governo, que, tudo indica, não deve ser diferente da dos demais fundos.

Não contente em controlar a Previ, o PT e a central sindical que controla, a CUT, estenderam sua influência às dezenas de empresas das quais esse fundo é acionista. Um universo variado, que vai de petróleo a indústria aeronáutica, passando por bebidas e alimentos. Foram identificados pelo menos 50 representantes da Previ - petistas e aliados - nos conselhos de administração e fiscalização de 26 dessas empresas. A maioria - 27 - é de filiados do PT, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Esse grupo já representa um terço dos 153 conselheiros das mais de 50 empresas nas quais o fundo tem interesses e, a continuar a marcha da companheirada no ritmo dos últimos anos, vai aumentar ainda mais.

O surgimento de um grupo de oposição à chapa do PT/CUT que disputa a eleição para aqueles cargos tornou possível a manifestação de críticas que ajudam a esclarecer as práticas dos que tomaram de assalto os fundos de pensão. Os oposicionistas querem mudança na escolha dos dirigentes porque, como diz Cecília Garcez, ex-aliada do PT, "o sistema foi flexibilizado para que a experiência como dirigente sindical conte tanto quanto a de ter sido executivo em uma empresa".

A seu ver, alguns dos conselheiros ligados à CUT "não têm a menor preparação para sentar num conselho de grandes empresas privadas". A Previ nega as acusações do grupo de oposição, sustentando que a escolha de conselheiros é feita com base em critérios técnicos e não partidários. Mas a lista de conselheiros levantada pelo Valor - com as ligações sindicais e partidárias de cada um, assim como os nomes das empresas para as quais foram indicados - dá razão à oposição.

Essa questão está longe de ser apenas uma disputa fisiológica, uma luta por cargos e vantagens. Ela é isso também. Basta lembrar que os conselheiros indicados pela Previ são muito bem pagos pela participação nas reuniões a que têm a obrigação de comparecer. Sua remuneração varia de R$ 3 mil a R$ 47 mil, dependendo da empresa. Alega a Previ que para os funcionários da ativa que desempenham aquela função o valor máximo é de R$ 13,9 mil. Convenhamos que mesmo para eles é uma remuneração a que poucos brasileiros podem aspirar, ainda mais para o pouco trabalho que fazem.

Mas o mais importante é a dimensão econômica e política do controle dos fundos das estatais pelo PT. Essas entidades têm um peso enorme na economia do País. O exemplo da Previ, o maior de todos os fundos, é ilustrativo. Para garantir as obrigações que tem com seus 198 mil associados, ela dispõe de ativos estimados em R$ 170 bilhões. O segundo maior, o Petros, dos funcionários da Petrobrás, administra ativos avaliados em R$ 66 bilhões.

Esse caso vem lembrar mais uma vez que o PT tem uma noção aguda e precisa do que é o poder. Não o confunde com suas aparências. Sabe onde ele está de fato - no controle, ao mesmo tempo, dos fundos de pensão e da máquina do Estado. Não quer ser apenas o "partido da boquinha", como o chamou maldosamente o deputado Anthony Garotinho, hoje seu aliado. O fisiologismo, mesmo desenfreado, é pouco. Ele quer muito mais, ainda que ao custo de comprometer, com sua ambição e irresponsabilidade, o desempenho dos fundos de pensão das estatais.

É bom constatar, por isso, que dentro dos próprios fundos, como a Previ, já surge oposição a seus desígnios. Outro exemplo é a recente conquista, por uma chapa de oposição ao grupo PT/CUT, de importantes cargos na direção do Fundo de Pensão da Caixa Econômica Federal (Funcef), o terceiro maior do País.

O linchamento e nós - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - PR - 24/05

Crescem casos de violência coletiva, bruta e irracional, atualização urbana da Lei de Talião. O estado das coisas mostra que é hora de pensar no assunto



E eis que o linchamento se tornou o assunto do noticiário. Algumas vítimas ganharam o alto das páginas: Fabiane Maria de Jesus (Guarujá, SP); Mauro Rodrigues Muniz (Araraquara, SP); Hugo Neves Ferreira (Campo Grande, MS)... Houve casos em Goiânia (GO), Rio de Janeiro (RJ), Itajaí (SC), Teresina (PI), Natal (RN). O episódio do Guarujá, em particular, trouxe a explosiva mistura de boato, uso das redes sociais e acusação de magia negra. Não foi um ponto fora da curva. A lista de mortos em rituais cheios de som e fúria não para de crescer, colocando o país diante de mais de um de seus muitos problemas jogados para debaixo do tapete. Sim – o verbo “linchar” é conjugado por aqui faz mais tempo do que se pode imaginar. Não é tudo: algo sobre o Brasil ronda esse fato.

Para a turma que faz a ronda policial nos veículos de imprensa, o linchamento beira a banalidade. As ameaças de linchamentos e os ataques de fato aparecem com insistência nas apurações, mas são subnotificados. O motivo é difícil de explicar, mas se pode dizer que pesa sobre o linchamento um tabu semelhante ao que ronda o suicídio. Noticiar tende a ser pior do que não noticiar. Soa como estímulo, quando não um repasse para o leitor de um problema que escapa a ordem pública.

Nas Ciências Humanas, o assunto desperta pouco interesse. Os pesquisadores não se identificam com o assunto, talvez pelo caráter apolítico que carregam, talvez por escaparem ao que se entende por movimento social. Honrosa exceção, o sociólogo José de Souza Martins, professor de Sociologia do Cotidiano, na USP, desponta como a maior autoridade brasileira na questão. Merece destaque também a controvertida pesquisa A cabeça do brasileiro, do sociólogo carioca Alberto Carlos Almeida, publicada em 2007. Para surpresa geral, Almeida reservou um capítulo de sua obra para o linchamento. Na média, 40% dos entrevistados se mostraram favoráveis a alguma prática de justiça informal. Outra: ao contrário do que se esperava, levantamento mostrou haver pouca relação entre descrença na polícia ou na Justiça e apoio aos linchamentos.

Os dados são estimulantes o bastante para sugerir que mais estudos sobre linchamentos devam ser feitos – de modo a garimpar seus significados, apurar os dados e, como sugere o sociólogo José de Souza Martins, fugir da justificativa fácil de que o linchamento é proporcional à insatisfação de um grupo social com o “estado das coisas”. Os justiçamentos, e suas causas, precisam ser colocados em comum, de modo a entender que, na hora em que acontecem, já se deram, de mil e uma maneiras menos drásticas e mais sutis. Embora pouco explorado, o linchamento nas redes sociais figura entre as maiores evidências de que há uma sociedade capaz de punir, machucar, difamar, agir sem provas. E não causaria espanto se algum estudioso encontrasse uma linha direta entre essas manifestações. Se os meios são extensões do homem, como dizia Marshall MacLuhan, a internet tem mais a ver com o linchamento do que poderia prever a vã filosofia.

É questão cheia de labirintos, com especificidades regionais e grande desafio, como bem mostram os estudos de Martins. O sociólogo documentou mais de 2 mil casos, sendo 500 de forma sistemática. Ele estima que 500 mil brasileiros, nos últimos 50 anos, participaram de tentativas ou de linchamentos propriamente ditos. Em paralelo, oferece comparações entre os linchamentos verificados nos Estados Unidos – onde são mais raciais e rurais – e no Brasil, de modo a reforçar o que há de próprio em nosso território. O linchamento entre nós nasce da desagregação, das condições precárias da vida urbana e tem a ver com medo das mudanças. Habita o “lado mais oculto do nosso imaginário”, como diz o pesquisador, mostrando-se de forma confusa – é a afirmação de uma ordem por meio da desordem, da moralidade pela imoralidade, da regra pela autoridade bruta. É capaz de ser protagonizada por anônimos violentos, mas também por pacatos cidadãos, que em nada se aproximam do grito “lincha, tarado”, citando aqui o famoso livro de Dalton Trevisan.

Nos últimos tempos, o fenômeno corre em paralelo a outros, a exemplo do aumento de saques e quebras-quebras. Ganhou um aterrorizante caráter popular, mas com contornos de irracionalidade em escala industrial. Não pede que o crime seja punido, ou que haja mudanças. Antes, apregoa a vingança, a crueldade, como se com essas armas pudesse reconstruir moralmente a nação. Saídas? Para o professor Rodrigo Ghiringhelli, da PUC-RS, é preciso reduzir os virais que geram tanta confusão nas redes sociais e melhora nos sistemas de checagem policial. Outra estratégia seria a pronta administração de conflitos, via juizados especiais, promovendo a sociedade da paz.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

“Não cremos que as manifestações tenham a mesma envergadura”
José Eduardo Cardozo (Justiça) “na torcida” para que a Copa não tenha problemas



MAIS AUTORIDADES SÃO ALVOS DA OPERAÇÃO ARARATH

A decisão do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, de determinar sigilo da Operação Ararath, da Polícia Federal, foi para não prejudicar as investigações. Segundo fontes da PF, este é um dos mais importantes casos de corrupção dos últimos tempos, que tem como alvos várias autoridades dos três poderes. Foram presos o deputado José Riva (PSD) e o secretário da Fazenda de Mato Grosso, Éder Moraes, e o governador Silval Barbosa (PMDB) teve a casa revistada.

CENTRAL DA CORRUPÇÃO

Há anos, José Riva se reveza na presidência da Assembleia Legislativa, autêntica central da corrupção, em parceria com Silval Barbosa.

BILIONÁRIO NA RODA

Outro figurão citado nas investigações é o senador Blairo Maggi (PR-MT), bilionário que já foi considerado maior produtor de soja do mundo.

TUTTI BUONA GENTE

O esquema de corrupção no MT seria ligado ao “comendador Arcanjo”, bandido hoje na prisão de segurança máxima de Porto Velho (RO).

ARCA DE NOÉ 2

Ararath é sequência da Operação Arca de Noé, de 2002, contra o crime organizado, com 13 presos, que resultou na condenação de Arcanjo.

EBC FAZ ‘FESTANÇA’ COM DINHEIRO PÚBLICO

O dinheiro está fácil para o governo: a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) “errou para cima” o salário de 248 funcionários em novembro e dezembro de 2013. Alguns trabalhadores chegaram a receber quase R$ 20 mil a mais em dois meses. Segundo a própria EBC, o total do valor repassado de forma errada aos funcionários ultrapassou os R$ 137 mil. O pagamento extra, segundo a EBC, é um erro comum.

EMPRÉSTIMO SEM JUROS

O sortudo funcionário da EBC que recebeu R$ 20 mil a mais aproveitou para pedir “parcelamento” na hora de devolver a grana e foi autorizado.

NORMAL

A EBC diz que o procedimento de devolução parcelada de pagamentos feitos por erros é “normal na administração pública”.

NA CGU TAMBÉM

Jorge Hage, controlador-geral da União, determinou “apuração”, após descobrir que um de seus funcionários foi beneficiado na EBC.

PIADA DE CHURRASCO

Junior Friboi esperou por quase dois anos ganhar do PMDB a candidatura ao governo de Goiás. Curiosamente, sem gastar dinheiro. Pretendia que os políticos do partido não o vissem como um bilionário, mas sim como “redentor”, verdadeiro “líder de massas”. Virou motivo de piada.

QUASE PARANDO

O ministro César Borges (Transportes) já se conformou com a lentidão do governo. Disse ter “esperança” de lançar 1º leilão de ferrovias antes que o Programa de Investimento em Logística complete dois anos.

CADÊ?

No ranking de assuntos mais falados do Twitter/Brasil de ontem estava a hashtag #DilmaCadeODinheiroDoPovo?. Internautas não perdoaram, citaram do porto cubano à cueca de Lula como o paradeiro da grana.

VERDADEIRO LEGADO

As previsões do governo para a arrecadação de 2014 foram elevadas para mais de R$ 1 trilhão. Esse número será registrado no Impostômetro logo após o final da Copa do Mundo do Brasil.

SÓ MAIS TARDE

Mendonça Filho (DEM-PE) retirou pedido de convocação do chanceler Luiz Figueiredo para explicar a decisão de não exigir consulta ao Brasil para conceder vistos a nacionais de países como Afeganistão, Iraque e Irã. Seria votado esta semana, mas deve ficar para semana que vem.

CLARO ABUSO

A operadora de celular Claro tenta entrar no mercado da TV paga à força: usuários de outras operadoras recebem mensagens insistentes todos os dias, com suas ofertas. E o Ministério Público?

NUNCA VÃO VOLTAR

Duas turistas de Cingapura publicaram no Yahoo! Sports relato de como “sobreviveram” visita a Salvador no dia da greve da polícia, em abril: a pedido do hotel se trancaram lá, só saíram acompanhadas por funcionários “nativos” e ainda assim foram assaltadas no último dia.

FARPAS

O canal de notícias Russia Today reagiu à comparação feitas pelo príncipe Charles entre Putin e Hitler. O canal disse que, “é preciso ser um para reconhecer outro” e divulgou foto do rei Edward VIII com Hitler. “Se alguém conhece nazistas de verdade é a família real”, ironizaram.

PENSANDO BEM...

...quem deveria levar uma boa palmada são os deputados que se acham no direito de interferir na educação dos filhos dos outros.



PODER SEM PUDOR

PRESENTE CAVALAR

Presidente do Brasil, o general João Figueiredo fazia visita oficial à Argentina, quando foi convidado a ir até o pátio da residência oficial de Olivos, após uma reunião de governo.

- Escolha um deles, presidente, é um presente da Argentina para o senhor - disse o general Leopoldo Galtieri, ditador argentino, apontando para três belos cavalos.

- Nossa! - exclamou Figueiredo, que adorava cavalos e seus odores.

- Escolha um deles, por favor! Esteja à vontade! - insistiu o anfitrião.

- Mas é que fica difícil de escolher só um...

Houve uma pausa até o brasileiro ouvir exatamente o que queria:

- Então, presidente, os três são seus.