quarta-feira, fevereiro 19, 2014

Amores ideais - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 19/02

No filme A Garota Ideal, de 2007, o ator Ryan Gosling vive um cara tímido e introspectivo que compra uma boneca inflável, dá a ela o nome de Bianca e começa a tratá-la como a uma namorada de verdade. Cega, surda e muda, mas com um corpo, ele a leva para passear e a apresenta aos colegas, deixando todos perplexos com esse delírio.

Em determinada cena, uma vizinha, entrando no jogo do rapaz, presenteia a “namorada” dele com flores de plástico, deixando-o comovido: as flores durariam para sempre, como Bianca. Em sua cabeça, ele havia conquistado uma relação eterna, à prova de realidade.

Corta para o excelente Ela, filme em cartaz com Joaquin Phoenix vivendo um recém-divorciado que, solitário e carente, se apaixona pela voz de um sistema operacional – outro absurdo, mas é isso mesmo que acontece: ele fala com um smartphone através de um serviço de inteligência artificial que faz parecer que há, de fato, uma pessoa real batendo papo com o cara.

Dessa vez, não há um corpo, mas há uma voz feminina que pergunta, responde, conversa, faz declarações de amor, discute a relação, faz sexo por telefone, dá toda a pinta de que é humana – só que é outra “garota ideal” que não existe.

Em ambos os filmes, os protagonistas tratam as suplentes como gente: um leva a boneca para as refeições à mesa com a família, o outro leva o aparelho tagarela para um piquenique com um casal de amigos. A diferença entre os filmes é que, no primeiro, todos ao redor estão conscientes de que aquela maluquice é um caso isolado. Já em Ela, a situação é considerada normal, corriqueira até. Não duvide: em muito pouco tempo, estaremos namorando smartphones e quiçá casando com eles.

Se, no primeiro filme, o protagonista é um desajustado, no segundo é um homem sensível, romântico, que está apenas atravessando uma fossa e encontra na tecnologia uma forma aparentemente menos sofrida de se relacionar. Porém, havendo idealização, sempre haverá a dor da perda – mesmo entre um homem e uma máquina. A única forma de manter uma relação sem brigas, ciúmes e desencantos é não se envolvendo emocionalmente. Ou seja: quem almeja um romance perfeito, que abrace de vez a solidão, a única candidata à altura do projeto.

Parece ficção científica, mas o relacionamento entre pessoas reais e virtuais, que já acontece, não demora será convencional. Esse futuro está logo ali, dobrando a esquina. O artificial e o verdadeiro estão cada vez mais próximos e parecidos. Enquanto isso, o melhor é continuarmos nos virando com amores onde há cheiro, toque, pele, e que brotam e murcham, dois processos naturais da vida orgânica. Ao menos, poderemos guardar deles a lembrança das mãos que acariciaram nossos cabelos e dos beijos de boa noite.

O dia que um smartphone também fizer isso, eu caso.

Disse o "black bloc" - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 19/02

RIO DE JANEIRO - Depois não digam que ele não avisou. Um "black bloc", o estudante paulista "Pedro" (nome fictício), ouvido no domingo pelo "Estado", anunciou algumas das ações planejadas por ele e por seus camaradas para a Copa do Mundo. "Nossa tática nunca foi ferir civis", balbuciou, "mas, se não formos ouvidos, a gente vai dar susto em gringo. Não queremos machucar, mas, se for preciso tacar' [coquetel] molotov em ônibus de delegação ou hotel em que as seleções vão ficar, a gente vai fazer".

"Se uma seleção sentir que há risco de vida, eles vão querer continuar aqui?", pergunta. Diz mais: "Todo mundo [os black blocs'] deve se preparar, porque a PM vai vir em peso. A gente está se preparando com treinos de artes marciais como krav maga, jiu-jítsu e muay thai".

Segundo "Pedro", os "black blocs" se organizam em células de 30 pessoas. Em São Paulo, seriam cerca de dez células, num total de 300 participantes "realmente ativos". Somando-se a esses os ativistas beneficiários da Bolsa-Protesto, os membros de grupúsculos com nomes românticos como "Frente Internacionalista dos Sem-Teto" e "Organização Anarquista Terra e Liberdade", e um punhado de impúberes para fazer espuma, não parece muita gente.

Mas, se não forem "ouvidos", eles prometem descontar nos visitantes: "Não somos contra a Copa do Mundo nem contra o futebol. Nossa luta é por uma educação e uma saúde melhores".

Os "black blocs" devem acreditar que, se sabotarem e interromperem a Copa, novos hospitais e escolas se materializarão instantaneamente. Perfeito. Os hospitais serão úteis para tratar dos PMs feridos nos protestos --não se sabe como, sempre em maior número que os vândalos. Quanto às escolas, os "black blocs" ficam na obrigação de se matricular --de preferência, no bê-á-bá-- assim que elas forem abertas.

Nostalgia do que não existiu - TOSTÃO

FOLHA DE SP - 19/02

O ideal seria o Brasil recriar seu estilo sem perder suas origens, mas a atual realidade é outra


Chico Buarque, que deveria voltar a escrever sobre futebol, disse, décadas atrás, que os europeus eram os donos do campo, pela distribuição e organização tática, e os brasileiros, os donos da bola, pela habilidade e criatividade.

Na época, vários lances eram a marca de nosso futebol, como os chutes e passes de curva, de rosca, de trivela, os elásticos, os chapéus e dezenas de outros efeitos especiais. Melhor ainda, o futebol-arte ganhava do futebol-força.

A Europa e a América do Sul tinham estilos bem definidos, opostos, embora, como hoje, haja várias diferenças entre o futebol que se joga em um país e outro da Europa e entre um sul-americano e outro. Às vezes, para simplificar, cometo o erro de não fazer esta distinção.

Com o tempo, houve uma grande aproximação entre os dois estilos. Os europeus deixaram de ser cintura dura, e os brasileiros não são mais os únicos artistas da bola. O belga Hazard é mais habilidoso e inventivo que seu companheiro Oscar, enquanto o brasileiro é mais disciplinado e tem mais inteligência coletiva.

Por causa da globalização e do avanço da ciência esportiva, criou-se, no Brasil, há décadas, um dilema entre aderir ao futebol essencialmente coletivo, moderno, compacto, de atacar e defender em bloco, de valorizar a posse de bola, e a outra postura, a de incentivar a improvisação, os efeitos especiais e os devaneios individualistas. Uma coisa não anula a outra.

Essa indefinição continua. O futebol que se joga no Brasil não é uma coisa nem outra. Pior, passou a ser um jogo de espasmos individuais, isolados, além de excesso de faltas, chutões e jogadas aéreas.

Fora de campo, o futebol brasileiro continua dividido entre o profissionalismo e o amadorismo, entre a ganância pelo lucro, sem se preocupar com a qualidade do jogo, e a nostalgia, às vezes, por coisas que nunca existiram ou que nunca foram vistas.

Faço essas reflexões, divagações, um resumo telegráfico, por falta de espaço, para responder a um leitor contrário à minha opinião, de que um dos méritos de Felipão, facilitado pelo fato de os jogadores da seleção atuarem fora, é fazer com que o time tenha uma estratégia parecida com a das principais equipes da Europa.

Esse leitor e muitos outros pensam que o Brasil deveria recriar seu estilo, sem perder a origem, a magia, o jogo bonito e peculiar, marcas da história de nosso futebol. Seria ótimo, mas a atual realidade é outra. Ficamos para trás e, neste momento, é preciso aprender com as coisas boas de fora.

Quem sabe, em um futuro não muito distante, isto aconteça, quando os melhores jogadores continuarem aqui e quando sair a turma que está no poder, que, há décadas, voltando novamente a Chico Buarque, subtrai nosso futebol, em tenebrosas transações?

As batalhas de Dilma para manter seu favoritismo rumo à reeleição - MURILLO DE ARAGÃO

O TEMPO - MG - 19/02


No amanhecer de 2014, Dilma Rousseff parece lutador de videogame: cercado de muitos adversários e tendo que combater todos ao mesmo tempo.

A lista de seus incômodos adversários é grande e de tipos variados. Existem adversários internos e externos ao seu governo. Existem adversários conjunturais, políticos e midiáticos. Vamos fazer um inventário.

Comecemos pelos adversários internos. Dilma luta contra quatro tipos de adversários: aqueles no PT que querem a volta de Lula; os dissidentes da base governista em geral e, em especial, no PMDB, que está rachado e deve marchar para a campanha assim; e, por fim, a própria incompetência do governo em entregar resultados e/ou fazer trapalhadas.

O PMDB é o que mais preocupa pelo fato de ter uma das melhores estruturas partidárias do país.

No âmbito externo, Dilma enfrenta os dois polos da oposição: PSDB e PSB; a má vontade de setores da grande imprensa; a má vontade dos empresários; e a desconfiança do mercado financeiro.

Para piorar, enfrenta uma conjuntura adversa com incertezas nos campos econômico e social. Em particular, no que se relaciona com o crescimento econômico, o câmbio, o emprego e a inflação, além das incertezas da Copa do Mundo.

Olhando o quadro estadual, as dificuldades de Dilma são muitas. No Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT) terá uma campanha difícil. Mesmo que a senadora Ana Amélia Lemos (PP) venha a apoiar Dilma (hipótese pouco provável), não deverá ser um apoio forte e apaixonado.

A partir do Paraná e até o Pará, passando por São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Tocantins, o PSDB terá estruturas de campanha fortes. No Rio de Janeiro, onde Dilma foi muito forte, a situação já não é tão boa. Em Pernambuco também, onde Eduardo Campos pontifica.

Na Bahia e no Ceará, Dilma pode enfrentar dificuldades. Na Bahia, o candidato do governo Jaques Wagner (PT), Rui Costa (PT), terá pela frente o candidato da aliança DEM, PSDB e PMDB, que poderá ser o ex-governador Paulo Souto (DEM) ou então o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB).

No Ceará, por conta da resistência do PT a apoiar a candidatura do senador Eunício Oliveira (PMDB) a governador, pode ocorrer um entendimento entre PMDB e PSDB. Os tucanos poderiam apoiar Eunício em troca do apoio do PMDB à candidatura de Tasso Jereissati (PSDB) ao Senado.

Além dos problemas políticos dos palanques estaduais, Dilma terá que conviver com a ameaça de um racionamento energético. O governo, que antes havia descartado a possibilidade de apagão, agora já admite essa possibilidade, mesmo dizendo que ela é “baixíssima”. Sem falar nos problemas de infraestrutura (aeroportos, portos, estradas), que poderão se tornar mais visíveis em função da Copa.

Com tantos adversários e dificuldades, Dilma será exigida ao máximo para manter o seu favoritismo rumo à reeleição. Não será o passeio que muitos, inclusive de seu time, achavam.

Dilma terá muitas frentes e adversários para combater. Considerando a qualidade inconsistente de seu grupo, a dificuldade de dialogar e o fato de que o PT anda dividido com relação à direção da campanha, não será tarefa fácil.

Em especial, porque uma campanha necessita de vetores de agregação, e não de confronto. Parece que o PT está se orientando na direção oposta aos rumos tomados para a construção do “lulismo”. Parece, também, que Dilma percebe isso, mas não reage como deveria para se estabelecer como líder inconteste do atual momento político do país.

Copa! Argentina X Argentina! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 19/02

Essa será a grande final da Copa 2014 no Maracanã. E quem vai apitar é o Gardelón?! O Maradona!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O Esculhambador Geral da República! Faltam dez dias inúteis pro Carnaval. A Grande Festa da Esculhambação Nacional.

E eu fui convidado para ser padrinho do bloco Já Comi Pior, Pagando. Isso não é um bloco, é uma verdade insofismável! E adorei as musas do bloco: Beth Caolha e Joana Boca Podre!

E como disse um amigo meu: "Estou no sufoco, quero sair no bloco mesmo pagando". Rarará!

E o bloco JPP: Já Paguei Piores!

E o chargista Rico disse que o Genoino e o Zé Dirceu vão juntar as vaquinhas e fazer uma Cow Parade! Cow Parade na Papuda! Rarará!

A cow do Genoino de camisa rosa. E a cow do Zé Dirceu de óculos e falando poooorteira! Rarará!

E a Argentina?! Sempre desaforada! Sempre provocando! Olha a declaração do técnico da Argentina: "O maior inimigo da Argentina na Copa....". É O BRASIL!

Não, ele diz que o maior inimigo da Argentina na Copa é a própria Argentina. Isso que é ego! Final da Copa 2014: Argentina X Argentina! Essa será a grande final da Copa 2014 no Maracanã: Argentina X Argentina!

E quem vai apitar é o Gardelón?! O Maradona! Rarará! Aliás, sabe como argentino se suicida? Sobe no ego e se atira! Rarará!

E o Timão agora mudou de nome pra ULTIMÃO! E o personagem da semana é aquele juiz cegueta que não marcou o gol do Vasco contra o Flamengo. Stevie Wonder! Mr. Magoo! Ele se chama Castanheira. Muda o nome pra Cegueira. Próximo jogo do Flamengo. Quem vai apitar? Chama o Cegueira! Rarará! É mole? É mole mas sobe!

O Brasil é Lúdico! Brasileiro fala tudo errado mas todo mundo se entende. Olha essa pichação numa escola em Caicó, RN: "Queremos o profeso de matematica e o de portuques". Eles não querem, eles precisam. Rarará.

E olha essa aqui numa sorveteria em São Paulo : "Sabor Sonho de Falsa". E esse cartaz num restaurante do Rio, na rua da Alfândega: "Sugestão do dia! Frango Assado: coixa e sobrecoixa!". Adorei!

Achei mais chic: coixa e sobrecoixa. Por exemplo, o Corinthians está levando nas coixas! Rarará!

Nóis sofre mas nóis goza. Hoje só amanhã.

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Xeque-mate - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 19/02

O DEM decidiu colocar o PSDB contra a parede. Ele quer antecipar a definição das alianças regionais. Foram fixados dois prazos: 30 de abril e 30 de maio. O objetivo é evitar que os tucanos os deixem na mão. Isso já ocorreu. Na eleição de 2010, os tucanos do Pará excluíram Vic e Valéria Pires da chapa. Em 2012, em Recife, rejeitaram a candidatura do líder na Câmara, Mendonça Filho.


“Queremos reforçar a sobrevivência do partido nas eleições para o Parlamento”
Ronaldo Caiado
Deputado federal (GO), sobre a reunião da Executiva Nacional do DEM

O que o povo quer
A morte do cinegrafista Santiago Andrade, vítima da ação dos black blocs, detonou debate sobre a adoção de uma legislação para coibir atos considerados terrorismo. Uma das principais propostas, além de impedir o uso de máscaras, é a do aumento das penas. A pesquisa de opinião pública divulgada ontem pela CNT mostrou que essa polêmica proposta tem o apoio de apenas 10% dos entrevistados. Como solução para enfrentar a violência, é significativo que 18,4% defendam mais investimentos em Educação. As iniciativas que teriam maior simpatia são a redução da maioridade penal, 36%; e a ampliação do policiamento nas ruas, cobrada por 31,9%.

Aliados do B
Depois da reunião de líderes, o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), chamou deputados aliados de diversos partidos para um jantar hoje. Na pauta, a formação de um bloco para enfrentar os maus-tratos do PT e do governo.

A história se repete
Na audiência com o vice Michel Temer, o ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, William Hague, comentou a reação dos brasileiros diante do fato de o Brasil ser sede da Copa. Relatou que na Inglaterra aconteceu o mesmo. Mas que, quando as Olimpíadas começaram, esse sentimento se dissipou, dando lugar à euforia e ao orgulho.

Protesto musical
Movimentos sociais fazem manifestação hoje em Brasília contra a lei antiterrorismo. Uma dupla vestida de Dom & Ravel passará pela Esplanada cantando “Eu te amo meu Brasil”, música que na década de 70 virou hino em defesa da ditadura.

Os planos para Anastasia
Candidato ao Senado pelo PSDB, o governador mineiro Antonio Anastasia deverá disputar as eleições daqui a dois anos. Os tucanos planejam lançá-lo candidato a prefeito de Belo Horizonte. A vaga de primeiro suplente está valorizada. Ela está reservada ao secretário Alexandre Silveira (Saúde) do PSD. Só o PMDB pode mudar isso.

Fora do ar
O deputado Eduardo Azeredo (PSDB), réu do chamado mensalão mineiro, que o STF julgará, está de licença médica da Câmara. Mesmo assim, hoje no plenário será lido seu discurso de defesa. O tucano Marcus Pestana (MG) assume a missão.

Marcando de cima
A Fifa aprovou a Arena da Baixada para a Copa. Um dos principais responsáveis por esse desfecho foi o ex-prefeito de Curitiba Cássio Taniguchi. Ele foi escalado pelo governador Beto Richa para garantir o ritmo das obras.

O PREFEITO DE SALVADOR, ACM Neto (DEM), assinou decreto reservando 30% das vagas em concursos públicos municipais para afrodescendentes.

Chimarrão amargo - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 19/02

O Planalto age para evitar ciladas políticas na viagem de Dilma Rousseff amanhã a Porto Alegre. O governador Tarso Genro (PT) tenta, até agora sem sucesso, marcar uma audiência com a presidente para discutir o projeto de renegociação das dívidas de Estados e municípios, cuja votação o governo mandou brecar. O prefeito José Fortunatti (PDT), por sua vez, quer espetar no governo federal a bagatela de 90% de uma conta de R$ 40 milhões em obras provisórias para o estádio.

Tudo... Dilma surpreendeu líderes do PMDB no jantar oferecido a Paulo Skaf, anteontem, na residência oficial de Michel Temer, ao dizer que tanto faz quem vai para o segundo turno na eleição para governador de São Paulo.

... em casa Segundo o raciocínio da presidente, o importante é que PT e PMDB estarão juntos se o oponente de Geraldo Alckmin (PSDB) for o petista Alexandre Padilha ou o peemedebista Paulo Skaf.

Me espera Na saída do jantar, Dilma puxou Temer de lado e avisou que deverá chamá-lo para uma reunião hoje para desatar os nós da reforma ministerial.

Festerê O presidente do PSDB paulistano, Milton Flávio, questiona o uso do Jaburu para o que chamou de "lançamento da candidatura" de Skaf. A assessoria da Vice-Presidência afirma que o PMDB pagou as despesas e que não houve discursos alusivos à campanha no evento.

Quem, eu? Em litígio com o Planalto, o líder da bancada e da rebelião do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), nega que tenha interesse na Secretaria de Portos e diz que "desafia" o governo a revelar quem ele teria indicado para a pasta.

Até a tampa Ideli Salvatti (Relações Institucionais) anunciará hoje que os congressistas já cadastraram emendas impositivas no valor de R$ 8,5 bilhões, mais de 97% do teto de R$ 8,7 bilhões previsto no Orçamento.

Iminente Tucanos relatam que Eduardo Azeredo (PSDB-MG) está "absolutamente constrangido" com sua situação diante do processo do mensalão mineiro. Afirmam que, por isso, crescem as chances de renúncia ou licença do deputado.

Calma lá Um aliado de Eduardo Campos (PSB) enxerga com reservas a negociação do partido com Joaquim Barbosa. "Se for candidato, ele descredencia todas as decisões que tomou no Judiciário", diz o pessebista.

Saída Colegas de Barbosa no STF acreditam que o presidente da corte abriu brecha para evitar essas críticas ao escrever, em nota, que "após deixar a condição de servidor público, suas decisões passam a ser de caráter privado".

Por fora Parte do QG marineiro se disse surpresa com as conversas entre pessebistas e o presidente do Supremo. Aliados de Campos admitem que a ideia não passou pelo crivo de Marina.

No rastro 1 Campos e Aécio Neves (PSDB) estarão em Maceió no sábado, quatro dias depois da passagem de Dilma pela cidade. Os dois participam do desfile do bloco do "Pinto da Madrugada".

No rastro 2 O governador de Pernambuco também baterá ponto na Festa da Uva de Caxias do Sul (RS) na sexta-feira, um dia depois de a presidente abrir o evento.

Vai lá O PPS indicou Alex Manente para a vaga de Davi Zaia na Secretaria de Gestão paulista. O martelo ainda não foi batido porque o plano original era lançar o deputado estadual para a Câmara, como puxador de votos no ABC.

Folha, 93 A Folha completa hoje 93 anos.

tiroteio
"Para uma presidente que inventa factoides para aparecer na TV mais que o Silvio Santos essa queda na avaliação é de tirar o sono."
DO DEPUTADO CARLOS SAMPAIO (PSDB-SP), sobre a pesquisa CNT-Sensus que aponta oscilação negativa de 39% para 36,4% da aprovação do governo Dilma.

contraponto


Confissões de adolescente
Eduardo Suplicy (PT-SP) decidiu fazer uma revelação durante reunião de uma comissão do Senado que discutia equipamentos de segurança para carros.
-Aos 17 anos, eu queria muito passar em frente à casa da minha namorada. Peguei o carro dos meus pais, era um Opel, e dei uma trombada feia. Fiquei tão arrependido! Cometi esse erro aos 17 anos e não tinha carta.
O senador Pedro Taques (PDT-MT) interrompeu.
-Quantos anos o senhor tem hoje? -questionou.
-Setenta e dois anos-respondeu Suplicy.
-Está prescrito! -devolveu Taques, para risos gerais.

Jantinha, eles aceitam - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 19/02


Alguns dos mais representativos expoentes do PIB nacional de diversos setores como infraestrutura, indústria alimentícia, transporte aéreo e setor financeiro, foram convidados para participar, na noite de ontem, de um jantar na residência do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). A ideia do encontro foi do deputado Jerônimo Goergen (PP-RS), presidente da Comissão de Integração Nacional, Desenvolvimento Regional e da Amazônia.

Jerônimo ponderou que o Congresso Nacional só procura o empresariado no momento em que precisa de financiamento eleitoral. “O Congresso tem de reaprender a discutir ideias e não ficar restrito ao debate de cassação de mandatos e distribuição de emendas”, defendeu.

Entre os convidados, os donos da OAS, Andrade Gutierrez, dos Postos Ipiranga, Ambev, Gerdau, BTG Pactual… Estava prevista também a presença do empresário Abílio Diniz, que, recentemente, recusou o convite da presidente Dilma para ser ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic).

A pão e água
Considerado um dos principais quadros técnicos do governo, Valdir Simão, que foi deslocado da coordenação na área digital do governo para a secretaria executiva da Casa Civil, não tem tido vida fácil. Ele vem sofrendo com o estilo centralizador do chefe, Aloizio Mercadante. A única mordomia que recebeu até agora foi um tablet para trabalhar.

Fica mais um pouco
A Comissão de Constituição e Justiça do Senado analisa hoje projeto da senadora Ana Amélia (PP-RS) propondo que a desincompatibilização de cargos públicos para disputar eleições aconteça quando da homologação das candidaturas, quatro meses antes do pleito. Hoje, os interessados precisam deixar os postos seis meses antes.

Bolada e marrentinha
No dia em que nova pesquisa de opinião mostrou a possibilidade de a presidente ser eleita em primeiro turno em outubro, Dilma Rousseff deixou o evento de mobilidade urbana em Teresina ao som de We are the Champions, do grupo inglês Queen.

Pode ser amor, pode ser paixão
Para o deputado Ricardo Berzoini (PT-RS), apesar da pouca empolgação do brasileiro em relação às eleições, Dilma é favorita a vencer em outubro, mesmo que seja no segundo turno. “A relação do eleitorado com ela não é de paixão. Mas de um amor consolidado”, justificou o terapeuta emocional Berzoini.

CURTIDAS 
Resgatados…/ Sem decidir qual será o espaço destinado ao PMDB na reforma ministerial, a presidente Dilma Rousseff viajará para o Vaticano, no fim desta semana, para se encontrar com o papa Francisco e acompanhar a posse do novo cardeal, Dom Orani Tempesta.

…do purgatório/ “Espero que ela volte inspirada pela bondade do papa”, suspirou o presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (foto), de Rondônia.

Aconteceu conosco/ Durante audiência ontem com o vice-presidente, Michel Temer, o ministro das Relações Exteriores do Reino Unido, Willian Hague, disse que Londres também sofreu com protestos antes das Olimpíadas de 2012, especialmente por causa dos gastos na construção das arenas olímpicas.

Oremos/ Segundo Hauge, contudo, “quando os jogos começaram, todos se envolveram na competição, e os protestos pararam”. Temer respondeu: “Espero que também aconteça isso aqui”.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP - 19/02

Mercado de imóveis com um quarto continuará aquecido
Depois de um crescimento significativo em 2013, o mercado de apartamentos compactos com um dormitório deve continuar aquecido em São Paulo neste ano, na avaliação de executivos do setor.

"Há uma tendência de que esse segmento se mantenha [perto do nível do ano passado]", afirma Claudio Bernardes, presidente do Secovi-SP (sindicato do setor).

Em 2013, o lançamento e a comercialização de apartamentos com um quarto dobraram em relação a 2012.

Além da entrada de novos compradores, a demanda também é puxada por investidores interessados no espaço para locação.

"O fato de ter escasseado os lançamentos de salas para escritórios, que antes eram um foco maior dos investidores, colaborou para o crescimento", diz Bernardes.

Mudanças no Plano Diretor, que está em discussão na Câmara, poderão impulsionar ainda mais o segmento. Uma delas é a liberação de prédios sem garagem em eixos perto de corredores de ônibus e estações de metrô.

"Há demanda para isso. Em empreendimentos que têm metrô perto ou que estão em bairros de uso misto, muitos moradores já não utilizam carros", diz Rafael Rossi, dono da incorporadora Huma e um dos herdeiros da Rossi.

A retirada das garagens poderá baratear o custo dos imóveis menores, afirma ele.

Em março, a Huma vai lançar um edifício com apartamentos compactos no Itaim Bibi, com 123 unidades. Será o segundo projeto do gênero.

BEM COMPACTO
A incorporadora You, Inc criou uma marca para apartamentos compactos, cuja metragem vai de 33 m² a 41².

A motivação veio do bom resultado com prédio de unidades desse tamanho, lançado em dezembro, no bairro paulistano de Santa Cecília, segundo o diretor-executivo Eduardo Muszkat.

Como You Now, o empresário lançará neste semestre outro edifício com o mesmo perfil, de apartamentos que custam entre R$ 300 mil e R$ 400 mil, em um único ambiente, na Aclimação. Nos dois empreendimentos, o investimento foi de R$ 20 milhões, apenas com terrenos, marketing e incorporação. A empresa tem de outros dois projetos, ainda sem local definido.

Os apartamentos têm varanda, mas a lavanderia fica no térreo. "Com música e wi-fi, será uma área de convívio", diz. As unidades terão garagens.

"Será bom se o Plano Diretor permitir edifício sem elas, que são dos elementos mais caros na obra e ocupam muito espaço."

A empresa tem cerca de 23 empreendimentos, entre lançamentos, projetos em obra e já entregues.

Companhia de gás natural do RS vai ampliar rede de dutos
A Sulgás, distribuidora de gás natural que tem como sócios o governo do Rio Grande do Sul e a Petrobras, vai construir 127 km de gasodutos neste ano para ampliar a rede no Estado. O investimento é estimado em R$ 45 milhões.

A maior parte será para elevar o número de clientes na área urbana de Porto Alegre, com foco em consumidores residenciais e comerciais, segundo o presidente da empresa, Roberto da Silva Tejadas.

Hoje, a companhia tem 15,9 mil clientes --96% são do segmento residencial, mas que consomem menos de 1% do total distribuído.

O volume de gás recebido atualmente pelo Estado é suficiente para a expansão para casas e comércios, de acordo com o executivo.

"Se houver demanda de um grande consumidor industrial termointensivo, no entanto, vamos ter dificuldades para atender", afirma.

O motivo é que há limitação na quantidade entregue por meio do gasoduto Brasil-Bolívia, que chega ao Rio Grande do Sul com volume de 2,8 milhões de metros cúbicos por dia --a Sulgás já distribui cerca de 2 milhões.

Importação de químicos fecha janeiro com estabilidade
As importações brasileiras de produtos químicos movimentaram cerca de US$ 3,5 bilhões no mês de janeiro, um acréscimo de 1,3% em relação a dezembro de 2013, segundo a Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química).

Na comparação com janeiro do ano anterior, houve queda de 1,5%.

"Essa estabilidade é um sinal de cautela dos importadores, que preferem reduzir a compra de produtos do exterior e aguardar para ver como ficará o câmbio", afirma Fernando Figueiredo, presidente da entidade.

O grupo de produtos mais importados continua sendo o de intermediários para fertilizantes, que representaram em janeiro US$ 426,5 milhões, 12% do montante total.

As exportações também se mantiveram estáveis, com US$ 1,2 bilhão, uma redução de 1,5% em relação a janeiro do ano anterior.

O deficit na balança da industria foi de US$ 2,3 bilhões no primeiro mês do ano.

"Se não houver uma política de estímulo aos investimentos, não teremos melhoras."

Verão... O Inmetro encontrou irregularidade em 2% dos produtos têxteis de banho e moda praia fiscalizados em uma operação de verão feita neste mês em todo o país.

...irregular Cerca de 12 mil artigos não tinham informações de fabricante ou importador, CNPJ, e tamanho das peças, em português, como exige a regulamentação.

Nova fórmula A Coca-Cola Brasil relança neste mês seu energético Burn com nova fórmula. A bebida passará a ter mais taurina e cafeína.

'Beicinho' e política industrial - MARCELO DE PAIVA ABREU

O Estado de S.Paulo - 19/02

A preocupação do governo com a fragilidade do seu desempenho econômico foi explicitada pelas reações do ex-ministro Fernando Pimentel, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, e do ministro Paulo Bernardo, das Comunicações, à entrevista do presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Pedro Passos, concedida ao Estado (9/2). O presidente do Iedi, sócio da Natura, enfatizou o esgotamento do atual modelo econômico e defendeu a sua reformulação com ênfase na integração da economia brasileira à economia internacional, por meio de acordos com a União Europeia (UE) e os EUA, com equacionamento dos obstáculos argentinos.

A reação de Fernando Pimentel foi desqualificar a entrevista, com o argumento de que seria "política": "A Natura hoje tem uma posição partidária, de apoio a uma candidatura de oposição ao governo Dilma Rousseff". Passos seria "militante de um projeto eleitoral de oposição" e não seria o caso de responder às suas críticas "porque elas não foram feitas no âmbito do debate". E, no entanto, as críticas de Passos são mais do que razoáveis, alinhadas com o sentimento generalizado de que a política industrial do governo, que teve Pimentel como principal responsável, tem sido um retumbante fracasso.

Em sua entrevista de despedida como ministro, Pimentel, mais uma vez, mostrou falta de intimidade com os assuntos de sua pasta, ao referir-se enfaticamente às altas margens de lucros das montadoras como se fosse algo surpreendente. É bem sabido que foi na sua gestão que foi implementado o programa Inovar Auto, hoje questionado pela UE, que beneficia as montadoras com vantagens tributárias associadas ao IPI que, somadas à atual tarifa de 35%, levam a proteção nominal a pornográficos 70%. Talvez proteção alta tenha alguma relação com margens de lucro despropositadas?

É curioso que, à época em que o Iedi defendia ardorosamente a proteção alta e a desvalorização cambial, sem preocupações quanto às consequências macroeconômicas, em sintonia com a emergente "nova matriz macroeconômica", nunca se tenha ouvido qualquer comentário no governo sobre o alinhamento político de seus dirigentes.

Há grande heterogeneidade nas posturas empresariais em relação ao governo. A posição de alguns setores, como o automotivo, de apoio à política industrial, simplesmente revela o tratamento diferenciado de que se beneficiam. Segundo a Anfavea, "o governo (...) minimizou possíveis consequências (da crise) ao (sic) setor automotivo e à (sic) economia como um todo". Não é por acaso que, no recente confronto entre a Anfavea e a emergente Abeifa, concorrente na representação empresarial do setor automotivo, tenha escapado o argumento de que a Anfavea teria "acesso livre aos gabinetes em Brasília".

Paulo Bernardo, na sua crítica a Passos, optou por alegações também rasteiras. Como Pimentel, fugiu da substância como o diabo da cruz. Sugeriu que Passos estaria "fazendo beicinho" e que as dificuldades entre governo e empresariado poderiam ser resolvidas com "discussões da relação". Para o ministro, analistas que tenham independência em relação ao governo são descartados pois "ninguém entende o que eles falam". E pontifica: "O cidadão não entende conceitos macroeconômicos, mas sabe se a economia está indo bem ou mal". O recorrente truque presidencial de apelar para discurso enfático quando falta substância ao argumento está sendo copiado por sua equipe.

Quem fez de fato "beicinho" nos últimos tempos foi a chefe de Paulo Bernardo, ao ameaçar não participar da programada cúpula Brasil-União Europeia. Em reação pueril, estaria irritada com a queixa europeia em Genebra quanto ao IPI discriminatório e à Zona Franca de Manaus. Se tivesse tomado melhores decisões quanto à política industrial, teria evitado tais achaques e turbulências. "Beicinho", agora, não vai resolver.

A lista de Barbosa - ALEXANDRE SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 19/02

As ideias expressas por Nelson Barbosa são ruins; ampliar gastos sem controle reforça nossa mediocridade


Estaria mentindo se afirmasse que não gosto de "fulanizar" o debate. É óbvio que aprecio, por mais que às vezes possa parecer que o objeto das críticas é a pessoa, não suas ideias. Deixo claro, porém, que --embora algumas pessoas sejam particularmente destrutivas-- ideias ruins são muito mais deletérias do que aqueles que as adotam.

Isto dito, as ideias expressas por Nelson Barbosa, até há pouco secretário-executivo do Ministério da Fazenda, em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo" no fim de semana são particularmente ruins, no caso agravadas porque Barbosa é tido como candidato à sucessão de Guido Mantega num possível segundo mandato da presidente.

Como já destacado neste espaço, a dúvida central acerca dos rumos de política econômica no Brasil diz respeito à posição que seria adotada em caso de reeleição: o governo promoveria os necessários ajustes, em particular do lado do gasto público, ou "dobraria a aposta", mantendo a política fiscal expansionista que tem sido sua marca registrada nos últimos anos?

Quem lê, porém, a entrevista de Barbosa não deve ter nenhuma dúvida: é a posição de quem pretende "dobrar a aposta". Depois de defender a elevação das transferências de renda de 6,5% para 10% do PIB, sua proposta é ir além e aumentar gastos com saúde, educação, transporte urbano, saneamento, habitação e inclusão digital.

Todos os objetivos são meritórios: quem, exceto pessoas extremamente mesquinhas, poderia ser contra a lista de Barbosa? Para ser sincero, estranhei a ausência de menções à segurança pública, à cultura, à preservação ambiental, a programas esportivos (há uma Olimpíada em 2016!) e também --por que não?-- ao reaparelhamento das Forças Armadas. E não tenho a menor dúvida de que qualquer um dos 18 fiéis poderia acrescentar mais alguns itens.

Isso significa que as chances de um ajuste fiscal em 2015 (ou 2016, 2017, etc.) são mínimas, para colocar a coisa de uma forma delicada. Pelo contrário, a proposta implica nova expansão fiscal e, independentemente de quanto Barbosa (re)negue, não há alternativa que não passe pelo aumento de tributos para financiar os gastos adicionais.

Os limites, contudo, desse modelo de gasto e tributos crescentes estão mais que demonstrados pela evidência, inclusive nossa experiência recente.

Conforme tenho dito, o país conseguiu crescer mais rápido enquanto teve folga de capacidade e emprego, mas, quando a ociosidade se reduziu, a necessidade de elevar o investimento esbarrou no gasto público.

O governo brasileiro, em seus três níveis, consome cerca de 20% do PIB, bem mais que seus congêneres, não só na América Latina mas no conjunto emergente em geral. Já a qualidade dos seus serviços é universalmente reconhecida (como lamentável, claro). As contrapartidas de gasto alto e ruim são poupança baixa (portanto pouco investimento) e produtividade idem.

Agravando o problema, a complexidade da tributação que financia esses gastos requer que uma empresa brasileira típica, segundo o Banco Mundial, use 2.600 homens-hora/ano para a tarefa de pagar impostos, ante uma média de 370 horas/ano na América Latina (e 175 horas/ano na OCDE), ou seja, recursos que poderiam ser utilizados em atividades produtivas acabam destinados a um serviço que não adiciona valor nenhum.

São essas condições que estão por trás do baixo crescimento do país. Sem uma agenda de limitar os gastos públicos e aumentar sua produtividade, o projeto traz mais do mesmo: expansão medíocre, inflação pressionada e desequilíbrios crescentes nas contas externas.

A verdade é que todo gasto público, inclusive aqueles com fins mais nobres, tem que caber dentro do produto. Estamos ignorando esse fato há tempos e os resultados vêm batendo à nossa porta. A agenda de ampliação de gastos pode apelar a nossos melhores instintos, mas, sem controle e sem avaliação de sua eficácia, hão apenas de reforçar nossa mediocridade.

O governo e essas agências - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 19/02

Até sexta-feira, o governo federal deverá anunciar os cortes no Orçamento de 2014 e, com isso, definirá o tamanho do superávit primário, que é a parcela da arrecadação destinada à amortização da dívida.

A presidente Dilma avisou dia 24 de janeiro, em Davos (Suíça), que desta vez é para valer. É definição sujeita a questionamentos que, no entanto, podem fazer certa diferença. A conferir.

Mas a observação que convém agora é de que essa postura mais ortodoxa, se confirmada, não tem a ver com conversões do governo a novas posições ideológicas. Está mais relacionada às ameaças das agências de classificação de risco, especialmente da Standard & Poor's, de rebaixar a qualidade do título de dívida brasileira se as metas fiscais não forem confiáveis.

O que vemos, então - quem diria - é o governo do PT preocupado com avaliações das agências de risco... Nesse particular, há mudanças a sopesar.

Até recentemente, o discurso era o de que essas agências faziam o jogo do capital financeiro global e do chamado Consenso de Washington, ideário incorporado pela própria razão de ser dessas agências. E que o governo deveria tomar decisões baseadas no interesse do povo e não no dos banqueiros internacionais.

Para quem não tem familiaridade com o tema, as agências de classificação de risco avaliam a capacidade que um devedor tem de honrar suas dívidas, ou seja, medem o risco de calote. Um dos mais importantes indicadores da qualidade de uma dívida é o nível de saúde financeira do devedor. No caso de um país, se as contas públicas estão em deterioração e se a perspectiva de avanço econômico baixo reduz a arrecadação, aumenta o risco de calote, ainda que isso não esteja nos radares. As três mais importantes agências de classificação de risco são Moody's, Standard & Poor's e Fitch.

No início da crise financeira global essas agências foram duramente criticadas - e não só pelos governos de esquerda - porque fizeram farta distribuição de certificados AAA (de alta qualidade) para títulos de dívida que, em semanas, passaram a ser consideradas "lixo tóxico".

Mas, afinal, por que o governo Dilma entende agora dar satisfação a instituições privadas relativamente pequenas, a ponto de ter de fixar a política fiscal soberana às suas "exigências"?

Ficou insatisfatório contra-argumentar que temos um colchão fantástico de US$ 370 bilhões em reservas externas, maior que a dívida brasileira em moeda estrangeira, de US$ 312 bilhões; e que o Banco Central já aumentou em 3,75 pontos porcentuais ao ano os juros básicos para combater a inflação.

É que o governo brasileiro percebeu que a ameaça de rebaixamento da qualidade da dívida é alta, sim, porque a dívida bruta pode saltar para acima de 57% do PIB, número que o Fundo Monetário Internacional já vinha considerando subestimado. E percebeu também que, se ocorresse, esse rebaixamento seria desastroso para os investimentos do Brasil, para o plano de negócios da Petrobrás e para a saúde financeira das empresas do País. Não só aumentaria o custo da dívida (aumento dos juros), mas, também, afastaria grande número de aplicadores em títulos e ações de empresas brasileiras.

Política econômica: três escolhas possíveis - CRISTIANO ROMERO

VALOR ECONÔMICO - 19/02

Passados quase três anos da nova matriz macroeconômica , é possível observar os objetivos que nortearam as decisões do governo. Decididamente, o que se buscou foi estimular a economia via consumo, com a ideia de que isso puxaria os investimentos. O consumo, de fato, veio, mas o investimento ficou pelo caminho.

Vários fatores contribuíram para o baixo investimento. Um deles foi a escassez de confiança dos empresários na nova matriz . O economista Edward Amadeo, ex-secretário de Política Econômica, ex-ministro do Trabalho e hoje sócio da Gávea Investimentos, cita, além das incertezas, uma razão bastante concreta: o aumento dos custos de produção. O custo unitário do trabalho, deflacionado pela taxa de câmbio efetiva (TCE), aumentou 50% desde 2005. A TCE é calculada com base numa cesta de moedas dos principais parceiros comerciais do país.

Amadeo desenvolveu interessante análise sobre os fatos que, interligados, contribuíram para o cenário desafiador da economia brasileira, marcado por inflação alta, baixo crescimento, deterioração das contas públicas e déficit externo crescente.

Para incentivar o consumo, o governo reduziu impostos e subsidiou o crédito, principalmente, por meio do BNDES. Além disso, forçou os bancos estatais a diminuir os spreads. A expansão do crédito teve custo fiscal, uma vez que o Tesouro capitalizou os bancos, aumentando a dívida pública. Se o aumento da inadimplência trará outras repercussões fiscais, só o tempo dirá, mas o viés nesse sentido aumentou dada a velocidade com que o crédito avançou , diz Amadeo.

O governo incentivou o emprego ao desonerar a folha de pagamento de uma série de setores, por meio de renúncia fiscal. Barateou um recurso escasso na economia - a mão de obra -, desconsiderando que o que faltava não era pessoal, mas investimento.

O subsídio ao investimento por meio de empréstimos do BNDES não teve efeito multiplicador sobre a taxa de investimento privado, cuja relação com o PIB praticamente não se mexeu desde 2011.

As renúncias tributárias e os subsídios reduziram as receitas públicas e aumentaram as despesas no presente e no futuro. Este é um tema que assombra especialistas em finanças públicas: o impacto fiscal dos subsídios ao crédito - dado pela diferença entre o custo de captação do Tesouro e o dos empréstimos do BNDES - vai se dar ao longo dos próximos anos e talvez décadas.

Para Amadeo, o governo fez uma opção clara: aumentar a renda disponível corrente por meio de transferências, renúncias fiscais, subsídios e elevação do salário mínimo em vez de realizar gastos em serviços públicos e infraestrutura. O exemplo mais claro dessa troca é o setor de transportes, em que o governo subsidiou a compra de carros e a gasolina, mas a população se ressentiu dos preços e da qualidade dos trens e ônibus , observa o economista, referindo-se às manifestações.

Essa troca se deu em outras áreas, onde os gastos podem ser vistos como investimento em capital humano , que produz aumento da renda permanente , como educação, qualificação profissional, saúde e saneamento básico.

No plano macroeconômico, a opção pelo consumo e o emprego em detrimento do investimento teve o efeito de produzir uma inflação salarial e de bens não comercializáveis (serviços) elevada e rígida, mesmo num contexto de baixo crescimento da demanda. Essa inflação não vai ceder enquanto não houver aumento da produtividade do trabalho. Dada a taxa corrente de crescimento da produtividade, a inflação só cairá com aumento do desemprego, por mais dura que seja essa realidade , adverte Amadeo.

A equação é complicada. Com inflação pressionada e a defasagem crescente das tarifas, para evitar o risco de perda de controle dos preços, que pode vir com um choque de câmbio (fato menos provável agora, mas não desprezível), o Banco Central será obrigado a manter a taxa de juros (Selic) elevada, talvez, maior do que já está hoje.

O bem-estar do cidadão está ameaçado porque ou ele convive com inflação elevada (com risco de aceleração) ou o BC tem que manter os juros altos, produzindo aumento da taxa de desemprego , diz Amadeo. Esta é a primeira escolha de política econômica, e há outras duas, com a qual o governo terá que se defrontar.

No período atual, a renda tende a crescer menos, podendo até cair se a inflação subir ou o desemprego aumentar. Os serviços públicos seguirão com baixa qualidade, uma vez que o investimento tende a encolher com o atraso da correção das tarifas - as empresas reduzem investimentos não só porque têm menos recursos mas também devido à incerteza regulatória.

Houve a decisão de privilegiar o consumo em detrimento do investimento e da melhoria dos serviços públicos. Se o governo decidisse alterar as prioridades daqui para frente, a tarefa não seria nada fácil porque a política fiscal dos últimos anos teria que ser revertida. Teria que reduzir as renúncias e subsídios fiscais, corrigir as tarifas e diminuir uma parte das transferências. Mas essa reversão tem como consequência a redução da renda disponível e do crédito para os cidadãos. Dito de outra forma, e esta é a segunda escolha possível de política econômica, não há como conciliar a preservação dos ganhos de renda real disponível acumulados nos últimos anos e a melhoria dos serviços de utilidade pública , diz Amadeo.

O sócio da Gávea lembra que o governo forçou a mudança das relações entre juros e câmbio, Selic e TJLP e o spread bancário dos bancos públicos. As interferências se mostraram inconsistentes, mesmo tendo produzido um boom no crédito.

A inconsistência produzida pela interferência nos preços de mercado minou o esforço de manter a Selic baixa e, assim, evitar a apreciação do real, e solapou o fortalecimento da bolsa de valores e das empresas e o crescimento dos investimentos privados. No momento, o BC está vendendo dólares para evitar a depreciação do real. Mais uma vez está evitando um ajuste de preços que, no longo prazo, acontecerá de qualquer forma.

Diante disso, o governo estaria diante da terceira escolha: entre intervir ou não na formação dos preços de mercado. A tentativa de controlar os preços (juros, spreads, câmbio) não produziu o resultado desejado, isto é, fomentar o investimento privado e o crescimento econômico , assinala Amadeo.

Paradoxo - ANTONIO DELFIM NETTO

FOLHA DE SP - 19/02

Diante do constrangedor resultado do IBC-Br, que procura antecipar as variações do PIB que serão anunciadas pelo IBGE, a grande maioria dos analistas financeiros está revendo para baixo as estimativas para o crescimento de 2013 e 2014. Alguns mais afoitos já sugerem que a economia brasileira teria entrado numa recessão "técnica" --dois trimestres consecutivos de crescimento negativo--, o que só se verificará quando aquele órgão divulgar os seus números.

De qualquer forma, a situação é difícil. Apesar das recentes indicações amistosas do governo federal com relação à organização da economia por meio dos "mercados" e o seu respeito aos contratos, o comportamento de algumas agências aparelhadas com "companheiros de passeata" e a ação oportunista de governos estaduais e municipais têm prejudicado fortemente e retardado que o setor privado empresarial lhe dê um amplo voto de confiança. A visita da presidente Dilma ao Fórum de Davos em janeiro e a que deverá fazer à Comunidade Europeia, inserem-se nesse esforço.

O restabelecimento da confiança entre o poder incumbente e a sociedade empresarial é condição necessária para que qualquer política fiscal, monetária e cambial produza os resultados esperados. Não devemos esquecer que a presidente tem a confiança da sociedade não empresarial, como revelam as pesquisas de opinião.

É fato empírico que ajustes "expansionistas" só têm sucesso quando a constrição do Estado pela política fiscal tem tal credibilidade que desperta e liberta rapidamente o "espírito animal" do empresário privado, nacional e estrangeiro, pela mudança das "expectativas" que produz. À medida em que o investimento privado murcha por qualquer motivo, mas especialmente quando isso ocorre pelas incertezas introduzidas pelo próprio comportamento do governo revelado em sua ação, ele pode durante algum tempo ser substituído pelo investimento publico. O governo logo descobrirá que não pode fazê-lo impunemente por muito tempo, porque os desequilíbrios se manifestam na redução do crescimento, no aumento das tensões inflacionárias e do deficit em conta corrente.

Sem a recuperação da confiança que libertará o "espírito animal" do empresário privado para substituir, com investimento mais produtivo, a demanda pública, o ajuste fiscal que vamos ter de fazer para construir um ambiente saudável será, certamente, "recessivo" e socialmente muito mais custoso. Esse é o paradoxo: sem a preliminar recuperação da confiança, a correção da situação de baixo crescimento que nos assombra exigirá um longo interregno de crescimento menor ainda! Sem essa correção, os desequilíbrios continuarão a crescer e o PIB, a patinar.

Perdido no labirinto - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 19/02

Os venezuelanos ficam em enormes filas esperando para comprar óleo de cozinha. Depois, quando chega a vez de serem atendidos, a compra está limitada a duas latas por pessoa. Vivemos o mesmo e com o mesmo produto nos anos 1980. Mas o que realmente preocupa não é o desabastecimento de óleo e outros produtos, mas os flagrantes atentados do governo à liberdade.

A tragédia política e econômica da Venezuela tem sido longa. O que o Brasil deveria fazer, sendo líder da América do Sul, em respeito à tradição diplomática que tem, é defender os princípios e valores democráticos. Mas, consistentemente, no governo do PT, a diplomacia brasileira tem errado o tom, apoiado um dos lados em conflito na Venezuela e sancionado o comportamento autoritário do governo. As notas que assinou, tanto do Mercosul quanto da Unasul, dão as condolências às famílias das vítimas, mas compram a versão do governo da Venezuela, que alega haver um golpe em marcha. A nota do Mercosul repudia "as ameaças de ruptura da ordem democrática legitimamente constituída pelo voto popular". Mas não deixa igualmente explícito o repúdio às ameaças à liberdade e democracia praticadas pelo governo.

A oposição errou ao tentar o golpe em 2002, mas isso não significa que todos os manifestantes que estão nas ruas são golpistas, ou que as marchas tenham o poder de destituir Maduro. Ontem, o líder Leopoldo López se entregou depois de discurso inflamado. A parte da oposição que é liderada por Henrique Capriles tem repudiado radicalismos. Além da crise econômica, os protestos têm outro motivo real: o aumento exponencial da violência desde o início do período Chávez.

Segundo o Itamaraty, nenhuma nota foi divulgada isoladamente pelo Brasil porque ele considera mais eficiente as notas coletivas. Ao fazer um texto conjunto, o Brasil tem que conciliar sua posição com a da Argentina, que tem adotado alguns dos métodos venezuelanos de combater a oposição, e até com a própria Venezuela, que é a presidente Pro tempore do Mercosul. A nota do bloco foi divulgada pela chancelaria da Venezuela. Ou seja, é feita de encomenda para respaldar Maduro e não para defender a democracia como valor político do bloco.

Com o pretexto da crise econômica, o governo Nicolás Maduro está sufocando os jornais. O economista e colunista Pedro Palma, que não pode mais ser publicado na exígua edição de papel do "El Nacional", conversou com o blog na semana passada e disse que Maduro afirmou que "os dias da imprensa estavam contados". Os jornalistas fizeram uma marcha pedindo que as empresas tivessem acesso à licença para importação de papel e nem foram recebidos pelo governo.

Desde a época de Hugo Chávez, o governo tem formado, treinado e armado os Colectivos , as milícias chavistas. O governo foi encurralando e tirando legitimidade de todas as instituições e ameaça qualquer oposição que se forma. Ao expulsar os funcionários consulares americanos, Maduro os acusou de estarem distribuindo "vistos" de entrada nos Estados Unidos. Parece mais um factoide desses que seu antecessor usava para distrair a atenção quando a situação política e econômica piorava.

A péssima administração da economia, que consegue entrar em crise mesmo com o petróleo a US$ 100, faz com que os venezuelanos estejam há muito tempo vivendo os efeitos de uma inflação acima de 30% ao ano com grave desabastecimento. A Venezuela é um país perdido num labirinto. Respaldar um governo que errou tanto há tanto tempo é tão arriscado quanto abraçar a oposição. Lá, é o caso de, à distância, defender princípios e valores democráticos e torcer por alguma saída que não aumente a violência nem aprofunde a crise no país.

Fuga da raia - DORA KRAMER

O Estado de S.Paulo - 19/02

O lugar comum pode não ser a forma mais sofisticada de se expressar um pensamento, mas às vezes é a maneira mais simples de se traduzir uma situação.

Enquadra-se na definição a frase feita: contra fatos não há argumentos. Não tem passado dia sem que um ministro, um petista proeminente ou até mesmo a presidente da República e seu mentor e antecessor recorram a adjetivos para responder a questões substantivas.

Realmente é mais fácil desqualificar a crítica, ou os críticos, que enfrentar o debate qualificado decorrente de uma contra-argumentação racional, lógica, bem embasada, capaz de convencer o interlocutor sobre o possível equívoco de seu raciocínio, substituir a narrativa adversa por versão mais favorável, porém convincente.

O murro mais forte na ponta de faca foi a reação às condenações dos mensaleiros: punhos cerrados ao alto, gritos de "farsa", reivindicação do status de presos políticos para os políticos presos. Para nada.

Efeito muito mais positivo para o partido teria sido uma boa autocrítica e a retomada do compromisso com a correção de condutas. Mas os petistas preferiram desmoralizar a ética, transformando sua antiga bandeira em coisa de golpista.

Os protestos de junho foram vistos como um sinal de "ingratidão" por parte dos brasileiros que, nas palavras do secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, tantas benesses recebeu do governo. Gente que não sabe reconhecer o bem.

É o caso, no dizer da senadora e ex-ministra Gleisi Hoffmann, do governador Eduardo Campos. Um "ingrato" que recebeu verbas (de propriedade pública, diga-se) e apoio do governo federal e ousou buscar caminho próprio na política.

Por que não se debruçar sobre as razões pelas quais as pessoas saíram às ruas para cobrar melhorias nos serviços públicos? Ou examinar com racionalidade os motivos que levam um político e um partido a tentar alcançar o que o PT procurou e achou? Por acaso por isso merecem ser chamados de caras de pau?

Chegamos, assim, às insatisfações do empresariado. São reclamações objetivas, postas ponto a ponto, em arrazoados de clareza meridiana. Se eles estão errados, que sejam contestados igualmente ponto a ponto.

Mas, não. Para o governo são críticas inválidas por eleitoralmente engajadas ou frutos de um pessimismo injustificado (por esporte?).

O ministro Paulo Bernardo, das Comunicações, chegou ao ápice do desdém ao dizer que o empresariado faz "beicinho". Segundo ele, assim "não dá". De fato não dá. Governo que se preza presta contas e não foge da raia com gracinhas.

Cobiçado. O governador Eduardo Campos não é o único a desejar o reforço de uma candidatura de Joaquim Barbosa ao Senado pelo Rio de Janeiro, caso o ministro deixe o Supremo Tribunal Federal até 5 de abril a tempo de concorrer.

O senador Aécio Neves tem o mesmo anseio. Com uma diferença: Campos gostaria de ver Barbosa filiado ao PSB e Aécio acha que não seria indispensável a filiação ao PSDB.

Um gesto de simpatia à candidatura presidencial já seria ótimo no entendimento do tucano que, aliás, manteve desde o ano passado dois ou três encontros com o ministro para conversar sobre política.

Como tese geral. Sem referência a convites.

Ardida. Um amigo do peito do ex-presidente Luiz Inácio da Silva constata. Ele tem hoje duas preocupações: a economia e o temperamento de Dilma.

Mas Lula já não conhecia o gênio dela quando a escolheu como sucessora?

"Sim, mas na posição de subordinada era uma coisa. Como chefe é outra bem diferente."

Golpe à brasileira - MARCO ANTONIO VILLA

O Estado de S.Paulo - 19/02

Às vésperas dos 50 anos do golpe militar torna-se necessário um resgate da História para entendermos o presente. Em 1964 o Brasil era um país politicamente repartido. Dividido e paralisado. Crise econômica, greves, ameaça de golpe militar, marasmo administrativo. O clima de radicalização era agravado por velhos adversários da democracia. A direita brasileira tinha uma relação de incompatibilidade com as urnas. Não conseguia conviver com uma democracia de massas num momento de profundas transformações. Temerosa do novo, buscava um antigo recurso: arrastar as Forças Armadas para o centro da luta política, dentro da velha tradição inaugurada pela República, que já havia nascido com um golpe de Estado.

A esquerda comunista não ficava atrás. Sempre estivera nas vizinhanças dos quartéis, como em 1935, quando tentou depor Getúlio Vargas por meio de uma quartelada. Depois de 1945, buscou incessantemente o apoio dos militares, alcunhando alguns de "generais e almirantes do povo". Ser "do povo" era comungar com a política do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e estar pronto para atender ao chamado do partido numa eventual aventura golpista. As células clandestinas do PCB nas Forças Armadas eram apresentadas como uma demonstração de força política.

À esquerda do PCB havia os adeptos da guerrilha. O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) era um deles. Queria iniciar a luta armada e enviou, em março de 1964, o primeiro grupo de guerrilheiros para treinar na Academia Militar de Pequim. As Ligas Camponesas, que desejavam a reforma agrária "na lei ou na marra", organizaram campos de treinamento no País em 1962 - com militantes presos foram encontrados documentos que vinculavam a guerrilha a Cuba. Já os adeptos de Leonel Brizola julgavam que tinham ampla base militar entre soldados, marinheiros, cabos e sargentos.

Assim, numa conjuntura radicalizada, esperava-se do presidente um ponto de equilíbrio político. Ledo engano. João Goulart articulava sua permanência na Presidência e necessitava emendar a Constituição. Sinalizava que tinha apoio nos quartéis para, se necessário, impor pela força a reeleição (que era proibida). Organizou um "dispositivo militar" que "cortaria a cabeça" da direita. Insistia em que não podia governar com um Congresso Nacional conservador, apesar de o seu partido, o PTB, ter a maior bancada na Câmara dos Deputados após o retorno do presidencialismo e não ter encaminhado à Casa os projetos de lei para tornar viáveis as reformas de base.

Veio 1964. E de novo foram construídas interpretações para uso político, mas distantes da História. A associação do regime militar brasileiro com as ditaduras do Cone Sul (Argentina, Uruguai, Chile e Paraguai) foi a principal delas. Nada mais falso. O autoritarismo aqui faz parte de uma tradição antidemocrática solidamente enraizada e que nasceu com o Positivismo, no final do Império. O desprezo pela democracia rondou o nosso país durante cem anos de República. Tanto os setores conservadores como os chamados progressistas transformaram a democracia num obstáculo à solução dos graves problemas nacionais, especialmente nos momentos de crise política. Como se a ampla discussão dos problemas fosse um entrave à ação.

O regime militar brasileiro não foi uma ditadura de 21 anos. Não é possível chamar de ditadura o período 1964-1968 - até o Ato Institucional n.º 5 (AI-5) -, com toda a movimentação político-cultural que havia no País. Muito menos os anos 1979-1985, com a aprovação da Lei de Anistia e as eleições diretas para os governos estaduais em 1982. Que ditadura no mundo foi assim?

Nos últimos anos se consolidou a versão de que os militantes da luta armada combateram a ditadura em defesa da liberdade. E que os militares teriam voltado para os quartéis graças às suas heroicas ações. Num país sem memória, é muito fácil reescrever a História.

A luta armada não passou de ações isoladas de assaltos a bancos, sequestros, ataques a instalações militares e só. Apoio popular? Nenhum. Argumenta-se que não havia outro meio de resistir à ditadura a não ser pela força. Mais um grave equívoco: muitos desses grupos existiam antes de 1964 e outros foram criados pouco depois, quando ainda havia espaço democrático. Ou seja, a opção pela luta armada, o desprezo pela luta política e pela participação no sistema político, e a simpatia pelo foquismo guevarista antecederam o AI-5, quando, de fato, houve o fechamento do regime. O terrorismo desses pequenos grupos deu munição (sem trocadilho) para o terrorismo de Estado e acabou sendo usado pela extrema direita como pretexto para justificar o injustificável: a barbárie repressiva.

A luta pela democracia foi travada politicamente pelos movimentos populares, pela defesa da anistia, no movimento estudantil e nos sindicatos. Teve em setores da Igreja Católica importantes aliados, assim como entre os intelectuais, que protestavam contra a censura. E o MDB, este nada fez? E os seus militantes e parlamentares que foram perseguidos? E os cassados?

Os militantes da luta armada construíram um discurso eficaz. Quem os questiona é tachado de adepto da ditadura. Assim, ficam protegidos de qualquer crítica e evitam o que tanto temem: o debate, a divergência, a pluralidade, enfim, a democracia. Mais: transformam a discussão política em questão pessoal, como se a discordância fosse uma espécie de desqualificação dos sofrimentos da prisão. Não há relação entre uma coisa e outra: criticar a luta armada não legitima o terrorismo de Estado. Temos de refutar as versões falaciosas. Romper o círculo de ferro construído, ainda em 1964, pelos adversários da democracia, tanto à esquerda como à direita. Não podemos ser reféns, historicamente falando, daqueles que transformaram o antagonista em inimigo; o espaço da política, em espaço de guerra.

Ruídos para Dilma - FERNANDO RODRIGUES

FOLHA DE SP  - 19/02

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff continua sendo a favorita para vencer a eleição de outubro, mas há ruídos cada vez mais claros no cenário político.

Ontem, saiu uma pesquisa eleitoral do instituto MDA e da Confederação Nacional do Transporte (CNT). O levantamento deve ser observado menos pelos resultados sobre intenção de voto de cada pré-candidato e mais pelo cenário político que desenha no Brasil nos próximos meses.

A intenção de voto para a eleição presidencial permanece inalterada em relação ao que diversos institutos apuraram no final de 2013: Dilma Rousseff (PT) tem 43,7% contra 17% de Aécio Neves (PSDB) e 9,9% de Eduardo Campos (PSB). Hoje, a petista venceria no primeiro turno.

Mas indicadores laterais devem ser levados em conta. O mais relevante talvez sejam o humor dos brasileiros a respeito da economia e a taxa de popularidade do governo. Para 77,2%, o custo de vida aumentou nos últimos 12 meses. Não adianta a equipe econômica dizer diariamente que a inflação está controlada. A percepção das pessoas é outra --e é natural que seja assim quando os preços sobem na faixa próxima a 6% ao ano há muito tempo.

Essa sensação das pessoas se traduz na taxa de aprovação do governo Dilma Rousseff. Na MDA/CNT, 36,4% aprovam a administração petista. Em novembro, o percentual era de 39%.

Foi a primeira queda de Dilma desde o início de sua recuperação lenta e gradual pós-protestos de junho passado. Pode ser um deslize momentâneo? Sim, pode. Só que a presidente está abaixo da fronteira psicológica dos 40% de aprovação, considerados o patamar mínimo para ter sucesso eleitoral certo, segundo dez entre dez politólogos e marqueteiros.

Em resumo, o retrato geral é de uma certa deterioração na solidez eleitoral de Dilma neste início de ano. Se esse mau humor dos eleitores com a petista é passageiro ou não só será possível saber mais adiante.

O século 20 condena os EUA do 21 - ELIO GASPARI

O GLOBO - 19/02

Está nos cinemas "Caçadores de Obras-Primas" ("Monuments Men", baseado no livro que tem o mesmo título). Conta uma magnífica história: a de professores e museólogos americanos e ingleses que desembarcaram na Europa em 1944 com a missão de salvar tesouros artísticos durante a maior guerra de todos os tempos. Permite duas horas de divertimento e emoção. (O velhote da cena final é o pai de George Clooney, cujo personagem, na vida real, foi um conservador de Harvard.) Noves fora a corrida à la Spielberg contra os russos que estavam às portas da mina onde estavam os tesouros, suas diferenças com a história real não têm maior importância.

O filme joga o passado dos Estados Unidos contra seu presente. Há sessenta anos o secretário de Defesa Henry Stimson salvou a cidade japonesa de Kyoto de tomar uma bomba atômica porque lembrou-se de seu valor histórico. Os professores e museólogos protegeram algumas igrejas de cidades europeias. Nada puderam fazer para evitar a destruição da abadia medieval de Monte Cassino nem para tirar a cidade de Pisa da lista de alvos de bombardeios. Nisso foram-se afrescos, sarcófagos e esculturas do campo santo da cidade, cujo valor histórico excedia o da torre inclinada.

Passado meio século, as tropas americanas invadiram o Iraque sem dar qualquer atenção aos professores e museólogos que pediam proteção para sítios arqueológicos e, sobretudo, para o museu de Bagdá. Suas coleções equiparavam-no aos melhores do mundo. Tratava-se apenas de replicar uma iniciativa que enobrecera as Forças Armadas americanas, mas a tropa entrou em Bagdá sem qualquer instrução para proteger o museu. Nela havia só dois oficiais capazes de distinguir uma tabuleta milenar de um pedaço de barro com marcas esquisitas. O comandante da invasão disse que não tinha tempo para cuidar de besteiras e, quando o saque começou, havia uma tropa próxima, mas tinha ordens apenas para orientar o trânsito. A rapina durou dois dias e teve a marca de profissionais que foram atrás do que havia de melhor. Sumiram milhares de peças, talvez 10 mil, muitas das quais do tamanho de um isqueiro que chegam a valer centenas de milhares de dólares. Foram recuperados 750 objetos, alguns deles nos mercados de antiguidades americano e europeu. Noutro lance, a tropa nada fez quando um incêndio destruiu a biblioteca nacional do Iraque. Estavam atrás de armas de destruição em massa que não existiam e não evitaram a destruição de uma parte existente da memória do amanhecer da civilização.

Pesquisadores iraquianos protegeram perto de dez mil peças, mas ninguém contará sua história num filme com George Clooney e Cate Blanchett, a heroína francesa Rose Valland. Sua história já foi contada num grande filme, "O Trem", de John Frankenheimer.

Numa hora em que se dá o devido valor aos "Monuments Men", vale lembrar o nome de Tony Clarke. Ele era um jovem capitão inglês e em 1944 estava artilhado nas montanhas que dominam a cidade de Sansepolcro, com ordens para canhoneá-la. Lembrou-se de um livro que contava as maravilhas do afresco "Ressurreição", de Piero della Francesca, conservado num prédio da cidade e decidiu suspender o fogo. Na mosca: os alemães já tinham ido embora. Hoje Clarke é nome de rua na cidade.

Neobrasileirismos ou o sucesso da vaquinha - ROBERTO DAMATTA

O ESTADÃO - 19/02

Brasileirismos são invenções brasileiras. No campo da musica, da comida e da sexualidade, elas abundam. São brasileirismos o jogo do bicho, o samba, a feijoada, confundir fama com inteligência, não prender autoridade e dizer que bunda não tem sexo.

A presença mascarada dos elos pessoais abraçados pela norma do dar-para-receber e do vice-versa como algo obrigatório no espaço público é um outro brasileirismo que contraria a lei válida para todos e nos faz desconfiar da liberdade.

Liberdade que leva a escolhas, individualiza e acontece justamente na rua. Toleramos a liberdade porque ela é um conceito chave nas constituições “avançadas” que copiamos dos americanos, franceses e ingleses. Daí a contradição tragicômica: temos leis avançadíssimas, sínteses das melhores normas jamais produzidas no chamado “mundo civilizado”, mas lamentavelmente não temos franceses, americanos e ingleses para segui-las.

Voltemos, entrementes, aos temas clássicos. Se a liberdade tem sido usada pelas elites sobretudo para matar o competidor, a igualdade permanece sem solução. Continuamos alérgicos a sua aplicação e o seu uso é sempre constrangido pelos rotineiros “esse tem biografia”, “esse é meu amigo”, “esse é do nosso partido”, que são parte de um outro brasileirismo. A duplicidade ética, expressa no axioma: aos inimigos a lei; aos amigos, tudo. Um postulado que impede, no modelo e na realidade, o tratamento igualitário e um mínimo de coerência.

A brasileiríssima máscara entra em cena em tempos democráticos. Impossível não tomá-la, como ocorre em outras sociedades, como um símbolo de forças antissociais: do incesto que nega a oposição entre afinidade e consanguinidade, ou de condutas abusivas e licenciosas cuja concretização exige a invisibilidade ou o disfarce, como no carnaval.

Estamos pensando em legislar o uso da máscara. Balas de borracha para policiais; máscaras para os manifestantes. Mas, se até em centro espírita as almas dizem quem são, como admitir o poder dado a mascarados quando o ideal democrata é justamente conhecer o adversário? Em meio aos elos confusos entre as injustiças seculares e direito ao ativismo, o uso da máscara aumenta ou diminui a possibilidade do irracionalismo e da boçalidade contida na violência? Afinal, estamos querendo consolidar ou liquidar instituições?

Vivemos um momento de exigências igualitárias que demandam o fim da separação entre a casa e a rua: lei e cadeia na rua para os pés-rapados; e, na casa, embargos de todos os tipos para os amigos e parentes. Chamam isso de “corporativismo”, mas o nome verdadeiro é personalismo, como disse faz tempo.

Brasileirismo agradável foi testemunhar a sinceridade que baixou na Câmara dos Deputados com o voto aberto. O voto sem máscaras porque ele liquida a duplicidade entre casa e rua. “Como companheiro e colega eu não posso te cassar. Amanhã pode ser minha vez e você, mesmo sem ser do meu partido, retribui. Mas no plenário eu sou obrigado a fazê-lo, compreende? Antigamente, quando o voto secreto era minha máscara, eu votava contra a perda do teu mandato, pois tu és realmente um ladrão! Mas, agora, temos essa lei que me obriga que eu seja o mesmo tanto em casa quanto na rua. Então, vejam que coisa triste para a ética da casa e das amizades, eu sou obrigado a tirar a máscara e a ser sincero!”

A sinceridade é um neobrasileirismo.

Ser o mesmo em todos os lugares é impossível. Mas ter o propósito de ser o mesmo é o que chamamos de honestidade. A próxima eleição vai dizer se a honestidade é uma tortura ou uma bênção.

*

O ministro Gilmar Mendes aponta uma anomalia. As multas que os condenados devem pagar não podem podem ser transferidas, por meio de uma brasileiríssima vaquinha, para outras pessoas. A sugestão do ministro seria a de fazer uma vaquinha capaz de pagar o mensalão.

Tal parecer me lembra um evento bizarro, mas idêntico, ocorrido nos primórdios da ditadura militar, em 1964, no governo Castelo Branco. Foi a campanha “Ouro para o bem do Brasil”, destinada a reunir ouro para pagar a dívida externa brasileira. Tal vaquinha fez com que muitas pessoas doassem alianças e medalhinhas, mas, diferentemente da vaquinha dos mensaleiros, jamais se soube onde o ouro foi parar.

Mas o brasileirismo da vaquinha que retorna, como na ditadura, para livrar as multas do mensalão, é um sucesso.

E se um condenado a 20 anos, pergunta-me um amigo irritado, resolver fazer uma vaquinha e conseguir na internet gente que fique em seu nome na prisão por um dia? Façamos o calculo: 20 vezes 365 é igual a 7.300 dias. Ora, diz ele, considerando o que os mensaleiros condenados já arrecadaram até agora, seria tranquilo conseguir sete mil e tantas pessoas solidarias para ficarem por um dia na cadeia no lugar do condenado. E eles, é claro, iriam continuar atuando como heróis nacionais injustiçados por uma mascarada de cunho político. Se tudo é injustiça burguesa, por que não aplicar a brasileiríssima vaquinha para outras penalidades?

Tento argumentar, mas o amigo toma uma cerveja.

O mesmo sujeito me diz o seguinte: “Olha aqui, DaMatta, estou pensando em fazer uma vaquinha para deixar de trabalhar como um condenado. Quero poder dizer não — esse imenso privilégio dos abençoados.” Como bom brasileiro não disse nada. Mas pensei: se der certo eu também faço!

A Copa é nossa - RODRIGO CRAVEIRO

CORREIO BRAZILIENSE - 19/02
Tivesse sido aplicada na saúde ou na educação, a megalomania de alguns políticos brasileiros seria mais louvável. As 12 arenas que sediarão os jogos da Copa do Mundo custarão pelo menos US$ 8,9 bilhões - um quarto da verba anual destinada ao Ministério da Educação e 20% do que será alocado em recursos na pasta da Saúde em 2014. Com hospitais e escolas públicas sucateados, além de médicos e professores mal remunerados, é difícil entender o porquê de aplicar rios de dinheiro em evento esportivo.
O fim da Copa dará lugar à ressaca moral e à pergunta de difícil resposta: "O que fazer com tantos elefantes brancos?" As autoridades terão percebido que os bilhões escoaram pelo ralo. Estádios modernos e pomposos construídos em Brasília, em Cuiabá e em Manaus terão como única utilidade servir de cenário de fundo para fotografias de turistas e de palco para shows esporádicos. Os governantes também vão constatar que pouco - ou nada - mudou na situação econômica do Brasil.

Um país que deixa os doentes morrerem à míngua dentro de hospitais públicos lotados e abandona os idosos à própria sorte não pode se gabar de ser superpotência emergente. Uma nação que corteja ditadores latino-americanos se rotula de democrática e sugere punir manifestantes com até 30 anos de prisão está mergulhada na controvérsia. Uma pátria-mãe que mantém os filhos na mira de marginais e se omite em garantir segurança. Nosso Brasil mal conseguiu cumprir prazos para a realização da Copa e chegou a ser alvo de chacota da todo-poderosa Fifa. Os projetos de mobilidade urbana e acessibilidade não saíram no papel e ali continuarão. O Mundial no Brasil, assim como sua mascote, Fuleco, ou sua bola, Brazuca, não terão passado de produto de marketing político.

Enquanto isso, engravatados terão enchido os bolsos de dinheiro e farão do Mundial uma escada para suas ambições de poder. A imensa maioria da população, depois de passado o efeito do ópio do futebol, seguirá na dura rotina de sempre, tentando driblar a inflação e o alto custo de vida, fazendo mágica para alimentar os filhos e se acostumando com as mazelas na saúde e na educação. Nossos políticos merecem o título de campeões do desperdício. Nós, de heróis da resistência.

Rio em movimento - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 19/02

Não é apenas a possibilidade de que o ministro do Supremo tribunal Federal Joaquim Barbosa entre na política, para disputar possivelmente uma vaga no Senado, que promete mexer com a eleição no Rio de Janeiro. Há uma negociação em curso entre o PSDB e o PMDB para que os tucanos deem o vice na chapa do candidato do PMDB Luiz Fernando Pezão, o que formaria um palanque forte, embora alquebrado pelas acusações contra o governador Sérgio Cabral, para o candidato à Presidência da República do PSDB, Aécio Neves.

Se as tratativas entre o PSB e Barbosa derem certo, ele comporia a coligação que deve lançar ao governo do estado o deputado federal Miro Teixeira, filiado ao PROS, mas ligado à formação da Rede Sustentabilidade de Marina Silva. Essas novas combinações políticas poderiam alterar a atual correlação de forças eleitorais no estado, onde no momento as opções à frente nas pesquisas são Garotinho, Crivella e Lindbergh Farias.

Alterariam também o quadro para a Presidência da República, com os dois principais candidatos da oposição tendo apoios de peso em um estado que deu à presidente Dilma uma diferença de 1,7 milhão de votos no primeiro turno de 2010. Tanto o PROS quanto o PMDB devem apoiar, em nível nacional, a presidente Dilma Rousseff, mas as dissidências estaduais estão cada vez mais fortes este ano.

O PMDB deve ter dissidências em vários estados importantes, como a Bahia, e outros partidos da base aliada podem ter movimentos dissonantes em relação à candidatura à Presidência da República. No momento, o PSDB trabalha para que PP e PMDB, partidos da base aliada, fiquem neutros na disputa presidencial, o que retiraria minutos preciosos da propaganda oficial da coligação do PT.

São possibilidades remotas - especialmente no caso do PMDB, que tem a vice-presidência na chapa de Dilma -, mas que estão na mesa de negociações. O PDT, por exemplo, já ofereceu vaga a Joaquim Barbosa para disputar a Presidência da República. O PP tem questões regionais a resolver, como o apoio à candidatura de Aécio Neves à Presidência em alguns estados, mas, mesmo que o apoio à reeleição de Dilma Rousseff seja mantido, há situações regionais que levarão à dissidência.

É o caso, por exemplo, da senadora Maria Amélia, favorita na disputa pelo governo do Rio Grande do Sul, que está em negociações com o PSB e o PSDB. As declarações do deputado Luiz Carlos Heinze, do PP gaúcho, da bancada ruralista, contra minorias como gays e índios, provocaram mal-estar na Rede de Marina Silva, o que fez com que as negociações com o PSB de Eduardo Campos retrocedessem.

Maria Amélia não se fez de rogada e anunciou que o problema era do PSB, pois ela tem alternativas: o próprio PT da presidente Dilma ou, mais provavelmente, o PSDB de Aécio Neves. Um grupo de senadores está se preparando para fazer uma consulta ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre esses apoios de dissidentes.

Está na Constituição, no artigo 17, parágrafo 1º, a garantia de que os partidos têm autonomia para definir (...) o critério de escolha e o regime de coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de vinculação entre a candidatura nacional a estadual, municipal ou distrital . Mas existem algumas dúvidas sobre a campanha dessas dissidências.

Pode, por exemplo, um(a) candidato(a) a governador pedir votos na propaganda eleitoral da televisão de seus estados para um candidato a presidente da República que não seja o escolhido por sua legenda? As propagandas sobre esses apoios heterodoxos feitas em cartazes ou folhetos podem ser pagas com o dinheiro do diretório regional do partido?

O simples fato de que haverá essa consulta mostra como os bastidores da política estão agitados nestes meses que antecedem a escolha oficial das candidaturas.