quinta-feira, outubro 02, 2014

Momento de indecisão - DORA KRAMER

ESTADÃO - 02/10


Não chega a ser a “onda da razão” esperada pelo senador Aécio Neves, mas uma marola razoável o suficiente para levar o candidato do PSDB de volta à perspectiva de disputa por uma vaga no segundo turno, considerando-se a hipótese mais provável de que a eleição não se decida neste domingo.

Como a presidente Dilma Rousseff continua inabalável em seu patamar de 40% de intenções de votos, quem andou foi o eleitor de oposição que havia caminhado rumo à candidatura de Marina Silva e há duas semanas vem dando de maneira vagarosa passos na direção oposta.

A tendência é nítida, a única dúvida é se haverá tempo para a ultrapassagem. Situação considerada praticamente impossível pelos analistas de pesquisas em meados do mês de setembro, quando o crescimento inicial de Marina se estabilizou, mas ela parecia resistir bem à despudoradamente desleal pancadaria petista.

Não resistiu. Tampouco caiu apenas por força da credulidade popular nas falsificações do marketing da campanha de Dilma ou pelo repentino convencimento do eleitorado nos méritos do candidato Aécio. Submetida ao confronto duro do embate eleitoral na condição de favorita, Marina foi retirada à força do altar em que reinava como figura sagrada.

Não soube – não quis ou não contou com ajuda para tal – como Lula alimentar a construção do mito e submergiu ao encontro com a realidade. Isso ao menos em relação à imagem que o público fazia dela. Uma expectativa alta, artificial até por inatingível, mas era nesse campo da utopia que transitava Marina. Sentimento alimentado pela definição do projeto “sonhático” na eleição de 2010, termo deixado de lado quando assumiu a candidatura.

Tomemos o exemplo da questão da CPMF. Discussão desnecessária, assunto vencido, mas para o eleitor de Marina ela ser flagrada numa afirmação falsa sobre uma votação do passado é falta grave. O eleitor do PT está pouco se lixando para as mentiras do partido. Acostumou-se. O de Marina esperava mais e não deve ter gostado de vê-la cair em tantas contradições quando puxada para o terreno lamacento da vala dos comuns.

Foi levada a ser igualada. Com a desvantagem de ser mais frágil na reação e na resistência ao empuxo.

Elementar. O mínimo que o doleiro Alberto Youssef tem para contar em seu acordo de delação premiada é o número das contas e o nome dos respectivos beneficiados onde eram feitos, aqui e lá fora, os depósitos das propinas dos contratos da Petrobras.

Como informou sua ex-contadora Meire Poza quando esteve na CPI, ele era o “banco” do esquema.

Quanto a Paulo Roberto Costa, preso desde junho, a autorização para que responda os processos em prisão domiciliar evidencia que, ao juízo do Ministério Público e da Justiça, os cem depoimentos prestados no acordo firmado por ele contêm provas consistentes para desvendar as autorias e a materialidade (provas) dos crimes cometidos na estatal.

Com a homologação do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, já não é possível o governo dizer que as traficâncias são apenas produtos de material de imprensa desprovido de fé jurídica.

Revanche. Por enquanto não se pode dizer que a atitude do presidente da OAB-DF de negar a renovação da licença de Joaquim Barbosa para advogar seja corporativista porque, a despeito da alegação de que o ex-ministro tratou mal advogados, parece um ato de tolice à deriva.

Caso o conselho da Ordem corrobore o veto ao trabalho nem assim caberá a razão corporativa. Terá sido um gesto obscurantista.

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