domingo, outubro 12, 2014

Economia parou por causa dos equívocos do governo - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 12/10

O mundo passou por séria crise financeira cujas consequências ainda se fazem presentes. Mas são as causas internas que contribuem, hoje, para estagnar a economia



Que o mundo passou por uma crise financeira muito grave, e ainda sofre as consequência dela, é um fato sobre o qual ninguém pode discordar. Mas a crise não é mais justificativa para o fraco desempenho da economia brasileira nos últimos anos. Os equívocos internos de política econômica certamente foram os que mais contribuíram para o país estar estagnado, com retração nos investimentos e séria ameaça na inflação.

O governo apostou no estímulo ao consumo, acreditando que o ciclo se autoalimentaria, sustentando um forte ritmo de crescimento. E nessa aposta pisou no acelerador dos gastos correntes, confiando na expansão das receitas tributárias. Aposta perdida.

Quando o modelo, o tal “novo marco macroeconômico”, começou a dar sinais de exaustão, já em meados de 2012, o governo não reviu a estratégia. Ao contrário, pisou mais fundo no acelerador dos gastos. Para compensar essa política fiscal expansionista, o Banco Central foi obrigado a elevar consideravelmente as taxas básicas de juros.

Não por acaso esse ambiente gerou enorme desalento no meio empresarial. Por sucessivas vezes o governo prometeu corrigir os rumos da política econômica e não o fez. A meta de superávit primário nas finanças consolidadas do setor público se tornou fictícia. Já se aproximando do fim do exercício as autoridades mantêm a promessa vã de que o superávit de 1,9% do PIB ajustado para 1,3% será alcançado. Para fechar as contas de exercícios anteriores o governo fez muitas operações contábeis para que receitas extraordinárias pudessem reforçar o caixa no apagar das luzes. Este ano, ao que tudo indica, a chamada contabilidade criativa será mais uma vez acionada para que algum superávit primário possa aparecer nas estatísticas oficiais.

A resistência a mudar a política fiscal tem sem dúvida motivação político-partidária. O governo assistiu de braços cruzados às distorções do seguro desemprego, cujos números conflitam com os índices de ocupação apurados pelo IBGE ou pelo Ministério do Trabalho. Fez demagogia com os preços dos combustíveis e as tarifas de energia elétrica, sendo que em relação a estas já havia um quadro de cenário hidrológico desfavorável, tornando inevitável o acionamento de todas as usinas térmicas com custo de geração mais alto.

Para engordar a receita de dividendos, o governo capitalizou suas instituições financeiras com a emissão de títulos públicos, aumentando a dívida bruta e assumindo mais encargos financeiros, o que tornaria necessário um esforço adicional de acumulação de superávit primário.

É nesse sentido que uma mudança nos rumos da política econômica, especialmente a fiscal, poderá ser capaz de desanuviar o atual ambiente negativo no meio empresarial, fazendo com que os investimentos sejam retomados.

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