quarta-feira, agosto 06, 2014

Mais atenção à indústria - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 06/08
A mais nova rodada de maus resultados da indústria sugere que a recuperação do setor, um dos mais importantes da economia brasileira e tradicional criador de empregos formais e duráveis, requer do próximo governo a sua inclusão entre as prioridades da política econômica.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) informou ontem que, em junho, o faturamento real da indústria caiu 5,7% e as horas trabalhadas na produção tiveram queda de 3%, na comparação com maio, na série livre de influências sazonais.

Foi a quarta queda mensal consecutiva da atividade industrial no país, sem qualquer sinal de melhora nos próximos meses. Os dados de junho ajudaram a consolidar o mau desempenho do setor no primeiro semestre, quando o faturamento real caiu 1% e as horas trabalhadas na produção tiveram queda de 2,2%, ante o mesmo período do ano passado.

Outro dado preocupante, que reflete o quadro de desaceleração da atividade industrial, revela que a utilização da capacidade instalada das fábricas ficou em 80,1% em junho, ante 80,6% registrado em maio, em mais um passo rumo à estagnação. Só o emprego e os salários ainda resistem e é pensando neles que algo mais consistente precisa ser feito.

Para começar, seria bom uma mudança de diagnóstico, a aceitação de que faltou uma política industrial horizontalizada, em vez de medidas pontuais e setoriais. A perda de competitividade da indústria brasileira não é, certamente, um fato único na economia mundial, principalmente depois da explosão da capacidade produtiva da China. Mas a invocação de demônios externos, ainda que verdadeiros, não pode satisfazer a quem tem o dever de reagir e de buscar soluções realistas.

Uma realidade inconteste é que o caminho que o Brasil terá de percorrer no campo da educação para conseguir se alinhar aos países mais competitivos tem a duração do tempo perdido por décadas de abandono e de equívocos. Também é certo que, antes de vencer esse desafio, o país precisa buscar a inovação, mas ainda não pode sonhar com a troca do chão das fábricas pela indústria da inteligência. Não de imediato.

Está claro, então, que é urgente a recuperação da indústria brasileira, mas não por meio de curativos e analgésicos. A questão do custo Brasil precisa deixar de ser apenas literatura e passar a ser encarada com seriedade e de modo amplo. Por exemplo, o custo do setor público é cada vez mais alto, o que impede a redução da carga tributária. Esse custo tem ainda o grave efeito colateral de impedir o investimento público, que, nos últimos anos, tem perdido a corrida para o aumento dos gastos com pessoal e custeio dos vários níveis de governo.

Superada a estéril discussão sobre o papel do Estado no desenvolvimento, está claro que cabe a ele definir marcos regulatórios atualizados e estimular a construção de infraestrutura que garanta redução de custos na produção industrial e agropecuária. Para isso, terá de se associar ao capital e à eficiência da iniciativa privada, sem vieses anacrônicos - que, até agora, só nos atrasaram -, e, por fim, conduzir com previsibilidade e transparência a política econômica. Que os candidatos à Presidência se comprometam e se preparem para cumprir essa prioridade.

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