sábado, maio 24, 2014

Caminho da indústria - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 24/05

A indústria desconcerta e confunde. O que fazer com um setor que encolhe a cada ano, por maiores que sejam os benefícios dados através de redução de impostos? Ela chegou a ser 25% do PIB e hoje é 13%. A queda ocorreu num longo tempo. O pico foi nos anos 1970, e de lá vem com altas eventuais, mas a tendência é ficar cada vez menos importante.

Só que é a indústria que dá o tom do debate, é ela que recebe pacotes de benefícios ficais, é ela que tem fama de ser a atividade nobre da economia. Bom, o primeiro a fazer é entender o movimento de queda. O especialista Regis Bonelli, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia, o Ibre, da GFV, foi ao meu programa na Globonews esta semana com uma série de gráficos. Um deles (veja abaixo) mostra a queda da indústria brasileira, como proporção do PIB. Os outros provavam que não é só no Brasil:

— Os gráficos mostram que a queda da participação da indústria no PIB é uma tendência que se observa desde os anos 1980. E é universal. Não é uma jabuticaba. Na Ásia, a tendência é a mesma. Na China, a série é menor, mas se vê queda. Na Europa, era 30% em 1970, mas, veio ladeira abaixo, e é 13,5%. Na América do Norte, caiu para algo em torno de 12%.

O economista Mauro Rochlin, do IBMEC, acha que, mesmo mostrando que em todos os países há uma queda da participação da indústria no PIB, a desindustrialização é mais forte no Brasil, tanto que se parece com economias maduras como a dos Estados Unidos:

— Os últimos anos foram muito difíceis pelo Custo Brasil e pelo câmbio. Tivemos um processo muito intenso nos últimos cinco ou seis anos. A queda do câmbio, durante muito tempo, estimulou as importações, e relações de clientela se firmaram nesse tempo, o que incentivou os importadores a se estabelecerem de forma sólida no Brasil.

Régis Bonelli nota que as importações que cresceram foram de bens de capital e bens intermediários. No último caso, a indústria se beneficia por ter insumos mais baratos e de qualidade superior. Mauro lembra que os salários da indústria aumentaram muito, e isso também tirou competitividade. Acha, no entanto, que o que realmente nos enfraquece é uma infraestrutura deficiente, nosso velho calcanhar de Aquiles.

O que fazer diante disso? Regis acha que o ideal seria se integrar às cadeias produtivas globais, mas lembra que não é trivial. Até porque isso é feito pelas multinacionais, e quando elas vêm é pelo mercado brasileiro, que é grande, e não para exportar daqui.

A atuação do governo tem sido escolher alguns setores para com isso estimular a indústria como um todo.

— Não é assim que se faz política industrial, mas entendo o governo mirar esse caminho porque dar incentivos à indústria automobilística é dar um tiro certeiro. Pelo tamanho da cadeia, acaba atingindo o setor como um todo — diz Mauro.

Bonelli acha que o único tiro certeiro é investir pesado em infraestrutura porque isso aumentará muito a produtividade da indústria.

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