segunda-feira, fevereiro 03, 2014

Subdesenvolvimentismo - GUSTAVO PATU

FOLHA DE SP - 03/02

BRASÍLIA - Quem comparar o desempenho de Brasil e Argentina por um prazo mais longo --de 30 anos, por exemplo-- verá que, na média anual, os dois países têm crescimento econômico quase idêntico, nem muito ruim nem muito bom.

Mas médias são enganosas e escondem as diferenças de temperamento entre os dois vizinhos. Os argentinos, nessas três décadas, viveram uma montanha-russa em que picos de prosperidade se alternaram com colapsos e tragédias dignos das grandes depressões. Os brasileiros experimentaram oscilações bem mais suaves e distanciadas; a euforia no Plano Cruzado e a recessão do Plano Collor ficaram para trás.

A Argentina embarcou muito mais radicalmente tanto na onda neoliberal dos anos 90 quanto no novo desenvolvimentismo sul-americano deste século; o Brasil seguiu uma e outro com menos fidelidade e mais pragmatismo, no estilo nacionalmente consagrado pelo PMDB, talvez a verdadeira ideologia do país.

Dilma Rousseff, conscientemente ou não, aparenta ter atingido a quintessência da previsibilidade. A produção e a renda se movem lentamente, a taxas muito parecidas a cada ano, sem turbulências, com desemprego baixo, aparato de seguridade social em expansão e queda vegetativa da pobreza e da miséria.

Esquecidas as promessas de grandeza da primeira campanha eleitoral da presidente, resta ao governo brasileiro e a seus pensadores teorizar sobre as virtudes da temperança e do amparo estatal, ainda mais na comparação com sacrifícios pouco recompensadores do passado. Os índices de popularidade de Dilma sugerem que não é pequeno o apelo dessa mensagem no eleitorado.

A dúvida é por quanto tempo mais a calmaria poderá ser mantida. A finança global e os desequilíbrios domésticos sugerem que um ajuste terá de ser feito em 2015, no primeiro ano do próximo governo. Mas o mercado muitas vezes antecipa a conta.

Nenhum comentário: