terça-feira, janeiro 28, 2014

Dez anos em Marte - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 28/01

Percorrer 39 km em dez anos não garante qualificação para nenhuma corrida na Terra, mas em Marte pode ser saudado como desempenho extraordinário. Vida longa ao jipe Opportunity, que desde 25 de janeiro de 2004 percorre a superfície do planeta vermelho.

A série de missões não tripuladas da Nasa ao vizinho de Sistema Solar proporcionou bons resultados. Pelo preço de um único ônibus espacial (US$ 1,7 bilhão), a agência americana enviou dois jipes a Marte, Spirit e Opportunity.

Sem pôr nenhuma vida humana em risco, os dois pousaram corretamente em solo marciano. Cada um deveria operar por três meses e direcionar instrumentos para buscar sinais de ambientes úmidos, propícios à vida, no passado do planeta no qual astrônomos do século 19 enxergavam "canais".

Tais canais eram uma fantasia, mas Spirit e Opportunity provaram que Marte, bilhões de anos atrás, teve abundância de água líquida em sua superfície. Ambos os veículos ultrapassaram, e muito, a longevidade programada, e o segundo se sagrou um campeão.

O Spirit funcionou até março de 2010, enviou à Terra 128 mil imagens e percorreu 8 km. Já o Opportunity opera até hoje, não tem data para parar, mandou 187 mil fotografias e está perto de completar os 42,2 km de uma maratona.

O sucesso da dupla ajudou a fazer decolar outra missão, a do laboratório sobre rodas Curiosity, que pousou em Marte em 2012. Ao custo de US$ 2,5 bilhões, o novo jipe tem por meta investigar se, além de água, os terrenos marcianos guardam compostos orgânicos complexos ou outros sinais da probabilidade de vida no planeta vermelho.

Por ora, os indícios são de ambientes inóspitos até para os microrganismos mais rústicos da Terra, que suportam níveis altos de temperatura e acidez e são por isso conhecidos como extremófilos.

Se vier a comprovar que Marte foi também habitável, o Curiosity dará novo passo na longa busca por vida fora da Terra, um tema popular da exploração do espaço.

Há quem veja nela pura inutilidade, desperdício bilionário em empreitada de resultados incertos. Mas é inegável que a aventura espacial --para além de seus subprodutos tecnológicos-- já contribuiu muito para alterar a imagem que a humanidade faz de si própria no cosmo, e não há limite para imaginar o que possa estar à frente.

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