quinta-feira, janeiro 09, 2014

BNDES reinaugura o ‘hospital’ de empresas - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 09/01

A política de criação de ‘campeões nacionais’ teria sido revogada, mas a conta dos erros cometidos pelo dirigismo estatal começa a chegar. Também foi assim na Era Geisel



É trivial a ideia de que se aprende com o erro. Mas não no campo das políticas econômicas, em que há muita interferência de pendores políticos e ideológicos. Se assim não fosse, inexistiriam casos como alguns em andamento na América Latina nos quais a inflação e o baixo crescimento retornam devido aos mesmos equívocos cometidos no passado.

Um exemplo oposto, positivo, ocorre nos EUA, no combate à Grande Recessão, deflagrada pelo estouro da bolha imobiliária em 2008. Ben Bernanke, então presidente do Fed (Banco Central americano), estudioso da Grande Depressão (década de 30 do século passado), foi liderança-chave para evitar que se cometesse outra vez o erro de se praticar políticas monetárias (juros) e fiscais (gastos) apertadas. Os Estados Unidos fizeram o contrário, foram seguidos com diversas nuances pelos demais países, e a tragédia não ocorreu novamente.

O Brasil, infelizmente, nivela-se por baixo ao voltar a erros do passado. Em especial, no dirigismo estatal por meio do BNDES, na vã tentativa de criar “campeões nacionais”, da mesma forma que fez a ditadura militar no governo Geisel, também sem êxito. A política dos “campeões”, foi dito, está revogada. Mas não seus custos, pagos por toda a sociedade, porque o banco é público, inclusive, diretamente pelo trabalhador (FAT). Há pouco, o BNDES teve de mais uma vez socorrer o grupo Marfrig, de frigoríficos, segundo a “Folha de S.Paulo”. Postergou a cobrança de uma conta de juros de R$ 130 milhões do grupo, e se comprometeu a pagar, em 2017, R$ 21,50 por ação da empresa, sendo que, no momento, ela se encontra na faixa dos R$ 4. Pode-se ter a dimensão do prejuízo em potencial embutido nesta operação. O BNDES volta no tempo, neste socorro. Afinal, no banco também já funcionou um “hospital” para reanimar empresas. E esta função de “enfermaria” costuma se seguir aos surtos de dirigismo.

Como restou demonstrado pelo programa de substituição de importações, com reserva de mercado para “campeões nacionais”, na Era Geisel, o dedo do Estado na unção de empresários supostamente vencedores bem mais erra do que acerta.

Além do Marfrig, há outros casos emblemáticos. Um deles, a tentativa de constituir um grupo forte no setor de laticínios, o LBR-Lácteo. Fusões de empresas financiadas com dinheiro público, e tudo terminou em concordata. No ano passado, o braço de participações do banco (BNDESPar) teve de fazer uma baixa contábil de R$ 3,3 bilhões. Por essas e outras.

Desde 2009, estima-se que o Tesouro, em nome do contribuinte, se endividou em R$ 300 bilhões para abastecer o caixa do banco. Caberia ao TCU, em nome do Congresso, portanto da sociedade, seguir a rota deste dinheiro. Pelo jeito, parte deve ir para o reinaugurado “hospital” de projetos fracassados de campeões. Tudo contabilizado na dívida pública bruta, já em 60% do PIB, nas nuvens.

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