sexta-feira, dezembro 27, 2013

Provérbios contemporâneos - NELSON MOTTA

O GLOBO - 27/12

Em ano eleitoral, a fofoca vai atingir os seus níveis mais altos, e mais baixos, com os piores objetivos, e até sem motivos claros ou uniformes, como nos protestos de junho



Andy Warhol dizia que gostava de fofoca pelo seu duplo valor de informar tanto sobre a pessoa que está sendo falada quanto sobre a que está falando, porque ninguém se contenta em contar a novidade sem comentá-la e julgá-la, revelando seus gostos e sentimentos. Nos tempos de Andy, a fofoca era chamada brejeiramente de mexerico e corria de boca em boca ou por precárias comunicações, de fontes restritas e duvidosas, mas hoje se propaga instantanea e incontrolavelmente, usando a sua origem como prova de sua veracidade: está na internet!

O ancestral “diz-me com quem andas e te direi quem és”, ainda atualíssimo para a avaliação de políticos, hoje é aplicado aos sites, blogs, twitters e seriados para monitorar o que segues e saber como és. No formato “diz-me do que gostas e não gostas”, serve não só para dizer quem és, mas até o que queres, antecipando os teus desejos baseado no que já compraste, e assim facilitando tuas escolhas — de mais do mesmo.

A linguagem proverbial é antiga, mas o moderno poder de se informar e de comprar o que quiser e escolher em que fontes beber na rede vai permitir que as tuas escolhas revelem quem és e como vives. Principalmente para te venderem o que não precisas. Diante do que vivemos hoje a temida monitoração onipresente do Big Brother de “1984” parece coisa de adolescente, no máximo, de programa de televisão.

Em ano eleitoral a produção e a disseminação de fofocas vão atingir os seus níveis mais altos, e mais baixos, com os piores objetivos, e até sem motivos claros ou uniformes, como nos protestos de junho. Com os dados cada vez mais detalhados e ampliados de que dispõe sobre o eleitorado, o marketing das campanhas vai vender seus produtos e tentar motivar os consumidores fiéis e atrair os insatisfeitos, com o empobrecimento do debate político e do confronto de ideias.

Só espero que os políticos de todos os partidos não continuem a dizer na televisão que “ouviram a voz das ruas”, porque foi justamente contra eles, seus privilégios, sua corrupção, sua ineficiência e impunidade que as ruas e as redes gritaram. E vão gritar nas urnas.


Judiciário, onde estás? - CLAUDIA GAY BARBEDO

ZERO HORA - 27/12

Nos últimos dias, anteriores ao recesso forense, não faltaram advogados batendo à porta do Judiciário com a finalidade de regulamentar a convivência das férias de verão entre pai e filhos. O ponto nevrálgico dessa questão é a resposta do Judiciário, quando provocado a se manifestar, que acaba, por cautela injustificada, restringindo a convivência de pai e filhos nas férias de verão. Pois só cabe convivência paterno-filial restritiva diante de atos que desabonem a conduta paterna, caso contrário, ela deve ser de forma ampliada e em igualdade de condições com o desfrute materno.

A provocação ao Judiciário ocorre porque, muitas vezes, a mãe, apropriando-se de um pensamento foucaultiano, vigia a relação paterno-filial e pune o pai, restringindo o seu acesso ao filho quando passa a impor poucos dias e horas de convívio, o que não deixa de ser um ato de prática da alienação parental. No entanto, o Judiciário deve estar atento à inconformidade da mãe com relação à regulamentação ampliada das férias de verão em favor do pai, pois, segundo Foucault, uma das tecnologias de poder, que é uma modalidade de acordo com a qual se exerce o poder de punir, são “marcas rituais da vingança”, especificamente, no Direito de Família retratada por uma dissolução conjugal mal conduzida. A modalidade acima é elucidativa, a fim de se depreender claramente que o pai está sofrendo no corpo a tecnologia de poder do fim do século 18.

Como nos diz José Camargo, em muitos dias as pessoas são acometidas pela sensação dilacerante de que lhes arrancaram pedaços vivos de afeto, sem reposição. A convivência paterno-filial regulamentada de forma restritiva enaltece o poder de punir da mãe, sem remorsos. Isso porque, com mais frequência, a alienação parental parte da mãe. Por ora, não há reposição do tempo perdido, mas é possível a construção de uma visão prospectiva a definir uma convivência materno-paterno-filial igualitária, salvo ato que desabone a conduta de um dos pais. Por isso a inquietude da pergunta: Judiciário, onde estás que restritivamente respondes? O pai recorre ao Judiciário para modificar essa situação, ainda mais quando se trata de criança mais nova e, não raras vezes, recebe uma resposta restringindo o seu período de férias _ janeiro e fevereiro _ com o filho, a uma semana ou no máximo quinze dias, restando a outra parte na totalidade para a mãe. Infelizes datas festivas de final de ano para aquele pai que lutou por um período de férias de verão em igualdade de condições com a mãe e teve uma resposta restritiva do Judiciário, sem qualquer ato que desabone a conduta paterna.

O trânsito no bolso - MARCOS CINTRA

FOLHA DE SP - 27/12

Com a implementação das faixas exclusivas de ônibus, o custo do congestionamento em São Paulo subiu de R$ 40 bilhões para R$ 42 bilhões


A ineficácia das políticas públicas adotadas no setor de mobilidade em São Paulo ao longo dos últimos anos, frente a uma demanda crescente por transporte coletivo e por vias de circulação, gerou uma situação caótica na fluidez do sistema viário que impõe crescentes custos econômicos aos paulistanos.

Desde 2008, produzo estimativas das perdas econômicas causadas pelo tempo que as pessoas ficam paradas no trânsito e pela reduzida velocidade de circulação nas vias da cidade nos horários de pico.

Há cinco anos, o custo foi da ordem de R$ 33,5 bilhões. Em 2012, usando os mesmos critérios, o valor estimado foi de R$ 40,1 bilhões, ou cerca de 8% do valor anual do PIB paulistano.

Pressionado por essa crítica situação, o governo municipal passou a implantar faixas de ônibus visando aumentar a velocidade de circulação dos coletivos. De acordo com os órgãos responsáveis, as vias segregadas permitiram que os ônibus aumentassem a velocidade média de 13 km/h para 20 km/h, um acréscimo significativo de 50%.

Na tentativa de estimar o efeito das faixas exclusivas sobre os custos do tráfego, surgiram sérios problemas relacionados à quase total ausência (ou sonegação) de informações detalhadas envolvendo itens como extensão dos congestionamentos e velocidade média do trânsito após a implementação das vias segregadas.

A dificuldade na obtenção de dados oficiais atualizados a partir de 2013 é evidente aberração em uma cidade do porte de São Paulo. Tal atitude por parte das autoridades municipais faz suspeitar que as avaliações acerca das medidas possam não ser tão positivas quanto faz crer a propaganda oficial.

A ausência de informações tornou necessária a utilização de dados que vêm sendo esparsa e pontualmente divulgados em órgãos de imprensa. Evidentemente, trata-se de uma aproximação, mas que se impôs frente à criticável política de comunicação do governo municipal.

Em linhas gerais, a política adotada pela Prefeitura de São Paulo para enfrentar o caos da mobilidade na cidade permitiu que cerca de 15% das pessoas passassem a circular de modo mais rápido nas faixas segregadas de ônibus. Por outro lado, os outros 85% das pessoas em transporte individual ou em transporte coletivo fora das faixas segregadas tiveram piora na velocidade de locomoção.

Cumpre dizer que a piora da situação de circulação para a maioria das pessoas que precisa se locomover pela cidade é um fato, não uma hipótese. Todos vivenciam essa situação em seu dia a dia. Uma realidade que prejudica inclusive os usuários de ônibus que não circulam por vias exclusivas, uma vez que a redução da velocidade e o aumento dos congestionamentos implicam em maior tempo gasto no trajeto dos coletivos.

A conclusão é que o custo do congestionamento na cidade estimado em 2012 em R$ 40 bilhões por ano aumentou para R$ 42 bilhões. Ou seja, ao beneficiar 15% dos paulistanos nos horários de pico, essa política prejudicou os demais 85%, do que resultou um custo maior de R$ 2 bilhões para o conjunto dos paulistanos.

Cabe apontar que o real aumento dos gastos gerados pelos congestionamentos é maior que o estimado, pois a projeção considera que o custo de oportunidade --ou seja, daquilo que se deixa de produzir enquanto se está parado no trânsito-- é igual para todos os cidadãos.

Diferentes categorias de trabalhadores, embora percam tempo no trânsito igualmente, geram --ou deixam de gerar-- valores diferentes em suas atividades, de modo que as perdas são maiores do que as possíveis de serem calculadas por ora.

Só se pode concluir que a adoção de faixas exclusivas de ônibus tem trazido mais prejuízos do que benefícios para a cidade.

O caminhão demorou, mas voltou - IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO

O Estado de S.Paulo - 27/12

Para Pedro, Lucas, Felipe e Stella

Estava procurando presente para Stella, minha neta, quando Márcia, minha mulher, apontou para uma porta na Vila Madalena: aqui sempre tem. Somente na saída vi o nome, Fábrica. Dentro, um mundo encantado. O cheiro da loja me aguçou, era familiar. Havia ali todo tipo de coisas em madeira, tecidos, plásticos.

Súbito, percebi que era o mesmo cheiro da grande loja de brinquedos de minha infância, a Barbieri, em Araraquara. Um palácio. Um dos programas em dezembro era passar pela Barbieri para olhar vitrines e o Papai Noel que ficava na marquise. Naquele tempo, anos 40, em plena guerra, as lojas de brinquedos eram poucas, traziam algumas bonecas de pano, celuloide ou louça, trens, caminhões carros de bois, bicicletas de madeira, mesinhas para chá de boneca, casas de boneca. Os filhos dos pobres e dos remediados ganhavam um presente no aniversário e outro no Natal. Nada mais. Como filho de ferroviário eu era remediado, mas nunca senti nenhuma diferença. A meninada me parecia igual.

Acompanhado por uma atendente morena, cabelo curtinho, eu andava entre as prateleiras da Fábrica e, súbito, estremeci. Dei com um caminhãozinho de madeira reciclada, cabine colorida. Ainda existem, pensei. Simples, despretensioso, ele me teletransportou no tempo.

Naquele Natal, setenta anos atrás, ganhei um caminhãozinho de madeira com a carroceria cheia de toras. Tinha sido minha escolha na vitrine da casa Barbieri. Aquele brinquedo era a miniatura dos grandes caminhões que passavam pelas ruas levando troncos enormes para as grandes serrarias. Na serraria do Hugo Negrini, vizinha à minha casa, havia uma imensa serra de fita que passava o dia a cortar lâminas de madeira para serem transformadas em móveis. Aquela serra, para nós crianças, era a "fábrica" da serragem, que no Natal usávamos para "fingir" que era a terra do presépio e, aos domingos, os pais colocavam nas bacias para manter a temperatura das barras de gelo sob as quais repousavam as cervejas do almoço. Geladeiras? Poucos tinham.

A serra produzia um cheiro forte e doce de cedro que tomava o ar, perfume que se espalhava pelo bairro. Todas estas coisas foram revividas quando entrei na loja na Vila Madalena. Memória afetiva. Naquela manhã de Natal, acordei, olhei debaixo da cama, lá estava o embrulhinho. Abri com cuidado o pacote, minha mãe recomendava não rasgar o papel, poderia ser reutilizado. Ali estava o caminhãozinho de toras desejado há meses. Brinquei no meu quintal até ouvir a molecada chegando na rua. Estava na hora de sair à calçada para "exibir" o presente. Olhar, comparar, curtir, era uma hora feliz, puro prazer. Aquele caminhão seria cuidado, usado, brincado até o dia do aniversário, quando viria o próximo. Entre 25 de dezembro e 31 de julho se passariam seis meses. Tudo bem. Só não gostava de meu aniversário porque era o odioso último dia das férias.

Brinquei, mostrei, emprestei um pouco para este, para aquele e ouvi minha mãe me chamar por qualquer razão. Nossa, como as mães adoravam chamar quando estávamos na rua nos divertindo. Mãe chamava, tinha de correr! Voei, deixando meu caminhãozinho na calçada, com outro menino vigiando. Não me lembro porque ela me chamou. Quando voltei, meu brinquedo tinha desaparecido. Ninguém soube dizer quem o levou. Por meses, desesperado busquei, tentando encontrar um menino com um brinquedo como o meu. Nada. Em casa levei pito (dizia-se pito) e castigo para aprender a cuidar das coisas. Assim se preparava para a vida.

Quando contei a história à atendente da loja, ela arregalou os olhos: "Pois vou dar esse caminhãozinho para o senhor." Não deixei, era um vazio meu, uma coisa entre mim e minha vida. Circulei pela Fábrica, encontrei o presente da Stela, esqueci a história. No almoço deste Natal, ganhei um pequeno pacote de Márcia. Abri, ali estava o caminhãozinho.

Prognósticos do passado - RENATO FERRAZ

CORREIO BRAZILIENSE - 27/12
Sabe o que mudará na sua vida caso você se vista de branco no réveillon? Provavelmente, nada. E azul? Também. E rosa? Nadinha de nada. Sério: como fazemos nossas próprias crenças, precisamos brincar disso - e com isso, claro. Que tal, então, fazer prognósticos e não listinha de resoluções para serem ignoradas logo em janeiro? Como serão as décadas, os anos, os meses vindouros?
Fábio Gandour, diretor brasileiro de uma importante empresa de tecnologia, acha, por exemplo, que a escassez de água no planeta será o maior problema da humanidade. Seu cenário é montado sobre o átomo, cujo número é constante. Como a população segue aumentando, vai diminuir a quantidade de átomos por habitante. E quais átomos vão faltar primeiro? Hidrogênio e oxigênio conectados numa molécula chamada água, defende ele. A Ásia, conta Gandour, será o primeiro continente a sentir a falta dela. "Isso não é uma especulação. É aritmética", garante o pesquisador.

Esse tipo de análise é assustador. No entanto, o que mais mete medo é o fato de governantes serem extremamente lenientes com essas previsões. Em relação a Brasília, por exemplo, vale questionar: em qual futuro desembocará a nefasta soma de vias e mais vias asfálticas com mais prédios e uma crescente e quase enlouquecida venda de carros? Em mais engarrafamentos, mais estresse, mais acidentes. Sim, obviamente, essa é a análise do pessimista, mas está baseada em percepções relevantes, em avaliações históricas, no simples olhar ao lado.

Mas como acredito mais em cientistas do que em políticos, volto aos primeiros: as cidades vão se adaptar à população, garantem alguns deles. A defesa da tese não é tão aritmética assim, mas esse mistério será desvendado. Já há lugares não mais combatendo, mas se adaptando ao horário de rush, às idiossincrasias do tempo, aos nossos anseios. Vamos ser, em 2014 ou 2020, bem mais prefeitos: "mandando" tapar buracos logo ao vê-los ou melhorando o ridículo sistema meteorológico que hoje avisa aos moradores de um morro, mediante uma lúgubre sirene, algo do tipo: "Fujam, vocês vão morrer".

Humano - FERNANDA TORRES

FOLHA DE SP - 27/12

Bustos romanos seduzem pelos defeitos; narigudos, papudos e olheirudos, se distanciam do ideal grego


Em "A Invenção do Humano", Harold Bloom afirma que a consciência do homem moderno nasceu com Hamlet. Shakespeare, afinal, seria o tronco, e todo o resto --Freud, Dostoiévski e Guimarães Rosa--, seus galhos.

O crítico americano descreve o dinamarquês como um homem contemporâneo preso em uma trama medieval. Os demais personagens não seriam capazes de raciocinar como o jovem, o autor não lhes dota do mesmo vocabulário. No choque, a razão do príncipe só se justifica através da loucura.

Estive na Galeria Uffizi, em Florença, no começo deste ano.

Lá, é possível acompanhar muitos desses saltos evolutivos na história da criação.

Iniciei o périplo pelas pinturas medievais. Sacras e bidimensionais, há pouco de humano nelas; são esquemáticas como a corte do rei Claudio.

Giotto é quem dá o passo ao descolar as figuras do fundo, dando-lhes profundidade no sentido amplo da palavra. A perspectiva expande o sofrimento de Madonas, Moisés e Cristos crucificados por bons séculos. Vale ressaltar a abnegação com que os mestres enfrentaram a restrição temática.

Para quem segue pelos corredores da galeria, a repetição de passagens bíblicas e divindades gregas cria um estado de beleza e embriaguez interrompido pelos primeiros retratos realistas da Renascença.

Na sala oito, os perfis da duquesa e do duque de Urbino, pintados em 1472 por Piero della Francesca, marcam, na impressionante coleção, o instante em que o homem se coloca em pé de igualdade com os santos.

As salas seguintes exibem uma variedade fascinante de rostos comuns, nobres, mas comuns, semelhantes à turistada. O duque de Urbino é pai de Hamlet e foi criado mais de século antes dele.

A Cosac Naify acaba de lançar uma edição preciosa do "Decameron". Cem anos antes de Piero della Francesca, Bocaccio pedia desculpas ao Espírito Santo para falar dos dilemas mundanos de quem sobreviveu ao século 14.

Entre 1300 e 1400, a Europa enfrentou a Guerra dos Cem Anos, a corrupção desenfreada do clero e a peste negra, epidemia que dizimou 75 milhões de pessoas, um terço da população europeia.

O cenário desolador flexibilizou a moral. A noção de família e propriedade foi abalada, bem como a crença na justiça divina. Os que sobraram se arrumaram como puderam, não como Deus queria.

"Sabe-se que as coisas desse mundo são todas transitórias e mortais, em si e fora de si cheias de tédio, de angústias e de tormentas, passíveis de infinitos perigos; as quais nós, que vivemos misturados a elas e somos parte delas, não poderíamos certamente resistir nem evitar se a especial graça de Deus não nos emprestasse força e sagacidade."

O discurso caberia na boca de Hamlet, ou Macbeth, não fosse a conclusão tão reverente ao Altíssimo. Aparentemente devoto, Boccaccio esclarece, logo na introdução, que sua novela não é direcionada a Deus, mas ao juízo dos homens.

Ou à sua falta de juízo. "Decameron" é um decálogo de desvios, um paraíso de putas ardilosas, freiras volúveis, padres ladrões e bandidos de toda a espécie.

Os bustos de mármore do Império Romano também seduzem por seus defeitos. Narigudos, papudos e olheirudos, se distanciam do ideal olímpico dos gregos.

Admiro a Vênus e a Samotrácia tanto quanto os Tintorettos da Scuola de San Rocco, mas as rugas romanas me provocam o mesmo deleite dos rostos da Renascença, ou dos pecadores de Boccaccio; elas revelam os anseios, a fragilidade, a torpeza e a mortalidade de gente como eu e você.

Gosto também de admirar o modelo em cera do casal de Australopithecus afarensis caminhando abraçado pela planície de Laetoli, no Museu de História Natural de Nova York. O par de macacos bípedes passeia enlaçado, enquanto admira a paisagem ancestral. São Adão e Eva encarnados e não destoam dos "sapiens" apaixonados.

Difícil mesmo é reconhecer o que há de humano nos games interativos que meu filho adolescente joga sem parar, on-line, com os amigos virtuais.

Quando o vejo aos berros, imerso na batalha imaginária, tenho dificuldade de acreditar que, algum dia, Hamlet fará sentido para ele; e temo, como a mais retrógrada das santas inquisidoras, pelo futuro da humanidade.

O ano da crise e o grito das ruas por mudança - ROBERTO FREIRE

BRASIL ECONÔMICO - 27/12

Dadas as dificuldades econômicas enfrentadas pelo Brasil e a gritante inoperância do governo federal para superá-las, nem parece que a presidente Dilma Rousseff já ocupa o cargo há três anos. O que se vê hoje é um país estagnado que coleciona "pibinhos" e perde competitividade em relação aos concorrentes no mercado internacional, além de sofrer com um processo de desindustrialização e constantes repiques inflacionários.

Onze anos depois de conduzir o PT ao poder, a população brasileira mostrou com clareza, em 2013, que vê um esgotamento do atual modelo. Foi justamente essa insatisfação generalizada que levou milhões de cidadãos às ruas nas chamadas "jornadas de junho". Desencadeados a partir das manifestações contra o aumento de vinte centavos nas tarifas do transporte público em São Paulo, os protestos tomaram conta do país com outras reivindicações acrescidas à pauta inicial, entre as quais a melhoria substancial na qualidade dos serviços públicos e o combate à corrupção.

O auge do movimento foi vivenciado durante a Copa das Confederações, torneio realizado em Belo Horizonte, Brasília, Rio de Janeiro, Fortaleza, Recife e Salvador. Nessas cidades, as manifestações se intensificaram em frente aos estádios construídos ou reformados, em grande parte, com dinheiro público, e o clamor pelo "padrão Fifa" em áreas essenciais como saúde, educação e segurança virou palavra de ordem. Além de não dar respostas convincentes a essas demandas, o governo petista vem fazendo o país pagar caro pela irresponsabilidade na condução da economia.

A herança deixada por Lula, com uma política baseada no incentivo desenfreado ao consumo, gerou recordes de endividamento das famílias brasileiras. O PIB, que em 2012 registrou um pífio crescimento de 1%, teve retração 0,5% no terceiro trimestre deste ano, o índice mais baixo desde 2009. O país aparece no fim da fila entre as principais economias do mundo no período, ostentando o pior "pibinho" do G20. Isso sem falar na degradação da Petrobras, vilipendiada desde a gestão do petista José Sérgio Gabrielli, ainda nos anos Lula.

Em dezembro, a estatal sofreu a pior queda em suas ações ordinárias desde a crise internacional de 2008, perdendo R$ 24 bilhões em um único dia. O loteamento político da empresa, transformada em mero instrumento a serviço de um projeto de poder, corroeu sua credibilidade e a fez perder 40% do valor de mercado em três anos. Os brasileiros ao menos tiveram motivos para terminar o ano celebrando o fim da impunidade de criminosos do colarinho branco.

Em 15 de novembro, dia da Proclamação da República, mensaleiros coroados do PT como José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares tiveram a prisão decretada e iniciaram o cumprimento de suas penas na cadeia. Apesar dos sucessivos ataques do partido ao Supremo tribunal Federal e da tentativa de rotular seus políticos presos como presos políticos, o desfecho do caso esteve carregado de simbolismo, pois mostrou à sociedade que corruptos poderosos podem e devem pagar por seus crimes como qualquer cidadão comum.

Se em 2013 as ruas gritaram por mais educação, saúde e transporte de qualidade, pelo fim da violência e da corrupção, 2014 pode ser marcado pela mudança de rumo de um país cansado de tantos desmandos. Mas este é um tema para o próximo artigo, o primeiro do novo ano.

Uma diplomata e sua empregada - RASHEED ABOU-ALSAMH

O GLOBO - 27/12

A transposição para o ambiente do trabalho dos EUA mudou tudo. Salário de US$ 3,30 por hora seria muito bom na Índia



A prisão de uma diplomata indiana em Nova York algumas semanas atrás provocou tanta indignação na Índia que o governo indiano retirou as barricadas que protegiam a embaixada americana em Nova Délhi, e uma delegação de deputados americanos em viagem para a Índia se viu esnobada pelos seus homólogos indianos.

Mas por que tanta fúria? Parece que a diplomata em questão, a vice-cônsul em Nova York, Devyani Khobragade, tinha sido denunciada pela sua ex-empregada Sangeeta Richard por ter sido forçada a trabalhar sete dias por semana, por 10 a 12 horas por dia, e ser paga somente US$ 3,30 por hora, bem abaixo do salario mínimo em Nova York, de US$ 7,25 por hora. Richard disse que foi obrigada a tomar conta dos dois filhos de Devyani sem nenhum dia de repouso. Alguns meses atrás ela se cansou do trabalho quase escravo e fugiu. A vice-cônsul nega as acusações, dizendo que ela dava todo domingo de folga para Richard poder ir à missa na igreja e se encontrar com suas amigas.

Ambas as mulheres nessa história são indianas, mas uma da classe media-alta, a outra da classe trabalhadora. Até aí essa história não tem nada de muito especial. Mas a transposição do ambiente do trabalho da Índia até os Estados Unidos é o que mudou tudo. Com certeza, um salário de US$ 3,30 por hora ia ser considerado muito bom para uma empregada na Índia, onde o salário mínimo é de US$ 0,28 por hora. Nesse quesito, o Brasil se sai melhor com US$ 1,98 por hora, mas, ainda assim, muito abaixo dos EUA, e certamente muito pior do que o salário mínimo na Austrália, o maior do mundo, com US$ 16,88 por hora.

Com certeza a vinda de Sangeeta para os EUA, onde as leis trabalhistas são mais evoluídas e aplicadas com mais rigor, ajudou a abrir os olhos dela para o fato de que estava sendo explorada. Ela agora está processando Devyani para receber o dinheiro devido a ela e também pediu asilo nos Estados Unidos.

O que enfureceu os indianos tanto nesse episódio não foi o fato de Sangeeta processar Devyani, mas o jeito como a vice-cônsul foi maltratada por policiais americanos. Ela diz que foi presa na frente da escola dos filhos quando estava deixando-os lá, algemada e jogada numa cela com viciados numa delegacia. Diz também que foi revistada várias vezes, inclusive nas suas partes íntimas. O promotor encarregado do caso, Preet Bharara, insiste que ela foi tratada como qualquer outra pessoa e com dignidade.

Para mim, estes são maus-tratos sob qualquer ângulo que olhamos. A Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas de 1961 prevê certas cortesias e imunidades para diplomatas em casos como esse. O Departamento de Estado americano diz que Devyani gozava somente de imunidade parcial por causa do nível diplomático dela, mas eu acho isso uma interpretação equivocada. No meu ver, qualquer diplomata num consulado ou embaixada, seja ele o terceiro secretário ou o embaixador, goza das mesmas imunidades diplomáticas. O embaixador indiano para a ONU em Nova York, depois que esse escândalo explodiu, transferiu a diplomata para a missão dele, para tentar lhe dar mais cobertura diplomática. Não sabemos ainda se o governo americano vai aceitar essa manobra.

Infelizmente, a história de trabalho demais para pouco dinheiro não é incomum no mundo de empregados domésticos. De Nova York a Riad e até a Cingapura, existem muitas empregadas que são exploradas e abusadas. Um estudo da Organização Mundial do Trabalho lançado este ano disse que há 52 milhões de empregados domésticos no mundo, 83% deles mulheres. O Brasil lidera com 6,7 milhões de empregados domésticos, seguido da Índia com 4,2 milhões, e a Indonésia em terceiro lugar com 2,4 milhões. Segundo esse estudo, 29,9% de empregados domésticos no mundo não são cobertos por leis trabalhistas e — mais preocupante — 45% deles não têm um dia de folga durante a semana ou férias pagas anuais.

Os Estados Unidos deviam pedir desculpas formalmente para a diplomata para apaziguar o governo e o povo indiano. Algemando-a na frente dos filhos e revistando-a tão bruscamente ficaram muito aquém das cortesias diplomáticas às quais Devyani tem direito. Mas o processo legal contra a diplomata deve seguir em frente e ela deve pagar os ganhos de sua ex-empregada.

É irônico que Devyani é de origem humilde também, e que ela falava em público sobre a necessidade de dar apoio aos direitos das mulheres. Afinal das contas, ter uma empregada não é mais um direito dos mais endinheirados, mas sim um privilégio. E é nos EUA onde nós vemos isso mais frequentemente.

Chips argentinos - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 27/12

A empresa argentina Corporación América, que administra o aeroporto de Brasília, vai substituir Eike Batista como sócio da futura fábrica de semicondutores em Ribeirão das Neves, em Minas.
A IBM e os bancos BNDES e BDMG também participam do negócio.

Dilma no Nordeste
O governador baiano Jacques Wagner deve ser o coordenador da campanha de reeleição de Dilma no Nordeste.
O assunto será discutido estes dias pelos dois na base de Aratu, onde a presidente descansa.

Diário de Justiça
A Deloitte, a gigante inglesa de auditoria e consultoria que participa da reestruturação da OGX, foi condenada pela 17ª Câmara Cível do Rio a indenizar, no valor de uns R$ 16 milhões, Sebastião Nogueira e João Downey.
Os dois eram sócios do braço brasileiro da Arthur Andersen, absorvida pela Deloitte.

Calma, gente!
O padre José Roberto, da Igreja Ressurreição, na Rua Francisco Otaviano, em Ipanema, no Rio, levou um baita susto na missa de Natal, quarta passada, ao meio-dia.
Acredite. Um homem de cerca de 40 anos subiu ao altar, na hora da comunhão, pegou o padre pelo gogó e ficou apertando com força até que o sacerdote conseguiu gritar no microfone: “Chamem a polícia.”

E a missa continua...
Foram necessários quatro homens para deter o destrambelhado.
Ele foi levado por guardas municipais para a 14ª DP. E, mesmo depois deste bafafá, o padre continuou a missa até o fim.

Pra brasileiro ver
O Rio verá pela primeira vez, em janeiro, uma peça do dramaturgo inglês Nick Payne, que, aos 28 anos, ganhou o Evening Standard Awards, importante prêmio de teatro.
A montagem é “Wanderlust”, que ganhou por aqui o título de “Preciso andar”. A direção é de Ivan Sugahara.

Poxa, Bebeto!
Bebeto, o ex-jogador da seleção e deputado, e outras sete pessoas que estavam com ele, furaram a fila do embarque internacional no aeroporto Tom Jobim, no Rio, na quarta, por volta das 22h.
O grupo passou na frente de outros passageiros que enfrentavam uma fila grande para mostrar o passaporte no guichê da Polícia Federal.

Bolinhas de sucesso
Veja só que maravilha. A exposição da artista japonesa Yayoi Kusama, “Obsessão infinita”, atingiu 500 mil visitantes, na segunda passada.
Em cartaz no CCBB do Rio desde outubro, a mostra, que abusa de imagens de bola de todos os tamanhos, fica em cartaz até o dia 20 de janeiro.

Despejo no morro
A turma do Favela + Limpa, ONG que recicla óleo e garrafa PET há dois anos no Morro do Cantagalo, no Rio, faz campanha na internet contra uma decisão da Secretaria estadual de Obras.
O governo pediu que, até terça, a ONG deixe o lugar que ocupa. A área servirá de canteiro de obras do PAC, tocadas pela Odebrecht.

Segue...
Em três dias, a campanha, que incentiva o envio de e-mails para a secretaria e para a construtora, já conta com o apoio de 3.300 pessoas.
O governo diz que o lugar pertence ao estado, e está sendo ocupado irregularmente pela ONG.

A volta do vinil
Sabe a Tracks, na Gávea, cuja venda de LPs encostou na de CDs este Natal? A turma que ganhou os discos de presente voltou lá querendo comprar uma vitrola.

Aliás...
Heitor Trengrouse, dono da loja, diz que não há fabricantes de vitrola no Brasil. Aqui, só se for importada.

CHÃO DE GIZ - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 27/12

A chegada de estrangeiros menores de 18 anos desacompanhados, em busca de refúgio no Brasil, tem sido motivo de preocupação. No Estado de São Paulo, o número quase triplicou entre 2012 e este ano, saltando de oito para 21 casos, segundo o Centro de Acolhida para Refugiados da Cáritas Arquidiocesana. A maioria dos que viajam sem os pais ou responsáveis são rapazes com idade entre 15 e 17 anos.

CHÃO DE GIZ 2
"Esses menores chegam muito vulneráveis. Ficam sujeitos a todo tipo de exploração", diz Larissa Leite, do setor de relações externas da Cáritas, entidade que faz triagem e encaminhamento dos estrangeiros que fogem de perseguições ou guerras. Os adolescentes são enviados pela Justiça para abrigos ou para a casa de um guardião voluntário.

CHÃO DE GIZ 3
Entre janeiro e novembro, a Cáritas registrou no total 2.746 pedidos de refúgio, feitos por pessoas de pelo menos 60 nacionalidades. Mais da metade (55%) das solicitações partiram de haitianos. Bangladesh, Nigéria, Senegal e Congo também aparecem entre os líderes de emissão de imigrantes. Outras 500 pessoas estão na fila para iniciar os processos em SP, Estado que concentra a metade dos pedidos.

EM ALTO E BOM SOM
O ex-senador Almino Affonso prepara um livro sobre 1964. Na obra, conta os bastidores do golpe militar e as conversas que tinha com o então presidente João Goulart. Almino era ministro do Trabalho e da Previdência de Jango e acompanhou de perto os momentos dramáticos que antecederam a deposição do então presidente. O livro será lançado até abril.

BAÚ
José Serra (PSDB-SP) também decidiu recentemente escrever as memórias do que viveu no período, quando era líder estudantil.

VIROU PÓ
Dias antes de negociar com os credores, a OGX, de Eike Batista, estava com o cofre quase vazio. Profissionais que participam do dia a dia da empresa dizem que ela dispunha de menos de R$ 10 milhões em caixa.

IMAGINE
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) cantou para moradores de rua da Praça da Sé na manhã do dia 24. Levou a banda Brothers of Brazil, de seus filhos Supla e João Suplicy, e a apresentadora Maria Paula. No repertório, canções de Cat Stevens e "Imagine", de John Lennon.

CONDOMÍNIO AMIGO
O número de ações de cobrança por falta de pagamento da taxa condominial na cidade de São Paulo teve queda de 7,2% de janeiro a novembro deste ano, em relação ao mesmo período de 2012. De acordo com o levantamento, feito pelo Secovi-SP, o sindicato que representa as construtoras, elas caíram de 9.833 no ano passado para 9.124 ações em 2013.

CONDOMÍNIO AMIGO 2
Dentre os fatores que contribuíram para reduzir as pendências estão os acordos extrajudiciais e as negociações amigáveis.

NO CORAÇÃO DO BRASIL
Famoso pelos retratos de celebridades de Hollywood, o fotógrafo americano Martin Schoeller desembarcou na Amazônia para fotografar, com as mesmas técnicas e luzes de estúdios, os índios caiapós do sul do Pará.

O mais famoso deles, o cacique Raoni posou para as lentes que já registraram estrelas como George Clooney e Angelina Jolie.

As imagens ilustram a reportagem de capa da edição de janeiro da revista "National Geographic" brasileira, que chega às bancas hoje.

Raoni falou dos efeitos da hidrelétrica de Belo Monte na vazão do rio Xingu, que atravessa as reservas do seu povo.

"Não gosto dos madeireiros. Não gosto dos garimpeiros. E não gosto dessa represa!", afirmou ele à publicação.

TEMPO DE FESTA
O chef Christian Montgomery e a empresária Juliana Angrisani receberam convidados em sua festa de casamento no Hotel Tivoli, nos Jardins. A mãe do noivo, Renata Conti, e o pai, o ginecologista Malcolm Montgomery, com a mulher, Carla Regina, acompanharam a cerimônia. A atriz Maria Fernanda Cândido e o marido, o empresário francês Petrit Spahija, a jornalista Julie Montgomery e a empresária Carol D'Angelo também passaram por lá.

CURTO-CIRCUITO
A The History traz a bateria da Vai-Vai para sua festa de Réveillon, às 21h. 18 anos.

A corrida anual de São Silvestre terá edição infanto-juvenil amanhã, no Ginásio do Ibirapuera, às 9h.

O filme "O Retorno", de Rodolfo Nanni, será exibido no dia 11 de janeiro, na volta do Cine Direitos Humanos, no Itaú Frei Caneca.

Guerra de posições - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 27/12

Os tucanos estão empenhados em convencer formadores de opinião e líderes políticos de que a chapa Eduardo Campos/Marina Silva não tem futuro. Mesmo que Campos dobre nas pesquisas quando Marina é a vice, os estrategistas de Aécio Neves afirmam que a chapa não chegará aos 30%. Os aecistas querem evitar a divisão das forças e uma sangria em direção ao candidato socialista.

Quem paga a conta?
Advogados estão se perguntando sobre qual é o objetivo real de transportar para Brasília os condenados no processo do mensalão. As leis brasileiras, em casos de normalidade quanto a prisões, dão direito aos condenados de escolher qual o local de cumprimento de suas penas, os quais têm preferência pela cidade onde eles e seus familiares residem. É o que está ocorrendo agora. Esses advogados citam as consequências de o STF ter levado os condenados até Brasília. A PF pagou diárias e passagens para policiais. A FAB usou aeronave e soldados da tropa. E o poder público federal está gastando com passagens de presos. Todos esses gastos poderiam ter sido evitados.


“A doação compromete a normalidade e a legitimidade do pleito eleitoral, compromete seriamente a independência dos representantes”
Joaquim Barbosa
Presidente do STF, em defesa da proibição de doações pelas pessoas jurídicas para financiar as campanhas eleitorais

Dando de ombros
O Planalto não enxerga peso eleitoral nas críticas à sua intervenção na economia. A assessoria da presidente Dilma diz que o governo intervém na defesa do bem comum, como no caso da redução dos preços da energia e dos combustíveis.

A pão e água
Os socialistas terminaram o ano irados com a ministra Ideli Salvatti. O PSB não criou problemas para votar o Orçamento nem faz oposição sistemática. Mas, na hora de liberar emendas, seus parlamentares só foram atendidos em 50%. O PMDB liberou acima de 80%. “Eles são rancorosos e vingativos”, critica o líder do partido, deputado Beto Albuquerque (RS).

Voo solo
Cortejado, o PSC resiste ao assédio. Seu presidente, Pastor Everaldo, garante que ele será candidato ao Planalto. Diz que, em suas pesquisas, seu nome chega a 4% e que em janeiro vai percorrer o Maranhão, a Bahia e São Paulo.

Em ritmo de eleição
O Planalto vai incrementar seu “Gabinete Digital”. O objetivo é dar visibilidade aos 36 programas prioritários da presidente Dilma e contestar as críticas de má gestão. O governo quer mostrar que as metas estão ao alcance da mão. “Passamos o mandato trabalhando. Tem muita entrega para fazer”, diz a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil).

Faltam ‘DEPUTADOS’ em São Paulo
A assessoria da Assembleia paulista explica que criar uma CPI não passa pelo presidente da Casa, Samuel Moreira (PSDB). Uma CPI precisa de 32 assinaturas. E não há 32 deputados dispostos a investigar suspeitas de desvios na obra do metrô.

Empurrando com a barriga
A sucessão presidencial está atropelando o calendário eleitoral. Mesmo assim, o governador Renato Casagrande (PSB-ES) só quer tratar da montagem de seu palanque em maio. O seu principal aliado, o PT, transpira impaciência.

NA AGENDA da presidente Dilma para janeiro, está prevista sua participação na inauguração dos estádios para a Copa em Manaus e Natal.

Praia para depois - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 27/12

O pedido de demissão de Geddel Vieira Lima da vice-presidência da Caixa Econômica Federal, via Twitter, fez com que Dilma Rousseff interrompesse o descanso na Bahia. De lá, ela orientou Michel Temer a convencer Geddel a enviar uma nova carta de demissão no lugar da anterior, datada de setembro. O governo pretendia antes analisar o nome de Roberto Desiree, indicado para o posto na Caixa, mas o ex-deputado precipitou sua exoneração, que sairá no "Diário Oficial" hoje.

Pôquer 1 Num primeiro momento, Geddel não aceitou mandar uma nova carta. Temia que a saída do cargo apenas na reta final de 2013 fosse usada pelo PT da Bahia contra ele nas eleições do ano que vem, quando deve fechar aliança com PSDB e DEM.

Pôquer 2 Diante da insistência de Temer e de Gleisi Hoffmann (Casa Civil) sobre a necessidade de o pedido de demissão ser recente, o peemedebista tascou um "reitero'' logo no primeiro parágrafo da nova versão do texto.

Já volto E os telefonemas do caso Geddel não foram a única pausa nas férias presidenciais: Dilma deve ir hoje ao sul de Minas para verificar os estragos causados pela chuva na região. Depois, volta para a base de Aratu.

Currículo Pesou na decisão de Fernando Haddad de indicar seu secretário João Antonio (Relações Governamentais) para o Tribunal de Contas do Município o fato de o petista ter Mestrado em Direito e Filosofia e ser o interlocutor da gestão com a sociedade civil, como presidente do Conselho da Cidade.

Fogo... O presidente da Câmara Municipal de São Paulo, José Américo (PT), só deve marcar as sabatinas dos candidatos à vaga no TCM para fevereiro. Só então haverá a votação na Comissão de Justiça e no plenário da Casa.

... brando A disputa será entre João Antonio e o vereador Roberto Tripoli (PV), que conta com o apoio das bancadas do PSD e do DEM e já oficializou sua inscrição.

Prospecção O presidente da UGT (União Geral dos Trabalhadores), Ricardo Patah, obteve ontem em almoço o aval de Gilberto Kassab para articular sua pré-candidatura ao Senado pelo PSD. O plano A do ex-prefeito era o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, que hesita em topar a empreitada.

Quero entrar 1 Empresas estrangeiras procuraram o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para sondagens de investimentos. Querem entrar no país, mas enfrentam limitações legais. Renan já tem em mãos estudo completo dessas amarras, principalmente na mineração e energia.

Quero entrar 2 A japonesa Toshiba, por exemplo, quer construir oito usinas nucleares no país, mas a lei impede que a iniciativa privada atue nesse negócio. Os recursos, cujos valores não foram revelados, seriam de investidores russos. O ministro Edison Lobão (Minas e Energia) também recebeu o grupo.

E se... Do presidente da Comissão da Verdade do Rio de Janeiro, Wadih Damous, sobre mais uma pichação da estátua do poeta Carlos Drummond de Andrade, em Copacabana: "Em vez de gastar dinheiro com tinta, os pichadores deveriam gastar os mesmos recursos para comprar e ler um livro do poeta".

Fixa 1 Luiz Fernando Pereira, advogado eleitoral de Gleisi Hoffmann, é favorável à proposta feita pelo presidente do TSE, ministro Marco Aurélio Mello, de transformar a Justiça Eleitoral brasileira em corte permanente.

Fixa 2 "Há um protagonismo da Justiça Eleitoral que é incompatível com a atual estrutura do TSE e seus juízes emprestados do STF e do STJ, pouco dedicados pelo acúmulo de funções", disse Pereira. Marco Aurélio criticou recentemente o fato de juízes se dividirem entre os tribunais de origem e o TSE.

com ANDRÉIA SADI, BRUNO BOGHOSSIAN e JULIO WIZIACK

tiroteio
"O governo entregou o jogo. O problema dos aeroportos não é de capital. Privatizaram para dar a gestão a quem tem competência."

DO SENADOR JOSÉ AGRIPINO (DEM-RN) sobre a entrada do BNDES como sócio no consórcio liderado pela Odebrecht TransPort, que levou o Galeão (RJ).

contraponto


Para baixo, todo santo ajuda
Ao inaugurar um parque ontem em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) relembrou recente caminhada que fez com assessores na reabertura da trilha Caminho do Mar, que liga São Bernardo do Campo a Cubatão pela Estrada Velha de Santos.

--O trajeto total é de 10,5 km. Para descer, ainda vai --contou o tucano, aos risos.

Depois, virou-se para o secretário Bruno Covas (Meio Ambiente), que o acompanhou no percurso e ostenta uma saliente barriguinha, e arrematou:

--Fizemos os 10,5 km, não é Bruno? Tivemos que dar ponto facultativo no outro dia, mas fizemos.

A mudança de Gleisi - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 27/12

A ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, já requisitou o apartamento funcional do Senado para ocupar a partir de 13 de janeiro. A expectativa é que, até lá, ela esteja dispensada das atribuições atuais para curtir uma quinzena de férias e, depois, cuidar exclusivamente da campanha ao governo do Paraná e do mandato de senadora. Com o PMDB paranaense rachado, é hora de tentar se posicionar com mais afinco no estado em que Dilma perdeu as eleições em 2010 e atrair aliados. A missão dela é ganhar terreno sobre os tucanos. E é nisso que começará a trabalhar em breve. Hoje, ela recebe jornalistas em um café da manhã para um último balanço de suas ações na Casa Civil.

Ideli fica
A cada dia crescem as apostas de que Ideli Salvatti continuará no governo Dilma Rousseff. Isso porque a vaga de candidato ao Senado em Santa Catarina está mais para Cláudio Vignatti, que tem cada dia um espaço maior no diretório estadual.

Que não se repita I
Os deputados que passaram ontem por Brasília atrás das emendas ao Orçamento deste ano, não escondiam a alegria com a sanção da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). “No ano que vem, com o Orçamento impositivo, estaremos livres dessa humilhação”, comentou o deputado Danilo Forte (PMDB-CE).

Que não se repita II
O que mais irritou as excelências foi o fato de a Secretaria de Relações Institucionais ter enviados apenas às vésperas do Natal a lista de emendas a serem atendidas. Resultado: todo mundo foi obrigado a ficar em Brasília para se certificar do empenho e da liberação dos recursos.

É ele!
O PSD dá como certa a chapa pura para o governo paulista, com Gilberto Kassab candidato a governador e com o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles ao Senado. O papel de Kassab será o de defender sua gestão em meio à onda de denúncias que tomou conta da capital paulista.

Hora da política
Quando Gleisi assumiu o cargo de ministra da Casa Civil, a ordem de Dilma foi trabalhar muito e falar o menos possível, porque queria mais gestão e menos política por ali. Agora, 10 em cada 10 ministros do governo apostam num perfil mais político — leia-se Aloizio Mercadante. Se Dilma mudar de ideia no recesso e quiser deixar a Casa Civil mais técnica, o nome será o de Carlos Gabas.

Fila I/ O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, teve que correr para o gabinete depois da entrevista sobre as ações de emergência para auxílio aos desabrigados no Espírito Santo. É que a sala de visitas estava apinhada de deputados atrás das emendas ao Orçamento deste ano.

Fila II/ “Quando vier o Orçamento impositivo, no ano que vem, a Saúde terá que mudar o seu sistema. Eles são hoje os mais atrasados na liberação das emendas”, contou o deputado Guilherme Campos (PSD-SP). O ministro Padilha, entretanto, diz que está tudo bem na liberação das emendas de sua pasta.

Por falar em .../ Guilherme Campos (foto), ele fez um périplo ontem pela Esplanada a fim de liberar as suas emendas. “Faltaram algumas que ele pretende liberar ainda esse ano. Sabe como é, quem torce para a Ponte Preta acredita em qualquer coisa!”

Fim decisivo/ A ministra Laurita Vaz estabeleceu uma meta para sua equipe de gabinete no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Até o fim deste mês, quer intensificar os trabalhos com o objetivo de diminuir o número de processos à espera de decisão. Desde que assumiu o cargo, em setembro de 2012, ela já reduziu por volta de 30% a quantidade de ações que estavam paradas. Agora, pretende diminuir mais 10% desse volume até a virada do ano. Ou seja, lá não teve moleza nessa quinzena.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 27/12

Atraso em leilões freia a venda de máquinas  
Se por um lado programas do governo ajudaram a impulsionar a venda de equipamentos para construção em 2013, por outro, o atraso em leilões de rodovias impediu um avanço maior.


A avaliação é da Sobratema (Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração).

Depois de ter enfrentado uma queda de 16% na comercialização de máquinas no ano passado, o setor fechará 2013 com um crescimento de 5% em relação a 2012.

Apesar da expansão, o número total de unidades (74,1 mil) ainda ficará distante das 83,5 mil vendas que foram registradas em 2011.

"Havia leilões [de rodovias] esperados para o primeiro semestre, mas que ocorreram só agora. Isso segurou um pouco [a alta]", diz Mario Humberto Marques, vice-presidente da associação.

A área de infraestrutura é a principal compradora de máquinas, com quase a metade de participação do total.

O segmento com o pior desempenho neste ano é o de caminhões destinados à construção, cujas vendas terão um decréscimo de 7% na comparação com 2012.

A chamada linha amarela, por sua vez, que reúne veículos como retroescavadeiras e motoniveladoras, terminará 2013 com um avanço de 13%.

"Uma das ações do governo que compensou parcialmente o atraso [nos leilões] foi a grande encomenda de máquinas feita pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário", afirma Marques.

Até a primeira quinzena de outubro, foram cerca de 6.000 equipamentos repassados pelo ministério por meio do programa que beneficia pequenos municípios.

O setor projeta um crescimento médio anual de 5,5% no período de 2014 a 2018.

O QUE ESTOU LENDO
Jean-Marc Etlin, vice-presidente-executivo do Itaú BBA

"Moment d' un Couple" (Momento de um Casal), de Nelly Alard, é o livro que Jean-Marc Etlin, vice-presidente-executivo do Itaú BBA, acaba de ler.

"É uma reflexão perturbadora, inteligente e bem-humorada sobre as relações amorosas de hoje. A leveza inicial vai se transformando numa teia complexa de comportamentos, reações e atitudes com um final surpreendente", afirma o executivo.

"Discours de Guerre", de Winston Churchill, (edição bilíngue), é a leitura que ele começou perto do Natal.

Seguro pessoal tem maior crescimento em dez anos
O segmento de seguros de pessoas deve fechar o ano com um crescimento de 20% em receita de prêmios acumulados, segundo a FenaPrevi (Federação Nacional de Previdência Privada e Vida).

O incremento será o maior registrado pelo setor nos últimos dez anos.

De janeiro a outubro de 2013, foram movimentados R$ 21,3 bilhões em apólices.

"Esse é o primeiro seguro patrimonial que a pessoa adquire quando passa a ter suas necessidades básicas atendidas", diz Osvaldo Nascimento, presidente da entidade.

Em número de novas adesões, a expansão foi puxada pelo ramo de auxílio funeral (75,36%), seguido pelo de viagem (51,85%) e pelo educacional (37,52%).

"São produtos que protegem a família do segurado de eventuais dívidas."

Têm maior volume de receita o de vida (R$ 9 bilhões), o prestamista (R$ 5,9 bilhões) --para compras em rede de varejo-- e o de acidentes pessoais (R$ 3,6 bilhões).

META ENCURTADA
A rede de lanchonetes Subway pretende antecipar em ao menos seis meses a meta de alcançar 2.000 unidades em todo o país. Hoje são 1.370.

Para 2014, estão previstas de 360 a 400 novas lojas. O interior paulista, o Distrito Federal, o Norte e o Nordeste serão o foco da expansão.

A companhia estima chegar à marca de 8.000 lanchonetes no Brasil em dez anos.

O projeto passou a incluir cidades menores, com 40 mil habitantes, que tenham perfil universitário ou que sejam polos comerciais.

"Hoje, 80% dos novos pontos são em postos de gasolina ou supermercados", diz Roberta Damasceno, executiva da marca no país.

1.370
é o total de restaurantes

30%
deverá ser o crescimento anual

Os burocratas ricos - JOSÉ PIO MARTINS

GAZETA DO POVO - PR - 27/12

No capitalismo, quem fica rico são os capitalistas. Mas, para isso, eles precisam empreender, produzir e servir ao público, oferecendo bens e serviços que o consumidor queira comprar. No socialismo, quem fica rico são os políticos e os burocratas. Mas a riqueza deles só é possível por duas vias: ou votando gordos benefícios para si mesmos ou praticando a corrupção.

Quando o império soviético desmoronou e, um a um, seus ditadores foram depostos, descobriu-se algo já suspeitado: não havia um único ditador pobre; todos eram muitos ricos e, claro, sua riqueza estava investida no exterior. Mas não é preciso ir longe, nem é necessário estar em um país socialista para comprovar que muitos altos burocratas do governo, antes de servirem ao público, servem-se do público.

No Brasil, as histórias de políticos que enriqueceram na função e de funcionários cheios de privilégios habitam as páginas dos jornais o tempo todo. São os “marajás” das Assembleias Legislativas com proventos astronômicos; burocratas ganhando R$ 20 mil, R$ 30 mil ou R$ 50 mil; aposentados ganhando até R$ 60 mil por mês e acumulando mais de uma aposentadoria; funcionários fantasmas, que ganham sem trabalhar etc.

Faz pouco tempo foi divulgado que um assessor da biblioteca da Assembleia em um estado pobre tinha salário igual ao teto permitido – perto de R$ 27 mil por mês –, quando um trabalhador equivalente no setor privado não passava de R$ 5 mil. A resposta é sempre a mesma: tudo está na lei. Mas a questão não é essa! Há leis claramente imorais, a exemplo daquelas com que os políticos e os burocratas aprovam benefícios em favor de si mesmos.

Mário Covas, político que ocupou vários cargos relevantes, dizia: “O Brasil é o país dos privilégios, não dos direitos”. Conhecido o histórico de corrupção e de privilégios no governo, toda lei sobre salários, vantagens e aposentadorias de políticos e servidores públicos deveria ser submetida a um quarto poder: a sociedade, por meio de representantes sem mandato, sem salário e sem carreira, uma espécie de Conselho Nacional que se reuniria somente para aprovar aquela lei.

O Ipea, que é um instituto do governo federal, publicou estudo provando que o Estado brasileiro é concentrador de renda. Segundo o estudo, a remuneração dos servidores públicos é 23% acima da média do setor privado (para as mesmas funções) e a aposentadoria no governo é bem maior que a do INSS. Mesmo com os programas sociais, a exemplo do Bolsa Família, o estudo diz que o governo é responsável por 1/3 da concentração de renda no país.

O Brasil não é um país socialista no sentido clássico (no qual não há propriedade privada dos meios de produção nem liberdade para empreender), mas também está longe de ser um país capitalista clássico. Embora por aqui o direito de propriedade privada e a liberdade de empreender existam, o tamanho do Estado, os controles estatais e as intervenções do governo na vida privada são tão grandes que é ilógico falar em “capitalismo neoliberal”.

O grande desafio da sociedade brasileira é limitar os poderes do governo, impedir a máquina pública de virar um gigante insustentável e conter os privilégios que criam políticos e burocratas ricos. O país precisa de mais capitalistas e mais empreendedores que sirvam ao público... e que eles fiquem ricos disputando e concorrendo no mercado pela preferência do consumidor.

2013, o ano que ainda não terminou - LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

FOLHA DE SP - 27/12

O principal evento neste ano velho estendido é a mudança de alguns princípios do governo Dilma


Alguns anos chegam a seu final dando ao analista o sentimento de que não vão terminar no dia 31 de dezembro.

Fica a impressão de que os principais acontecimentos que estamos vivendo --no mundo e no Brasil-- ainda não chegaram a seu clímax e que será preciso mais algum tempo para passarem definitivamente a compor nossa história. Por isso, os méritos acumulados por longos dias não podem ser passados a um ano novo que ninguém ainda conhece só por uma imposição burocrática.

É o que sinto quando escrevo ao leitor da Folha sobre o que de mais importante aconteceu na economia mundial em 2013. Por exemplo, ninguém vai tirar de 2013 o mérito de ter sido o momento em que a grave crise financeira, gerada no ventre de Wall Street em 2007 e em 2008, terminou e a maior economia do mundo retomou o caminho do crescimento econômico, que é a sua vocação natural.

Muitos analistas ainda duvidam dessa retomada, embora nos últimos meses os dados econômicos nos EUA tenham tornado a tarefa dos pessimistas muito mais difícil.

Cultivar o fracasso do capitalismo americano como um destino inevitável desapareceu da imprensa mundial. Mas não tenho dúvida de que 2013 será um marco na história e, desta vez, não teremos a Segunda Guerra Mundial para tornar menos clara a vitória do pensamento keynesiano no combate a uma depressão econômica em formação.

Nesse sentido, o presidente do Fed (Federal Reserve), Ben Bernanke, sai de cena como o grande herói destes tempos difíceis e sofridos.

No Brasil também tenho a impressão de que 2013 não terminará no dia 31 e que viveremos os primeiros meses do ano novo como se no velho estivéssemos ainda.

O principal evento neste ano velho estendido é a mudança em curso de alguns princípios importantes da política econômica do governo Dilma. Os dois exemplos recentes mais marcantes dessas mudanças são a construção de uma pauta mais ambiciosa para as concessões de estradas e o aumento do IPI dos automóveis na virada do ano.

Eles representam as duas faces de uma mesma moeda: de um lado, o reconhecimento de que não será pelos estímulos fiscais --e de crédito também-- ao consumo que o governo vai acelerar o crescimento econômico; do outro, o reconhecimento tardio de que o governo tem que restabelecer uma política de boas relações com os mercados, seja ele nacional ou estrangeiro, para que o investimento possa ser a grande força, nos próximos anos, a puxar o PIB.

Refazer uma parceria que funcionou de forma eficiente durante os anos Lula, depois de mais de dois anos em que o sentimento do governo em relação ao setor privado foi no máximo de tolerância, não é uma tarefa difícil.

O que as lideranças privadas apresentam como uma agenda mínima, para ancorar com mais segurança e confiança o futuro, é muito simples de ser acordado pelo governo, pois são poucas as questões mais importantes. Não será preciso arrochar salários e disponibilidade de crédito como muitos temem, mas apenas reconhecer que precisamos de um freio de arrumação nos gastos fiscais e estímulos ao consumo.

Algumas dessas medidas já estão presentes no dia a dia do gover- no. A mudança na direção da política monetária do Banco Central --claramente expressa no último relatório de inflação do ano-- e os termos dos editais dos últimos leilões de rodovia são provas disso.

Mas ainda falta um ingrediente importante para cimentar uma posição mais construtiva do setor privado em relação ao futuro: é a confiança em uma política fiscal mais austera e previsível. A volta do IPI do setor automobilístico, dada a importância dele no valor agregado da indústria brasileira, é um bom sinal.

Mas, em razão do vaivém da política fiscal neste ano, com a utilização de instrumentos legítimos e ilegítimos para financiar os gastos do governo, a volta da confiança vai exigir bem mais do que isso.

Alguns poucos analistas já identificaram essa nova atitude do governo nas últimas decisões tomadas ainda em 2013. Mas os mercados vão esperar os primeiros meses de 2014 para mudar ou não a avaliação que têm do governo Dilma e aí, sim, poderemos ter um ano novo verdadeiramente novo começando.

Escritório em casa - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 27/12

Quem trabalha em escritório e leva, em média, uma hora para ir e outra para voltar do trabalho terá gasto cerca de 400 horas no trânsito ao término de um ano, o equivalente a 16 dias inteiros, já descontados feriados e férias.

A enorme queima de tempo e de energia física e mental é o principal argumento que vêm convencendo empresas e profissionais do setor de serviços a incentivar de funcionários e a colaboradores a executar boa parte das tarefas em casa.

É a solução do home office (escritório em casa), adotado em 23% das empresas no Brasil, aponta a Hays, consultoria especializada em recrutamento. A Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades (Sobratt) estima que 12 milhões de pessoas já trabalham nessas condições.

O sistema proporciona óbvias reduções de custos operacionais para as empresas. Podem diminuir a área de escritórios, cortar despesas com manutenção, energia, telefone e limpeza. E, no caso da manutenção de restaurante no local, boa redução de custos com alimentação. Afora essas economias, Alvaro Mello, presidente da Sobratt, projeta aumento de 15% a 30% no índice de produtividade dos empregados que trabalham de casa.

A Ticket, líder no setor de vales-refeição, calcula uma economia de R$ 3,5 milhões com a adoção do modelo há cinco anos, apenas com seus 104 funcionários da área comercial.

Apesar dessas vantagens, o professor Rodrigo Ferreira, do Departamento de Administração da Universidade de Brasília (UnB), ressalta que nem todas as funções e funcionários têm perfil para o expediente a distância: Entre os que tem, aponta os encarregados de análise e os envolvidos em projetos.

Mello, da Sobratt, acrescenta que a adesão ao home office tem sido mais comum em departamentos de vendas, marketing, tecnologia da informação e recursos humanos.

Mas não dá para ver apenas o lado bom. Ferreira adverte que o emprego remoto também pode apresentar suas inconveniências, na medida em que o ambiente caseiro nem sempre ajuda o profissionalismo. Além disso, pode não contar com móveis e iluminação adequados para o trabalho a ser desenvolvido. É preciso ter em conta ainda que, ao trabalhar de casa, as despesas do funcionário com alimentação, energia elétrica e telefonia também podem aumentar - embora as empresas, em geral, se disponham a assumi-las pelo menos em parte.

É preciso também preparar as famílias para a nova rotina. "Além de ensinar o profissional a gerir seu tempo e a se comunicar por meio de recursos virtuais, é importante que os familiares entendam que aquele funcionário não está em casa de folga", diz Luiz Fernando Barbosa, consultor da Deloitte. Para ele, este é um modelo irreversível de trabalho: "Não importa onde a tarefa seja executada. Basta estar conectado à estrutura da empresa".

Essa conexão requer investimentos não apenas em ferramentas de comunicação virtual, mas também em práticas que mantenham o vínculo entre funcionário e empresa. "Se alguém nunca mais aparece no escritório, sai prejudicado o engajamento com os propósitos da companhia", adverte Ricardo Catto, consultor da EY.

A pesquisa da Hays também identificou diferenças de tratamento entre funcionários presentes na empresas e os que operam de casa: "Como nunca está presente nas decisões que apenas são tomadas na hora do cafezinho, o profissional corre o risco de não ser lembrado pelos colegas de trabalho e de perder oportunidades de promoção", diz Juliano Ballarotti, diretor da consultoria.

Mesmo com todas as ressalvas, o home office foi uma das soluções adotadas em Londres e Vancouver para reduzir problemas de mobilidade urbana durante os Jogos Olímpicos de 2012 e os Jogos Olímpicos de Inverno de 2010, respectivamente. A realização no Brasil da Copa do Mundo em 2014 e da Olimpíadas em 2016 pode ser uma boa oportunidade para que esta solução seja adotada também por aqui.

2013: Dilma estatiza o crédito - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 27/12

Presidente acelerou crescimento da banca pública, desde junho com mais de 50% do crédito


2013 foi um ano de estatização do crédito no Brasil. Foi também mais um ano de queixas empresariais contra o excesso de Estado e mais um ano em que as empresas se fartaram de dinheiro baratinho da banca estatal.

Em junho, os bancos públicos passaram a ter mais de 50% do total do dinheiro emprestado no país (do estoque de crédito). Desde agosto de 2000, o conjunto dos bancos privados era maior que o dos estatais, resultado do bom programa de FHC de liquidar ou vender bancos estatais escandalosamente quebrados.

A participação da banca pública no mercado de crédito baixaria a 34% no início de 2008, governo Lula. A crise que explodiu no mundo em setembro de 2008 provocaria um revertério no crédito e, enfim, na política econômica do PT. Dilma Rousseff acelerou as mudanças.

O governo comprou mercado para os bancos públicos. Tomou mais dinheiro emprestado e o reemprestou ao BNDES, por exemplo. Decretou a baixa dos juros do BNDES e mandou Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal fazerem o mesmo.

Em dezembro de 2007, os empréstimos do governo federal para bancos oficiais equivaliam a 0,5% do PIB. Em outubro passado, a 9,3% do PIB (R$ 439 bilhões).

Até agora, nos anos Dilma, 67,5% do aumento do estoque de crédito veio dos bancos estatais. Neste 2013, os bancos públicos foram responsáveis por quase 76% do aumento do total de dinheiro emprestado.

O BNDES empresta a juro real zero ou menos que isso (descontada a inflação, a taxa de juro é zero). Muito empresário chiou quando o governo reajustou em um tico as taxas de juros (muitas ainda abaixo de zero), agora no final do ano.

Como é possível que um negócio não dê retorno mesmo quando financiado a juro zero? Não é possível. Isso não faz sentido: sem doação de dinheiro, o negócio em tese não para em pé.

O custo da dinheirama barata cai na conta do país inteiro. Eleva a dívida pública. Custa caro a diferença entre o juro que o governo paga e recebe do BNDES. Há o descrédito causado pelo endividamento e a confusão crescentes nas contas públicas.

Nos anos Lula, após 2008, o aumento do crédito público serviu em especial para cobrir a falta de crédito privado para empresas (e, razoavelmente, para evitar um colapso pós-crise). Nos anos Dilma, para turbinar o crédito para pessoas físicas.

Depois de 2008, as grandes empresas abertas ficaram bem de caixa, "capitalizadas". Além do mais, parcela maior do investimento (em capital) das empresas dependeu mais do BNDES. Mas o investimento como proporção do PIB cresceu pouco.

É difícil estimar quanto investimento não teria sido realizado sem o dinheiro baratinho do governo. As empresas talvez investissem de qualquer modo: só trocaram dinheiro mais caro por mais barato, subsidiado pelo governo, nós todos. Mas a história é mais complicada ainda.

Se o governo não tivesse feito dívida monstruosa para irrigar a banca pública, a vida seria outra. Os juros seriam menores, na média, em toda a praça. A situação das contas do governo seria outra. É um troço difícil de pensar, pois.

O que a gente sabe é que, apesar da monstruosa dívida extra e do juro zero, o país não está agora mais preparado para crescer mais rápido.

Potencial eólico - JOAQUIM FRANCISCO DE CARVALHO E ILDO SAUER

O GLOBO - 27/12

Segundo a Empresa de Pesquisa Energética, o potencial hidrelétrico brasileiro é de 267 GW e, pelas estimativas mais recentes, o potencial eólico é superior a 200 GW. Graças a isto — e à possibilidade, ainda existente, de se implantarem grandes reservatórios hidrelétricos de acumulação — o Brasil poderá instalar um sistema hidroeólico inteiramente sustentável, com capacidade para cobrir indefinidamente a demanda por energia elétrica. Mas determinados segmentos da sociedade colocam-se numa posição fundamentalista, contrária à geração hidrelétrica, preferindo expor o país ao risco de ser obrigado a copiar países que, não dispondo de vantagens como as brasileiras, têm que apelar para as poluentes usinas termelétricas convencionais ou para as controvertidas e onerosas usinas nucleares.

Na verdade, os reservatórios hidrelétricos podem ser aproveitados para múltiplas finalidades, tais como regularização da vazão dos rios e transporte fluvial, irrigação de grandes plantações, pesca interior, turismo ecológico etc. Todos esses usos requerem preservação de nascentes e matas ciliares, sendo portanto ambientalmente benéficos.

Admitindo-se que — por motivos de caráter social e ambiental — limite-se em 80% o potencial hidrelétrico a aproveitar na Amazônia, e que as mudanças climáticas acarretem uma queda de 15% na afluência das demais bacias hidrográficas, ainda assim restaria um potencial hidrelétrico de 210 GW.

Embora atualmente o sistema elétrico brasileiro seja de base hídrica, é evidente que o ideal seria um sistema hidroeólico interligado. Se tal sistema for projetado e implantado no prazo necessário, o Brasil terá energia elétrica por custos dos mais baixos do mundo, o que, entre outros benefícios, daria um grande poder de competitividade à nossa indústria, compensando, em parte, o chamado Custo Brasil.

Para isto, será necessário realizar grandes investimentos na modernização dos sistemas de transmissão e distribuição, inclusive mediante o emprego de tecnologias avançadas, como as redes inteligentes (smart grids), para que o despacho da energia dos parques eólicos seja continuamente associado ao despacho das hidrelétricas, elevando assim o fator de capacidade do sistema interligado.

Igualmente necessário é que o planejamento energético seja mais abrangente e siga diretrizes estratégicas bem definidas para o longo prazo, diferentemente dos planos feitos nos dias de hoje, que são influenciados pela conjuntura política e até por interesses mercantis de curto prazo. E será indispensável a instituição de um mecanismo que obrigue a Empresa de Pesquisa Energética e o Operador Nacional do Sistema a compatibilizarem o planejamento com a operação do sistema, especialmente no curto prazo.

Além disso, o sistema hidroeólico poderá operar em sinergia com as usinas termelétricas a biomassa, o que proporcionaria um aporte adicional de 15 GW firmes ao sistema interligado. As usinas térmicas a gás natural já existentes seriam acionadas apenas em períodos hidroeólicos críticos, otimizando a operação do sistema e servindo como seguro para reduzir riscos de racionamento, o que não poderia ser feito com usinas nucleares, pois estas não têm flexibilidade para operar apenas nas horas de ponta.

O BC no banco do carona - SOLANGE SROUR CHACHAMOVITZ

VALOR ECONÔMICO -27/12

Durante muitos anos pós Plano Real, os economistas que se arriscavam em estimar o impacto das mudanças da taxa Selic na inflação se deparavam com uma enorme dificuldade. Passamos por várias crises internacionais com alta vulnerabilidade externa, tínhamos uma baixa penetração do crédito, além de um perfil de dívida pública desfavorável. Tudo conspirava por uma baixa eficácia da política monetária e a inflação acabava por responder majoritariamente às variações na taxa de câmbio.

A partir de 2004, com o boom de commodities, a manutenção do arcabouço conhecido como tripé macroeconômico e com algumas reformas importantes no mercado de crédito, a inflação brasileira começou a se comportar de acordo com o livro texto, reagindo às flutuações na taxa Selic. O regime de "inflation targeting" conquistou a confiança dos agentes, ponto fundamental para sua eficácia. No entanto, algo certamente mudou desde 2010. O mecanismo de transmissão da política monetária parece ter perdido potência. O último episódio de subida da Selic, por exemplo, de 7,25% para 10% quase não alterou as expectativas de inflação de 2014, estacionada perto de 6%. Já as expectativas para 2015 estão em 5,5% desde o início de aperto monetário.

A política monetária sentou no banco do carona e a política fiscal passou a ser a condutora de nossa economia. Não pretendo explorar aqui o fato de a política fiscal ser extremamente expansionista e isso dificultar o controle da inflação. Esse problema ganhou novos e mais graves contornos. Até maio, diante da enorme liquidez internacional, poucos investidores estavam atentos ao que se passava nas nossas contas públicas em termos de sustentabilidade. A maioria comparava o Brasil com países como EUA, Alemanha, Espanha, França entre outros, e argumentavam que nossa relação dívida/PIB, mesmo no conceito bruto, era muito menor. Comparavam nosso superávit primário e argumentavam que mesmo retirando os malabarismos, fazíamos um esforço considerável. Quando o financiamento da dívida é abundante, não há obviamente problema de sustentabilidade. Basta oferecer uma taxa de juros maior que seus pares, mesmo que em alguns momentos esta seja incompatível com seus fundamentos. O mundo agora é outro.

A hora da verdade chegou e agora a questão da sustentabilidade da nossa dívida está impactando fortemente nossa taxa de câmbio e a expectativa desta no médio prazo. O portador da má notícia foi o Fed, que até foi bastante benevolente ao se atrasar em iniciar a redução dos estímulos monetários, nos dando mais tempo para tentar arrumar um pouco a casa. Não adiantou. O motorista não quer saber de respeitar as sinalizações do mercado, prefere receber multas, na expectativa de que sua carteira não seja cassada. O resultado está aí: as taxas reais pagas nos títulos do governo brasileiros dispararam para um patamar perto de 6,5% e chegamos às vésperas da redução dos estímulos monetários do Fed com uma taxa de câmbio em torno de R$ 2,40 a despeito de um programa de intervenção cambial de US$ 100 bilhões.

Certamente, não estaríamos nessa situação se tivéssemos um superávit primário em torno de 2,5% do PIB (sem malabarismos), uma economia crescendo por volta de 3,5% e uma taxa de juros mais baixa. O fato é que estamos fazendo um primário verdadeiro abaixo de 1% (tirando as receitas não recorrentes), a economia cresce em torno de 2% e a taxa implícita da nossa dívida líquida está em 15,7%. É esse mesmo o número! Apesar de o Tesouro conseguir se financiar a uma taxa mais baixa, a taxa implícita da dívida liquida é bem mais amarga. Isto se deve aos aportes realizados nos bancos públicos que rendem ao Tesouro uma taxa menor do que este se financia. O resultado é que para estabilizarmos a dívida líquida precisamos de um superávit mais para perto de 3% do PIB. Se formos olhar a dívida bruta, temos que pensar em um número de superávit que reduza nossa dívida de 68% do PIB (critério do FMI) para algo em torno de 50%. Afinal em algum momento o Brasil precisa ter uma conta de juros abaixo de 5% do PIB se quisermos sair desse ciclo vicioso. Nesse caso, teríamos que fazer um superávit perto de 2% a 2,5% do PIB.

Infelizmente, não há disposição do governo em aumentar genuinamente o superávit primário. Conseguir receitas extraordinárias com Refis e concessões nada nos diz sobre o médio prazo. Se não acreditamos no primário que nos é prometido, o resultado é um processo de perda de confiança na nossa economia, câmbio mais depreciado, crescimento mais baixo, taxa de juros e inflação mais altas. Ainda é cedo para afirmarmos que vivemos um ambiente de dominância fiscal, situação na qual o Banco Central não consegue determinar a taxa de juros porque ela tem de ser o que tiver que ser para permitir que o governo venda seus títulos. Entretanto, o fato é que o piloto está correndo em alta velocidade e o carona não consegue convencê-lo da necessidade de frear. Apertem os cintos! Em 2014, poderemos dobrar a aposta de que nossa carteira não será cassada tão cedo.