terça-feira, dezembro 24, 2013

A cara do Brasil - J. R. GUZZO

REVISTA VEJA

Basta prestar um mínimo de atenção nas coisas para saber que Campinas, a segunda maior cidade do Estado de São Paulo, com 1,1 milhão de habitantes, santuário da indústria brasileira, polo irradiador de tecnologia e centro nervoso da região produtiva mais avançada do país, é mais ou menos o máximo a que o Brasil pode aspirar no momento, com realismo, em termos de progresso. Foi ali, e na constelação de cidades à sua volta, que o esforço para levar a indústria até o interior teve os seus melhores resultados. O PIB da região metropolitana de Campinas está entre 45 e 50 bilhões de dólares, conforme o critério usado para os cálculos. Equivale ao de todo o Estado de Pernambuco, é maior que o do Ceará e tem o tamanho de um Uruguai inteiro – vale mais, por sinal, que o PIB de pelo menos 110 países espalhados pelo mundo afora. Um terço de tudo o que o Brasil exporta e importa por via aérea passa por Campinas. As cinquenta maiores empresas do mundo têm operações na região metropolitana, um conjunto com perto de vinte cidades. Funcionam em Campinas duas das mais prestigiadas universidades do Brasil, institutos de pesquisa de primeira linha, uma orquestra sinfônica. E ali que está a maior refinaria da Petrobras no Brasil. O PIB per capita da região, nos cálculos mais elevados, está entre 20 000 e 25 000 dólares anuais – mais que o da Grécia ou o do Chile, e o dobro do da Rússia. Seu último IDH foi de 0,805, já na zona tida pela ONU como "elevada".

Campinas, com a sua coleção de virtudes, é a cidade mais desenvolvida do interior de São Paulo, o estado mais desenvolvido do Brasil – um "colosso", como se diz por ali. Enfim, para falar em português claro: muito melhor que isso não fica. Campinas, quando comparada com municípios do mesmo porte no exterior, é o tipo de cidade onde o Brasil conseguiu ficar mais parecido com o Primeiro Mundo. É em lugares como Campinas, em suma, que o Brasil deu "mais certo". E é em lugares como Campinas, ao mesmo tempo, que dá para perceber quanto o Brasil deu errado – e o tamanho do buraco em que estamos metidos. Por quê? É muito simples: em Campinas, esse "colosso" aqui descrito, 30% da população entre 15 e 64 anos – ou seja, praticamente todo mundo – são analfabetos funcionais, gente que não consegue entender direito o que lê num texto simples, não sabe enunciar números com mais de quatro ou cinco algarismos e não tem noções elementares de proporcionalidade. Outros 40%, como dizem educadamente os técnicos em pedagogia, têm apenas um nível "básico" de alfabetização – são aquilo que os leigos chamam de "semianalfabetos". Tira daqui, põe ali, e o que se tem de concreto, goste-se ou não, é o seguinte: não mais que 30% dos habitantes da cidade-sucesso do Brasil são realmente alfabetizados – e podem, assim, se qualificar como cidadãos plenos deste país. Numa sociedade em que a verdadeira divisão de classes está entre os que; têm conhecimento e os que não têm, 70% estão condenados desde já, em grau maior ou menor, a ficar no bloco dos perdedores.

Num ano como este 2013 que ora se encerra, quando o Brasil teve tantas oportunidades para se ver diante de escolhas claras entre o progresso e o atraso, as dramáticas contradições existentes em localidades como Campinas servem para o país olhar com mais sobriedade para si próprio – e admitir que o espelho no qual se enxerga não reflete uma imagem só. Campinas é apenas um exemplo do tipo de crescimento e de progresso com que o Brasil se habituou; mas dezenas de outras cidades brasileiras, talvez até mais, poderiam perfeitamente ser citadas em seu lugar. Ao contrário do mundo desenvolvido, onde mais produção gera apenas mais prosperidade, aqui as cidades mais dinâmicas não conseguem crescer sem atrair pobreza, exclusão social e desigualdade. Se é assim em lugares com os números e o desempenho de Campinas, imagine-se então como andam as coisas na média nacional – ou, pior ainda, onde se vive abaixo dela. Não existe, simplesmente, uma única cidade ou região no Primeiro Mundo onde 70% da população tenha instrução suficiente para executar apenas as tarefas mais simples – e também as mais penosas, mal remuneradas e sem esperanças de melhora. No Brasil, que pretende no momento dar lições de desenvolvimento e avanço social ao resto do mundo, a cidade-símbolo do nosso progresso aceita passivamente viver nessa indigência. Não chegará nunca, desse jeito, aonde tem de chegar; continuaremos, como de costume, a ter uma das dez maiores economias do mundo e ficar ali pelo centésimo lugar em termos de bem-estar real para a população.

Os dados mais recentes sobre a situação desesperadora da educação na mais bem-sucedida cidade do interior paulista estão numa pesquisa da Federação das Entidades Assistenciais de Campinas, e o quadro geral que mostram é ainda mais feio. Um em cada cinco jovens na faixa dos 18 aos 24 anos já é chefe de família, e de toda a população do município com essa idade 60% não estudam – só metade deles, por sinal, chegou a concluir o ensino médio. Não é preciso ter um diploma de sociologia para concluir que muito pouca gente, aí, está a caminho da prosperidade. Mais da metade dos campineiros entre 18 e 24 anos vive em famílias com uma renda per capita que não passa de dois salários mínimos; ou seja, a moçada que está trabalhando em Campinas largou o estudo por uma pura e simples questão de sobrevivência, e não para ganhar uma fortuna como banqueiros de investimento. Em vez de estarem acumulando conhecimento em cursos superiores, como deveria ser a regra para quem vive nessa idade, estão precisando trabalhar em empregos de baixa qualidade para ganhar o seu sustento, e em muitos casos o das famílias que já chefiam. A cada dia que passa, mais longe ficam de aprender as habilidades indispensáveis para entrarem num mercado de trabalho agressivamente tecnológico como o de hoje e, mais ainda, de amanhã.

Não deve surpreender a ninguém, é claro, que no último grande balanço da educação mundial para a garotada na faixa dos 15 anos, o Pisa de 2012 feito pela OCDE, organismo internacional que reúne as maiores economias do mundo, o Brasil tenha ficado em 575 lugar, num total de 65 países avaliados – pior que isso, só mesmo pegando o último. (Como houve uma melhora na nota brasileira em matemática, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, determinou que o teste foi "um grande sucesso" para o Brasil. Aliás, ele já garantiu que a educação brasileira vai tão bem que terá tempo de sobra para participar da campanha pela reeleição da presidente Dilma Rousseff em 2014.) Existe bem mais, nisso tudo, que uma calamidade estatística. Os números de Campinas, por si sós – Deus sabe como os do Brasil, tomado por inteiro, são ainda piores –, servem como pista segura para mostrar a sombria realidade de uma turma que não tem futuro. Antes de completarem 25 anos de idade, já está definido para todos aqueles jovens, salvo exceções, que serão cidadãos de segunda classe até o fim de sua vida.

Eles não terão os mesmos direitos que os outros, que neste momento já estão muito à frente deles, pelo simples motivo de que não terão as mesmas oportunidades. Para a grande maioria deles, estará fechado o acesso ao que em geral se considera as coisas materiais mais compensadoras da vida. Vão ter empregos, em vez de carreiras – isso para os que conseguirem se empregar. Podem ter mais do que tiveram os seus pais, o que é ótimo, mas raramente vão subir muito acima dos degraus onde estão hoje. O governo e seus fãs, aliás, não param de dizer que a rapaziada de Campinas, e seus equivalentes espalhados pelo Brasil, foi beneficiada pelo "maior programa de distribuição de renda", ou de "inclusão social", ou de "vitória contra a pobreza" jamais visto na história universal. Um jovem de 21 anos de idade, com salário mensal de 1000 reais e mulher e filho para cuidar, por exemplo, talvez não perceba bem por que a sua vida está assim tão espetacular, como lhe dizem: mas não tem muita razão para esperar grandes melhoras, levando-se em conta que os donos do governo estão convencidos de que já lhe deram uma enormidade nos últimos anos.

Dizer que o Brasil nunca esteve pior, não "vai para a frente", não tem "solução" e coisas desse tipo é apenas uma tolice que colide diretamente com os fatos. Em cinquenta anos, para tomar um período de tempo redondo, o país melhorou tão extraordinariamente que a realidade brasileira daquela época parece incompreensível para o cidadão de hoje. Mais de 50% da população era analfabeta. Só gente acima da classe média tinha telefone – esse aparelho hoje utilizado na forma de 270 milhões de celulares e 45 milhões de linhas fixas. Para ter um carro, sem ser rico, só sendo motorista de táxi. O Brasil inteiro, cinquenta anos atrás, tinha uma frota total inferior a 500 000 veículos; Campinas, sozinha, tem hoje por volta de 850000. A única estrada asfaltada ligando duas capitais era a Via Dutra, entre o Rio de Janeiro e São Paulo, inaugurada em 1951 - e com pista simples, como é hoje uma estradinha vicinal do interior. Muitas crianças iam à escola descalças, era comum um trabalhador usar roupas remendadas e obras como o Maracanã, por exemplo, eram construídas movendo-se toneladas de cimento em carrinhos de mão. A economia do Brasil era uma piada; o país ia pouco além de uma república bananeira, que mal conseguia se manter na era da energia elétrica. No auge do "milagre econômico" do regime militar, as autoridades falavam no "sonho" de atingir um dia a meta de 2 bilhões de dólares em exportações anuais – cifra que se obtém hoje em três dias. O PIB do Estado de São Paulo, sozinho, é 70% maior que o da Argentina.

O Brasil mudou tanto, na verdade, que acabou por se transformar num outro país – e está melhor, hoje, do que jamais esteve. Mas sua desgraça é que não cresceu nem perto do necessário para sair do subdesenvolvimento, nem com a rapidez de que precisava. Correu muito, sem dúvida, mas não o suficiente para acompanhar o ritmo dos mais rápidos e mais bem-sucedidos – e agora já não consegue acompanhar o passo de quem realmente prospera. É como o corredor na prova de fundo que já deu o seu sprint e não chegou à posição que deveria ter alcançado com esse esforço; não é capaz de dar outro arranque, e com isso vai ficando para trás na comparação com os países bem-sucedidos. Campinas, como se viu, está entre o que o Brasil fez de melhor em cinco décadas – e isso não foi o bastante. O que parece claro, quando se examina a lista dos principais suspeitos de conduzir o Brasil ao ponto a que chegamos, é a presença de um equívoco duplo e mau. Seu primeiro veneno foi a ideia de que bastaria produzir mais para criar uma vasta riqueza que se espalharia sozinha, pela sua própria natureza. A segunda insensatez foi não perceber, na vida política e no mundo pensante, que a concentração de renda e a desigualdade são efeitos, e não as causas, do desastre social do Brasil; essas doenças são a consequência inevitável da concentração do conhecimento e da péssima distribuição dos benefícios de uma educação de qualidade – estas sim os grandes fatores da divisão do Brasil em cidadãos de primeira e de segunda classe – ou terceira, ou quarta, ou quantas se queira.

Treze anos atrás, quando o PT foi para o governo, o filho de um pai rico, que podia pagar-lhe uma educação de primeira, tinha muito mais chance de dar certo na vida do que o filho de um pai pobre, que não podia pagar nada. E hoje – o que mudou nisso? Zero. A diferença continua exatamente a mesma. É uma má notícia para os 70% de campineiros que não chegaram à "alfabetização plena" - e sabe-se lá quantos brasileiros mais. Não existe na história humana o caso de uma sociedade que prosperou, se tornou mais justa e reduziu realmente as desigualdades tendo em sua população tanta gente que não consegue entender o que lê, ou fazer uma conta que vá além do 2 + 2.

O compositor e vocalista Cazuza, numa de suas canções mais celebradas, pedia para o Brasil mostrar a sua cara. Ela está aí, à vista de todos.

PSDB moderniza visão sobre federalismo - MAÍLSON DA NÓBREGA

REVISTA VEJA

O PSDB divulgou, no último dia 17, doze diretrizes para orientar seu futuro programa de mudanças para o país. A oitava delas defende "mais autonomia para estados e municípios, maior parceria da União". Essa parte, como as outras, é equilibrada. Critica, corretamente, as atabalhoadas desonerações tributárias do governo, que causaram perdas aos governos subnacionais, a quem pertence uma parcela do IPI e do imposto de renda.

A proposta do senador Aécio Neves era outra. No dia 18 de novembro, ele obtivera do PSDB a Declaração de Poços de Caldas + 30, a qual propugnava um novo pacto federativo "que signifique responsabilidades e recursos compartilhados de forma mais justa, pelo bem dos brasileiros". No mesmo dia, em sua coluna na Folha de S. Paulo, ele propôs "reverter o desmanche da federação brasileira e o crescente risco de insolvência de estados e municípios, vitimados pela grave concentração, na órbita federal, de recursos e poder". Tradução: mais dinheiro da União para estados e municípios.

Vi de perto movimento semelhante na Assembleia Constituinte. Parlamentares das regiões menos desenvolvidas prometiam redimi-las com transferências da União. As demais pediam o mesmo para aliviar dívidas. Era preciso, diziam, acabar o "pires na mão". Assim, a Constituição de 1988 promoveu a maior transferência de recursos federais da história (44% do imposto de renda e 54% do IPI mais os impostos únicos sobre combustíveis, minerais, transportes e comunicações). Passados 25 anos, as regiões menos desenvolvidas não foram redimidas e todas continuam endividadas. Grande parte do dinheiro virou gasto de é economista pessoal. O "pires" continua na mão.

Nosso federalismo é mal definido desde a República. A ação que derrubou a monarquia se inspirou no federalismo americano de 1787. Até no nome. Tornamo-nos República dos Estados Unidos do Brasil (Constituição de 1891). Aqui, a ideia era reformar o Estado imperial centralista moldado na cultura portuguesa. Nada mudou. Lá, buscou-se evitar a desintegração da confederação de treze estados muito autônomos (as antigas colônias) nascida da independência. A federação americana implicou certa centralização, incluindo a criação do cargo de presidente da República. Os nossos federalistas podem ter pensado em descentralização, mas prevaleceu a cultura de dependência do governo central.

Vem daí a inconsequente repartição das receitas da União em 1988, sem cuidados e sem transferência de encargos. Além disso, decidiu-se elevar os gastos sociais e aumentar a vinculação de receitas a despesas como as da educação. A União perdeu receitas e ganhou novos encargos. A conta não fechava. Era preciso aumentar a carga tributária, mas o IR e o IPI, os dois principais tributos federais, haviam perdido importância. Restou à União pouco mais de 40% e 30% desses impostos, respectivamente. Assim, recorrer a tais impostos exigiria mais do que dobrar as alíquotas. O caminho de menor custo para os contribuintes era apelar para tributos não partilháveis, isto é, as contribuições, que pertencem integralmente á União. A consequência, inevitável, foi a piora da qualidade do sistema tributário.

O senador Aécio acertava ao reivindicar um novo pacto federativo, mas errava ao mirar a redução dos recursos da União. A centralização resulta da agenda social da Constituição e dos aumentos do salário mínimo (150% acima da inflação) nos últimos catorze anos. O mínimo é a base de muitos dos benefícios sociais, que representaram 63,2% das despesas não financeiras federais em 2012. Mesmo assim, curiosamente, a fatia da União nas receitas disponíveis caiu de 53%, em 1999, para 48%, em 2009.

A federação foi atropelada por essas medidas. As demandas de descentralização das receitas, já velhas em 1988, se tornaram caducas na atualidade. Perto de 90% das receitas federais se destinam a gastos incomprimíveis. Essa vaca não dá mais leite. Ela iria para o brejo. Felizmente, o documento final do PSDB não considerou as ideias de Aécio. Os tucanos modernizaram sua visão sobre o federalismo. As diretrizes, mesmo que genéricas, são um bom ponto de partida para discutir a questão.

Apenas Natal - JOÃO PEREIRA COUTINHO

FOLHA DE SP - 24/12

Simplificando, existem dois grupos: para os ansiosos, o Natal é uma prova; para os deprimidos, uma provação


Anos atrás, comprei em Londres uns cartões de Natal que faziam uma paráfrase do célebre "Keep Calm and Carry On" (fique tranquilo e continue). No caso, a frase era apenas um "Keep Calm, It's Only Christmas" (fique tranquilo, é apenas Natal).

Foi sucesso de bilheteria: as pessoas agradeciam o cartão e depois começavam um longo rol de misérias pessoais que a quadra traz consigo. Simplificando, existem dois grupos: os ansiosos e os deprimidos.

Os ansiosos começam a sofrer em finais de outubro, inícios de novembro. Com os presentes que é preciso comprar (ou evitar); mas sobretudo com a logística que é preciso respeitar: noite de 24 na mãe dele; almoço de 25 na mãe dela; jantar de 25 na própria casa; dia 26 no manicômio da cidade.

O "espírito de Natal", para esses infelizes, é muito semelhante a uma prova universitária que é preciso fazer todos os anos, com os mesmos professores, sobre a mesma matéria. O eterno retorno da etiqueta. E com possibilidade de reprovação.

Os deprimidos são outra história: incapazes de viver o Natal presente, eles são como Mr. Scrooge, o personagem de Dickens, só que perpetuamente condenados a viverem apenas os Natais passados.

Aproxima-se o dia 24 e é vê-los, meditabundos e lacrimejantes, recordando as companhias que tiveram e já não têm; as oportunidades que surgiram e já não surgem; os lugares por onde passaram e onde já não passa nada.

Para os ansiosos, o Natal é uma prova; para os deprimidos, uma provação: uma forma de serem novamente esfolados vivos pelos fantasmas do fracasso e do arrependimento.

Um amigo meu, usualmente solar, hiberna sempre dia 24 e só ressuscita dia 26. Hiberna em hotéis ("são mais impessoais") ou, de vez em quando, cruzando os céus quando as famílias terráqueas se reúnem cá em baixo. "É mais fácil assim", dizia-me ele há uns meses, recusando qualquer convite para um jantar lá em casa. E a sentença final: "Eu só quero que o Natal passe depressa, João".

E quando não são as provações pessoais, são as profissionais. Não sei quando começou a moda das "festinhas de escritório". Mas espanto-me por não haver notícias na TV de chacinas em massa durante esses encontros.

Colegas que não se falam e até se apunhalam todo o ano surgem nessas "vernissages" com um amor pelo próximo que faz das figuras de cera do Madame Tussauds verdadeiros seres de carne e osso.

Pergunta-se pelos filhos (cujos nomes se desconhece) e pela saúde dos progenitores (entretanto já falecidos e enterrados). Brinda-se ao nada. Tiram-se fotos, muitas fotos, para vender alegria "sincera" no Facebook. E depois regressa-se a casa com os músculos do rosto doridos.

Quando janeiro começa, o escritório é o que sempre foi: um ringue de inimigos e estranhos. Como sobreviver a tudo isso?

Primeiro que tudo, apagando o verbo "sobreviver" da gramática natalina. Não há nada de que sobreviver se o dia 24 for igual ao 23. E a única forma de o tornar igual é retirar do 25 os contornos de "juízo final" com que nos danamos ou salvamos.

No fundo, devemos ser o oposto de Logan Mountstuart, o personagem de "Any Human Heart", a série de TV inspirada no livro (mediano) de William Boyd. Não sei se já falei dela nesta Folha. Provavelmente.

Mas nunca é demais repetir, até como sugestão natalina: na série, Mountstuart é um escritor torturado pelos erros que ensombram os seus dias. As mulheres que perdeu. Os amigos que o deixaram. E, claro, os romances que ele nunca conseguiu escrever.

Ao longo da vida, ele vai anotando esses erros nas páginas do diário --um exercício confessional a que ele, o grande romancista, concede diminuta importância.

E, no entanto, são os diários que ficam depois da morte. Como se os diários fossem o resumo mais autêntico de uma vida verdadeiramente autêntica: uma vida que é feita de toda a sorte e de todo o azar. Mas que também é definida pela forma como gostamos de a ver e contar.

Porque é sempre possível contar a mesma vida de duas perspectivas distintas: a perspectiva derrotista de Logan Mountstuart; e a perspectiva de sucesso que a posteridade concedeu aos seus diários --e, no limite, à sua vida e até aos seus erros.

Não se martirize, leitor. Raramente somos os melhores juízes em causa própria. Brindar ao Natal deveria ser, tão simplesmente, brindar ao pouco que sabemos --e ao muito que um dia se contará sobre nós.

Os interesses eleitorais dos outros - EUGÊNIO BUCCI

REVISTA ÉPOCA

O governador tucano de São Paulo, Geraldo Alckmin, costuma adotar uma fala ponderada e contida sobre a totalidade dos assuntos que lhe aparecem pela frente. Sua oratória é sempre pausada, e seu conteúdo prima por ser inodoro. Dele, pode-se dizer que é contundente nas platitudes. Seu estilo de pronunciar em tom solene e grave as irrelevâncias mais insípidas acabou lhe rendendo um dos mais célebres apelidos da política nacional: Picolé de Chuchu. Diet, por certo.

Há poucos dias, contudo, o homem saiu do trilho. Indagado sobre o inquérito de formação de cartel no metrô de São Paulo, que cita nominalmente quatro secretários de seu governo, Alckmin afirmou que havia, numa das peças da acusação, "objetivo nitidamente político eleitoral".

Em se tratando de quem se trata, são palavras fortíssimas, ousadíssimas, abusadíssimas. Adepto fervoroso da cartilha do politicamente corretíssimo, o expoente tucano resolveu radicalizar. Em sua manobra retórica, deixou escapar sinais de uma mentalidade nociva que, no fundo, é antidemocrática.

Segundo essa mentalidade, deveríamos separar rigidamente o debate eleitoral do debate sobre corrupção, já que qualquer motivação eleitoral só serviria para distorcer o juízo do eleitor.

Nada mais falso. Na democracia, tudo o que é debatido na imprensa tem repercussões eleitorais, maiores ou menores. É bom que seja assim: a cada eleição, o cidadão avalia se o governante vai bem ou vai mal e emite seu veredicto. Se uma acusação é movida por interesse eleitoral ou por altruísmo, tanto faz. O importante é que a sociedade esteja bem informada e saiba votar. No final das contas, caberá a ela julgar as autoridades. Em suma, a ligação entre o noticiário sobre corrupção e o debate eleitoral não apenas não é indesejável, como é muito positiva, isto sim.

Alckmin sabe disso muito bem. Absolutamente tudo o que um político fala e faz segue a lógica eleitoral. Ele é movido o tempo todo por objetivos eleitorais, e não há nada de errado com isso. Ele só não pode usar recursos da máquina pública para se promover. De resto, só pensa em voto. É legítimo. Se existem repercussões eleitorais nas notícias sobre uma peça de acusação, existem interesses eleitoreiros — explícitos - no discurso de qualquer partido. Do PSDB inclusive. Até aí, portanto, estamos empatados. Importa é que a verdade sobre os fatos seja devidamente apurada.

Essa mentalidade não está apenas dentro do PSDB. Em matéria de desqualificar os interesses eleitorais dos outros, os tucanos estão longe de ser campeões. Nesse quesito (como em vários outros), eles perdem para os petistas. De lavada. Os líderes do PT são os que mais praticam esse esporte nacional. De preferência, gostam de atacar o que julgam ser os interesses eleitorais inconfessáveis da imprensa.

Vários petistas, como o próprio Lula, não se cansam de protestar contra o partidarismo do jornalismo pátrio. Na opinião deles, os jornalistas cruzaram os braços e não investigaram nada sobre a cocaína apreendida num helicóptero da família do senador José Perrela (PDT-MG). Alegam que, se a aeronave pertencesse a um senador do PT, o caso estaria diariamente nas primeiras páginas dos jornais (espertamente, omitem que o PDT é da base aliada do governo federal). Ato contínuo, reclamam do destaque (exagerado, na visão deles) que os jornais deram à cobertura do julgamento do mensalão. Querem notícias sobre a corrupção dos outros, não sobre a corrupção deles.

Assim como vários tucanos, muitos petistas rechaçam as notícias em que identificam os pestilentos interesses eleitorais dos outros. Assim como os tucanos, acham que motivações ocultas prejudicam os inquéritos, os julgamentos e o noticiário. Tucanos e petistas chamam os objetivos políticos dos outros de "objetivos nitidamente eleitorais". Quando se trata de um objetivo deles mesmos, preferem falar em "interesse público" ou "interesse nacional". Falam, tucanos e petistas, como se não tivessem nunca nenhum interesse em eleições, como se fossem abnegados e, todos sabemos, só o que fazem, durante as 24 horas do dia, é pensar em voto.

Isso não significa que seja bom que uma autoridade responsável por um inquérito ou por um julgamento deva se deixar influenciar por objetivos eleitoreiros. Isso seria péssimo (não por acaso, a lei impede que juízes tenham filiação partidária). Isso apenas significa que o debate sobre a corrupção deve, sim, gerar consequência no voto de cada um de nós. Quanto mais o eleitor entender as consequências políticas (e eleitorais) da corrupção, melhor.

Ueba! Renan, o implante voador! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 24/12

Coerente: usou um avião pra acabar com o aeroporto de mosquito! Renan Cabelheiros!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E o penúltimo escândalo do ano: Renan Escandalheiros. Que usou um avião da FAB para fazer implante de cabelo no Recife. Pra melhorar a imagem do Congresso!

Já imaginou aguentar o Renan careca? Coerente: usou um avião pra acabar com o aeroporto de mosquito! Renan Cabelheiros!

E pra próxima semana já está agendado um outro avião pra ele fazer chapinha! Como diz o tuiteiro Manchester64: o implante voador!

E o pensamento do dia: "É melhor um peru na mão que dois na gôndola do Pão de Açúcar!".

E Natal é a data mais incoerente que existe: matam o peru e fazem missa pro galo!

E o que vou fazer nesse Natal? O que faço todos os anos: vomitar no tapete persa da sogra e fazer xixi no elevador do prédio! A missa do galo é em homenagem ao Atlético Mineiro, e o tapete persa foi um presente do Fluminense. Ops, Tapetense!

E essa: "Papa pede que Cúria Romana evite fofocas no trabalho". Impossível! Nem por milagre padre deixa de fazer fofoca! Rarará!

E Natal é a coisa mais família que existe: o primo corno, a prima ninfomaníaca de Facebook e a sogra de joanete e calcanhar rachado. E aí de repente aparece o vizinho e fica encoxando a cunhada no corredor. Ou seja, uma promiscuidade. Rarará!

E o chargista Flavio revela que o Papai Noel não vai trazer presentes neste ano porque aplicou tudo na empresa X do Eike! Papai Noel Falidex! Rarará!

E o lema do Natal da encalhada: "Muitos natais e nenhuma noite feliz!". E o grande hit do Natal: sanduíche de patê, catchup e requeijão, em camadas, que a tia traz coberto com pano úmido pra não ressecar.

E aquela maionese que a outra tia não acerta o ponto. Há anos! Rarará! E peru é sempre o peru da sogra. O Natal é um festival de sogras! É mole? É mole, mas sobe!

E o ser humano é dividido em quatro estágios:

1) você acredita em Papai Noel;

2) você não acredita em Papai Noel;

3) você se veste de Papai Noel, pra animar o Natal da família;

4) você PARECE o Papai Noel. Rarará!

E neste ano não fiz compras porque não tenho saco pra Papai Noel! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Longe das grades - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 24/12

Se depender das autoridades penitenciárias do Rio, Roberto Jefferson vai cumprir pena em prisão domiciliar.
Sexta passada, a juíza auxiliar da presidência do STF, Rosimayre Gonçalves de Carvalho Fonseca, telefonou para o secretário da Seap, Cesar Rubens, perguntando se havia condições de dar ao ex-deputado a dieta prescrita por nutricionistas.

Segue...
Cesar Rubens respondeu que não. É que a dieta de Jefferson, que se recupera de um câncer, inclui salmão e outros produtos que não constam do cardápio da prisão.
A decisão será do STF.

Petrojustiça
Graças a Eike Batista muitos advogados terão um Natal gordo. São muitas ações na Justiça envolvendo a família X.
Agora é a vez de outra petroleira nacional,HRT, também hospitalizada, travar, para alegria dos advogados, uma luta no tribunal entre seu fundador, Márcio Mello, e um grupo de acionistas, entre os quais, o fundo de investimento Discovery.

A terra treme...
Mello, que havia renunciado ao comando da petroleira em maio, acusa o fundo Discovery e outros sócios de comprarem ações na Bolsa visando à tomada de controle da petroleira.
Ontem, seis integrantes do Conselho de Administração renunciaram.

Feijão amigo
A diretoria artística do Teatro Municipal do Rio, comandada pelo maestro Roberto Minczuk, promoveu uma feijoada de confraternização para os funcionários, dia 19 passado, no Restaurante Assirius.
Foram convidadas umas 300 pessoas, mas... só apareceram seis.

Pista fechada
O Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, um dos mais importantes e movimentados do país, teve que ser fechado, ontem, por volta das 14h.
Durante 15 minutos não houve pouso nem decolagem.
É que uma pessoa invadiu a pista de taxiamento, impedindo seis aviões de pousarem.

Acervo Portinari
O Museu Nacional de Belas Artes, no Rio, recebeu a doação de 212 obras de Cândido Portinari, da Finep. São pinturas, gravuras e desenhos.

Uma língua só
Uma carioca foi almoçar, domingo passado, no Garota da Gávea, na Praça Santos Dumont, no Rio, e o cardápio estava todo em... inglês. Ela pediu um em português, mas... não havia.

Parece um absurdo. E é.

Um milhão
Veja que legal. O Imperator Centro Cultural João Nogueira, no Méier, Zona Norte do Rio, fecha 2013 ultrapassando a marca de um milhão de visitantes desde sua inauguração, em junho de 2012.

Desse total, 43% foram até lá para assistir a espetáculos, e 57% apenas para curtir o espaço.

Quero ser pequeno
Dois casais que foram ao restaurante Quadrucci, no Leblon, quarta passada, ficaram surpresos ao estacionar seus carros.

Quem chegou em uma Pajero pequena teve que pagar R$ 15. Já quem foi de Captiva pagou R$ 18.

Plano de saúde
Nisia de Castro Menezes Silva, uma senhorinha de 96 anos, recebeu uma carta de seu plano de saúde, Geap.

Diz que, para marcar consultas, ela terá que ir à central do plano, ali na Saara, no Rio. E que “os procedimentos adotados é para que possam atender prontamente as solicitações dos beneficiários”. Ah, bom!

Inflação do coco
O verão mal começou, e o coco já foi reajustado nas praias da Zona Sul do Rio.

Aumentou de R$ 4 para R$ 5.

No mais
Feliz Natal!

NAO É SO PELOS 20 CENTAVOS
Neste ano em que as ruas voltaram a ser ocupadas pelo povo, a coluna pediu a alguns coleguinhas da casa que fizessem um pedido a Papai Noel. Veja s :

George Vidor
“Sensatez na política econômica do ano que vem, pois no será to fácil conciliar combate àfla o e mais equilíbrio nas contas externas com uma razoável taxa de crescimento.”

Ilimar Franco
“Que a nossa sele o ven a a Copa do Mundo, no Brasil. O país do futebol merece esta felicidade e os nossos craques da Copa de 1950 merecem esta homenagem.”

Jorge Bastos Moreno
“Que Renata Vasconcelos me dê bola.”

José Casado
“Que no ano eleitoral de 2014 governo e oposiçao no percam o bom humor, mas renunciem ao projeto de transformar a democracia brasileira numa grande com dia.”

Merval Pereira
“S pediria que o que está ruim no piore. Mas acho que vou ficar sem Papai Noel.”

Míriam Leitão
“Que as ruas sejam de novo ocupadas para exigir educa o de qualidade. Que o barulho seja to alto que o governo, enfim, entenda que isso que ganhara Copa.”

Patrícia Kogut
“Seria lindo se Papai Noel fizesse andar as filas da sa de no Brasil, to desumanas. Aproveito para pedir paz para o Rio, já que a violência aumentou.”

Ricardo Noblat
“Que Papai Noel dê aos brasileiros discernimento de sobra para que vote no mais capaz candidato a presidente da Rep blica em 2014.”

Renato Maurício Prado
“Que Papai Noel acabe de vez com as viradas de mesa no tapeto. Esse ano, o Fluminense conquistou o tri de fugas da segundona! Uma vergonha.”

Zuenir Ventura
“Tenho dois pedidos. Um para o Rio: que a cidade no desista das UPPs. Outro para o Brasil: que o povo volte às ruas, mas sem os vândalos.”

Aluizio Maranhão
“Se manifesta es na Copa forem inevitáveis, que sejam sem violência.”

Arnaldo Bloch
“Que uma onda de consciência baixe sobre a sociedade civil e a classe política e, como num milagre natalino, a educa o seja eleita pauta n mero 1 do país para os debates eleitorais de 2014.”

Arthur Dapieve
“Que 2014 eleja políticos mais produtivos e menos marqueteiros.”

Carlos Alberto Sardenberg
“Queria protestos vigorosos, mas pacíficos, na Copa. E que depois todos fossem ao jogo. Queria mesmo era ganhar a Copa, numa final sensacional com a Argentina. Queria estar no Maracanã com meus netos.”

Cléo Guimarães
“O Flamengo campe o da Libertadores em 2014 seria um presente inesquecível, e no s para mim. Imagina uma final no Maracanã lotado? E em dezembro, campe o mundial no Marrocos! Aí eu morro.”

Cora Rónai
“Mais educa o para os brasileiros. No s aquela que se aprende na escola, mas a que se aprende em casa. E queria também que todos olhassem com mais carinho para os nossos irmos peludos de quatro patas.”

Fernando Calazans
“Peço a Papai Noel que o Brasil tenha torcidas pacíficas nos estádios, para que no se repita o epis dio de selvageria do jogo entre Atletico-PR e Vasco, em Joinville. Que as autoridades preservem os estádios para os torcedores que v o ali por amor ao seu clube.”

Flávia Oliveira
“Serenidade. ingrediente fundamental para devolver o diálogo perdido com a multiplica o da arrogância e do radicalismo. Em ano de Copa, vale a pena pôr a bola no ch o e abrir canais de comunica o para construir a paz.”

OUTDOOR PAULISTANO - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 24/12

A Prefeitura de São Paulo vai lançar em janeiro licitação para escolher novas agências de publicidade. A verba é de R$ 150 milhões.

BOLO
Do total, R$ 90 milhões são recursos diretos da administração, que serão gerenciados por duas agências. Os outros R$ 60 milhões são da publicidade da SPTuris.

BOLO 2
Hoje a propaganda da prefeitura é feita por duas empresas: a Lua Branca, ligada a Luiz Gonzalez, marqueteiro de confiança de José Serra (PSDB-SP) e que comandou a campanha do tucano contra Fernando Haddad (PT-SP) em 2012, e a Nova S/B.

LADEIRA ACIMA
O setor de plásticos será o mais prejudicado com o fim do Sistema Geral de Preferências, pelo qual a União Europeia desonerou, por período determinado, US$ 5,4 bilhões, ou 11,3% das exportações brasileiras. O programa não foi renovado e, a partir de 1º de janeiro, a tarifa aumentará para nove setores exportadores. No caso dos plásticos, ela subirá 5,7 pontos percentuais.

BALANÇA
O estudo, da CNI (Confederação Nacional da Indústria), mostra que o setor de químicos orgânicos terá o segundo maior aumento, de 4,9%, seguido do de químicos inorgânicos, que pagará 4,5% mais para vender para a Europa. A entidade diz esperar que o governo brasileiro e os europeus agilizem negociações para um acordo comercial que compense o aumento das tarifas.

BALANÇA 2
Em 2012, o setor que mais se beneficiou do acordo foi o de máquinas e equipamentos, que exportou US$ 780 milhões no período.

GREEN PINCEL
Ana Paula Maciel, a ativista do Greenpeace que ficou dois meses presa na Rússia, mandou um e-mail para o muralista Eduardo Kobra, esta semana, agradecendo pelo protesto contra sua prisão, que ele fez em um muro de um beco de uma rua de Moscou. O artista, aliás, desenhou o cartão de Natal e Ano Novo do Greenpeace.

VOAR, VOAR
As quatro maiores companhias aéreas brasileiras transportaram 612 órgãos e tecidos em novembro --96% do total de doações trasladadas no mês, de acordo com o Ministério da Saúde. TAM, Gol, Azul e Avianca, que integram a Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), prestaram o serviço em 367 voos domésticos.

VOAR, VOAR 2
Para Eduardo Sanovicz, presidente da Abear, o desafio é realizar a operação em quatro horas --tempo adequado para que órgãos como coração e pulmão cheguem ao receptor em bom estado.

FRANCÊS BAIANO
O grupo Iessi Music Entertainment, de Ivete Sangalo, está negociando a abertura de uma unidade do restaurante Paris 6 em Salvador. Isaac Azar, dono da rede, diz que o interesse surgiu após a gravação do DVD da artista, em que foram servidos pratos da casa. "Só tenho interesse em abrir algo na cidade se for com a Ivete", diz. Cinthya Sangalo, irmã da baiana e diretora do grupo, está à frente das conversas.

É ISSO AÍ, BRASIL
Filhos de ex-catadores de material reciclado do lixão de Gramacho, no Rio, Clara Ellis e Wendrel Grabriel, ambos de 12 anos, foram escolhidos para dar as boas-vindas aos turistas estrangeiros da Copa de 2014 em cartazes espalhados por vários países.

O casal vai estrelar peças publicitárias que serão divulgadas em países como Inglaterra, Indonésia, Índia, Hong Kong, Vietnã, Tailândia, Honduras, Costa Rica e Guatemala pela Coca-Cola.

A dupla já havia sido escalada para carregar a bandeira brasileira no Maracanã na final da Copa das Confederações.

Eles foram apadrinhados por Vik Muniz. Clara é filha de Tião Santos, protagonista de "Lixo Extraordinário", longa sobre o trabalho do artista plástico com catadores.

JANTAR DANÇANTE
Os empresários Sérgio Waib e Dinho Diniz ofereceram jantar com show do músico Emmerson Nogueira, no Jardim América. A jornalista Fabiana Scaranzi e os empresários Otavio Veiga, Ana Raia e Roberta Suplicy estiveram no evento. Regina Moraes Waib, mulher de um dos anfitriões, a stylist Fernanda de Goeye e o gerente de marketing Tiago Moura também foram à festa.

CURTO-CIRCUITO
A festa Noite Feliz, animada por DJs, é hoje, a partir das 23h59, na rua Funchal, 500, Vila Olímpia.

Edson & Hudson fazem show na Brook's, na Chácara Santo Antônio, hoje, a partir das 23h45. 18 anos.

O livro "Milton Neves Conta Nossos Mundiais", de Mário Marinho e Silvio Natacci, será lançado no dia 24 de janeiro.

O escritório SABZ Advogados foi inserido na edição latino-americana do Chambers and Partners, um dos principais anuários de advocacia do mundo.

Ana Carolina cantará no Citibank Hall em 31 de janeiro e 1º de fevereiro. 14 anos.

Dilma em Davos - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 24/12

Pela primeira vez, desde que tomou posse, a presidente Dilma irá a Davos. Ela deve falar no Fórum Econômico Mundial no dia 24 de janeiro. Dilma sempre esnobou esse Fórum. Mas agora vai para vender o país para os investidores internacionais e relatar como o Brasil enfrentou a crise. A presidente quer ampliar investimentos estrangeiros diretos, que este ano já chegaram a US$ 57,5 bi.

Eduardo cobra apoio do PSDB
O governador Eduardo Campos quer o apoio dos tucanos a seus candidatos ao governo, como em Pernambuco e na Paraíba. O socialista defendeu esta posição em almoço, na sexta-feira, com o
senador Cássio Cunha Lima (PSDB). Eduardo sustentou que a unidade entre os dois partidos nos Estados seria muito importante no plano nacional, quando estará em jogo o apoio a uma das candidaturas de oposição no segundo turno. A tese é a de que quanto maior for a harmonia regional, menos conflito haverá para um acordo. “Temos que nos entender. Porque ninguém é louco de achar que a presidente Dilma estará fora do segundo turno”, resume Cássio Cunha Lima.



“Votei contra o orçamento impositivo. Isso não vai terminar bem. Um senador que tem R$ 100 milhões que pode destinar livremente negocia com alguém”
Jorge Viana Senador (PT-AC)

Transição
A presidente Dilma já está delegando tarefas de coordenação de governo para o ministro Aloizio Mercadante (Educação). Integrantes do governo informam que ele já começa, na prática, a exercer tarefas que são típicas da Casa Civil.

Candidato próprio
O acordo com o PT está caminhando. O vice Michel Temer acredita ter o apoio de metade da bancada estadual para garantir a candidatura do senador Roberto Requião (foto) ao governo (PR). O PMDB local resiste em apoiar a petista Gleisi Hoffmann. Mas tudo o que o PT não quer é o PMDB apoiando a reeleição da governador tucano Beto Richa.


Limpando o caixa futuro
O governador Jaques Wagner quer que o governo antecipe receita de R$1,6 bilhão de royalties do petróleo. O líder do PSDB, deputado Antônio Imbassahy, afirma que essa antecipação de receita é proibida pela Lei de Responsabilidade Fiscal.

Chove, chuva
A presidente Dilma está aliviada. O ministro Edison Lobão (Minas e Energia), o diretor-geral da Aneel, Romeu Rufino, e o presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, garantiram-lhe ontem que não há risco de apagão no ano eleitoral. Segundo eles, os reservatórios estão se recompondo com as chuvas que caem em todo o território nacional.

A corrida eleitoral
O governador Renato Casagrande (ES) vai aproveitar a visita da presidente Dilma para pedir um reforço de caixa. O governo federal já deu apoio para os 40 mil desabrigados pelas chuvas. Sua intenção é acelerar as obras de reconstrução.

De olho nos pequenos
A presidente Dilma pretende anunciar no começo do próximo ano o primeiro Plano Safra para a Região Norte do país. O objetivo, segundo o ministro Pepe Vargas (Desenvolvimento Agrário), é desenvolver a agricultura familiar da região.


PUXANDO A FILA. A ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) será a primeira a deixar o governo. Ela entra de férias no dia 13 de janeiro e não volta mais.

O capital - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 24/12

Pela primeira vez, Dilma Rousseff irá ao Fórum Econômico Mundial, em Davos, em janeiro. O encontro, que reúne alguns dos empresários e banqueiros mais ricos do mundo em uma estação de esqui na Suíça, será a primeira ofensiva internacional da presidente para mostrar-se aberta ao mercado e tentar dissipar a desconfiança da comunidade financeira com seu governo. Dilma fará um discurso centrado no sucesso das concessões e terá encontros com empresários e banqueiros.

Melhor não Dilma pretendia, como nos anos anteriores, mandar apenas Guido Mantega (Fazenda) e outros ministros a Davos, mas avaliou que não seria suficiente para passar o recado que quer dar aos investidores.

Vocês aqui? Eduardo Campos e Marina Silva também irão, juntos, ao fórum econômico. A ex-ministra do Meio Ambiente deve levar à Suíça um discurso baseado no crescimento sustentável.

Botei meu... Quando questionados se o partido tem expectativa de ser contemplado com alguma pasta na reforma ministerial, caciques do PSD dizem que o apoio a Dilma independe disso, mas que, se a presidente fizer o convite, ele será aceito.

... sapatinho A conta do partido de Gilberto Kassab exclui Guilherme Afif, titular da pasta da Micro e Pequena Empresa, que seria da "cota pessoal" da presidente.

Base 1 Enquanto Paulo Pereira da Silva aproxima o Solidariedade de Aécio Neves (PSDB), a Força Sindical fez pesquisa que mostra empate quádruplo na disputa presidencial entre trabalhadores ligados à central. O tucano tem 18,8%, seguido de Joaquim Barbosa (17,9%), Marina (16,1%) e Dilma (16%).

Base 2 A maioria dos trabalhadores (59,7%) votou em Dilma no primeiro turno em 2010, mas 62,6% acham que o país piorou. A pesquisa foi feita pelo Dieese no congresso da Força, em julho, e concluída em dezembro. Quase metade (49,6%) dos entrevistados trabalha em São Paulo.

Salve... A OAB Nacional vai ingressar na Corte Interamericana de Direitos Humanos, da OEA, para denunciar a situação do Presídio Central de Porto Alegre. A entidade também vai requerer providências imediatas do governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT).

... geral O presidente da OAB, Marcus Vinicius Coêlho, participou ontem de inspeção realizada no presídio que averiguou que presos provisórios convivem com condenados permanentes. Também foi constatada superlotação, com 4.400 presos num presídio que comporta, no máximo, 2.000.

Norte a Sul A OAB determinou que todas as seccionais façam vistorias nos principais presídios e denunciem os governos por violações aos direitos humanos. No dia 16, a comissão da OEA determinou que o Maranhão adote medidas para garantir a integridade dos detentos do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís.

Piloto Está na mesa de Geraldo Alckmin decreto que cria Batalhão de Ações Especiais de Polícia em Campinas, com 600 homens. Trata-se de tropa com treinamento e atuação semelhantes à Rota. Políticos da região cobram a oficialização do grupo, que já atua de forma experimental, inclusive com frota própria.

Vem pra... A Caixa Econômica Federal enviou correspondência a construtoras e sócios que atuam na ampliação de aeroportos no país comunicando que o FI-FGTS, fundo com recursos do trabalhador, agora pode financiar obras aeroportuárias.

Caixa... Nenhum consórcio bateu à porta do banco até agora. Apesar de ser uma nova fonte de recursos, os juros cobrados pelo FI-FGTS ainda são mais altos que os oferecidos pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

com ANDRÉIA SADI, BRUNO BOGHOSSIAN e JULIO WIZIACK

tiroteio
"Os governistas que blindam Alckmin na Assembleia não vão blindá-lo na urna. O trensalão está cada vez mais perto dele."

DE ANTONIO MENTOR (PT-SP), membro da Comissão de Transportes da Assembleia, sobre a base impedir que tucanos deponham sobre cartel.

contraponto


Banca de peso
Há dois anos, em uma tradicional confraternização de fim de ano de advogados de Brasília, a polícia foi chamada devido ao barulho alto da festa. Quando os policiais chegaram, os convidados pediram ao constitucionalista Luís Roberto Barroso, hoje ministro do Supremo Tribunal Federal, e ao ex-procurador-geral da República Aristides Junqueira que fossem tentar contornar a situação.

Quase chegando na porta, a dupla foi interceptada por Juliano Breda, hoje presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Paraná, que brincou:

--Pelo amor de Deus, não vão vocês dois! Vão achar que o crime é grande!

Mistura explosiva - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 24/12

A manifestação contra o aumento das passagens de ônibus promovida pelo Movimento do Passe Livre no Rio de Janeiro na semana passada fez acender o pisca-alerta do governo em relação à CPI do Transporte Público apresentado pelo senador Roberto Requião (PMDB-PR). A ordem agora é evitar que a comissão funcione no ano eleitoral. Um dos argumentos que será usado para enterrá-la é o de que o pedido fala na legislação do Distrito Federal sobre o tema, o que tira o caráter nacional da investigação. A tecnicalidade promete gerar polêmica, mas o pano de fundo é outro.

O governo calcula que, se na última na sexta-feira cerca de 500 pessoas pararam o centro do Rio, o mesmo pode ocorrer no restante do país passadas as festas de fim de ano. E, nesse cenário, uma CPI do Transporte Público serviria para ampliar esses movimentos de rua. Resta saber se a base governistas terá fôlego para enterrar essa investigação.

A Copa e os Brics
Os países membros dos BRICS, grupo que, além do Brasil, congrega Rússia, Índia, China e África do Sul, pediram o adiamento da reunião de abril para julho, de forma a coincidir com os jogos da Copa do Mundo. A perspectiva é a de que o encontro em Fortaleza ocorra numa data próxima à final da Copa, no Maracanã, ou ao jogo Brasil e México, na capital cearense. A mudança da data da cúpula dos BRICs será anunciada no início do ano que vem.

O discurso de 2014
Não se assuste se, no ano que vem, você encontrar a presidente Dilma Rousseff visitando um posto de saúde ou uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). A ideia é bater bumbo sobre o Mais Médicos, como o programa protagonista do ano eleitoral, assim como a eleição anterior mostrou o Bolsa Família e o PAC. Até abril, serão 13 mil médicos no programa, para atender 46 milhões de pessoas. E, se precisar, mais, outros virão.

Nem tucano, nem petista
Na escolha de um candidato a governador de São Paulo, os socialistas preferem buscar um nome que tenha mais a cara do partido. A deputada Luiza Erundina é muito identificada com o PT. E Walter Feldman, da Rede, é tucano demais para parecer como algo novo. Nesse contexto, não se surpreendam se vier por aí alguém como Pedro Dallari.

Na hora H…
Enquanto Vila Velha (ES) se desmanchava em chuva, com milhares de desabrigados e o caos instalado na cidade, o prefeito, Rodney Miranda (DEM), fez as malas e foi curtir as férias em Nova York. Já se falava em impeachment, uma revolta danada na cidade. Ele voltou. Não fez mais que a obrigação, mas corre o risco de ver escoar os votos do partido na enxurrada. Hoje, a presidente Dilma vai ao Espírito Santo sobrevoar a região atingida pelas chuvas.

CURTIDAS 
Bronca/ O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) contou ontem ao colega Roberto Requião (PMDB-PR) que “levou um pito” do senador Gim Argello (PTB-DF) por ter assinado a CPI do Transporte Coletivo. “O governo deveria ser a falar dessa CPI. Mas, infelizmente, é contra. A ponto de passar um pito no Suplicy”, contou o peemedebista.

Por falar em…/… Requião (foto), ele dispensou ontem a possibilidade de falar na última sessão não-deliberativa do ano no Senado. “Hoje, estou amargo. Não vou nem discursar. Se o fizer, vou pedir um Gripen emprestado para ir cortar o cabelo no Recife”, afirmou, já fazendo chacota com o implante de Renan e o uso do jato da FAB.

Enquanto isso, na Câmara…/ O deputado Augusto Carvalho (SDD-DF) chegou ontem no final ao plenário, pronto para falar na tribuna. Andou para um lado, foi para o outro e nada de encontrar sequer um funcionário que pudesse registrar no último dia de funcionamento normal da Casa, antes do recesso. “Tiveram que chamar um servidor para abrir o computador e fazer o registro”, contou ele.

No mais…/ Que as bênçãos do Senhor encham seu lar de saúde, amor, alegria e harmonia hoje e sempre. Feliz Natal!!!

Bimbalham os sinos? - ARNALDO JABOR

O Estado de S.Paulo - 24/12

Todo ano eu escrevo sobre o Natal no Natal. Hoje, escrever sobre quê? Sobre o "mensalão"? Sobre o Natal na Papuda? Todos os natais são iguais: um sentimento de solidariedade jamais praticada durante o ano. Eu tento ser original, mas esbarro na mesmice dos dias natalinos; parece que o tempo é o mesmo dos anos cinquenta. Por isso só me resta repetir ideias dos melhores trechos de anos passados.

Os primeiros indícios do Natal surgem com ralas bolinhas douradas nas lojas, depois uma arvorezinha, ate que aparece a figura eterna de Papai Noel.

Não creio que Papai Noel seja muito querido, a não ser pelas criancinhas ainda sem web e videogames; os adultos sentem um vago mal estar diante daquele S. Nicolau que foi inventado na Noruega, aquelas barbas e roupinha quente para nosso verão. O que inquieta é a total falta de relação do Papai Noel com nossa vida cotidiana. De repente, ele surge como um invasor sorridente, um embaixador do Polo Norte, como um RP para lojas e supermercados, como se dissesse em seu ho ho ho: "Não se preocupem...tudo está bem...eu sou a bondade e o mundo muda mas eu não. Estarei sempre aqui, uma vez por ano. Rodeado por meus veadinhos e entrando pela chaminé que não existe mais". Papai Noel é o quê? Um santo, um lobista do comercio, um espião da NSA? O mundo está muito mudado.

Até quando? Será que no ano 2050 ainda haverá Papai Noel?

Na época do Estado Novo de Getúlio Vargas, nacionalista e fascistoide, alguns malucos lançaram uma campanha no rádio para substituir o Papai Noel por um outro símbolo: o "Vovô Índio" - um velho silvícola seminu, com peninha na cabeça, que traria presentes para os "curumins" de verde e amarelo. Foi um fracasso total, pois o cinema americano já mandava em nossas cabeças, com o Bing Crosby cantando White Christmas sem parar.

Lembro-me que no Natal, durante as ceias, eu via do meu canto de menino melancólico as ligações frágeis entre parentes, entre tios e primos, as antipatias disfarçadas pelos abraços frios e os votos de felicidades. O destino das famílias fica evidente no Natal. Os pobres se conformando com o tosco prazer dos presentes baratos e os ricos querendo provar que serão felizes a qualquer preço. Canalhas e egoístas o ano inteiro, esfalfam-se para viver uma alegria compulsiva entre gargalhadas solidárias, beijos molhados de vinho e uísque, terminando nas tristes saídas na madrugada, com crianças chorando e presentes carregados com tedio por pais de porre, aos berros de "feliz natal".

Eu olhava aquelas famílias viajando no tempo como um cortejo trôpego, eu via a solidão de primos, das tias malucas, dos avós já calados e ausentes, o eterno presunto caramelado, o peru com apito.

Todo mundo reclama do Natal, repararam? "Ah... porque no Natal aumenta o sentimento de culpa, a gente tem de aguentar a família e os traumas infantis, no Natal eu fico triste porque me separei do marido, o Natal é uma festa influenciada pelos americanos, com Papai Noel enchendo o saco em vez de esvaziá-lo, no Natal a gente engorda muito, comendo aquelas rabanadas e panetones, chega de Natal!"

Todo mundo fala essas coisas mas, de noite, olham com ternura as bolinhas douradas da árvore, comem seus pedaços de peru, dizem que "adoraram o presentinho, coisa pouca, não leva a mal, mas essa caixa de sabonetes naturais é legal, adorei a água de colônia, esse CD não é pirata não?"

Eu já tive carnavais felizes, "sãos joões" felizes, mas não me lembro de uma grande "noite feliz, noite de paz".

E fui o primeiro de minha turminha de subúrbio a desconfiar que Papai Noel era uma fraude. "Papai Noel não existe!" - foi meu grito revolucionário. "Existe sim! Ele me deu um velocípede!" - bradavam os meninos obstinados em sua fé. "Ah, é? Então, fica acordado para ver se não é teu pai botando os presentes na árvore!" Mas meus amigos lutavam contra essa desilusão, mais ou menos como velhos comunas não desistem até hoje do paraíso leninista. Recorri a meu avô, conselheiro e aliado, e ele confirmou e apoiou meu agnosticismo natalino: "Não existe não...Você não é mais neném...".

Daí para a frente, não parei mais. Entrei de sola na lenda da cegonha e do bebê que "papai do céu mandou". "Vocês pensam o quê? As mães de vocês ficam nuas e o pai de vocês bota uma coisa dentro da barriga delas pelo umbigo...!" "A minha mãe, não!" - berravam os jovens édipos, partindo para a porrada de rua comigo. Daí para descrer de Deus foi um pulo, para o horror escandalizado dos colegas do colégio jesuíta. "Deus é bom, padre?" "Infinitamente bom..." "Ele sabe de tudo?" "Sim..." - respondiam os padres já desconfiados. "Então, por que ele cria um cara que depois vai para o inferno?" Até hoje ninguém me respondeu isso.

E assim, fui, até começar meu ódio ao "imperialismo norte americano" dos anos 60.

Hoje, vejo que o Natal perdeu aquela delicadeza antiga, com o fim das famílias nucleares. Em vez do saco de presentes, temos as calamidades coloridas dos shopping centers. Em vez da família reunida em torno do peru, vemos pobres e ricos solitários tentando recriar uma noite feliz nem que seja nos botequins e lanchonetes.

E hoje, mesmo com o futuro cada vez mais ralo, confesso que tenho saudades da precariedade de nossa vida antiga, da ingenuidade dos comportamentos, de um mundo com menos gente louca e má. "Ah! Você por acaso quer a volta do atraso?" - dirão alguns. Não. Tenho saudades retrógradas dos tempos analógicos, do ritmo lento do dia a dia, sonho com uma vida delicada que sumiu, dos lugares-comuns, dos chorinhos e chorões, de tudo que era baldio, dos valores toscos da classe média. E quando chega o Natal, mesmo irritado com os "sinos que bimbalham", tenho a grande nostalgia das tristes ceias de minhas tias, sinto ainda o gosto dos "panetones" e rabanadas transcendentais do meu passado.

Hoje, no presépio de Belém, perto da manjedoura onde o menino Jesus recebeu os reis magos, nos lugares sagrados de Jerusalém, explodem os homens-bomba berrando "Feliz Natal, cães infiéis!".

Querido Papai Noel - ANTÔNIO MÁRCIO BUAINAIN

O Estado de S.Paulo - 24/12

Talvez o sr. nem se lembre da minha carta do ano passado (Estado, 25/12/2012, B2), na qual arrolei vários pedidos, entre os quais ajudar o País a levar a sério a educação e os governantes a respeitarem a população desatendida por serviços públicos de péssima qualidade, que só se explicam pelo descaso das autoridades.

Nesses pontos o sr. não me atendeu. Para mim, a pior notícia do ano é que 50% dos jovens de 15 anos não compreendem o que leem e 2 entre 3 são incapazes de entender porcentuais, frações e de interpretar gráficos simples. Na Matemática, que é a linguagem da ciência moderna, nossos jovens continuam tropeçando nas quatro operações. Quanto à qualidade dos serviços públicos, é melhor não chover no molhado, porque a temporada de chuvas já tem feito grandes estragos, a maioria previsível e evitável, se houvesse pelo menos uma pitada destes ingredientes tão importantes para a democracia: respeito ao povo e receio do seu julgamento. As manifestações de junho chegaram a assustar e nos deram alguma esperança de mudança, mas logo tudo voltou a ser como dantes no quartel de Abrantes.

Confesso que hoje lhe escrevo com sentimentos divididos. Celebramos o pleno-emprego (que é explicado pela baixíssima produtividade do trabalho), a elevação do consumo doméstico e o desempenho da agricultura e do agronegócio, cujas exportações chegaram a US$ 94 bilhões e evitaram o colapso das contas externas. Mas não dá para esquecer que o País não cresceu, que a indústria continua minguando e que mantivemos uma política de remendos, mais voltada para manter a máquina em marcha lenta do que resolver os problemas que restringem o desenvolvimento.

Quando olho para o lado, vejo que o mundo progride muito mais do que nós e que vamos ficando para trás em todas as áreas relevantes. Outro dia li que, em 2012, a China superou os EUA em registros de patentes, com pedidos cem vezes superiores ao número de registros feitos pelo Brasil, e lembrei-me de que há apenas 20 anos nós estávamos à frente e exportávamos inovações para a China. É essa a medida do nosso atraso relativo.

Seria injusto não reconhecer uma mudança que, do meu ponto de vista, foi a melhor coisa que aconteceu no ano em matéria de economia, e que certamente contou com sua intervenção, já que constava da lista de pedidos da minha última cartinha: que o governo federal aceitasse suas dificuldades para enfrentar os desafios da infraestrutura e definisse regras claras e condições adequadas para atrair o investimento privado. Valeu, Papai Noel! Finalmente o governo cedeu, as obras nos aeroportos "concedidos" estão aceleradas, as riquezas do pré-sal serão exploradas, rodovias serão melhoradas, portos modernizados e quem sabe este tardio pacote de investimentos não seja a semente de um novo ciclo de crescimento, agora mais sustentável?

Papai Noel, meu pedido para 2014 é que o sr. nos ajude a ter mais Estado e menos governo. Sei que não é fácil, mas o brasileiro acredita em Papai Noel e temos de manter as esperanças para o ano-novo. Que nossas agências reguladoras regulem de fato os prestadores de serviços e protejam os cidadãos dos abusos diários que são cometidos. Por exemplo, já imaginou se a Anatel assegurasse o funcionamento dos celulares e que a banda larga comprada, paga e prometida fosse de fato entregue aos usuários? E que tal se a Aneel exigisse das distribuidoras de energia, que nos cobram uma fortuna por kw/hora, os investimentos para assegurar um fornecimento estável e que resista às chuvas e trovoadas que, não se sabe por que, insistem em tumultuar a vida do País a cada verão. E se os planos de saúde funcionassem como prometem? E se as políticas públicas fossem executadas pensando mais no cidadão e menos na eleição, a eficiência e os resultados não seriam bem melhores?

Querido Papai Noel, sei que é muito pedido para um Natal só, mas não posso deixar de incluir um último: que o Verdão, que acaba de ser campeão da segundona, volte glorioso para celebrar o centenário com muitos títulos.

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O Estado de S.Paulo - 24/12

Muito criticado por falhas na entrega de produtos e no atendimento ao consumidor, o comércio eletrônico brasileiro parece começar a dar a volta por cima.

Os empresários do varejo "tradicional" dão conta de um Natal relativamente morno. A Confederação Nacional do Comércio (CNC) estima um aumento das vendas de apenas 5% (abaixo da inflação) em relação ao Natal de 2012 (veja o Confira). Enquanto isso, o setor do e-commerce espera ter se expandido perto de 25%.

Esses números parecem indicar certa mudança nos hábitos de consumo. O varejo no Brasil pode estar diante de um fenômeno comum nos Estados Unidos, o "show rooming". É quando o consumidor vai às lojas físicas mais para ver e apalpar os produtos, mas acaba fechando sua compra online, observa Pedro Guasti, diretor-geral da consultoria E-bit, especializada em comércio eletrônico. "Os smartphones estão mais acessíveis e isso permite que o consumidor fique mais antenado, pesquise os preços e questione se determinada oferta lhe convém." Em 2012, foram vendidos 15 milhões de smartphones no Brasil e outros 30 milhões de novos usuários adquiriram celulares com acesso à internet este ano.

O comércio online deve somar R$ 3,8 bilhões neste Natal e encerrar 2013 com faturamento de R$ 28 bilhões, calcula a E-bit (veja o gráfico). As vendas ganharam fôlego com a terceira Black Friday no Brasil, no dia 29 de novembro. "Muita gente aproveitou para antecipar a compra de presentes", diz Maurício Salvador, presidente da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm).

Apesar das denúncias de promoções falsas ("vendas pela metade do dobro do preço"), a Black Friday registrou expansão de 217% nas vendas em relação a 2012, informa a E-bit.

"As lojas se organizaram com antecedência e a Black Friday entrou definitivamente no calendário do varejo eletrônico no País", diz Guasti. Para Salvador, da ABComm, com o atual ritmo, a Black Friday deve se tornar a 5.ª data mais importante para o e-commerce no Brasil em 2014, atrás do Natal, Dia das Mães, Dia da Criança e Dia dos Namorados.

Mas, para manter a onda de otimismo, o varejo eletrônico precisa corrigir muita coisa. Depois do Natal catastrófico de 2010, quando quase todas as redes do e-commerce brasileiro apresentaram falhas na entrega dos produtos, os empresários do setor correram para sanar a imagem arranhada. Trataram de investir em armazenagem e em distribuição. A B2W, por exemplo, que controla grandes lojas como Americanas.com, Submarino e Shoptime, adotou como estratégia a criação de centros de distribuição fora do eixo Rio-São Paulo. Mesmo assim, continuam frequentes as queixas de atrasos e não entrega de mercadorias.

Em 2013, especialmente depois do alto volume de acessos aos sites durante a Black Friday, ficou evidente novo problema: falta de infraestrutura tecnológica para dar conta da demanda. Muitos consumidores não conseguiram fazer suas compras porque os sites ficaram fora do ar ou as conexões caíram antes que o pedido fosse finalizado.


O Golpe de 64 no Natal de 63 - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 24/12

Perus, gatos, golpes e o que diziam os jornais no último Natal antes de o país cair sob a ditadura


"GALINHA VAI à mesa e peru perde reinado", dizia um título desta Folha da véspera do Natal de 1963. O Mercado Municipal vendera 4 perus e 3.500 galinhas. Patos vinham em terceiro lugar. Em segundo, "franguinhos de leite, que os restaurantes chamam de galeto ao primo canto'".

No dia de Natal, a primeira página contava a história de um trio de mecânicos da Baixada Santista, acusados por um vizinho de aliciar, capturar e comer seu "belo gato preto", que fora assado "numa cantina local". Os acusados admitiam comer gato com frequência, embora negassem o furto.

No ano que vem, o Golpe de 64 faz, óbvio, 50 anos. Nas "festas" de 63, do que se falava nos jornais do país que em três meses assistiria a um golpe de Estado?

Falava-se de golpe e de naufrágios mortíferos; patos e gatos à margem.

Falava-se de golpe com uma sem-cerimônia que hoje soa muito sinistra. A leitura parece agourenta mesmo levando em conta que golpes etc. eram então "coisas da vida". Getúlio, deposto, dera um tiro no peito apenas nove anos antes. JK quase não assumiu e governou sob "intentonas". João Goulart foi "semideposto" antes de conseguir assumir o governo.

Nos textos, discutia-se abertamente se esquerda ou direita dariam o golpe; quem agradava a tal ou qual general. A conversa comum era sobre a ambivalência, a indecisão e a tibieza de Goulart.

Goulart estava para nomear um "ministério das reformas" ("esquerdistas") em janeiro. Anunciara a nacionalização de empresas estrangeiras de serviços públicos e desapropriações de terras.

Numa coluna com uma seleta de opiniões de outros jornais, lia-se: "O desafio totalitário feito pelo presidente, que declarou guerra ao Brasil..."; "o governo se encontra definitivamente nas mãos das esquerdas. Um passo apenas nos separa da ditadura, e Goulart está impaciente para dá-lo"; "governo caminha para a aventura extralegal, modelo 1937".

Numa longa mensagem de Natal, kitsch e carola até para a época, Adhemar de Barros, governador paulista, orava: "Preservai, Senhor, nosso país da sanha dos Sem-Deus, da loucura dos materialistas que nos querem impor seu jugo impiedoso".

A mensagem natalina de Goulart dizia: "É preciso que o pobre coma sem amargura para que o rico viva sem sobressalto. A distância entre um e outro deve ser encurtada...".

Adhemar articulava com Magalhães Pinto, governador de Minas, uma "união em prol da democracia" (conspiravam ainda com Carlos Lacerda, governador da Guanabara); discutia uma dobradinha com Magalhães Pinto na eleição presidencial de 1965, que não haveria.

A inflação era assunto geral, até de sarcasmos do colunista social. O novo e DÉCIMO ministro da Fazenda de Goulart dava entrevista confusa sobre seu "decálogo" econômico.

Noticiava-se um editorial do "Times", de Londres, sobre a estagnação e a inflação do Brasil, um país que dera saltos por 25 anos e chegara ao posto de 11ª economia do mundo, agora em crise por má gestão e pela "divisão na sociedade".

Seguindo o conselho de um doutor americano, um texto recomendava-se a donas de casa que não ligassem eletrodomésticos barulhentos quando os maridos estivessem em casa, pois o ruído causaria úlceras em homens cansados.

Luta contra a pobreza - RUBENS BARBOSA

O GLOBO - 24/12

R$ 70 por mês é insuficiente para compra de alimentos



Segundo recente estudo da Cepal, a redução do crescimento da economia tem reflexos claros na taxa de pobreza, apesar de os indicadores de geração de emprego serem positivos. O percentual de pobres, que era de 29,6% em 2011, recuou apenas 1,4% em 2012, passando a 28,2% da população. A Cepal adverte que a pobreza tende a perdurar mesmo que se mantenham programas de transferência de renda porque os governos da região não estão suficientemente empenhados em enfrentar deficiências graves, como saneamento básico, falta de água potável e educação de baixa qualidade, fatores que impedem a melhoria de vida dos cidadãos.

Isso deveria ser um alerta ao Brasil, que, embora esteja desenvolvendo inúmeros programas visando à diminuição da desigualdade de renda, não parece poder contar com altas taxas de crescimento nos próximos anos.

No Brasil, segundo dados oficiais, o retrato socioeconômico, que considera escolaridade, acesso a bens, composição familiar e região, indica que ainda há mais de 16 milhões de brasileiros vivendo abaixo do nível de pobreza. A eliminação ou a sensível redução desse problema, no entanto, parece menos difícil do que na China e na Índia.

Durante a campanha presidencial de 2010, um dos principais pontos programáticos da candidata Dilma Rousseff, foi a eliminação da pobreza absoluta. Isso significa que até 2014 não deveria haver ninguém vivendo com menos do que R$ 70 por mês. Trata-se de uma ideia-força, de difícil realização dada a magnitude da questão, e um desdobramento natural do programa de inclusão social iniciado no governo FH e ampliado no governo Lula.

Ninguém contestará que R$ 70 por mês é ainda valor muito baixo para considerarmos que a pobreza está superada, até porque esse valor é insuficiente para a compra de alimentos da dieta minima recomendada pelo próprio governo federal.

No primeiro ano de governo Dilma, foi lançado o programa Brasil sem miséria, que tem no programa Bolsa Família ampliado um dos seus principais instrumentos. Recentemente, após um reajuste do Bolsa Família, o governo anunciou que teria havido redução de 40% da pobreza extrema. Como um reforço importante, o atual governo passou a contar com o apoio do Banco Mundial para a ampliação da cooperação no combate à pobreza e à execução do programa Brasil sem Miséria.

O combate à pobreza não se reduz a uma única atividade de transferência de renda, mas a um conjunto de ações governamentais, em múltiplas áreas como educação e saúde. É isso que se espera do governo. Jeffrey Sachs, em seu livro “O fim da pobreza, como acabar com a pobreza mundial nos próximos anos”, afirma que para isso “serão necessárias ações coordenadas dos países ricos e pobres, a começar por um pacto global”. A ONU propôs a criação de taxa internacional para levantar US$ 400 bilhões por ano para combate à pobreza. Medidas como essa, parte desse pacto global, estão cada vez mais difíceis, sobretudo agora, pelos problemas enfrentados pelos países desenvolvidos com a crise econômica global.

Distribuição de energia estrangulada - CLAUDIO J. D. SALES e EDUARDO MÜLLER MONTEIRO

CORREIO BRAZILIENSE - 24/12

A atitude precipitada do governo, em 2012, com o objetivo de antecipar uma simpática redução da tarifa de eletricidade tem sido progressivamente desmontada por leis físicas e econômicas que não aceitam artificialidades impostas por canetadas de políticos. O leilão de 17 de dezembro para contratação de energia proveniente de várias usinas para atender ao mercado das distribuidoras de eletricidade (o chamado Leilão A-1, jargão que se refere a leilões que precisam ser feitos com antecedência de um ano em relação à data da entrega de energia às distribuidoras) não interrompeu o drama financeiro em que o governo colocou as concessionárias.

A Medida Provisória nº 579/2012, editada em 11 de setembro de 2012 e depois convertida na Lei nº 12.783/2013, tem feito por merecer o apelido de "September 11 do setor elétrico", em triste referência à tragédia das torres gêmeas de 2001. Dez anos após o episódio americano, a implementação truculenta da MP - que antecipou o vencimento de concessões de geração e transmissão de eletricidade -, impôs reduções tarifárias e grande perda de valor às empresas do setor elétrico. Apesar do desastre para as empresas geradoras e transmissoras, aparentemente estava tudo ótimo para o consumidor de energia, que ficou feliz em ouvir a presidente da República anunciar que teríamos uma conta de luz 20% mais barata. Mas apenas parte da história foi contada...

A impropriedade da medida provisória ficou evidente quando, contando com adesão total das usinas à MP nº 579, o governo cancelou o Leilão A-1 de 2012, que comercializaria a energia de contratos vincendos em 2012. Esse cancelamento foi desastroso para as distribuidoras, que têm nos leilões regulados pelo governo a única forma de atendimento a seus consumidores. Como a adesão não foi integral, as distribuidoras ficaram involuntariamente expostas e tiveram que comprar energia no mercado de curto prazo a preços elevados, devido aos baixos níveis dos reservatórios hidrelétricos.

O mesmo fenômeno acaba de se repetir em 2013. Permanecerá a chamada "exposição involuntária" das distribuidoras, que precisarão pagar por uma energia mais cara para suprir seus consumidores ao longo de 2014 e receberão os valores de volta de forma defasada e em 12 parcelas.

As estimativas de mercado apontavam para uma demanda das distribuidoras de 6 mil MW médios, que deveria ter sido atendida no Leilão A-1, de 17 de dezembro, mas foram contratados apenas 2,5 mil MW médios a um preço médio ponderado de R$ 177/MWh. Isso significa que os 3,5 mil MW médios não contratados precisarão ser obtidos no mercado de curto prazo pelas distribuidoras, cujo preço atual é da ordem de R$ 300/MWh. O sobrecusto dessa descontratação é estimado entre R$ 4 bilhões e R$ 5 bilhões, valor que será arcado de forma defasada pelos consumidores.

Se o governo tivesse conduzido a renovação de concessões de forma menos politizada e mais articulada, não teria exposto as distribuidoras e os consumidores a esses custos adicionais que serão pagos a partir de 2014, em pleno ano eleitoral. Se a renovação tivesse sido menos eleitoreira, o Tesouro Nacional não precisaria estar improvisando mil e uma formas para cobrir o descasamento entre receitas e custos das distribuidoras, descasamento que já ultrapassou os R$ 7 bilhões em 2013.

As 63 distribuidoras de eletricidade precisam investir bilhões todos os anos, têm na tarifa sua única fonte de receita e não podem seguir com um cenário de imprevisibilidade de custos que não são gerenciáveis por tais concessionárias. De acordo com os contratos de concessão e com o atual modelo setorial em vigor, implementado via Lei nº 10.848, de 2004, a energia contratada deveria ser apenas um repasse com neutralidade econômica e financeira para as concessionárias de distribuição.

No entanto, por causa dos atropelos governamentais de 2011, tais custos estão se tornando um fardo financeiro insuportável para as distribuidoras, um sobrepeso para o Tesouro Nacional e uma bomba-relógio tarifária para os consumidores. Artificialidade tem perna curta. É preciso que o governo recalibre suas lentes para a ameaça de estrangulamento que se coloca sobre a distribuição de energia elétrica e trabalhe para garantir, com urgência, mecanismos que restabeleçam o equilíbrio econômico-financeiro das concessões.