sábado, novembro 09, 2013

Periferia como centro - ZUENIR VENTURA

O GLOBO - 09/11

O que esses jovens estão fazendo pela afirmação da ‘cultura periférica’ é admirável. Como os companheiros de outras partes, estão unindo a cidade partida



Aprofessora Heloísa Buarque foi quem detectou o fenômeno, que pode ser chamado de “invasão cultural do centro pela periferia”. Isso acontecia de outras maneiras, como, por exemplo, com os serviços: porteiros de edifícios, empregadas domésticas, garçons de restaurantes, motoristas, babás de nossos filhos são em geral oriundos da parte de cima ou de fora da cidade.

Os morros sempre foram produtores de arte, e uma das maiores festas populares do mundo, o carnaval, é organizada e realizada por seus moradores. Nos anos 50 e 60, artistas e intelectuais procuraram “dar vez ao morro”, como Vinicius de Moraes, Tom Jobim, Carlos Lira, o pessoal do Centro Popular de Cultura, da UNE, e do Teatro Opinião. A novidade agora é que a periferia não quer mais que se fale por ela, não quer ser tema, quer ser a própria voz. E já é, graças ao trabalho de agentes socioculturais como José Junior, do AfroReggae; Guti Fraga, do Nós do Morro; Celso Athayde, da Central Única das Favelas; MVBill, do documentário “Falcão, meninos do tráfico”; Jaílson de Souza, do Observatório de Favelas da Maré; Ecio Salles, autor do livro “Poesia revoltada”, entre outros.

Inspirada na Flip (Festa Literária de Paraty), a periferia resolveu também fazer as suas, e assim, no ano passado, surgiu a Flupp, Festa Literária das UPPs, agora Festa Internacional das Periferias, e a Flidam, Festa Literária da Diáspora Africana de São João de Meriti. Esta semana, participei da Flizo, Festa Literária da Zona Oeste, que se desenrolou em vários pontos da região durante quatro dias. Com dois intelectuais locais, Binho Cultura e Alexandre Damascena, participei da mesa de debates “Invertendo a lógica da cidade partida”, em Bangu. A “viagem” mostra como a nossa imobilidade urbana castiga mais quem já mora longe. O trajeto é para ser feito em uma hora e pouco, mas pode-se levar, como levei, duas horas e 15 minutos, o equivalente a um voo de ida e volta a SP.

Era um fim de tarde ao mesmo tempo triste e de celebração. Dias antes, um tiroteio no Fórum do bairro matara, além de um PM, o menino Kayo, de 8 anos, que saía do treino na escolinha de futebol do Bangu vestindo o uniforme esportivo do clube em cuja sede acontecia o nosso encontro. Em cada fala, cada olhar, notava-se o luto pela perda, mas também as queixas contra a violência urbana e a ausência de segurança. Aquela tragédia, por exemplo, poderia ter sido evitada. “Onde estavam os órgãos de inteligência e os de repressão?”, estranhou depois a própria presidente do TJ.

Por outro lado, era um momento de celebração da arte. Ao longo de quatro dias, o evento promoveu leituras dramatizadas, exibição de filmes, apresentação musical, espetáculo teatral e uma homenagem a José Mauro Vasconcelos, filho dali e um dos maiores best-sellers que o país já teve. A Flizo já é um sucesso. O que esses jovens estão fazendo pela afirmação da “cultura periférica” é admirável. Como os companheiros de outras partes, estão unindo a cidade partida.

A sério - RUY CASTRO

FOLHA DE S. PAULO - 09/11

RIO DE JANEIRO - Olhei e vi. Dentro de uma caixa de vidro no Museu do Cinema, em Frankfurt, uma pilha de latas de filme. Ao lado, uma placa com a inscrição: eram os rolos originais de "Tystnaden", de Ingmar Bergman. Nem pisquei: "Tystnaden", de 1963, chamou-se no Brasil "O Silêncio" e ficou famoso por levar anos proibido. Liberado em 1965, viu-se que não tinha nada demais --um ou outro incesto ou lesbianismo, aquelas coisas de filme sueco.

Os meninos da Geração Paissandu --um cinema de arte no Flamengo, nos anos 60-- só tratavam os filmes pelos títulos originais. Ninguém diria "Um Corpo que Cai", de Hitchcock, quando podia dizer "Vertigo", nem contava vantagem por isso. Os de Bergman, todos sabiam: "Noites de Circo" era "Gycklarnas Afton"; "Sorrisos de uma Noite de Amor" era "Sommarnattens Leende"; e "Morangos Silvestres", "Smultronstället".

Mais difíceis eram os japoneses --"Contos da Lua Vaga", de Mizoguchi, era "Ugetsu Monogatari"; "Harakiri", de Kobayashi, era "Seppuku"; e "Homem Mau Dorme Bem", de Kurosawa, era "Warui Yatsu Hodo Yoku Nemuru". Com pronúncia certa ou errada, era como chamávamos os filmes.

Além disso, títulos em português eram um perigo. Um dia alguém se referiu a "Prima della Rivoluzione", do Bertolucci "Antes da Revolução", como "A Prima da Revolução". Que gafe! Era como chamar "Les Cousins" --"Os Primos", de Claude Chabrol-- de "Os Cuzinhos". Ou "Les 400 Coups" --"Os Incompreendidos", de Truffaut-- de "Os 400 Cus".

Nunca pensamos que, no futuro, os tradutores intitulariam --a sério-- "After Hours" (tarde da noite), de Scorsese, como "Depois de Horas"; "The Day After Tomorrow" (depois de amanhã), de Roland Emmerich, como "O Dia Depois de Amanhã"; e "Whatever Works" (qualquer coisa que dê certo), de Woody Allen, como "Tudo Pode Dar Certo".

GOSTOSA


Que árvores existem na Amazônia? - FERNANDO REINACH

O Estado de S.Paulo - 09/11

Quantas espécies de árvores existem na Amazônia? Você não sabe? Não se preocupe, porque ninguém sabe. Mas agora cientistas obtiveram uma primeira estimativa. São aproximadamente 16 mil espécies. Essa descoberta veio com uma surpresa. As 227 espécies mais frequentes são responsáveis por 50% de todas as árvores presentes na região.

Mais de uma centena de cientistas se juntaram para estudar 1.170 quadrados de mata espalhados pelos 6 milhões de quilômetros quadrados de florestas que compõem a região amazônica. Cada um desses quadrados de 100 por 100 metros (o tamanho de um quarteirão) foi vasculhado palmo a palmo. As árvores foram contadas, identificadas e classificadas (a definição de árvore usada pelos cientistas é qualquer planta com um tronco com mais de 10 centímetros de diâmetro). Dado o tamanho da amostra, e a distribuição desses quadrados por toda a região, os cientistas acreditam que esses dados são suficientes para inferir a real biodiversidade de árvores presentes na região.

Nos 1.170 quadrados foram identificadas e classificadas 639.639 árvores, o que indica que na Amazônia a densidade média é de 565 árvores por hectare e o total de árvores existente na região é de 3,9 x 1011. Isso equivale a mais de 50 árvores por habitante do planeta Terra (somos aproximadamente 7,1 x 109 pessoas). Se cada um de nós derrubar uma árvore por dia, em menos de 2 meses liquidamos a floresta.

Nessa amostra de 639.639 árvores foram identificadas 4.962 espécies. O resultado mais surpreendente foi a distribuição das diferentes espécies. As 227 espécies mais abundantes da floresta representam 50% de todas as árvores presentes na amostra. As outras 4.750 espécies representam os outros 50% da amostra.

Em seguida, os cientistas organizaram as 4.962 espécies por ordem de representatividade na floresta. Para tanto, colocaram no eixo vertical de um gráfico a quantidade de indivíduos de cada espécie, e no eixo horizontal a posição da espécie no ranking de representatividade. Esse gráfico permite extrapolar uma reta que cruza o eixo horizontal na espécie de número 16 mil. É com base nessa extrapolação que os cientistas acreditam que devem existir aproximadamente 16 mil espécies de árvores nesse ecossistema. Esse número é muito parecido com o número de 15 mil espécies estimado por diversos outros métodos.

A distribuição desigual de espécies significa que, apesar da grande biodiversidade de árvores, um número pequeno de espécies é responsável por grande parte de todas as árvores, enquanto as outras espécies possuem poucos exemplares na região.

Essa desigualdade é enorme: 227 espécies cobrem 50% da floresta, 5.853 espécies cobrem 49,88% da floresta e as restantes 10 mil espécies cobrem 0,12% da floresta. Isso significa que as 6 mil espécies menos frequentes na Amazônia são extremamente raras. Os cálculos feitos pelos cientistas indicam que provavelmente elas possuem menos de 1 mil indivíduos em toda a região amazônica.

Essa descoberta tem implicações importantes para os estudos da região amazônica. Como grande parte da floresta é composta por um pequeno número de espécies, os cientistas acreditam que a floresta é provavelmente muito menos resistente às mudanças ambientais do que se imaginava. Se o ambiente se tornar desfavorável para uma fração das espécies dominantes, grande parte da floresta desaparece.

Além disso, a baixa frequência das espécies mais raras (com menos de 1 mil indivíduos em toda a região) torna praticamente impossível fazer um levantamento completo de todas as espécies presentes na região. É provável que muitas dessas espécies desaparecerão muito antes de serem identificadas.

Esse estudo é um bom exemplo do pouco que sabemos sobre a biodiversidade da Amazônia. Tal como a caixinha de Pandora, a floresta é cheia de surpresas.

Ele ainda está mal - ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR

FOLHA DE SP - 09/11

Em uma autobiografia cáustica, o cantor Morrissey decide contar sua história --e bota "sua" nisso


Um senhor inglês de Manchester, chamado Steven, 54 anos, topete insistente sobre cabelos cada vez mais escassos, camisas justas comprimindo a barriga, é autor da maior prova de que as biografias não autorizadas deveriam não só ser permitidas, mas obrigatórias.

Steven, claro, é Steven Patrick Morrissey, vocalista e compositor da banda fundamental dos anos 80, os Smiths, dono também de uma carreira solo tumultuada, mas de enorme sucesso. Cantou e compôs, como ninguém, as dores dos solitários, dos que sofrem de inaptidão para a vida.

Morrissey, esse seu nome artístico, também é conhecido pelas atitudes duras e por um temperamento impossível.

Mas não é bem esse o Morrissey que emerge de um livro recém-lançado nos países de língua inglesa, cujo nome já diz tudo: "Autobiography".

Em uma sequência nem sempre conexa de eventos, "Autobiography" apresenta Morrissey como eterna vítima de desprezo e de complôs --dos colegas de banda, da Justiça, da imprensa, das gravadoras, de empresários incompetentes. Cada um desses, o autor pulveriza com brutal causticidade.

Sim, ele resolveu contar sua história. E, em nenhuma biografia recente, o pronome possessivo "sua" teve tanta força.

Não há divisão em capítulos, nem índice onomástico, nem preocupações cronológicas. Fica a impressão de que Morrissey sentou-se por alguns dias e escreveu a esmo sobre sua vida, conforme ia se lembrando.

Sabe-se lá com quais estratagemas, Morrissey conseguiu que o livro saísse pela coleção "Penguin Classics", que, como o nome indica, dedica-se a grandes obras da filosofia e da literatura, de Aristóteles a Hannah Arendt, passando por Charles Dickens, Edgar Allan Poe e Primo Levi. Deve ser o único autor vivo da série.

Fruto de caprichos, instrumento para pequenas e grandes vendetas, "Autobiography" seria, então, uma obra desprezível? Longe disso.

Morrissey escreve tão bem, tem um domínio tão completo do ritmo da língua, do "turn of phrase", como se diz em inglês, que "Autobiography" é uma leitura, na maior parte, agradável e iluminadora.

O maior obstáculo são as primeiras páginas, de lembranças da infância, com minúcias de dezenas de séries de TV por que ele era obcecado.

O livro melhora muito quando começa a falar de música. Ao abordar sua banda preferida, os punks "avant la lettre" New York Dolls, Morrissey produz análises ricas. "As canções dos Dolls tratam da vida acontecendo contra nós --nunca com ou para nós." "Os Dolls eram o cortiço de todos os fracassos, não tinham nada a perder e mal conseguiam diferenciar entre noite e dia."

David Bowie, outra de suas paixões, aparece muito. Desde quando Morrissey, aos 13 ou 14 anos, matava aula para acompanhar as passagens de som do ídolo, até o Morrissey já consagrado, que percebe a estratégia de Bowie de se aproximar de quem quer que esteja na moda e descreve o músico mais velho como alguém "que se alimenta do sangue de mamíferos vivos".

Os Smiths são o foco da parte mais tediosa --ou mais reveladora, depende do referencial. É quando Morrissey remói o julgamento que o opôs a Mike Joyce, o baterista da banda. Nove anos depois da separação, Joyce decidiu reivindicar 25% dos direitos autorais, em vez dos 10% que ganhava.

Joyce venceu. A sentença do juiz John Weeks foi especialmente dura com Morrissey, chamado de "desonesto, truculento e indigno de confiança".

Aconteceu em 1996, mas o autobiógrafo não engoliu até hoje. E gasta cerca de 15% de "Autobiography" em diatribes contra os outros ex-Smiths e o sistema judicial. Maldades literárias de alta qualidade, mas um teste da paciência para o leitor.

Já perto do fim, mais um impiedoso ritual de vingança. A vítima agora é Julie Burchill, romancista, jornalista, ex-crítica de música, conhecida pelo raciocínio rápido e pela acidez. Morrissey encontra seu igual. E pratica uma evisceração da oponente.

Julie, que está fazendo uma entrevista com o cantor, é chamada de "cabra velha", e acusada de se vestir "como uma conselheira espiritual".

E mais: "Deus interrompeu a formação correta de seu corpo"; "tem as pernas lamentáveis do fim da meia-idade"; "seu corpo nu provavelmente é capaz de matar plânctons marinhos no mar do Norte".

Como se vê, Morrissey usou "Autobriography" para acertar contas com o mundo e seus tantos inimigos. Fez isso sem amarras, aparentemente sem um editor, com estilo, à sua maneira. "Auto", sem dúvida. Mas biografia?

Novela! César é pai dos beagles! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 09/11

A Dilma vai contratar um espião português. 'Meu nome é Bond. James Bond'. 'Meu nome é Kim. Joaquim'.


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! E um amigo com colesterol fazendo supermercado: "Posso, mas não gosto". "Posso, mas não gosto". "GOSTO, MAS NÃO POSSO!".

E um leitor me disse que o Maluf não vai morrer: vai transitar em julgado. Rarará! E adorei a charge do Pelicano com os malufistas se desintoxicando. Deve ser a AMA: Associação dos Malufistas Anônimos: "Meu nome é Walter! Eu também fui eleitor do Maluf por vários anos". Eu acrescento essa: "Meu nome é Natália! Eu também fui eleitora do Maluf por vários anos. Mas já superei: votei no Russomanno". Rarará.

E o Maluf lançou sua biografia: "Ele". Mas os advogados de defesa acharam melhor mudar o nome para "Não Foi Ele". Rarará!

E as prostitutas mineiras? Minas sempre na vanguarda. Tô adorando essas prostitutas mineiras que já aceitam cartão de débito e crédito. É o Xotacard. Ou Cartão Fodalidade. Rarará. E não se esqueça: beijo na boca, só no débito! E em vez de rodar a bolsinha, estão rodando as maquininhas! Rarará!

E essa: "Justiça manda Alckmin refazer ação contra a Siemens". Evidente! O Alckmin processando a Siemens é a mesma coisa que o Maluf processando as construtoras que o deixaram rico. Ou como disse um amigo: "O Alckmin processar a Siemens é como se a minha mulher pegasse marca de batom na minha cueca e eu processasse o puteiro". Rarará!

E atenção! Espionagem e contraespionagem! Diz que a Dilma vai contratar um espião português, o Joaquim. "Meu nome é James. James Bond". "Meu nome é Kim. Joaquim". Rarará! Usa jaqueta, boné, óculos escuros, tem crachá e faz carnê nas Casas Bahia. E no item profissão escreve: espião.

E espião bom é aquele que desceu no aeroporto, tomou um táxi e o taxista: "Para onde o senhor vai?". "JAMAIS SABERÁ!". Rarará.

E eu já disse que o Planalto não precisa de espião porque o Mantega já é a cara do Agente 86! E o sapato é da Dilma! Rarará!

É mole? É mole, mas sobe!

E a novelha "Amor à Vida"? "Amor à Bimba"! Uma amiga disse que o César é pai da Nicole, da Natasha, dos beagles do Instituto Royal e do Rei do Camarote! O César é pai dele mesmo! Eu acho que também sou filho do César! Eu sou um beagle! Rarará!

Nóis sofre, mas nóis goza! Hoje, só amanhã!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Droga - ARNALDO BLOCH

O GLOBO - 09/11

Madamas de Zona Sul acham “tudo” aquilo que é nada, e adoooooooram qualquer coisa que o outro diga, desde que não se aporrinhem com o ato de pensar


Que droga. O quê? Quase tudo o que se consome. Bens que são maus. Substâncias sem substância. Palavras vazias. Pensamentos vãos. Fica aí a sociedade bradando contra os flagelos da maconha, do pó, do crack, enquanto o álcool é abençoado como o fruto bíblico da vinha transcendental, combustível das festas da vida, ao passo que jovens e velhos se entocam para gozar jogos de morte no videogame e reger orquestras no controle remoto do Wii como loucos ciclotímicos que nunca ouviram música decente.

Entopem-se de pizzas saturadas de gordura velha e gritam de alegria. Tomam 30 xícaras plásticas de café e xingam o semelhante com surtos de ansiedade. Compram imóveis do tamanho do céu e ostentam a morada para borra-botas, o dinheiro jorrando da bunda como se fosse néctar. Comem hambúrgueres com picles de jiló como se fossem bolsas Prada e cobram tubos por falsificações de sofisticação. Drogas.

Tomam Rivotril, e o Rivotril vira capa de revista como salvação da honra e do glamour no mundo da ilibada competição enquanto comem o fígado alheio e escarram pétalas de ouro folheado. Consomem informação de última linha e engolem a rodo textos indigentes de analfabetos funcionais profissionalizados como senhores da informação.

Que droga. Desdenham do transporte público, que é uma droga em si, e estofam-se em carros entupidos de impostos para se sentirem donos de seu espaço individual, e mandam a mãe do sujeito emparelhado no sinal catar as conchinhas do inferno, abrigados na prepotência que nasce da impotência.

Madamas de Zona Sul acham “tudo” aquilo que é nada, e adoooooooram qualquer coisa que o outro diga, desde que não se aporrinhem com o ato de pensar. Resumem suas vidas e sua personalidade a meia dúzia de determinismos astrológicos, lançando ao lixo quaisquer outras considerações sobre a natureza humana que não se relacionem com sua ilusãozinha de massa sobre a influência de planetas caducos e constelações ultrapassadas, enquanto a ciência vira sinônimo de superstição.

Que droga. A Coca Zero borbulhando a estupidez de cada dia. A polêmica da vez derivando em fla-flus imbecilizados que nada aprofundam e mantêm a reflexão na superfície da espuma estúpida da alienação. Uma polêmica por semana. Polêmica. Polêmica. A última. A atual. A próxima. A última droga da rede. A penúltima frase idiota rsrsrs kkkkk smile smile smile.

A História. Que História? O presente. Carpe diem é uma droga. Viver o quê? O dia mal nasce e já morre de velho e igual a ontem e amanhã. Futuro? Uma droga. Droga de mundo pros filhos e pros netos, então pra que melhorar? Salvar a própria droga para maiores coeficientes de gozo mínimo até o fim do dia.

Contexto? Uma droga. Texto? Uma droga. Ler só o título. O sub no máximo. Ver a foto. Uma foto vale por zero palavra. Pra que palavra? Sensação. 3D. 4D. 5D. O diabo a quatro. Deus em qualquer dimensão delirante. Tarô cabala cabou a consulta, manda a grana. Real. Droga. Vale quanto? Juro que os juros vão cair, subir, sumir, desde que a opção acomode minhas commodities na mesa de roleta mundial.

Mundo? Droga. Parem, não parem, quem gira e quem para é o ser que nunca foi nem será. O que será que será? A vida dos outros? A privacidade alada dos anjos da arte? A privacidade da presidente que privatiza a vida privada do povo?

Povo? Droga. Quem pensa nele? Povo é massa, meu. Droga de manobra. Vai à rua, vai pra casa, cala a boca e vê TV. Viva o Pré-Sal. Droga. Pó velho de fantasma de fóssil que entope o ar de fumaça preta de morte. O Maraca é nosso. Droga. Padrão Fifa, tudo igual, tudo será como ainda nem foi. Seleção. Droga. Felipão cinismo na veia. Olimpíadas piadas de salão oval Obama na tumba.

Chocolate. Droga. TPM para todos. Homens de TPM. Mulheres de pau duro. Homens de quatro desculpando-se do falocentrismo milenar.

Água de coco. Droga. Cocô no bueiro do Leblon. Simulacro de coco em barezinhos palácios palafitas retrofitadas, choque de desordem intelectual, estupro material e mental na ordem do dia da rede.

Eventos. Droga. Cinco eventos por semana. Moda moda rock dinossauro feira casa marketing workshop quantum dos espíritos. E o tempo pra respirar? Respirar sem evento. O evento é a vida, o sol, o mar, o amor. Cadê a vida? Cadê o amor? Cadê o ar? Droga de ar morto. Fedor no mármore. Empáfia no STF. Alianças. Droga. Balcão de negócios. Ideolofagia. Fagoesquerdodireitocentrismo. Patofisiologia. Saudades da patafísica. Metalinguagem involuntária no traseiro das nações. Imperativo cagatórico.

Onde fica a Conchinchina? Qual o mapa de Pindamonhangaba? Quantas infâmias cúbicas para se voar do Oiapoque ao Chuí? A casa da mãe Joana está no Google Maps? A casa do catso tem GPS? Um chalezinho chulé de mil dólares resolve o furor uterino das consciências? Um álbum de modelos no hotel 5 estrelas aplaca um crime de ódio?

Sistemas de cota para o inferno. Esvaziar o mundo. Ação afirmativa rumo ao paraíso. Seleção natural do animal moral vai ter candidato? Que vença o mais forte. Império da droga: homo sapiens no poder do universo utópico. A gente vai levando. A gente vai lavando a droga civilizacional. Reciclando o lixo final.

Droga.

A "ESPANTALHA" DO PLANALTO


Sem favoritos - ANDRÉ GUSTAVO STUMPF

CORREIO BRAZILIENSE - 09/11

A presidente Dilma Rousseff aparece bem situada nas pesquisas de opinião. Bom sinal para ela. Mas, feliz ou infelizmente, tudo muda, tudo passa. O que é certo hoje é errado amanhã. As manifestações de junho passado pegaram o governo de surpresa e derrubaram várias reputações. Algumas delas não mais se recuperaram. A chefe do governo brasileiro ganharia a eleição contra Marina Silva com alguma dificuldade, contra Aécio Neves com mais facilidade e contra Eduardo Campos por larga margem.

Isso é o que indica a pesquisa realizada pela CNT, por meio do instituto MDA. Foram entrevistadas 2.005 pessoas, em 135 municípios de 21 unidades da Federação, das cinco regiões, entre 31 de outubro e 4 de novembro. A margem de erro da pesquisa é de 2,2%. A pesquisa indica também que a inflação é o item mais perturbador. O eleitor teme a escalada de preços. E os mais velhos ainda se lembram da hiperinflação da época do governo Sarney, quando o produto aumentava de preço no trajeto entre a prateleira e o caixa do supermercado.

O cenário é esse mesmo e a pesquisa agrega como fato novo a informação de que a candidatura de Marina Silva distribui votos pelos três lados dessa equação política. Seus eleitores não migram automaticamente para Eduardo Campos. Eles se dispersam pelo cenário eleitoral. A questão econômica, no entanto, preocupa mais o governo do que a maioria da população. Existem preços que estão artificialmente congelados, como é o caso da gasolina. Situação que está estrangulando a Petrobras no momento em que ela precisa investir. O pessoal da área econômica sabe o que está escondendo. O eleitor ainda não percebeu.

Liberar os preços de gasolina e óleo diesel significará um salto na inflação que já está alta, roçando os 6% ao ano. As contas nacionais estão fora do prumo. O governo gastou demais, arrecadou de menos e a dívida interna aumentou. O Fundo Monetário Internacional já emitiu sinais de que as coisas não estão bem nessa área. A indústria brasileira está em ritmo de feriadão. Não cresce. Estacionou. As exportações brasileiras caíram significativamente. As importações explodiram. O deficit de balanço comercial, conversa dos anos 1980, voltou ao cardápio da discussão nacional.

Além da inflação, 59,6% dos entrevistados declararam estar muito preocupados com a possível perda de emprego; 63,4%, com dívidas pessoais; e 73,4%, com o custo de vida. Transporte urbano é motivo de muita preocupação para 54%. O Programa Mais Médicos faz sucesso: tem 84,3% de aprovação. Já 53,8% dos ouvidos acham que é necessário fazer uma reforma política e 83% estão preocupados com a corrupção. O setor que mais precisa de melhorias, na opinião de 87,4% dos entrevistados, é a saúde, e 91,5% estão preocupados com a violência.

A soma de tantos medos vai resultar numa disputa eleitoral mais difícil do que sugerem as primeiras pesquisas. A presidente Dilma Rousseff trabalha com marketing muito afiado. Está todos os dias nas primeiras páginas dos jornais. Importou mais de 6 mil médicos estrangeiros - a maioria de cubanos - e os encaminhou, mesmo sem revalidar o diploma, para as comunidades mais carentes. E viaja sem parar. Inaugura o que vê pela frente. Dá entrevista para emissoras de rádio, porque sabe que a vida é um assunto local. A entrevista dela à rádio da cidade repercute durante toda a semana. É tema até na missa.

Aécio Neves ainda não se acertou com José Serra. O paulista não admite a possibilidade de ficar fora da disputa presidencial. Ele se acha o mais qualificado para exercer o cargo. Mas perdeu duas vezes. E o mineiro, que foi deputado, governador e agora é senador, sabe que seu momento é agora. Ele pode perder a eleição e continuar no Senado, onde ainda dispõe de mais quatro anos de mandato. É o momento de se colocar diante de todo o Brasil e explorar as falhas da administração petista. Além disso, o julgamento do mensalão estará nos capítulos finais no primeiro semestre de 2014.

Os dois candidatos de oposição dispõem de uma avenida de oportunidades para explorar as fragilidades da administração. Eduardo Campos terá que se acertar com Marina Silva. Quem, afinal, será o candidato? Aécio precisa de um bom vice. Vencer bem em Minas e avançar bastante em São Paulo. Todos os candidatos têm chance neste momento. Quem trabalhar melhor as alianças e tiver um discurso nítido, baseado nas deficiências nacionais, terá êxito. Sob esse aspecto, agora, não há favoritos.

A guerra contra as mulheres - ROSISKA DARCY DE OLIVEIRA

O GLOBO - 09/11

Aqui 50 mil mulheres são violadas por ano, e a sociedade assiste em silêncio



A história das mulheres é um longo percurso de lutas contra a humilhação e a brutalidade, escrevi há 30 anos. Não pensei que voltaria a escrever. Tudo parecia indicar que a sociedade brasileira saíra da Idade da Pedra com seus Brucutus arrastando as mulheres pelos cabelos e possuindo-as no melhor estilo animal.

Ilusão. A história das mulheres continua marcada pela humilhação e a brutalidade. É o que contam os dados do Fórum Nacional de Segurança Pública: 50 mil casos de estupro no Brasil no ano de 2012.

Este número aberrante não deveria cair no esquecimento como uma má notícia entre outras. Cinquenta mil americanos morreram na Guerra do Vietnam e isso mudou a América. Aqui 50 mil mulheres são violadas por ano e a sociedade assiste em silêncio.

Segundo a pesquisa, o número de casos vem aumentando. Os estupros de fato aumentaram ou o que aumentou foi sua notificação? Se assim for, é provável é que esses números sejam apenas a ponta do iceberg.

Um caso isolado de estupro é uma tragédia que o senso comum põe na conta de algum tarado que ninguém está livre de encontrar numa rua deserta. São psicopatas que agem por repetição à semelhança dos serial killers. Requintados torturadores, desprovidos de culpa ou remorso, são descobertos e presos. Quando saem, reincidem.

Cinquenta mil casos têm outro significado. A psicopatia não explica. Configura-se uma tara social, uma sociedade que convive com a violência sexual com uma naturalidade repugnante. São milhares de estupradores que, assim como os torturadores, transitam entre nós como gente comum. Estão nas ruas, nas festas, nos clubes, lá aonde todos vão, e passam despercebidos. Estão nas famílias e nas vizinhanças onde mais frequentemente agem — suprema covardia — aproveitando-se da proximidade insuspeita com a vítima.

Dissimulam seu alto potencial de crueldade no magma de desrespeito em que se misturam machismo, piadas grosseiras, gestos obscenos, aceitos como parte da cultura. A certeza da supremacia da força física, herdaram das cavernas. O desprezo pelas mulheres, aprendem facilmente em qualquer conversa de botequim. Ninguém nasce estuprador: torna-se.

O estupro é uma mutilação psíquica que a vítima carrega para sempre. Fecundação pelo ódio e contaminação pelo vírus do HIV são sequelas possíveis desse pesadelo. O medo ronda. Quantas mais estarão em risco? Pergunte-se a qualquer mulher se, uma vez na vida, se sentiu ameaçada pela violência sexual. Há uma guerra surda contra as mulheres. Quando as guerras de verdade se declaram, o estupro como arma se pratica às claras. Na Bósnia, a “limpeza étnica”, crime contra a humanidade, se fazia violando as mulheres.

Há décadas os movimentos de mulheres denunciam essa guerra surda. Estão aí as Delegacias da Mulher e a Lei Maria da Penha. O anacrônico Código Penal, que falava de crime contra os costumes, hoje capitula o estupro como crime hediondo. Aumentaram as penas e os agravantes. A Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres criou o número 180 para acolher as denúncias e promete espalhar Casas da Mulher em todos os estados.

Dir-se-ia, no entanto, que estupradores não temem a denúncia, a lei e a Justiça. Por que será? De onde lhes vem a sensação de que o que fazem não é crime e, se descobertos fossem, ficariam impunes?

A resposta está no sentimento de poder sobre o corpo das mulheres que nossa sociedade destila como um veneno. É esse caldo de cultura, em que a violência sexual de tão banal fica invisível, que estimula e protege os agressores, realimentando a máquina de fazer monstros. Some-se a isso uma espécie de pacto de silêncio que, salvo quando os dados gritam como agora, impede que se reconheça a gravidade do problema que, na sua negação da dignidade humana, é comparável à prática da tortura.

Os governos descuidam do indispensável amparo às vítimas. Ora, se não há reparação possível, deve haver acolhimento e socorro. Em todo o país os serviços de saúde pública capazes de oferecer a possibilidade de um aborto previsto em lei são ridiculamente insuficientes para atender às consequências desse massacre.

A mesma energia com que a sociedade brasileira condena a tortura é necessária para debelar a epidemia de crueldade. Três mudanças de comportamento se impõem, imediatas: o fim da tolerância com o desrespeito às mulheres, em casa e nas ruas; a inclusão para valer da prevenção e repressão da violência sexual na agenda da segurança pública; e a expansão dos serviços de amparo às vítimas. É o mínimo que o Brasil deve às mulheres.

Briga de cachorro grande - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA - 09/11

SÃO PAULO - Essa polêmica em torno da neutralidade da internet não me comove. É certo que a definição terá algum impacto na vida do consumidor, mas ele é menor do que sugerem ambos os lados da disputa.

O que temos, no fundo, é uma briga de cachorro grande. De um lado, estão os provedores de banda larga, notadamente as telefônicas, e, de outro, megaempresas que fazem uso intensivo das estruturas de transmissão, como Google, Netflix, Microsoft etc.

Se a neutralidade for aprovada, as telefônicas ficam legalmente impedidas de cobrar a mais de empresas e indivíduos que demandam mais da rede e terão de bancar sozinhas os investimentos necessários para manter e ampliar a capacidade da internet. Na outra hipótese, se conseguirem impor uma tarifa mais alta aos usuários pesados, dividirão a fatura principalmente com as pontocom.

No final, como ensina qualquer manual de economia, é sempre o consumidor que arcará com os custos. Dá para escolher se eles vêm embutidos na conta do provedor ou na dos serviços e bens adquiridos.

Seria um exagero dizer que toda a disputa se resume a esse aspecto tarifário, mas ninguém me tira da cabeça que isso é o mais importante.

Os defensores da neutralidade dizem que, se a lei não impuser a obrigação de todos os dados receberem o mesmo tratamento, o caráter democrático da internet fica ameaçado, já que os provedores poderiam discriminar usuários, fornecendo acesso mais precário, por exemplo, a empresas concorrentes, a pobres, que não poderiam pagar pelo acesso "premium", e até a sites que tragam mensagens políticas de que não gostem.

É forçoso reconhecer que a possibilidade existe, mas esse me parece um cenário meio paranoico e que fica tanto mais improvável quanto maior for a concorrência entre provedores. No mais, vale lembrar que a rede já não é neutra. Internautas e empresas mais ricos já contam com acesso privilegiado. E não apenas à internet.

Limites do poder público - WALTER CENEVIVA

FOLHA DE SP - 09/11

Parece que o direito da população foi engolfado pela transformação da modernidade


A Constituição é clara no art. 2º, ao dizer que os Poderes que nos governam são Legislativo, Executivo e Judiciário. A clareza fica prejudicada quando se faz necessário verificar quando e como os preceitos constitucionais são aplicáveis, de poder a poder, a benefício da coletividade.

Não é certo, repassada a história recente, que a direção adotada pelos componentes do poder legal se ajuste às mudanças da vida, no dia a dia da atuação dos poderes. É frequente o mau uso de sua independência, até para garantir a harmonia imposta pela Carta. Atuam sem aprofundar o essencial de suas funções, no cumprimento de seu dever essencial.

Trecho expressivo da nossa Carta assegura que todo poder emana do povo. Deve nascer de sua voz majoritária, mas não nasce, pois a atuação do conjunto dos três poderes, ou individual de cada um deles, não alcança a plenitude da tarefa. Nem há certeza de que entre os titulares dos poderes e de suas equipes seja majoritária e firme a informação a respeito do que lhes caiba realizar, individualmente ou em conjunto.

Falta a plena satisfação da responsabilidades de cada segmento, nos meandros a serem superados. Passa pelas injunções do Executivo, de apreciação imperativa do Judiciário, nos termos da lei gerada pelo Legislativo. Examinada a plenitude dos exercentes do poder, constata-se hoje que alguma coisa anda mal. Parece que o direito da população foi engolfado pela transformação da modernidade, sem precedentes na velocidade das mudanças e na variedade das ações contrárias.

As leis aplicáveis estão em processo de constante mutação. Seu reajustamento ininterrupto dificulta a aplicação útil. Deixam em dúvida a capacidade, os vínculos e o conhecimento dos legisladores e dos aplicadores, nas alterações de leis sucessivas, frequentemente contraditórias. Chega-se ao desânimo profundamente negativo. O pessimismo só agrava desacertos e omissões.

As curvas na história da humanidade, sempre geraram confusões. A novidade do século 20 se caracterizou pela mutação decorrente da urbanização quase total e da transformação radical do mercado de trabalho. Neste, a participação feminina está em cada segmento da vida, em conjunto, como o dado humano fundamental da rápida transformação. Antes do século 20 nada houve que se compare.

Parece impossível fazer a avaliação integral deste novo espaço em que vivemos, sem nenhuma semelhança com o mundo transformado no último século. Um exemplo extremado vem da Arábia Saudita onde a mulher ainda seja proibida (sob ameaça de prisão) de dirigir um automóvel em suas ruas e estradas. Exemplos isolados confirmam que a quantificação extraordinária de hoje alterou cada instante do dia e da noite. Mudou o planeta.

Os poderes constituídos para estarem à altura das novas vivências coletivas devem manter controle harmonioso dos espaços internos de cada nação, das terras e águas do globo. Sem essa evolução, o resultado não será suficiente para o equilibrado bem de todos.

Estamos no começo da vida nova da Terra. Ignoraremos as adequações que o direito nos imporá, até que possamos definir o espaço que o Poder Público deve preservar em sua área de influência. Para tanto cabe-nos manter viva a atenção para o futuro.

A volta da energia nuclear? - GILLES LAPOUGE

O Estado de S.Paulo - 09/11

Foi um dia de júbilo na Areva, o grupo nuclear francês, líder mundial em sua especialidade, que na quinta-feira firmou um contrato de 1,25 bilhão com a Eletronuclear para terminar a construção de Angra 3 no Brasil. Esse contrato é uma dádiva divina. De fato, no mundo inteiro, há algumas temporadas em que o setor nuclear registra dissabores, revezes, fracassos e dúvidas. O contrato de Angra 3 faz renascer a esperança.

Muitos infortúnios atingiram a energia nuclear civil. O primeiro foi a radicalização e o talento dos adversários desse modo de energia.

Depois, em 2011, houve a catástrofe de Fukushima, no Japão. E isso não foi tudo: a Alemanha, que ocupava o quinto lugar entre os produtores de energia nuclear, interrompeu bruscamente todos os seus programas.

Duas outras circunstâncias jogam contra a energia nuclear. A primeira é a revolução do "gás de xisto", que aplaca a fome do maior consumidor de energia, os Estados Unidos. Paralelamente, a construção de centrais de terceira geração, EPR (reator de água pressurizada), sofreu revezes espetaculares. A França, que está na vanguarda neste setor, assinou contratos enormes de EPR, mas sua execução se mostrou desastrosa (Olkiluoto na Finlândia e Flamanville na França): complicações técnicas, prolongamento dos atrasos e aumento dramático de custos.

Espalhou-se assim a convicção de que a energia nuclear estava em recuo, para alguns até, em fase terminal. A Suíça anunciava que o fechamento de sua central de Mühleberg fora antecipada para 2019.

Notícias positivas. Entretanto, a todos estes sinais sombrios, opunham-se aqui e ali notícias mais risonhas. A Jordânia acaba de encomendar dos russos sua primeira central nuclear, E, sobretudo, há algumas semanas, os ingleses encomendavam da francesa EDF dois reatores EPR de terceira geração fornecidos pela Areva, pela soma impressionante de 19 bilhões.

A escolha recente do Brasil seria a confirmação desta melhora? Isto é particularmente crucial para o grupo francês porque o ex-presidente Lula havia decidido, em 2008, fortalecer o setor e construir quatro ou cinco reatores até 2020. A escolha de Lula será confirmada? Seja como for, a Areva terá concorrentes fortes pela frente: russos, chineses, americanos ou japoneses.

E depois? A Areva negocia dois contratos de EPR com a China e dois com a Índia (cerca de 8 bilhões por central). A Areva tem a esperança de construir 16 centrais no total até 2016 - cifra, ao que parece, um tanto otimista.

A pergunta que fica então é sobre as necessidades possíveis ou prováveis. É nos países emergentes que as promessas são maiores. A China puxa o pelotão por causa de seu poder, seu apetite de ogro. O país já possui 18 reatores em atividade. Ele precisa, segundo seus engenheiros, de 29 novas centrais. Outros países deverão se converter também para a energia nuclear. Fala-se da Polônia, em primeiro lugar, mas igualmente do Vietnã e até de Bangladesh.

Estas promessas serão suficientes para reverter a tendência e consolidar um setor nuclear que está em nítido recuo há alguns anos e que voltou a seus níveis de 1984? O prognóstico é delicado, ainda mais que se este tipo de energia retomar seu crescimento, as ações dos ecologistas que se acalmaram nos últimos alguns anos, seriam retomadas com redobrada agressividade.

"O setor nuclear", profetiza um dos mais virulentos adversários dessa energia, Myckle Schneider, "há muito que entrou em fase de declínio." /Tradução de Celso Paciornik

Balança mas não cai - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 09/11

A prefeitura do Rio regulamentou, há três meses, a Lei de Autovistoria, que obriga síndicos e donos dos edifícios com mais de dois pavimentos e 1.000 metros quadrados a fazerem inspeção das estruturas de cinco em cinco anos.
Numa cidade com 280 mil prédios atingidos pela lei, apenas 525 síndicos comunicaram a realização da vistoria, até agora.

E o que é mais grave...
Destes 525 prédios, 34% precisam fazer alguma obra significativa de reparo na estrutura.
Isto em que pese o carioca estar impactado pelo desabamento de três edifícios na Cinelândia, em 2012, com 17 mortos.
À mesa, como convém Guido Mantega almoçou, ontem, com quatro convidados no prédio do Ministério da Fazenda, em São Paulo.
Mesmo a trabalho, o ministro pagou a conta. Saiu R$ 45 por cabeça.

Aliás...
Guido também paga suas refeições no Ministério da Fazenda, em Brasília.
— Não tem moleza. Acho que é correto. Também não quero cartão corporativo.

‘Volta, Lula’
De um sábio:
— Essas pesquisas que colocam Dilma nas alturas ajudam a presidente a conter, dentro do PT, a turma do “Volta, Lula”.

Um pingo de História
No meio dessa cruzada de Roberto Carlos contra biografias, o historiador Alberto da Costa e Silva lembra a frase de Joaquim Nabuco, publicada em “O País”, em 27 de janeiro de 1887, sobre o jubileu da Rainha Vitória da Inglaterra:
— Os reis não têm vida privada.

Aldo, o historiador
Aldo Rebelo — que, quinta, lembrou os brasileiros que foram comprar armas em Paris, para a Revolução de 1930, e ficaram hospedados no Hotel Galileo — tem gosto antigo pela História.
Certa vez, com a família, ele visitou os túmulos de Getúlio Vargas, em São Borja, e de Assis Brasil, também político gaúcho, em Bagé.

E...
Num desses túmulos, o filho do ministro, Pedro, ainda pequeno, perguntou para a mãe, Rita: “Eles são parentes nossos?” Pano rápido.

Abuso sexual
O STJ determinou que o Colégio São Vicente de Paulo, no Rio, indenize em R$ 200 mil uma ex-aluna. Aos 12 anos, ela foi molestada sexualmente por um professor no colégio. A relatora foi a ministra Nancy Andrighi.

A morte por gás
A Petrobras terá de pagar R$ 2,5 milhões para a família de um ex-funcionário, Miguel Angelo, morto aos 27 anos por causa de uma explosão de gás em Alagoas.
A decisão é do TRT da 19ª região.

Wilson Baptista, a biografia
De Ruy Castro, o grande escritor, sobre a biografia “Wilson Baptista, o samba foi sua glória!”, de Rodrigo Alzuguir, que a Casa da Palavra lança este mês:
— É um livro que eu queria ter escrito. Acertou no milhar e produziu uma obra que honra a biografia brasileira.

Bens duráveis
A 22ª Câmara Cível do Rio determinou que a City Shoes amplie o prazo de trocas de seus produtos (sapatos, bolsas, cintos) de 30 para 90 dias.
É que, segundo o relator Marcelo Buhatem, os produtos da loja foram considerados bens duráveis.
Faz sentido.

O arruaceiro
O prefeito Eduardo Paes deixava a sede da prefeitura, quarta passada, quando, antes de entrar em seu carro, avistou o secretário da Ordem Pública, Alex Costa, e...
— Que tapão você levou, hein?!

E por falar...
Rodrigo Bethlem lembrou que esse tal de Eduardo Fauzi, que agrediu o secretário Alex Costa, é um velho conhecido da Ordem Pública.
Em 2010, foi preso por ter agredido um agente na Lapa à noite.

Cadê a lixeira?
Veja só como essa lei do Lixo Zero já pegou porcalhões nas ruas do Rio. Em 65 dias, foram multadas 12.541 pessoas, uma média de 193 por dia. As multas variam de R$ 98 a R$ 3.000.
Hoje e amanhã, os fiscais vão percorrer as ruas da Barra. Eu apoio.

FAÇA UM PEDIDO - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 09/11

Em meio à crise dos fiscais na administração de Fernando Haddad, Antonio Donato (PT-SP), secretário de Governo e braço direito do prefeito, vai se afastar do cargo por uns dias. Ele embarca na próxima semana para Jerusalém. Vai visitar, entre outros lugares, o Muro das Lamentações.

FAÇA UM PEDIDO 2
Donato integrará comitiva de outros nove vereadores. Eles viajam a convite e com tudo pago pela Federação Israelita do Estado de SP. Os parlamentares pediram aos organizadores para conhecer o sistema de segurança por câmeras que protege o muro.

REDE
Citado no escândalo porque teria recebido dinheiro para campanha eleitoral dos acusados de corrupção, o que nega, Donato entrou na mira do fogo amigo do próprio PT. Além de ter indicado o principal acusado, Ronilson Rodrigues, para a SP Trans, ele é responsabilizado por endossar Paula Nagamati para cargo de confiança na equipe de Luciana Temer na Secretaria de Assistência Social.

REDE 2
Ronilson e Paula Nagamati eram muito próximos e integravam o núcleo da equipe de Mauro Ricardo na Secretaria de Finanças --ela era chefe de gabinete dele. A pasta estava na esfera de influência direta do ex-prefeito José Serra (PSDB-SP).

TODAS AS VOZES
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem solução para antecipar o anúncio do senador Aécio Neves como candidato à Presidência. Ele sugere que o PSDB reúna seus 27 diretórios estaduais até o fim do ano. Eles aclamariam o mineiro como candidato. Seria um drible em Serra, com quem Aécio se comprometeu a empurrar a escolha até março.

TUDO A GANHAR
"Nada a Perder - 2", o segundo volume da trilogia sobre a vida do bispo Edir Macedo, escrito por ele em parceria com Douglas Tavolaro, desbancou o livro de padre Marcelo como mais vendido do ano até agora no site Publishnews. Já chegou a 331.056 volumes, contra 305.151 de "Kairós".

HONRAS DA CASA
Pacientes e amigos de Miguel Srougi estão sendo convidados para a sessão solene em que ele vai receber a Medalha Anchieta e diploma de gratidão da cidade de SP, no dia 25. A homenagem ao urologista foi proposta na Câmara Municipal por Andrea Matarazzo (PSDB-SP). A sessão será no MIS (Museu da Imagem e do Som).

TELONA
"Flores Raras", do cineasta Bruno Barreto, estreou ontem em dois dos principais cinemas de arte de Nova York. O filme também entrará em cartaz em Los Angeles. Na campanha para que o longa seja indicado ao Oscar, os produtores estão mandando 6.000 DVDs para os eleitores da premiação. Falada em inglês, a produção não pode entrar na categoria de filme estrangeiro.

EM PARTES
O diretor Felipe Hirsch recebeu convidados na estreia da primeira parte da peça "Puzzle", anteontem, no Sesc Pinheiros. A atriz e apresentadora Isabel Wilker, os atores Leonardo Medeiros e Luis Soares e o cineasta Hector Babenco foram ao espetáculo.

VERSÃO ESTENDIDA
O escritor Antonio Prata e o ator Gregorio Duvivier, colunistas da Folha, fizeram anteontem noite de autógrafos de seus livros "Nu, de Botas" e "Ligue os Pontos", respectivamente. O evento no Cine Joia contou com a presença da atriz e cantora Clarice Falcão, mulher de Duvivier, e do escritor Reinaldo Moraes.

CURTO-CIRCUITO
Marcelo Rezende lança a autobiografia "Corta pra Mim", hoje, às 11h, na Livraria Saraiva do shopping SP Market.

Rodrigo Faro será o apresentador de evento beneficente da Fundação Make-A-Wish Brasil, hoje, às 19h30, no hotel Unique. Tiago Abravanel fará show.

A chef Ana Soares assina o cardápio do restaurante Bohemia, que abre hoje, às 19h30, em Petrópolis (RJ).

Regina Duarte participa amanhã de caminhada em apoio ao Dia Mundial de Combate à Pneumonia, no Jockey Club.

Otto faz show do álbum "The Moon 1111" no parque Villa-Lobos, amanhã, às 15h, pelo projeto Cultura Livre SP. Grátis. Livre.

Respeito à lei brasileira - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 09/11

O governo Dilma propôs ao Google e ao Facebook acabar com o impasse no marco civil da internet. Se elas assumirem o compromisso de atender o Judiciário, poderão ser dispensadas de desenvolver “data centers” no país, mantendo seus dados armazenados no exterior. Hoje, elas não cumprem decisões do STJ e do STF, exigindo a retirada de vídeos, fotos ou textos ofensivos. 

Desafios: Dilma, Aécio e Eduardo 
As eleições serão no ano que vem, mas não se fala de outra coisa. Os coordenadores dos candidatos já elegeram suas prioridades até a campanha na TV. Os três candidatos querem chegar na reta final com “expectativa de poder”. A da presidente Dilma (PT) é fazer o governo deslanchar, para voltar ao patamar dos 50% nas pesquisas de intenções de voto. A do senador Aécio Neves (PSDB) é sobreviver a este período de pouca exposição na mídia eletrônica e se manter com cerca de 20% nas pesquisas. A do governador Eduardo Campos (PSB) é capitalizar o apoio de Marina ‘Silva’. Hoje, ela é associada, nas pesquisas qualitativas, ao ex-presidente Lula da ‘Silva’.


“A dissidência do PSB com o PT e o lançamento da candidatura do Eduardo Campos são uma luz” 

Darcísio Perondi 
Deputado federal (PMDB-RS), um dos líderes da Frente da Saúde, para o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral

Caiu na rede 
A presidente Dilma terá uma conta oficial no Facebook a partir da semana que vem. A página que atualmente leva seu nome é administrada pelo PT. Na última quinta-feira, gravou o vídeo de apresentação aos internautas. 

Festa à baiana 
Será em Salvador (BA), nos dias 19 e 20 de dezembro, o último encontro do PSB deste ano para tratar das eleições de 2014. Terá como ponto alto a filiação da ministra do STJ e ex-presidente do CNJ, Eliana Calmon. Como jurista, ela tem prazo até abril, mas o candidato do PSB ao Planalto, Eduardo Campos, pediu para ela antecipar. 

Compulsório 
Os petistas que forem, amanhã, participar da eleição para presidente do partido, terão que rubricar obrigatoriamente os abaixo-assinados promovidos pelo PT em favor da Reforma Política e da regulação da mídia. 

PPS: estica e puxa 
A despeito do namoro do PPS com a candidatura Eduardo Campos (PSB), os tucanos não estão preocupados. Um dos coordenadores da candidatura de Aécio Neves proclama: “100% dos deputados do PPS dependem de aliança conosco, nos estados, para se reeleger”. E cita: “Arnaldo Jardim (SP), Rubens Bueno (PR) e até o (presidente do partido) Roberto Freire (SP)...”.

Abrindo o jogo 
Num dia desses, em Icó, no interior do Ceará, o governador Cid Gomes (PROS) abriu sua preferência pela candidatura da secretária Izolda Cela para sucedê-lo. “Quem sabe uma mulher não vai governar o Ceará?”, perguntou. 

Cada um na sua 
Está fechado. O ex-ministro Fernando Bezerra Coelho será o candidato do governador Eduardo Campos (PSB) em Pernambuco. O palanque do PSDB terá o deputado estadual Daniel Coelho e, o do PT, o senador Armando Monteiro (PTB). 

O GOVERNADOR DO PIAUÍ, Wilson Martins (PSB), quebrou três costelas por causa de uma queda. O acidente foi doméstico. Ele caiu de uma rede.

Fica a dica - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 09/11

Entre os conselhos que o prefeito Fernando Haddad (PT) recebeu nas reuniões com Lula e aliados nesta semana está a necessidade de diálogo mais frequente com o ex-presidente e com a direção do PT. "No partido, quem ocupa cargo estratégico deve saber que suas decisões têm um impacto sobre toda a legenda, e precisa debatê-las", resume um dirigente. A cúpula petista foi surpreendida pelo reajuste da tabela do IPTU --que poderia ter sido menor, na avaliação interna.

Tudo como... Reservadamente, os petistas se dizem frustrados com o distanciamento de Haddad em relação à classe média, um dos alvos que o partido buscava alcançar com sua escolha como candidato a prefeito.

... dantes Pesquisas internas mostram que decisões como a do IPTU e a rápida expansão dos corredores de ônibus tornam o prefeito popular na periferia, mas impedem o avanço do PT nos segmentos de alta renda.

Que fase Um participante do almoço entre Haddad e Lula ontem relata que o prefeito se queixou de ter tido um ano difícil: citou as manifestações de junho pela redução da tarifa de ônibus e a necessidade de corrigir o IPTU.

Bolão No grampo em que discutem que seria boa para o grupo a vitória de Gilberto Kassab em 2014, o auditor Luis Alexandre Magalhães e um interlocutor não identificado avaliam o cenário da eleição de governador.

Clone Dizem que a chance do ex-prefeito é remota e que Alexandre Padilha (PT) seria um "Haddad 2". No fim, concluem que Geraldo Alckmin (PSDB) deve ser reeleito.

Sonhático Enquanto a Rede promove encontro para ajustar os ponteiros com o PSB em São Paulo, o deputado marineiro Walter Feldman busca conciliação mais difícil: está em missão parlamentar no Oriente para reatar o diálogo entre China e Tibete.

Resgate... O governo Dilma prepara uma cerimônia com honras militares para receber o corpo do ex-presidente João Goulart, que será exumado na quarta-feira. Os restos mortais chegam a Brasília no dia seguinte.

... histórico No Palácio do Planalto, haverá uma cerimônia para a qual serão convidados todos os ex-presidentes: Lula, FHC, Fernando Collor e José Sarney. No governo, a reverência a Jango, deposto pelo regime militar em 1964, é vista como um "gesto de esquerda" de Dilma.

Meia volta Depois da lua de mel com tucanos, o PSB estuda desmontar palanques que teria em conjunto com o PSDB em alguns Estados. No Rio Grande do Sul, os pessebistas articulam aliança com o PMDB de Pedro Simon, no lugar do apoio à candidatura de Ana Amélia (PP).

Volver A ideia, agora, é conquistar palanques separados de Aécio Neves (PSDB) em Estados estratégicos. Em São Paulo e Minas, no entanto, onde o PSB se beneficia do acordo com os tucanos, a dobradinha pode sobreviver.

Bomba-relógio Parlamentares da base dizem que houve "falha" na articulação política do governo no Congresso por não sufocar na fase inicial projetos que podem ampliar os gastos da União.

Sobrou Reclamam que, assim, herdaram o desgaste que pode ocorrer com a rejeição de reajustes salariais.

Rio 40º Os deputados Chico Alencar (PSOL), Glauber Braga (PSB) e Jean Wyllys (PSOL) protocolaram na Procuradoria-Geral da República representação contra o governador Sérgio Cabral (PMDB) "pelos atos de violência policial e prisões arbitrárias" nos protestos do Rio.

com BRUNO BOGHOSSIAN e PAULO GAMA

tiroteio

"Nossos comunistas já não são sovietes, mas será que a ala majoritária' do PPS que quer apoiar Campos combinou com os russos?"

DE SONINHA FRANCINE, ex-vereadora e pré-candidata do PPS à Presidência, sobre a inclinação da cúpula de seu partido a apoiar Eduardo Campos (PSB).

contraponto

Apertem os cintos

Em evento em que foram entregues ambulâncias a municípios paulistas, prefeitos relembraram episódio da década de 1980, em Silveiras, no Vale do Paraíba.

Uma mulher prestes a dar à luz chegou à prefeitura, onde ficava o veículo da cidade, para que fosse levada ao hospital da vizinha Cruzeiro --único da região que fazia partos. Como não achavam o motorista, ela subiu correndo ao gabinete do prefeito, Osvaldo Cardoso.

--Prefeito, me ajude!-- disse, apontando a barriga.

Assustado, Cardoso rebateu, sem saber o que ocorria.

--Nem vem que este filho não é meu!

O jogo do PP - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 09/11

A reforma ministerial movimenta os bastidores da política. No Ministério das Cidades, por exemplo, diante da decisão do ministro Aguinaldo Ribeiro de concorrer, no mínimo, a um novo mandato de deputado federal em 2014, o papel de secretário executivo trocou de mãos. Saiu Alexandre Cordeiro de Macedo, que era técnico da Controladoria-Geral da União (CGU), indicado pelo presidente do partido, Ciro Nogueira. E entrou Carlos Antonio Vieira Fernandes, servidor da Caixa Econômica Federal, que ocupava a Diretoria de Desenvolvimento Institucional na secretaria executiva. Há quem diga que a ascensão de Vieira Fernandes está apenas começando. Por ser ligado ao ministro e ter recebido sinal verde de Dilma para a secretaria, não está descartado que o servidor fique no lugar de Aguinaldo em um futuro próximo.


Enquanto isso, na sede do partido…

Ciro volta suas baterias para o Ministério da Integração Nacional. Quem o conhece garante que ele sonha conquistar a vaga com uma estratégia diferente daquela adotada pelo PMDB, que há um mês espera a nomeação do senador Vital do Rêgo Filho. Enquanto o PMDB apresentou o senador como candidato a ministro, o PP pretende chegar a um nome em conjunto com a presidente Dilma Rousseff. É mais o estilo dela.

Ô trem bão!!!

O consórcio Vetec Engenharia Ltda. e Oficina Engenheiros Consultores Associados Ltda. ficará responsável pelo trem de passageiros Brasília-Luziânia. Valor: R$ 1,8 milhão. Mais barato do que muitos quilômetros de estrada contratados pelo país afora.

Meia-volta

Cid Gomes convidou Eunício Oliveira para um jantar do Pros ontem. Isso, somado às últimas declarações de Cid, de que deseja manter a aliança com o peemedebista por décadas, deu a muitos a leitura de que uma dobradinha entre Pros e PMDB não está morta. Especialmente, depois que a ex-prefeita de Fortaleza Luizianne Lins, no embalo das eleições internas petistas, subiu várias oitavas na defesa de uma candidatura própria de seu partido ao governo estadual.

Nem vem
O presidente em exercício do PTB, Benito Gama, avisa que essa história dos senadores almoçarem com Aécio Neves, do PSDB, nada tem a ver com a sucessão presidencial. “Que fique claro: Nós vamos de Dilma. É muito ruim esse história de ficar indo e voltando”, diz Benito, que já foi do PFL do ex-senador Antonio Carlos Magalhães.

“No meu Ministério posso não ter tinta na caneta, mas tenho um balde de saliva”
Ideli Salvatti, ministra de Relações Institucionais, aos integrantes do novo bloco de apoio ao governo, PP-Pros

O primeiro milho/ O vice-presidente Michel Temer terminou a visita oficial à China bastante otimista com a perspectiva de eliminação de barreiras à importação da carne bovina brasileira pelos chineses. O ânimo aumentou depois da conversa com o presidente Xi Jinping, o vice Li Yuanchao, e a assinatura de um contrato de R$ 4 bilhões para exportação de milho brasileiro à China. Falta a carne.

Pensa que acabou?/ Michel Temer seguiu para os Emirados Árabes. Visita Abu Dhabi e Dubai.

Todo dia…/ Os parlamentares andam cansados da rotina do plenário. “Temos o horário do Mauro Benevides, depois vem o pequeno expediente, o grande expediente e, por fim, o horário da briga do Rio de Janeiro. Depois, é que vem a Ordem do Dia”, diz o deputado Emanuel Fernandes (PSDB-SP).

…eles fazem igual/ Emanuel se refere aos embates constantes entre Anthony Garotinho e Eduardo Cunha. Hoje, os antigos aliados são adversários ferrenhos e ambos líderes na Câmara, Garotinho do PR e Cunha, do PMDB. O posto lhes garante falar praticamente a hora que der na telha, ou seja, quase sempre. Resultado: a disputa da província está transferida para o plenário da Casa.

Te cuida, PCdoB!/ Se der tudo errado do ponto de vista eleitoral, o PSB poderá, pelo menos, tentar desancar o partido comunista do Brasil como o mais afinado com o esporte. Os socialistas têm agora o nadador Xuxa (foto) em São Paulo, o ex-técnico de vôlei Radamês Lattari, no Rio de Janeiro. Vão se juntar a Magrão, o goleiro do Sport, do Recife, e o jogador Romário, presidente do PSB carioca.

Crise de nervos - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 09/11

A economia tem dessas coisas paradoxais. Desde 2007, quando estourou a crise, o mundo espera ansiosamente pela recuperação da economia dos Estados Unidos. Quando se somam indícios nessa direção, os mesmos que desejaram ardentemente a virada deixam-se tomar por crises de nervos.

Não é difícil de entender o que está acontecendo e o impacto que as novidades podem ter para a economia brasileira. Quinta-feira, o mundo se surpreendeu com o forte avanço do PIB dos Estados Unidos no terceiro trimestre. Em termos anuais, foi de 2,8%, significativamente acima dos 2,0% esperados.

Ontem, os números do mercado de trabalho reforçaram a percepção de que a economia americana está engatando o segundo estágio do foguete. Num mês em que se esperava por um comportamento medíocre do emprego, porque o impasse político sobre o aumento do teto da dívida paralisara a administração Barack Obama e provocara demissões, foram criados 204 mil empregos, 70% a mais do que estava nos prospectos dos analistas.

Essa onda de apreensão que se desencadeou na economia mundial tem a ver com o aumento da probabilidade de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) comece a fechar os chuveiros por onde escorrem US$ 85 bilhões por mês para o mercado global.

Esse fluxo foi o esforço colocado em marcha em várias etapas pelo Fed com o objetivo de facilitar a recuperação da economia dos Estados Unidos prostrada pela crise. A reversão das emissões de dólares vinha sendo esperada para setembro e aparentemente só foi adiada porque os sinais eram de que o estado de fraqueza continuava.

Ainda não há decisão sobre o início do "tapering" (afunilamento), que é como os analistas globais vêm chamando essa futura operação de reversão de liquidez. Parece improvável que comece antes de 31 de janeiro, que é quando haverá a troca de guarda no Fed, do atual presidente, Ben Bernanke, pela hoje vice-presidente, Janet Yellen.

Em todo o caso, o mercado antecipa as coisas. A perspectiva de escasseamento de dólares já está provocando vagalhões: valorização do dólar em relação às outras moedas, alta dos juros (yields) dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, baixa nas bolsas e certa fuga das aplicações de risco.

Do ponto de vista da economia brasileira, há dois efeitos mais importantes. O primeiro é a nova tendência à alta do dólar no câmbio interno. Por conta disso, apenas nos primeiros seis dias úteis de novembro, o avanço das cotações do dólar em reais é de 3,8%. Essa alta tende a ser reforçada pela necessidade que as empresas globais terão de comprar moeda estrangeira para remeter resultados para suas matrizes.

O segundo efeito é o encarecimento em reais dos preços dos produtos importados e seu desdobramento sobre a inflação. Deverá ser mais uma razão que levará o Banco Central a atuar sobre o câmbio e a puxar os juros básicos (Selic) para cima.

O fim do acordo zero - KÁTIA ABREU

FOLHA DE SP - 09/11

Brasil pode e deve, no âmbito do agronegócio, encontrar novos caminhos para abrir o mercado chinês


Li na "Economist" da semana passada que a China não precisa se preocupar com a dependência das importações de grãos, que no passado consumiram até 25% da receita de suas vendas externas. Afinal, lembrou a revista, esse gasto representa, hoje, apenas 2% das receitas obtidas com suas exportações.

Depois desta semana em Pequim, em que participei de uma reunião com o vice-presidente Michel Temer e o presidente chinês, Xi Jinping, imagino que todos lemos o mesmo artigo. E com ele concordamos.

A China deve seguir produzindo o que tem de melhor e continuar comprando, do resto do mundo --inclusive do Brasil--, o que de mais seguro e competitivo produzimos: alimentos. O vice-presidente do país, Li Yuanchao, sugeriu até que deixássemos de lado o sinal vermelho e adotássemos apenas o verde nas relações bilaterais.

O verde dominou a pauta de Pequim. Conseguimos abrir a venda de milho e habilitar cinco frigoríficos que agora poderão exportar carne de frango para os chineses.

Autoridades do governo da China comprometeram-se a visitar o Brasil até meados de dezembro, para habilitar outros frigoríficos de aves e, enfim, suspender o embargo à carne bovina brasileira. A suspensão de apenas três frigoríficos provocou queda de 22% nas exportações de carne de frango no primeiro semestre deste ano.

Obstáculos à parte, a China é, hoje, nosso maior parceiro e o primeiro destino de nossas exportações. A despeito do pouco dinamismo do nosso comércio externo, nos últimos cinco anos, exportamos para o mercado chinês o equivalente a US$ 150 bilhões.

O aceno de sinal verde ao Brasil vem em boa hora. Basta lembrar que, em 2012, a China importou o equivalente a US$ 1,75 trilhão, do qual apenas US$ 41 bilhões vieram do Brasil. É chegado o momento de aproveitarmos o real potencial da China.

O atual governo chinês tem a meta de duplicar a renda per capita até o fim desta década. Está prestes a anunciar um conjunto de profundas reformas da economia, que, entre outras coisas, resulta- rá no crescimento da demanda geral por alimentos, em especial os itens mais nobres da dieta, como as carnes.

Nesse cenário promissor, é preciso articular um esforço de exportação muito mais organizado, envolvendo tanto o setor público --Ministérios da Agricultura, do Comércio Exterior, Itamaraty e Apex-Brasil-- quanto o privado. Além dos exportadores tradicionais e das tradings, novas agroindústrias de médio e pequeno porte devem ser incorporadas.

Desse modo, torna-se indispensável uma atitude do governo brasileiro, para livrar o setor produtivo dos enormes obstáculos de ordem burocrática e normativa.

O Brasil pode e deve, no âmbito do agronegócio, encontrar novos caminhos para abrir o grande mercado chinês. Até agora, as relações econômicas sino-brasileiras evoluíram de modo espontâneo, por iniciativa de algumas grandes empresas.

Ocorre, porém, que o aumento e a melhoria de qualidade dessas relações dependem de uma política deliberada de governo. E isso dentro de uma visão estratégica de longo prazo, que esteja aberta a considerar os interesses mútuos e a fazer concessões.

Um dos equívocos a serem corrigidos é o modelo tarifário, que fez com que o Brasil exportasse 12 vezes mais soja em grão do que farelo ou óleo de soja. A causa disso é a política insana que tributa o óleo exportado em 18% de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) e que isenta apenas a soja em grão.

No caso da China, enfrentamos a escalada tarifária na exportação de alguns produtos, como o café. O grão verde é taxado em 8%, o torrado, em 15%, e o café solúvel, em inacreditáveis 34%. Um claro desestímulo à agregação de valor que precisa ser revisto.

Este é o momento de construirmos, com os chineses, uma cooperação econômica mais madura e abrangente.

Na verdade, o que eu espero do novo chanceler, Luiz Alberto Figueiredo Machado, é que ele aproveite a oportunidade que a China nos oferece e nos retire do vergonhoso ranking do acordo zero.

Câmbio assassino - PAULO NOGUEIRA BATISTA JR

O GLOBO  - 09/11

Há uns 20 anos, esteve em cartaz um filme de terror de sucesso: “A bolha assassina”. A referida bolha fazia um estrago medonho. A expressão ganhou vida própria. Quando estourou a bolha financeira nos EUA em 2007, alguns falaram em “bolha financeira assassina”.

Com igual razão poderíamos falar em “câmbio assassino”. Em muitos países, o desalinhamento e a latilidade da taxa de câmbio causam imensos transtornos. O Brasil é um exemplo notável. Estamos há muitos anos convivendo com uma moeda supervalorizada. Nos anos recentes, o movimento de apreciação foi impulsionado pelo boom das commodities e a superabundância de capitais internacionais.

As estimativas de câmbio efetivo real (em relação a uma cesta de moedas) mostram com clareza a força da moeda brasileira. Tomando-se, por exemplo, dezembro de 2003 como mês de referência, a valorização do real é superior a 30% (estimativa da Funcex, usando IPCs como deflatores). No período 2009-2012, o auge da apreciação cambial, a valorização em relação a fins de 2003 era de 40% ou mais.

Uma enormidade. Nenhuma economia escapa impune a uma valorização persistente dessa ordem de magnitude. O governo brasileiro até que tentou conter a valorização da moeda. Adotou controles sobre a entrada de capitais. E entrou no mercado comprando parte da oferta abundante de moeda estrangeira, acumulando reservas internacionais.

Essas medidas ajudaram a moderar a apreciação cambial e, além disso, fortaleceram muito a nossa segurança externa. Mas não foram suficientes para conter o movimento. Reservas mais altas têm um efeito paradoxal: fortalecem a posição do país, tornando-o mais seguro como destino. Só que isso reforça a entrada de capitais, revigorando a pressão pela valorização.

A variação do câmbio sempre demora algum tempo para produzir todos os seus efeitos. Só agora estamos vendo o tamanho da conta que acumulamos. A moeda forte abalou de maneira duradoura a competitividade internacional da economia, em particular do setor industrial. As exportações tornaram-se mais caras. Ficou mais difícil competir com importações dentro do mercado brasileiro.

A perda de competitividade internacional solapou a capacidade de crescimento da economia brasileira. Essa é uma das razões, nem sempre lembrada, do crescimento medíocre dos últimos anos. Ao mesmo tempo, as contas externas vêm piorando continuamente. Este ano, estamos com um déficit na balança comercial. O déficit em conta corrente acumulado no ano já equivale a 3,6% do PIB.

Há atenuantes, notadamente os níveis elevados de reservas e de investimentos diretos. Não estamos à beira de nenhuma crise de pagamentos. Só não me venha algum economista dizer que o déficit em conta corrente é a contribuição da “poupança externa” ao desenvolvimento brasileiro. Aí já é demais.

O vilão da inflação é também o da estagnação - ROLF KUNTZ

O Estado de S.Paulo - 09/11

Esqueçam o tomate, a carne e as passagens aéreas. Não falem mal das leguminosas, dos hortigranjeiros ou dos salões de beleza. O vilão da inflação nunca será encontrado na lista de bens e serviços comprados pelos consumidores. A imagem usada pela imprensa é mera repetição de uma velha metáfora criada lá pelos anos 80 ou pouco antes. Ninguém deve entender literalmente essa figura de linguagem. O vilão existe, sim, mas é de outro tipo. É o mesmo da estagnação econômica, da irresponsabilidade fiscal e da erosão das contas externas. Em uma palavra, é o governo, embora esse nome pareça um tanto inadequado para designar a presidente Dilma Rousseff e a trupe espalhada por 39 ministérios, uma porção de estatais e outros órgãos da administração indireta.

Explicar e justificar uma sucessão de números muito ruins tem sido, há algum tempo, uma das principais atividades desse pessoal. Mas nenhuma retórica disfarça o péssimo desempenho fiscal de setembro, quando até o resultado primário foi negativo, ou a aceleração contínua da inflação mensal desde agosto. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, ainda classificou como bom resultado a alta de 0,57% do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no mês passado. Não há nada de bom nesse número, nem se pode - ao contrário da afirmação do ministro - considerá-lo normal para esta época do ano.

Só se pode falar de normalidade em outro sentido: esgotado o efeito dos truques com as tarifas de transporte e as contas da energia, o recrudescimento da alta de preços foi absolutamente natural. Que mais poderia ocorrer, quando há um desajuste inegável entre a demanda, principalmente de consumo, e a capacidade de oferta da indústria nacional? Esse desajuste, é bom lembrar, é alimentado principalmente pela política oficial, marcada pela gastança e pelos estímulos ao consumo e reforçada pela expansão do crédito.

Sem esses fatores, nenhum aumento do preço do tomate ou da carne bovina produziria um impacto tão amplo sobre todos os mercados. Além disso, o efeito da depreciação cambial seria muito menos sensível, como tem sido em outras economias emergentes. Aquelas, como a da Índia, com problemas graves de inflação, têm também, como o Brasil, sérios desajustes fiscais e limitações importantes do lado da oferta.

O efeito da demanda é também evidente na evolução dos preços dos serviços, com alta de 0,52% em outubro e 8,74% em 12 meses. No caso dos bens, o aumento de preços tem sido atenuado, em parte, pela importação crescente, mas essa é uma solução inviável quando se trata de aluguel residencial, conserto de automóvel, consultas médicas ou serviços de manicures, para citar só alguns itens de uma lista muito ampla de atividades. O mesmo desequilíbrio entre a demanda crescente e a capacidade de oferta muito limitada reflete-se também no déficit comercial de US$ 1,83 bilhão acumulado de janeiro a outubro. Nesse período, o valor exportado, US$ 200,47 bilhões, foi 1,4% menor que o de um ano antes, pela média dos dias úteis, e o gasto com importação, US$ 202,3 bilhões, 8,8% maior.

O aumento das compras de petróleo e derivados - diferença de US$ 6,64 bilhões de um ano para outro - foi um fator importante, mas o total da importação foi determinado principalmente por outros fatores. A elevação de US$ 17,29 bilhões na despesa com bens estrangeiros refletiu acima de tudo os desajustes internos e especialmente a perda de eficiência da economia nacional.

Não há como disfarçar a redução da produtividade e do poder de competição, resultante principalmente de uma coleção de falhas da política econômica. A agropecuária ainda é produtiva em grau suficiente para compensar os problemas sistêmicos da economia brasileira e conquistar espaços no mercado internacional. A maior parte da indústria tem sido incapaz de vencer esses obstáculos. Os mais comentados são as deficiências de infraestrutura e a tributação irracional, mas a lista é ampla e um dos mais importantes, embora nem sempre lembrado, é o despreparo da mão de obra.

Há pouco tempo a Confederação Nacional da Indústria divulgou pesquisa sobre a escassez de trabalhadores qualificados para o setor de transformação. Outra sondagem, nesta semana, tornou o quadro ainda mais dramático: 74% das empresas de construção consultadas indicaram dificuldades para encontrar pessoal aproveitável. Quase todo esse grupo - 94% - reclamou da escassez de trabalhadores preparados até para serviços básicos, como os de pedreiro e ajudante.

Em outros tempos, a construção exercia, entre outras, a função estratégica de absorver pessoal de baixa qualificação. Isso mudou. As construtoras progrediram tecnologicamente e a educação ficou para trás, principalmente nos níveis fundamental e médio. Pessoas um pouco mais atentas apontaram a má escolha do objetivo, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu cuidar prioritariamente do acesso a faculdades, por meio de bolsas, cotas e maior oferta de vagas. O País paga caro, hoje, por essa decisão obviamente demagógica e eleitoreira.

Ninguém deve esperar grandes avanços na política educacional em curto prazo. No Rio Grande do Sul, nesta sexta-feira, a presidente Dilma Rousseff repetiu, como se fosse algo muito bom, uma ameaça muito ouvida nos últimos tempos: por meio dos recursos do petróleo, a educação será transformada no "caminho fundamental" do desenvolvimento. Essa é uma assustadora conversa mole. O Brasil precisa de educação há muito tempo, é preciso cuidar do assunto imediatamente e há recursos mais que suficientes para isso. Apostar no hipotético dinheiro do pré-sal equivale a encontrar mais uma desculpa vergonhosa para nada fazer de sério pela educação.

O dilema do Fed - PANORAMA ECONÔMICO

O GLOBO - 09/11

ALVARO GRIBEL E VALÉRIA MANIERO (INTERINOS)

o PIB dos EUA no terceiro tri veio mais forte que o esperado e o mercado de trabalho abriu mais vagas que o previsto. O dólar subiu no mundo todo, com a expectativa de que o Fed comece a retirar os estímulos já em dezembro. Mas é bom lembrar que o mercado também criou consenso em relação a setembro e os estímulos foram mentidos. O dilema do BC americano é grande, ainda há muitos indicadores fracos.

O economista José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários FGV/Ibre, explica que o comitê do BC americano está dividido. Parte dos seus membros é favorável à política de estímulos, entre eles o atual presidente, Ben Bernanke, e a próxima, Janet Yellen, enquanto vários outros têm medo de que o excesso de liquidez possa causar problemas no futuro. 

Há números que justifiquem qualquer um dos dois lados. Os dados do PIB do terceiro trimestre e os indicadores do mercado de trabalho foram mais fortes que o previsto. Isso fez o mercado virar novamente e apostar na retirada já no mês que vem. Mas Senna cita vários outros indicadores da economia americana que mostram que a recuperação está aquém do esperado. Retirar as injeções mensais de US$ 85 bi na economia pode tornar o processo mais lento. 

— O número total de vagas do mercado de trabalho americano ainda não chegou ao nível pré-crise, mesmo com os números melhores dos últimos meses. Falta criar 1,5 milhão de empregos (vejam gráfico). Além disso, a inflação está muito baixa, o consumo das famílias cresceu pouco e há muita capacidade ociosa na indústria — disse. 

O Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco lembra que a alta do PIB do terceiro tri teve um forte empurrão dos estoques, que contribuiu para uma alta de 0,8 ponto no resultado de 2,8%. Isso sugere enfraquecimento da atividade econômica no quarto período. O banco continua apostando no mês de março para o início da retirada dos estímulos.

Senna lembra que o fim dos incentivos aumenta os juros dos títulos americanos e encarece o financiamento do mercado imobiliário, que está em recuperação. A única certeza que se pode ter é que a volatilidade nas moedas e nas bolsas vai continuar. O Brasil sofre mais porque está sob desconfiança dos investidores, depois dos maus
resultados da política fiscal..

Sem para-choques 
O diretor de política monetária do Banco Central, Aldo Mendes, acredita que a inflação no Brasil só está elevada porque o país passou por vários choques nos últimos anos. Dois de commodities e um cambial. Sem eles, o IPCA estaria em 4,7%. O problema é justamente esse. A inflação se acostumou com patamares elevados e ficou sem espaço para a absorção de choques.

A recente alta do dólar pode representar um novo empurrão nos preços, e não é à toa que o BC não deu prazo para o fim das intervenções no mercado de câmbio. 

MUDAR O PASSADO. Desistir do cálculo retroativo da dívida dos estados ajudaria a reverter a desconfiança com a política fiscal. 

PERDA FORTE. Em apenas sete dias úteis, o real se desvalorizou 5,6% em relação ao dólar, saindo de R$ 2,18 para 2,31%.