quarta-feira, setembro 18, 2013

ÍNDICE DO BLOG HOJE - 18/09

Comando de voz - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 18/09

Sei de uma moça que, aos 30 anos, trabalhava numa empresa e foi promovida a um cargo de direção. De índio passou a cacique, e todos os seus colegas a cumprimentaram, mas a partir dali começava sua despedida da profissão que escolhera: logo percebeu que não sabia mandar. Sentia-se constrangida com a liderança concedida. Não tinha voz firme para ordenar isso ou aquilo, para lidar com subordinados. Descobriu que estar no topo de uma hierarquia não era para o bico dela. Então, juntou seus pertences e saiu pela porta, dando adeus ao emprego e encerrando uma carreira que havia sido promissora até ali.

Mudou radicalmente de vida: virou colunista de jornal, passou a trabalhar em casa e viveu feliz para sempre até semana passada, quando leu uma reportagem sobre o lançamento de um novo smartphone que funciona com comando de voz. Ela não é fanática por gadgets, não tem smartphone, só um celularzinho mequetrefe, mas sabe que a tecnologia avança rapidamente para esse novo modelo de acessibilidade: em breve não será preciso mais nem tocar nos telefones. Bastará ordenar: “Ligar para Mariana” ou “navegar para o aeroporto Salgado Filho”.

Em casa, a mesma coisa: “Acender a luz”. “Apagar a tevê.” “Água quente.” “Mais quente.” “Menos.” “Mais.” “Perfeito, obrigada.”

No carro: “Abrir a porta”. “Ligar o rádio.” “Arrancar.” “Frear, frear!”.

Está nascendo uma nova geração de líderes. Aos dois anos de idade, a criança já estará dando ordens aos objetos, falando com lâmpadas, chuveiros, geladeiras, notebooks. Aparelhos reconhecerão o nosso timbre vocal. Assim é que vai ser.

A tal moça, que já dava como superada a questão de não saber mandar, está ficando preocupada. Lá vem o problema da hierarquia outra vez. Ela é alérgica a autoridade. Tocar levemente nos objetos para que funcionem sempre lhe pareceu eficiente e educado. Até com o marido dá certo: basta um toquezinho no seu braço e ele acorda, ele para de falar alto, ele diminui a velocidade, ele presta atenção em quem entrou na sala. Com os objetos, a mesma coisa. Interruptores, teclas, trincos, torneiras, controles remotos – um toque com os dedos, e eles fazem sua parte sem que ela precise dizer nada. A vida funcionando num silêncio respeitoso.

Porém, em breve, ela terá que falar sozinha como se fosse maluca. “Acender.” “Apagar.” “Abrir.” “Trocar de faixa.” “Fechar as cortinas.” “Programar despertador.” Ela espera que não seja tão rápido. Talvez leve, sei lá, uns 10 anos para a rotina do ser humano entrar nessa esquizofrenia, mas no fundo ela já entendeu que não há como lutar contra o progresso – ou ela adere, ou junta seus pertences e, de novo, procura a porta de saída.

Hoje, no comando de voz, o senhor Celso de Mello. Ao decidir se cabe reexaminar as acusações contra os mensaleiros, ele poderá inaugurar uma nova era no país ou manter a impunidade e a desesperança de virmos a ser, um dia, uma nação respeitada. Basta que ele diga “Não”. Cruzemos os dedos.


A Justiça emplumada - MARCELO COELHO

FOLHA DE SP - 18/09

Como um bom seriado, julgamento do mensalão teve astros, surpresas e momentos patéticos


Não haverá outra temporada. Ainda que tudo se estenda com novos recursos, do ponto de vista da teledramaturgia o grande seriado do mensalão chega a seu desfecho.

O roteirista não poderia ter sido mais perfeito. Reservar um empate de cinco a cinco para a última semana foi magistral; soube também introduzir novos personagens, tirar de cena os mais idosos, dar a cada um suas cenas de destaque.

E que personagens. Uma das coisas que mais me fascinaram, ao longo do julgamento, foi a diversidade humana dos membros do STF.

Mesmo num grupo tão homogêneo --todos juízes, todos mais ou menos da mesma idade e condição social--, havia de tudo.

Como em todo drama de alta qualidade, achei difícil tomar partido a favor de um ou outro. Entre Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski, os defeitos e qualidade pessoais estavam a meu ver bem repartidos, e não consigo pensar mal de nenhum dos dois.

Lewandowski exagerou na sua defesa dos réus? Certamente, e por muitos momentos tive pena dele; ainda há poucos dias, teve um lance que não sei qualificar se de fofo ou de patético.

Ele queria provar, mais uma vez, que houve exagero quando o tribunal aumentou as penas de alguns réus.

"Tenho aqui um gráfico", dizia Lewandowski, "em 3D". Saiu de sua mesa uma folhinha de sulfite, mostrando colunas coloridas, que ele queria exibir ao círculo dos seus colegas. Uma aragem polar paralisou o seu gesto.

Quantas vezes senti isso em sala de aula... Eu buscava entre os alunos algum olhar receptivo a meu esforço de explicação. Não havia quem não o desviasse de mim.

Nem Toffoli se dispôs, naquela situação e em outras tantas, a sustentar o solitário esforço de Lewandowski. Havia matreirice nisso. O ministro mais contestado passou por todos esses meses sem se queimar nem um pouco.

De resto, quando lia seus votos ou dava algum palpite sobre o encaminhamento dos trabalhos, Toffoli soube jogar bem o jogo das leis, das normas, dos contrapesos. Nunca transmitiu aquela impressão de desespero que se associa a Lewandowski, por vezes mal assistido pelos próprios argumentos.

Ao mesmo tempo, não deixa de ser admirável a capacidade de Lewandowski de aceitar desculpas e de não partir, o que seria até possível, para a agressão física diante do "bullying" de Joaquim Barbosa.

Medo, talvez? Prefiro pensar em certa donzelice, a que não faltava cálculo. Vai saber se Lewandowski não se sente uma espécie de Quixote garantista, frente aos ogros punitivos que o combatem. Se for assim, teríamos um Quixote disfarçado em Dulcineia; era a parte ofendida, o alvo das ameaças; nenhum cavaleiro se apressou, todavia, para salvá-lo do perigo.

Surgiu Barroso, é verdade, já no final da história. Estava, entretanto, no papel do trovador, dedilhando o alaúde dos fatos consumados. Mas sua voz canora não se contentou com o papel de acompanhante; quis chamar a atenção, quis o estrelato televisivo, e aí desafinou.

O tenor do espetáculo, o Pavarotti da acusação, foi Luiz Fux. Iniciou com aquilo que um crítico de ópera italiano qualificou de "una vocalità prorrompente"; verdade que, nas horas mais embrulhadas da dosimetria, contentou-se em seguir o relator.

Sim, Joaquim Barbosa. Foi decisivo e inteligente na preparação do processo. Tendo conformado todo o caso a uma narrativa cronológica e inteligível, os seus tropeços de argumentação (eventuais) e de compostura (inúmeros, dispensáveis, horríveis) importaram menos.

O racismo está em toda parte. Gente de esquerda criticou Barbosa por ser "ressentido". Ora, ressentido por quê? Seria o adorável Ayres Britto ressentido porque nasceu em Sergipe? Outro, por ter sido gordinho na infância? Sendo negro, este o raciocínio, haveria de querer alguma vingança...

Nessa questão dos estereótipos, o mérito vai para as mulheres do tribunal. Rosa Weber e Cármen Lúcia tiveram opiniões distintas em alguns pontos, mas eram confiabilíssimas. Rosa foi talvez a única a não achar as contas de somar e diminuir da dosimetria uma tarefa manual demais para o próprio talento.

As duas, ao lado de um Teori Zavascki ronceiro e quietarrão, deram o exemplo da falta de vaidade. Na maior parte das espécies, afinal, é o macho quem se empluma, quem se arma de bicos, presas, esporões.

Homens, somos todos crianças, meninos no pátio do recreio. Pelo menos, a Justiça tem forma de mulher; há sabedoria nessa antiga crença.

Liberdade para a pesquisa científica - ROBERTO FREIRE

O GLOBO - 18/09
Aprovada no Congresso Nacional e sancionada pelo então presidente Lula em 2005, a Lei de Biossegurança apresenta barreiras intransponíveis para o desenvolvimento da indústria biotecnológica no Brasil, que impedem o avanço nas pesquisas e no uso de alimentos geneticamente modificados. Para combater o obscurantismo que permeia o debate, está em tramitação na Câmara um Projeto de Lei que altera o texto da lei e derruba algumas dessas restrições, mas o PT e o governo de Dilma Rousseff já se articulam contra as mudanças.

O intuito original da Lei de Biossegurança era regulamentar a produção e a comercialização de organismos geneticamente modificados (OGMs), produtos acrescidos de um novo gene ou fragmento de DNA que lhes permite desenvolver uma característica específica, como mudanças do valor nutricional ou resistência a pragas. Segundo o artigo 6º da lei, ficam proibidos a utilização, a comercialização, o registro e o licenciamento das chamadas tecnologias genéticas de restrição de uso, por meio das quais há intervenção humana na geração ou multiplicação dos OGMs. O artigo 28 criminaliza a pesquisa, estipulando uma pena de 2 a 5 anos de reclusão, além de multa.

As forças do atraso ignoram o potencial social da biotecnologia já consagrado em outros países e referendado por organismos internacionais. Na índia, por exemplo, o avanço das pesquisas na área foi responsável pelo bem-sucedido enfrentamento de doenças oftalmológicas que afligiam a população local. A partir de estudos em sementes reativas de arroz, alimento comum entre os indianos, foi possível diminuir consideravelmente a incidência dos distúrbios.

A própria Organização Mundial da Saúde divulgou um estudo em 2005 que mostra que os organismos transgênicos não oferecem maiores riscos. De acordo com o relatório final, "a produção de alimentos com propriedades nutricionais melhoradas pode ajudar a reduzir o impacto das doenças em muitos países em desenvolvimento"

Nos últimos anos, o desenvolvimento das técnicas de engenharia genética vem levando os cientistas a obterem grande variedade de plantas com características desejáveis, como a soja resistente a herbicida que hoje domina a produção nacional. Mas as limitações legais fazem o Brasil ficar estacionado em comparação aos competidores no mercado externo.

Enquanto nações desenvolvidas contam com projetos em andamento em seus laboratórios, além de modernas biofábricas vegetais, no Brasil ainda se luta para que o artigo da lei que criminaliza cientistas por usarem técnicas de restrição de uso seja derrubado. A iniciativa do governo petista, que se diz tão empenhado nas causas sociais, é um indesculpável retrocesso que nos remete aos processos inquisitoriais, com a criminalização da pesquisa científica,

A história registra vários momentos em que a ciência derrotou o obscurantismo. No Brasil, as discussões em torno de mudanças na Lei de Biossegurança representam mais um desses embates. O futuro do país e as melhorias das condições de vida da população não podem ficar à mercê das forças que combatem a pesquisa científica e os avanços tecnológicos. 

Medos - FRANCISCO DAUDT

FOLHA DE SP - 18/09

A cultura sofisticou nossos medos em novas formas; temos medo do ridículo, da perda do amor, da culpa


Angústia é medo. A origem grega da palavra significa "aperto", coisa que nos acontece no peito (e em outras partes) quando o medo bate.

Há medos que já vêm embutidos em nossos programas de base, inscritos no cérebro pela genética, frutos de antepassados que viveram o bastante para procriar, e foram os medos que os salvaram.

Esses medos de raiz (escuridão, confinamento, altura, insetos voadores, répteis --cobra, principalmente) não se desligam.

Coisas muito mais perigosas, como automóveis, não produzem medo algum, apesar de eu nunca ter conhecido ninguém que morreu de cobra, e vários que morreram de acidente de carro e moto.

Mas sabê-los parte da natureza humana é muito útil. Escuro, por exemplo. Achar que o certo é a criança dormir sozinha no escuro de seu quarto, e que, se ela tiver medo é porque tem problemas, é um erro.

Serviu para os britânicos que não podiam se apegar às famílias, para servir nas colônias. Até então a humanidade dormiu junta, perto do fogo.

Por isto, vai minha forte recomendação: dê direito de abrigo a seu filho no seu quarto, se ele acordar com medo durante a noite. Num colchonete ao lado, que criança na nossa cama é um aborrecimento.

Outra: se você acordar durante a noite, não pense em problemas nem em providências para o dia seguinte. Eles são muito piores no escuro. Trate de pensar em algo agradável, como um devaneio erótico.

Mas a cultura sofisticou nossos medos em novas formas. Temos medo da ameaça física, da vergonha moral, do ridículo, do banimento social, da perda do amor das pessoas queridas, das "sifudências" em geral (virar velho pobre, por exemplo), da nossa autocrítica, da morte imaginada (sempre pior que a real), e do sentimento de culpa.

Este último merece um olhar especial, pois se transformou no instrumento de dominação mais eficiente que a espécie já inventou.

Você pode fazer com que alguém se ajoelhe sob a ameaça de um revólver. Mas com a culpa, você fará com que a pessoa peça para se ajoelhar diante de você. Imbatível!

O que é o sentimento de culpa? Para tê-lo, precisamos trazer na cabeça modelos e antimodelos. Ideais de perfeição a que deveríamos atingir, e horrores absolutos de seres que são o fim da picada.

É preciso ter crenças irrealistas, portanto, que nos fazem ficar sempre devendo ao mundo e ameaçados de nos parecer horríveis.

Pense numa mulher que tem na cabeça a mãe ideal (modelo) e a mãe desalmada (antimodelo). A primeira é inatingível. E se trabalha fora, então? Ela vai se imaginar a desalmada, o horror absoluto, e vai tentar "compensá-los" quando chegar em casa.

Os filhos detectam essa fragilidade e passam a abusar desse poder enorme que têm sobre elas, tornando as mães em seus videogames favoritos, fazendo assim que ela perca a mais importante ferramenta da educação, a autoridade.

Podem argumentar que é o amor. Conversa fiada. Primeiro vem a autoridade, depois vem o bom gerenciamento. Eles abrem espaço para sentir amor, pois o que se faz por culpa é penitência (para alívio da culpa), não é amor.

Toga no chão - JOSÉ PAULO CAVALCANTI FILHO

FOLHA DE SP - 18/09

Nada a estranhar que haja sempre homens assim, dispostos a pagar, com decisões e votos, suas nomeações aos cargos


Adaucto Lucio Cardoso apoiou o golpe militar, foi fundador da Arena e, em 1966, era presidente da Câmara dos Deputados. Mas não se curvava, diferentemente da grande maioria dos homens daquele tempo. E de hoje, também. Mesmo aqueles a quem nos referimos como vossas excelências.

Quando o general Castelo Branco cassou o mandato de alguns deputados, reagiu altivamente. E declarou considerar sem efeito as cassações. Por pouco tempo. Que, no fim daquele mesmo dia (20 de outubro de 1966), o Exército ocupou o Congresso Nacional.

Na reabertura dos trabalhos (em 22 de novembro), Adaucto disse não aceitar a humilhação de ver o Parlamento fechado. Uma resposta rara dada por quem apoiava o governo. Nenhum dos outros presidentes, do Senado ou da Câmara, neste e nos dois outros momentos em que o Congresso foi fechado (em 13 de dezembro de 1968 e 1º de abril de 1977), sequer protestou. Renunciou à presidência. Mas acabou indicado para o Supremo Tribunal Federal.

Adaucto honrou a casa. Respeitava as leis. Mas sabia ouvir, também, a voz das ruas.

Tanto que concedeu habeas corpus ao líder estudantil Vladimir Palmeira e a Darcy Ribeiro, então preso. Para desgosto dos ocupantes do Palácio do Planalto, que cobravam subserviência. E a recebiam de (quase) todos. Até de juízes. Estamos falando de tempos idos, claro.

Segue a vida e, em 1971, o general Médici editou o decreto-lei nº 1.077 --que estabelecia a censura prévia de jornais, revistas e livros. Em aberta violação à Constituição de 1969, que não admitia qualquer censura. Deve ter rido, ao assinar. O general gostava de rir, senhor meu. Eram negros anos.

Naquele tempo, apenas o procurador-geral da República podia questionar a constitucionalidade das normas jurídicas. O MDB, então único partido de oposição, pediu que impugnasse o decreto-lei. E o procurador-geral, subserviente, teve o desplante de declarar que não via qualquer violação à Constituição. Nada a estranhar que haja sempre homens assim, dispostos a pagar, com decisões e votos, suas nomeações aos cargos.

O MDB entrou com reclamação diretamente no Supremo. Adaucto pôs em julgamento. Mas fez, antes, discurso afirmativo, indicando que os brasileiros esperavam um gesto do Supremo. Discurso de quem, ao contrário de alguns pares seus, tinha coragem cívica.

Ao fim da votação, apenas ele votou contra a censura. Os demais ministros exercitaram a vilania se refugiando em tecnicalidades. De onde menos se espera, daí é que não vem nada mesmo, ensinava Millôr.

Adaucto declarou que seus pares envergonhavam a casa. Que não se sentia mais à vontade para conviver com eles. E jogou sua toga na curul (assim se chama a cadeira dos ministros), segundo uns; ou no chão do plenário, segundo outros. Após o que foi embora. Saiu do Supremo para entrar na história, dá vontade de repetir a frase de Getúlio. Evandro Lins e Silva, mestre querido, disse que "sua atitude foi única, continua única e provavelmente nunca se repetirá". Será?

P.S. Hoje, não estarão em julgamento os embargos infringentes. Hoje, quem será julgado é o Supremo.

Missão impossível em Moscou - PAULO SOTERO

O Estado de S.Paulo - 18/09

Se tiver êxito, a iniciativa da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados de enviar uma delegação à Rússia para ouvir Edward Snowden sobre as atividades de espionagem da National Security Agency (NSA) no Brasil, aprovada por unanimidade na semana passada, colocará o Legislativo brasileiro no centro de um pesadíssimo jogo nas relações internacionais. Ter os representantes do povo diretamente envolvidos nesse jogo é inevitável e até desejável, na medida em que o País avançar na realização de sua secular ambição de ocupar o espaço que lhe cabe entre os grandes. A recente participação de parlamentares em questões complicadas com a Bolívia aponta nessa direção. No caso em questão, porém, aconselha-se aos congressistas entrar em campo com os olhos bem abertos e sem ilusões.

Devem presumir, em primeiro lugar, que seu desejo de avistar-se com Snowden é bem visto pelos serviços de inteligência dos EUA, pois, se atendido, dará a eles uma oportunidade única para tentar saber o paradeiro do jovem ex-empregado da Booz Allen e armar uma operação para trazê-lo de volta aos EUA. Com isso em mente, os parlamentares não devem descartar a possibilidade de se tornarem atores involuntários de cenas dignas dos thrillers de espionagem - antes, durante e depois do encontro na Rússia. Os membros da comitiva parlamentar precisam ser realistas, também, quanto aos entendimentos que terão de entabular com os diplomatas de Moscou para agendar o encontro com Snowden.

Os russos, como se sabe, estão habituados a espionar e ser espionados. Devem, por isso, estar curiosos com a perplexidade dos parlamentares ante a bisbilhotagem da NSA no Brasil. País com tradição de grampo e vazamento seletivo de informações sigilosas de seus próprios cidadãos, o Brasil é a única nação de seu tamanho e status que não dispõe de um serviço sofisticado de contraespionagem ou de coleta e interpretação de informações sigilosas fora de suas fronteiras. A atitude nacional no assunto é tão relaxada que, como admitiu o próprio ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, informações sigilosas são trocadas entre funcionários do governo não em redes intranet seguras, mas via Gmail e outros provedores de internet vulneráveis não só aos serviços de espionagem de países que levam o assunto a sério, mas a qualquer hacker de fundo de quintal.

É também estranha para os russos a controvérsia que as atividades da NSA expostas por Snowden causa nos próprios EUA, incluindo as revelações de que a agência espiona líderes e empresas de países amigos como Alemanha, França, México e Brasil sob a justificativa, obviamente fajuta no caso, de proteger o país contra o terrorismo. A imprensa americana tem publicado reportagens e análises copiosas sobre atividades de espionagem da NSA nos EUA, destacando os atentados ao direito dos cidadãos à privacidade e violações de leis adotadas após o 11 de Setembro para compatibilizar as ações do crescente aparato de segurança do país ante a ameaça terrorista com o preceito da liberdade individual assegurado pela Constituição. Na Rússia de Putin espiona-se à grande, sem maiores preocupações com tais sutilezas.

Outra peculiaridade russa é o pragmatismo. Snowden deve ter ficado apreensivo com a desenvoltura exibida nos últimos dias por Vladimir Putin quando surgiu a oportunidade de tirar proveito da enrascada em que o presidente Barack Obama se meteu no encaminhamento da questão síria. Putin ofereceu uma saída ao colega e depois zombou do "excepcionalismo americano" em artigo publicado no New York Times. Snowden, que recebeu asilo político na Rússia pelo prazo de um ano, deve saber que é forte candidato a virar moeda de troca entre Washington e Moscou.

Os russos não deixarão passar a oportunidade da visita dos parlamentares brasileiros em missão tão sensível para gravar tudo, atentos à possibilidade de a CIA usar a ocasião para penetrar seus serviços de contraespionagem. Detalhes cinematográficos à parte, há o desafio de interpretar os sinais emitidos pelos russos.

O Brasil não tem tradição nessa arte e já pagou caro por isso. Em 2010, com uma carta de incentivo de Obama na mão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarcou na bem-intencionada tentativa de mediar, juntamente com a Turquia, um acordo nuclear entre a comunidade internacional e o Irã. O então ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, preparou a negociação convencido de que, embora de difícil execução, ela seria bem-sucedida, não só por ter mérito, mas porque Rússia e China já haviam indicado que não apoiariam a adoção de novas sanções econômicas contra Teerã no Conselho de Segurança (CS) da ONU. Os vetos russo e chinês eram a garantia de que o caminho da negociação era o único disponível.

Mas o atual ministro da Defesa estava equivocado. Não percebeu que, entre a resistência à imposição de novas sanções ao Irã e seu interesse em preservar as relações com os EUA e sua influência sobre o tema da não proliferação como membros permanentes do CS, Rússia e China optariam por este último e endossariam novas sanções propostas por Washington. Foi o que ocorreu. O veterano chanceler russo, Sergey Lavrov, há oito anos no posto, que visitava Washington enquanto Lula estava em Teerã, exibiu publicamente sua exasperação ante a petulância brasileira de se meter em assunto de gente grande antes de se reunir com a então secretária de Estado, Hillary Clinton, e Obama, que já haviam recebido o apoio de Pequim às sanções.

Os integrantes da Comissão de Relações Exteriores da Câmara que viajarem para Moscou devem ter presente que Sergey Lavrov é o interlocutor do secretário de Estado John Kerry no atual caso das armas químicas da Síria, que é o Irã da vez. Devem saber, também, que sua imunidade parlamentar não valerá um grama de caviar no momento em que desembarcarem em Moscou e mergulharem no eletrizante submundo da espionagem internacional.

O craque não parece, é - TOSTÃO

FOLHA DE SP - 18/09


Cruzeiro e Botafogo, as duas melhores equipes brasileiras, possuem várias coisas em comum


A mais difícil definição no futebol, impossível em alguns casos, é a de craque. Banalizaram o conceito. Qualquer bom jogador, habilidoso, ganha esse rótulo. São os mesmos que acham qualquer pelada uma maravilha, que não consideram antiético o procurador-geral do STJD, Paulo Schmitt, viajar como convidado da CBF e que contestam o craque Alex por criticar o péssimo calendário do futebol brasileiro. São os acríticos, como disse o mestre Juca Kfouri.

Ainda bem que existem os mais exigentes, chamados de ranzinzas, que esperam o tempo para separar os brilharecos dos verdadeiros craques.

Os craques, como regra, atuam em grandes times, pelas seleções de seus países, ganham os maiores títulos e jogam ao lado de bons coadjuvantes.

Há exceções. Alguém vai dizer que Neymar ainda não pode ser chamado de craque porque não ganhou um mundial, de clubes ou de seleções, nem brilhou no melhor campeonato de times do mundo, a Liga dos Campeões. Seu extraordinário talento está acima de qualquer critério.

Os craques mostram que são especiais nas categorias de base ou no início das carreiras nos times profissionais. Há também exceções. Rivaldo demorou um longo tempo para ser reconhecido como craque. Foi eleito o melhor do mundo. Já Robinho, chamado um milhão de vezes de craque, se tornou apenas um bom ou ótimo jogador. Rivaldo se destacava mais pela técnica, e Robinho, mais pela habilidade. Robinho parecia craque, Rivaldo era craque.

Uma clássica definição de craque é a de que ele antevê o lance. Sabe antes dos outros. Como sabe? Sabendo. Existe um saber que antecede o pensamento lógico. Alguns chamam de saber corporal. Outros, de intuição. A ciência diz que é uma inteligência cinestésica. Mas não adianta antever o lance, se o jogador não tem grande técnica para executá-lo. O craque sabe e faz.

Nenhum talento resiste ao tempo. Alguns, antes dos outros. Os grandes craques possuem um período de esplendor técnico, de tempo variável, além de outro período, às vezes, mais longo, de manutenção, de administração da fama e de altos e baixos, até que o brilho se apague. Quando o craque não percebe, alguém tem de apagar a luz.

Hoje é dia de ver vários craques juntos no Barcelona. O time continua frágil na defesa, principalmente nas jogadas aéreas.

Mas o grande jogo do dia é entre Cruzeiro e Botafogo, equipes organizadas que têm várias coisas em comum. Possuem ótimos goleiros, capitães, volantes experientes que vivem seus melhores momentos (Nilton e Marcelo Mattos), excelentes meias criativos (Éverton Ribeiro, Seedorf e Lodeiro), uma diversidade de goleadores e bons treinadores, Marcelo e Oswaldo, com o mesmo sobrenome, Oliveira. E não têm um rei na barriga.

O barco afundou - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 18/09

O tríplex de 3.800 metros quadrados na Praia do Flamengo, no Rio, que pertenceu a Carlos Guinle, está à venda por R$ 55 milhões.

O atual proprietário é José Carlos Fragoso Pires, de 80 anos, o armador que vivia cercado de luxo quando era dono de 27 empresas. Hoje, ele passa por dificuldades.

Jardim suspenso...
O apartamento é um luxo. No primeiro andar ficam os salões, onde os Guinle faziam suas badaladas festas nos anos 1950.
No penúltimo andar estão as cinco suítes. E, na cobertura, fica a área de lazer, com direito a um belo jardim, uma goiabeira e até uma miniatura do Arco do Triunfo.

A garagem, para dez carros, e o elevador são privativos. Há 11 quartos para os empregados.

Aliás...
A 3ª Vara Empresarial negou um pedido de Fragoso Pires, que queria receber R$10 milhões de Antonio Carlos Coelho. Os dois foram sócios no enfermo Banco Vega.

Outra...
Este cargueiro Angra Star, que está afundando na Baía de Guanabara, pertenceu, com o nome de Frota Belém, a Fragoso Pires.

O navio estava abandonado e foi saqueado por piratas.

Brinde
Guido Mantega se reúne hoje em São Paulo com o setor de bebidas.

A volta de Franklin
O jornalista Franklin Martins, que foi ministro de Lula, está de volta à TV.

Vai apresentar a série “Presidentes africanos”, em 15 episódios, a partir do dia 25 próximo, no canal Discovery Civilization.

Calma, gente!
O superadvogado Sérgio Bermudes sugeriu ao ministro Luis Roberto Barroso que, da próxima vez que alguém no Supremo o chamar de “novato”, como fez Marco Aurélio Mello, ele deve se inspirar em Corneille, o dramaturgo francês.

Em “O Cid”, ele escreveu que “para as almas bem-nascidas, o valor não corresponde ao número de anos”.

Romance feminino
Sveva Casati Modignani, a italiana que já vendeu mais de dez milhões de exemplares no mundo, vai lançar aqui “6 de abril”, pela editora LeYa.

O romance fala da luta das mulheres pela igualdade de direitos.

Por fora
Galeristas e marchands americanos que participaram da ArtRio, a feira de arte, ficaram espantados com o que viram por aqui.

Segundo eles, colecionadores brasileiros têm o hábito de reservar uma obra e, no dia seguinte, mandar um advogado para tentar negociar uma forma melhor, ou o popular “por fora”, de pagar.

Armas não letais
A 22ª Câmara Cível do Rio, do desembargador Marcelo Buhatem, proibiu ontem o uso de spray de pimenta e outras armas não letais pela Guarda Municipal do Rio. A ação foi proposta pelo promotor Rogério Pacheco Alves:
— O objetivo é combater os excessos praticados pelos guardas municipais, especialmente contra os camelôs.

Boletim médico
O ator Cláudio Marzo está internado desde segunda passada na Clínica São Vicente, no Rio, com insuficiência respiratória e pneumonia.

Está na UTI, sem previsão de alta.

Mãos ao alto
A chilena TAM cobrou de um parceiro da coluna R$1.915 por uma passagem quinta entre Brasília e Rio.

Nova missão
O ex-ministro Márcio Fortes foi contratado como diretor da Firjan, em Brasília.

Irmãos necrófilos
José Padilha e Marcos Prado vão produzir um filme de suspense e terror sobre a história dos dois irmãos necrófilos de Friburgo (RJ).

Em 1995 e 1996, Henrique e Ibraim Oliveira assassinaram oito pessoas na região. Depois de matá-las, eles faziam sexo com os cadáveres.

Como se sabe...
Os crimes chocaram os moradores. Ibraim acabou morto, por um policial, quando se escondia numa floresta.
O irmão foi condenado a 34 anos de prisão.

A vida resiste
Domingo, dia 15, quatro golfinhos foram vistos brincando nas águas da Baía de Guanabara na altura da Ilha do Fundão.

A QUERIDINHA DO PÚBLICO
Paloma, a personagem de Paolla Oliveira, de 31 anos, em “Amor à vida”, sofre muito na novela. Mas é a queridinha do público. Nestes cem primeiros capítulos, não teve para mais ninguém. Os telespectadores procuram a emissora para saber o nome do esmalte, do batom e da tinta do cabelo de Paolla, além do lugar onde comprar os acessórios. O que faz mais sucesso são aqueles vestidos no estilo “hippie chic” 

AI, COMO EU TO BANDIDA!
Rodrigo Sant’anna, o talentoso humorista de “Zorra total”, posa com Thaynara Bergamim, que faz a “Fioninha” do musical Shrek

Ponto Final

E agora, José?
Hoje é dia do ministro José Celso de Mello Filho carregar nos ombros, como Atlas, na mitologia grega, uma imensa responsabilidade. Que seja feliz!

A regra da gafieira - LUIZ CARLOS AZEDO

CORREIO BRAZILIENSE - 18/09

A presidente Dilma Rousseff cancelou ontem a visita de Estado à Casa Branca prevista para outubro, depois de uma conversa de 20 minutos, por telefone, com o presidente Barack Obama na segunda-feira. A decisão foi pautada pelas denúncias de espionagem da Agencia Nacional de Segurança (NSA) norte-americana, para as quais não há explicações satisfatórias da Casa Branca.

Dilma Rousseff deixa o Brasil numa encruzilhada diplomática. Objetivamente, estamos cada vez mais em oposição aos Estados Unidos e alinhados à Rússia, à Índia e à China nos foros internacionais. É uma situação inédita em termos de política externa. Nem durante o Estado Novo, quando Getúlio Vargas alimentava as simpatias de Góes Monteiro e Fillinto Muller em relação ao Eixo, o Brasil esnobou um presidente norte-americano.

Há que se considerar, porém, o contexto da situação. Dilma foi espionada, a Petrobras também. Provavelmente, outros países também espionam o Brasil, que é uma potência emergente, mas nunca ninguém foi pego em flagrante. A visita de Estado, nessas circunstâncias, seria um constrangimento para Dilma, que se veria numa situação semelhante à de uma dama desacompanhada num baile de gafieira, no qual a regra é não recusar o convite para dançar. No cerimonial de gala, Obama dançaria com Dilma Rousseff. Se recusasse o convite, ela faria uma descortesia; se aceitasse, se veria numa condição humilhante. Além disso, ninguém sabe se novas denúncias surgiriam durante a visita oficial, estragando o baile de gala.

Diplomacia
As notas divulgadas ontem pela Casa Branca e pelo Palácio do Planalto informam que a decisão do adiamento da visita da presidente Dilma Rousseff aos EUA foi tomada em conjunto por ela e pelo presidente Barack Obama. Na posse do novo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, Dilma frustrou expectativas e não deu declarações sobre a visita à Casa Branca.

Diálogo
O novo procurador-geral, Rodrigo Janot, em seu discurso de posse, pregou o diálogo do Ministério Público com os demais poderes e a sociedade. “A predisposição do diálogo não significa renúncia. Proponho o desafio para que sejamos mais permeáveis à interação institucional”, disse. É um recado para o Congresso, onde volta e meia surge uma proposta para reduzir os poderes dos procuradores.

Fora do sério
O pau quebrou na reunião da bancada do PMDB no Senado ontem, que discutiu o leilão do poço de Libra. Os senadores Roberto Requião (foto) (PMDB-PR) e Lobão filho (PMDB-MA) se estranharam. O líder do governo, Eduardo Braga (PMDB-AM), que defende o leilão, entrou no bate-boca e quase saiu no tapa com o colega de bancada.

É a crise
O governador Sérgio Cabral fará nova operação de antecipação de receitas dos royalties de petróleo para fechar a conta do Rioprevidência, o fundo de pensão dos servidores. São R$ 4,5 bilhões

Quem samba, fica
O governador do Ceará, Cid Gomes, foi gentilmente convidado pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos, a escolher o rumo que vai tomar nas eleições de 2014. Ou bem apoia a reeleição da presidente Dilma Rousseff e deixa a legenda, ou embarca na candidatura de Campos a presidente da República.

Reforma
Coordenador do grupo de trabalho que estuda a reforma política, o deputado Candido Vaccarezza (PT-SP) promete concluir os trabalhos da comissão na segunda quinzena de outubro. O fim da reeleição, a proibição de coligações e o voto misto (proporcional e por lista) estão entre as propostas a serem apresentadas à Câmara.

Go home
A nota da Casa Branca revela a preocupação com a deriva diplomática do Brasil. "O presidente Obama e a presidente Dilma Rousseff esperam ansiosamente por essa visita de Estado, que irá celebrar nosso relacionamento mais amplo e não deve ser eclipsada por um único tema bilateral, não importa o quanto esse tema seja importante ou desafiador”, diz Obama.

No solo
A crise entre o Brasil e os Estados Unidos sepultou a compra dos 36 caças norte-americanos F-18 Super Hornet, Boeing, o preferido do brigadeiro Juniti Saito, comandante da Força Aérea Brasileira. A opção pelo F-18 ganhou força por causa de uma operação casada com a venda de aviões A-29 Super Tucano, da Embraer, para as forças armadas dos Estados Unidos.

Crítica
O presidente do PSB, senador Aécio Neves (MG), criticou a decisão de Dilma. Depois de classificar a espionagem como inadimissível, o tucano disse que a viagem era uma oportunidade para uma agenda afirmativa em defesa dos interesses do país. “Ela opta, mais uma vez, por privilegiar o marketing”, disparou.

Obama reconhece erro - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 18/09

Na visão do governo brasileiro, o presidente Obama atendeu aos protestos da presidente Dilma. A nota dos EUA diz: "Ele determinou uma ampla revisão da postura da inteligência americana"! Mesmo assim, Dilma fez a opção por cancelar a viagem. Um ministro explica: "É preciso dar satisfação à opinião pública brasileira." No Planalto, a avaliação é que "eles farão tudo para nos agradar" para que a visita possa ocorrer em futuro próximo.

As UPPs em questão
Um dos carros-chefe do candidato do vice Luiz Fernando Pezão ao governo do Rio, a UPP tem vulnerabilidades na ótica da oposição. Seus candidatos têm pesquisas qualitativas dizendo que os entrevistados acham que o tráfico de drogas (53%) e a criminalidade (56%) estão iguais a antes. Enquanto 37% avaliam que diminuiu o tráfico e 35%, que a criminalidade caiu. Na visão de 74% dos ouvidos, a maioria dos bandidos e traficantes continua solta, e apenas se mudaram para outros lugares, como a Baixada Fluminense. A sensação de segurança com as UPPs está na mesma para 61% dos ouvidos. Sendo que, para 32%, a situação melhorou.



"A coragem que não teve para enfrentar Evo Morales na Bolívia, teve para enfrentar um presidente fraco como o dos Estados Unidos (Barack Obama)"
Jarbas Vasconcelos
Senador (PMDB-PE), sobre o cancelamento da visita da presidente Dilma aos Estados Unidos

Ele quer voltar à cena
O ex-governador do Distrito Federal José Roberto Arruda, que caiu devido a um escândalo, apelidado de "o mensalão do DEM" quer voltar à Câmara dos Deputados. Com o aval de seus dirigentes, ele está se filiando ao PR.

Sururu
Um bate-boca quase virou confronto físico ontem na reunião da bancada do PMDB. O vice da Associação de Engenheiros da Petrobras, Fernando Figueira, falava contra o leilão de Libra, quando os senadores Lobão Filho (MA); o líder do governo, Eduardo Braga (AM); e Roberto Requião (PR), travaram violento e colérico debate.

Trilhando linha própria
Na contramão do PSB, o governador do Ceará, Cid Gomes, quer melhorar sua posição no governo Dilma. Ele tenta emplacar o secretário do Turismo, Bismarck Maia (PSD), no Ministério.

De mudança para o PMDB
A presidente da CNA e senadora Katia Abreu (TO) está de malas prontas para sair do PSD. Com um convívio difícil com o presidente de seu partido, Gilberto Kassab, ela esteve ontem no Palácio do Jaburu, para conversar com o vice Michel Temer. A expectativa no PMDB é que ainda hoje a senadora pode anunciar seu ingresso no partido.

Pirataria
Para economizar R$ 1 milhão por ano, o Senado suspendeu contrato com a EBC para receber o clipping de jornais. Agora, o Senado tem um serviço próprio, que usa os textos dos jornais sem autorização ou pagamento de direitos autorais.

Rasgando a fantasia
O PPS nacional ainda está avaliando quem apoiar na sucessão presidencial. Mas o de Minas Gerais já tomou seu rumo. A presidente local, Luzia Ferreira, após decisão da Executiva regional, entregou ao PSDB carta de apoio a Aécio Neves.

Paraná pesquisas. Na hora de decidir o voto, 54% declaram-se indiferentes à posição do ex-presidente FH, e 43%, à do ex-presidente Lula.

Demarcando limites - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 18/09

Ministros do STF acreditam que, caso reconheça que cabem embargos infringentes no mensalão, Celso de Mello vai delimitar em seu voto o alcance desse recurso. O decano deixaria claro, por exemplo, que os embargos não podem servir para rever a dosimetria das penas. Também deve reafirmar as considerações duras que fez sobre a gravidade do caso. Por fim, colegas não descartam que Mello opine a favor da aplicação das penas aos condenados para os quais não cabe recurso.

Blasé O Planalto decidiu aguardar a decisão oficial do PSB de deixar os cargos federais sem se pronunciar. Entre auxiliares de Dilma Rousseff a ordem é "manter pontes" caso a candidatura de Eduardo Campos naufrague.

Rir... Em telefonema a Cid Gomes em que o convidou para a reunião de hoje da Executiva do PSB, Campos brincou com o governador cearense sobre a situação do partido citando Ariano Suassuna.

... pra não chorar "Ele diz que cachorro gosta de osso. Gosta de osso nada! Dá carne para o cachorro pra ver se ele não quer'', disparou.

Provas A Rede elaborou uma planilha extensa de todas as assinaturas de apoio, com as datas de protocolo nos cartórios eleitorais, para apresentar ao TSE. O partido de Marina Silva quer demonstrar que houve lentidão e dar argumentos para que o tribunal garanta seu registro.

Sacolejo Sondagem nacional do instituto Paraná Pesquisas mostra que Campos perde 34% de seus votos, e Aécio Neves (PSDB), 25%, quando José Serra aparece como candidato a presidente. O ex-governador paulista empata tecnicamente com Marina em segundo lugar.

Vale tudo O DEM, desfalcado pelo PSD de Gilberto Kassab, está prestes a acertar a filiação do cantor Belo em São Paulo. A sigla quer que o pagodeiro e ex-presidiário se candidate a deputado federal.

Efeito... O governo quer obrigar os bancos que têm clientes brasileiros a armazenarem no país todos os dados protegidos por sigilo. A medida, discutida no Planalto na segunda-feira, deve integrar o Marco Civil da Internet.

... Snowden A decisão é um meio termo à ideia inicial de obrigar que todos os bancos de dados com informações nacionais ficassem no Brasil. A medida vai ser extensiva também a dados de empresas públicas.

Foi ela Assessores que participaram das reuniões sobre a ideia de cancelar a viagem aos EUA dizem que a decisão foi "200%" de Dilma. Lula só teria concordado.

Barraco Na segunda-feira, em reunião no Planalto, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e José Guimarães (PT-CE) bateram boca duramente na presença de ministros e técnicos da Fazenda, com direito a dedo em riste e soco na mesa.

Onde pega Segundo interlocutores do governo, Guimarães está contrariado por ter sido excluído da discussão de matérias importantes, enquanto o Planalto se "afinou" com Cunha, inclusive acatando sugestão dele para manter a multa do FGTS.

Escanteio Aliados de Beto Richa (PSDB) se queixam que o governador, que conduziu a negociação para a Audi se instalar no Paraná, não foi convidado a participar de evento ontem com Dilma e o presidente mundial da montadora alemã, Rupert Stadler.

Visita à Folha Juan Carlos Marroquín, diretor-presidente da Nestlé, visitou ontem a Folha, onde foi recebido em almoço. Estava com Lilian Miranda, vice-presidente de comunicação e marketing, e Anahi Guedes, gerente de comunicação corporativa.

com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN

tiroteio

"Não há nada que Dilma faça que não seja baseado em uma análise de marketing. Resultados concretos não são considerados."

DE ALBERTO GOLDMAN, vice-presidente do PSDB, sobre a decisão do governo federal de cancelar a visita oficial da presidente Dilma Rousseff aos EUA.

contraponto


Nem isso nem aquilo

Quando a Comissão de Sistematização da Constituinte divulgou a primeira versão do texto que seria discutido, Ulysses Guimarães (PMDB-SP) convocou uma entrevista para explicar os principais pontos do documento.

Uma repórter então perguntou:

--O texto da comissão não agradou nem a gregos nem a troianos. O que o senhor tem a dizer?

Ulysses, que presidia a Câmara e também a Assembleia Constituinte, evitou polêmica e preferiu responder de forma bem-humorada:

--Não sei, minha filha. Eu não sou grego nem troiano.

FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA

O GLOBO - 18/09

Nota carioca já rendeu R$ 686 milhões

Sistema eletrônico ampliou arrecadação da Fazenda municipal em setores que nunca se destacaram, como escolas


Renderam R$ 686 milhões em arrecadação adicional do Imposto Sobre Serviços (ISS) os três anos de vigência da Nota Carioca. O sistema de nota fiscal eletrônica entrou em vigor em junho de 2010. Até o fim do primeiro semestre deste ano, gerou receita suficiente para cobrir uma vez e meia o orçamento do BRT Transoeste, que a Prefeitura do Rio inaugurou um ano atrás. Os economistas José Marcelo Boavista e Fabio dos Santos Silva fecharam, na semana passada, a nota técnica da Secretaria municipal de Fazenda com os resultados da Nota Carioca. Além do incremento na receita total do tributo, chama atenção o salto na arrecadação de ISS em setores que, até então, não se destacavam. Nas oficinas mecânicas, por exemplo, a média móvel em 12 meses do recolhimento saiu de R$ 6,6 milhões,
em junho de 2010, para R$ 11,3 milhões, este ano. Nas escolas, as receitas passaram de R$ 6,9 milhões para R$ 12,2 milhões; nos estacionamentos, de R$ 1,2 milhão para R$ 2 milhões; no setor de hospedagem, de R$ 5,5 milhões para R$ 10,3 milhões. “Só os ganhos de gestão, simplificação e fiscalização tributárias já justificariam a Nota Carioca. Mas houve ganhos de arrecadação”, analisa Boavista.

Mudou
Será Best Western o hotel que a Rossi vai erguer no complexo Multi, em Duque de Caxias (RJ). A construtora fechou com a Incortel. Na origem, o projeto teria bandeira Flash Inn. O hotel, com 156 quartos, terá R$ 50 milhões em valor de venda.

Negócios
O “Goal to Brasil”, programa da Embratur, agora é voltado para negócios, além da apresentação das cidades. Encontros entre operadores brasileiros e colombianos em Bogotá, semana passada, devem girar US$ 1,5 milhão. Ainda este ano, Los Angeles (EUA) e Amsterdã (Holanda) recebem o evento.

Aeroporto
Terminou a 1ª fase da troca de piso do Setor B de desembarque do Santos Dumont. O chão, agora, é de mármore. As obras no Setor A começam semana que vem. A Stone Hill Brazil foi contratada pela Infraero. Investimento de R$ 233 mil.

Juventude
A Forma Turismo embarcará nove mil jovens para o Rio neste fim de 2013.O estado é destino habitual de festas de formatura. O Club Med Rio das Pedras receberá 7.500;
o Blue Tree Búzios, 1.500.

Wi-fi
Cerca de 14 mil usuários se conectaram à rede wi-fi da Oi no 1º fim de semana do Rock in Rio. O pico de
acessos (6.421) foi domingo, dia de Justin Timberlake.

Redesenho 1
A Confederação Brasileira de Vôlei apresenta hoje a nova estrutura de gestão. Marcos Pina, que passou pela CBV, nos anos 90, assume como superintendente-geral. Terá status de CEO. O engenheiro deixa a SMP, empresa de marketing esportivo que fundou. Vai se dedicar com exclusividade à entidade.

Redesenho 2
Walter Pitombo Laranjeiras, sucessor de Ary Graça na presidência, permanece no cargo. A CBV passa a operar em unidades de negócios. A equipe de seleções sai da Tijuca, na capital fluminense, para Saquarema. A Superliga ganha escritório próprio. Marcelo Wangler assume a área de marketing e eventos no lugar de Fábio Azevedo.

Saúde
A Primordia Medicina Reprodutiva abre unidade em Ipanema, mês que vem. É
investimento de R$ 3 milhões.

Detentos
O Senac-RJ ampliou a parceria com a Secretaria estadual de Administração Penitenciária. Vai capacitar mais 1.500 detentos até o fim de 2014. Em um ano, formou 700 em cursos de garçom, escriturário e estoquista.

Em tempo
A fundação Santa Cabrini promove concurso de desenhos para confecção de cartões de Natal e calendário. Caçula é parceira. Vinculada à Seap, a entidade cuida do trabalho prisional remunerado

Sem lixo
O Lixo Zero acrescentou novo produto ao já variado comércio do Centro do Rio: o cinzeiro portátil. Banca na Rua São José anuncia o item por R$ 9,99, ao lado da advertência aos fumantes: “Não seja multado!!!”. Saem, em média, seis por dia, diz André Luiz da Silva, dono da banca. Desde 20 de agosto, 1.633 pessoas foram multadas no Rio. Quase 80% delas no Centro, onde o programa começou.

Mergulho nos portos
Carlos Tavares conta histórias e apresenta características dos maiores terminais de carga do planeta em “Dez principais portos do mundo” (Aduaneiras, 145 páginas, R$ 35). É o 17º livro do jornalista, há
40 anos dedicado ao setor. Lidera a lista o Porto de Ningbo, que passou o de Xangai, também chinês. Por ano, o terminal movimenta 700 milhões de toneladas de carga, sete vezes o volume do Porto de Santos. Os top ten incluem quatro portos asiáticos, quatro europeus e dois nos EUA. O lançamento é hoje, na sede da CNC, no Rio.

Direção segura
Funcionários da CCR estão na campanha da Semana Nacional do Trânsito, que a concessionária veicula, de hoje adia 25, nas rodovias que administra. A ideia é alertar para regras da direção responsável: não beber, não usar o celular, pôr o cinto de segurança. A Mood criou.

Imóveis 1
A incorporadora Golden Realty espera bater R$ 400 milhões em vendas em 2014. Será quase o dobro de 2013.

Imóveis 2
A Brasil Brokers promove festival de imóveis prontos, até 20 de dezembro. Tem cinco mil unidades à venda. O HSBC é parceiro. No feirão em maio e junho, totalizou R$ 67 milhões em contratos.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 18/09

Operadoras de turismo projetam fechar o ano com faturamento igual ao de 2012

Os resultados das operadoras de turismo do país devem ficar estagnados neste ano.

A Braztoa (associação brasileira do setor) prevê que haja até uma queda no número de viajantes, ao redor de 5%, mas o aumento dos preços deve manter o faturamento no mesmo patamar de 2012.

"As passagens aéreas estão mais caras. Isso deve ajudar a segurar a receita", afirma o presidente da entidade, Marco Ferraz.

No ano passado, as companhias venderam R$ 10,9 bilhões em pacotes de viagem -alta de 12,4% na comparação com 2011, sem descontar a inflação.

"Para 2013, esperamos que o valor fique estável em relação a 2012. A economia fraca prejudica", afirma.

Na operadora Nascimento Turismo, enquanto o faturamento registrou uma elevação nominal de 8,6% nos oito primeiros meses do ano, o número de passageiros aumentou apenas 1%.

"Não diria que existe uma crise, mas o crescimento parou. Não tem mais uma expansão forte como ocorreu entre 2007 e 2011", afirma o diretor-geral da empresa, Plínio Nascimento.

O presidente da Agaxtur Viagens, Aldo Leone Filho, no entanto, é mais otimista.

"Talvez o número de passageiros diminua mesmo, mas temos registrado uma alta mensal no faturamento entre 10% e 15%", afirma.

Pará deve ter entreposto da Zona Franca de Manaus

Os governos do Pará e do Amazonas assinaram um protocolo para a criação de um entreposto da Zona Franca de Manaus no município paraense de Santarém.

A nova estrutura de armazenagem e distribuição poderá reduzir em até dois dias a entrega dos produtos com destino às regiões Sul e Sudeste, segundo os Estados.

O objetivo é movimentar as cargas por navio até Santarém e, em seguida, por rodovia até Cuiabá (MT). Hoje, o transporte fluvial tem de ser feito até Belém (PA).

O acordo formalizado prevê a suspensão do ICMS das mercadorias fabricadas no polo industrial amazonense e estocadas no entreposto por um período de até 180 dias.

"Na saída dos produtos de Santarém, eles serão faturados como se fossem despachados de Manaus", diz o secretário da Fazenda do Amazonas, Afonso Lobo Moraes.

"O Pará vai lucrar com o ISS na armazenagem e o ICMS sobre as transportadoras", afirma o vice-governador paraense, Helenilson Pontes.

A oficialização depende de aval do Confaz (Conselho Nacional de Política Fazendária), que deve se reunir em outubro. "Como é um assunto que diz respeito só aos dois Estados, não deve haver problemas", diz Moraes.

Há outros dois entrepostos em operação, em Uberlândia (MG) e Resende (RJ).

ROUPA LIMPA NO ARMÁRIO

Depois de ajudar a trazer a Blockbuster para o país, ter sido um dos sócios do Hospital Sabará, e de ter trabalhado com Fototica, McDonald's, Fleury, entre outras empresas, Luis Mario Bilenky tem um novo negócio.

Com dois amigos, ele acaba de criar a Limelocker, uma lavanderia que vai até o cliente de forma diferente.

Em armários como os de academia, colocados em prédios comerciais ou residenciais, a roupa suja é guardada em sacolas com códigos.

Em até 48 horas, a empresa se compromete a devolvê-la lavada e passada.

O cliente fotografa o código do armário e o envia à empresa por um aplicativo ou SMS. Prontas, as peças voltam ao armário e o cliente recebe uma mensagem.

A empresa já fechou contratos em três prédios e negocia com cerca de 40 outros locais. "A expectativa até 2015 é ter 5.000 edifícios."

"A lavanderia responsável é especializada em hotéis de primeira linha. O preço será inferior ao praticado por muitos estabelecimentos de cinco bairros onde pesquisamos", diz Bilenky.

"É uma solução nova para um problema velho."

MOTOCICLETA AMAZÔNICA

Após um investimento de R$ 20 milhões, a Moto Honda da Amazônia inaugura hoje um centro de desenvolvimento em Manaus.

Esse será o primeiro polo de tecnologia da empresa nesse modelo na América Latina, segundo Paulo Takeuchi, diretor do grupo. "Outros já existem no Japão."

O foco será desenvolver modelos de motocicletas para o mercado brasileiro.

Bom... A Interfarma (associação da indústria farmacêutica) e a Abrafarma (associação de redes de farmácias e drogarias) lançarão uma campanha pela redução de impostos em medicamentos.

...remédio O objetivo é coletar 10 milhões de assinaturas em um mês, por meio do site Avaaz e de 6.000 farmácias participantes. O abaixo-assinado será encaminhado ao governo e ao Congresso Nacional.

Caminhão... A Cetesb (Companhia Ambiental de São Paulo) negou a inscrição automática de atacadistas de sucatas no programa de renovação da frota de caminhões. A inclusão foi solicitada pelo Sindinesfa (sindicato do setor).

...reciclado A companhia diz que elas precisam de licença ambiental para participar do programa. O sindicato afirma que as empresas têm certificado de dispensa de licença emitido pela própria Cetesb.

Temaki... A rede de temakeria Makis Place vai abrir três novas unidades nos Estados Unidos. A brasileira entrou no mercado americano há 11 meses com uma loja.

...americano A rede tem 93 pontos. O investimento para abrir cada um deles é de R$ 250 mil. O faturamento neste ano é estimado em R$ 150 milhões.

A pequena grande inflação - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 18/09


Inflação de 2013 pode até ficar décimos menor que a de 2012, mas no dia a dia isso não importa muito


QUEM SE dispõe a fazer pesquisa econômica em feiras e supermercados voltou a ouvir conversas de inflação nos corredores e nas filas dos caixas faz alguns anos, em particular neste 2013.

A inflação deste ano pode ficar em 5,8%, um tico abaixo da de 2012, embora possa ir até 6,2%, segundo os mais pessimistas, que já dão como certo algum aumento da gasolina até o Natal. A percepção da inflação, porém, parece ser outra, e não se ocupa desses décimos discutidos por economistas.

A memória desse tipo de pesquisa "o povo fala" obviamente não é lá muito boa, para nem falar da qualidade da amostra, mas a falação sobre preços parecia ter arrefecido entre 2003, o último grande surto de alta, e 2008, quando o boom de commodities (preços de recursos naturais) estava no auge.

Uma olhada nos números do IPCA, a inflação "oficial" dos preços ao consumidor no Brasil, confirma a impressão.

O preço da comida ("alimentação e bebidas") subiu em média cerca de 4,5% ao ano entre 2004 e 2007. De 2010 para cá, aumentou mais de 9% ao ano. Preços de alimentos e bebidas decerto não determinam toda a inflação média, mas são os que têm impacto mais imediato, constante, visível e inevitável no bolso do cidadão comum.

Nunca é demais relembrar a história da inflação do tomate, metáfora (ou metonímia?) para a inflação da comida deste ano, que chegou a subir 14% (na taxa acumulada nos 12 meses até abril).

A inflação de comida & bebida caiu para 10,5% nos doze meses até agosto, mas está com cara de aumentar até o fim do ano, dados os problemas com a safra de soja lá fora, o problema com o dólar etc. Os preços no atacado neste início de mês deram saltos feios. Devem aparecer nos preços ao consumidor de outubro.

A inflação média, geral, porém, não deixou por menos, dada a sua constância altista: 6% ao ano, em média, desde 2010. Para um país que já conviveu regularmente com 30% AO MÊS, parece ninharia. Só que não.

Para começar com uma conversa que não é de fila de caixa de mercado, trata-se de uma inflação muito maior que a de nossos parceiros comerciais mais ricos (e importantes), como EUA e Europa, que desde 2008 flertam com deflação. Nossos custos aumentam, nossos produtos perdem competitividade, o de sempre.

Além disso, a persistência altista pode criar memória ruim: todo mundo dar de barato que a inflação normal é de 6%, o que complica ainda mais a tarefa de fazer os preços se comportarem. A gente já ouve pessoas falando de novo em compras do mês, um clássico do Brasil hiperinflacionário.

Na ponta do lápis, até vale a pena estocar a despensa, embora pouco. Basta pensar na alta dos preços de comida & bebida, ora em 10% ao ano, bem superior à do rendimento de poupança e fundos de investimentos populares. Vale mais a pena investir em sacos de grãos do que na caderneta.

A irritação com a carestia tem subido, provavelmente, também devido à desaceleração da alta do salário. Mesmo que a inflação estacione em torno de 6% em 2013, a renda tem crescido e vai crescer mais devagar. A inflação talvez não supere os 5,84% de 2012, ficando em, digamos, 5,81%, para a satisfação de governo e BC. Mas o povo não parece estar ligando para os três décimos.