segunda-feira, agosto 05, 2013

Dior not war - LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 05/08

Quando perguntarem a você o que é a economia, a resposta certa é: a economia somos nós!


"Dior não guerra." Vi esta frase numa camiseta. Lembra a clássica dos anos 60: "faça amor, não faça guerra". Melhor do que a bobagem com o rosto do assassino mais chique da América Latina, o Che.

O que me encantou na frase é que a Dior representa --ou qualquer outra marca-- a capacidade humana de produzir riqueza como forma de civilização, em vez de nos matarmos. Todo mundo sabe que riqueza material não é apenas riqueza material.

O que aborrece no Brasil é que ainda não entendemos que a riqueza da qual falam autores como Adam Smith (filósofo moral, e não um guru do egoísmo como alguns pensam por aqui) não é apenas material, mas moral e existencial.

Outro dia vi numa dessas cidades históricas mineiras maravilhosas um grupo de jovens, como cara de anos 60 extemporâneos, que falavam barbaridades contra o capitalismo, todos munidos de iPhones e iPads, registrando tudo a sua volta. Ignorantes, parecem pensar que toda esta tecnologia, que vai de celulares a cirurgias cardíacas, caem do céu. Não, tudo custa, e muito.

Recentemente li na revista "The Economist" duas matérias muito interessantes. Uma primeira falava de como o crime comum (roubos, assassinatos e similares) tem caído significativamente em países ricos, como EUA, Reino Unido e Alemanha, mesmo em cidades grandes como Nova York e Londres.

Não se trata apenas de mais punição, mas sim de um conjunto de elementos que passam por polícia mais equipada e treinada (o que não quer dizer mais violenta), tanto preventiva quanto científica. Crianças em boas escolas e ocupadas principalmente quando as famílias são mononucleares (só um dos pais), ruas limpas, estradas bem feitas, hospitais eficientes, transporte público operacional, vizinhos ativos no cuidado com seu bairro (quem não come nem dorme não pode ser um vizinho assim). Enfim, tudo que custa muito dinheiro.

Noutra, sobre Cuba, falava-se da luta das pessoas para poderem comprar e vender coisas e terras sem ter apenas o Estado como "parceiro" de negócios. E como isso é visto como um milagre dos céus. E ainda tem gente chique no Brasil que acha Cuba um "experimento" a ser levado a sério. Que horror!

E aí passo a um livro que recomendo a leitura para quem quiser pensar no mundo livre do neolítico --o socialismo, levado a sério por muitos de nós, é puro neolítico. "Why Nations Fail, The Origins of Power, Prosperity, and Poverty", de Daron Acemoglu, professor de economia do MIT e James A. Robinson, cientista político e economista, professor de Harvard.

Por que muitas nações são pobres, miseráveis, atrasadas, enterradas em crime e fome? Causas geográficas? Culturais? Religiosas? Étnicas? Não.

A diferença está num modo de organização política e social específico que cria condições para as pessoas buscarem livremente seus interesses. Democracia liberal, igualdade perante a lei e garantias de que as pessoas podem agir livremente no mercado de trabalho e de produtos. Numa palavra, sociedade de mercado. Foi isso que derrotou o comunismo, mas muitos já esqueceram.

Infelizmente entre nós, ainda se pensa que isso seja simplesmente um modo cruel de viver, negador da "solidariedade" e defensor da "ganância". Muito pelo contrário: é só a riqueza que torna a solidariedade possível, não há solidariedade na pobreza, isso é mito.

Apesar de as indicações históricas serem evidentes, ainda insistimos em não entender que a sociedade de mercado (longe de ser perfeita) dá ao ser humano a liberdade necessária para cuidar da sua vida e se tornar adulto.

Só dessa forma as pessoas entendem uma coisa óbvia que o economista Friedrich Hayek pensava. Quando perguntarem a você o que é a economia, a resposta certa é: a economia somos nós! E não algo planejado por "cabeções" teóricos que controlam a vida dos outros, como pensava John Maynard Keynes.

Mas, os políticos adoram Keynes porque sua teoria os faz parecer responsáveis pela riqueza, quando na realidade quem produz riqueza somos nós em nosso cotidiano, quando nos deixam em paz. Keynes é a servidão, Hayek, a liberdade.

Velhice rebelde - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 05/08

A iniciativa é de Frei David, 60 anos, o homem das cotas.
Inspirado nos recentes protestos dos jovens, um grupo de idosos da Paróquia São Francisco de Assis, do Largo de São Francisco, resolveu, sábado passado, criar um movimento para se juntar à luta.

Fazer crochê...
Um dos primeiros atos, diz Frei David, será uma passeata dos idosos contra a corrupção e outras bandeiras, unindo suas vozes às dos jovens.

— Os idosos não querem ser vistos, não mais, como um grupo que se reúne para fazer crochê, jogar xadrez e ver passar o tempo — afirma.

Não dá mais
O presidente da Autoridade Pública Olímpica, Márcio Fortes de Almeida, entregou sua carta de renúncia na quinta passada.
Pretende voltar ao setor privado.

Prematuros brasileiros
O Unicef divulga hoje estudo sobre o nascimento de crianças no Brasil. Mostra que, do total de bebês, 12% são prematuros.
Esta é a principal causa das mortes de brasileirinhos antes de completarem os 28 dias de vida.

Segue...
Meninas abaixo de 15 anos e índias têm mais chances de terem prematuros. Minas Gerais lidera com 12,9% do total de nascidos.

No mais
O Banco Rural, que sofreu intervenção do BC, nasceu em 1964 com um pecado original.
Foi fundado por empreiteiros, gente que, até por sobrevivência, vive pendurada no saco dos políticos. Antes do mensalão já tinha se metido em confusões no governo Collor.

Pouso forçado
Trabalhadores de terra da Gol, da Trip, da Azul e da American Airlines programam uma paralisação dia 12.
Reclamam que direitos trabalhistas não estariam sendo cumpridos.

Abraçaço
Caetano Veloso vai fazer uma temporada latino-americana com o seu show “Abraçaço”.
Em setembro se apresenta no Equador, no Uruguai, na Colômbia e na Argentina.

Cigarra no Rio
Simone bateu o martelo e começa, em novembro, no Vivo Rio, a turnê nacional em comemoração por seus 40 anos de carreira.

Trabalho infantil
A professora Hildete Pereira de Mello, da UFF, detalhou dados do Pnad sobre o trabalho de crianças de 10 a 13 anos.
Descobriu que das 615 mil crianças que trabalham, 71% são meninos, e 29%, meninas.

Todas no setor agrícola. Luiz Paulo eterno 

O saudoso Luiz Paulo Horta terá para sempre a companhia de João Cabral de Melo Neto.

Seu túmulo no Mausoléu dos Imortais, no Cemitério São João Batista, no Rio, tem ao lado o do grande poeta pernambucano.

Luiz Paulo eterno II
Se alguma prova ainda fosse necessária da imensa luz de convivência religiosa do nosso Luiz Paulo Horta, filósofo da fé cristã e católico fervoroso, aí vai uma.

Ontem, encerrada a cerimônia de seu sepultamento, uma ialorixá paramentada chegou ao Mausoléu dos Imortais para reverenciar o grande jornalista e escritor.

Sumiço de Amarildo
A família de Amarildo de Souza, representada pelo advogado João Tancredo, entra hoje na Justiça pedindo ação de justificação de morte presumida.

Como o corpo não apareceu, ela é necessária para obter o óbito e, em seguida, o pagamento de pensão para a família. Como se sabe, o pedreiro deixou mulher e seis filhos.

No lugar da sogra
A cantora Tânia Mara, mulher de Jayme Monjardim, foi convidada para desfilar pela Grande Rio.
Representará sua sogra, a saudosa cantora Maysa.

Nova loja
A marca francesa Roger & Gallet vai abrir sua primeira loja no Brasil.
Será em Ipanema, no Rio.

Efeito Beatriz Segall
A Secretaria de Conservação do Rio vistoria hoje as calçadas no entorno da Praça Santos Dumont, na Gávea, onde a atriz Beatriz Segall se machucou ao tropeçar num buraco.
O prazo, dado pela prefeitura, para que os reparos fossem feitos expirou sexta.

Por trás das burcas - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 05/08

RIO DE JANEIRO - Há três meses, quando me falaram dos "black blocs", achei que eram uma nova versão do extinto grupo New Kids on the Block. Hoje, ninguém faria essa confusão. De tanto vê-los na TV ou nos jornais, atacando vidraças, carros e orelhões, ou atirando bombas na polícia, sabemos que são um grupo anarquista. E, como tal, dedicado a combater o Estado, a autoridade, a hierarquia e qualquer ideia de ordem.

Apesar disso, reina entre eles uma certa ordem: todos usam máscara e se vestem de preto de alto a baixo. É normal, não querem ser identificados. O que leva à pergunta: por trás do aparato quase militar com que se cobrem, quem são? É um fenômeno ainda a ser estudado.

Eles parecem jovens, mas quão jovens? Estarão na faixa dos 20 ou dos 30 anos? Dão-se bem com os pais? Estes sabem de suas atividades? Ou nem desconfiam, já que seus filhos são bons meninos no lar e só assumem suas identidades secretas na rua? Ainda moram com a família ou já saíram de casa? Se for este o caso, têm emprego fixo ou algum rendimento? Sustentam-se sozinhos? Estudam? Fazem os trabalhos, prestam exames, passam de ano? Falam de política com os professores?

Em quem votaram nas últimas eleições? E, se votaram, ainda se lembram em quem votaram? Bebem, fumam, usam alguma droga? Têm namorada ou apenas "ficam" com as amigas? Vão ao cinema? Jogam pelada na praia? Gostam de futebol, torcem por algum time, vão aos estádios? E, nestes, são tão incisivos quanto nas ruas? Quais são seus anarquistas favoritos? O jornalista inglês William Godwin (1756-1836)? O filósofo francês Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865)? O ativista italiano Errico Malatesta (1853-1932)?

O anarquismo clássico pode ser de extrema esquerda ou de extrema direita. Qual deles estará por trás das burcas com que os nossos anarquistas se vestem?

Luto terceirizado - LÚCIA GUIMARÃES

O Estado de S.Paulo - 05/08

Não disse neste espaço que há uma divisão de gerações causada pela mídia social? Não disse que minha expectativa de privacidade é diferente da de jovens que documentam cada momento íntimo?

Disse bobagem.

O caso de um admirado âncora da rádio pública americana, um moderado jornalista de 61 anos que tuitou, ainda que com metáforas e palavras elegantes, a morte da própria mãe, confirma o que tenho desconfiado. Quando observo o comportamento de certas pessoas de mais de 50 anos on-line, descubro que há um exibicionista clamando por atenção em qualquer idade. A tecnologia apenas se tornou o grande facilitador.

Por se tratar de uma figura querida, que trabalha numa rádio que opera sem fins lucrativos, que tem 1 milhão e 200 mil seguidores no Twitter, o recém-órfão Scott Simon foi tratado com enorme respeito e declarações de admiração. Seus seguidores ao redor do mundo viveram a catarse do fim da vida de uma mulher que não conheceram, como se se tratasse de um líder político ou um artista popular.

"Cobri mais de dez guerras", disse Simon a um canal de TV, "mas nada foi tão emocionante quanto as 48 horas finais que passei com a minha mãe". Não duvido de sua sinceridade. Jamais vou me esquecer das conversas com o meu pai na UTI. E jamais me passou pela cabeça compartilhar de todo o drama e a ternura com estranhos em tempo real. Ou expor ao vivo suas palavras influenciadas por medicação, num momento de grande fragilidade.

Esta ouvinte, uma entre 13 milhões acostumados a acordar com a voz de veludo do Mr. Simon nas manhãs de sábado, não vai se juntar ao coro dos que elogiam a sua coragem. Encaro a tuitagem da morte da mãe dele como um espetáculo pornográfico. Logo ela, uma showgirl quando jovem, não foi consultada como coadjuvante da produção.

O diretor de Ética de Medicina da New York University, falando com o mesmo canal de TV, não julgou o comportamento de Simon, mas comentou que o nascimento, o sexo e a morte eram os últimos recônditos de privacidade. E concluiu que a sociedade hoje parece não reconhecer nem essas fronteiras.

Se você, como eu, perdeu um pai, mãe, irmã e irmão no passado, não precisa do refinamento literário de Joan Didion em O Ano do Pensamento Mágico ou Joyce Carol Oates em A História de Uma Viúva para fazer justiça aos mortos e humanizar a experiência para milhares de leitores - depois de processar seus sentimentos e experimentar introspecção. Deve lembrar-se que, nas mais humana das reações, pode ter dito ou feito algo incomum, na ansiedade com que demarcamos nosso território no mundo dos vivos. Há de compreender que a profundidade do luto não se manifesta em tempo real. Ou em 48 horas. Ou em 48 dias.

Sim, as manifestações de 140 caracteres numa mídia social não são literatura ou epistolário, tanto quanto as abreviadas mensagens de texto não são linguagem escrita. O Twitter me fascina em parte porque o limite da tecnologia não limita a linguagem, cria uma outra oportunidade de expressão. Mas não gostaria de encontrar um estranho no velório do meu pai dizendo que está ali porque gostou de algo que escrevi sobre o luto. Há momentos para interagir com estranhos. O nascimento, o sexo e a morte não se incluem entre eles.

Logo em seguida à morte de Patricia Simon Newman, seu filho continuou falando. Deu detalhes dos dois dias em que se sentiu tão próximo da sua mãe e elogiou seu espírito indômito. Transmitiu seus conselhos aos ouvintes e contou que, na agitação que tantos de nós testemunhamos, alguém que em exaltada lucidez sabe que o final se aproxima, sua mãe, lhe disse: aposto que todos os grandes discursos no leito da morte foram escritos com antecedência.

Exatamente. Perto do final, ela procurava o tom certo para se manifestar. O filho estava ocupado tuitando emoções não editadas.

Cinzas e diamante - RUBENS RICUPERO

FOLHA DE SP - 05/08

Francisco ocupa vácuo de lideranças, principiando com aquilo que os políticos evitam: a autocrítica


Parte do encanto que emana do papa Francisco se deve ao contraste com o deserto de liderança que o mundo atravessa. Prova disso se encontra na própria Roma, da qual é o bispo, título que prefere por razões ecumênicas. Lá, a Justiça acaba, sem apelo, de condenar Berlusconi, quatro vezes primeiro-ministro.

Como foi possível que se degradasse tanto o posto antes ocupado por De Gasperi e Aldo Moro? Um dos amigos diletos do réu italiano de incontáveis processos é Putin, que sobrou como destroço do naufrágio de 70 anos da mais radical das revoluções, a que pretendia criar o "homem novo".

Itália e Rússia são casos extremos, mas não únicos. O que é Angela Merkel, comparada a Adenauer ou Willy Brandt? Ou Hollande, cotejado a De Gaulle e a Mitterrand; Cameron, a Churchill; Mariano Rajoy ao pacto de Moncloa e a Felipe González? Países que, tempos atrás, tiveram governantes influentes como o Canadá de Trudeau ou a Suécia de Olof Palme mergulharam no completo anonimato.

A China se especializa numa série infindável de clones com o mesmo terno escuro e igual gravata vermelha. O 3º Mundo, que estreava com Nehru, Nasser, Tito, Sukarno, descambou para a irrelevância. Ho Chi Minh virou nome de cidade. A ONU, o FMI, o Banco Mundial, antes dirigidos por personalidades fortes, foram entregues a gente que ninguém conhece. Do Brasil, cuja vida pública se ilustrava com Tancredo, San Thiago Dantas, Ulysses, para só mencionar alguns mortos, nem preciso falar.

As causas podem ser muitas e complexas, mas é inegável que se trata de mediocrização sem precedentes talvez. Nos anos 1930, surgiram lideranças políticas poderosas embora altamente malignas: Hitler, Stalin, Mussolini. Hoje, nem isso.

Deixei para o fim Obama, o caso mais espetacular de frustração de expectativas desde John Kennedy. Pode ser que no futuro os historiadores julguem que ele tenha sido injustiçado; que a diferença de circunstâncias não teria permitido a reprodução do New Deal e o aparecimento de um segundo Franklin Roosevelt. O fato, porém, é que para muitos de seus eleitores ou entusiastas, dentro e fora dos EUA, o presidente é uma decepção.

A frustração vem de muita coisa: a timidez da reforma financeira, o fracasso em reverter a escandalosa concentração de renda, a escolha para postos principais dos homens de Wall Street responsáveis pela crise, o programa de assassinatos a distância e agora a espionagem de tudo e de todos no melhor estilo Big Brother.

Sobram a Obama os instrumentos do poder duro: drones para matar sem risco ou meios eletrônicos para espionar. Apesar do absurdo Nobel da Paz que lhe deram adiantado, faltam-lhe os elementos intangíveis da liderança moral e de ideias.

É esse vácuo que Francisco passa a ocupar, principiando com aquilo que os políticos evitam: a autocrítica rigorosa. A denúncia da "globalização da indiferença", o convite para ir em socorro das periferias, geográficas e existenciais, o exemplo dos gestos concretos, o conceito de poder como serviço são mais que uma promessa. Um diamante começa a brilhar em meio às cinzas.

A janela do Papa - CARLOS ALBERTO DI FRANCO

O GLOBO - 05/08

A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) no Rio de Janeiro foi o maior fenômeno de massas da nossa história. Mais de 3 milhões de pessoas lotaram as areias da Praia de Copacabana para ouvir o Papa Francisco. Foi um espetáculo incrível de fé, unidade e alegria. Como todos que lá estiveram, vivi uma experiência forte. O clima era de final de Copa do Mundo. A multidão gigantesca não era massa despersonalizada. Tinha um toque de família que impressionava e mexia por dentro.

Durante quase uma semana, apesar da chuva, do frio e dos problemas de organização, milhares de jovens vindos de todas as partes do mundo mostraram a surpreendente capacidade de renovação da Igreja Católica.

O Papa falou dos riscos de valores efêmeros como sucesso, dinheiro e poder, alertou para as atitudes egoístas, convocou os jovens a não esmorecer na luta contra a corrupção e reforçou seu empenho contra a pobreza, a desigualdade e a insensibilidade social. Mas, sobretudo, o Papa sacudiu a própria Igreja e fustigou as atitudes de acomodação e burocracia.

Na missa que marcou o encerramento da Jornada Mundial da Juventude, o Papa, mais uma vez, apontou os jovens como os atores principais da propagação da fé católica. Na homilia, o Papa pediu à multidão estimada em 3,5 milhões de pessoas que não ficasse “trancafiada” em casa. “A Igreja precisa de vocês, do entusiasmo, da criatividade e da alegria que os caracterizam.”

Em uma semana no Brasil, o Papa Francisco delineou os caminhos de seu pontificado. Em discurso para os bispos da América Latina no último dia de sua visita ao Brasil, o Papa criticou a “ideologização” da Igreja por grupos que vão da “categorização marxista” até os “restauracionismos” de “formas superadas”. Mas a crítica do Papa também disse respeito à leitura do Evangelho de acordo com o “liberalismo de mercado” ou como uma mera forma de autoconhecimento — e, portanto, sem sentido missionário.

A humildade como princípio e disposição ao diálogo nortearam os discursos do Papa dirigidos aos políticos e às autoridades. Impressionou o tom positivo que permeou todos os discursos do Papa. Impressionou, também, a transparência de Francisco em suas entrevistas aos jornalistas. O que se viu não foi uma Igreja na defensiva. Ao contrário. O Papa rasgou um horizonte valente e generoso. Deixou claro que os católicos não são antinada. O cristianismo não é uma alternativa negativa, encolhimento medroso ou mera resignação. É uma proposta afirmativa.

O Papa é exigente. Sem dúvida. E os jovens vão atrás do seu discurso comprometedor. Não gostam de um cristianismo desidratado. A juventude abraça grandes bandeiras. Quem não perceber, na mídia e fora dela, essa virada comportamental perderá conexão com o novo mundo. Afinal, como bem salientou o Papa: “A juventude é a janela pela qual o futuro entra no mundo.”

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 05/08

Plano de saúde é o 3º desejo, diz pesquisa
Ter um plano de saúde é o terceiro maior desejo dos brasileiros, depois da casa própria e da educação, segundo pesquisa realizada pelo Datafolha, a pedido do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS).

A qualidade do atendimento foi apontada como a principal razão para desejar ter um plano de saúde por 47% dos entrevistados. Para 39%, a saúde pública é precária e não se quer depender do SUS. A segurança de ter o plano para se sentir tranquilo em caso de doença foi lembrada por 18%.

Para Luiz Augusto Carneiro, superintendente-executivo do IESS, os resultados indicam crescimento da saúde suplementar no Brasil nos próximos anos.

"Menos de 25% da população brasileira contava com esse benefício no fim do ano passado", diz.

"Existe o potencial de crescimento, mas a mais médio prazo o que deve ocorrer é o contrário porque infelizmente o aumento de custo é muito alto, de 15% ao ano." No ano passado, a variação foi de 16,4%.

"O custo é elevado e o produto para quem não o tem ainda é caro. Os planos grandes não conseguem atender, por exemplo, em algumas áreas do país, nos prazos mínimos de agendamento de consultas e exames", afirma.

"Por isso, a tendência é de os planos se concentrarem nas regiões metropolitanas", acrescenta. O Datafolha entrevistou 3,32 mil pessoas, entre beneficiários e não beneficiários, em oito regiões metropolitanas.

Associação terá câmara para mediar conflitos de propriedade
A ABPI (Associação Brasileira da Propriedade Intelectual) vai iniciar em setembro as atividades de uma câmara de mediação para solucionar conflitos entre empresas.

A proposta é buscar acordo amigável em questões como marcas, patentes, softwares e franquias e, com isso, evitar que as disputas parem no Judiciário.

"Além de dar mais agilidade, a mediação reduz os custos causados por um conflito desse tipo", afirma o presidente da associação, Luiz Henrique do Amaral.

No ano passado, a entidade já havia lançado uma câmara para auxiliar na disputa envolvendo nomes de domínio na internet.

Desde então, o órgão atuou em 11 processos. As divergências nesses casos têm sido solucionadas em um prazo médio de 90 dias.

O ganho de tempo é um dos principais benefícios da mediação, segundo Mônica Guise Rosina, professora de direito da FGV, especialista em propriedade intelectual.

"Se o caso vai parar na Justiça, a demora, na maioria das vezes, deixa o negócio da empresa parado, à espera de solução", afirma.

A resolução de uma disputa de propriedade no Judiciário pode levar até uma década, afirma a advogada.

Além da iniciativa da ABPI, o próprio Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Intelectual) lançou neste mês um serviço de mediação que começou pelas marcas, mas que deve chegar às patentes.

GALPÕES LOGÍSTICOS
A OCC Empreendimentos investe R$ 80 milhões em dois projetos logísticos --um em Salvador (BA) e outro em Campinas (SP).

Ambos são galpões para fundos de investimento imobiliário destinados à locação, com área total de 42 mil metros quadrados. As obras começarão em dezembro.

"Esses tipos de empreendimentos são os de maior rentabilidade e de menor ociosidade e atendem, sobretudo, à indústria e ao agronegócio", diz o presidente da OCC, Marcelo Oliveira.

O CEO vendeu parte de sua participação na PW Construções para criar a companhia no começo do ano.

Em 2014, a empresa vai executar R$ 200 milhões na construção de shopping centers, parques logísticos e prédios corporativos, com base em projetos sustentáveis.

EUA atraem interesse de executivos brasileiros
O número de empresas brasileiras que buscaram informações sobre a abertura de negócios nos Estados Unidos à Câmara Americana de Comércio aumentou de 22 em 2010 para 131 em 2012.

Com 84 empresas, o primeiro semestre de 2013 teve uma alta de 20% ante o mesmo período do ano passado.

"O PIB americano está seis vezes maior do que o brasileiro. Além disso, abrir uma empresa nos Estados Unidos leva dias, enquanto no Brasil pode levar meses", diz o presidente, Gabriel Rico.

Werter Padilha, CEO da empresa de TI Sawluz, participou de duas missões comerciais da câmara para conhecer o mercado americano antes de se instalar na Flórida.

"A maioria dos nossos clientes são montadoras estrangeiras. Estando lá, a comunicação é facilitada", diz.

A diretoria da Genuína Lindoya, envasadora de água mineral, escolheu o Estado de Connecticut para inaugurar uma sede depois de fazer análises de mercado.

"A operação é tão mais simples que quase compensa fechar as unidades no Brasil e passar a exportar dos Estados Unidos para cá", diz o presidente, Martin Ruette.

Como a burocracia americana é diferente da brasileira, porém, é essencial conhecer as leis locais antes de ir para o outro país, diz Carolina Joop, sócia do escritório Demarest.

GRID DE LARGADA
A XP Gestão passa a oferecer a partir deste mês um fundo de investimentos que destinará 50% de sua receita líquida ao Instituto Ayrton Senna.

A carteira do fundo XP Instituto Ayrton Senna FIC FIM será composta por cerca de cinco fundos da XPG de diversas classes como renda fixa, renda variável e multimercados.

A aplicação inicial mínima será de R$ 3 mil. A taxa de administração ficará em 2,75% ao ano, sem cobrança de taxa de performance.

Parte da receita dessas taxas oriundas de cada um dos fundos investidos pelo XP IAS, será repassada para o Instituto Ayrton Senna, que é uma organização sem fins lucrativos.

A XP será a gestora do fundo, que é o seu primeiro produto com esse perfil.

A expectativa da empresa é de captar R$ 50 milhões já no primeiro ano do fundo de investimentos.

Ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar! - ROBERTO LUIS TROSTER

ESTADÃO - 05/08

É triste, mas vamos dar a meia-volta e, se continuarmos nesse ritmo, volta e meia vamos dar. O título do artigo faz referência à ciranda financeira. É um dos nomes populares da armadilha da dívida. É uma ocorrência em que muito esforço é feito para ficar dando voltas sem sair do lugar e, na maioria dos casos, retroceder com consequências danosas.

A "década perdida" é o primeiro exemplo que vem à lembrança: por causa da dívida, o Brasil não cresceu. Há outros. A Grécia após a festança de crédito público e privado está tendo uma ressaca que vai durar anos. Sobejam casos de empresas que fecharam com perdas para acionistas e credores e de famílias que viram o sonho do carro próprio virar o pesadelo do nome sujo.

Na sua essência, a ciranda tem duas facetas. Uma é financeira, é relativamente simples, ocorre quando os pagamentos para servir uma dívida são insuficientes para pagar os juros, isso aumenta a percepção de risco de crédito e induz a taxas mais altas e prazos mais curtos, agravando o problema.

A outra faceta é a social, mais complexa e grave. Ocorre que a armadilha nunca é individual. Uma pessoa que cai no buraco da dívida, às vezes, sai dele com uma mão amiga ou familiar e, em outras, arrasta mais gente junto. Nas empresas, as consequências de uma insolvência afetam a todos os envolvidos, como empregados e clientes, além dos donos. À medida que os capturados pela armadilha aumentam na economia, o crédito começa a secar, com critérios mais rígidos e taxas maiores, esfriando a atividade econômica.

Quando um governo cai na ciranda, seja municipal, estadual ou federal, uma proporção maior de impostos é destinada a credores, e dessa forma restam menos recursos para investimentos e a provisão de serviços públicos. Isso restringe a capacidade de crescimento da economia e, se nada for feito, entra-se num círculo vicioso, que é imperioso evitar.

É importante destacar que dever bem é bom. Ajuda a crescer, aumenta as possibilidades de investimento e de consumo e suaviza as oscilações dos ciclos econômicos. Países ricos têm proporcionalmente muito mais dívidas do que países pobres. O problema não é quantidade de financiamento, o perigo está na sua qualidade: condições, usos e consistência intertemporal. Para um país, são importantes as características dos endividamentos dos setores privado e público.

No Brasil, ambos estão anêmicos e perdendo força. A relação crédito ao setor privado-Produto Interno Bruto (PIB) é baixa, se for considerado o nível de renda do País, e, se forem levadas em conta a sofisticação e a capacidade do Sistema Financeiro Nacional, é baixíssima. O valor é um pouco superior ao da Bolívia e ao do Paraguai. Também tem inadimplência elevada, indicando um número alto de capturados pela armadilha da dívida.

Pesquisa da Confederação Nacional do Comércio do mês passado mostra que 21% das famílias têm dívidas ou contas em atraso. Números do Banco Central do Brasil mostram que a saída da ciranda para esses cidadãos é difícil. A modalidade que mais cresce nas concessões de crédito livre é o renegociado: 26% ao ano (quase três vezes mais que o resto!). Mesmo assim, os atrasos superiores a 15 dias são da ordem de um terço do total reestruturado - estão na roda.

Nos três níveis de governo, as dinâmicas são diferentes. No Município de São Paulo, a dívida é maior que a arrecadação e, segundo o prefeito Fernando Haddad, a "cidade já não tem muitas condições de investir". No Estado, foi feito um ajuste e mantém-se uma política de redução do endividamento e um aumento no volume de investimentos. Na União, a dívida é um valor entre 35% e 65% do PIB - depende do critério para classificar diversas rubricas.

Alguns analistas chamam de "contabilidade criativa" algumas medidas para reduzir a dívida bruta. Aclarando o ponto, um indivíduo compra um bem financiado e o vende a prazo para sua esposa (comunhão de bens) pelo mesmo valor e afirma que sua dívida líquida é zero. É possível fazer um paralelo com o Tesouro Nacional emprestando a um banco público. No exemplo, a dívida consolidada do casal é a que conta. Para governos, é a bruta. No Brasil, ela preocupa.

Os números do governo federal apontam que no governo Dilma Rousseff a dívida líquida foi reduzida em 4,4% do PIB, entretanto a bruta subiu 5,9% do PIB. Agravando o problema, anúncios de liberação de verbas, programas de crédito com propagandas caras e retoques na interpretação da Lei de Responsabilidade Fiscal apontam para que o crescimento da dívida pública continue, e a música da ciranda comece a tocar mais forte.

O mais grave é que o problema da ciranda é ignorado. Basta ligar a televisão e ver a propaganda do Minha Casa Melhor, um empréstimo para a compra de móveis e eletrodomésticos com juros de 5% ao ano para quem já tem um financiamento habitacional. Como é deficitário, deveria ser contabilizado como despesa diferida, mas não é e vai aparecer lá na frente, quando os "sem" esse crédito pagarão impostos pela geladeira nova dos "com" ele.

Urge agir. Três sugestões para evitar o pior: a primeira e mais urgente é reconhecer que o perigo existe. A segunda é dimensionar bem o problema, faltam informações importantes tanto dos dados do crédito ao setor privado como das contas públicas. A terceira é começar a fazer ajustes. Fica, também, a proposta aos analistas de mudar o nome de "contabilidade criativa" para "contabilidade destrutiva", faz mais sentido, pois destrói credibilidade e transparência.

Entrar na roda é algo que não convém e não favorece a ninguém. Governos perdem a capacidade de promover o crescimento, bancos diminuem sua legitimidade, empresas perdem oportunidades e famílias, bem-estar. Pare a música, maestro!


Entre o protecionismo e o livre comércio - RODRIGO BOTERO MONTOYA

O GLOBO - 05/08

A inserção na economia internacional por meio da abertura ao comércio, ao investimento e à transferência de tecnologia constitui um objetivo central das políticas públicas na Colômbia. Tanto a política econômica como a política internacional refletem essa prioridade. De maneira gradual, ao longo de várias décadas, com interrupções ocasionais, o país descartou o conceito de economia fechada, inspirada no protecionismo, para aceitar a lógica do livre comércio.

A orientação em direção ao mercado mundial se manifesta na redução das tarifas alfandegárias, na subscrição de acordos de livre comércio e, mais recentemente, na conformação da Aliança do Pacífico, com México, Chile e Peru. Essas mudanças tiveram respaldo dos principais grupos políticos e do setor empresarial moderno. Portanto, pode-se afirmar que a preferência colombiana pela liberdade de comércio terminou por se converter numa política de Estado.

No Leste da Ásia, o conceito de livre comércio foi acolhido até pelos regimes comunistas de China e Vietnã. Na América Latina, por sua vez, é possível encontrar exemplares de arqueologia econômica em que se propõe viver com o que temos , cultivando a autarquia. Também subsiste no debate intelectual certa nostalgia por doutrinas protecionistas retrô, de 50 anos atrás.

A Aliança do Pacífico e o Mercosul representam formas diferentes de enfocar o livre comércio em nível regional. É pertinente perguntar se para a Colômbia teria sido preferível entrar no Mercosul, em lugar de promover um Tratado de Livre Comércio (TLC) com os Estados Unidos ou participar da Aliança do Pacífico.

No Brasil, observam-se sinais de descontentamento com o Mercosul tal como está concebido, quer dizer, como uma união aduaneira. Um editorial da Folha de S.Paulo de 12 de julho, sob o título Repensar o Mercosul , sustenta: Sem poder contar plenamente com as vantagens da união, o Brasil fica confinado a limites estreitos demais para negociar acordos por conta própria. Neste sentido, uma zona de livre comércio parece mais realista e mais adequada à situação atual do bloco. E Pérsio Arida, um dos economistas que contribuíram para desenhar o plano que pôs fim à hiperinflação brasileira em 1994, declara o seguinte em uma entrevista de 14 de julho para o Estado de S. Paulo : Considero que o Brasil obteria grandes benefícios com menor intervenção na economia, redução drástica na quantidade de subsídios às empresas e contração fiscal. A abertura comercial também ajudaria muito. Claro que existem impedimentos diplomáticos, como o Mercosul e outros. Mas considero que celebrar acordos de livre comércio com os sócios comerciais que contam - Estados Unidos, Europa e Ásia - seria mais produtivo que insistir no caminho do Mercosul. Isto é contrário à tendência dos últimos anos. Mas é um caminho que o Brasil deve percorrer. Isto é precisamente o que a Colômbia vem fazendo por meio dos TLC e o que pode fazer como integrante da Aliança do Pacífico.

Política fiscal numa encruzilhada - GUSTAVO LOYOLA

VALOR ECONÔMICO - 05/08

Não há dia sem que apareça uma notícia negativa no campo fiscal. Um dos mais recentes sustos foi a revelação, pelo jornal "O Estado de São Paulo", de que a presidente Dilma tencionaria retirar do cálculo do endividamento dos Estados e Municípios as dívidas relativas a projetos de mobilidade urbana. Para tanto, o Advogado-Geral da União já estaria estudando as alternativas para alteração da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). No mesmo dia o ministro Mantega veio a público negando a informação, mas as pressões por essa flexibilização continuam presentes.

Um novo relaxamento da LRF não seria um pecadilho qualquer. Ao contrário, decisões dessa natureza acelerariam o processo de deterioração gradual do arcabouço legal-institucional que permitiu a recuperação das contas públicas de Estados e municípios que haviam entrado em colapso em meados dos anos 1990. A responsabilidade fiscal das três esferas de governo - União, Estados e municípios- foi um pilares do período de estabilidade e de redução das vulnerabilidades macroeconômicas do Brasil que se seguiu ao Plano Real.

A propósito, incentivado pela concessão de aval do Tesouro Nacional, o endividamento dos Estados tem crescido de forma inédita nos últimos meses, no que se caracteriza como um dos maiores retrocessos no campo fiscal desde a edição da LRF. Grande parte do endividamento adicional é em moeda estrangeira, o que coloca em risco ainda maior as finanças estaduais. Ademais, a frouxidão do Tesouro é ainda mais flagrante quando se observa que Estados com "ratings" inferiores (C e D) estão conseguindo garantias do governo federal para se endividarem junto a bancos e fundos privados estrangeiros, prejudicando a própria dinâmica de colocação da dívida do Tesouro no exterior.

O superávit prometido pelo governo passou a depender de receitas excepcionais, cuja ocorrência é incerta

Por essas e outras, não é exagero dizer que a gestão fiscal no Brasil está hoje em frangalhos. A credibilidade das autoridades fiscais está seriamente comprometida, tanto pelo uso e abuso de contabilidade criativa quanto pelo pobre desempenho do governo federal ao cuidar de suas próprias contas. A ideia cara ao governo de que se pode "deduzir" determinadas despesas do cálculo do resultado fiscal é extravagante. Os gastos com o PAC são despesas, quer o governo as contabilize como tal ou não.

Da mesma maneira, quando o governo aciona sua máquina de criar superávit primário, repassando recursos aos bancos oficiais para turbinar o pagamento de dividendos para o Tesouro, não está sendo criado nenhum valor econômico que possa ser intitulado de "resultado", mas tão somente uma caricatura deste.

Por outro lado, o anúncio feito a alguns dias atrás pelo ministério da Fazenda do corte de R$ 10 bilhões nos gastos do governo tornou-se um decepcionante anticlímax, seja pela sua insuficiência para se atingir a meta de superávit fiscal pretendida de 2,3% do PIB, seja também pela natureza de alguns cortes, de efeito meramente contábil. Contribuiu também para a descrença em relação ao cumprimento das metas fiscais, a divulgação dos gastos já incorridos e os ainda a incorrer em 2013 pelo Tesouro Nacional para atender às mudanças no setor elétrico ocorridas no início deste ano e às despesas relacionadas ao despacho da energia das térmicas no primeiro semestre.

Segundo a coluna de Ribamar Oliveira, publicada na edição de 1º de agosto no Valor, estima-se em R$ 9 bilhões o gasto adicional nessa rubrica a ser realizado até o final do ano, montante que aparentemente não foi considerado quando do anúncio da meta fiscal.

Dessa maneira, o superávit de 2,3% do PIB prometido pelo governo passou a depender de receitas excepcionais de concessão, cuja ocorrência é incerta, assim como de uma melhora na arrecadação federal, o que parece improvável diante do enfraquecimento da atividade econômica no decorrer de 2013. De todo modo, o pecado maior não se encontra tanto na redução do superávit em si, mas na gestão pouco transparente e errática na política fiscal, o que compromete a confiança dos investidores na trajetória da economia brasileira nos próximos anos. A ameaça de rebaixamento do "rating" da dívida soberana brasileira tornou-se real, depois de vários anos de melhoras sucessivas na classificação do risco Brasil.

Outro aspecto preocupante é o fato de estarmos às vésperas de um ano eleitoral, que promete uma disputa acirrada pela reeleição da presidente Dilma. A experiência de situações assemelhadas no passado sinaliza que 2014 tem tudo para ser um ano de "bondades" com impactos nas finanças públicas, tais como a revisão da tabela do IR, aumento real dos benefícios previdenciários e de assistência social etc. Tudo isso agravado pela erosão da base política do governo no Congresso Nacional que pode ensejar a aprovação de medidas de alto impacto fiscal, como o fim do fator previdenciário.

Por tudo isso, a política fiscal encontra-se numa encruzilhada. Ou o governo volta à rota da responsabilidade fiscal que trouxe tantos benefícios ao país ou a situação se tornará irreversível, comprometendo seriamente o edifício construído a duras penas nas últimas duas décadas. Caso isso ocorra, os prejuízos para o país em termos de crescimento e estabilidade macroeconômica serão incalculáveis.

Palpite infeliz - SERGIO FAUSTO

FOLHA DE SP - 05/08

Dividir o mundo entre um "Norte decadente" e um "Sul emergente" foi um erro de diagnóstico da política externa brasileira recente


Um dos bons analistas de política externa da nova geração, Matias Spektor estava em um mau dia quando escreveu o artigo "O futuro em São Bernardo", publicado em sua coluna em 24 de julho.

No texto, ele diz ter ouvido vozes de renovação da política externa brasileira. Elas teriam vindo de uma conferência realizada pela Universidade Federal do ABC no contexto das comemorações dos dez anos do PT no poder.

Não estive na conferência nem tive acesso ao que ali foi discutido. Mas nada do que autor apresenta no artigo sustenta seu entusiasmo com o conclave petista.

Spektor começa com uma caricatura do debate atual sobre a política externa no Brasil. A discussão teria se transformado em um Fla-Flu entre os adoradores da política externa de Lula e os seus detratores tucanos (um retrato que não corresponde à realidade de um debate plural e mais qualificado de que ele próprio participa). E conclui com uma falácia: este é um confronto inútil, porque preso ao passado. Teria chegado a hora do pós-tudo. O futuro, porém, viria do campo hegemonizado pelo PT.

O argumento do articulista revela uma estranha concepção do que seja o passado: como é possível considerar página virada da história uma política externa em execução há dez anos, por um grupo político que ainda está no poder e se propõe, legitimamente, a nele permanecer? Já a sua noção do futuro é puramente enganosa: como construí-lo sem rever criticamente o passado, que aliás é presente?

A política externa dos dez últimos anos tem, a meu ver, dois grandes defeitos: um deles de diagnóstico, outro de execução. O primeiro foi dividir o mundo entre um "Norte decadente" e um "Sul emergente" e colocar nossos melhores ovos na cesta deste não raro em detrimento das nossas relações com aquele.

Apressadamente, associou-se a decadência do Norte ao suposto naufrágio do capitalismo liberal e a emergência do Sul à afirmação irreversível de modelos mais afinados com o capitalismo de Estado.

Mal comparando, uma espécie de "fim da história" às avessas, para lembrar o livro famoso de Francis Fukuyama. Nesse quadro mental, exagerou-se a perda relativa de poder dos Estados Unidos e superestimou-se, ingenuamente, a convergência de interesses entre o Brasil e o "Sul", China à frente.

Esse erro de diagnóstico esteve desde logo influenciado pelas preferências ideológicas dos formuladores e executores da política externa brasileira. As mesmas que os levaram a ter postura dúbia com regimes populistas autoritários, embora eleitos, na América Latina, para não mencionar governos brutais na África.

As falhas de execução derivaram da busca frequente pela projeção instantânea das imagens positivas do país e do presidente Lula, como se ambas se confundissem. Isso em prejuízo de uma avaliação mais realista dos meios e modos ao alcance do Brasil para intervir na cena internacional, a exemplo do malogrado acordo em torno do programa nuclear iraniano.

Outro equívoco consistiu em o presidente da República tomar partido em eleições em países vizinhos.

A construção do futuro da política externa brasileira passa necessariamente por uma revisão crítica profunda dos últimos dez anos. Não se trata de arremessá-los na lata de lixo da história, como se fossem pura herança maldita, pois não apenas eles fazem parte do acervo diplomático do Brasil como também produziram alguns resultados virtuosos.

Trata-se, isto sim, de tirar lições desse período da política externa e, para tanto, é preciso rever diagnósticos, questionar premissas ideológicas e reconhecer erros de execução. Não creio que o PT esteja em condições de fazê-lo, por mais que Spektor se esforce em ouvir as vozes de São Bernardo e pretenda interpretá-las como presságios de uma boa nova.

Economia, governo e confiança - ANTONIO KANDIR

Valor Econômico - 05/08

Um país perde o rumo quando seu governo perde a capacidade de desenvolver seu papel mais importante: aumentar as esperanças e reduzir as incertezas. Governar é aumentar a confiança das pessoas e das empresas.

É difícil encontrar alguém que não concorde com dois fatos sobre a situação brasileira atual:

a) A economia está perdendo o fôlego progressivamente; e b) não se percebem ações para recuperar efetivamente nossa capacidade de crescimento, ainda mais num cenário externo mais desafiador.

Mais do que nunca é preciso ter: a) um diagnóstico correto sobre nosso problema central; e b) capacidade de focar as ações naquilo que é efetivamente essencial e que poderia recuperar nosso crescimento econômico de maneira significativa e sustentável.

Antes, porém um breve comentário introdutório.

Keynes foi claro: as decisões econômicas relevantes, as relativas ao investimento privado, são tomadas num contexto de incerteza, algo não calculável, como o risco. Os cálculos necessários para a tomada de decisão de investimentos são feitos baseado no comportamento futuro de diversas variáveis com base num julgamento que é essencialmente especulativo e incerto. Em última instância, ainda que tomando em consideração várias análises e cálculos, a decisão final de investimento é um ato de coragem tomado sob o signo da incerteza.

Assim é sempre preciso ter em mente o que governos fazem para aumentar ou diminuir a confiança e a coragem dos investidores produtivos. Lembrado isto, voltemos ao Brasil.

Nos últimos dez anos, o Brasil tem se beneficiado da convergência de dois vetores.

O crescimento baseado em consumo, importação e crédito farto se esgotou, apesar do governo insistir em remédios inadequados

Depois de mais de vinte anos de reformas, sacrifícios e esforços, no início deste milênio o Brasil começou a usufruir as vantagens de uma economia mais moderna e mais estável. Felizmente, nesse mesmo momento houve uma dupla inflexão internacional: a demanda de commodities cresceu sensivelmente em função da mudança de patamar de compras internacionais, sobretudo chinesas, e um aumento sensível da liquidez internacional com redução expressiva dos juros internacionais.

Tínhamos uma oportunidade de ouro nas mãos.

Nessa época havia duas possibilidades: seguir pelo caminho paciente das formigas, usando todas essas vantagens e possibilidades especiais para dar um salto de qualidade na base competitiva brasileira, transformando o país num centro especial e privilegiado de criação e produção internacional ou seguir o caminho das cigarras transformando o Brasil num paraíso de ávidos consumidores e turistas beneficiados por uma taxa de câmbio claramente irrealista, por gastos correntes públicos expressivos em vez de investimentos e, finalmente, por crédito farto, também ancorados em facilidades fiscais.

A opção tomada todos conhecem.

Mas o tempo das cigarras acabou. O crescimento baseado no quarteto consumo/importações/crédito farto e gasto corrente do governo já se esgotou há um bom tempo, apesar de uma insistência longa e inexplicável do governo em distribuir remédios inapropriados. O cenário externo se inverteu. A China deverá crescer bem menos, não se descartando a possibilidade de um crescimento inferior a 5% em breve e as taxas de juros internacionais no médio prazo provavelmente voltarão as suas médias históricas.

Internamente, análises sérias de especialistas mostraram claramente que a situação fiscal é muito mais delicada dos que os alquimistas da contabilidade criativa governamental querem nos vender. Por fim os consumidores de uma maneira geral começam a perceber tardiamente que sua renda disponível, já desgastada pelo retorno de inflação, começa a sentir um peso importante de seus recém-assumidos compromissos financeiros.

O diagnóstico neste momento é claro. Se pretendemos recuperar o crescimento de maneira sustentável é preciso concentrar todas as atenções em estimular correta e eficazmente o investimento privado especialmente nos setores onde se percebem evidentes gargalos, como, por exemplo, o sistema logístico como um todo.

Para tanto é preciso que se esqueçam de vez os estímulos errados que já todos perceberam que não funcionam e que fizeram a riqueza rápida e momentânea de alguns poucos.

Só há um caminho consequente e sustentável: deixar claro para todos, brasileiros e estrangeiros, que o Brasil está comprometido com a criação de condições para que o país seja um espaço privilegiado para a criação e a produção em bases competitivas.

Que quer dizer isto?

O Brasil precisa declarar o seu desejo e construir, de maneira resoluta e permanente, instituições, sistemas e incentivos que aumentem a esperança dos criadores e produtores de que terão pleno retorno por suas criações e investimentos, não havendo surpresas nem ziguezagues governamentais no futuro.

O investimento produtivo poderá crescer de maneira significativa quando criadores /investidores perceberem que poderão lucrar com suas criações por que há um conjunto de instituições que induzem à redução geral de custos (incluindo, mas não se restringindo, os que se referem aos componentes daquilo que é chamado de custo Brasil, que excede em muito ao de outros países emergentes) e porque há clareza por parte do governo de que não se deve limitar arbitrariamente as receitas privadas por meio da decretação de alguma forma de limitação direta ou indireta aos preços.

Isto só será conseguido quando houver convicção por parte de todos, incluindo os governos, de que o que garante a efetiva redução dos custos é a concorrência e a criatividade do maior número de pretendentes à oferta de produtos e serviços em todos os setores, o que só é possível quando a busca do lucro não é objeto de algum tipo de censura governamental a qualquer tempo.

CABARÉ PAULISTANO - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 05/08

Luiz Tripolli inaugura até o fim do mês o Café dos Prazeres, nos Jardins. Concebido como miniteatro, o misto de bar e cabaré será na alameda Ministro Rocha Azevedo e vai funcionar das 18h às 5h, de terça a sexta. O fotógrafo, que fundou o Café Photo em 1983, retoma o conceito da casa original. "Cabaré no Nordeste é lugar de cultura", diz. Tripolli vendeu o Photo em 1989. "Aí virou puteiro. Nada contra, mas é outra história."

CABARÉ 2
O Café dos Prazeres é um investimento de R$ 3 milhões, com dois sócios. O espaço para 80 lugares vai ser decorado com fotos e textos e terá música ao vivo. "É um local para todos os prazeres. Para bater papo, namorar, ler", diz Tripolli. A ideia é ressuscitar o espírito do antigo Photo. "Quem comprou o café não conseguiu manter a pegada cultural", critica.

CABARÉ 3
O Café Photo ganhou fama como point de garotas de programa e funciona hoje no Itaim. Procurados, os donos não quiseram se manifestar.

RESGATE
A Prefeitura de Salvador pretende construir um memorial para Tomé de Sousa na cidade. O "Diário Oficial" traz hoje o ato de criação da comissão que vai tratar da transferência do corpo do primeiro governador-geral da Bahia, sepultado em um convento em Vila Franca de Xira, próximo a Lisboa.

O memorial deve ser instalado no prédio atual da prefeitura. O prefeito ACM Neto (DEM) já solicitou ao governo português o envio do corpo e espera resposta.

CARTA NA MANGA
"Não tem isso de volta Lula'. Mas é evidente que, se ano que vem a presidenta não estiver bem nas pesquisas, é natural que ele se apresente", diz o presidente do PT, Rui Falcão, à revista "Piauí" deste mês. Também dá como certa a candidatura do petista Lindbergh Farias ao governo do Rio: "Sérgio Cabral [PMDB] não está em condição de fazer exigência".

ON THE ROCKS
As mulheres começam a se destacar entre os consumidores de uísque. Elas já representam 36% dos apreciadores da bebida, segundo pesquisa do Instituto TNS Research e da Diageo. Os jovens entre 25 e 34 anos correspondem a 46% da clientela. Entre os 900 entrevistados, 50% apontam o uísque como bebida preferida, desbancando a cerveja (27%) e o vinho (10%).

VEM VOCÊ TAMBÉM
A Caixa Econômica Federal e a Prefeitura de SP assinam acordo nos próximos dias para facilitar a abertura de contas por estrangeiros. Segundo Rogério Sottili, secretário municipal de Direitos Humanos, serão beneficiados mais de 400 mil imigrantes --principalmente bolivianos, a segunda maior comunidade na capital.

Com os entraves de hoje, estrangeiros guardam dinheiro em casa, aumentando o risco de roubos, como o que resultou na morte do boliviano Brayan, 5, em junho.

BRINQUEDÃO
Luciano Huck recebe nos próximos dias o iate de 80 pés que encomendou ao estaleiro Schaefer, de Santa Catarina. Ele trocou de barco. O novo, de R$ 15 milhões, foi adaptado para atender às necessidades da família.

VELHA INFÂNCIA
Famosos como Neymar, Claudia Leitte, Marcelo Tas e NX Zero vão gravar vídeos sobre sua relação com a Turma da Mônica. Mauricio de Sousa, criador da história, e a filha Mônica também participam da iniciativa do canal a cabo Cartoon Network nos 50 anos da personagem.

NOME PRÓPRIO
A galerista Mali Villas-Bôas inaugurou seu novo espaço no Itaim Bibi. Artistas plásticos como Paulo Cabral, Marcos Oliva, Regiane Aguilar e Ana Reginatto e a arquiteta Laila Guimarães compareceram à abertura.

ARMANI PARA SEMPRE
O estilista Giorgio Armani, 79, dono de um império que inclui marca de roupas, hotéis e restaurantes, diz que sua sucessão na empresa será "uma transição natural".

"Estou cercado de pessoas que trabalharam comigo a vida toda. Quando chegar a hora, elas vão transportar Giorgio Armani para o futuro", afirma à revista "Wish Report".

Admite ser "rude e exigente" e minimiza a crise.

"Mercados tradicionais como a Europa resistem e enviam sinais positivos."

CHEIRO DE PIPOCA
O Cine Vista, que exibe filmes ao ar livre no terraço do shopping JK Iguatemi, teve "Bling Ring - A Gangue de Hollywood", de Sofia Coppola, na abertura. A atriz Mariana Hein, a publicitária Karina Maluf, a blogueira Anna Fasano e o diretor do shopping, Fernando Bonamico, assistiram à sessão.

CURTO-CIRCUITO
O 17º Festival de Cinema Judaico será aberto hoje, às 19h30, com festa na Hebraica, em Pinheiros.

O chef Yann Corderon faz hoje jantar de aniversário de quatro anos do restaurante L'Amitié, no Itaim.

A Schutz lança coleção de verão hoje com coquetel às 17h, na rua Oscar Freire.

O trio Sinamantes faz show no Grazie a Dio!, às 22h, na Vila Madalena. 18 anos.

O Urban Gallery, projeto de pintura em tapumes de obras, recebe inscrições de artistas pelo seu site.

Cacá Ribeiro dará curso sobre gestão de eventos criativos na Escola São Paulo a partir do dia 12.

Ao resgate - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 05/08

Conselheiros de Dilma Rousseff identificaram uma demanda por "socorro" do governo federal às grandes cidades após as manifestações. A pesquisa CNI/Ibope de julho revelou que 62% dos eleitores acreditam que os prefeitos não têm dinheiro suficiente para prover serviços de qualidade e que 70% dos brasileiros acham que a União dá aos municípios menos recursos do que deveria. Ao acelerar o repasse de verbas, o Planalto poderia impulsionar a recuperação da popularidade de Dilma.

Projeto... Origem da onda de protestos, São Paulo deve receber atenção especial. A Presidência planeja uma nova visita de Dilma à cidade no dia 20 para anunciar a transferência de recursos do Pronatec. O prefeito Fernando Haddad (PT) prometeu verba federal para o setor durante sua campanha.

...piloto A prefeitura paulistana espera receber outros pacotes de investimentos do governo federal nos próximos meses. Haddad pediu repasses volumosos para a área de saúde e para a construção de CEUs e creches no município.

Padrinho Especialistas em pesquisas lembram que a visita do presidente americano Barack Obama ao Brasil elevou os índices de popularidade de Dilma em 2011. Eles acreditam que a passagem do papa Francisco pelo país pode ter efeito semelhante.

Viral 1 Auxiliares de Sérgio Cabral (PMDB) calculam que a má imagem do governador do Rio já contaminou os programas de sua gestão, como as UPPs, criando um cenário difícil para a eleição de seu sucessor, Luiz Fernando Pezão (PMDB).

Viral 2 Para tentar resgatar a bandeira da segurança, o governo se empenhará em punir os responsáveis pelo desaparecimento do pedreiro Amarildo, na Rocinha, e garantir a segurança do coordenador do AfroReggae, José Júnior, ameaçado de morte no Complexo do Alemão.

De olho A direção do PPS faz um levantamento para identificar os políticos que tentam aproveitar o fracasso da fusão com o PMN para migrar para outros partidos. A legenda vai tentar recuperar os mandatos na Justiça. A maioria, segundo dirigentes, é de deputados estaduais e vereadores.

No ar... A velha Vasp lidera a lista das empresas que mais devem na Justiça do Trabalho. A relação atualizada de devedores será divulgada amanhã.

...e na terra Na lista de pessoas físicas, Wagner Canhedo e familiares, donos da finada companhia, ocupam cinco dos dez primeiros lugares. São tantos os processos que a Justiça do Trabalho de São Paulo criou uma vara exclusiva para o caso, conhecida como "Vara Vasp".

Favorito O senador Gim Argello (PTB-DF) trabalha para emplacar Paulo Roxo no comando da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), mas o governo quer barrar a indicação.

Onde pega Roxo é apontado como um dos captadores de recursos para José Roberto Arruda, ex-governador do DF que caiu na esteira no mensalão do DEM.

Fim de férias A despeito da operação do governo para liberar bilhões em emendas para acalmar a base aliada, o presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), vai tentar colocar em pauta o Orçamento impositivo, que tem a contrariedade do Planalto.

Pescaria O governo busca até as bancadas mais modestas de sua coalizão no esforço para recuperar a fidelidade de sua base no Congresso. Ideli Salvatti (Relações Institucionais) se reúne quarta-feira com o PRB, que tem dez deputados e um senador.

Tiroteio
Ao manter sigilo e recusar informações ao governo paulista, o Cade só estimula o uso político dos dados que o órgão decidiu vazar.
DO SECRETÁRIO DE ENERGIA DE SÃO PAULO, JOSÉ ANÍBAL (PSDB), sobre a falta de acesso do governo às denúncias de corrupção em licitações de trem e metrô.

Contraponto


Cidade sangue quente
Prestes a completar dois meses, a onda de manifestações no Rio já virou parte do cotidiano dos cariocas. No sábado à noite, em um show de Angela Ro Ro no Teatro Rival, na Cinelândia, um espectador descuidado derrubou um copo de vidro, que se espatifou no chão.

Do palco, a cantora ouviu o barulho e brincou:

-Viram só? É manifestação!

E aproveitou para fazer piada com os protestos em frente ao apartamento do governador Sérgio Cabral.

-Calma, gente. Eu não moro no Leblon e meu primeiro nome não é Sérgio!

O 1º milagre de Francisco - RICARDO NOBLAT

O GLOBO - 05/08
"Estava precisando de muita dose de humildade e não nego isso" 
Sérgio Cabral, governador do Rio


Perdoemos os que erram e confessam seus pecados. E os ajudemos a trilhar outra vez o caminho do bem. A essa altura, quantas pessoas não revisam seu modo de vida depois do que ouviram do Papa Francisco? Quantas não seguraram o choro diante daquela figura simples, amorosa e completamente desprovida de medo? E quantas não choraram, e talvez ainda chorem, tocadas pela infinita bondade que emana dele?

NÃO SEI SE O governador Sérgio Cabral, do Rio, tem de fato religião. E se a pratica com moderação ou afinco. Também não sei dizer seé uma pessoa quese comove com facilidade. Sei que não somos mais perfeitos ou imperfeitos do que ele. E que pelo menos por enquanto deveríamos acreditar no que repete desde a passagem do Papa. Quando nada porque "é preciso reabilitar a política", como ditou Francisco. E só se reabilita a política reabilitando-se os políticos.

COM A POPULARIDADE reduzida à microscópica marca de 12% de ótimo e bom, Cabral bateu no peito outro dia em sinal de arrependimento e disse: "Sou cristão. Nunca fiz uso da religiosidade para minha vida pública. Mas como governador e ser humano, o Papa muito me tocou". Foi além: "Acho que estava trabalhando mal determinadas questões. Estava me faltando autocrítica. Cometi erros de diálogo, de incapacidade de dialogar, que sempre foi a minha marca".

PERGUNTARAM SOBRE as manifestações contra ele.
Cabral respondeu, modesto: "Acho que da minha parte faltou mais diálogo, uma capacidade maior de entendimento e de compreensão". Para emendarem seguida de maneira um tanto confusa: "Não sou uma pessoa soberba, que não está aberta ao diálogo. Para mim a democracia é um bem intangível". E concluiu: "Ouço com muito prazer as críticas da opinião pública".

OUVIR SÓ NÃO basta. Então Cabral resolveu doar ao Rio seu segundo Código de Ética. O primeiro decorreu dasviagens quefezem jatinhoscedidos por prestadores de serviços ao Estado. O código proibiu tais viagens. O segundo código tem a ver com o uso feito por Cabral de helicópteros do governo. Helicóptero de R$ 12 milhões servia para ele ir trabalhar e, nos fins de semana, usufruir de sua casa deveraneio junto com a família. Acabaram os voos de recreio.

AUMENTOU O desejo de Cabral de agradar seus governados. O carioca jamais se conformou com a demolição do Parque Aquático Júlio Delamare e do Estádio de Atletismo Célio de Barros, partes do complexo do Maracanã? Cabral anunciou que eles não serão mais demolidos. Resta saber o que fará o consórcio de empresas que reformou o Maracanã. E que lucraria com a demolição do parque e do estádio. Na prática, Cabral rasgou o contrato que ele mesmo assinara.

EM TROCA DE sua rendição aos bons costumes, Cabral gostaria de ser deixado em paz por aqueles que regularmente protestam nas vizinhanças do seu apartamento, no Leblon. Que peçam seu impeachment, tudo bem. É direito de qualquer um.
Mas infernizar a vida de uma família a ponto de forçá-la a mudar de endereço contra sua vontade e a viver na clandestinidade...

A RECLAMAÇÃO DE Cabral procede. O problema dele é que Francisco animou os jovens a saírem às ruas para lutar por suas utopias sem importar se elas pareçam inalcançáveis. E foi logo avisando que não gosta nem um pouquinho de jovens acomodados.
Como conciliar, pois, a pretensão de Cabral, o mais novo discípulo do Papa, com a da rapaziada disposta a mostrar o seu valor? Essa é uma missão para o super Francisco.

Governantes sem juízo - MAURO LAVIOLA

O GLOBO - 05/08

Num dado momento aventou-se a possibilidade de postergar a reunião de cúpula para agosto. Se de fato tivesse ocorrido o adiamento, teria sido a manobra política mais acertada visando a acomodar a volta do Paraguai à condição de sócio pleno ainda durante a presidência pro tempore do Uruguai caso ela fosse prorrogada por pouco mais de um mês. Coincidiria com a posse do presidente eleito em abril e propiciaria ao novo Congresso paraguaio boa vontade para votar favoravelmente a adesão plena da Venezuela. No entanto, prevaleceu a empáfia em vez da racionalidade traduzida na declaração do chanceler brasileiro para que o Paraguai trate de se adaptar à nova ordem institucional do bloco.

Assim, a reunião aprovou uma decisão específica considerando restabelecida a ordem democrática naquele país com as eleições de abril último, voltando o país a retomar sua condição de membro pleno. Contudo, o novo mandatário paraguaio não aceita a presidência pro tempore da Venezuela, concedida na ocasião, enquanto o novo Congresso não votar favoravelmente sua formal admissão. Vislumbra-se a continuidade do imbróglio institucional no Mercosul.

O encontro tampouco deu qualquer atenção aos problemas operacionais que afligem o bloco porque os temas dominantes concentraram-se nas denúncias de espionagem americana e na interdição do espaço aéreo imposta por países europeus ao avião do presidente da Bolívia. Por outro lado, resolveu solificar a integração subregional saudando a iminente incorporação da Bolívia e mais adiante a do Equador, além de alçar o Suriname e a Guiana ao status de países associados. Além disso, demonstraram uma antevisão política de fazer inveja ao falecido Hugo Chávez pelo apoio dado às declarações do fórum social do Mercosul acusando a Aliança do Pacífico de contribuir para uma grave cisão na integração latino-americana.

Na verdade, seria demasiado cobrar um rasgo de desprendimento e lucidez aos mandatários que, nos últimos dois anos, pouco ou nada fizeram para contornar as mazelas comerciais que assolam esse organismo. Antes pelo contrário, principalmente brasileiros e argentinos desfilaram um rosário de equívocos institucionais e adoção de medidas protecionistas contrárias aos dispositivos do Tratado de Assunção e da própria Organização Mundial do Comércio. Basta rever a salada de atos administrativos e fiscais praticadas pelos dois maiores sócios, entre si e com o resto do mundo. Não à toa o Uruguai mostra-se cada vez mais descontente e francamente favorável à abertura do bloco para acordos individuais de comércio com outras áreas.

Definitivamente, o Brasil está metido num novelo político-institucional que vem assumindo contornos de difícil reversão. Isso no momento em que aumentam as manifestações empresariais, acadêmicas e, até mesmo, de algumas esferas oficiais clamando por maior liberdade de o país negociar acordos de livre comércio com áreas e países mais desenvolvidos. Contudo, o crescente fortalecimento do Mercosul provavelmente irá cada vez mais dificultar as penosas negociações do bloco com a União Europeia. Recentes declarações do Comissário de Comércio da Comunidade revelaram a disposição de aceitar velocidades distintas para cada país do bloco, mas a diversidade de países membros e as contínuas demonstrações do governo argentino de aversão à liberalização comercial vão conspirar contra esse arranjo.

O quadro atual mostra uma notável incoerência do governo brasileiro em matéria de estratégia comercial: por um lado estimula os setores industriais a envidar esforços para apresentar ofertas viáveis à UE, mas por outro mostra-se leniente com a demagogia terceiro-mundista de abrigar novos sócios inconvenientes e desnecessários. Notável contrassenso e completa falta de juízo.

De ética, economia e política - RENATO JANINE RIBEIRO

VALOR ECONÔMICO - 05/08

Para quem sente vergonha ou frustração diante dos rumos do Brasil, é bom lembrar: nas últimas três décadas, por três vezes a sociedade brasileira interveio decididamente na política, com boas lideranças, mudando o país para melhor. Três vezes: 1984, com o movimento das Diretas-Já, que sepultou a ditadura militar; 1994, com o Plano Real, apoiado pelo PSDB, vencendo a inflação; 2002, com a adoção da inclusão social e da luta contra a miséria como políticas de Estado. Uma mudança política, uma econômica, uma social.

Talvez esteja na hora, 11 anos depois da última data, de conseguir uma melhora decisiva na qualidade dos serviços públicos. Esta pode - e deve - ser a mudança hoje prioritária. Ela poderá marcar nossa década.

Há características comuns aos três movimentos bem sucedidos; pelo menos as duas primeiras hoje se repetem:

O Brasil recente teve três grandes conquistas éticas

1) A situação vigente (ditadura, inflação, miséria) perturbava cada escaninho da vida social e pessoal. Não ter liberdade era um suplício; a inflação corroía a confiança nos outros e a fé no futuro; a miséria fazia troça das qualidades de nossa sociedade como um todo.

2) Chegou-se ao consenso de que tal situação era intolerável. Convivemos 20 anos com a ditadura, o mesmo tempo com a inflação, cinco séculos com a miséria. Mas veio a gota d"água. Isso não podia continuar.

3) Lideranças políticas souberam, à custa de muito trabalho, oferecer saídas para o impasse.

4) Os resultados foram muito bons. O que era proposta de parte da sociedade e de alguns partidos se tornou compromisso do Brasil como um todo.

O primeiro êxito se vê no Índice de Desenvolvimento Humano dos Municípios. A ditadura militar nos legou 85% dos municípios brasileiros com Qualidade de vida "muito baixa"; mas os anos de democracia foram tão positivos que só restou, nesse patamar, menos de 1%. O segundo êxito: a inflação, que em 1994 chegava, anualizada, aos três dígitos, hoje preocupa se passa dos 5% ao ano. O terceiro está na imagem da pirâmide social que virou losango, entre 2005 e 2010: no começo do governo Lula, metade da população brasileira vivia nas classes D e E, as mais pobres. Hoje, essa metade está na classe C, no meio da estratificação social: 50 milhões saíram da pior pobreza.

Nos três casos, a percepção de que algo era intolerável veio junto com uma causa ética. Nos últimos 30 anos, o Brasil viveu, na prática, aulas da melhor filosofia política. (Nem sempre nossos pensadores o perceberam). Primeiro, a questão da liberdade, reprimida pela ditadura. Depois, a da confiança no outro e no futuro, bases para o laço social. Mais tarde, o drama do egoísmo, da opressão social, da miséria. Agora, é a questão do Estado que assegure serviços públicos decentes: talvez, o Estado de bem-estar social que nunca tivemos.

Os sucessos anteriores somavam um diagnóstico e uma prescrição. Vejamos.

Diagnóstico em 1984: o país está travado pela ditadura, que paralisa tudo, da justiça social e da justiça até a liberdade pessoal; medicamento: democracia.

Diagnóstico em 1994: a inflação corrói tudo, economia e valores morais; medicamento: um plano transparente, que permita retomar a fé no outro e em si próprio.

Diagnóstico em 2002: a miséria estraga nossas relações sociais, expondo o caráter antiético de uma sociedade que não aboliu de fato a escravatura. Medicamento: programas de inclusão social.

Estes três grandes momentos tiveram atores em comum. A união democrática contra a ditadura foi conduzida por líderes que depois se dividiram, para dirigir os dois momentos seguintes: a luta contra a inflação, assumida pelos tucanos, e a inclusão social, a que os petistas deram prioridade e escala. Mas os dois últimos momentos, sobretudo, foram possíveis pelo encontro de um fim ético e de meios econômicos. O fim ético, em 1994, era a construção da confiança; o meio foi o quarto grande plano anti-inflacionário da democracia, o que deu certo. O fim ético, desde 2002, era o ataque à fome e à miséria; o meio passou pela economia, inclusive a Carta aos Brasileiros e a política de Palocci e Meirelles.

A grande questão é onde estaria isto hoje. Há várias agendas em cena. A empresarial se concentra em aumentar a produtividade. Mas lhe falta o gancho ético: focada demais na economia, que é apenas meio, não constrói um fim maior, com apelo social. Outra agenda, que até agora prevaleceu, é a da gestão. Dilma Rousseff se elegeu como a gestora que continuaria os projetos de Lula; José Serra concorreu como o gestor que prometia preservar e melhorar as conquistas de Lula. Nos dois casos, propôs-se o meio, faltou o fim ético, o apelo à sociedade.

O junho brasileiro indicou qual pode ser a nova meta ética - um Estado que proporcione transporte público, saúde, educação, em suma, alguns dos serviços básicos por que pagamos, mas que são ruins. Isso para não falar da segurança, que não vi aparecer como tema - talvez até porque a polícia estivesse nas ruas do lado errado, tolerando criminosos e reprimindo manifestantes. Tudo isso implica o combate à corrupção, mas este não basta: é preciso ter governos melhores. É este o fim a conquistar. Resta ver quais serão os meios a adotar para chegar aí, quais líderes saberão conduzir esta luta.

Porque precisaremos aqui de política, num sentido que vai além do cotidiano dos políticos. Falo da capacidade de traduzir uma demanda alastrada pela sociedade em meios aptos a converter a exigência em realidade. Em suma, temos um problema claro, uma agenda quase definida, mas não sabemos sequer quem serão os atores a implantá-la. Não está fácil.