terça-feira, julho 30, 2013

Os falsários - JOÃO PEREIRA COUTINHO

FOLHA DE SP - 30/07

Nós não queremos apenas que as nossas vidas sejam felizes. Queremos que essas vidas sejam autênticas


Memórias falsas. Eis a nova descoberta científica publicada em revista da especialidade. Segundo a "Science", pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology conseguiram implantar memórias falsas no cérebro de ratinhos. Já tinham cometido uma outra proeza no passado: apagar certas memórias. Agora, o desafio foi implantá-las. Conseguiram.

Ainda estamos longe do Santo Graal: apagar más memórias e, se possível, conferir a cada ser humano um passado glorioso. Mas o futuro, tal como o passado, promete. Ou não promete?

Robert Nozick (1938-2002), um dos grandes filósofos do nosso tempo, achava que não. No seu magistral "Anarchy, State, and Utopia", Nozick pedia-nos para imaginar a seguinte situação: existe uma máquina do prazer a que os seres humanos se podem ligar. E, por esse simples processo, ter prazer a vida inteira. Quem daria o primeiro passo?

Poucos. Existe algo de incômodo na ideia de uma felicidade eterna, porém falsa. E esse incômodo tem nome: verdade. Ou, para usar uma palavra cara aos românticos, "autenticidade".

Nós não queremos apenas que as nossas vidas sejam felizes. Queremos que essas vidas sejam autênticas e que a nossa felicidade seja o resultado de experiências, méritos ou virtudes reais.

Se tudo fosse resumido a critérios de prazer e desprazer, ninguém hesitaria em ligar-se à máquina de Nozick. E, no entanto, a maioria hesita.

Não conheço crítica mais devastadora ao utilitarismo nos tempos modernos. Seguindo o cálculo hedônico, o que interessa é proporcionar a maior felicidade ao maior número?

Não necessariamente, afirmava Nozick. Se a felicidade humana não é humana, ela perde qualquer valor para nós.

E o que é válido para a felicidade é válido para a infelicidade. Até porque a segunda é condição para haver a primeira.

Ironicamente, uma máquina de prazer permanente deixaria até de proporcionar prazer. Porque deixaria de haver contraste com as restantes iniquidades da existência: habitaríamos apenas um estado de normalidade entediante em que nada seria importante porque nada seria valorizado em si mesmo.

Sabemos o que é a felicidade porque sabemos o que é a infelicidade. E também porque aprendemos algo com as nossas infelicidades.

"Aprender" é o verbo: implantar memórias falsas já seria uma aberração ética. Mas apagar as más é mais que isso: é uma aberração epistemológica.

Sofremos como cães pelos erros que cometemos. Escolhas profissionais lamentáveis; amores cultivados e frustrados; atitudes egoístas, covardes, impensadas --quem atira a primeira pedra?

Mas sofremos e, com sorte, aprendemos. E existe algo de libertador (e de redentor) quando seguimos em frente e somos capazes de reconhecer os mesmos dilemas, as mesmas tentações, os mesmos traços de caráter --em nós e nos outros. E, claro, as mesmas consequências prováveis de certos atos e omissões.

É então que o passado, e sobretudo o insuportável passado, se torna nosso tutor privado: ao segredar-nos o que devemos evitar e abraçar com conhecimento de causa.

Todos precisamos de más memórias para evitar cometer os mesmos erros. Apagar essas memórias seria uma forma de nos condenarmos a sofrimentos perpétuos. E a apagamentos perpétuos. E a sofrimentos perpétuos. E a apagamentos perpétuos.

Talvez eu esteja sendo injusto. Talvez o objetivo das recentes descobertas seja outro: aliviar o sofrimento de soldados em situações de combate, por exemplo, apagando experiências traumáticas e colocando tardes de verão onde antes havia destruição e morte.

Sem falar de vítimas de crimes ou acidentes para quem um "reset" mental seria uma benesse. Sobre esses casos extremos, manda a prudência que nada diga.

Mas será preciso lembrar como as sociedades contemporâneas foram medicalizando os mais básicos sentimentos humanos --o medo, a ansiedade, a angústia-- procurando uma resposta química e imediata para eles?

Se hoje declaramos guerra às tristezas presentes, por que não declarar outra contra as tristezas passadas?

Quase todos recusamos a máquina de prazer de Nozick. Mas às vezes pergunto se o fazemos mesmo por questões de princípio --ou pela razão mais prosaica de que essa máquina não existe ainda.

GOSTOSA


Ana Maria Braga assusta o papa! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 30/07

Os brasileiros adoram o papa Francisco, admiram o Messi, mas gostar do Maradona está fora de qualquer limite


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! "Palmirinha se atrapalha e troca penne por pênis ao vivo no programa Hoje em Dia'". Safadinha, ela ainda se lembra!

E ainda bem que ela trocou as palavras e não os ingredientes. E a Palmirinha tá certa: o plural de penne é pênis! Rarará!

E el papa se fué! O argentino que virou brasileiro! O papa disse que ia voltar em 2017, mas desistiu.

Quando viu a Ana Maria Braga de lençol branco e cabelo arrepiado, desistiu. Pensou que era o fantasma do Vaticano.

"É você, satanás?". Rarará! Outros acharam que ela tava fantasiada de papisa.

E a Dilma? A Dilma parece o Bob Esponja! Quadrada e com dois dentinhos! Rarará.

E a Cristina Kirchner? Tava parecendo a Gretchen com aquela boca bico de tênis conga. Aquela boca de "VOU TE BEIJAR!". Rarará! A Maga Patalógica!

Ela queria que o papa mudasse o Vaticano pras Ilhas Malvinas. Pedido negado. Ela queria que a Capela Sistina se chamasse Capela Cristina. Pedido negado. Ela queria que os brasileiros gostassem do Maradona. Pedido negado.

Os brasileiros adoraram o papa Francisco, admiram o Messi, mas gostar do Maradona está fora de qualquer limite possível.

E o Evo Morales? A cara do Zacarias! Rarará.

E ainda bem que Guaratiba alagou! Copacabana é muito mais bonita! A vista aérea da missa do papa em Copacabana era deslumbrante!

E eu ainda pedi um último milagre pro papa Francisco: o meu São Paulo ganhar! Mas ele é papa, não Deus!

E o site Futirinhas mostra o Rogério Ceni numa cena de "O Sexto Sentido" com o Bruce Willis. Ceni embaixo das cobertas, com cara de apavorado: "Eu vejo um time morto". E o Bruce Willis: "Com que frequência?". "O TEMPO TODO!". Rarará.

É mole? É mole, mas sobe!

E o Brasil volta ao normal: o papa foi embora e o Galo perdeu pro Cruzeiro. Raposa comendo galo, voltamos ao normal! Todo galo tem seu dia de canja! Rarará.

E até o frio tá indo embora. Já posso tirar o meu look vândalo: moletom com capuz! E a cara tapada pelo cachecol! Rarará.

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Luz de Francisco - TEREZA CRUVINEL

CORREIO BRAZILIENSE - 30/07
A passagem do papa Francisco pelo Brasil foi uma brisa fresca e reconfortante, para a Igreja, em sua hora de renovação, e para o Brasil e seu momento turbulento. Com simplicidade, a figura de "bispo alegre", como preconizou, o papa nos deu grandes lições nesses sete dias de uma convivência que não se limitou ao Rio nem à Jornada Mundial da Juventude. O mundo midiático levou a figura luminosa e a fala mansa a todas as casas.

Ele chegou dizendo que não trazia ouro nem prata, mas deixa-nos um legado valioso. Com o que disse e o que não disse, puxou-nos da mesquinharia cotidiana para um refrigério do espírito. Num tempo em que minorias radicais cometem depredações em série, a reunião pacífica de 3,5 milhões de pessoas na missa de domingo, em Copacabana, evidenciou seu poder de mobilização e a índole dominante no país. Francisco chegou cauteloso e foi seduzindo os brasileiros, inclusive os não católicos, como aquele garoto que participou da peregrinação com um cartaz: "Sou evangélico, mas gosto do papa". Em falas sucessivas, foi tocando nas feridas do Brasil e do mundo, mas sempre com a voz suave, jamais no tom severo ou sapiente dos bispos tristes. Falou de desigualdade, drogas, tragédias. "Candelária, nunca mais." Dos protestos atuais, ensinando que entre o vandalismo e a alienação pode existir o diálogo. De corrupção, pedindo aos jovens que não desistam de querer mudar o mundo. "O futuro exige hoje reabilitar a política, uma das formas mais altas de caridade." Na visita à favela , qual político conseguiria ser tão gentil, e ao mesmo tempo condenar o alcoolismo: "Queria bater em cada porta, dizer "bom dia", pedir um copo de água, beber um cafezinho, e não um copo de cachaça".

Um dos segredos de Francisco é a linguagem, plena de metáforas sutis, mas eficientes. Mais de uma vez condenou a cultura do consumo e do descartável, do ter acima de tudo. "Não há lugar para o idoso nem para o filho indesejado; não há tempo para se deter com o pobre caído à margem da estrada." Olha aí, no meio de frase, a alfinetada nos que defendem o aborto, embora não tenha colocado o dogma no centro dos discursos.

Sua missão é reformar e resgatar a Igreja, tirando-a do conforto das sacristias. No Brasil, ele acordou os bispos e dirigentes para o desafio. "Eu quero agito nas dioceses, que vocês saiam às ruas. Eu quero que a Igreja vá para as ruas, eu quero que nós nos defendamos de toda acomodação, imobilidade, clericalismo. Se a Igreja não sai às ruas, se converte em uma ONG. A Igreja não pode ser uma ONG." E com que delicadeza ensinou-os que, assim como não existe mãe por correspondência, a Igreja não pode atuar através de bulas e homilias. Precisa tocar o próximo e buscá-lo. Na entrevista exclusiva ao repórter Gerson Camarotti, exibida pelo Fantástico, o tom coloquial realçou a personalidade sedutora e a vocação para a mudança. Explicou a opção pelo despojamento que tem despertado críticas, ainda contidas, dos setores mais conservadores do Vaticano, falando em populismo e demagogia. "Penso que temos que dar testemunho de uma certa simplicidade - eu diria, inclusive, de pobreza. O povo sente seu coração magoado quando nós, as pessoas consagradas, são apegadas a dinheiro."

A oratória clara e direta, mas sempre agradável, foi a chave da vitória na passagem pelo Brasil, com o mundo inteiro esperando sinais sobre os rumos do pontificado. Com enorme habilidade política, dizendo ou deixando de dizer, mostrou a quê veio. Evitou repisar os dogmas polêmicos, como os relacionados a celibato, aborto, homossexualidade e métodos contraceptivos. Seria inútil e pouco construtivo insistir nisso com os jovens, pois tais dogmas não vão cair, pelo menos tão cedo. Mas já voando, mostrou que, com ele, a Igreja será menos intransigente: "Se uma pessoa é gay, procura Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?". Condenou as correntes ideológicas dentro da Igreja, tanto as de viés marxista (Teologia da Libertação), como as voltadas ao passado, o conservantismo ortodoxo. Mas sinalizou também que não haverá perseguições. Até porque, a opção pelos mais pobres dialoga muito com a corrente socialmente engajada.

Passada a brisa, a vida continua e teremos semanas difíceis na política. Que a luz de Francisco ajude os que decidem e dissipe as brumas da intolerância que nos rondam.

Agosto quente
No governo, espera-se um mês de agosto agitado. Na próxima semana, o presidente do STFJoaquim Barbosa, marcará o dia de apreciação dos recursos apresentados pelos réus da Ação Penal 470, vulgo mensalão. Se os recursos forem rejeitados, a coisa para. Mas se forem aceitos, terá início uma fase de julgamento, com transmissões ao vivo e todos os debates que já vimos na primeira fase. Será fermento puro no mau-humor nacional. As sessões atravessarão agosto. E, como é sabido, está na agenda das ruas uma grande mobilização anticorrupção no 7 de Setembro. Afora isso, a pauta no Congresso tem assuntos para lá de polêmicos.

Mais médicos: MP ameaçada
A medida provisória do programa Mais Médicos, resposta do governo aos protestos contra a má qualidade da saúde, será analisada por uma comissão especial mista do Congresso, que já teve os integrantes indicados. Apesar do recesso, eles têm trocado figurinhas e há sinais de que a proposta da presidente Dilma pode ser bastante desfigurada. Um deles, o deputado peemedebista Francisco Escórcio (MA), arrisca: "Obrigar os estudantes de medicina a cumprir serviço obrigatório de dois anos no SUS é comprar uma briga ruim na hora errada. E dispensar os estrangeiros de fazer o exame Revalida soa como privilégio".

Re-vo-lu-ci-o-ná-rios - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 30/07

Mas, atenção, a revolução que o papa pede tem por base o difícil e exigente Evangelho


Foi assim, escandindo cada sílaba de "revolucionários", que o papa pediu que cada jovem seja. Revolucionário é uma palavra forte em qualquer contexto. Mas fica agressiva no contexto de um continente, a América Latina, em que o status quo, que o revolucionário deve forçosamente romper, é duro para as maiorias.

É razoável supor que cada corrente política, ideológica ou eclesial puxará a brasa da palavra papal para a sua sardinha. Como eu não tenho sardinha a vender, prefiro olhar o conjunto da obra do papa no Rio de Janeiro/Aparecida para tentar entender o que ele quer dizer exatamente com essa pregação.

Suspeito que o bom revolucionário desejado pelo papa não usará nem o manual de Adam Smith nem o de Karl Marx. Usará um instrumento ainda mais potente, chamado Evangelho.

Francisco deixou muito claro que "levar o Evangelho é levar a força de Deus para arrancar e arrasar o mal e a violência; para destruir e demolir as barreiras do egoísmo, da intolerância e do ódio; para edificar um mundo novo".

Mais claro é impossível, certo?

O grande problema para fazer uma revolução com base no Evangelho é que, no tempo de Jesus, não havia YouTube, não havia redes sociais, não havia nem sequer a mídia convencional para reproduzir fielmente as palavras de Cristo. O que chegou a nós são interpretações feitas pelos evangelistas, por sua vez sujeitas a reinterpretações de teólogos, religiosos e leigos, cada um com seu respectivo viés.

Seja qual for a interpretação que você prefira, o certo é que a política hoje hegemônica, caracterizada pela idolatria do dinheiro, não é o mundo que o papa gostaria que continuasse, conforme ele deixou claro na entrevista a Gerson Camarotti, das Organizações Globo, difundida na noite de domingo (um belo furo).

De resto, a encíclica "Rerum Novarum", lançada no remoto ano de 1891, já continha críticas tanto ao capitalismo como ao socialismo.

Mas a igreja, nesses 122 anos transcorridos, não pôs de pé algum modelo alternativo. E muita gente acha que nem lhe cabe fazê-lo.

Francisco tampouco deu pistas de qual é a revolução que ele quer que os jovens façam. Basta uma revolução espiritual "para edificar um mundo novo"? Basta cada um seguir rigidamente o exigente Evangelho? Ou é preciso revolucionar também as estruturas que sufocam não apenas os jovens, não apenas os velhos, os dois extremos de que o papa se fez porta-voz?

Não tenho nem remotamente a pretensão de responder a essas perguntas e, francamente falando, não conheço ninguém que as tenha.

Não foi o único ponto de interrogação que Francisco deixou em sua visita ao Brasil. Na entrevista à Globo, o papa anunciou para de 1 a 3 de outubro as primeiras respostas da comissão que ele próprio incumbiu de estudar a reforma da Cúria Romana, o coração do Vaticano. Adiantou apenas que algumas coisas que serviram no passado podem não servir hoje em dia.

Que coisas? Primeiras respostas em outubro, quando se começará a saber se Francisco é ele também um revolucionário.

Se eu quero, eu posso - CELSO MING

ESTADÃO - 30/07

Os críticos da atual política econômica vêm apontando como principais causas dos desacertos tanto problemas de gerenciamento quanto e barreiras de ordem ideológica.
Com algumas exceções, talvez não se possa falar propriamente de barreiras ideológicas, mas de posturas I equívoca das de governo.
As resistências desta administração em chamar o setor privado a participar mais agressivamente de projetos de infraestrutura e de outros serviços públicos são provavelmente um dos poucos entraves de ordem ideológica propriamente dita. Mesmo depois de ter trombado tantas vezes com as limitações de recursos públicos, o governo Dilma ainda não superou antigos preconceitos contra quaisquer formas de privatização, inclusive as Participações Público-Privadas (PPPs) que muitos ainda insistem em chamar de "privataria".
Entre as posturas equivocadas do governo está a concepção de que mais importante do que a solidez dos fundamentos da economia é a vontade política, na base do ase eu quero, eu posso", em que a decisão transformadora supera qualquer obstáculo. Daí a enorme dose de voluntarismo que perpassa a administração Dilma.
Faz parte desse jogo a ideia de que basta garantir o avanço do consumo e aumentar a escala da economia para que o resto venha junto. Logo se viu que a criação de mercado interno por meio de políticas de transferência de renda não foi suficiente para puxar pela produção e pelos investimentos, porque os produtores nacionais estão atolados na baixa competitividade.
Outro equívoco dessa natureza foi a política de derrubada sistemática dos juros, prevalecente de agosto de 2011 a abril de 2013, independentemente das exigências da política de metas de inflação. O pressuposto foi de que ganhariam as contas públicas, pela queda do serviço (juros) cia dívida pública, e ganharia a inflação, pela redução dos custos financeiros. Mas a política fiscal, ficou defeituosa e a inflação disparou.
A postura voluntarista seguinte foi a de que, ao contrário do que aponta a maioria dos estudos sobre a matéria valeria a pena sacrificar a inflação em beneficio de mais crescimento e econômico. O resultado, conto advertiu no Estadão de ontem ex-diretor do Banco Central Alberto Furuguem, foi apenas mais inflação.
Para tentar consertar distorções desse tipo, o governo Dilma apelou para expedientes de política de preços. Segurou e subsidiou os reajustes dos combustíveis, forçou a redução das tarifas de energia elétrica (que agora terão de ser cobertas com recursos do Tesouro), postergou e, agora, removeu a correção das tarifas dos transportes públicos e ate mesmo usou certas reduções de impostos ("como a dos veículos e dos aparelhos domésticos) para conter á inflação. Em seguida, vieram as distorções já conhecidas.
Não da para deixar de enumerar entre as práticas voluntaristas do governo certos procedimentos de política industrial. O abuso das exigências de conteúdo local (instalações, bens de capital, peças e componentes a serem obrigatoriamente produzidos no País); a criação de reservas de mercado; e a escolha de campeões do futuro para receber subsídios financiamentos a juros favorecidos e encomendas generosas também fazem porte dessa política.
Essas coisas produzem consequências. E entre elas estão as enormes distorções que travam o sistema, produtivo e tiram eficácia da economia.
É a inflação
Ontem, dois índices diferentes apontaram para forte quebra da confiança no desempenho da economia. O primeiro deles (gráfico acima) apontou em julho o menor nível de confiança da indústria desde julho de 2009. E o outro, elaborado pela Confederação Nacional da Industria, acusou, também em julho, o menor nível de confiança do consumidor desde junho de 2009. Têm a ver com a inflação e as manifestações.

Metafísica e metodologia - ANTÔNIO DELFIM NETO

VALOR ECONÔMICO - 30/07

Nancy Cartwright é, provavelmente, a mais bem equipada metodologista que explora o campo das disciplinas sociais. Num livro que já vai adquirindo a característica de um "clássico" ("Hunting Causes and Using Then", Cambridge University Press, 2007), faz a seguinte observação: "A metafísica e a metodologia têm que andar de mãos dadas. A metafísica nos diz o que algo é. A metodologia deve encontrá-lo. Nossos métodos justificam-se mostrando que eles são, de fato, um bom caminho para encontrarmos o que está sob estudo. Por outro lado, se nosso algo metafísico não pode ser concretizado através de nossos melhores métodos, devemos suspeitar dele" (pág. 132, tradução livre).
Há uma extravagante tendência entre alguns praticantes da "teoria" econômica de propor a existência de entes metafísicos. No próprio ato de criação eles são manipulados algebricamente, como se tivessem evidente contrapartida na realidade. Deles se deduzem teoremas que, num passe de mágica, transformam-se em recomendações normativas à política econômica. A profissão tem sido objeto de justificadas piadas, porque tal método é chamado de "suponhamos que...".
Um dos entes metafísicos mais manipulados pelos economistas é o famoso "produto potencial". Intuitivamente sabemos que ele deve existir. Os fatores de que dispomos (recursos naturais, energia, instituições, infraestrutura, estoque de capital, nível de educação, tecnologia, força de trabalho e nível de saúde, relações com o exterior etc.) são finitos e, no prazo curto, relativamente fixos. Logo, deve existir um nível máximo de produção possível, que é atingido quando se esgota a utilização do fator complementar mais escasso para a realização do processo produtivo.
O problema, como disse Cartwright é achar um "bom caminho para encontrá-lo". A única coisa não escassa na disciplina da economia é a imaginação. Numa contagem não exaustiva, existem pelo menos quatro metodologias para concretizá-lo (Cotis, J.P. e outros, "Estimates of Potencial Output", OCDE): 1) estudo da tendência (com duas variantes); 2) filtros univariados (com quatro variantes); 3) filtros multivariados (com três variantes); e 4) através de funções de produção (com três variantes). Ao todo, 12 metodologias, cada uma com algumas virtudes e muitos defeitos!
E qual é a conclusão do trabalho? Duas: a) qualquer que seja o método usado, é necessário um uso crítico e não mecânico do resultado. Em particular não se deve esquecer as hipóteses que o suportam e os seus defeitos; e b) vários dos métodos produzem resultados semelhantes para o produto potencial, e, em certa medida, para o "output gap". Para o último, entretanto, há uma larga divergência na sua fixação.
Ora, é exatamente a dimensão do "output gap" que interessa à política fiscal (para determinar o déficit fiscal estrutural e saber se ela é expansiva ou restritiva) e a política monetária (para saber o que fazer com a taxa de juros básica). Essa, aliás, exige o conhecimento de outro ente metafísico de reconhecimento metodológico duvidoso, a "taxa de juros real de equilíbrio".
O produto potencial é o nível do PIB que usa plenamente o mais escasso dos fatores de produção (com as instituições dadas), com equilíbrio interno (menor taxa de inflação possível) e externo (déficit eternamente sustentável). Seria atingido por uma manobra da política fiscal coordenada com a política monetária. É o Santo Graal procurado pelos economistas da Távola Redonda e outros mais céticos...
O problema é que precisamos de estimativas do produto potencial e do "output gap" em tempo real para realizar a coincidência entre o equilíbrio interno e externo através da divina manipulação das políticas monetária e fiscal. E o que nos oferecem todos os métodos até agora? Uma pálida estimativa do passado. Não se trata de "erros" de estimação, mas da agregação de informações não disponíveis no momento da estimativa.
Os números abaixo dão uma ideia do que isso pode ser. Eles revelam a estimativa de crescimento anual do PIB americano no quarto trimestre de 2008, quando era mais fundamental conhecê-lo para o exercício das políticas fiscal e monetária e sua revisão em 2010:-primeira estimativa: -3,8%; terceira estimativa (última): -8,9%. Nível da revisão: -5,1%
Parece que tinham razão os economistas que intuíram e afirmaram que as políticas fiscal e monetária dos EUA naquele momento não tinham a potência necessária para elevar rapidamente o nível do PIB nominal à sua tendência. Essa não é uma exceção. A tabela abaixo mostra a variação das estimativas do PIB em 1975 em vários países, calculados em 1976 e as revisões posteriores em 1991 e 2011. Honestamente, como levá-los a sério na formulação da política econômica?
No Brasil, o nosso diligente IBGE está trabalhando numa revolução metodológica para estimar, de acordo com as últimas recomendações da ONU, os dados da contabilidade nacional desde 1995. Os resultados serão divulgados no fim de 2014 ou no início de 2015. Saberemos então quanto do nosso ente metafísico foi capturado e materializado na versão empírica que tem, por necessidade, orientado nossa política econômica.

Terceirização e produção em rede - JOSÉ PASTORE

ESTADÃO - 30/07

As redes de produção criaram as empresas horizontais. Nelas, a produção segue as atividades e não as hierarquias. O desempenho é medido pela satisfação dos clientes. As recompensas se baseiam no desempenho. As informações circulam livremente. O treinamento é contínuo. A sinergia é imensa.

A Toyota do Japão, por exemplo, trabalha com cerca de 500 fornecedores diretos que, por sua vez, se ligam a mais de 3.000 indiretos. As empresas chinesas igualmente se apoiam em extensas alianças estratégicas. A terceirização é regra de sobrevivência para trabalhadores e empresas.

Há mais de 20 anos, Manuel Castells vem descrevendo esse processo como a chave para o alto desempenho das empresas modernas. A produção verticalizada perdeu eficiência e competitividade (The Rise of the Network Society, Oxford: Massachusetts, Blackwell, 2001)

Na produção em rede, os serviços desempenham um papel crucial no avanço da inovação e da produtividade, em especial os de pesquisa, automação, treinamento e logística. Com isso, consolida-se a tendência de se automatizar a parte mais simples do trabalho que é realizada por computadores e robôs. Para os seres humanos, ficaram as decisões que exigem uma boa capacidade de pensar.

No mundo moderno, vence a concorrência quem participa da melhor rede. Nessa corrida, o tempo é crucial. Ganha quem é capaz de captar o tempo futuro na produção presente. É assim que se criam as novidades que conquistam os consumidores e clientes.

A eficiência do trabalho decorre da integração em uma multiplicidade de atividades interconectadas pelas redes e realizadas em empresas e locais diferentes sob as mais variadas formas de terceirização.

Como resultado da crescente eficiência das empresas horizontais, os ganhos de produtividade são usados para melhorar a qualidade, diversificar os produtos e reduzir os preços. Os consumidores se beneficiam. Nunca o mundo dispôs de tamanha abundância de bens diversificados e de baixo preço como nos dias atuais. Para as empresas isso gera lucro e estimula o investimento, o que é crucial para a geração de novos empregos. Para os trabalhadores estimula a qualificação e a melhoria do salário real.

No Brasil, a legislação trabalhista e a jurisprudência dos Tribunais de Justiça que combatem a terceirização nada mais fazem do que dificultar o fortalecimento de redes de produção. Isso conspira contra a competitividade das empresas e a qualidade de vida dos trabalhadores e dos consumidores.

O combate à terceirização é anacrônico, desatualizado e calcado em ideologias superadas que, no fundo, defendem interesses de corporações que buscam dinheiro e poder para seus dirigentes e nenhum progresso para a sociedade. O Brasil precisa sair desse impasse que, além de retrógrado, é disfuncional para um mundo que ficará cada vez mais concorrencial daqui para a frente. De nada adianta gritar "parem o mundo que eu quero descer" porque isso não vai acontecer. A produção em rede é uma realidade sem volta. Nossos concorrentes estão mergulhados nesse processo e aprofundam as conexões entre empresas em velocidade meteórica. Eles descobriram há muito tempo que nos dias de hoje não há mais lugar para uma empresa fazer de tudo e, ainda assim, ser competitiva. E deixaram de lado as filigranas conceituais que em nada ajudam os trabalhadores, como é o caso da falsa dicotomia entre atividades-meio e atividades-fim. O que mais interessa aos trabalhadores é que todos estejam adequadamente protegidos ao participar da proteção em rede - e não se estão trabalhando nessa ou naquela atividade. Isso não faz a menor diferença, uma vez garantidas as suas proteções trabalhistas e previdenciárias. Não faz diferença também para os que são contratados ou subcontratados. A prioridade está na proteção e não na posição que ocupam.

Os nós a quatro mãos - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 30/07

A economia brasileira está diante de vários obstáculos que impedem o crescimento mais forte. Para recuperar o ritmo, terá que superá-los e, para isso, o governo precisa reconhecer o que não está funcionando. A presidente propôs um "pacto da verdade" mas, em seguida, fugiu dele. O fato é que os nós se acumularam e isso está derrubando a confiança dos consumidores e dos empresários.

A inflação será baixa em julho e agosto, mas ela está alta demais há muito tempo e não há previsão de quando volta ao centro da meta. A balança comercial está com déficit. Algumas commodities caíram de preço, mas isso sozinho não explica o rombo. Ele é resultado de uma importação crescente de petróleo e derivados, causada pelo incentivo ao consumo da gasolina e pelo uso das térmicas, e insuficiência de produção. O déficit em conta corrente subiu e não é coberto por investimentos diretos.

O mercado de trabalho vive um drama duplo: os empresários acham que falta mão de obra qualificada mas jovens não encontram emprego. O consumo não crescerá no ritmo que cresceu porque o endividamento das famílias dobrou nos últimos 8 anos e hoje compromete quase um quarto do orçamento familiar. Continuar estimulando o consumo, via dívida, é mais difícil. O cenário é parecido com os gastos públicos. Apenas no primeiro semestre deste ano, o governo concedeu R$ 35 bilhões em desonerações que não deram o resultado esperado.

A arrecadação cresceu 0,5% no semestre, descontada a inflação, e não há espaço para novos estímulos. O superávit primário caiu, e a dívida bruta está aumentando. A dívida que todos olham é a bruta, e, segundo dados do Banco Central, ela saiu de 54,06% do PIB, em janeiro de 2011, para 59,58%, em maio de 2013. A dívida líquida perdeu credibilidade porque passou a incorporar ativos sem liquidez, como os empréstimos feitos ao BNDES.

O PIB será baixo pelo terceiro ano seguido. As projeções para o ano que vem também caíram para a casa de 2% e o período entre 2011 e 2014 deve ser o de mais baixo crescimento dos últimos 20 anos: média de apenas 2,12%, levando em conta as projeções feitas no Boletim Focus para 2013 e 2014.

O principal gargalo é a inflação. Ela está perto do teto da meta, em 6,5%, mesmo com um nível de atividade baixo. Se a economia voltar a acelerar, ela pode ficar mais alta. A menos que a taxa caia bastante agora. Mas, se errar na dose de juros, o BC derruba demais o nível de atividade.

A balança comercial encerrou o primeiro semestre com déficit de US$ 3 bi. No mesmo período de 2012, estava com superávit de US$ 7 bi. Olhando mais para trás, em 2005, foram US$ 20 bi, de janeiro a junho.

O setor de energia é um dos gargalos. Os níveis dos reservatórios subiram, felizmente, mas ainda estão no patamar mais baixo dos últimos 10 anos para o período, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico. O ONS tem os dados no site, para consulta pública. Para economizar água, as térmicas foram acionadas. Como o governo tinha anunciado, em clima de campanha, a redução da tarifa, agora não poderá pedir para o consumidor pagar a conta do custo das térmicas. Ontem, o "Estado de S. Paulo" informou que R$ 6,7 bi terão que ser repassados do Tesouro para cobrir o custo. Não pagarão os consumidores, mas os contribuintes.

A presidente Dilma Rousseff, em entrevista à Mônica Bergamo, da "Folha de S. Paulo", disse que, além dos cinco pactos que propôs, iria propor um sexto: o pacto da verdade. Em seguida, disse que a inflação está baixa, a dívida pública está caindo, os gastos estão sob controle, e o déficit da Previdência é pequeno.

A verdade que ela disse foi que o ex-presidente Lula não voltará porque nunca foi embora. Momento de louvável sinceridade. Confirma o que se sabia sobre a autonomia da atual governante em relação ao seu antecessor. E mostra que os nós atuais foram atados a quatro mãos.

Xô, pessimismo - BENJAMIN STEINBRUCH

FOLHA DE SP - 30/07

Pelo pessimismo no discurso de alguns analistas, parece que o país está à beira de uma hecatombe


A pior coisa que pode acontecer a uma pessoa, a uma empresa ou a um país é se deixar levar por ondas de pessimismo. E o Brasil corre esse risco neste momento.

Se levarmos a sério discursos de alguns analistas, o país estaria à beira de uma hecatombe econômica e política.

A inflação estaria perigosamente descontrolada; a atividade econômica, no caminho inevitável da recessão; as contas públicas, totalmente desarrumadas; as contas externas, no rumo do default; a corrupção, em ritmo desenfreado em todas as esferas públicas e privadas.

Temos efetivamente problemas com inflação, atividade econômica, contas públicas, contas externas, corrupção e em muitas outras áreas. Mas só pessoas impregnadas por pessimismo doentio ou mal-intencionadas podem considerar esses problemas como insuperáveis.

A inflação, de fato, subiu, ultrapassou a teto da meta de 6,5% ao ano. Foi puxada pela alta dos preços dos alimentos, impulso que já passou. O mais recente IPCA-15 mostrou que estamos próximos da inflação zero, com possibilidade até de deflação no índice oficial de julho, agora sob influência da queda dos custos de alimentos e transportes.

Isso não significa que acabaram as preocupações com a inflação, até porque os preços dos serviços continuam em alta e o efeito câmbio pode impactar preços neste segundo semestre. Mas também não é o caso de propagar a ideia de que está de volta o velho dragão dos tempos da hiperinflação.

A atividade econômica está fraca, muito aquém do desejável. A indústria, principalmente, muito prejudicada pela concorrência das importações, reduziu investimentos. Mas o país não segue a rota inevitável da recessão.

Em artigo recente, o economista Francisco Lopes mostrou que os dados trimestrais do IBC-Br, do Banco Central, indicam uma aceleração da economia, em ritmo anual de crescimento próximo de 4%.

Os gastos do governo preocupam, especialmente porque eles são pouco direcionados para investimentos. Mas o deficit está longe da calamidade pública. O deficit nominal, indicador usado em todo o mundo, é inferior a 3% do PIB, índice que daria ao Brasil uma condecoração se estivesse na União Europeia.

Na área externa, o deficit nas transações correntes cresceu para US$ 43 bilhões no primeiro semestre, nível muito acima dos US$ 25 bilhões do mesmo período do ano passado. Mas o ingresso de investimentos diretos, que havia caído, voltou a aumentar e atingiu US$ 7,17 bilhões em junho. E o país tem gordas reservas de US$ 370 bilhões para qualquer eventualidade.

A corrupção é uma epidemia no país há muito tempo. Eu era menino quando surgiu Jânio Quadros com o jingle "varre, varre vassourinha/ varre, varre a bandalheira/ que o povo está cansado de sofrer dessa maneira". O fato é que a corrupção nunca foi varrida e certamente hoje é maior que na época de Jânio.

Varrer a corrupção é talvez uma das mais importantes razões pelas quais as massas foram às ruas em junho. Não quero ter a pretensão de interpretar a voz dos manifestantes, algo que os sociólogos podem fazer muito melhor. Mas foi possível observar a ausência de cartazes sobre deficit público, inflação, desaquecimento e desemprego.

Eis um ponto importantíssimo. O mundo está em crise profunda desde 2008, há desemprego por toda a parte e, nesses cinco anos, o Brasil criou 9,9 milhões de empregos formais. No mês passado, foram mais 124 mil vagas, informação que o pessimismo conseguiu divulgar de forma negativa. Para o ano, a previsão é de 1,4 milhão de novas vagas.

Imagino, portanto, que as ruas estão pedindo um novo salto de qualidade ao país. Beneficiadas pelos avanços das últimas duas décadas, reclamam por infraestrutura, educação, saúde e combate à corrupção.

As ruas estão certas, e as manifestações, excluídas naturalmente as que descambam para o vandalismo e a violência, devem ser objeto de comemoração. Não podem ser usadas para alimentar pessimismo que espalha desânimo, inibe investimentos empresariais e crescimento da economia.

Nem otimismo ingênuo, nem pessimismo doentio. Essa seria uma boa norma de conduta para todos os que torcem pelo Brasil e batalham pela melhoria de vida dos brasileiros.

Nem tão fora da curva - JOSÉ PAULO KUPFER

O Estado de S.Paulo - 30/07

Um dos aspectos mais espinhosos das discussões econômicas é o da comparação de desempenho entre países. Parece mais um exercício de imposição de um tipo de modo de pensar a economia, no qual mal se esconde um viés político - e, na maior parte das vezes, é isso mesmo.

Quando os números da economia brasileira começaram a descer a ladeira, o embate entre os economistas do governo e os críticos de sua política econômica passou a rodar em torno de uma justificativa e de sua negação. Para o governo - e seus aliados -, a raiz da perda de fôlego se localizava no renitente baixo ritmo de crescimento global. Já os críticos, apontando para o melhor comportamento de outras economias tão emergentes quanto a brasileira, carregavam nas mazelas econômicas verde-amarelas.

O problema insanável desse tipo de debate é que os debatedores, frequentemente, costumam desprezar a natureza dos ciclos econômicos e as suas também naturais assimetrias geopolíticas. A tentação de simplificar, em resumo, aumenta o risco do embarque em canoas furadas. Informações recentes sobre o ambiente e os horizontes econômicos globais confirmam que o risco de tomar partes pelo todo está aumentando.

Revisões e atualizações de projeções do crescimento global indicam que, com todos os seus evidentes e inegáveis problemas específicos, o Brasil não deveria ser tomado, pelo menos neste momento, como um ponto tão fora da curva quanto a trajetória da expansão econômica mundial. A presente etapa da crise global começa a se caracterizar pela perda de vigor das economias periféricas - "emergentes" no linguajar elegante dos mercados -, depois de um período em que elas, sob a ampla liderança da China, esta sim um emergente fora da curva, sustentaram o crescimento global.

Na capa da edição da semana passada, a revista The Economist aborda o tema do freio na expansão dos emergentes, sob o título "A grande desaceleração". O fato é que a percepção cada vez mais difundida segundo a qual as economias não centrais estão batendo no muro e puxando o crescimento como um todo para baixo, dez anos depois de saltarem de 38% para 50% da produção global, encontra respaldo nas previsões de crescimento dos organismos multilaterais. Agora em julho, o FMI revisou, pela quinta vez seguida, a média do crescimento mundial de 3,3% para 3,1%, em 2013.

Na mesma linha e também para este ano, Cepal, órgão econômico da ONU para a América Latina, divulgou, na semana passada, revisão para baixo da expansão econômica da região. De 3,5% para 3%.

Cuidado para não cair da cadeira, mas esse nível será sustentado, pela ordem de crescimento, por Paraguai (mais 12,5%), Panamá (mais 7,5%), Peru (mais 5,9%), Bolívia (mais 5,5%) e Nicarágua (mais 5%).

Como no caso do FMI, a Cepal possivelmente ainda terá de ajustar suas projeções, de novo para baixo, antes do fim do ano. O Brasil, por exemplo, não crescerá 2,5%, como preveem, no momento atual, os dois organismos. Mas não custa lembrar que o México também está na rabeira das previsões, com expansão de 2,8%, perdendo da Argentina, do Equador e até do Haiti.

A economia brasileira, não faz muito tempo, entrou numa rota descendente no ranking dos "queridinhos" entre os emergentes, cedendo lugar justamente para o México. O "modelo" mexicano entrou no radar de analistas daqui e de fora porque apresentava, comparativamente, pontos positivos que o Brasil perdera, não soubera promover ou fora incapaz de sustentar.

Reformas pró-mercado e integração ao comércio internacional, com a costura de dezenas de acordos bilaterais, transformaram a economia mexicana, na visão de muitos, em paradigma a ser perseguido pelo Brasil. Mas a verdade é que, sem querer desculpar os evidentes erros da economia brasileira, vê-se com mais clareza agora que receitas prontas de vizinhos da região também podem não levar suas economias muito longe, quando o ambiente global é adverso.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 30/07

Mercado de seguros do país é o mais atraente para os EUA
O mercado brasileiro é o mais procurado pela indústria norte-americana de seguros para a realização de investimentos, segundo a KPMG.

Dos entrevistados pela empresa de auditoria, 15% afirmaram que suas companhias planejam aportar mais de US$ 5 milhões no Brasil no próximo ano.

China, Índia e Colômbia aparecem nas posições seguintes, com 9%, 8% e 6%, respectivamente.

"A relação entre prêmio [valor que as seguradoras recebem dos clientes] e PIB do Brasil é a menor entre os países emergentes. Por isso, o mercado ainda tem muita oportunidade de crescimento", diz Lucio Anacleto, sócio da KPMG no Brasil.

"Aqui, quase só se pensa em seguro de vida e de carro. A incidência de outras modalidades de seguro é bastante pequena", acrescenta.

"Se olharmos a tendência de expansão do setor, a expectativa é que haja uma elevação na casa dos dois dígitos por ano."

A pesquisa também mostra que aumentou o número de empresas que investirão em expansão geográfica. Em 2012, 20% dos entrevistados planejavam aportar em outros países. Neste ano, o número subiu para 34%.

A estratégia de operar em países diferentes ultrapassou outras que costumavam ser prioridade, como fusão e aquisição, propaganda e marketing e transformação do modelo de negócios.

O acesso a novos mercados também foi apontado como principal motor para alavancar alianças e aquisições por 41% dos ouvidos. Mudanças regulatórias ficou em segundo lugar, com 36%.

Minério... A ALL (América Latina Logística) iniciou nesta semana o transporte de até cem mil toneladas por mês de minério de ferro no município de Ladário (MS).

...no trilho A carga percorrerá da estação de Urucum até o terminal de trem no porto de Ladário. Depois, seguirá para países do Mercosul por meio do rio Paraguai.

FÁBRICA PARA EXPORTAÇÃO
A Tipler, indústria de borracha do Rio Grande do Sul com foco em recapagem, investirá R$ 84 milhões para aumentar sua capacidade de produção em 30%.

O projeto de expansão também inclui uma fábrica no exterior, possivelmente na Argentina.

Hoje a empresa produz cerca de 1.800 toneladas por mês. A capacidade, porém, é de 3.000 toneladas.

"Atualmente podemos dobrar nossa participação no mercado sem investir R$ 1", afirma o diretor-presidente da empresa, Sérgio de Faria Bica Jr.

"Vamos ampliar, mesmo assim, porque os equipamentos são de longo prazo de instalação --cerca de 18 meses entre o projeto executivo e o início das operações."

Com unidade no exterior e investimentos na planta brasileira, a empresa pretende dobrar seu faturamento, que neste ano deve ficar em R$ 400 milhões.

Também planeja elevar a participação das exportações dos atuais 6% da receita para 20% até 2017.

Sobre realizar uma expansão em época de fracos resultados da economia brasileira, Bica Jr diz que o setor não costuma ser influenciado pelo ritmo do PIB.

"Quando a economia dispara, as empresas compram pneus novos e quase não nos procuram. Quando despenca, a demanda por recapagem cresce um pouco", diz.

"Claro que sentimos o efeito do cenário recessivo, mas não de forma acentuada para parar os investimentos."

R$ 400 MILHÕES
deve ser o faturamento da empresa neste ano

R$ 800 MILHÕES
deve ser a receita bruta em 2017

Quase 50% dos clientes já tiveram acesso a crédito negado
Quase metade dos consumidores já teve empréstimo negado, segundo pesquisa do SPC Brasil.

Entre as 604 pessoas entrevistadas em todas as capitais brasileiras, 47% afirmaram que já tiveram pedidos de financiamento reprovados.

O principal motivo é a inadimplência (36%), seguido por renda insuficiente (33%) e por falta de comprovação de recursos (23%).

Os bancos são a primeira opção para quem busca crédito (75%). Familiares (45%) e amigos (25%) também aparecem como fontes de empréstimo, segundo a pesquisa.

"A relação com agências bancárias é impessoal, mas com pessoas da família, não. Por isso, é preciso ficar atento a esse tipo de transação, pois 45% dos entrevistados falaram que teriam vergonha de cobrar dinheiro de pessoas próximas", diz Flávio Borges, da entidade.

Entre os consultados, 41% já usaram o nome de terceiros para comprar. "Esse é um dos principais causadores de negativação no SPC Brasil, pois a pessoa que tem o nome sujo usa outro CPF para contrair novos empréstimos."

Solventes em alta
O consumo de produtos químicos no mundo cresceu a uma taxa anual de 8% entre 2008 e 2012, segundo pesquisa feita pelo BCG (Boston Consulting Group).

Os gastos subiram de € 1,9 trilhão para € 2,6 trilhões no período analisado.

A Ásia teve taxa de 14% de aumento ao ano, seguida por África e Oriente Médio (8%) e pela América Latina (7%).

Os números foram mais altos em regiões emergentes por causa dos níveis de crescimento industrial elevados, de acordo com a pesquisa.

Nos mercados desenvolvidos, os índices são mais baixos --apenas 1% na Europa e 3% na América do Norte.

No geral, o setor de distribuição dos produtos químicos teve uma expansão anual de 9% entre 2008 e 2012.

Para contratar uma distribuidora, o critério mais usado pelas produtoras permaneceu o de relevância no mercado entre 2010 e 2013.

Experiência e disponibilidade de serviços adicionais (como inventários e embalagens), porém, passaram a ter peso maior na seleção.

NÃO DEU QUÍMICA
As fusões e aquisições no setor químico americano não cresceram conforme o esperado no primeiro semestre deste ano, constatou a consultoria A.T. Kearney.

As poucas operações que aconteceram foram impulsionadas pelas empresas de private equity, que cresceram 23% em relação ao mesmo período do ano passado.

"Os investidores estão mais cautelosos por conta da instabilidade econômica nos Estados Unidos e na Europa e com a desaceleração da China", afirma Edson Bouer, diretor da A.T. Kearney e presidente da Associação Brasileira de Engenharia Química.

"Eles preferem investir mais em seus próprios negócios a se arriscarem em fusões."

Na telinha - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 30/07

Dilma Rousseff deve fazer nas próximas semanas uma série de aparições ao vivo em programas de TV de grande audiência. A presidente tem sido aconselhada por ministros e aliados a se expor mais vezes sem a blindagem dos pronunciamentos, recurso que usou fartamente no primeiro semestre. A avaliação é que, quando fala de forma espontânea, Dilma se sai melhor. As atrações às quais ela comparecerá ainda não foram definidas, mas devem cobrir vários perfis de audiência.

Fala, Dilma Aloizio Mercadante é um dos assessores que defendem maior exposição da presidente. Depois da entrevista exclusiva à Folha, ela deve conceder outras segmentadas, abordando programas como o Mais Médicos e o plano de concessões.

Numa boa Em resposta à crítica de empresários de que Dilma não teria bom diálogo com o setor, interlocutores dizem que a presidente saiu muito bem impressionada de reunião com Luiz Trabuco Cappi, presidente do Bradesco, na semana passada.

Tô dentro Na conversa, Trabuco disse que o banco oferecerá crédito de longo prazo para os vencedores dos leilões de concessões de estradas, que o governo realiza a partir do mês que vem. O financiamento é uma das condições consideradas essenciais pelos investidores.

Arquivo Joaquim Barbosa mandou tirar cópia há alguns meses de todo o seu histórico pessoal no Itamaraty. Integrantes da pasta não gostaram de ele ter dito que a instituição é uma das "mais discriminatórias do Brasil''.

Mágoa O presidente do STF fez concurso para a carreira diplomática, mas não foi aprovado. Em entrevista recente, o ministro atribuiu o fato de não ter sido aprovado a questões raciais.

Tumulto Policiais federais e militares bateram cabeça na despedida do papa, anteontem. Segundo um membro do governo, houve cerco "desnecessário'' a Francisco pela PF na base aérea, estragando, inclusive, as imagens.

Onde pega O pano de fundo da sobreposição é a disputa entre PF e Ministério da Defesa para comandar a segurança de grandes eventos, como a Copa de 2014.

Currículo Fundadores da Rede, novo partido de Marina Silva, vão se reunir no dia 10 de agosto para elaborar uma lista de critérios para escolha dos quadros da legenda. Decidirão se vão exigir ficha limpa de todos os seus filiados, por exemplo.

Contagem... Dado o fracasso da fusão com o PMN, o PPS pediu a José Serra que considerasse sua filiação ao partido antes do prazo para troca de legendas para a eleição de 2014, em 5 de outubro.

...regressiva O objetivo era aproveitar a entrada do ex-governador na corrida presidencial para arregimentar outros políticos. Serra não se animou com a proposta.

Tabuleiro O PSDB paulista prepara um rearranjo de seus deputados nas eleições de 2014. Os federais Luiz Fernando Machado e Vaz de Lima podem concorrer a vagas na Assembleia Legislativa, e os estaduais Bruno Covas e Samuel Moreira devem disputar espaço na Câmara.

Foco Em conversa com um integrante da CPI dos Transportes, Fernando Haddad (PT) disse esperar que a comissão identifique gargalos do sistema de ônibus da capital e produza um relatório para reduzir os custos do sistema na próxima licitação.

Fiscais Haddad lança na quinta-feira o Conselho Participativo Municipal, com integrantes eleitos pela população, para monitorar investimentos e serviços públicos.

com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN

tiroteio
"Dilma e Haddad estarão juntos de novo para fazer o que mais sabem fazer: promessas. Está na hora de entregar algum resultado."
DO VEREADOR MARIO COVAS NETO (PSDB-SP), sobre a visita da presidente a São Paulo para anunciar investimentos bilionários ao lado do prefeito petista.

contraponto


Bons hábitos à mesa
O advogado Antonio Carlos de Almeida Castro jantava com um potencial cliente francês em Paris, há algumas semanas, quando recebeu um telefonema do publicitário Duda Mendonça, a quem defendeu no julgamento do mensalão. Kakay pediu licença para atender à ligação. Quando desligou, ouviu uma queixa:

--Aqui não atendemos o celular durante um jantar.

--Mas meu cliente tinha urgência. Espero que você nunca tenha uma situação similar -- desculpou-se.

Mais tarde, o francês lhe telefonou e disse que havia se inteirado do caso de Duda. E queria contratá-lo.

Discutindo a relação - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 30/07

A conturbada relação do Planalto com o Legislativo, vai reunir na próxima semana ministros e líderes do governo no Congresso. A nova sistemática de votação dos vetos é o drama da hora. Na volta do recesso, os vetos terão que ser votados obrigatoriamente. Por isso, o Executivo vai ter que negociar melhor seus projetos, e MPs, além de fazer maiores concessões se quiser aprovar suas medidas.

Não vejo ninguém na minha frente
Na campanha de Aécio Neves (PSDB) não há temor com a competitividade de José Serra (pelo PPS) e de Marina Silva (Rede). Seus estrategistas dizem que as pesquisas mostram que “Serra tem um teto baixo, acumulou uma rejeição razoável, que o eleitor procura uma liderança nova e que Serra está ligado ao passado”. No caso de Marina, avaliam: “é natural que ela se beneficie mais das manifestações, mas que suas fragilidades tendem a aparecer”. E citam “a falta de preparo para governar, a ausência de sustentação partidária e um discurso nebuloso sobre o que fazer com o país”. Quanto a Aécio, registram que ele pulou de 10% para 17%, após o programa do PSDB na TV. 

A eleição presidencial do ano que vem será uma eleição aberta. Qualquer um dos candidatos pode ganhar o pleito e chegar ao Planalto” 
Arnaldo Jardim 
Deputado federal (PPS-SP)

Para inglês ver
Os discursos inflamados de setores petistas contra os aliados conservadores, sobretudo o PMDB, não sensibilizam o Planalto. Os porta-vozes do governo Dilma minimizam. Eles dizem que são “discursos da boca para fora”. 
Mudar de canal
A maior batalha, entre o PT e o PSDB, é pelo PP. O governo aposta que o ministro Aguinaldo Ribeiro (Cidades) é a garantia do apoio do partido presidido pelo senador Ciro Nogueira (PI), na foto. Os tucanos apostam nas contradições regionais para conseguir a neutralidade do PP, evitando que seu tempo de TV vá para a campanha da presidente Dilma.

Recordistas
As duas MPs mais polêmicas do Congresso, nos últimos anos, receberam um número recorde de emendas parlamentares. A dos Portos recebeu 646 propostas de reformulação e a dos Médicos recebeu 567 sugestões de mudanças do texto.

Procura-se
O chapéu que a presidente Dilma usou na missa do Papa Francisco, domingo, em Copacabana, foi fruto de uma ginástica. Com muito sol no rosto, Dilma pediu providências. Um assessor foi para a beira da praia e convenceu uma senhora, que caminhava, a emprestá-lo. A generosa mulher foi até a ala de autoridades e até tirou fotos com Dilma. No final da missa, o chapéu foi devolvido.

Ufa!
Um dos padres designado a ficar com o Papa Francisco desde sua chegada, dava sinais de cansaço no domingo. E ele contou a presidente Dilma, que por baixo da batina usava uma camiseta com a frase: "Eu amo segunda-feira".

A explicação
O fundo Postalis, dos funcionários dos Correios, diz que o déficit de R$ 985 milhões não se refere apenas à rentabilidade dos investimentos (MDX, de Eike Batista), mas também à mudança na taxa de juros e ao aumento da expectativa de vida. 

O pré-candidato ao governo da Bahia, Rui Costa, da tendência Reencantar, decidiu apoiar a reeleição de Rui Falcão para a presidência do PT.

Estratégia de risco - LUIZ CARLOS AZEDO

CORREIO BRAZILIENSE - 30/07

A presidente Dilma Rousseff resolveu aguentar o aguaceiro pelas ventas, como diria um velho marujo. Não quer ceder às pressões dos petistas e aliados para mexer na equipe de governo, também não pretende mudar a sua equipe econômica. Aposta no poder de sedução da proposta de plebiscito para a reforma política e numa agenda positiva para a economia no segundo semestre. A primeira é miragem; a segunda, uma travessia no deserto.

Para seus críticos, essa é uma estratégia de risco. Estaria como aquele príncipe lembrado por Nicolau Maquiavel que perdeu o reino por excesso de prudência, sem se aperceber que a fortuna era outra, exigia outras virtudes para conservar o poder. Dilma pensa de outra forma: avalia que o pior já passou, a estabilidade da economia foi mantida, a inflação está em queda, mesmo que o mundo cresça pouco. Acredita que os investimentos estarão de volta no segundo semestre com os leilões de petróleo e as concessões de rodovias, ferrovias e postos.

O maior problema da presidente Dilma, porém, é político. Nada mudou para o Congresso, onde a base está desarticulada, durante o recesso. A Câmara, sob comando de Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), pintou-se para a guerra. É certo que os partidos vive uma crise de representação, mas a popularidade da presidente da República também entrou em baixa. Mês aziago, agosto promete.

Mobilidade
Convencida de que o transporte de massas passou a ser a principal demanda das cidade, a presidente Dilma Rousseff anuncia hoje a liberação de dinheiro para projetos de mobilidade urbana, em São Paulo. Dos R$ 50 bilhões prometidos para todo o país, o governo de São Paulo espera receber R$ 3,5 bilhões

Obstáculos
A ex-senadora Marina Silva corta um dobrado para conseguir fundar seu novo partido, a Rede Solidariedade. O deputado tucano Walter Feldmann, que articula a criação da Rede com Marina e deve aderir à nova legenda, anuncia que a prioridade agora é colher assinaturas. Sem o registro partidário na Justiça Eleitoral será impossível atrair parlamentares para a Rede Sustentabilidade. Cerca de 491 mil assinaturas estão sendo checadas nos cartórios eleitorais.

Ponto final
O líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE), pôs um ponto final na polêmica sobre a indicação do deputado Cândido Vaccarezza para coordenador da comissão encarregada de elaborar a reforma política pelo presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). “O PT tem claro que ele coordenará o grupo e que quem representa o partido é o Ricardo Berzoini. Temos agora coisas mais importantes com que nos preocupar. Esse assunto está encerrado”, garante. Ricardo Berzoini (PT-SP) substituiu o deputado Henrique Fontana (PT-RS), que renunciou à tarefa inconformado com a indicação de Vaccarezza.

Naufrágio
Foi a pique o projeto de fusão do PPS com o PMN, que daria origem a um novo par tido, o MD. Telma Ribeiro, secretária-geral do PMN, anunciou a decisão de voltar atrás depois de convenção nacional. Ela havia dado um ultimato ao presidente do PPS, Roberto Freire (SP), para que desse entrada no registro do novo partido, mas ele decidiu aguardar decisão da Justiça Eleitoral sobre a preservação dos mandatos dos parlamentares que aderissem à nova legenda.

Violência
O programa Pacto pela Vida, do governo da Bahia, começa a dar frutos: houve queda de 10,8% de crimes violentos em relação ao mesmo período de 2012. Na Região Metropolitana de Salvador, as cidades de Simões Filho, Camaçari e Lauro de Freitas, campeãs da criminalidade, a redução chegou a 20,5%.

Mais um
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso decidiu lançar seu livro, Pensadores que inventaram, o Brasil no dia 15 de agosto, no Cine Livraria Cultura, em São Paulo. Editado pela Companhia das Letras, é uma coletânea comentada de textos da chamada brasiliana, reunindo pensadores como Euclides da Cunha, Sérgio Buarque de Holanda e Gilberto Freyre.

Aeroportos/ O Tribunal de Contas da União deve receber na quinta-feira os estudos sobre as concessões dos aeroportos de Cofins (Belo Horizonte) e do Galeão (Rio), com a mesma remuneração garantida para os outros aeroportos: 6%. Empresas multinacionais que operam em aeroportos estão deixando o país por causa da baixa taxa de retorno nos aeroportos privatizados.

Garantia/ O Conselho Deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (Codefat) se reunirá amanhã para discutir o índice de reajuste do seguro-desemprego deste ano. O Ministério da Fazenda defende que o reajuste seja feito com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Já o Ministério do Trabalho quer a correção pelo reajuste do salário mínimo.

Azebudsman/ No sábado, perdi o rumo da Zona Oeste do Rio e confundi Guaratiba com Mangaratiba, município do litoral sul-fluminense.

A XERIFE DOS JARDINS - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 30/07

Os protestos de junho deixaram a delegada Victoria Lobo Guimarães, 51, apavorada. Os vasos de planta dos quatro andares do 78º Distrito Policial (Jardins), administrado por ela, não passaram intactos pela confusão dos manifestantes detidos. Nem as paredes claras, que faz questão de preservar limpas.

"Foi um período difícil", diz. A delegacia, recém-eleita a melhor de São Paulo em 2012, recebeu até 250 pessoas em uma noite. "Fiz plantão todo dia. Queria minha casa, meu cachorro!", afirma ela, que inicia o expediente às 9h.

O prêmio foi dado pela Altus Aliança Global, que avaliou mil delegacias em 17 países de três continentes. "Ouvi muito que é fácil os Jardins ganharem! Mas o morador daqui, em tese, é o que precisaria menos da assistência da delegacia", diz Victoria.

O 78º abre cem inquéritos e conclui 110 por mês, em média. Metade se refere a estelionatos. A concentração do crime é alta porque a delegacia é responsável pela área da avenida Paulista, onde ficam as sedes dos maiores bancos.

Com orgulho, Victoria diz que sua área "é segura" e que as taxas de crimes violentos estão estabilizadas. O foco é investigar roubos. "Aqui não tem tráfico. Homicídio é raro. E, quando tem, é de autoria conhecida." O caso mais recente foi em abril.

No cargo desde 2009, a delegada, de 1,57 m, lidera 72 pessoas, às quais atribui o prêmio. Em sua sala, orquídeas e quadros alegram o ambiente. "Ela é pequenininha, mas me dá um trabalho danado [risos]. É boa administradora", diz o delegado Kleber Altale, chefe de Victoria.

JOAQUIM É MEU AMIGO
A presidente Dilma Rousseff sai em defesa de Joaquim Barbosa, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal). "Ele não fez nada", afirma a petista sobre a imagem de TV que mostraria o magistrado cumprimentando o papa Francisco e passando reto por ela numa cerimônia no Rio de Janeiro, na semana passada.

BRIGOU COM ELE
Barbosa foi atacado em sites e mídias sociais pela suposta "arrogância" e falta de educação. "O ministro Joaquim chegou [ao local da audiência com o santo padre] e logo mandei chamá-lo para a sala em que eu estava. Ficamos duas horas conversando e vendo TV."

BRIGOU COMIGO
Na hora dos cumprimentos, Dilma diz que apresentou Barbosa ao papa explicando que "esse senhor é o primeiro negro presidente do tribunal, pelos seus méritos, uma pessoa que se superou". E emenda: "O papa se aproximou dele de forma afetiva e o ministro sorriu para mim".

É INÚTIL
Dilma critica o fato de pessoas quererem "criar constrangimento" entre ela e o presidente do STF. "Já nos encontramos duas vezes nas últimas semanas, uma delas a meu pedido e outra a pedido dele. Como presidente de poder, o Joaquim Barbosa sempre foi extremamente correto comigo. E eu tenho absoluta clareza de que ele jamais faria uma coisa dessas [referindo-se à cena do papa]."

REPOUSO
O governador de Sergipe, Marcelo Déda (PT), dará início à quimioterapia, próxima etapa do tratamento contra câncer no intestino, em algumas semanas. Na sexta passada, o petista teve alta do hospital Sírio-Libanês, em SP. "Ele fica em casa até se recuperar da cirurgia, que foi extensa, mas satisfatória", diz o oncologista Paulo Hoff.

LÁPIS E PAPEL
O interesse de pequenos empresários por qualificação surpreendeu o Sebrae na 5ª Semana do Microempreendedor Individual. A expectativa era capacitar 9.700 pessoas em todos os Estados, na primeira semana do mês, mas o número final chegou a 19.800. "Não adianta fazer o melhor salgadinho ou ser a melhor manicure, se não souber lidar com fluxo de caixa ou estoque", diz Luiz Barreto, presidente do Sebrae.

SINFONIA EM CAMPO
O vídeo dos gols de Messi embalados por uma cantata de Bach chegou a 160 mil acessos no YouTube, no fim de semana. A montagem é do maestro João Carlos Martins. e marca a largada na parceria das fundações Lionel Messi e Bachiana.

RUMO A BRASÍLIA
Robert Rey, o Doutor Hollywood, está negociando com a RedeTV! um novo programa. A emissora confirma as conversas, mas não revela detalhes. O apresentador quer mudar o nome da atração, que comanda ao lado de Daniela Albuquerque, para "Doutor Beverly Hills".

Além de novos planos na TV, Rey sonha com uma vaga de deputado federal pelo PSC em 2014, por São Paulo. E pretende se lançar a voos mais altos. Outra ideia é disputar em 2018 uma cadeira ao Senado pelo Acre. Sua meta é a Presidência da República.

JUBA A modelo americana Lindsey Wixson brincou no estúdio com os cachorros que posaram com ela em SP para a nova edição da revista "Vogue"; "Não sou muito vaidosa. Demoro oito minutos para me arrumar de manhã", diz

BORBOLETAS NO ESTÔMAGO
A dinamarquesa Eva Christensen, que viveu uma história de amor com Mario Cravo Neto, foi à abertura da exposição "Butterflies and Zebras", do artista, na Pinacoteca. Estiveram por lá o fotógrafo Christian Cravo, filho dos dois, a apresentadora Astrid Fontenelle com o filho, Gabriel, o diretor da Pinacoteca, Paulo Vicelli, e a diretora do Centro de Cultura Judaica, Yael Steiner.

CURTO-CIRCUITO
Liliane Prata autografa "Três Viúvas", às 19h, na Livraria Martins Fontes, na avenida Paulista.

O guitarrista Donald Kinsey se apresenta com Emerson Caruso Trio, hoje, às 22h, no Bourbon Street, em Moema. 18 anos.

A Pulse e a Confederação Brasileira de Futsal lançam hoje os novos uniformes da seleção brasileira, no Museu do Futebol.

A banda Combo X lança seu primeiro CD, "A Ponte", hoje, no projeto Prata da Casa. Às 21h, no Sesc Pompeia. Livre.

Costela de Adão - DORA KRAMER

O ESTADO DE S. PAULO - 30/07
A clareza na expressão de linguagem não é o forte da presidente Dilma Rousseff. Em suas declarações, verbos, substantivos, adjetivos e advérbios não primam pela harmonia. Nisso é parecida com o ex-presidente Luiz Inácio da Silva, mas com sinal trocado.

Na dificuldade com o manejo das palavras, ele torna simplista o argumento, usa a "quase lógica" que dispensa a coerência, mas parece convincente aos ouvidos do senso comum. A precisa conceituação foi feita pela cientista política Luciana Veiga ainda nos primórdios do governo Lula sobre os espantosos discursos dele.

Já Dilma é tortuosa. Falta-lhe fluência mesmo nos pronunciamentos escritos. No improviso, não raro diz alguma coisa que parece significar outra. Esta, por sua vez, dá margem a uma terceira interpretação e o conjunto nem sempre forma um raciocínio claro.

É o caso da recente afirmação que mereceu destaque na entrevista à Folha de S. Paulo, edição de domingo último, sobre a hipótese de o antecessor disputar a eleição de 2014 no lugar dela.

Disse a presidente: "Eu e o Lula somos indissociáveis. Então esse tipo de coisa, entre nós, não gruda, não cola. Agora, falar volta Lula e tal... Eu acho que o Lula não vai voltar porque ele não foi. Ele não saiu".

Não saiu do governo? Não foi aonde? Haveria na declaração da presidente uma confissão de tutela ou terá ela querido apenas sair pela tangente no assunto reeleição que, com seu beneplácito, foi posto à mesa por Lula no início do ano alegadamente para conter o crescimento da palavra de ordem "volta" no PT e adjacências?

Diante da quantidade de sombras de dúvidas que permeiam a resposta, a conclusão ficou ao gosto de cada freguês. Segundo a oposição, Dilma deu sinal de fraqueza, reconheceu que governa teleguiada pelo antecessor. De acordo com a situação, a presidente quis dizer que a nação petista é firme e indissolúvel como uma rocha.

Aqui também cabe uma terceira avaliação sobre o significado das palavras da presidente. Ao repudiar qualquer possibilidade de separação entre orientador e orientada, Dilma praticamente anula a chance de armação de um plano B do PT para 2014 tendo como candidato o ex-presidente.

Se não foi essa a intenção da presidente ao dizer que os dois são "indissociáveis", deixou patente que Lula não poderá se apresentar em feitio de contraposição a ela, apresentada que foi ao País por ele como uma versão melhorada de sua imagem e semelhança.

Na mesma linha, o ex-presidente outro dia informou: "Dilma não é mais que uma extensão da gente lá". O eleitor haverá de concordar. Para o bem ou para o mal.

Sinuca. Quando mudou a regra de cálculo para o reajuste do salário mínimo a partir de 2012, o governo retirou do Congresso a prerrogativa de debater anualmente o assunto.

O argumento: a norma deveria ser permanente e, o aumento, estabelecido pela combinação do índice Nacional de Preços ao Consumidor com a taxa de crescimento da economia dos dois anos anteriores.

Na prática, agora, dois problemas: criou-se uma indexação, perigosa em tempos de inflação escapando da meta, e eliminou-se a possibilidade de divisão de responsabilidade com o Legislativo por reajuste reduzido em decorrência do PIB diminuto.

Emérito. Na celebração geral ao papa Francisco falta o reconhecimento ao antecessor Bento XVI por ter aberto espaço, com sua renúncia, para a pessoa certa no momento certo na condução da Igreja Católica.

Jorge Mario Bergoglio fala de humildade, simplicidade, reencontro da humanidade com valores da espiritualidade em contraposição aos excessos da materialidade. Joseph Ratzinger disse o mesmo com seu gesto de desprendimento.