quarta-feira, julho 10, 2013

Fator China - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 10/07

As grandes multinacionais ocidentais do petróleo morrem de curiosidade sobre como vai se comportar a chinesa Sinopec no leilão de Libra, o campo gigante do pré-sal.
O que se diz no setor é que a estatal chinesa, embora não rasgue dinheiro, pode ser mais mão-aberta em nome de interesses estratégicos.
A conferir.

Fator Odebrecht
Guido Mantega recebe hoje o novo ministro das Finanças de Angola, Armando Manoel.
Na pauta, a possibilidade de o Brasil ajudar a financiar o projeto da maior usina hidrelétrica daquele país, a de Laúca. A primeira etapa da obra vem sendo feita pela Odebrecht.

Dilema sindical
As centrais sindicais estão divididas sobre a paralisação de ônibus, trens e metrôs amanhã, no Dia Nacional de Lutas.
É que uma greve no setor pode dificultar o acesso das pessoas aos locais das manifestações das centrais.

Viagem do Papa
Dilma deve se encontrar duas vezes com o Papa Francisco, no Rio 

Aliás...
Esta madrugada, um Hércules da FAB parte de Fortaleza para Roma. Vai buscar o papamóvel.

Danadinho
Ayres Britto, ex-presidente do STF contou ontem na FGV, no Rio, que, certa vez, estava com a família numa praia em Itaparica quando umas mulheres, de uns 20 anos, tiraram a parte de cima do biquíni:
— Aí, nós, membros da família Britto, nos olhamos e... ‘fazer o quê?’. Aliás, quanto mais as mulheres se despem, maior é o aquecimento global.

O fuzilamento de Brant
Fernando Brant distribuiu entre amigos o texto intitulado “O golpe que chamam de diálogo”.
Confirma que, a convite de Caetano Veloso, se reuniu em junho com o grupo de artistas que defende a mudança na lei de direito autoral e que esteve estes dias em Brasília.

O compositor diz que assim que chegou foi deslocado para um banco no fundo da casa. “Falei que, se queriam fiscalizar o Ecad, eu aceitaria... Mas a verdadeira e mais eficiente fiscalização deveria ser feita pelos autores e artistas, os donos do Ecad.” Ou seja, não seria preciso “a tutela do Estado”.

Segue...
A partir daí, o autor de “Canção da América”, entre outras músicas, conta que o chumbo veio grosso.
“Senti-me, e a posição em que me colocaram na sala acentuou essa impressão, como alvo de tiros do quadro ‘O fuzilamento’, de Goya.”

O quadro, como se sabe, retrata, em 1808, um pelotão de fuzilamento executando madrilenhos.

No mais...

Calma, gente!

Vale ouro
Uma loja de penhores em Las Vegas, que funciona 24 horas por dia, colocou à venda uma medalha do tricampeonato brasileiro da Copa do Mundo de Futebol.

Pede US$ 20 mil, cerca de R$ 45 mil.

Rock in Vegas
O empresário Roberto Medina embarcou para Las Vegas.

Negocia ali a realização da primeira edição americana do Rock in Rio. Se tudo der certo, o evento ocorrerá em 2015, mesmo ano de uma edição no Brasil.

Transanitta
Anitta, a funkeira que faz sucesso, ganhou uma cover transexual.
Seu nome artístico é Transanitta. Ela já tem página no Facebook e no sábado faz show na Erotika, boate de Copacabana, na Zona Sul.

Botox nos cabelos
Depois da injeção na testa, agora a nova onda nos salões do Rio é a escova de Botox.

Custa, em média, R$ 500. Dizem que estica até pensamento.

Mar de sujeira
A foto publicada ontem aqui da sujeira no mar é da Barra e não de São Conrado, no Rio. Falha nossa.
Como?

O agora ex-técnico do Vasco Paulo Autuori, conhecido pelo seu jeito rebuscado de falar, explicou assim a sua crise com o clube: “Não era isso que estava perspectivado.”

Ah, bom!

Ueba! Dilma deu um SUSto! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 10/06

Eu não sou contra a vinda de médicos cubanos. O único problema é: quem vai ficar cuidando do Fidel?!


Ueba! Obama espiona corno! Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Piada Pronta: "Neymar deve estrear contra o Levante! Rarará. Sacanagem! E essa: "Brasil é alvo de espionagem dos EUA". Descobriram a pólvora! Grandes novidades!

Se você não sabe onde deixou a chave do carro, liga pra CIA que eles sabem! E como disse o outro: "Tá vendo, pessoal, ficam escrevendo merda na internet. Os americanos estão lendo tudo". Socorro! O Obama vai descobrir que eu sou fã do Gusttavo Lima! Ai que vergonha, com que cara eu vou olhar pro Obama agora? Rarará.

E os novos slogans do Obama: "Yes, I escuto". "Yes, eu sou abelhudo". Yes, I Scan". O Obama tem a lista de todos os cornos do Brasil!

E um amigo: "Querido presidente Obama, a minha mulher vai mesmo ao cabeleireiro duas vezes por semana ou é migué dela?". O orelhão do Obama. E o engraçado é que ele tem dois orelhões mesmo! Parece um fusca com as duas portas abertas!

E esse no Facebook: "Obama, se você achar aquele vídeo em que broxei com a minha ex, por favor apaga?".

E o Beto Comentando: "como é que eles conseguem interceptar ligação telefônica se a gente não consegue completar nada pelo celular". Rarará!

E a saúde? Os médicos tomaram um SUSto! A Dilma deu um SUSto nos médicos! "Maaaantega, manda esses médicos pro Amapá!'. Eu não sou contra a vinda de médicos cubanos. O único problema é: quem vai ficar cuidando do Fidel?! Já imaginou o Fidel: "Chamem os médicos". "Não tem. Foram todos pro Brasil". Rarará!

E eu não sou contra a vinda de médicos portugueses. O único problema é: a língua. Menino é "puto" e fila é "bicha". A bicha do SUS! Rarará! Bota o puto na bicha!

E eu só digo uma coisa: se eu estivesse doente e morrendo no interior do interior do Ceará, eu queria um médico humano. Tanto faz paulistano, cubano ou marciano! É isso aí! Se resolvam!

E eu gostaria muito de saber: o Mercadante é clínico-geral? Dá pitaco em tudo! Serve pra qualquer situação. Rarará.

E uma vez eu fui ao médico e disse: "Doutor, toda vez que eu aperto aqui, dói". E sabe o que ele me respondeu? "Então não aperta!". Rarará.

Nóis sofre, mas nóis goza! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

A mobilidade de todos nós - ARTUR XEXÉO

O GLOBO - 10/07

A pesquisa foi divulgada em Genebra, uma cidade pacífica. Foi feita pela Transparência Internacional e atesta que mais da metade da população mundial acredita que a corrupção piorou nos últimos dois anos. Quando chega ao Brasil, a pesquisa revela que 81% da população acredita que os partidos políticos são a instituição mais afetada pela corrupção. São 20 pontos percentuais acima do resultado de dois anos atrás. E quase 20 pontos percentuais também acima da média mundial. Nos107 países pesquisados, “só” 65% da população atribui o mesmo problema aos partidos políticos. Ninguém precisa ir a Genebra para saber isso. O recente movimento que levou milhões de pessoas às ruas do Brasil para protestar já anunciava a questão. Houve — e ainda há — quem criticasse as manifestações por elas não terem um alvo específico. Não é verdade. O alvo era — e ainda é — a corrupção. Quando o povo pede um padrão Fifa para a Saúde e a Educação, está denunciando os constantes desvios de verbas que prejudicam essas áreas.
Mas há outra rejeição, também associada à corrupção, incluída nos protestos, que nossas autoridades parecem não perceber. Nas ruas, o povo tem se mostrado contrário aos privilégios (antigamente eram chamados de mordomias) que transformam nossos políticos em casta superior. As recentes denúncias feitas pela imprensa do mau uso de jatinhos e helicópteros por senadores, deputados e governadores pegaram nossas autoridades com as calças na mão e sem argumentos para justificar o exagero. O senador Renan Calheiros, após a denúncia de que usou um jatinho da FAB para ir a um casamento no Nordeste, disse que tinha todo o direito de fazê-lo. Depois, sem muita explicação, voltou atrás, resolveu pagar o que supostamente foi gasto com o privilégio e o povo ficou sem saber se ele ainda acha que tem esse direito ou não.
Mas quem saiu mal mesmo nessa história toda foi o governador Sergio Cabral. Ele nem achou necessário explicar à população a utilização do helicóptero do governo para passar fins de semana em Mangaratiba, no que é conhecido como “voo das babás”. Mas não conseguiu evitar os repórteres após uma audiência com o ministro das Cidades e teve que gaguejar uma ou outra justificativa.
“Muitos têm até aviões, coisa que o governo do Rio não tem. Trata-se da mobilidade de o governador pegar o helicóptero, ir para a sua casa e voltar, quando a casa é fora da cidade do Rio. Não sou o primeiro a fazer isso no Brasil”, disse, acuado. Agora, me explica, por que “os outros” fazem, ele se acha no direito de fazer? Tem explicação mais infantil? Parece um filho caçula pondo a culpa no irmão mais velho ao explicar o mau comportamento para o pai severo. "Mas ele também faz!”. É quase um escárnio o governador dizer para a população que precisa de mobilidade quando seu governo não consegue (ou não quer) melhorar a precária situação das barcas que unem o Rio a Niterói ou transformar o metrô num transporte útil. “Rodo o estado inteiro nas aeronaves”, acrescentou. Eu só queria saber qual foi a última vez que Sergio Cabral usou seu helicóptero para ir a Porciúncula.
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Não há nada de novo no discurso dos políticos depois de o povo ter ido à rua reclamar contra eles. A não ser a substituição da expressão “transporte público” por “mobilidade urbana”.
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Minha faixa de protesto preferida foi vista na manifestação Ocupe Delfim, antes de o governador Sergio Cabral desfazê-la na calada da noite. Dizia: “Se a propaganda enganosa é crime, então por que existe horário político?” Eu apoio.
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É o que se pode chamar de uma atitude feliciana. O Teatro Municipal Trianon, de Campos de Goytacazes, cancelou a apresentação do espetáculo “Bonitinha mas ordinária”, do Grupo de Teatro Oito de Paus, que estava agendada para agosto. De acordo com um dos atores do grupo, Rodrigo Vahia, a justificativa que a direção do teatro deu por e-mail para o cancelamento da peça de Nelson Rodrigues é que ela “poderia ofender a prefeita Rosinha Garotinho, que é evangélica”. E tem gente que acha que a prefeita é bonitinha.
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Ao escrever sobre o livrinho "Um voluntário da pátria", de Zuenir Ventura, no último domingo, atribuí ao general Amaury Kruel o cargo de ministro da Guerra no dia 31 de março de 1964. Kruel, na verdade, era o comandante do II Exército. Que fique claro: o erro foi meu, não do Zuenir. E a meu favor há o fato de que, até o ano anterior, Kruel tinha sido, de fato, ministro da Guerra de Jango.
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Afinal, o que fazem os jatinhos da FAB quando não estão a serviço dos Calheiros e dos Alves?
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Por falar nisso, que fim levou o presidente Lula?


Motivação, meio e oportunidade - FRANCISCO DAUDT

FOLHA DE SP - 10/07

Corrupção, obras faraônicas, tomada de três pinos, classe política em descrédito... Tudo isso deixa o povo irritado


Talvez estejamos acostumados a pensar nesses três requisitos como parte da investigação criminal, mas qualquer ação humana para acontecer requer motivação, meios e oportunidade.

Tomemos o próprio crime como exemplo. Minha motivação para odiar flanelinhas achacadores e chantagistas --"Vai deixando cinquenta real aí, dotô, pro seu carro não ser arranhado"-- é bastante grande. A oportunidade para matá-los existe em abundância, já que operam longe da polícia e à noite. Por estas razões jamais andarei armado: não quero ter os meios (só o que me falta) para me transformar em um assassino.

Por contraste, tomemos um exemplo do bem.

Motivação: a insatisfação com o desgoverno, com o mau investimento dos impostos escorchantes com que somos achacados pela única máquina de governo que funciona bem, a Receita. Aliás, não sou "contribuinte", contribuição é uma ação de vontade.

Sou um pagador de impostos contra a minha vontade; a corrupção impune; o superfaturamento de obras faraônicas (trem bala?) e inúteis; o abandono das úteis; a falta de investimento em infraestrutura, que faz disparar o custo Brasil; um "mensalão" (legal, mas imoral) disfarçado pelo loteamento de ministérios e cargos públicos em número que "nunca antes na história deste país"; o desmanche da estabilidade da moeda com volta da inflação maquiada (Argentina, nos aguarde que chegamos aí); o descrédito na classe política. Sem falar das tomadas de três pinos e sachês de sal nos restaurantes (jabuticabas, coisa que só existe no Brasil, como o falecido "kit primeiros socorros") criados com o propósito de enriquecer fornecedores apaniguados, nunca para atender os interesses da população.

Tudo isso deixa o povo irritado, indignado e furioso, mais ainda por sentir-se impotente nas mãos de políticos que não são representativos senão deles mesmos. E a raiva fermenta silenciosa.

Meios: com as entidades de classe, UNE, sindicatos e partidos no bolso do governo (com nosso dinheiro), os tradicionais mobilizadores de manifestos emasculados e apelegados, a população encontrou na internet e nas redes sociais a maneira de se comunicar, transmitir suas queixas e se organizar.

Oportunidade: para produzir mais uma maquiagem da inflação, os governos atenderam ao apelo de não aumentar o (péssimo) transporte público em janeiro, e o fizeram bem durante o mês de junho, durante as aulas. Foi o que bastou para começarem as passeatas de protesto, que rapidamente deixaram de ter o preço das passagens como único foco e se transformaram na vitrine da insatisfação geral.

Resultado: um deságue democrático, uma tradução real da insatisfação do povo, e o desmascaramento da "ilha de prosperidade", slogan dos tempos da ditadura que foi assimilado pelos governos atuais do "nunca antes estivemos tão bem".

Claro, como efeito colateral, tais movimentos ofereceram meios e oportunidades para quem tinha motivação criminosa, daí saques e depredações do patrimônio público e privado puderam acontecer.

Ao sabor de suas motivações, meios e oportunidades.

A sombra de Lula - EDITORIAL O ESTADÃO

O Estado de S.Paulo - 10/07

O despudor da sugestão é chocante: o governo reduz o número de Ministérios para dar a impressão de que quer acabar com a gastança, mas deixa PT e companhia preencherem "de cima até embaixo" os cargos nos espaços que lhes couberem, na base da chamada "porteira fechada". Assim, o povo nas ruas para de reclamar da falta de austeridade do governo e a companheirada fica feliz e à vontade para gozar em paz os benefícios do poder.

Dilma Rousseff teve a sensatez de recusar essa maracutaia em reunião na última sexta-feira com 22 deputados do PT: "Se forem essas as concessões, não vou fazer!". Muito bem! Mas, cabe perguntar: há sinceridade nisso?

Logo nos seus primeiros meses de governo, diante de uma avalanche de denúncias de irregularidades em pelo menos seis Ministérios que, não por coincidência, eram comandados por ministros herdados de Lula, Dilma promoveu a tal "faxina" que lhe valeu índices de popularidade que nem seu antecessor conseguira alcançar. Mas a alegria durou pouco. Em nome da "governabilidade" - quer dizer, da necessidade de deixar os aliados satisfeitos a qualquer custo -, em pouco tempo a maior parte dos "faxinados" recuperou o poder de que haviam sido alijados em nome da moralidade pública.

De toda essa história podem ser extraídas duas conclusões. Primeira: é extraordinária a desfaçatez das lideranças do PT e do PMDB que levaram aquela sugestão à presidente. Segunda: se já cedeu uma vez ao fisiologismo, quando o governo ainda navegava em águas mansas e sua popularidade estava em alta, o que garante que Dilma não cederá de novo agora, quando a nau que pilota enfrenta mar crispado? Não é porque Lula, como canário na muda, anda de bico calado em público que a pupila vai ser poupada de sua "sabedoria".

A verdade é que Dilma Rousseff está diante de um dilema hamletiano: ser ou não ser (ainda) uma fiel discípula de seu mentor. Para impor um estilo de governo diferente - e divergente - daquele que seu patrono consagrou, Dilma precisaria ter, no mínimo, alguma habilidade política, algum poder de persuasão. Carisma, enfim. Não tem. Seu perfil é voluntarioso, autoritário. Lula, conciliador e tolerante, sempre teve sua liderança respeitada pelos companheiros e colaboradores. Dilma é, acima de tudo, temida. Não é à toa que o coro do "volta Lula" aumenta a cada dia, apesar do esforço de lideranças do governo e do PT para disfarçar o constrangimento.

A essa altura dos acontecimentos, por mais competente que seja o marqueteiro oficial, e por mais descaradamente atrevidos que se mostrem os mandachuvas do PT e do PMDB, não há fórmula mágica que recupere em quatro meses os altos índices de apoio popular ao governo, pela simples razão de que o povo descobriu aquilo que o carisma populista de Lula sempre soube dissimular: o governo não funciona. E continua assim sob Dilma porque o modelo de governo permanece e - ora vejam - todo mundo já percebeu que o lulismo sem Lula não funciona.

Para comandar um governo que possa chamar de seu, Dilma teria de ter a coragem de romper com a herança maldita que recebeu. Ou então entregar os pontos de vez, rendendo-se à grande obra petista - o neofisiologismo e a gestão incompetente - e à hipocrisia dos "aliados", que conhecem muito melhor do que ela as artes de manipular o poder.

A hipótese de Dilma romper com a herança lulopetista inexiste, até porque se o fizesse a presidente poderia manter o comando formal do governo, mas o perderia de vez e de fato. E a perda do comando político de fato não deixaria Dilma numa situação muito diferente daquela que enfrenta hoje, em que até a fidelidade das lideranças do PT decorre mais do dever de ofício do que de convicção genuína, pois os petistas já começam a ver ameaçado seu projeto de perpetuação no poder.

Não obstante Lula tenha decidido, com sua habitual malícia, permanecer ausente desse cenário conturbado, seu espectro paira, inamovível, sobre a realidade política brasileira. Dilma que o diga.

O vício da notícia - MARCELO COELHO

FOLHA DE SP - 10/07

Irresistível, seriado americano 'Newsroom' mostra o sonho e os pesadelos de todo jornalista


Talvez seja culpa de seu ótimo desempenho num antigo filme de Woody Allen, "A Rosa Púrpura do Cairo". O fato é que, por mim, Jeff Daniels terá sempre o papel do perfeito panaca americano --passivo, grandalhão, branquelo e balofo.

Ele surge desse jeito nas cenas iniciais do seriado "Newsroom" --meu mais recente vício televisivo. Jeff Daniels é o âncora Will McAvoy, astro de um noticiário das dez que não fede nem cheira.

McAvoy está participando de um debate numa universidade americana. Enquanto ele fica quieto, olhando de um lado para o outro, a discussão pega fogo.

Contrapõem-se os lados clássicos da luta ideológica norte-americana: uma direita fundamentalista, triunfante e raivosa, contra um centro-esquerda democrata acuado e sem originalidade.

O encontro já está chegando ao fim quando o nosso picolé de chuchu, por razões que só serão explicadas mais tarde, tem uma iluminação e se engaja num discurso memorável.

Fatos e mais fatos, números e mais números são expostos com uma lógica impiedosa, provando por A mais B que os Estados Unidos não são nada dessa maravilha que os americanos dizem ser.

Como acontecerá em muitos outros momentos do seriado, o acúmulo de evidências empíricas se acompanha de um crescendo emocional, e a música, de um modo que não poderia ser mais americano, conquista a adesão até mesmo do espectador mais cético.

Confiaremos plenamente em Will McAvoy a partir de agora, e ele próprio renasce como jornalista. Seu noticiário conhecerá uma reviravolta fabulosa, graças à aparição de uma nova produtora, vivida pela britânica Emily Mortimer.

Nada mais de engolir explicações oficiais furadas. Nada mais de fofocas idiotas. Nada mais de ouvir as mentiras conservadoras em silêncio. McAvoy ganha o poder de jogar sobre a mesa, como um cadáver na sala do júri, os fatos decisivos, que deixam os assessores e os políticos sem resposta.

Para qualquer pessoa interessada em notícias, o seriado é irresistível. Sua segunda temporada estreia no Brasil dia 15 de julho, pela HBO; o pacote com os DVDs da primeira temporada já está nas lojas.

Como em toda minissérie que se preza, as personagens ficam mais complexas a cada capítulo. A aparência de bonachão escondia, no caso de Jeff Daniels, um tipo dos mais antipáticos, incapaz até de saber o nome próprio dos subordinados.

Logo veremos que o mau humor do âncora tem origem numa grave decepção sentimental. Mas não! Havia outras causas... E espere, sua violência contra os entrevistados está saindo fora do controle. Mas o que é isso? O sujeito tem um coração de ouro.

Viciei-me na novela, como se vê. Multiplique esses quiproquós psicológicos pelos vários personagens da equipe que produz o noticiário. São, aliás, tipos deliciosos para quem conhece um pouco da vida interna do jornalismo.

Há a loirinha absolutamente atrapalhada, pronta a cometer prodígios de ignorância --só que, apesar da aparente burrice, ela tem o jornalismo no sangue. Há a acadêmica de óculos, gostosíssima, fluente em dez línguas --mas totalmente surda para as regras mais elementares da profissão. Naturalmente, muita tensão sexual se concentra naquele convívio em ambiente fechado.

Cada encontro entre os personagens ganha as faíscas rapidíssimas dos diálogos de Aaron Sorkin (autor de "West Wing").

Apesar da suposta neutralidade de McAvoy no debate do primeiro capítulo, sua atuação é dura no combate ao conservadorismo americano. "Ah, como seria possível isso numa grande emissora privada de TV hoje em dia?"

Pois é. O tapete do âncora e de sua equipe está sendo puxado o tempo inteiro. Mas o jogo da emissora exige inteligência de detetive para ser descoberto.

O melhor, entretanto, está naquilo que toda produção americana não se cansa de fazer. Jornalistas ou pistoleiros, astronautas ou detetives, os personagens são sempre excelentes em sua atividade, e podem gabar-se dos êxitos mais implausíveis.

A ideia de que se vive pela vocação, de que ou se é um profissional "outstanding" ou não se é nada, sobrevive a despeito de todas as falhas humanas de cada personagem. Que incluem, por exemplo, estar chapado de maconha no dia de uma revelação histórica.

Cada capítulo, aliás, aborda capítulos recentíssimos da política americana. Espero ardentemente pelos próximos.

Enquanto isso, fico de férias até dia 14 de agosto. Boas semanas.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 10/07

Projeto de lei deve alavancar zonas de exportações no país
Foi aprovado ontem no Senado um projeto de lei que aumenta de 20% para 40% a parcela das mercadorias produzidas nas zonas de processamento de exportações (ZPEs) que pode ser vendida no mercado interno.

O projeto ainda precisa passar pela Câmara, mas já anima o setor. Hoje, das 24 ZPEs autorizadas pelo governo, apenas duas têm alfandegas e podem operar.

As regras atuais, que obrigam a exportação de 80% das mercadorias, foram estabelecidas em 2008 -antes 100% da produção deveria ser embarcada-, mas não chegaram a impulsionar o setor.

"O volume que pode ficar no mercado nacional ainda é pequeno. Quase não há empresas no Brasil que possam vender 80% para fora, ainda mais com crise no exterior", diz o presidente da Abrazpe (associação brasileira das ZPEs), Helson Braga.

Dez zonas correm risco de perder sua autorização ainda neste mês por causa do atraso nas obras -a legislação dá um prazo para que as construções sejam iniciadas.

"Algumas não têm revelado interesse, como a de Rio Grande, que foi extinta pelo governo do Rio Grande do Sul."

Outras, porém, atraem a atenção de políticos. Boa Vista é uma dessas. A prefeitura do município entrou com pedido para prorrogar o prazo de instalação da zona.

"A cidade é um local estratégico. Quem se instalar ali poderá exportar para Venezuela e Caribe", diz Brasa.

DINHEIRO DE ÁGUA
O Pará fechou junho como o Estado recordista em recursos recebidos de usinas hidrelétricas: R$ 9,8 milhões foram para os cofres paraenses como compensação do uso de seus recursos hídricos.

Minas Gerais, que liderava a lista no mesmo mês do ano passado, ganhou R$ 7,5 milhões, conforme balanço da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).

Em terceiro lugar está o Paraná (em junho de 2012, o terceiro colocado era Goiás).

No total, 698 municípios de 22 Estados, além do Distrito Federal, somaram R$ 132 milhões no último mês.

As concessionárias destinam 6,75% do valor da energia produzida a título de compensação financeira. São 95 empresas pagadoras.

A arrecadação é distribuída entre municípios atingidos por reservatórios (45%), Estados (45%) e órgãos ligados à União (10%).

NO MERCADO VIZINHO
O Santander lançou um programa de bonificação cujo objetivo é fidelizar o cliente no pagamento com cartões e estimular o uso das maquininhas da própria companhia.

A meta é ampliar a participação da instituição financeira no mercado de adquirência -empresa que faz a comunicação da transação entre lojas e a bandeira do cartão.

Hoje o Santander tem 4,8% desse mercado.

No Itaú Unibanco, o serviço de adquirência é feito pela Redecard.

SEGURO INCORPORADO
A Tokio Marine Seguradora S.A. incorporou a Tokio Marine Brasil Seguradora S.A.

A companhia passou a ter uma única razão social, Tokio Marine Seguradora S.A., já autorizada pela Superintendência de Seguros Privados (Susep).

A seguradora tornou-se uma única companhia, mais robusta, para otimizar custos, sistemas, documentação e processos, segundo José Adalberto Ferrara, presidente da empresa.

"Separadas, tínhamos alguns problemas operacionais", afirma Ferrara.

"Uma atendia mais seguro para pessoa física e a outra, frotas. Muitas vezes as oficinas faturavam o conserto de um carro para a seguradora indevida, o que atrasava pagamentos e gerava reclamação", acrescenta.

"A junção simplifica o trabalho interno e o reporte à Susep. Passaremos a divulgar um único balanço, a ter uma contabilidade só e aplicações financeiras concentradas", afirma.

A unificação mantém inalteradas as coberturas e as demais condições dos seguros contratados pelos clientes, de acordo com o executivo.

R$ 2,6 bilhões

deverá ser a receita bruta da companhia neste ano

R$ 30 milhões

é o lucro previsto para o primeiro semestre de 2013

50 mil

é o número de funcionários da empresa em todo o mundo

35

é o número de países onde a seguradora atua

Desperdício reduzido
As concessionárias brasileiras de saneamento precisariam investir R$ 18,5 bilhões nos próximos 17 anos (cerca de R$ 1,1 bilhão anualmente) para reduzir em 50% as perdas de água.

Os números são de levantamento feito pela GO Associados, a pedido da International Finance Corporation, instituição de financiamento do Banco Mundial voltada ao setor privado.

Hoje, o desperdício é de 40%. Com o aporte, ficaria em 18,7% -ainda acima da média dos países desenvolvidos, que varia de 10% a 15%.

Problemas de vazamento e de fraudes no sistema de medição de gasto de água são as principais fontes de perda do setor, segundo Gesner Oliveira, sócio da consultoria.

"O investimento de R$ 18,5 bilhões aumentaria o arrecadamento das concessionárias. Ele geraria recursos que pagariam o próprio aporte."

A pesquisa foi realizada com 52 empresas de saneamento do país, que atendem cerca de 70% da população.

R$ 18,5 BILHÕES

seriam necessários para reduzir as perdas de águas em 50%

FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA

O GLOBO - 10/07

PROJETOS COM CEPACS AVANÇAM NO PORTO MARAVILHA
Um terço dos títulos que permitem aumento de gabarito vendidos já está comprometido com empreendimentos
Chega a 2,3 milhões o número de Cepacs do Porto Maravilha vinculados a empreendimentos imobiliários. É mais de um terço do total de títulos arrematados pelo FGTS, administrado pela CEF, em leilão realizado há dois anos. Os certificados permitem o aumento de gabarito na região. “A expectativa inicial era de que 80% dos Cepacs estivessem comprometidos com empreendimentos em 15 anos. Em dois anos, já são mais de 30%. A velocidade está acima da esperada”, diz Alberto Silva, presidente da Cdurp, empresa municipal responsável pelo Porto Maravilha. Os títulos estão ligados a 15 projetos e 2.382.514 metros quadrados de área total construída. Dos 15, há quatro empreendimentos licenciados, três em vias de receber licença, seis em análise e dois com opção de compra fechada, detalha Silva. A maioria é de uso comercial, mas há três hotéis e um residencial, o Porto Vida. O Santo Cristo é a área que concentra mais propostas. “A velocidade dos projetos surpreendeu. Reflete a demanda por unidades na região. Há empresas muito mal alojadas no Centro do Rio. Parte delas já fez pré-reservas”, diz fonte do setor imobiliário. O metro quadrado na região já chega a valer R$15 mil.

7,5 mil INSCRITOS
É o número de servidores municipais interessados em unidades do Porto Vida, 1º residencial da região. É quase seis vezes o total de unidades: 1.300. Funcionários da Prefeitura do Rio terão prioridade.

BALÉ DE RUA
A Reserva, grife masculina, lança amanhã a 1ª campanha multimídia do tênis Simples. Terá filme no YouTube como dançarino John Lennon da Silva, em coreografia que une balé clássico (trecho de “O lago dos cisnes”) e dança de rua. As peças vão circularem mídias social e impressa. A meta é que o tênis represente 50% das vendas de acessórios este ano.

Reciclagem 1
A Bolsa de Valores Ambientais do Rio lança plataforma para negociar créditos de logística reversa de embalagens, em outubro. Empresas poderão adquirir os créditos de cooperativas de catadores. “A indústria vai pagar pelo serviço ambiental prestado por esses trabalhadores”, diz Maurício Moura Costa, da BVRio.

Reciclagem 2
O projeto é parceria com o MNCR, o movimento nacional de catadores. E está inserido na Política Nacional de Resíduos Sólidos. O cadastro de cooperativas começa 6ª. Haverá créditos de plástico, metais, papel e vidro, cobrindo 15 produtos.

Antifumo
A maioria dos paulistanos (76%) apoia a proibição do uso de aditivos nos cigarros, mostra pesquisa do Datafolha para a Aliança de Controle do Tabagismo. É medida prevista pela Anvisa para entrar em vigor até março de 2014. A mesma fatia (75%) é a favor de elevar impostos e preço do produto. Foram ouvidas 1.096 pessoas em abril e maio.

Hiperconectadas
Mais da metade (60%) das crianças cariocas da classe AB são hiperestimuladas pela tecnologia. As Crianças F5, da tecla atualizar do computador, são eficientes em consumo de informação. Elas afetam os gastos da família em áreas como lazer (84%) e viagens (75%). O perfil integra o Riologia, estudo de NBS, Casa 7 e O GLOBO.

Sustentável
A UniOffice, de infraestrutura e apoio empresarial, abre este mês, no Centro do Rio, espaço de escritórios para locação.
Investimento de R$ 1 milhão, terá mobiliário com madeira de reflorestamento, entre outras características sustentáveis. Pode atender até 1.200 pessoas por mês.

Expansão
A Regus, de áreas de trabalho flexíveis, abre mais três centros de negócios no país este ano. Ficarão em Recife, Rio e Porto Alegre. Hoje, são 43, em 11 cidades. Até o fim de 2014, planeja alcançar dois mil centros em todo o mundo. Tem 1.500, em cem países.

NAS DUNAS
As dunas de Gen pabu, no Rio Grande do Norte, são cenário das fotos da coleção verão 2014 da Enjoy. Lucas Bori assina as imagens coma modelo Karen Nuremberg. Vão circular em catálogo e campanha para internet, a partir da segunda quinzena deste mês. Com 35 unidades próprias e 24 franquias no país, a marca prevê aumento de 18% nas vendas.

Compromisso - SONIA RACY

ESTADÃO - 10/07

Circula pelo meio político que Haddad, pressionado pela situação econômica da Prefeitura, poderia suspender o incentivo ao Itaquerão. Em maio, liberou R$ 150 milhões em certificados de títulos de IPTU para a Odebrecht comercializar. E deve, ainda, mais R$ 250 milhões.

Procurada, a Prefeitura afirma que o acordo será honrado.

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A arquibancada temporária do Itaquerão - com 20 mil lugares - será instalada em setembro. Mês em que Andrés Sanchez quer fazer jogo no estádio, pelos 103 anos do Corinthians.

Oportunidade
O deputado Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical, pretende apresentar emendas ao texto do plebiscito sobre a reforma política.

Para incluir duas perguntas à população: sobre a redução da jornada de trabalho e o fim do fator previdenciário.

A conferir
Corre em Brasília que a demora de Dilma em nomear o sucessor de Roberto Gurgel tem motivo. Ela não gostaria de ver o procurador-geral da República, que deixa o posto mês que vem - passar a faixa.

Em nome delas
Como reforço à Lei Maria da Penha, a OAB propôs ao TJ-SP convênio para que advogadas trabalhem nas Delegacias da Mulher. Quer que as denúncias de violência contra elas se tornem processos.

Na maioria das vezes, os registros de agressão não avançam após o boletim de ocorrência.

Negritude
Salvador receberá, em junho de 2014, concurso internacional para escolher a mais bela negra do mundo. Poderão concorrer mulheres de 18 a 28 anos, com uma novidade: modelos plus size. A vencedora levará para casa US$ 200 mil.

À francesa
Segundo consta, Maurice Levy, presidente do Grupo Publicis, estuda fundir as operações de algumas de suas agências no Brasil. As primeiras da lista? DPZ e Ta-terka. Salles, Talent, Publicis e Neogama também fazem parte do conglomerado.

A assessoria do grupo nega qualquer movimentação.

Alô?
E a Copa de 2014 está colocando governo e empresas de telefonia celular em lados opostos. Exigência da Fifa, o sistema 4G vai atropelar o 3G - que ainda não está 100% implantado no País.

Para usar o 4G durante o Mundial, muito turista estrangeiro terá de comprar aparelho e chip nacionais. Culpa da faixa de 2,5 GHz - escolhida pelo Brasil, mas pouco usada fora daqui.

Já tem gente no Ministério das Comunicações apostando que a maioria dos visitantes optará por... se conectar pelo 3G mesmo.

Na estrada
A terceira edição do Música na Estrada, projeto itinerante de música clássica, traz duas novidades: a Orquestra de Câmara Filarmônica, criada especialmente parao projeto, e apartici-pação de dois bailarinos.

Serão seis concertos em Rio Branco, Cruzeiro do Sul, Porto Velho, Boa Vista, Cuiabá e Palmas.

Xô, caxirola
Teve gente comemorando o fim da exposição O Olhar que Ouve, de Carlinhos Brown, no Palácio do Planalto.

O barulho das caxirolas e de um trio elétrico era ensurdecedor.

Cravo e ferradura - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 10/07

O governo decidiu abrir duas frentes de atuação diante dos indícios de espionagem feita pelos EUA no Brasil. Amanhã e sexta-feira, em reunião de cúpula do Mercosul no Uruguai, Dilma Rousseff vai apoiar moção de repúdio às denúncias e também à interdição do voo do boliviano Evo Morales por países europeus. Mas, internamente, a ordem do governo é atenuar a retórica antiamericana até obter evidências mais concretas de que houve espionagem e como ela funcionou.

Tom Interlocutores admitem que a denúncia deve ser verdadeira, mas o Planalto não quer que sua postura seja confundida com a conhecida beligerância dos vizinhos. Governistas propõem enviar emissários a Caracas, caso o ex-analista Edward Snowden obtenha asilo na Venezuela, para obter provas do caso.

Vai indo Em reunião com sua equipe anteontem, a presidente deixou claro que, após examinar os fatos, o país deve ter sua própria política, sem necessariamente seguir posições de países da América Latina ou da Europa. "Em outra palavras, não seremos Maria vai com as outras", compara um ministro.

Tenta lá Recém-escalado para tratar de emendas com o PMDB na Câmara, Michel Temer teve que recuar após conversar com Eduardo Cunha anteontem. O líder disse ao vice-presidente que, se ele assumisse a função, também deveria se responsabilizar pelos votos da bancada.

Água abaixo Diante da resposta, Temer devolveu a tarefa a Ideli Salvatti (Relações Institucionais). A operação do governo foi montada para esvaziar Cunha, visto como adversário do Planalto.

Mãozinha Diante do desgaste de Ideli, Dilma mandou outros ministros ajudarem no trabalho de articulação política. A tarefa inclui participação em reuniões que já contam com a presença da ministra. Um colega brinca: "agora viramos babá da Ideli".

Tribos Dilma recebe hoje, pela primeira vez em seu governo, as lideranças de quase vinte etnias indígenas. Ela aproveita para anunciar um programa de saúde para o grupo, mas não deve mudar a política de menos demarcações de novas terras.

Juntos Grupos ligados ao PT incluirão pautas trabalhistas no movimento de defesa da reforma política que irá às ruas amanhã, durante protesto das centrais sindicais. O objetivo é evitar mal-estar com os trabalhadores.

Substituição O DEM enviou um questionário a seus 28 deputados para direcionar o partido no debate da reforma política. Entre os tópicos está a possibilidade de "recall" de políticos eleitos.

Infiltrado? Guilherme Afif escolheu José Levi do Amaral Júnior para chefiar a assessoria jurídica da Secretaria da Micro e Pequena Empresa. Levi foi assessor especial de José Serra (PSDB) no governo paulista.

Timing O PMN desistiu da fusão com o PPS porque exigia o registro imediato do novo partido, o MD, antes mesmo da decisão das regras sobre tempo de TV e fundo partidário para novas siglas. O PPS queria esperar. Também houve divergência sobre o comando da nova legenda nos Estados.

Direto... Fernando Haddad (PT) calcula que poderia reduzir tarifas de ônibus em 20 centavos a cada 10 centavos de tributos cobrados sobre a gasolina. O petista quer convencer Dilma a repassar aos municípios a Cide cobrada sobre combustíveis.

...na bomba A ideia é encarada como um pedágio informal: carros particulares pagariam para baratear o transporte coletivo.

com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN

tiroteio
"Assim na terra como no céu' não vale para o PMDB, que pede redução de ministérios, mas gasta mais do que deveria voando de avião."
DO DEPUTADO CHICO ALENCAR (PSOL-RJ), sobre o pedido de corte de gastos do PMDB depois do uso de aviões da FAB por Henrique Alves e Renan Calheiros.

contraponto


Gestão austera de discursos
Em época de cobranças pela redução de despesas da máquina pública, Vanessa Grazziotin (PC do B-AM) economizou até nas palavras ao justificar seu atraso em uma sessão da Comissão de Relações Exteriores do Senado.

--Estava na votação do relatório da CPMI -- explicou.

--CPMI da Violência contra a Mulher... -- emendou o presidente da comissão, Ricardo Ferraço (PMDB-ES).

--Eu não falei assim? -- estranhou a senadora.

--Falou só CPMI -- respondeu o peemedebista.

--Tudo para economizar tempo! -- brincou ela.

--Economia processual -- arrematou Ferraço.

Apostando na divisão - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 10/07

Petistas influentes junto à presidente Dilma defendem isolar o PMDB da Câmara. Um ministro relata que se cogita criar um bloco liderado pelo PT com o PP, o PSD, o PR e o PDT. O líder do PMDB, Eduardo Cunha, é tratado como de oposição. Esses petistas cobram dos presidentes Henrique Alves e Renan Calheiros, e do vice Michel Temer, que entrem em campo para debelar a rebelião.

O desarranjo não é só no PMDB
O principal partido do governo, o PT, está à deriva no Congresso. Os integrantes de sua principal tendência, Construindo um Novo Brasil, estão descontentes com seu quinhão na administração. Consideram que ela está sub-representada e que membros da tendência minoritária Mensagem têm funções na máquina acima de sua força no partido. Os líderes da CNB não querem declarar guerra contra a presidente e, por isso, optaram por uma crítica indireta e elegeram como alvo a ministra Ideli Salvatti. Além disso, alguns de seus integrantes fazem coro ao pleito de setores do mercado pela queda do ministro Guido Mantega (Fazenda), que teria perdido credibilidade.

“Fomos pegos no contrapé. O PT não consegue se comunicar com a velha ordem analógica nem com o novo movimento digital”
Paulo Teixeira
Deputado federal (SP) e candidato a presidente do PT

‘Santa’ aliança
O líder do PT, José Guimarães, e o vice da Câmara, André Vargas, ficaram ao lado do líder do PMDB, Eduardo Cunha, contra o relatório de Alessandro Molon sobre o marco regulatório da internet. Questionam o conceito de neutralidade.

Dindim
A presidente Dilma deve anunciar hoje, na Marcha dos Prefeitos, um reforço no caixa dos municípios. Estão previstos um repasse extraordinário de um ponto percentual sobre o que recebem hoje (equivalente a 80% de uma parcela do FPM) e o pagamento de R$ 6 per capita por ano a mais para a Saúde (algo como R$ 720 mil numa cidade com dez mil habitantes). 

Prato feito
A proposta sobre a votação de vetos, que está sendo negociada pelo presidente do Congresso, Renan Calheiros, prevê passar uma régua no passado e apreciar só os novos. Com isso, código florestal e fator previdenciário não iriam a voto.

A cada dia sua agonia
O vice Michel Temer e o presidente da Câmara, Henrique Alves, estão sob forte pressão do Planalto. O governo quer que eles reassumam o comando do PMDB na Câmara. Para mostrar serviço, Henrique Alves correu, ontem, até a comissão da PEC do Orçamento Impositivo, tese de que é defensor, para impedir a votação sob a alegação de que este não era o melhor momento.

Imobilizados
Prefeitos relataram ontem que estão com dificuldade de contratar empresas de ônibus. As concessionárias não têm se habilitado às licitações. Alegam que vão perder dinheiro, pois se tornou inviável aumentar o preço das tarifas.

Fincando pé
Um grupo de empresários procurou um líder no Senado para votar uma MP de interesse da indústria da construção civil. E ouviu como resposta: “Só coloco em votação se o ministro Guido Mantega me ligar e se ele me atender”.

A PRESIDENTE DILMA decidiu investir na mídia internacional. O objetivo é vender lá fora que os recentes protestos não foram contra seu governo.

A marcha da coluna - LUIZ CARLOS AZEDO

CORREIO BRAZILIENSE - 10/09

Rezam os manuais militares que o comandante da coluna dá o rumo da marcha, mas o ritmo depende do soldado mais lento, daí a importância do condicionamento físico da tropa. Ex-comandante guerrilheira da VAR-Palmares, será que a presidente Dilma Rousseff esqueceu o princípio, ao pressionar a base governista para aprovar a convocação de um plebiscito já — isto é, até outubro —, para ter validade nas eleições de 2014?

Certamente que não. Dilma sabia que os aliados — PMDB, PSB, PP, PR e o restante das letrinhas de sua coalizão governista — não acompanhariam a marcha, apesar das pressões que fez sobre seus líderes, a começar pelo vice-presidente Michel Temer e o presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Na verdade, Dilma está construindo um discurso eleitoral, no qual dirá que tentou fazer a reforma política, mas o Congresso, que virou a Geni da vida nacional, não deixou.

Desde quando lançou a atabalhoada proposta de constituinte exclusiva, a presidente da República tenta descolar sua imagem do Congresso e dos partidos da base, com exceção do PT, porque é a legenda com a qual disputará o pleito. Parece uma coisa sem nenhum sentido, pois o isolamento político no Congresso costuma ser fatal para qualquer projeto do governo. Ontem, todos os líderes rejeitaram o plebiscito já, com exceção dos líderes do PT, PDT e do PCdoB, que colherão 171 assinaturas para apresentar a proposta de decreto legislativo, que convoca o plebiscito no prazo de 70 dias.

Grupo de trabalho
A maioria dos líderes na Câmara decidiu criar um grupo de trabalho para debater o tema, com a possibilidade de ser promovido, posteriormente, um referendo. Segundo o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, “a questão do plebiscito é de ordem prática: com o prazo de 70 dias exigido pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), para realizar o plebiscito, até que se isso venha acontecer, verdadeiramente, dentro do prazo que a anualidade constitucional exige, não haveria como fazer para as regras valerem para a eleição de 2014”.

Vão à luta
O líder do PT, José Guimarães (foto), do Ceará, bateu de frente com a maioria do colégio de líderes. Segundo ele, o tempo na Câmara é muito relativo: “Este negócio de tempo hábil, quando se quer, tem; quando se quer, se faz. Podemos discutir o plebiscito a ser realizado em outubro. O problema dos efeitos, podemos discutir se é para 2014 ou para 2016. O Congresso está errado em não querer discutir o plebiscito agora”.

O algoz
O grande algoz da proposta de plebiscito foi o líder do PMDB, Eduardo Cunha (foto), do Rio de Janeiro, que não aceitou as pressões do Palácio do Planalto: “A posição do PMDB é muito clara: não votaremos plebiscito que não seja com as eleições de 2014. Entendemos que podemos ter esse custo com a eleição de 2014”, disse. O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, deu uma de Pilatos. Encaminhou a proposta da presidente Dilma ao colégio de líderes e lavou as mãos.

Deu errado
O Partido da Mobilização Nacional (PMN) convocou a convenção partidária para o dia 28, com o propósito de rever o processo de fusão instalado com o PPS e que resultaria na MD33. A secretária nacional do partido, Telma Ribeiro dos Santos, informa que “o PMN seguirá só, acreditando na mobilização popular como o melhor caminho para a construção de uma sociedade justa, e deseja sorte aos companheiros do PPS, sucesso em sua empreitada”.

Insegurança
Até ontem, o presidente do PPS, Roberto Freire (SP), que assumira o comando da nova legenda, aguardava unilateralmente uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral sobre a consulta acerca da fusão dos dois partidos — se isso seria considerado a criação de um outro ou não — para dar entrada no registro da legenda na Justiça Eleitoral. A insegurança jurídica fez com que parlamentares que pretendiam aderir à nova legenda desistissem ou adiassem essa decisão, com medo de perderem os mandatos.

US$ 2,1 milhões
É o montante de recursos públicos desviados pelo juiz aposentado Nicolau dos Santos Neto, que o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, conseguiu recuperar. Estavam em uma conta na Suíça.

Asilo O Palácio do Planalto não vai queimar os pavios com os Estados Unidos por causa da denúncia de espionagem nas comunicações pela internet. Ontem, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, anunciou que o Brasil não concederá asilo político ao americano Edward Snowden, que denunciou o esquema.

Centro-Oeste Senadores do Centro-Oeste reuniram-se, na manhã de ontem, com o ministro Guido Mantega. Pediram a liberação de um aporte de R$ 3 bilhões, pelo Banco do Brasil, para turbinar o Fundo de Financiamento do Centro-Oeste (FCO). Rodrigo Rollemberg (PSB-DF), Waldemir Moka (PMDB-MS), Blairo Maggi (PR-MT), Lúcia Vânia (PSDB-GO), Ruben Figueiró (PSDB-MS), Delcídio do Amaral (PT-MS) e Pedro Taques (PDT-MT) também pediram pressa na assinatura do decreto presidencial que regulamenta o Fundo de Desenvolvimento do Centro-Oeste (FDCO).

Petróleo A Agência Nacional de Petróleo (ANP) divulgou ontem a minuta de edital da primeira licitação de exploração e produção de petróleo e gás natural na área do pré-sal, sob o regime de partilha de produção. O objeto do primeiro leilão do pré-sal é o Campo de Libra, localizado na Bacia de Santos (SP). O leilão ocorre seis anos após a adoção do regime de partilha.

A CASA É SUA - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 10/07

A Câmara dos Deputados economizaria R$ 3,8 milhões por ano se acomodasse em apartamentos funcionais os 198 parlamentares que hoje recebem o auxílio-moradia. A conta é do quarto-secretário da Casa, Antonio Carlos Biffi (PT-MS), que administra os benefícios. Dos 432 imóveis, 298 estão ocupados, 110 passam por reforma e 24 encontram-se fechados.

A CASA É SUA 2
Enquanto a manutenção mensal custa R$ 2.200 por unidade, o auxílio é de R$ 3.800 por parlamentar. Biffi quer entregar 96 dos apartamentos em obras até dezembro de 2014. A medida, diz, reforçaria "a agenda positiva" da Casa.

A CASA É SUA 3
Outra ideia em estudo, essa mais difícil de ser implantada: propor aos deputados que dividam apartamentos.

DE BERÇO
O governo do Estado lança hoje, um mês antes da Prefeitura de SP, um amplo projeto para a infância. A ação da secretaria estadual de Saúde, com foco nas crianças de zero a três anos, inclui a adoção de orientações para médicos e famílias e uma cartilha.

DE BERÇO 2
Na prefeitura, onde as ações para a faixa a etária são planejadas pela primeira-dama Ana Estela Haddad desde o início do ano, o programa a ser anunciado em agosto envolverá secretarias como Saúde, Educação e Assistência Social. Sobre a antecipação do tema pelo Estado, ela diz: "A administração municipal começou neste ano, e a estadual está no terceiro ano. São momentos diferentes". Parcerias entre o Estado e o município não estão descartadas.

MIÚDAS E FORTES
De cada 100 micro e pequenas empresas que nascem na cidade de São Paulo, 78 sobrevivem aos dois primeiros anos, os mais difíceis para novos negócios. O dado faz parte de estudo nacional que o Sebrae divulga hoje.

DO CONTRA
Lobão promete mobilizar artistas contra a proposta de lei que visa dar maior transparência ao Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), aprovada na Senado, sob os aplausos de nomes de peso da MPB, como Roberto Carlos e Caetano Veloso. "É um grupelho, com artistas representativos, mas longe de ser a maioria. Sou da classe e não fui consultado", criticou. "É golpe."

DO CONTRA 2
O cantor sugere que os artistas se unam também contra o jabá (dinheiro pago por gravadoras para que rádios toquem músicas de seus artistas). "Se tem arrecadação fraudulenta, tem execução fraudulenta também."

SANTO NEGÓCIO
Peter Turkson, que foi cotado para ser papa, lançará no Brasil versão em português de documento do Vaticano com orientações para empresários. O cardeal de Gana estará em Belo Horizonte para o Congresso Mundial de Universidades Católicas, a partir do dia 18. Ele também falará na Associação de Dirigentes Cristãos de Empresas.

ESTICA E PUXA
A clínica Santé, de cirurgia plástica, está comprando um terreno de 3.000 m² para receber pacientes no pós-operatório. A proprietária Ana Helena Patrus explica que muitos clientes moram sozinhos e não têm quem os ajude na fase de recuperação.

TOCA-DISCOS
Milton Nascimento gravou música em homenagem a Elis Regina para o próximo disco de Tom Zé. "Pour Elis" é inédita e foi composta por Tom Zé em parceria com Fernando Faro na semana em que a cantora morreu, em 1982. Estava perdida num gravador de rolo. "Milton ouviu e topou", conta o baiano.

POSANDO DE NOIVA
A modelo Ana Beatriz Barros, 31, vestiu-se de noiva no ensaio de capa da "IstoÉ Gente", nas bancas amanhã. Foi clicada na cozinha, no metrô e em várias situações. A top diz estar disposta a se converter ao islamismo para se casar com o empresário egípcio Karim El Chiaty, 28.
"Para me casar, tenho que me converter. Faria isso com certeza", disse. "Sou católica, mas não importa a religião. O importante é receber a bênção de Deus."

Juntos há um ano e meio, estão reformando um apartamento em Londres. Para a top, casamento é para a vida toda. "Na minha família, não tem nenhum divórcio e quando me casar vai ser para sempre."

A cerimônia de três dias, conforme o rito muçulmano, ainda não tem data marcada, mas deverá ser na Itália: em Ravello, na costa amalfitana.

CARA DE SUSPENSE
Nicette Bruno e Paulo Goulart foram, anteontem, à reestreia da peça "Os 39 Degraus", no teatro Sérgio Cardoso, em que o rebento Paulo Goulart Filho contracena com Danton Mello, Henrique Stroeter e Rosanne Mulholland.

ILUSÃO DE ÓTICA 
Cassio Scapin estreia na sexta "Eu Não Dava Praquilo", peça em que interpreta a atriz Myriam Muniz (1931-2004); em cartaz até 23 de setembro, no CCBB-SP

CURTO-CIRCUITO
Moacyr Franco estreia show com sucessos da carreira, hoje, às 20h30, no teatro Juca Chaves, no Itaim Bibi. Até dia 31. 14 anos.

A bateria da Vai-Vai toca hoje com a Orquestra Filarmônica Bachiana Sesi-SP, sob a regência de João Carlos Martins. Às 21h, na Sala São Paulo. Livre.

A empresária Bárbara Zein faz coquetel de abertura da Schutz no shopping Villa Lobos, às 18h30.

O cardeal dom Odilo Scherer e o rabino Michel Schlesinger debatem a relação entre Vaticano e judeus, às 19h, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional.

Em busca de credibilidade - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 10/07

Hoje o Banco Central retomará quase sozinho seu contra-ataque à inflação. A reunião do Copom deverá elevar os juros, provavelmente em mais meio ponto porcentual, para 8,5% ao ano.

É um esforço cada vez maior da política monetária para um efeito relativamente pequeno, porque o resto do governo não ajuda.

Em junho, a evolução do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mostrou alguma perda de vigor, embora o avanço em 12 meses tenha saltado para 6,7%, para além da meta de 4,5% ao ano, mais o adicional de escape permitido, de dois pontos porcentuais.

Além da significativa desaceleração no custo dos alimentos, os números de junho mostraram de bom uma inflação menos espalhada na economia: o índice de difusão foi de 54,7%, contra os 63,0% de maio e 65,8% em abril.

Não dá ainda para comemorar, por quatro motivos: primeiro, porque o progresso é pequeno; segundo, porque a alta dos serviços ainda está forte demais, à altura dos 8,6% em 12 meses; terceiro, porque, em alguma medida, novos recuos do custo de vida serão influenciados pelas retiradas dos reajustes no preço dos transportes coletivos, fator que gera outras distorções; e, quarto, porque ainda é preciso avaliar o efeito da alta do dólar (de 12% nos dois últimos meses) sobre a cesta de consumo do brasileiro.

É verdade que o mercado prevê para este ano uma inflação em 12 meses abaixo dos 6%, ou de 5,67%, como aponta a Pesquisa Focus, realizada semanalmente pelo Banco Central com cerca de cem instituições e consultorias. É, no entanto, um número alto demais comparado com a meta de 4,5%. Mais do que isso, concorre para que as expectativas permaneçam deterioradas.

Nesse campo, a principal missão do Banco Central não é propriamente garantir a virada das expectativas, algo que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, vem tentando à base de declarações infundadamente otimistas. A missão do Banco Central é recuperar a credibilidade perdida ao longo de tantos meses de mistificações e de submissão ao voluntarismo da presidente Dilma, cujo principal objetivo de política monetária era, até abril, derrubar os juros, custasse o que custasse.

Por isso, desde então, o Banco Central deixou de vender ilusões, passou a reconhecer problemas, especialmente na condução da política fiscal, e a puxar pelo único instrumento de que dispõe: a política monetária (política de juros), que consiste em retirar dinheiro do mercado quando a inflação aumenta e em expandir a moeda quando acontece o contrário.

Mesmo que seja eficaz nessa empreitada, não basta que apenas o Banco Central recupere credibilidade, se o resto da administração fica devendo. Quem é que, depois de tanta lambança contábil na execução das despesas públicas, acredita em que as metas fiscais, mesmo reduzidas por um PIB mais mirrado, sejam cumpridas pelos administradores da Fazenda?

Já foi dito e repetido que o governo Dilma precisa de um choque de credibilidade, até mesmo para salvar seu futuro político. Até agora, no entanto, não há sinais de que tenha se sensibilizado para isso. E esse é o fator que mais compromete o sucesso da luta contra a inflação.

Energia mais suja e cara - TASSO AZEVEDO

O GLOBO - 10/07

É um paradoxo a decisão da Empresa de Planejamento Energético e do MME de realizar leilão exclusivo para energia de termoelétricas



Entre 2005 e 2010 houve uma enorme mudança no padrão de emissões de gases de efeito estufa no Brasil. Dados divulgados em junho pelo Ministério da Ciência e Tecnologia mostram que as emissões totais de GEE do Brasil caíram 38,7%, resultado formidável e explicado pela queda de mais de 70% das emissões oriundas de desmatamento. Por outro lado, as emissões dos demais setores cresceram quase 12%, puxadas principalmente pelo setor de energia, que aumentou em 21,4% as emissões.

O setor de energia, que representava 16% das emissões em 2005, em 2010 atingiu 32%. Desde então a situação só se agravou. As termoelétricas convencionais (diesel, carvão, gás) que deveriam ser utilizadas apenas como energia de reserva, ligada em situações esporádicas (em geral até 30 dias por ano), estão ligadas continuamente desde meados de 2012.

O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, acaba de anunciar o desligamento de parte das termoelétricas que estão despachando energia elétrica no sistema desde meados de 2012. Para além dos enormes custos que ocasionaram (cerca de R$ 1,4 bilhão por mês), tiveram enorme impacto nas emissões de GEE.

Em 2011, as emissões geradas para produzir energia elétrica no Sistema Integrado Nacional foram de 14,8 milhões de tCO2 (o equivalente à emissão de 14 milhões de carros populares rodando com gasolina). Em 2012 essas emissões ultrapassaram 34 milhões de tCO2, ou seja, um aumento de 130%. Apenas nos seis primeiros meses de 2013 as emissões já superam 28 milhões de tCO2.

Neste contexto, é um paradoxo a decisão da Empresa de Planeamento Energético e do MME de realizar um leilão exclusivo para energia de termoelétricas, com destaque para o carvão mineral, a fonte mais poluente. A lógica é de trocar a geração de reserva por geração de base, contínua, com vistas à redução de custos.

Assim, o que antes era um aumento circunstancial das emissões se tornará um fato consumado e sedimentado para os próximos anos, tornando mais poluente nossa matriz energética no momento em que o planeta precisa de energia mais limpa.

Enquanto isso desperdiçamos cerca de 2 GWh de potencial de produção eólica (já instalados e prontos para operar) e outros 4 GWh de cogeração com bagaço de cana por falta de linhas de transmissão e entraves burocráticos. Se estivessem sendo aproveitados estaríamos evitando mais de 50% das emissões das termoelétricas ligadas nos últimos meses.

Ainda é tempo de rever o leilão de termoelétricas marcado para agosto e recolocar o Brasil no trilho de uma matriz energética mais limpa.

Problemas reais e ilusões fiscais - ALEXANDRE SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 10/07

É necessário um ajuste de verdade, distante da contabilidade criativa e do corte de gastos inexistentes


Em 2011 a revista "The Economist" publicou uma longa reportagem sobre a Austrália. Nela Glenn Stevens, presidente do banco central australiano, resumia magistralmente o momento econômico do país: "Há cinco anos [2006] uma carga de minério de ferro comprava 2.200 TVs de tela plana (...); hoje [2011] compra 22 mil".

Muito embora a reportagem tratasse da Austrália, quem trocasse o nome do país para "Brasil" não teria dificuldades para reconhecer o que vinha acontecendo.

De fato, até 2006 conseguíamos em troca do "minério" uma quantidade de "TVs" não muito distinta da obtida em média nos 38 anos anteriores. As coisas, porém, mudaram: cada unidade exportada pelo Brasil pôde ser trocada por uma quantidade muito maior de importações, aumentando a disponibilidade interna de bens.

Na prática, isso permitiu que a demanda interna crescesse a uma velocidade muito superior à do PIB (Produto Interno Bruto) sem grandes danos ao balanço de pa- gamentos.

Assim, entre 2006 e 2011, a demanda interna se expandiu a pouco mais de 5% ao ano, enquanto o PIB crescia em torno de 4% ao ano; já nos cinco anos anteriores PIB e demanda interna cresciam ambos em torno de 3% ao ano.

Em condições normais, a diferença entre demanda interna e PIB provocaria um rombo formidável nas contas externas, mas a conjuntura que prevalecia no período era tudo, menos normal.

Concretamente, em 2011 a balança comercial brasileira registrou um superavit de quase US$ 30 bilhões; tivesse o país exportado e importado as mesmas quantidades observadas naquele ano, mas a preços de exportação e importação em torno de sua média histórica (nossa definição de "condições normais"), a balança comercial teria registrado um deficit de US$ 46 bilhões.

A situação excepcional a que Stevens se referia nos trouxe, portanto, um ganho próximo a US$ 76 bilhões em 2011, equivalente a pouco mais de 3% do PIB naquele ano.

Desde então as circunstâncias se tornaram menos excepcionais. Os preços ainda estão, numa perspectiva de longo prazo, favoráveis ao Brasil, mas houve uma piora nítida de 2011 para cá.

Nos últimos 12 meses (até maio), a balança registrou um superavit de US$ 8 bilhões; tivessem, porém, prevalecido os preços do terceiro trimestre de 2011, o saldo teria sido de US$ 28 bilhões, uma perda de US$ 20 bilhões (aproximadamente 1% do PIB).

Posto de outra forma, sem os ganhos extraordinários do período 2006-11, ficou muito mais difícil sustentar um modelo de crescimento baseado na expansão da demanda interna, em particular do consumo.

O rápido encolhimento do saldo comercial, em larga medida originado da piora dos preços dos produtos exportados relativamente aos importados, acena com a possibilidade de um deficit externo da ordem de US$ 75 bilhões a US$ 80 bilhões (3,5% do PIB) já em 2013.

Há, portanto, uma queda significativa da capacidade para importar a preços reduzidos precisamente quando a capacidade de reação da oferta doméstica se encontra limitada pelas condições do mercado de trabalho e baixo crescimento da produtividade.

Nesse contexto, políticas de incentivo à demanda se traduzem apenas em pressões adicionais sobre preços e importações (no caso, mais caras), com escasso impacto sobre o PIB.

A solução, como há muito insisto, passa por um ajuste fiscal de verdade, distante da contabilidade criativa e do corte de gastos inexistentes em que o governo se especializou, seja por seus objetivos políticos, seja pela dificuldade de entendimento já demonstrada acerca da natureza dos nossos problemas.

Os anúncios recentes no campo fiscal, em particular novas antecipações de dividendos por parte de bancos públicos com dinheiro emprestado pelo próprio Tesouro (financiado por endividamento!), deixam claro que não há risco de adoção de uma estratégia correta para lidar com inflação alta, deficit externo crescente e PIB medíocre.

Com base em ilusões fiscais, não há como esperar um cenário diferente no futuro próximo.