sexta-feira, junho 21, 2013

Indignados e indignos - LUCAS MENDES

BBC Brasil  - 20/06

Na praça de Madri, a musica é ruim, o copo de vinho é péssimo, a noite é esplêndida. A praça Puerta del Sol vive em estado de festa permanente e não há vestígios dos protestos que nasceram aqui há dois anos, se espalharam por 58 cidades espanholas e, nos meses seguintes, mobilizaram de 6 a 8 milhões de espanhóis.

Contra quem e o quê? Contra as eleições do dia 22 de maio, contra a proibição de protestos, contra os políticos no poder e fora do poder, contra a austeridade e a corrupção. Enfim, uma indignação contra o estado das coisas. Passagem de ônibus e metro não estavam em jogo. E são caras em Madrid.

O movimento nasceu com vários nomes: "Los Indignados", "Democracia Real Ya", "Tomar la Plaza", " Juventud Sin Futuro", mas acabou conhecido como 15-M ou 15 de maio, dia do nascimento dos protestos que, como no Brasil, não tinham pai. Nem mãe. Nem líderes. Nem herdeiros e, menos ainda, planos a longo prazo.

As conexões e mobilizações, como no Brasil, foram pela mídia social. Houve inspiração nos protestos da Tunísia e do Egito e o movimento chegou a ser chamado de Primavera Espanhola. O nome não pegou, como ainda não pegou no Brasil.

Entre os protestos brasileiros e espanhóis há uma grande diferença. Na indignação deles não apareceram os indignos que corrompem e destroem os valores dos indignados.

Na Espanha, em centenas de protestos não houve violência maior. Nos piores dias, 24 foram presos, nove deles menores de 18 anos. Os "indignados" tinham um esquema de 200 seguranças que continha os indignos.

Os protestos duraram, com maior ou menor intensidade, até o fim de 2011. Houve regurgitações em 2012, como a "Cavalgada dos Indignados", que reuniu 3 mil pessoas em dezembro. Este ano, 100 mil marcharam em Madrid contra as medidas de austeridade. Vale lembrar que os espanhóis não culpam os alemães nem os outros pela própria miséria. Eles reconhecem que gastaram o que não tinham.

Comparada com a economia brasileira, a espanhola vai pior, com o maior índice de desemprego na Europa, de 27%. Entre os jovens, 46%. Desde 2008, 350 mil espanhóis perderam suas casas por falta de pagamento das hipotecas e foram despejados pela Justiça. Só no ano passado, outros 50 mil ficaram sem teto, quatro vezes mais do que em 2008. O numero de suicídios de idosos é recordista.

Faltam crédito para pequenas empresas e pulso para novas reformas. 375 mil empregos públicos foram eliminados, milhares de funcionários demitidos, a idade de aposentadoria subiu de 65 para 67 anos, ficou mais fácil demitir empregados no setor privado, mas a recessão resiste. Há dez vezes mais falências do que antes da crise de 2008. Não há consumo nem investimentos.

O governo não tem força para enxugar mais os benefícios sociais ou baixar o salário mínimo em algumas regiões, como querem os austeros. Os espanhóis não gostam do governo, menos ainda da oposição.

Neste túnel, há pontos iluminados. A Espanha recuperou o crédito e paga pelos seus empréstimos os mesmo juros que pagava antes da crise. O deficit no orçamento caiu de 11% em 2009 para 7% ano passado. A meta é 3%. Em 2012, as exportações espanholas cresceram mais que as de todos os outros países da União Europeia e o deficit na conta corrente saiu de 10% para um superavit.

Em Madrid, naquela vasto centrão, não há sinais de crise. As ruas e os restaurantes estão cheios de turistas e madrilenhos. Depois da meia-noite, jovens andam sozinhas e tiram dinheiro das máquinas sem medo de assalto. Uma cidade segura. E bem iluminada. A prefeitura não economiza na conta de luz das ruas e das preciosas fachadas antigas nem na conta da limpeza.

Nova York, onde eu moro, não é uma cidade suja, mas, perto das ruas centrais de Madrid, é um lixão. Temos o Central Park e dezenas de outros, mas Madrid é a campeã mundial em número de árvores alinhadas e tem 16 metros quadrados de verde por habitante. A recomendação da ONU é de dez metros. Quem mora em Madrid está, no máximo, a 15 minutos de um parque.

Em quatro dias de longas caminhadas, eu e amigos vimos dois mendigos e nenhuma prostituta. Um madrilenho explica que elas não podem ficar nesta área central, mas há milhares delas fora dali e as brasileiras já não são maioria. "Jovens que ganhavam a vida como modelos hoje se vendem aos árabes em países do Oriente Médio", me conta um fotógrafo brasileiro que vive em Barcelona.

E o M-15? O movimento já não mobiliza milhares para seus protestos, mas atua em outras áreas sociais, ele ajuda despejados a ocupar os milhares de apartamentos vazios no país. É impossível medir com precisão as conquistas e derrotas do 15 de maio.

E no Brasil? As passagens de ônibus já foram reduzidas, a emenda PEC 37 deve ser derrubada. E depois? Quem vai pagar a redução nas passagens? De uma forma ou outra, eu e você. Porque não reduzir salários e verbas das mordomias do Executivo, deputados, senadores e vereadores? Os manifestantes condenam a impunidade. Por que nossos indignados não ajudam a policia a prender os indignos?

Última pergunta: quando este nosso Brasil, 6ª economia do mundo, vai ter educação, saúde e infraestrutura espanholas?

Daqui a um século chegamos lá. Sou um otimista.

Sobrou para o Maracanã - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 21/06

A reforma do Maracanã virou piada no terceiro episódio de “Sai de baixo”, que vai ao ar na terça, no canal Viva.
Caco Antibes (Miguel Falabella) reage feroz à afirmação de Cassandra (Aracy Balabanian), de que nunca fez uma cirurgia plástica.
— Tu tá mais reformada que o Estádio do Maracanã A Fifa tá pensando em te expor pra visitação pública na Copa.

Danadinha
Uma fã não resistiu. Quando viu Hulk, ontem, no Hotel Marina Park, em Fortaleza, pediu, emocionada:
— Hulk, Hulk, deixa eu passar a mão na sua bunda.

Calma, gente
Deve ser exagero. Mas ontem tinha gente na CBF com medo de o Brasil perder a Copa do Mundo para os EUA por causas das manifestações.

Os funcionários estrangeiros da Fifa que estavam em Salvador ficaram com medo. O hotel onde estão hospedados foi atacado por manifestantes.

Segue...
A favor da manutenção da Copa no Brasil, diga-se, há contratos entre o governo e a Fifa que dificilmente podem ser rasgados a esta altura do campeonato.

Mas...
As empresas que investiram uma grana preta em ações de marketing na Copa das Confederações estão desoladas. As passeatas desviaram os holofotes de suas marcas.

Baixo impacto
O relatório de um grande banco para investidores avalia que a redução de 20 centavos nos preços das passagens de Rio e São Paulo não terá muito impacto no cálculo da inflação.
Será algo em torno de 0,10 ponto percentual.

Na ponta do lápis
A política do governo de privilegiar o transporte individual, abrindo mão da Cide e reduzindo IPI para automóveis, fez o Tesouro deixar de arrecadar uns R$ 30 bilhões desde 2008. A conta é do consultor Adriano Pires.
Segundo ele, este mar de dinheiro seria suficiente para construir um trem-bala ligando o Rio a São Paulo.

Musa
Leandra Leal foi a sensação em um trecho da passeata de ontem no Rio.
Quando passava pela altura da Praça Tiradentes, a atriz e Jane di Castro, a famosa travesti, foram ovacionadas.

Mercado do protesto...
Veja como camelô é mais ligeiro do que, digamos, manifestante correndo da polícia.
Ontem, neste novo ato no Rio, camelôs no Centro vendiam máscaras contra gás de pimenta a R$ 10. Como as de mergulhador, de plástico.

Já...
Em São Paulo, tinha porteiro na Avenida Paulista cobrando R$ 50 para deixar fotógrafos e cinegrafistas subirem até as coberturas.

Tirando uma casquinha
Dona Inflação foi ao jogo ontem no Maracanã e parou o carro no Supermercado Extra Boulevard.
A primeira meia hora de estacionamento custou R$ 15, o triplo de um dia normal.

Lá vem a noiva
Antes de se casar, em 2008, uma noiva passou o tão esperado dia se arrumando no Hotel Mont Blanc, na Baixada Fluminense. Só que um vazamento de gás no banheiro fez com que ela se atrasasse por duas horas.
O hotel foi condenado a pagar R$ 5 mil de indenização. A decisão é da 10ª Câmara Cível do Rio.

Nova escola
A Escola Americana abre, em agosto, seu novo campus, na Barra, no Rio. Investiu uns R$ 40 milhões.

Tá na moda
Em tempo de manifestações, os estudantes do Pedro II da Tijuca fizeram protesto, quarta, na... cantina da unidade. É que os preços do guaraná natural e do salgadinho subiram de R$ 2,90, cada, para R$ 3,50. A turma gritou:
— Se o preço não baixar, a cantina vai fechar.

No mais...
Todo cuidado é pouco nesta hora para não botar tudo a perder. O perigo é transformar uma limonada em um limão.

Viva o vinagre! Abaixo a Pedra! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 21/06

Tão zoando com o Rubinho também! Tem foto dele na manifestação com a camiseta "Fora Collor"!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!

Viva o Vinagre! Abaixo a Pedra! E o pensamento do dia: "Pra que político se a gente tem Twitter e Facebook!". Isso! Projeto de lei em 140 caracteres!

Primavera do Vinagre! Os R$ 0,20 mais caros da história do Brasil. A Casa da Moeda devia fabricar uma moeda comemorativa de 20 centavos! E no verso uma garrafinha de vinagre!

Como disse um amigo: "Agora ficou R$ 0,20 mais barato pra ir na manifestação!". Rarará!

Ir pra manifestação já tá virando caminho da roça! E como disse uma amiga minha durante o jogo do Brasil: "Não é pelos R$ 0,20! É pela bunda do Hulk!". Rarará!

E o Haddad e o Alckmin anunciando a diminuição da passagem? O Haddad com cara de pastel amanhecido. Sabe aquele pastel que você frita e deixa na pia por umas dez horas? E o Alckmin com cara de ódio? Apertou tanto a boca que não dava pra enxergar nem os lábios! Ficou sem lábios!

E esta mancada hilária da Globonews, a foto de uma manifestação com os caracteres: "Tesão em São Gonçalo". Rarará! É protesto ou suruba?

E esta: "Canadá proíbe uso de máscaras antigás em tumultos". E A LUÍSA? Rarará!

E esse Infeliciano com a cura gay? O Feliciano vai lançar bombas de efeito moral que curam gay! Recado armário pro Feliciano: "Feliciano, não esquecemos de você. É que estamos arrumando uma merda por vez". Rarará!

E esse movimento "Da Copa eu abro mão"? Agora? Que o dinheiro já foi gasto? E ainda tem que pagar multa pra Fifa. Multa Patrão Fifa! Rarará!

E tão zoando com o Rubinho também! Tem foto dele na manifestação com a camiseta "Fora Collor"! Rarará! E tem uma outra foto dele com a camiseta "Diretas Já!".

É mole? É mole, mas sobe!

Os Predestinados! Sabe como se chama a secretária da Saúde de Fortaleza? Socorro Martins! Os manifestantes que estavam em volta do Castelão levando porrada no Costelão, podiam gritar: "SOCORRO Martins". Rarará!

E o secretário de Saúde de São José dos Campos se chama Álvaro Machuca. Rarará!

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Lembranças e reflexões - TOSTÃO

FOLHA DE SP - 21/06

Ontem, dois dias antes do jogo contra a Itália, foi lançado, em Salvador, o livro "82: Uma Copa, 15 Histórias", uma seleção de contos de poetas e escritores, organizada por Mayrant Gallo, sobre a tragédia de Sarriá (5 de julho de 1982). Os autores contam o que faziam e o que sentiam no dia do jogo. Tive o prazer de fazer a orelha do livro.

Na época, terminava meu primeiro ano de residência de clínica médica, no Hospital das Clínicas, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Trabalhava e estudava muito. Não tinha tempo para acompanhar futebol.

Mesmo assim, troquei meus plantões para assistir à seleção brasileira. Foi triste a derrota.

O operatório Dunga disse que não entende por que a seleção de 1982, que perdeu, é mais festejada que a de 1994, que venceu. Ele nunca vai entender.

Discordo que a derrota de 1982 foi o motivo da transformação do futebol, para pior, e que todos passaram a seguir a pragmática Itália.

O futebol mudou no Brasil, a partir da Copa de 1970. A seleção que encantou o mundo foi a grande inspiradora do futebol moderno.

Por causa da excelente preparação científica, revolucionária para a época, surgiram, progressivamente, em todos os clubes, grandes comissões técnicas, com vários especialistas, além de excelentes estruturas profissionais, de treinamento e apoio aos atletas.

Com isso, houve uma supervalorização do jogo tático e físico, em detrimento do talento e da improvisação. Os técnicos tomaram conta do futebol. O jogo ficou feio e ruim. Proliferaram também as discussões, inúteis, que continuam até hoje, entre futebol de resultado versus futebol bonito.

Quem joga bem costuma jogar bonito e vencer. José Miguel Wisnik chamou o período entre 1974 e 1994 de intermezzo. Coincidentemente, o Brasil não ganhou um único título mundial. A seleção de 1982 foi uma exceção nesse período de declínio.

A partir da Copa de 1994, o futebol teve altos e baixos. Melhorou nos últimos dez anos, especialmente entre os times da Europa, que contrataram os melhores jogadores do mundo, formaram campeonatos organizados e com excepcionais gramados e passaram a jogar em um estilo mais agradável, de troca de passes.

As grandes equipes são melhores que as seleções. No Brasil e na América do Sul, por causa da saída dos melhores atletas, acontece o contrário.

O dilema entre a vitória e o encanto transcende o futebol. Tem a ver com as dúvidas existenciais do ser humano, dividido entre a razão e a paixão, entre os devaneios individuais e os interesses coletivos, entre a imaginação e o simbólico.

Ironia e protestos - MICHEL LAUB

FOLHA DE SP - 21/06

Dizer que todo militante é fanático equivale a dizer que toda ironia é cínica, que toda ponderação é covardia


Muita gente vê na ironia uma das culturas dominantes hoje. Nas últimas décadas, com diferenças de conceituação e abordagem, autores como Susan Sontag e David Foster Wallace escreveram sobre essa sensibilidade --ou visão de mundo-- que, num artigo de 2012 (http://goo.gl/Hgt5N), Christy Wampole lamentou ser a essência de uma época vazia.

Nascida em 1977, Wampole usou como exemplo a tribo dos hipsters, símbolo de certa juventude urbana educada, para descrever um mundo em que sentimentos diretos, aqueles que tornam as relações pessoais mais ricas, são sufocados por distanciamento e esteticismo.

Os ataques têm alguma graça. O hipster de caricatura, com seu bigode e camisa xadrez, sua autodepreciação calculista, seu gosto afetado que finge ser simplório ou ingênuo, parece blasé demais para falar a sério sobre qualquer coisa.

Num contexto assim, comenta Wample, até um presente vira uma piada esperta --o que comprovei há pouco, ao fazer aniversário e ganhar coisas como uma paçoca velha e um gibi rasgado do Cebolinha.

Mas, se tudo no exemplo parece motivado pelo receio (de que o presente diga algo sincero sobre aquela amizade, sobre nosso gosto, sobre quem somos), o fato é que ninguém vive apenas de ironia.

Esconder-se atrás de humor e estilo não livra ninguém de pagar contas, de se defrontar com sofrimentos pessoais e profissionais.

Como é comum nesse tipo de crítica, peca-se ao ver indivíduos e costumes de forma unidimensional. Numa resposta a Wampole (http://goo.gl/Doroh), Judy Berman podia ter explorado melhor um fenômeno visível nas redes sociais: os presentes irônicos de aniversário fazem parte da mesma cultura que trouxe de volta o engajamento político.

É um paradoxo? Só se aceitarmos a visão unidimensional. Como lembra Berman, parte da juventude acusada de nostalgia paralisante --expressa em citações pop de contestadores e revolucionários, acrescento, e talvez até por isso-- estava nos protestos do Ocupe Wall Street.

Algo parecido ocorre nas classes brasileiras educadas, que pautam e/ou são pautadas pela insatisfação da periferia: basta um fato politicamente significativo, como as marchas dos últimos dias, para que sumam do mural do Facebook as pílulas de sabedoria do Mussum e os vídeos com cabras cantando Bon Jovi.

O oposto da ironia é o pensamento literal, cheio de certezas, que em sua pior face deságua na patrulha ideológica, quando não em intolerância religiosa e moral. São culturas também dominantes hoje, por certo. Mas dizer que todo militante é fanático equivale a dizer que toda ironia é cínica, que toda ponderação é diversionismo e covardia.

Ao contrário do que parece, o caminho do meio é tortuoso. A internet não é apenas um veículo que divulga passeatas de forma rápida e inédita.

Há algo em sua essência que favorece a mobilização polarizada: porque em geral falamos para grupos que pensam como nós, a tendência é que as ideias circulem sem contraditório, e a competição de quem fala mais alto o que os outros já sabem e querem ouvir torna as palavras gradualmente mais enfáticas, mais raivosas.

Ocorre que, numa ironia sobre o discurso irônico --típico do moderado cético, com sua mania enfadonha de ver a questão por diversos lados--, não deixa de ser otimista (o contrário da desistência blasé) acreditar que interlocutores estão dispostos a perceber nuances numa hora destas, por mais óbvias que sejam.

De qualquer forma, vamos lá: 1) condenar excessos policiais não significa defender a baderna; 2) identificar tentativas de infiltração partidária não é criminalizar partidos; 3) distorções graves da democracia representativa não tornam aceitáveis as alternativas (como o fascismo disfarçado de democracia direta).

No Facebook, igualmente, lamentar o radicalismo tolo não pressupõe tomá-lo sempre ao pé da letra.

Alguns dos que escreveram posts incendiários contra a ordem foram pacificamente aos protestos. Outros quebraram vidraças. Estive no de segunda-feira e vi ativistas e diletantes, defesa de propostas legítimas --e vitoriosas, no caso das passagens-- e delírios.

Também havia gente tirando sarro da própria marcha, ao mesmo tempo que apoiava suas causas. Outro falso paradoxo: política nem sempre é algo uniforme, coerente.

A ironia faz parte de suas manifestações imprevisíveis tanto quanto a utopia, a ação direta e os conflitos.

Imagina na Copa - BARBARA GANCIA

FOLHA DE SP - 21/06

Só quem nunca passou pelo desespero de uma fila do SUS é capaz de pedir 'paz' no cartaz da passeata


"A Anatel não me representa"; "A Anac não me representa"; "Keep Calm and Let the Snake Smoke"... Estava em casa bolando cartazes para a próxima passeata quando recebi um telefonema aflito de Bucicleide.

Minha amiga estava muito inflamada, entoando slogans estudantis dos anos 60 e, de repente, sacou da manga um bordão que não estava no roteiro original das primeiras manifestações, mas que ganhou força no último domingo, na presença da presidente.

Na boca de Buci, digo, Cleide ou na passeata de que participei na segunda-feira, na região da av. Faria Lima, a mais rica de São Paulo, o chamado virou grito de guerra: "Fora, Dilma!".

Não se pode dizer que a periferia estivesse representada na manifestação que eu vi de perto. Contei três, repito, três negros no percurso que levei cerca de duas horas para completar. Colei neles para sentir a quantas andava o entrosamento entre a mauriçada e a perifa e, por duas vezes, um dos manos tentou puxar um coro começando com a palavra "povão". A repercussão foi zero. "Acho que este pessoal não conhece essa palavra", disse a ele. Moleque riu e perdeu-se na turba.

Um garoto de seus dez anos carregava um cartaz que dizia: "Abaixo o arrastão". Pessoal brincava de skate. A celebração servia de palco para o xaveco. Só faltava passar garçom com bandeja. Havia mais cartazes pedindo "paz" do que bundas. Nada contra o tom de celebração. Mas não há nada que mais irrite do que burguês achando que um conceito tão vago quanto "paz" possa comover.

Só quem nunca passou pelo desespero de uma fila do SUS, apuro ou injustiça na mão de autoridade pode considerar que "paz" seja antônimo da violência. O que a "paz" pode fazer para atenuar a miséria de quem vive sem saneamento básico? "Paz" combate falta de vaga em creche?

Quanto ao "Fora, Dilma!", eu entendo que o brado seja quase um espasmo fisiológico, que funcione como descarrego, para usar a linguagem de quem se beneficiaria diretamente da profecia autorrealizável. Mas, vem cá: há alguma acusação formal contra ela? Ou, no caso, contra Alckmin ou Haddad? O que se deseja? Temer no poder ou a volta dos militares?

Na manifestação de quarta em M'Boi Mirim, na zona sul, será que tinha cartaz protestando contra arrastão? Se essa população da periferia estivesse no estádio em Brasília teria vaiado Dilma? Lembrando que, depois da vaia do Pan, Lula foi reeleito com folga e que a presidente lidera as pesquisas de opinião com folga, certo biscoito?

Não estou dizendo que Dilma seja a última Coca-Cola do deserto. Sabemos que revelou ser um desastre retumbante. Meu ponto é que movimentos como o "Cansei" chegavam a causar antipatia pela total falta de sintonia. Os anseios de quem não tem do que reclamar da vida não comovem, como nunca chegaram a mexer com ninguém as famílias vestidas de branco desfilando no domingo pelo calçadão.

O que legitima o movimento atual é que ninguém mais aguenta que a maior cidade de um país potência continue refém de empresas de ônibus que obtêm lucros obscenos oferecendo serviços pornográficos. Não se aceita mais um modelo industrial falido, centrado na produção de "carroças" (automóveis) para entupir nossas cidades ou, no máximo, exportar para a Argentina. Ao que parece, até na hora de protestar em praça pública, há um fosso de desigualdade social a dividir brasileiros.

Mocidade independente - NELSON MOTTA

O GLOBO - 21/06

Os jovens gritam contra os privilégios dos politicos. E eles fingem que não é com eles


Discursando para um auditório lotado de políticos, empresários, lobistas e funcionários, a presidente Dilma advertiu que “esta mensagem direta das ruas é de repúdio à corrupção e ao uso indevido do dinheiro público” e foi aplaudida entusiasticamente pelos presentes, como se ninguém ali tivesse nada a ver com isso.

A democracia representativa foi desmoralizada pelos políticos, que a usaram para representar apenas os seus próprios interesses e de seus partidos, e agora os jovens gritam nas ruas “o povo unido/sem sigla e sem partido”, e são aplaudidos pela população. Para não ser vencido, o povo unido precisa estar representado no poder.

O governo e o Congresso não enfrentam uma urgente e fundamental reforma politica porque os políticos não querem se mostrar como são: incapazes de chegar a qualquer acordo no interesse do país — porque só sabem defender seus próprios interesses e de seus partidos, como uma corporação que se apossou do Estado e o usa em seu beneficio. Por isso os jovens gritam contra os privilégios dos políticos. E eles fingem que não é com eles.

Hoje as ruas gritam contra os gastos e roubalheiras da Copa do Mundo, que vai consumir bilhões de reais e o povo vai ver pela televisão, enquanto os velhos políticos e as novas elites da era Lula estarão lado a lado na tribuna dos privilegiados.

Contrastando com o Brasil Maravilha que o embriagador marketing oficial mostra na TV, pago com dinheiro público, o Brasil real está nas ruas.

As antigas militâncias apaixonadas, hoje amestradas e pagas, babam de inveja diante da TV, velhos partidos tentam pegar carona no movimento e são escorraçados. A maioria absoluta dos manifestantes despreza os atuais partidos — mas exige ser representada, ter voz e direitos respeitados. Novas formas de pressão e de expressão estão nas praças e no ar.

As cenas que vemos são uma representação dramática da insatisfação dos jovens com o futuro que os espera, se continuarmos representados pelo que o Brasil tem de pior, de saqueadores de verbas públicas a vândalos predadores.

No momento, quem me representa é meu neto de 17 anos.

Silêncio de presidente resume ausência de ação dos políticos - FERNANDO RODRIGUES

FOLHA DE SP - 21/06

No dia em que o Brasil e Brasília protagonizaram os mais abrangentes protestos de rua das últimas décadas, a presidente da República ficou muda no Palácio do Planalto e o governador do Distrito Federal foi a um evento na Embaixada da França.

Dilma Rousseff e Agnelo Queiroz (PT) são o epítome dos governantes brasileiros. Resumem a perplexidade e falta de capacidade de liderança dos políticos de vários partidos diante do novo fenômeno de protestos sem líderes nem propostas definidas.

Tanto a presidente como a maioria dos governadores formataram um discurso com três componentes. Primeiro, elogiam a democracia. Segundo, enaltecem os atos pacíficos. Terceiro, condenam as ações de vandalismo.

Para uma onda moderada de protestos, esse tipo de abordagem funciona. O político fica bem com a opinião pública e com a parte "domesticada" das manifestações. Os custos de eventuais depredações são moderados. O transtorno é passageiro.

Mas no caso da avalanche atual de manifestações, a presidente e vários governadores não explicam o que pretendem fazer se os protestos continuarem. Parecem, a rigor, estar apenas torcendo para o tsunami passar.

Só que os protestos são resilientes. Os governantes estão aprisionados a um estado de catatonia. Nesse cenário, passam a ser normais as cenas de fogueiras na Esplanada dos Ministérios como as de ontem à noite.

Com passado de esquerda, Dilma sente dificuldades para adotar um discurso crítico aos efeitos dos protestos. Ela teme ser interpretada como autoritária e a favor do que estão combatendo na rua.

Ocorre que as principais cidades estão com suas vidas semiparalisadas há quase duas semanas. Haverá prejuízos econômicos. Dilma não sabe qual resposta oferecer. Quando a onda passar, há um risco enorme de a conta acabar espetada na taxa de popularidade da presidente e de seus colegas governadores.

A estrondosa vaia que tomou as ruas do país - ROBERTO FREIRE

BRASIL ECONÔMICO - 21/06

O mundo de fantasia edulcorado pela propaganda petista começou a entrar em contato com o Brasil real assim que o nome de Dilma Rousseff foi anunciado aos torcedores que compareceram ao Estádio Mané Garrincha, no último sábado (15), para acompanhar o jogo de abertura da Copa das Confederações, e saudado com uma estrepitosa vaia.

Ao contrário do que os entusiastas do PT e da presidente poderiam imaginar, as vaias em Brasília foram sucedidas por protestos e manifestações que ganharam as ruas das principais cidades brasileiras.

A indignação generalizada, tão contundente quanto difusa à primeira vista, tem entre suas múltiplas causas justamente os gastos do governo federal para a realização da Copa do Mundo no Brasil.

No mesmo sábado em que a presença de Dilma foi repudiada pelos torcedores no Mané Garrincha, milhares de manifestantes deixaram claro, do lado de fora do estádio mais caro do Mundial de 2014, que não aprovavam o dinheiro público torrado para o evento do ano que vem.

Embora o governo do PT tenha prometido inicialmente que a construção das novas arenas seria viabilizada apenas com investimentos privados, os gastos desmedidos devem ultrapassar a exorbitância de R$ 28 bilhões, segundo estimativa do próprio Ministério do Esporte.

Somente nos estádios construídos ou reformados para a competição, a conta chega a R$ 7 bilhões, quantia sete vezes maior do que o valor estipulado em 2007 (R$ 1,1 bilhão), quando o Brasil ganhou o direito de receber a Copa. Desse montante, 97% é dinheiro público.

Além do repúdio aos gastos da Copa, a população brasileira tem ido às ruas para manifestar seu descontentamento com a inflação, atitude simbolizada pelos jovens do Movimento Passe Livre que se revoltaram com o aumento das tarifas do transporte público em São Paulo e espalharam essa causa, como fagulha, por todo o país.

O que começou como uma reivindicação localizada rapidamente ganhou dimensão nacional, com mobilizações organizadas pelas redes sociais e que abriram espaço para que os brasileiros empunhassem outras bandeiras como o combate à corrupção e à violência, mais investimentos nas áreas de saúde e educação e reforma política.

Na segunda-feira (17), mais de 250 mil pessoas participaram daquela que já é a maior manifestação popular desde o movimento pelo impeachment de Fernando Collor, em 1992.

Por mais que a propaganda oficial, tão afeita ao ludíbrio da sociedade, tente minimizar o impacto da onda de protestos que tomou conta do Brasil, é evidente que se trata de mais um sinal do esgotamento de um ciclo de poder cujo legado ao país é institucionalmente precário e moralmente indecoroso.

A permanente afronta ao Legislativo, ao Judiciário e à imprensa independente, a cooptação de parlamentares escancarada pelo mensalão, a fisiologia na ocupação de cargos públicos, a corrupção simbolizada por dinheiro na cueca, o uso desenfreado da máquina com fins meramente eleitorais e um completo descompromisso com a liturgia republicana são algumas das marcas deixadas nesses dez anos de governos do PT.

É contra tudo isso que o povo vai às ruas, formando um coro uníssono de milhões de vozes, com diversas causas pelas quais lutar, mas um sentimento comum de indignação que estava represado. A vaia, enfim, tomou conta do país.

O gigante acordou. E o sono acabou - GUILHERME ABDALLA

BRASIL ECONÔMICO - 21/06

A estratégia do PT já está evidente. De um lado, Dilma se dirá mais uma manifestante indignada nas ruas.


Pasmem os leitores, mas a presidente encerrou seu primeiro discurso após a tomada do Congresso com a seguinte frase: ‘meu governo também quer mais'. De outro lado, os petistas isolarão Haddad para minimizar os anseios ao aumento do transporte, ao âmbito municipal.

Não queira mais, Dilma, faça mais. O sociólogo Manuel Castells, que recentemente esteve no Brasil, foi um jovem resistente espanhol e é hoje o maior estudioso da revolução social digital.

O conjunto da obra de Castells foca, inicialmente, no porquê e a partir de quem as relações de poder são construídas e exercidas por meio da administração de processos de comunicação.

Num segundo passo, ele analisa como essas relações de poder são impactadas pela influência de atores ou fatos sociais nas mentes daqueles que já estão ansiosos - ainda que atrás de seus ipads - por uma mudança social. Para Castells, a forma mais fundamental de poder repousa na habilidade de alimentar a mente humana, quer dizer, na comunicação.

Com razão. A forma como sentimos e pensamos determina a maneira que agimos, seja individual ou coletivamente. E o meio pelo qual formamos nosso sentir e pensar é a comunicação. É por meio dela que a mente humana interage com o meio ambiente à sua volta.

Por essa razão não me refiro aqui somente à comunicação via rádio, jornais, revistas, televisores ou internet. Ao contrário, refiro-me aqui também ao principal poder de comunicação da prática política: as normas ou, mais coloquialmente, as regras do jogo.

Essas regras, sejam elas de natureza jurídica (leis), de natureza ética, religiosa ou mesmo consuetudinária (baseada nos usos e costumes tradicionais), deixaram de ser uma comunicação de cima para baixo, isto é, do Estado ao cidadão, da Igreja ao crente, de patrão a empregado, transmudando-se, na democracia do século XXI, num debate interativo de massa.

É nesse sentido que a rede digital deve ser encarada: como o símbolo da comunicação horizontal de nosso tempo, uma comunicação de cidadão a cidadão, de trabalhador a trabalhador, de ser humano a ser humano.

Não há, portanto, tantas perguntas sem respostas como declara a classe política. Não há perplexidade e todas as reivindicações esparsas nos diversos núcleos convergem numa assertiva: a multidão brasileira quer ser agora a remetente e a destinatária das regras do jogo.

De onde surgiu então o afã de sair dos computadores/televisores e passar às ruas? Muitos - principalmente os pensadores ligados ao PT - entendem que os pobres de outrora ascenderam à classe média e se conscientizaram de que podem e devem querer mais em contrapartida dos impostos pagos. Dizem que o filho somente pode ser rebelde quando seus pais não lhe deixaram faltar nada. Não concordo, é uma linha de raciocínio casuísta.

Sai às ruas e comprovei na pele que o perfil da multidão vai muito além da suposta nova classe média. Pude ver resistentes sessentões da ditadura, pude ver caras-pintada da minha geração, pude ver herdeiros milionários, pude ver empresários de sucesso, pude ver jovens saindo de carros importados, pude ver crianças já cientes do mensalão.

Não se trata de nova classe média, trata-se de um novo poder de comunicação. Dilma, não seja uma manifestante como quer seu marqueteiro, seja presidente.

AGUENTA FIRME - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 21/06

Minutos antes do anúncio de que reduziriam as tarifas de ônibus e metrô, o governador Geraldo Alckmin disse ao prefeito Fernando Haddad que, caso o petista quisesse, ele estaria disposto a resistir à pressão e a manter o preço de R$ 3,20. "A gente aguenta firme, juntos", disse Alckmin. Estavam na sala o secretário municipal de Governo, Antonio Donato, e o estadual da Casa Civil, Edson Aparecido.

PRESSÃO
Alckmin ponderou que Haddad ainda tem "no mínimo" quatro anos na prefeitura e que poderia futuramente superar o desgaste, tendo dinheiro em caixa para investir. Haddad informou que já tinha jogado a toalha. E que não tinha suportado "a pressão do PT".

SOBROU
No meio da conversa, o prefeito atendeu a um telefonema e foi informado de que o ministro da Fazenda, Guido Mantega, atacava a possibilidade de reduzir impostos dos transportes. "Mas então os municípios e os Estados vão arcar com essa conta sozinhos?", teria perguntado.

MEU DEUS!
Quando foi então tomada a decisão de fazer o anúncio, Alckmin chamou alguns secretários de sua equipe. "Mas não dá, a conta é muito grande", reagiu o secretário estadual da Fazenda, Andrea Calabi. "Não é hora de fazer contas, pelo amor de Deus! Temos um problema político para resolver", ponderou Edson Aparecido.

DRAMÁTICA
Depois da decisão, Alckmin pediu que servissem lanche aos presentes. Todos viram juntos um pouco do jogo do Brasil contra o México. Segundo relato de um dos presentes, o prefeito estava cabisbaixo e com "o olhar distante". Em um comentário, disse que a decisão de baixar a tarifa era "dramática" para as contas da cidade.

MUDA SP
E a onda de protestos segue atrapalhando a agenda de eventos em São Paulo. Passou de ontem para hoje a abertura da balada Le Rêve Club, no Baixo Augusta. Também foi adiado, ainda sem nova data, o lançamento do carro Mini Paceman, que ocorreria na Vila Leopoldina.

SAÚDE NAS GRADES
A Secretaria de Estado da Saúde de SP destinará R$ 6,8 milhões por ano para o financiamento da assistência médica básica dentro das penitenciárias. O repasse vai beneficiar 16 unidades com 22 mil presos.

SAÚDE NAS GRADES 2
As penitenciárias de Tupi Paulista, Rodrigo dos Santos Freitas, a de Serra Azul e a 2ª de Guareí serão as maiores beneficiadas, com R$ 756 mil anuais cada. O programa prevê a contratação de médico ou de uma equipe de saúde completa, também com dentista, enfermeiro e dois auxiliares de enfermagem.

DIGITAL
A editora FTD vai lançar a coleção "História, Sociedade & Cidadania", de Alfredo Boulos Júnior, no iTunes. Será a primeira coleção de livros didáticos brasileiros a ser comercializada na loja virtual da Apple.

A série de livros já vendeu cerca de 160 mil exemplares impressos e foi aprovada pelo Programa Nacional do Livro Didático de 2014 para ser adotado pelo sistema público de ensino.

ROTA INTERROMPIDA
A bancada petista na Câmara Municipal decide na terça sua posição sobre o projeto de lei do vereador Paulo Telhada (PSDB) para homenagear a Rota, tropa de elite da PM. O vereador Paulo Fiorilo (PT) pediu suspensão da tramitação da proposta, que ainda não tem aval para ser votada. "Sou contra, pelo histórico da instituição. E estamos em um momento de acirramento com a polícia, por causa dos excessos contra manifestantes", diz. Telhada já comandou a Rota.

UMA MOCINHA VAZIA
Fernanda Nobre começou a gravar a segunda temporada de "Copa Hotel" (GNT). Na série, ela é a atriz Antônia e vive um triângulo amoroso com os personagens de Maria Ribeiro e Miguel Thiré.

"É diferente de tudo que já fiz. Essa é uma mocinha vazia, uma pessoa comum; não é maniqueísta."

BOLE BOLE
Os atores Débora Bloch, Gabriel Braga Nunes, Lilia Cabral, Fernanda Montenegro, Sérgio Guizé, Laura Neiva e Vera Holtz foram à festa de lançamento da novela "Saramandaia", da Globo, no Museu de Arte do Rio. O autor da nova versão do folhetim de Dias Gomes, Ricardo Linhares, também compareceu.

PARIS É UMA FESTA
O cônsul da França, Damien Loras, e sua mulher, Alexandra, receberam as empresárias Nancy Mattos, com a filha Patricia, e Caroline Putnoki e a produtora Larissa Peron na festa Soirée à la Française, anteontem, no Jardim Europa. A noite teve menu dos chefs Laurent Suaudeau, Fabrice Le Nude e Emmanuel Bassoleil e drinques de Derivan.

ARTES E LETRAS
A Pinacoteca abriu a mostra "Lucy Citti Ferreira", com obras da artista morta em 2008, e realizou o lançamento do livro "Norberto Nicola - Trama Ativa", de Denise Mattar. A curadora Regina Teixeira de Barros, Jorge Schwartz, diretor do Museu Lasar Segall, Marcelo Araujo, secretário de Estado da Cultura, Paulo Vicelli, diretor de relações institucionais da Pinacoteca, e Esther Carolina Mortari, prima de Lucy, foram aos eventos.

CURTO-CIRCUITO
Paula Raia apresenta coleção verão às 11h, na Casa do Povo, no Bom Retiro.

Gloria Coelho faz desfile de roupas de festa, hoje, às 13h, na Casa Electrolux, no Jardim América.

Renato Janine Ribeiro dá aula aberta sobre os protestos nas ruas do país, hoje, às 20h, na Casa do Saber dos Jardins.

Graça Foster, presidente da Petrobras, participa hoje de seminário sobre infraestrutura promovido pela Brasileiros Editora.

FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA

O GLOBO - 21/06

EMPREGO CRESCE NA INDÚSTRIA DE SÃO PAULO
o Setor elevou em 65 mil o total de ocupados de abril para maio, após dois meses seguidos de queda, diz IBGE
A indústria de São Paulo trouxe o alento a um mercado de trabalho que patina na estabilidade. Em maio, divulgou ontem o IBGE, a taxa de desemprego, o número de desocupados e o total de pessoas com trabalho repetiram resultados do mês anterior. Mas na Região Metropolitana de São Paulo, a ocupação na indústria aumentou em 65 mil de um mês para o outro. Foi o fim de dois meses seguidos de queda no indicador. “Foi uma janela de alento num mercado que, no geral, está travado”, diz Cimar Azeredo, gerente da pesquisa de emprego do IBGE. Sozinho, São Paulo representa mais da metade (52%) do emprego industrial do país. Assim, a região marca a tendência do setor no país. É o chamado efeito farol. O setor iniciou 2013 em expansão: 0,5% em janeiro e 2,8% em fevereiro.
Em março e abril, houve quedas de 4,8% e 1%, respectivamente. No mês passado, o total de ocupados cresceu 3,6%. Os dados do emprego seguem tendência registrada por alguns indicadores que sugerem a retomada da atividade industrial. A produção de bens de capital, por exemplo, cresceu 13,4% de janeiro a abril, segundo dados do IBGE. Já a indústria de bens duráveis avançou 4,5% no 1º quadrimestre.

11% NO EMPREGO INDUSTRIAL 
Foi este o crescimento no pessoal ocupado na indústria da Região Metropolitana de São Paulo, de janeiro a maio de 2013.O setor emprega 1,879 milhão de trabalhadores, segundo a PME/IBGE.

Marine Deleeuw, top francesa que trabalhou para a grife Louis Vuitton, vai estrelara campanha do verão 2014
da Espaço Fashion.

Zee Nunes fotografou a modelo em ruas, quadras e muros de Queens, Bronx e Harlem, em Nova York. As peças chegam às lojas em meados de julho. Já a campanha estreia no fim do mês que vem.

IOGURTE
A Yogoberry apresenta novos produtos na próxima terça. A rede de frozen yogurt terá no cardápio açaí totalmente natural, além de três opções de sucos funcionais. A campanha, assinada pela agência Colateral, estará em mídiassociais e em todas as 74 lojas da rede no país. A expectativa é aumentar o fatura mento em até 40%.

Galeão
A Infraero começou a reformar uma dúzia de banheiros do Aeroporto do Galeão. Seis ficam prontos para a JMJ. As obras, a cargo da SUD Construções, envolvem 40 trabalhadores em três turnos. Investimento de R$ 971 mil.

Por esporte 1
A 15ª edição da Rio Sports Show, semana que vem, deve movimentar R$ 45 milhões em negócios. A previsão é reunir dez mil pessoas, entre atletas, profissionais e empresários do setor de fitness. Serão, ao todo, 70 expositores.

Por esporte 2
A Apex-Brasil e a Abrese vão trazer 11 compradores internacionais ao evento. Virão de Alemanha, Chile e Suécia, entre outros países. É ação do projeto Brazilian Sports, para estimular as exportações. Por ano, o setor movimenta R$ 65 bilhões no Brasil.

Eventos
Já são 184 o total de eventos técnico-científicos marcados para o Rio de 2013 a 2018.

A conta é do Rio CVB.

Ar limpo
A Air France renovou 3.650 contêineres de todos os 103 aviões de longa distância. Investiu € 2,4 milhões.

Em painéis de fibra, pesam 11 quilos a menos que os anteriores, de alumínio.

As emissões de CO2 vão diminuir em oito mil toneladas por ano.

Lingerie 1
A Hope planeja dobrar para 210, este ano, a rede de filiais do Hope sob Medida, espaços da marca em multimarcas no país. Criado em 2011, o modelo de negócio equivale hoje a 12% das vendas no varejo da fabricante de lingerie. Chegará a 25% ou R$ 12 milhões, diz o gerente Clóvis Roberto de Morais.

Lingerie 2
O HSM funciona em cidades com menos de 200 mil habitantes. A Hope mapeou 600 municípios com potencial para receber o projeto, uma alternativa à franquia. “As lojas que adotam o Hope sob Medida elevam vendas da marca em 30%”, conta Morais.

PARA AQUECER
A Supergasbras realiza, de hojea 1º dejulho, campanha de arrecadação de agasalhos para idosos. Terá postos de coleta em Rio, Pará, Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul.

TEMPORADA DE DESCONTOS
O Casa Shopping estreia, na 4ª, campanha de liquidação. A queima vai de 27 de junho a 28 de julho. Investiu R$ 800 mil. Terá descontos de até 60%. A meta é vender 45% mais. A Casada Criação assina.

Dados
A Stone Age, do setor big data (soluções tecnológicas para gestão de grande volume de dados), reabre a sede no Rio. O prédio, na Barra, passou por reforma de R$ 2 milhões. Inicia, com a reinauguração, um ciclo de palestras sobre o segmento.

Gelado 
O Sorvete Itália terá quatro estandes no Rock in Rio 2013. Fez investimento de R$ 400 mil. Em julho, lança o picolé rhuffle. O sabor morango, coco, uva, manga ou chocolate) só é conhecido após a abertura da embalagem.

Livre Mercado
A Força da Terra, fabricante de cosméticos naturais do Rio, prevê faturar R$1,1 milhão este ano, 30% mais que em 2012. A marca lançou e-commerce em abril.

A Epicerie, loja on-line de vinhos, iniciou venda de azeite. Espera alta de 30% nas receitas.

Hospital

O Hospital São Lucas, em Copacabana, investe cerca de R$ 5 milhões na renovação do parque tecnológico e em novos equipamentos para o CTI e o centro cirúrgico.

Papa
O Hospital São Francisco da Penitência de Deus, na Tijuca, investiu R$ 1 milhão em dez novos leitos de CTI. A unidade foi preparada para receber o Papa Francisco na JMJ. Hoje, estreia campanha com a nova identidade visual. A SB assina.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 21/06

Setor de plásticos multiplica empregos em SP
A indústria paulista de transformação de plásticos ampliou as contratações no início deste ano: o número de novas vagas saltou de 173, no primeiro quadrimestre do ano passado, para 2.670, no mesmo período de 2013.

O crescimento ocorreu mesmo diante da estagnação do setor de borracha e plástico, cuja produção no Estado registrou uma ligeira queda de 0,03% entre janeiro e abril, na comparação com o ano passado.

Na indústria geral de transformação, houve aumento de 3%.

Os dados do Ministério do Trabalho e Emprego demonstram recuperação diante de um 2012 fraco na produção e na geração de vagas.

Para o Sindiplast (sindicato da indústria de material plástico de São Paulo), isso ocorreu por causa da desoneração da folha de pagamentos adotada pelo governo federal no ano passado.

Com a medida, alguns setores deixaram de desembolsar 20% de contribuição previdenciária sobre a folha de salários para pagar uma alíquota de 1% ou 2% sobre o faturamento bruto anual.

"Você paga praticamente o mesmo imposto se tiver 10, 100 ou 1.000 empregados", diz o presidente do Sindiplast, José Ricardo Roriz Coelho.

No país, o número de empregos dobrou. De 3.651 novos funcionários nos quatro primeiros meses de 2012, a indústria passou para 7.427.

"O problema é que não aumentamos o volume de produção e de vendas, porque está caro transformar plástico no Brasil", diz Coelho.

"Perdemos com a importação de produtos de países asiáticos e da América do Sul", afirma o presidente, que também é diretor de competitividade da Fiesp.

O preço de produtos plásticos cresceu 3% no quadrimestre. No acumulado dos últimos 12 meses, o aumento foi de 9,18%.

OLHAR NOS CARROS
A filial brasileira da Arval, empresa especializada em gestão de frotas empresariais, vai ampliar o serviço de monitoramento dos veículos.

Hoje o sistema com telemetria no país acompanha dados de velocidade, localização, consumo de combustível, rotações por minuto, entre outras informações.

"Permitirá ao cliente um maior controle de gastos e de eventuais problemas de condução", diz o francês Arnault Leglaye, CEO da empresa, que é subsidiária do Banco BNP Paribas.

"Nessa segunda fase do sistema, haverá um contato direto entre o motorista e Arval, por meio de um botão no carro", afirma. O condutor poderá fazer perguntas.

"A preocupação é a segurança. Pressionado o botão, saberemos onde está o carro e nossos técnicos saberão qual é a pane."

O projeto ainda está em curso e terá tecnologia desenvolvida por uma empresa parceira no país.

Oferecido pela Arval no Brasil há menos de um ano, o monitoramento por meio de sensores colocados nos carros, está em cerca de 150 veículos de dez dos 270 clientes da companhia.

O custo mensal do sistema é de R$ 60.

No país desde 2006, a empresa conquistou no início deste ano a sua meta de 13 mil carros em atividade. De lá para cá, o investimento foi de mais de R$ 850 milhões no país.

Para 2013, a meta é crescer 20% com foco na tecnologia.

ENERGIA EM BAIXA
O consumo de energia elétrica no mercado livre caiu 3,19% em maio ante abril, segundo índice da Comerc (gestora independente de energia). Em relação a maio de 2012, a queda foi de 1,37%.

O levantamento é feito com base no consumo das 450 empresas sob gestão da Comerc.

A hipótese mais provável para a queda é o fato de que o mês de maio teve um feriado prolongado, de Corpus Christi, segundo a gestora.

"A temperatura mais baixa também interfere, pois o setor é muito ligado à refrigeração", diz Cristopher Vlavianos, presidente da empresa.

ATERRISSAGEM
O grupo britânico BRE inaugurou uma unidade em São Paulo, a primeira no país. A organização atua nas áreas de pesquisa, certificação, treinamento e consultoria para edificações mais eficientes e já desenvolve com o governo federal a implantação de um parque tecnológico.

Leque... A consultoria BDO abrirá escritórios em mais três cidades brasileiras: Brasília (DF), Cuiabá (MT) e Londrina (PR). A intenção é focar em clientes dos setores de administração pública, agronegócio e construção civil.

...ampliado Em Brasília, a inauguração deve ocorrer ainda neste mês, enquanto as outras duas começarão as atividades no segundo semestre. A empresa já está presente em outras 15 cidades brasileiras e 130 países.

Salões O Sebrae-SP e a L'Oréal vão assinar acordo na segunda-feira para capacitar pequenos negócios do segmento de beleza e cabeleireiros em áreas de risco e baixo IDH de São Paulo. O projeto tem duração de dois anos.

Protesto nos corredores - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 21/06

Rumor, pressões e fofocas a respeito de troca na Fazenda se juntam a outro dia de dólar nervoso


O DÓLAR FOI A R$ 2,26. Próxima parada: R$ 2,30, degrau em que talvez fique por muito tempo, talvez um ano, diz gente que faz negócios no mercado financeiro. Os economistas dos bancões, porém, acham que o paniquito passa até o final do ano, com dólar a R$ 2,10, por aí.

O problema do câmbio não é apenas brasileiro, como se sabe, mas resultado da paulatina mudança da política econômica dos Estados Unidos e, talvez, da expectativa de recuperação mais forte da economia americana.

Pode ser bem passageiro. Pode ser até bom (se os EUA voltarem a crescer mais rápido, mesmo). Mas o Brasil está sofrendo mais, entre os países grandões. Não tende nem de longe a ser desastroso, pois o país agora tem amortecedores para evitar essas reviravoltas na finança mundial. Mas, ainda assim, o paniquito do câmbio vai criar problema, dada a desordem da nossa política econômica.

BOATOS

No mesmo dia em que o dólar namorou os R$ 2,30, a praça se espantou com o rumor de que Lula teria aconselhado Dilma Rousseff a nomear Henrique Meirelles para o lugar de Guido Mantega. O ex-presidente do Banco Central ora no comando de uma empresa privada.

O dólar alto por muito tempo levará o BC a apertar os juros um pouco mais do que pretendia. A falta de crescimento, a desmoralização das contas do governo (que ainda não convenceu quase ninguém de que vai cumprir sua meta), a deterioração de outros indicadores econômicos, tudo isso esquenta a chapa sob a Fazenda. Além do mais, tal conjuntura cria mais atrito para o crescimento da economia. Nada mais grave, mas é mais areia na máquina.

No entanto, a política da Fazenda é a política de Dilma Rousseff. Não se pode dizer, pois, simplesmente, que a política da Fazenda perde força, e a política monetária, do BC, passa a dominar o cenário. Pode-se dizer só que Dilma está desorientada, sem cartas na manga, deixando como está para ver como é que fica.

NOVIDADES

Talvez a presidente espere que os leilões de concessão de estradas, portos e, talvez, aeroportos, mais o leilão de novas áreas de exploração de petróleo mudem o clima, pelo menos na economia, e comece a induzir algum investimento adicional.

No mais, Dilma parece agora sem munição, além de não ter a quem recorrer para novidades. Dentro do governo, não há. Fora do governo, há, mas a presidente não deu ouvidos a ninguém, nem a seu conselho informal de economistas.

Dilma vai começar a procurar novidades? Lula teria mesmo começado a pressionar a presidente para procurar novidades?

Aliás, a presidente está com tempo para pensar nesse tipo de coisa? Dilma Rousseff adiou até viagens por causa de gente em massa na rua. De resto, seria um erro espantoso e para lá de improvável fazer mudança importante no governo em meio a tamanho tumulto.

O problema é que a conversa da necessidade da mudança se espalhou do mercado ao PT, de bancos até a assessores palacianos de Dilma, da finança à indústria. Não caiu na boca do povo, que não está tratando disso. Mas corre a boca cada vez menos pequena entre quem tem poder e dinheiro.

Só Dilma salva Dilma - CLAUDIA SAFATLE

Valor Econômico - 21/06

O governo precisa de um choque de confiança. Uma percepção muito ruim tomou conta dos mercados externos e internos e está impondo um "overshooting" nos preços do câmbio e dos juros. Há, e isso é inegável, um deslocamento brutal de recursos dos mercados emergentes para os Estados Unidos, economia que surge renovada e altamente competitiva da crise de 2008/2009. Por si só, esse é um motivo de fortes trepidações.

Mas há, simultaneamente, uma destruição de riqueza no país por causa das incertezas sobre os rumos da taxa de juros e sobre o valor do real frente ao dólar. Ao fazer marcação a mercado dos papéis públicos e outros investimentos em renda fixa, o investidor está vendo seu patrimônio ruir. Empresas com dívidas em dólar e fundos de investimentos em geral contabilizam perdas.

O teto para esse movimento é desconhecido e todos querem encerrar suas perdas de imediato. Os investidores já perderam mais de R$ 130 bilhões nas aplicações em títulos públicos com juros prefixados e atrelados à inflação.

Esse evento guarda semelhança com 2002, ano em que houve uma imensa desconfiança no que poderia ser a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência da República. Lula reagiu e fez a carta aos brasileiros. Ali ele reescreveu o discurso do PT e se comprometeu com o cumprimento de contratos e com a estabilidade econômica. Em 2003 o presidente promoveu um forte ajuste fiscal e teve a seu favor, a partir de então, o crescimento do mundo para embalar a distribuição da renda sem graves conflitos distributivos. A expansão da economia mundial e o "boom" das commodities deram ao Brasil o benefício dos termos de troca.

A crise de 2008/2009 encerrou a prosperidade nas economias desenvolvidas e, agora, a saída da crise pelos Estados Unidos encerra, também, os anos de farta liquidez que irrigou as economias emergentes, a partir da redução dos estímulos monetários. Isso já seria motivo suficiente para preocupação dos governos emergentes. E é pior ainda para os que fizeram muito pouco por suas economias.

Lula, no ano da eleição de Dilma, colocou o país em marcha forçada, anabolizou o crescimento e deixou para ela uma forte pressão inflacionária e um ritmo insustentável da atividade. A presidente assumiu com a missão de desaquecer a atividade e conter o processo inflacionário, além de acalentar um objetivo obstinado: reduzir a taxa de juros. Para derrubar a inflação, houve uma combinação de medidas de contenção do crédito, reforço na meta fiscal e elevação dos juros. A essas, porém, se sobrepôs o aprofundamento da crise mundial, abrindo uma janela para baixar os juros. A economia, porém, já estava no chão e só agora começa a se levantar.

No segundo ano, o governo se trancou para produzir as regras para as concessões, visto que o Estado não seria capaz de tocar os investimentos necessários à infraestrutura do país. Tentou, originalmente, dizer quem, como, quando, com que regras e qual o lucro que seria permitido para a concessionária. Não deu certo. Flexibilizou. Endureceu e se atrapalhou no setor elétrico, cedeu em alguns pontos. Ao mesmo tempo, abriu os cofres públicos com desenfreada emissão de títulos (dívida) como instrumento para animar o crescimento.

O relaxamento fiscal foi sendo mascarado pelos truques contábeis. Para não matar a indústria, desvalorizou-se o câmbio. Juros e câmbio, nesse momento, passaram a ser percebidos como preços administrados politicamente pelo governo. E o fiscal, solto. Veio a inflação.

Cedo ou tarde, o Banco Central reagiu e começou a aumentar a Selic. O dólar, agora, se valoriza e o real despenca. Falta saber o que o governo fará com seus compromissos com as contas públicas. Até a semana passada, sequer havia meta de superávit primário. Agora há: 2,3% do PIB. Mas achar alguém que acredite na execução dessa meta pelo Ministério da Fazenda é procurar agulha no palheiro. Sem a ajuda da política fiscal para conter a inflação, os juros não têm limite. Com aumento da Selic e o real enfraquecido, o efeito imediato é desaquecer mais uma economia já desaquecida. O crescimento deste ano e de 2014 está comprometido.

Há um clamor, nos mercados, pela volta à ortodoxia fiscal. E, nas ruas, surge um movimento popular inesperado, grandioso e apartidário, por melhores serviços públicos - a revolta dos centavos.

Em 1999, Fernando Henrique Cardoso reinventou seu governo. Em meio a uma crise monstruosa, trocou o presidente do BC duas vezes em menos de um mês e abandonou o regime de câmbio quase fixo. Ali, inaugurou a política macroeconômica sustentada no tripé: meta de inflação, austeridade fiscal e câmbio flutuante.

Em 2005, na crise do "mensalão", Lula reinventou seu governo. Demitiu os dois principais ministros, o da Casa Civil, José Dirceu, e o da Fazenda, Antônio Palocci, e pôs força na transferência de renda aos mais pobres. Dilma, pressionada, pode ser levada a se reinventar. Se o problema é de confiança, só ela pode resolver.

De pouco adiantaria trocar o ministro da Fazenda, Guido Mantega, por exemplo, pelo ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, conforme boatos insistentes que correm há tempos. Embora Meirelles tenha credibilidade e traga confiança para os mercados, Dilma não tem com ele uma boa interlocução e não está disposta a abdicar do poder. Ontem Lula teve que desmentir a notícia de que ele próprio teria sugerido essa substituição.

A presidente, agora, enfrenta dois movimentos explícitos e opostos: o das ruas, que ela quer entender, criar interlocução e, se possível, construir uma agenda comum de melhoria dos serviços públicos. E o dos mercados, que não faz o barulho das ruas nem sensibiliza os corações, mas faz os preços que a população terá que pagar. Esses querem austeridade do gasto público e confiança.

Só Dilma pode dar essas garantias. Nela, os agentes ainda creem.

Maré vazante em tempo de lua nova - RODOLFO LANDIM

FOLHA DE SP - 21/06

Apesar de mais do que defensáveis, os protestos não poderiam ter chegado em hora mais inconveniente


Durante vários anos, mesmo enfrentando alguns percalços, vivemos no Brasil momentos em que a conjuntura nos esteve bastante favorável.

Tínhamos conseguido estabilizar a nossa moeda, a economia mundial crescia a taxas elevadas e o preço das commodities, mola mestra das exportações brasileiras, subiu significativamente.

O país atingiu praticamente o pleno emprego, e, mesmo após a crise no fim de 2008, em grande parte por sermos um mercado emergente, termos equilibrado as nossas contas e oferecermos juros convidativos, continuamos a ser uma opção atrativa ao capital externo.

Mas o mundo é dinâmico e a gigante economia norte-americana começou lentamente a se recuperar.

Paralelamente, os indicadores brasileiros apresentando resultados continuamente inferiores aos esperados e os problemas estruturais existentes e cada vez mais evidentes começaram a criar dúvidas quanto à viabilidade de atingir taxas elevadas de desenvolvimento no país de forma duradoura.

A piora das expectativas, associada à redução dos juros, provocou a saída de um grande volume de recursos do país, causando uma desvalorização do real em relação ao dólar em nível superior ao da grande maioria das demais moedas e colocando pressão nos indicadores inflacionários.

Como se não fosse bastante, o país enveredou por uma sequência de protestos com a mobilização de um significativo contingente de pessoas e repercussão internacional.

Inicialmente focados no aumento das tarifas do transporte público, os movimentos foram crescendo em escala e espectro de reivindicações. As seguintes tiveram como foco os gastos com a construção de estádios para a Copa do Mundo.

É até compreensível que, em um país com tantas necessidades emergenciais em sua infraestrutura, destinar recursos públicos para estádios de futebol, principalmente em cidades como Manaus, Cuiabá e Brasília, todas sem nem sequer ter times com torcida e fluxo de torcedores para justificar esses investimentos, é mesmo algo questionável. Corre-se o risco de os estádios virarem grandes elefantes brancos após a Copa, algo semelhante ao ocorrido com vários deles na África do Sul.

Isso sem falar dos estouros orçamentários cujas causas são pouco transparentes e que elevaram significativamente o ônus ao contribuinte.

Os movimentos que se seguiram não podem ser atribuídos a nenhuma causa específica. As pessoas que de alguma forma se sentiam ultrajadas e queriam expressar seu descontentamento ou reivindicar alguma coisa sobre qualquer tema viram nesses movimentos uma oportunidade.

E, apesar de a quase totalidade agir de forma ordeira e pacífica, em situações como essas, onde não existe uma liderança definida, sempre acaba sobrando espaço para os baderneiros dispostos a destruir e agredir. E são essas imagens de desequilíbrio e aparente instabilidade política e institucional que acabam sendo repassadas e absorvidas pelas pessoas, notadamente as que vivem fora do Brasil.

Apesar de mais do que defensáveis, já que o direito de se expressar livremente é um dos princípios básicos da democracia, os protestos não poderiam ter chegado em hora mais inconveniente.

O mundo, que já não nos via com o mesmo glamour que tínhamos na década passada até em razão das mudanças no cenário mundial, observa agora as imagens aqui geradas com maior preocupação e descrença.

A impressão que fica é a de que estamos de fato saindo de um ciclo no qual a conjuntura sob o ponto de vista externo nos foi bastante favorável e o esforço para continuarmos a desenvolver o país terá que ser ainda maior daqui para a frente.

Contudo, fica a constatação de que boa parte do dever de casa foi feita, permitindo ao país dispor de reservas cambiais confortáveis, capazes de assegurar a estabilidade interna por muito tempo.

Mas fica também claro que, sem dispormos de uma força de trabalho com nível educacional eleva- do e infraestrutura compatível com o crescimento que precisamos ter, estaremos sempre mais sujeitos aos ciclos de humor do mercado mundial.

Uma saída para qualquer parte - MARIA CRISTINA FERNANDES

Valor Econômico - 21/06

Foi a CUT que agitou a reunião das centrais sindicais com o ex-presidente Lula no instituto que leva seu nome. Na véspera, a Prefeitura de São Paulo sacudira como uma bastilha. Naquela tarde em que os sindicalistas procuraram o ex-presidente no instituto, a periferia da cidade, longe da moçada da USP e das câmeras de televisão, aderia às manifestações.

A motivação era queremista, mas a quietude do dono da casa não abriu espaço à pauta. Os sindicalistas desfiaram suas queixas costumeiras da falta de interlocução no Planalto e comunicaram sua adesão às manifestações. Com a hostilidade dos manifestantes às suas bandeiras talvez sejam obrigados a recuar.

A Volvo, uma das maiores fabricantes de ônibus do mundo, pagou R$ 30 mil reais aos funcionários em participação nos lucros e resultados. Os motoristas de ônibus em São Paulo tiveram reajuste acima da inflação. A prefeitura participou da negociação temendo greve, mas o barco adernou do outro lado. Nem a Volvo deve pagar mais um PLR desses nem os motoristas, com o recuo na tarifa, deverão ter dissídio tão generoso. Deve ser por isso que querem aderir, mas é outro o tempo.

Já se passaram oito anos desde que Lula ameaçou chamar os sindicatos para defender seu mandato da turbulência do mensalão. Não foi o carro de som que garantiu o segundo mandato de Lula e a eleição de Dilma Rousseff, mas o gasto de governo e consumidores.

Agora a galera não quer só comida, diversão ou arte. Busca saída para qualquer parte que os Titãs, por tiozinhos, não devem mais saber onde fica.

Naquela época Lula defenestrou Antonio Palocci e se resguardou com a turma do carro de som para se manter no poder. Agora são as duas pontas que parecem unidas para levar o homem de volta. Mercado financeiro e sindicalistas talvez acreditem que só Lula conheça a regência dessa orquestra de acordes dissonantes. O problema é que o ruído agora é novo. Ainda não apareceu um diapasão sintonizado. E não há sinais, pelo que se vê e ouve nas ruas, que o tom esteja em São Bernardo.

O discurso que Dilma e seu partido adotaram mostra que governo e PT querem fazer parte da manifestação como se não exercessem os poderes constituídos. É como se dissessem: queremos as mesmas coisas que vocês e, se não o fazemos, é porque o PMDB e os mercados não deixam. Unam-se a nós que juntos chegaremos lá.

Não é só a presença de Guilherme Afif no governo que obstrui os caminhos do PT.

O marqueteiro sopra no ouvido de Dilma e Rui Falcão e o discurso sai arrumado. Mas não resolve. A nota que a juventude do PT soltou se limita à lógica da dualidade de poder com o PSDB. Não surpreende que tenham sido hostilizados ontem na rua.

Os jovens tucanos soltaram nota que os deixa mais grisalhos que Fernando Henrique Cardoso. Os tucaninhos se recusaram a sair às ruas porque veem nas manifestações um instrumento para desgastar o governo Geraldo Alckmin. Em resposta, os petistinhas redigiram uma nota focada na violência da polícia estadual, como se nela se resumissem as manifestações.

A julgar pela citação solitária na entrevista ao Roda Viva de dois jovens do Movimento do Passe Livre, o economista Ladislau Dowbor talvez seja o que há de mais próximo de "ideólogo" do movimento. Em sua página na internet lê-se uma tentativa de explicar o que se passa na cabeça de uma geração criada longe da rua e cujos pais têm carro na garagem, saem de madrugada de casa, voltam à noite, se jogam no computador ou adormecem em frente à TV: "Se todos nós estamos ocupados em ganhar a vida, em subir nos degraus do sucesso, como as crianças vão entender nosso sacrifício como útil?".

Não é fácil perfilar uma manifestação que trocou as bandeiras por cartolinas escritas a mão. Em sua tentativa, Wanderley Guilherme dos Santos assume o risco de ser rotulado de conservador. Presidente do Diretório Central dos Estudantes da Faculdade Nacional de Filosofia no final dos anos 1950, mandou confeccionar uma faixa giganteë: "Esta faculdade é nacionalista". O embate daqueles dias era a instalação de uma metalúrgica americana no Rio. A faculdade logo ficou repleta de faixas. E o DCE não demorou a descobrir que o engajamento em massa dos estudantes era patrocinado pela concorrente nacional da American Can.

Wanderley Guilherme nunca viu nada igual ao que está nas ruas, mas nesses 60 anos aprendeu a não comprar os fatos pelo seu valor de face. Não se arrisca a dizer onde a coisa vai parar, mas duvida que, pelos elevados custos de participação, os manifestantes prossigam por tempo indeterminado com o mesmo poder de mobilização.

Vê na rápida mudança na estratificação social a criação de um denominador comum para massa tão amorfa de manifestantes. Não é a miséria que gera mobilização popular. A mudança traz expectativas que não param de crescer mesmo quando a situação material, apesar de melhor, já não segue o mesmo ritmo. Fica sempre aquém do que se aspira.

O altruísmo e a juventude sempre andaram juntos bem antes de Wanderley Guilherme chegar ao DCE. Naquele tempo queriam o socialismo, justiça e a África livre do colonialismo. Mas o altruísmo, diz, não basta para fazer dos jovens portadores de futuro. Os jovens altruístas de sua geração construíram o capitalismo brasileiro que está aí sendo contestado pela moçada de hoje.

O futuro é desenhado. E não necessariamente pelas instituições que estão aí. Da diversidade desse movimento talvez surjam novos canais, desde que não se aceite como canalização a depredação de uma assembleia legislativa ou a invasão do Itamaraty.

Está claro que os presidenciáveis de 2014, a começar pela candidata à reeleição, vão mobilizar todos os recursos para canalizar em seu benefício o barulho das ruas.

Se essa moçada busca um jeito novo de fazer a coisa talvez valha procurar perto de casa, na vizinhança que lhes faltou na infância. Carcomidas câmaras municipais, como a de São Paulo, estão para revisar o plano diretor que rege a ocupação urbana. O trânsito por ali é livre, bem como nas audiências públicas que vão discutir o contrato de R$ 46 bilhões para o transporte público. Que levem os cartazes, a irreverência, a persistência e, sobretudo, o altruísmo. Se conseguirem melhorar o ônibus talvez façam uma melhor escolha para presidente.

Despreparo - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 21/06

O governo Dilma não preparou a economia para o novo tranco que vem com o desmonte da política de incentivos promovida pelo Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos).

Não houve ainda nenhuma mudança nos Estados Unidos nem no Fed. Pelo que se sabe das informações passadas pelo seu presidente, Ben Bernanke, na quarta-feira, o despejo de dólares no mercado americano, de US$ 85 bilhões por mês, só deverá começar a diminuir a partir do final deste ano. Entenda-se: não é nem o fim das emissões de moeda destinadas à compra de títulos, nem muito menos o início do recolhimento desses dólares no mercado por meio da revenda dos títulos em poder do Fed. Será apenas o começo de um período de redução das emissões de moeda - e de compra de títulos pelo Fed.

No entanto, apenas com a perspectiva de que, lá na frente, um forte volume de títulos seja devolvido ao mercado, a rejeição de ativos e a retenção de dólares já é enorme.

Diante dessa nova baixa disposição a assumir riscos, a economia do Brasil já não se comporta como em 2008, quando o que chegou a nossas praias foi "apenas uma marolinha".

É que naquele momento ainda havia uma política fiscal bem mais robusta, uma política monetária (política de juros)mais calibrada para o tamanho das fragilidades estruturais da economia e os resultados das Contas Externas eram sólidos. Não levantavam preocupações, como agora, de que, a despeito das reservas internacionais, pode escassear moeda estrangeira.

Durante meses, tanto a presidente Dilma como o ministro da Fazenda, Guido Mantega, vinham se queixando do excesso de dólares nos mercados e não paravam de denunciar, aqui e nos fóruns internacionais, o que chamaram de "tsunami monetário" e "guerra cambial". Queriam a reversão do programa de incentivos praticado pelo Fed. Mas, agora que têm a perspectiva dessa reversão, se dão conta de que o estrago será potencialmente maior do que aquele que temiam antes, quando a operação era inversa.

Pior, essa reversão pega a economia brasileira fragilizada, incapaz de crescer a ritmo satisfatório, com uma inflação que já fura os telhados e com preocupantes vazamentos nos resultados do balanço de pagamentos. E nem se fale na situação política, agora revirada por essas manifestações vitoriosas, com que ninguém contava.

Até o momento, o governo federal resistiu a mudar os rumos de sua política econômica de modo a reforçar as defesas. Entendeu que isso implicaria sacrifícios capazes de colocar em risco a candidatura de Dilma à reeleição. Atenção: a inflação que vem vindo aí, agora em consequência da alta do dólar, não vai ceder apenas porque as autoridades pedem paciência.

O melhor que a presidente Dilma poderia fazer seria acatar a sugestão do ex-ministro Delfim Netto e produzir uma rearrumação da economia que garantisse a obtenção de um déficit nominal zero ao cabo de três anos. Trata-se de apresentar um rigoroso equilíbrio entre receitas e despesas públicas, incluídos aí os juros da dívida. Se anunciada com credibilidade, a nova postura se encarregaria imediatamente de restabelecer um mínimo de confiança que ajudaria a economia a se preparar para o que vem aí.

A política fiscal não é anticíclica? Pois então chegou a hora de colocá-la no ciclo certo.

O Brasil na encruzilhada - REGIS ARSLANIAN

O GLOBO - 21/06
O anúncio da conformação da Aliança do Pacífico, em nosso próprio espaço geográfico, nos pegou no contrapé e serviu para acirrar o apelo para que o Governo se lance, de vez, em negociações de acordos comerciais, na ânsia de evitar a perda irreparável dos poucos espaços que ainda restam para nossos bens industrializados nos mercados mundiais.

Até os EUA e a União Europeia estão negociando a abertura recíproca de seus mercados. É bem verdade que o Brasil, em meio às manobras dilatórias da Argentina, também tem buscado lançar sua bandeira a favor da retomada da negociação Mercosul-UE.

Mas, antes de nos comprometer em novos empreendimentos negociadores, e mesmo com vistas à possível retomada da Rodada Doha, deveríamos adotar, de uma vez por todas, um modelo de negociação de espectro mais amplo, que inclua dispositivos regulatórios, deixando de nos aferrar apenas ao conceito clássico de acesso a mercados, voltado basicamente para calendários de desgravação tarifária.

Hoje, diante da grave defasagem competitiva que vive a indústria brasileira, a negociação de acordos comerciais deveria estar focada em uma dimensão estratégica, que adote, a partir de nossos interesses, padrões globais e uma regulação transfronteiriça para nosso comércio.

Trata-se de estabelecer instrumentos comerciais que nos possibilitem integrar nossas práticas de mercado aos padrões de vanguarda no comércio e nas cadeias de produtividade dos mercados internacionais, ajudando-nos, com isso, a superar ou, pelo menos, mitigar a persistente crise de competividade em que vive o país na indústria de transformação.

Ainda que já tardiamente, não podemos postergar o início de um debate mais aprofundado que identifique, sob essa nova perspectiva, os reais interesses da classe empresarial, que é, afinal, a principal beneficiada - ou prejudicada - nas negociações comerciais. Cabe a ela opinar, em primeira mão, dentro de cada segmento produtivo e comercial, sobre o alcance das concessões a serem efetuadas e dos pleitos a serem apresentados no quadro negociador, de forma a orientar e balizar a posição brasileira. Só assim os acordos comerciais poderão trazer benefícios estruturais para a economia do país.

A proposta do setor empresarial ao Governo deve ser abrangente e precisa, arrolando suas pretensões e também seus limites. Caberá ao Governo e aos negociadores brasileiros a responsabilidade de defendê-la, ao coordenar-se com o Mercosul e na mesa de negociações extrabloco.

A realidade hoje impõe repensar nosso modelo negociador. A menos que nos conformemos em participar como meros coadjuvantes das cadeias de produção global, impedindo-nos de escapar da perversa armadilha de sermos grandes fornecedores de "commodities", mas produtores de manufaturados apenas para o mercado doméstico, crescentemente tolhido, aliás, pela competividade externa.