segunda-feira, junho 10, 2013

A chave errada - J. R. GUZZO

REVISTA VEJA

Os governos do PT perseguem, há mais de dez anos, duas coisas que não existem e por isso, precisamente, nunca conseguirão encontrar nenhuma das duas. A primeira é a fantasia segundo a qual a imprensa livre, que vive expondo seus desastres e conta com a admiração da maior parte do público que acompanha o noticiário, perceba um dia que tem pelo menos três obrigações.


Para começo de conversa, precisa admitir “controles sociais”, aceitando algum tipo de supervisão, ainda não definido, sobre o que escreve, fala ou mostra em imagens, por parte da “sociedade”. Além disso, teria de levar em consideração, por respeito à vontade do eleitorado, os méritos de governos colocados na Presidência da República há três eleições seguidas.

Enfim, deveria desistir do tiroteio que faz em suas informações e opiniões a respeito da inépcia, da corrupção e da burrice da administração, em reconhecimento aos fenomenais índices de “popularidade” tanto do ex-presidente Lula como da presidente Dilma Rousseff.

A segunda quimera é que gastando dinheiro público para criar e sustentar uma imprensa “a favor", pelos mais variados truques à sua disposição, conseguirá anular a voz dos meios de comunicação independentes e levar o jogo, pelo menos a um honroso empate. Essa busca, como no samba Ronda, é inútil, mas o PT, Lula e a sua tropa não desistem: ao contrário, insistem em encontrar a chave capaz de abrir uma solução definitiva para seus problemas com a “mídia”, como gostam de dizer. Mas perderam essa chave no quintal, e estão procurando no jardim. Não vão achar.

Não há registro na história de imprensa que tenha mudado de hábitos ou de conduta por causa de discursos, “audiências públicas”, passeatas de estudantes e sindicalistas pagos pelo governo, ou, para resumir, “pressões da sociedade”. Também não se conhecem casos de autocrítica, arrependimento ou remorso que tivessem levado algum meio de comunicação, por sua própria vontade, a mudar de linha na seleção do noticiário que publica ou em suas opiniões.

Órgãos de imprensa só mudam pela aplicação da força bruta, o que exige a montagem de uma ditadura, ou em troca de dinheiro, caso em que deixam de ter o valor que tinham e passam a não servir para nada.

Nada disso é um dos três segredos de Fátima. Políticos em primeiro mandato já sabem que a imprensa não se incomoda com ataques verbais, barulho de “setores populares” ou mesmo com o bom e velho empastelamento das máquinas, que hoje se transformou em opção inválida — vá alguém tentar quebrar, no braço, uma impressora Cerutti 7, ou uma Frankenthal-KBA Commander CL, para ver o que acontece. Ninguém está ligando, também, para os 101% de popularidade de Lula e Dilma ou para os boletins do TSE com os resultados das últimas eleições.

Veículos da imprensa livre só têm medo, de verdade, de uma coisa: censura prévia. Por via de conseqüência, como gostava de dizer o ex-vice-presidente Aureliano Chaves, o PT tem uma única pergunta a se fazer: dá ou não dá para instalar censura prévia à imprensa, televisão e rádio no Brasil de hoje, sem falar na internet? Se chegarem à conclusão de que não dá, deveriam desistir de ficar procurando a chave no lugar errado e sair atrás de alguma outra coisa para fazer.

Cala a boca, Brasil! - ALEX MEDEIROS

PORTALnoar







Do país do futebol para o país da piada pronta foi um salto quase quântico. O surto de cultura fútil em todas as camadas da sociedade brasileira, mal recheadas por programas de auditórios de péssimo gosto e suas celebridades ocas, está ferrando a nação.

O povo – e aqui se inclui pobres e ricos – avança no rumo de uma imbecilidade coletiva sem fim. Coincidência histórica ou não, a era da sociologia jeca com o PT no poder estabeleceu uma queda acentuada no nível de bom senso. Só tá faltando o Rondon.

No país em que um operário espertalhão constrói um império da indústria ideológica aos moldes de Hugo Chávez e ainda convence parte das elites de que seu “case” é diferente, o grosso da população segue seu mantra de dispensar a prática da leitura.

Fazemos uma História ao avesso cultuando quem ironiza o conhecimento e combatendo quem acumulou cultura. No ambiente esquerdopata das universidades nacionais, a referência é Lula, a indiferença é FHC, nada mais endêmico, pra não dizer acadêmico.

Não por coincidência, esse movimento oportunista de falsear o processo histórico cabe bem na nomenclatura “história de trancoso”, adaptada no Brasil Colônia que levou a sério os “contos e histórias de exemplo”, do português Gonçalo Fernandes Trancoso.

Melhor trocar os adjetivos dos textos ufanos e meter um imbecil no lugar de varonil, caindo melhor na realidade de um país que optou pela ilusão da quantidade em detrimento do valor da qualidade. Quem dita a regra são as estatísticas das pesquisas.

Por que Michel Teló é melhor do que Lenine? Porque vende mais e enche palcos. Por que Ivete é melhor que Roberta Sá? Porque junta multidões no carnaval e frequenta a TV aberta. Por que o governo é bom? Perguntem aos quantificados pelas esmolas.

Dada a incapacidade econômica e cultural de se acabarem os valores e conceitos capitalistas, o Brasil petista alcançou o socialismo cognitivo, onde todas as classes pensam semelhante e agem com a mesma futilidade evacuando sua incultura diária.

O advento das redes sociais na Internet aproximou o que os bairros caros e as lojas chiques separavam. Uma navegada no Instagram ou Facebook e percebemos que a diferença entre uma dondoca e uma doméstica está só no vestido ou na maquiagem.

Nas postagens sobre as tramas e personagens de novelas no Twitter, elas também deixam expostas a similitude das frescuras. Não se distinguem pelo risoto de lagosta e a pizza gigante, mas se assemelham – e como – no exibicionismo que busca notoriedade.

Já a ignorância masculina fica mais evidente nas transmissões de futebol narradas por Galvão Bueno ou pelos caras do canal Esporte Interativo. O primeiro, o mais legítimo símbolo do pachequismo idiota; os outros, candidatos diletos ao legado do próprio.

Na voz do locutor, a TV Globo exercita sua sanha de pontos no Ibope construindo desesperadamente mitos e heróis populares, forjados quase sempre em pseudoglórias momentâneas, como na eternidade besta de noventa minutos num jogo de futebol.

No domingo passado, emissora e locutor colocaram em prática pela enésima vez a dramaturgia narrativa que buscou numa pelada amistosa da seleção brasileira uma falsificada epifania nacional. No picadeiro do Grêmio, uma ópera bufa em dois atos.

Um amontoado de reservas franceses, e dois ou três titulares exaustos, como coadjuvantes de uma comédia rococó dos trópicos. Um joguinho caça-níquel que o Bueno vendeu como vingança épica por derrotas brasileiras seguidas em três Copas.

E não é que o povaréu (pobres e ricos) acreditou na farsa, mesmo vendo o futebol minguado da seleção e a vaia sonora tomada por Neymar, o herói da hora? Chamaram de vitória maiúscula para “apagar” os três vexames impostos pela França desde 1986.

Vejam que o consciente coletivo do país é a ampliação da baboseira do Galvão; onde já se viu conformar-se com uma vitória em amistoso e aceitá-la como troco a três derrotas dentro das copas. Parece a visão enviesada de Lula menosprezando os livros de FHC.

Coitado do jogador Hernanes, caiu na esparrela plantada pelos repórteres em missão especial de patriotada e se assumiu escriba de uma história reescrita. Ajudou a incutir na idiotice geral que os 3 x 0 de ontem foram tão importantes quanto a final de 1998.

Espelhos do ufanismo, jornais dizem hoje que com a goleada o Brasil está pronto para uma retomada. Faço minhas as palavras do jornalista Juca Kfouri, na Folha de S. Paulo: “Pronto? Pronto uma pinoia”. Ainda faltam um futebol culto, um país criativo e um povo bom de jogo.


A bolsa Óleo de Peroba - GUILHERME FIUZA

REVISTA ÉPOCA

O senador Jarbas Vasconcelos é um político fora de moda. Pertence ao PMDB, mas pensa por si mesmo. Não entrou na barca nacional do Governo Popular S. A., tampouco trocou de partido seguindo ventos eleitorais. Não faz proselitismo com o oprimido, não se ouvem dele bajulações retóricas às minorias. Trata-se de um dinossauro - expulso do paraíso progressista, proscrito pelo império dos coitados. Num país onde as verdades são retificadas desde 2003 (o ano zero), o que esse senhor pernambucano diz soa estranho, quase ininteligível. Mesmo assim, para os antiquados que ainda compreendem o idioma pré-delubiano, vale prestar atenção ao que Jarbas disse alguns dias atrás.


Como se sabe, o Brasil assistiu a um corre-corre às agências da Caixa Econômica Federal, irrigado por um boato de que o programa Bolsa Família seria extinto. O tumulto ocorreu em metade dos Estados da Federação. Um fato muito grave. Como conceber uma manipulação em massa nesse nível? Quem teria o poder de orquestrar tal onda de aflição e temor, varrendo meio território nacional?
Após um princípio de informações desencontradas e teses variadas sobre que tipo de terrorismo estaria por trás do fato, veio a surpresa. Nas investigações, um único dado se revelou concreto: a Caixa Econômica antecipara, inadvertidamente, o pagamento a parte dos beneficiários do Bolsa Família. A Caixa chegou a informar que a antecipação fora feita, no fim de semana de 18 e 19 de maio, para dar vazão à onda de saques provocada pelos boatos. Depois se descobriu que o dinheiro já estava nas contas no dia 17 - portanto, antes do corre-corre.

A Polícia Federal chegou a informar que o boato partira de uma central de telemarketing no Rio. Não apareceu mais nada sobre os donos da tal central, ou sobre os mandantes da operação, ou mesmo sobre que central seria essa. A tese da orquestração do boato começou a virar fantasma - o boato do boato.

Não se esqueça de Jarbas, o dinossauro. Ele já volta.

Logo que foi noticiado o tumulto nas agências da Caixa, o governo popular reagiu com prontidão, do seu jeito. A ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos, apontou os desumanos que haviam engendrado o terror. Segundo ela, a “central de notícias da oposição” era a origem provável dos boatos sobre o fim do Bolsa Família. Em seguida, num discurso de palanque em Pernambuco, a presidente Dilma Rousseff declarou que aqueles boatos eram algo “absurdamente desumano e criminoso”.

Na seqüência da reação humanitária contra os inimigos do governo popular, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o ocorrido era vandalismo de gente do mal. O presidente do PT classificou o fato como terrorismo eleitoral.

O caso era nebuloso. Mas os defensores do povo deram um show de clareza e convicção. Os grandes líderes são assim mesmo, anteveem as coisas. Sabem no escuro onde está o inimigo. Aí, o caso foi ficando mais nebuloso ainda, as provas da cruel manipulação começaram a não aparecer (desta vez, parece estar difícil de inventá-las), o Brasil ficou gaguejando e os grandes líderes foram mudando de assunto.

Foi então que Jarbas Vasconcelos subiu à tribuna do Senado. E disse quem estava por trás do tumulto que vitimara os beneficiários do Bolsa Família: Dilma Rousseff. “E a principal responsável pelo sofrimento dessas pessoas”, afirmou. E Jarbas continuou: “Por uma razão ainda não explicada, a Caixa Econômica Federal antecipou o pagamento do Bolsa Família para parte dos beneficiários, e isso criou um boca a boca sobre o fim do programa. O resultado foi aquele que todos conhecemos”. Para Jarbas, o vilão é o mesmo que estoura as contas públicas, que permite a volta da inflação, que usa as instituições para acomodar militantes: o governo da grande gestora. Ele resumiu seu diagnóstico:

- Quem foi o desumano que cometeu esse crime contra os beneficiários do Bolsa Família? Quem foram os vândalos que ofenderam os pobres? A resposta é simples: o governo do PT e seus gestores aloprados.

E como lidar com o vandalismo progressista de Maria do Rosário, Dilma, Lula e companhia, que sempre surgem como faxineiros de suas próprias lambanças? Jarbas tem a solução: “O PT deveria criar o Bolsa Óleo de Peroba, tamanha é sua cara de pau”. Não é preciso dizer mais nada.

A volta do neobobismo - MAILSON DE NOBREGA

REVISTA VEJA


A velha esquerda muito acusou o presidente Fernando Henrique de neoliberal. Numa das vezes, em 1997, FHC reagiu. “Só quem não tem nada na cabeça é que fica repetindo que o governo é neoliberal isso é neobobismo.” Agora, o neobobismo ressurge para fanfarronar as administrações do PT, no livro 10 anos de Governos Pós-Neoliberais no Brasil: Lula e Dilma organizado por Emir Sader (Editora Boitempo).

O neoliberalismo, corrente nascida nos anos 1930, se opunha à intervenção estatal adotada na Europa e nos Estados Unidos para enfrentar a Grande Depressão. Nos anos 1970 defendia a reforma do estado intervencionista ao qual atribuía a perda de dinamismo e o surto inflacionário de então nos países ricos. A esquerda passou a usar o termo em tom pejorativo.

Na América Latina, os mesmos problemas decorriam também das políticas de substituição de importações, que ficaram insustentáveis com as crises do petróleo (1973 e 1979) mas foram mantidas mediante elevação da dívida externa. O modelo ruiu de vez com a moratória mexicana de 1982, que fez secar a fonte de recursos do exterior. A inflação evoluiu para hiperinflação em muitos países.

No Brasil, chegara a hora de rever o modelo, que havia legado uma industrialização ineficiente e uma inaceitável concentração de renda. As bases do modelo eram o fechamento da economia o desregramento orçamentário, a tolerância com a inflação, a concessão de subsídios e favores fiscais a certos segmentos, e a escolha de vencedores pela burocracia.

Era preciso superar a hiperinflação, abrir a economia, redefinir o papel do estado, privatizar estatais ineficientes — inclusive para assegurar o acesso da população a serviços básicos como o das telecomunicações — e construir moderna regulação econômica e de defesa da concorrência. A redistribuição de renda viria com o fim da corrosão inflacionária da renda dos trabalhadores e com programas sociais focalizados nos mais pobres. A universalização do ensino fundamental e novos investimentos em educação eram parte da grande empreitada.

Tais mudanças ciclópicas — "neoliberais" para a velha esquerda — atingiram o auge com FHC. A velha esquerda nunca entendeu a realidade. Manteve suas convicções estatistas mesmo depois da queda do Muro de Berlim. Não percebeu que o fracasso da substituição de importações e também do comunismo tinha a mesma origem, isto é a ausência de incentivos à inovação.

O governo Lula foi o maior herdeiro dessas transformações. O crescimento foi impulsionado pelos correspondentes ganhos de produtividade e pela emergência da China como nosso principal parceiro comercial. Havia, ainda, disponibilidade de mão de obra para incorporar ao processo produtivo. Foi possível, por tudo isso, ampliar os programas sociais, agora unificados no Bolsa Família. Mas o êxito dificilmente viria se o presidente não houvesse abandonado as ideias erradas do PT sobre política econômica.

Isso aconteceu com sua Carta ao Povo Brasileiro (2002). O objetivo era afastar temores de uma ruptura desastrosa, caso o PT ganhasse as eleições presidenciais. Lula jurou cumprir contratos e se comprometeu com o superávit primário do setor público, um dos ícones do que a esquerda via como neoliberalismo. No governo, manteve as privatizações, ampliou o superávit primário e reforçou a autonomia operacional do Banco Central. Lula também seria um neoliberal? Infelizmente, ele abandonou as reformas, o que em grande parte explica a recente queda da produtividade.

Quem mudou rumos foi a presidente Dilma. Ela por certo agrada a neobobos com a ação política sobre o Banco Central, a reinstituição do controle de preços, o protecionismo e outras políticas típicas da era do intervencionismo excessivo e da substituição de importações. Colhe inflação alta e PIB baixo.

O artigo de Sader no livro é uma ode à alienação. Numa de suas pérolas, afirma que a Carta ao Povo Brasileiro contribuiu para a crise política iniciada em 2005, a do mensalão. A origem do maior escândalo político da história seriam a continuidade da política econômica e a oposição, “dirigida por uma mídia privada e refugiada nas denúncias de corrupção contra o governo”. Neobobismo puro.

Quem são as vítimas? - DENIS LERRER ROSENFIELD

REVISTA ÉPOCA

Se há uma dívida do Brasil para com os índios, é justo que ela seja paga por todos - não apenas pelos empreendedores rurais



A questão indígena voltou com força ao debate nacional, pelo recente episódio envolvendo a morte de um indígena, em Sidrolândia, em Mato Grosso do Sul, por ocasião de um pedido de reintegração de posse. A tragédia tem a virtude, por boas e más razões, de atrair os holofotes da mídia. Os mais afoitos - e alguns ideologicamente orientados — já procuram caracterizar os "mocinhos" e os "bandidos". Mas quem são as vítimas?

Os indígenas são vítimas da colonização brasileira, pela ação, no passado, do Estado e da Igreja. São esses os responsáveis pela situação, pela destruição física, cultural e religiosa. Eles não foram - nem são - vítimas da agricultura ou da pecuária. Quando empreendedores rurais são "desapropriados", eles também se tornam vítimas. Não são responsáveis pelo que ocorreu com os indígenas no passado. Não se repara uma injustiça com outra.

Evidentemente, os indígenas têm direito a uma vida digna. Isso é ainda mais válido, pois se trata de uma minoria que sofreu graves injustiças no passado. Seus objetivos não consistem em caçar e pescar, como seus antepassados, mas em ter condições boas de vida, com saúde, educação, moradia e todos os artefatos que fazem parte da vida moderna. Querem postos de saúde, com médicos, enfermeiros e remédios. Não querem a volta do pajé. Querem melhorar de vida com uma escola pública de qualidade. Eis a realidade que Funai, ONGs e movimentos sociais teimam em não reconhecer.

Em torno de 12,5% do território brasileiro é constituído por terras indígenas. São 105 milhões de hectares, para uma população indígena em área rural de 530 mil, segundo as estimativas mais elevadas. Outros 400 mil computados pelo IBGE são indígenas em centros urbanos. Em certos lugares de conflito, como em Mato Grosso do Sul, na região de Dourados, há um problema de explosão demográfica. Isso se repete em outros locais. Convém ressaltar que o Supremo Tribunal Federal (STF), quando do julgamento do caso da Raposa Serra do Sol, vedou a ampliação de terras indígenas.

Quando se demarca uma terra indígena, demarca-se - e reconhece-se - simultaneamente todo o seu entorno. Não é com uma nova desapropriação, ferindo direitos, que se resolve essa questão. O mais racional é comprar terras para os indígenas, segundo a Lei nº 4.132, já usada pela própria Funai no passado - e recusada no presente. Se há uma dívida dos brasileiros para com a população indígena, ela deve ser paga coletivamente, com o dinheiro dos impostos, e não penalizando os empreendedores rurais, que se tornam, eles também, vítimas da atual política da Funai.

Há uma diferença essencial entre desapropriar e expropriar. Na desapropriação, o proprietário rural é ressarcido, de acordo com o valor de mercado, pela terra nua e pelas benfeitorias. No caso das desapropriações indígenas, trata-se de um mero eufemismo, pois ocorre uma verdadeira expropriação. Os empreendedores rurais só são pagos pelas benfeitorias, não pela terra nua. São literalmente abandonados.

A injustiça que sofrem é flagrante. Eles têm títulos de propriedade que remontam a décadas - são muito anteriores à promulgação da Constituição de 1988. Lembremos que o STF considerou essa data, quando julgou o caso da Raposa Serra do Sol, como marco temporal para reconhecer terras indígenas.

Há um foco enviesado ideologicamente no tratamento da questão indígena. Os indígenas são manipulados pela Funai, pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi, órgão da Igreja que segue as orientações marxistas da Teologia da Libertação) e por ONGs nacionais e estrangeiras. Essas entidades seguem um nítido viés anticapitalista, contra a economia de mercado e o agronegócio. Procuram até inviabilizar o desenvolvimento nacional, como temos visto em Belo Monte, usina hidrelétrica em construção constantemente invadida.

Tomemos, agora, o caso em pauta de Sidrolândia. A morte do indígena ocorreu quando era executado um mandado de reintegração de posse posterior a um outro não cumprido - a Polícia Federal, ao executá-lo, fora obrigada a recuar, levando consigo os proprietários, ameaçados fisicamente. Ao ser salvos pela PF, foram obrigados a deixar sua propriedade. Em vez de a polícia executar a reintegração de posse, foram os indígenas que tomaram posse das terras invadidas. O resultado imediato foi o incêndio criminoso da sede da fazenda.

Entre a primeira tentativa de execução do mandado e a segunda, o juiz concedeu dez dias de negociação entre as partes, aí incluindo Funai, Cimi, o Ministério Público Federal e o Conselho Nacional de Justiça. No entanto, Funai, Cimi e as ONGs nacionais e estrangeiras agora alegam que não houve negociação. Negociação, para eles, significa apenas a aceitação de suas condições: a consumação da invasão, em flagrante desrespeito à lei. Entendem que a "negociação" é uma capitulação ante suas demandas.

Se a capitulação não ocorre, ressurgem as ameaças. Elas se consubstanciam em invasões e incêndios. Querem, ao arrepio da lei, que terras com títulos de propriedade, produtivas, lhes sejam simplesmente entregues. Já passou da hora de deixar de falar em "invasão pacífica", expressão usada para encobrir o que é feito pelas lideranças indígenas e por movimentos sociais. Invasão, por si só, é um ato violento. No caso em questão, segundo a Polícia Federal, foram apreendidos revólveres, arcos e flechas e facões. Nada muito "pacífico".

O governo atual, sobretudo a ministra chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, decidiu suspender a identificação e demarcação nos Estados do Paraná e do Rio Grande do Sul, num prenúncio do que deveria ser feito em todo o país. A Embrapa foi chamada para introduzir imparcialidade e isenção na discussão. Qualquer Relatório de Identificação e Demarcação da Funai é, além de ideologicamente orientado, focado em sempre dar razão aos indígenas. Prima pela parcialidade. Jamais lhe ocorre que os indígenas possam não ter razão.

Se o novo caminho for trilhado, o país se encaminhará para a pacificação e o reconhecimento dos direitos envolvidos entre as diferentes partes em litígio. Se a ideologia prevalecer e o governo recuar, o caminho estará aberto à convulsão social e a novas tragédias, de indígenas ou de brancos.

Bonecas de quatro - LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 10/06

Quando digo que feminista não entende nada de mulher ainda tem gente que se espanta


Hoje vou falar de coisa séria: vou falar de mulher. Aliás, nem tanto, pensando bem. Vou falar de feministas e muitas dessas não são exatamente mulheres. E também de gente que quer fazer meninas brincarem com carros e meninos com bonecas em nome da "tolerância". Até quando vamos ter que tolerar esses maníacos em zoar a vida dos filhos dos outros?

O fascismo nunca perde força. Em nome de uma educação para diversidade, os fascistas de gênero agora querem se meter nos brinquedos das crianças.

Quando será que a maioria silenciosa vai dar um basta nessa palhaçada pseudocientífica chamada teoria de gênero na sua versão "hard" (engenharia psicossocial do sexo)? Quando vamos deixar claro que essa coisa de dar boneca para meninos quererem ser meninas é, isso sim, abuso sexual?

Quem sabe, quando as psicólogas e pedagogas tiverem coragem de parar de brincar com a sexualidade infantil fingindo que acreditam nessa baboseira de trocar os brinquedos de meninas com os dos meninos e vice-versa.

Mas, vamos aos fatos. Há alguns anos, assistia eu um pequeno festival de curtas sobre diversidade sexual quando ouvi uma das maiores pérolas desta pseudociência do sexo.

O curta abria com uma cena de sexo em uma cadeia. Um casal, um homem e um travesti, faziam sexo. O travesti de quatro, o homem por trás. Os dois gozavam ao final. O curta seguiu seu curso, mas não é o filme em si que me chamou atenção.

De certa forma, o curta repetia uma das manias chatas do cinema brasileiro: cadeia, bandido, pobre, drogas... haja saco. Cinema preocupado em construir "consciência social" (essa nova categoria da astrologia) é sempre chato e ruim.

Terminado o filme, "especialistas" em gênero fizeram um debate. Na primeira fala, um dos integrantes da mesa protestou contra o fato que na cena o travesti estava de quatro e que isso revelava que os criadores do curta incorriam no pecado da "falocracia".

Calma, caro leitor e cara leitora, não pretendo usar palavras de baixo calão numa segunda-feira. Explico-me: "Falocracia", termo cunhado para parecer chique, significa sociedade dominada pelo poder do macho (falo = pênis, cracia = poder).

Segundo nosso gênio (seria gênia? Não me lembro bem do sexo...), o curta repetia o erro machista de colocar a "fêmea" no lugar da que gosta de ser penetrada por trás.

Para esses tarados em se meter na vida dos outros, as mulheres até hoje "pensam que gostam" de ser penetradas por trás porque foram oprimidas. Risadas? E quando digo que feminista não entende nada de mulher ainda tem gente que se espanta... Feminismo fora de delegacia de mulheres dá nisso: invasão da cama alheia.

Pois bem, agora algumas feministas mais azedas do que o normal querem ensinar as mulheres heterossexuais (essas que muitas militantes julgam compactuar com o inimigo) a transar e propõem a demonização de uma das posições mais preferidas pelas meninas saudáveis: transar de quatro.

Segundo nossas fascistas de gênero, as heterossexuais devem ficar sempre por cima para olhar nos olhos do opressor e jamais (preste atenção: eu disse jamais!), ao fazer sexo oral (melhor não fazer), "jamais engolir sêmen, que é excremento como xixi e coco".

É meninas queridas, um dia desses vão prender vocês se gostarem de ficar de quatro ou de "engolir". A liberdade sexual acabou e em seu lugar nasce a heterofobia.

Quando vamos perceber o fato óbvio de que o feminismo é a nova forma de repressão social do sexo? Principalmente do sexo heterossexual feminino? Ao se meter embaixo do lençóis, essas azedas atrapalham a já difícil vida sexual cotidiana.

Uma coisa é combater crime sexual, salário discriminatório, outra coisa é se meter no modo como as pessoas gozam.

Isso me lembra o filme espanhol de 1991 "El Rey Pasmado" de Imanol Uribe. Neste filme, um casal de nobres sofria "preconceito" porque a mulher gozava muito. Padres e freiras foram chamados para rezar e ajudar a mulher ser "casta" no sexo.

Antes eram as freiras que odiavam o sexo, hoje são as feministas mais chatas: para elas nada de bonecas de quatro.

Orwelliana - LÚCIA GUIMARÃES

O Estado de S.Paulo - 10/06

Qualquer semelhança de fatos no 
texto abaixo com pessoas e situações reais é mera coincidência. Mas logo vai deixar de ser.

Com o café vazio, de manhã cedo, escolhi a mesa preferida perto da janela. Ainda olhava o menu, quando ouvi a voz familiar da garçonete: "Então, foi tudo bem, como sempre?" Meio sonolenta, pensei que ela estava perguntando "o de sempre?" e já ia respondendo que, sim, queria duas doses de expresso no cappuccino, quando ela explicou: "Não, perguntei sobre a colonoscopia. Tudo bem como sempre, não?"

Como é que você sabe, perguntei, como o olhar esbugalhado de Janet Leigh em Psicose. "Ah, é o software. O da companhia de cartão de crédito. Eles têm este novo serviço que revela o que foi cobrado no cartão para os comerciantes. E o gerente me disse que, para acrescentar valor ao nosso serviço, eu devo puxar papo como os clientes habituais. Preferia que você tivesse comprado uma bolsa na Fendi mas a última cobrança que apareceu foi a da clínica onde você esteve ontem." E ela saiu, faceira, para a mesa seguinte, dando por encerrada sua falsa expressão de empatia.

Será que consigo me acostumar?

A Target telefonou para minha casa perguntando se os enjoos já passaram. Que enjoos? "Você não está grávida? Está aqui na minha tela. Você encomendou um aquecedor de mamadeiras e um porta-fraldas." Bati o telefone. Pior foi a minha vizinha de 85 anos. Ela divide um cartão de crédito com a neta e a moça foi batizada com o nome da avó. Pois a foto da minha vizinha apareceu numa loja on-line que cita depoimentos de clientes satisfeitas com seus vibradores. Os mais jovens parecem achar natural. Fui levar minha afilhada de 10 anos para o treino de basquete na escola. Jogo intenso e competitivo, com bloqueios e faltas que a técnica marcava. Durante um rebote, sobrou uma cotovelada para a menina com posse da bola. As adversárias se olharam furiosas, sem se encostar, e começou o bate-boca na quadra: "Só você mesmo, com um pai que teve a linha de crédito cancelada na Tiffany..." "E você? Sua mãe foi presa com LSD em Berkeley em 1979!" "E o seu irmão, que encomendou filmes pornôs da Amazon?" "Melhor do que a sua tia, que pagou pela lipoaspiração com um cheque sem fundo!"

Não quero me acostumar.

Mas a sensação de estar sendo vigiada é como uma bactéria que vai contaminando toda a rotina. Coloquei a garrafa de sabão de óleo de rícino no carrinho de compras. É bom para massagear o couro cabeludo. O rapaz do estoque me olhou fixo. Na TV acima do caixa, a imagem da atriz grávida indiciada por enviar cartas como o veneno ricina para o presidente Obama e o prefeito Bloomberg. Ela tentou implicar o marido, dizendo que havia óleo de rícino na geladeira e que ele "googlou" Obama e Bloomberg. Coloquei o sabão de volta na prateleira.

É como disse um senador que, como todos os seus colegas com acesso a briefings de inteligência, estava careca de saber que todos os nossos telefonemas são registrados e nossas comunicações por e-mail e SMS estão à disposição da Agência de Segurança Nacional: as corporações privadas já fazem muito pior há anos. Mas uma corporação privada não pode me prender, negar minha entrada no país nem ativar a Receita Federal para me perseguir.

Depois do obtuso George W., com seu olhar de coelho assustado, o sorriso sinistro e seu orgulho em ter sido um estudante medíocre, respiramos aliviados com a chegada de um professor de Direito Constitucional à Casa Branca. Barack não perde uma oportunidade de dar aula. Explicou que a violação da privacidade é uma inconveniência necessária. E, como quem acalma seus filhos no meio da noite após um pesadelo, garantiu que não está escutando nossas conversas. Com sua clareza didática, disse que acha bom ter a oportunidade de debater tudo isso com o povo americano. Ué, ele não passou os últimos quatro anos e meio escondendo tudo o que veio a público em três dias e só tocou no assunto depois do vazamento?

Bem, o Big Brother Obama parece sincero quando promete que não vai abusar da quantidade abusiva de dados que coleciona sobre a nossa vida. Ufa. Voltei a dormir. E sonhei que o senador ultradireitista Ted Cruz tinha sido eleito presidente em 2016. E agora, Barack?

LOUCO POR TÍ, CORINTHIANS - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 10/06

O ex-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Cezar Peluso, 70, diz que a avaliação do novo integrante da corte, Luís Roberto Barroso, de que o julgamento do mensalão foi "um ponto fora da curva" é "pessoal". "Tem muita gente que acha que não", afirma Peluso. Ele conversou com a coluna na semana passada, no lançamento do livro "Ministro Magistrado", com algumas de suas decisões em dez anos de STF.

O que o senhor está fazendo?

Estou inscrito como advogado, mas só trabalho em pareceres e consultorias. Advocacia de fórum é para jovem. Eu não. Estou fazendo parceria com escritórios em SP e em Brasília. Tenho que respeitar a quarentena de três anos no Supremo. Nos outros tribunais, posso trabalhar.

O senhor tem se dedicado só a essa atividade?

Só. E a torcer para o Corinthians. São as minhas grandes atividades ultimamente.

O que achou da escolha de Luís Roberto Barroso para o STF?

O professor Barroso é muito preparado, está à altura do cargo. Foi uma boa escolha.

Ele tem um perfil liberal.

Em algumas coisas é mais liberal, em outras nem tanto. Isso não é relevante, mas sim o que ele pode trazer de contribuição ao Supremo. Acho que ele tem bagagem intelectual para isso.

Ele diz que o julgamento do mensalão foi um ponto fora da curva no STF. Concorda?

Ele quis dizer que a corte teria sido mais rigorosa. É uma avaliação pessoal. Tem muita gente que acha que não.

O senhor acha o quê?

Eu não acho nada. Eu nem participei do julgamento. Só um votinho pequeno.

Foi ruim não ter participado?

Nem bom nem ruim. Eu estava preparado, se o julgamento alcançasse ainda o meu tempo de permanência. Não alcançou. Fiz o que tinha que fazer. E ponto final.

Qual é a avaliação que o senhor faz da presidência de Joaquim Barbosa?

Não faço avaliação nenhuma do Supremo. Saí de lá.

A criação de novos TRFs (Tribunais Regionais Federais) ajuda a desafogar a Justiça?

Atrapalhar não atrapalha, com certeza.

Os gastos seriam de R$ 700 milhões?

Acho que podem ter sido superestimados. Não chegam a esse volume que estão pensando. E tem mais: as vagas podem ser preenchidas progressivamente. Não precisa ser tudo de uma vez. Podem se ajustar o orçamento e as necessidades.

CRIME E CASTIGO
O Ministério Público recebeu mais de 3,2 milhões de inquéritos policiais no ano passado em todo o Brasil --redução de 32% em relação a 2011 (4,8 milhões). Pela primeira vez, o órgão rastreou os crimes mais comuns que chegam até ele. Foram os delitos contra o patrimônio, como furtos, roubos e extorsão mediante sequestro. Eles representaram cerca de 37% dos casos (1,2 milhão).

CRIME 2
Dos crimes dessa modalidade, 79% ainda estão sendo investigados pelas promotorias estaduais e federais, 7% foram arquivados e 12% resultaram em denúncias --quando os suspeitos são identificados e os processos seguem para a Justiça.

CRIME 3
Na sequência do ranking elaborado pelo Conselho Nacional do Ministério Público, aparecem as lesões corporais, com 638 mil inquéritos recebidos, e os crimes contra a vida, que superaram 467 mil. Se o Congresso aprovar a lei que reduz o poder de investigação dos promotores, a polícia terá exclusividade em apurações do âmbito criminal.

CAIU NA REDE
O escritor Fernando Morais está lançando, em parceria com o cineasta Claudio Kahns, uma loja virtual para vender seus livros em formato digital em inglês, espanhol e francês, no endereço blitzbookstore.com. O anúncio foi feito na semana passada em Washington. Entre os convidados estavam a ativista Angela Davis e o jornalista Ignacio Ramonet.

CAIU NA REDE 2
A ideia de Morais, que tem dez livros publicados em 41 idiomas --entre eles, "A Ilha", "Olga", "Chatô" e a biografia de Paulo Coelho--, é vender as obras por US$ 9,99.

DÓ-RÉ-MI
Eduardo Suplicy (PT-SP) vai tocar piano hoje à noite, em apresentação dos alunos da professora Marilena Guimarães. O senador, que faz aulas toda segunda desde 2006, executará uma adaptação do "Concerto nº 2" de Rachmaninoff. A audição, gratuita, será no MuBE.

BOLSO
Luiz Flávio D'Urso determinará hoje a suspensão das regras das OABs estaduais sobre a advocacia "pro bono" (prestação de serviços gratuita e voluntária). Ele é relator do tema no conselho federal da OAB. O colegiado nacional irá agora regulamentar o assunto.

ARCO-ÍRIS
Depois de convidar, por meio de anúncios publicitários, os deputados Marco Feliciano (PSC-SP) e Jair Bolsonaro (PP-RJ), o pastor Silas Malafaia e a cantora Joelma para o Mix Brasil, o festival de cinema gay prepara novos apelos. Chamará agora a ex-atriz e deputada Myrian Rios (PSD -RJ) e a psicóloga Marisa Lobo, incentivadora do projeto de "cura gay". A campanha é da Neogama/BBH.

A FILHA NÚMERO 4 DO PATRÃO
À frente do "Cante se Puder" e do "Roda a Roda Jequiti", ambos no SBT, Patricia Abravanel afirma ser a artista que mais grava na emissora de seu pai, o também apresentador Silvio Santos.

Capa da revista "Joyce Pascowitch" deste mês, ela comenta a sua relação com o ex-dono do Baú. "[Ele] Não gosta de sapato plataforma ou algo muito chamativo, que distraia a atenção do telespectador."

E, aos 35 anos, nega suposto envolvimento com o jogador do Corinthians Alexandre Pato, 23: "Os [homens] mais novos não têm nada a ver comigo. Gosto dos acima de 38. Se puder, 40 ou mais".

CARLOS FAZ ARTE
O artista plástico Carlos Nunes inaugurou a exposição "Modus Operandi" na galeria Raquel Arnaud. Os artistas Ding Musa, Sandra Cinto e Albano Afonso, a curadora Cristina Burlamaqui e o arquiteto Gui Sibaud compareceram ao vernissage.

PELA ORDEM, MERITÍSSIMO
O advogado Arnaldo Malheiros Filho, a juíza Camila de Jesus Mello Gonçalves e o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Francisco Rezek foram à noite de autógrafos do livro de Peluso, na livraria Saraiva do shopping Pátio Higienópolis, na quinta.

CURTO-CIRCUITO
O filme "Minha Mãe É uma Peça" tem pré-estreia para convidados hoje, às 21h30, no Cinemark Eldorado. 12 anos.

A Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania promove seminário para a Guarda Civil Metropolitana de hoje a sábado.

A atriz Laura Neiva abre o porta-joias e mostra seus acessórios para o portal MdeMulher nesta semana.

A guia turística de luxo Flavia Liz Di Paolo, de SP, figura entre as melhores profissionais do mundo na edição britânica da revista "Condé Nast Traveller".

Em fogo brando - PAULO GUEDES

O Globo - 10/06

A piora na economia atingiu em cheio a popularidade da presidente Dilma Rousseff. Mais inflação e menos crescimento derrubaram a aprovação de seu governo nas pesquisas de opinião pública. A estagflação, essa mistura de estagnação econômica com a persistente alta de preços, é uma ameaça à sua reeleição em 2014. Caíram as intenções de voto na presidente, embora continue sendo a favorita em todas as simulações contra Marina Silva (Rede), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB).

A desaceleração do crescimento e a reaceleração dos preços confirmam uma tese em que tenho insistido. A de que somos prisioneiros da armadilha social-democrata do baixo crescimento. A inapetência por reformas de modernização, a desatenção com o regime fiscal e com as metas monetárias, a regulamentação inadequada em setores de energia e infraestrutura, tudo isso desestimula o ritmo de investimentos na economia.

Apesar da queda nas intenções de voto, Dilma tem ainda o suficiente para vencer seus adversários no primeiro turno. Nas simulações em que Lula é o candidato do PT em seu lugar, a vantagem dos petistas fica ainda maior. A esperteza política dos tucanos, de mexer na Constituição para permitir a reeleição de FH, tornou-se uma verdadeira maldição eleitoral para seus candidatos. O melhor cenário para os oposicionistas na eleição de 2014 é que a estagflação cozinhe em fogo brando a candidatura de Dilma, sem derrubá-la a ponto de tornar necessário reconvocar Lula. Nesse caso, uma subida gradual das intenções de voto em Marina, Aécio e Campos poderia forçar o segundo turno. E só uma aliança oposicionista poderia derrotá-la.

Dilma enfrenta agora um problema com sua equipe econômica. O pífio desempenho da produção e o agravamento das expectativas inflacionárias adversas nos últimos meses levaram a uma vertiginosa perda de credibilidade de seu ministro da Fazenda e do presidente do Banco Central. A Fazenda reduziu impostos para amaciar os índices de inflação. E só agora o Banco Central deu sinal de vida, acelerando a alta dos juros. Mas, com o anúncio iminente de crédito bombando para baixa renda na aquisição de móveis, geladeira, fogão etc., torna-se difícil a reversão das expectativas inflacionárias. A equipe é fraca, e suas políticas, erráticas.

O curto e o longo prazo - RENATO JANINE RIBEIRO

Valor Econômico - 10/06

Uma revolução ética ocorreu no Brasil, nos últimos anos. Refiro-me à inclusão social, que não só melhorou a vida dos mais pobres mas também retirou da miséria a maior parte de quem vivia na pobreza extrema. Uma condição indigna, mas que deve envergonhar não o miserável e sim os que aceitam que um país "que não é pobre, mas injusto" (a expressão é de Fernando Henrique Cardoso) tenha parte significativa de sua população seriamente prejudicada porque contou com o azar, na loteria do nascimento, de vir ao mundo numa família pobre ou muito pobre.

Pouco se fala do caráter ético dessa grande mudança na sociedade brasileira. Na verdade, a maior parte do que se diz sobre ética na política, em nosso país, se limita à corrupção. Ela é inaceitável e vezes sem conta já a ataquei, aqui ou em cursos. Mas ela é difícil de medir e, assim, a acusação de corrupto facilmente se presta a ajustes de contas políticos. Mais que isso: o tema do desvio do dinheiro público é geralmente utilizado para retirar a atenção da máxima indignidade política, que é tolerar, num país que não é pobre (repito), a injustiça que é a miséria e mesmo, à medida que a economia progride, a pobreza. Alguns exemplos. Começo em 2000, quando o "New York Times" publicou uma matéria, "Rich Brazilians rise above rush-hour jams", assinada por seu correspondente Simon Romero, na qual vários entrevistados se orgulhavam de que São Paulo fosse a terceira cidade do mundo em número de helicópteros privados; poucos atentaram para o choque de tanto dinheiro dispendido em conforto particular, em face de gritantes problemas sociais na mesma metrópole (encontra-se em www.nytimes.com/2000/02/15/world/sao-paulo-journal-rich-brazilians-rise-above-rush-hour-jams.html). Recentemente, a luz lançada sobre o estilo de vida dos dois filhos de Eike Batista chamou a atenção não tanto para o luxo deles, mas para a aceitação da desigualdade, sem muitos problemas, em nosso meio social. E talvez o marco no jornalismo brasileiro, nesta área, ainda seja "Grã-finos em São Paulo", livro de Joel Silveira que abria com a reportagem-título, de 1943, seguindo-se uma matéria sobre as péssimas condições de trabalho dos mineiros de Santa Catarina: um contraste discretamente apontado, que marcou época, mas nem por isso mudou a sociedade.

Medidas como a Bolsa Família e as ações afirmativas para o ingresso no ensino superior reduzem o azar do nascimento. Ambas deveriam ser plenamente endossadas por liberais autênticos. Isso porque um princípio básico do verdadeiro liberalismo é que, se não precisa haver igualdade no ponto de chegada, ela tem de existir no ponto de partida. O ideário liberal recusa o paternalismo que há, por exemplo, quando se perdoam a indolência ou a incompetência (no "ponto de chegada"). O liberal quer a concorrência. Mas esta só é legítima se todos partem do mesmo patamar. Se um começa a corrida com chumbo preso nas canelas, está errado. É a mesma coisa que alguém entrar na competição da vida com uma formação familiar e escolar deficiente. A Bolsa Família pretende reduzir a deficiência no primeiro ponto, as ações afirmativas na segunda.

Mas, se há este forte sentido ético nas políticas de inclusão social - em especial na mais consolidada Bolsa Família, elogiada até pelo FMI e com efeitos mostrados em estudos sérios, entre os quais o recente "Vozes do Bolsa Família", de Walquiria Leão Rego - elas, justamente por serem altamente éticas, não devem durar muito tempo. Explico-me. Elas procuram atender a uma emergência. Emergência, em linguagem médica, não se confunde com urgência: porque não é apenas pressa, é risco de vida. Falando metaforicamente, a pobreza pode ser letal para a sociedade. Ela requer tratamento rápido. Eliminar a fome, por um lado, e proporcionar acesso à universidade, por outro, são duas pontas desse tratamento.

Essas medidas são uma espécie de UTI da sociedade. Mas, por isso mesmo, não podem durar muito tempo. Passado o tratamento intensivo, chega a hora da clínica. E cabe a pergunta: o que será o Brasil, uma vez atingido um nível decente de inclusão social? O que pretendemos para o país, quando tudo o que depende da sorte e do azar em nossa vida social tiver cedido a vez ao que resulta do mérito e do empenho? Porque hoje nossa sociedade não está hierarquizada com base nos méritos, mas sim na diferença de nascimento, temperada sim, mas apenas em parte, pelo empenho de cada um. Dizem que nas famílias de ricos o primeiro monta a fortuna, o filho a gasta e o neto a esgota - o que quer dizer que a incompetência pode durar duas gerações. Deveria durar menos.

Insisto. Temos duas tarefas importantes. Uma é completar os avanços sociais destes anos. Falta muito. A força do PT e a fraqueza do PSDB têm-se devido, desde 2002, à maior competência e empenho do primeiro nesta direção. Mas a outra tarefa é pensar o depois. Não haverá depois, porém, sem o antes. Não se pode usar o futuro como desculpa para não resolver, no presente, o legado ruim de um passado que inclui a escravidão. Mas os tucanos fariam bem em não minimizar a herança maldita - que não é deles, é do país - e os petistas agirão corretamente se, mesmo quando são coroados pelos elogios da diretora do FMI, tiverem a clara noção de que a Bolsa Família e as cotas na universidade não vieram para ficar, mas devem depois ser sucedidas por projetos mais sustentáveis e permanentes de país. Aí, talvez, a premência ética não seja a mesma, porque teremos saído do estado de emergência social; haverá ainda uma questão ética, mas que já não cabe no espaço da coluna de hoje.

Retrocesso orçamentário e democrático - GIL CASTELLO BRANCO

O Estado de S.Paulo - 10/06

No mês passado, opiniões do presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, manifestadas no meio acadêmico, provocaram reações imediatas dos presidentes da Câmara e do Senado. Algumas frases, como "temos partidos de mentirinha", "querem o poder pelo poder" ou "o Congresso é inteiramente dominado pelo Poder Executivo", despertaram polêmica, mas refletiram o óbvio.

Exemplo dessa relação subserviente e até promíscua entre o Legislativo e o Executivo se dá no Orçamento-geral da União. A cada ano, o Congresso se apequena e abre mão de suas prerrogativas constitucionais. O Plano Plurianual (PPA) 2012/2015, aprovado a partir de mensagem encaminhada pelo Poder Executivo em 2011, definiu as políticas públicas federais com a finalidade de organizar sua atuação de forma a alcançar eficiência e eficácia.

A inovação dessa versão vigente é que o elo entre o PPA e o Orçamento não é mais a ação orçamentária, papel agora supostamente desempenhado pelas "iniciativas" constantes do próprio Plano. Ocorre que não existe na Lei Orçamentária Anual (LOA) a classificação "iniciativa" associada ao valor autorizado da despesa. No Projeto de Lei Orçamentária Anual (Ploa) constava, somente, em um dos anexos, a associação entre as ações orçamentárias e as "iniciativas".

Assim sendo, é uma odisseia verificar se os programas e as ações orçamentárias são compatíveis com as "iniciativas" e metas do PPA. Travestido de decisão técnica para o aperfeiçoamento da metodologia, o modelo atual adotou classificações genéricas que muitas vezes não estabelecem vínculos entre o PPA e a LOA. Dessa forma, passaram a ser consignadas nas leis orçamentárias dotações "guarda-chuvas", de conteúdo genérico e sem finalidades e objetivos específicos, em prejuízo da transparência e do controle social.

À época, diante das reclamações das Consultorias de Orçamento e Fiscalização da Câmara e do Senado, por meio da Nota Técnica n.° 8, o Executivo prometeu compensar a perda de informação na LOA com o Plano Orçamentário (PO), forma infralegal para detalhamento da despesa.

O Congresso chegou a aprovar dispositivos que regulavam os POs, mas, infelizmente, o Executivo vetou-os ao sancionar a Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2013. A proposta do Congresso estabelecia que os POs deveriam permitir o monitoramento da ação governamental pela sociedade. O governo justificou os vetos dizendo: "O Plano Orçamentário é um instrumento gerencial, de caráter facultativo, e tem por finalidade permitir que tanto a elaboração do orçamento quanto o acompanhamento físico e financeiro da execução ocorram num nível mais detalhado. Os dispositivos em questão ampliam demasiadamente os objetivos do PO, de tal forma que seria inexequível abarcar todas as situações ali previstas". Essa justificativa se revelou uma falácia.

A promessa de esmiuçar as despesas via POs não foi cumprida. Consulta simples ao Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), da Secretaria do Tesouro Nacional, evidencia que até agora o detalhamento dos POs é pífio. Da despesa global orçamentária para 2013, 98% estão classificadas como "não atribuído" a qualquer PO.

Paralelamente, além das dificuldades para acompanhar a execução dos programas e ações que oficialmente existem, são inúmeros os "programas fantasia" anunciados com pompa e ufanismo pelo governo, mas sem relação direta com as classificações, programas e metas constantes do PPA 2012/2015. Nesse caso estão alcunhas como Brasil Sem Miséria, Brasil Carinhoso, Mais Educação, Saúde da Família, Rede Cegonha, Saúde Não Tem Preço, Olhar Brasil, Brasil Sorridente, Bolsa Verde, Brasil Maior, dentre outras.

As dificuldades para o monitoramento são tantas que até hoje a Consultoria de Orçamentos, Fiscalização e Controle do Senado Federal, apesar da excelente equipe técnica que integra o Siga Brasil, ainda não conseguiu tornar disponíveis os "Orçamentos Temáticos" para 2013, como os da Mulher, Segurança Alimentar, Criança, Igualdade Racial, Educação e Meio Ambiente, o que vinha acontecendo há cerca de 10 anos.

No caso do "Orçamento Mulher", é clara a perda de transparência. Em 2011, a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres contava com quatro programas finalísticos que possuíam 21 ações vinculadas. No ano passado, passou a existir um único programa, com 14 ações. Neste ano, o tal programa tem apenas cinco ações, para desespero do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA), que realiza notável trabalho em favor da cidadania das mulheres.

É lamentável que as mudanças tenham prejudicado o controle do dispêndio federal por parte da sociedade. E, como tudo o que é ruim sempre pode piorar, a prática opaca já está sendo adotada por Estados e municípios. Embora o marketing oficial enalteça o acesso à informação e a abertura dos dados, essas novidades execráveis estão promovendo o retrocesso democrático e dificultando a participação social e popular.

É, portanto, necessário que os parlamentares que tenham compromisso com o controle social criem uma Frente Parlamentar a favor da transparência orçamentária. Afinal, já basta a babel constituída pelos "três orçamentos existentes", representados pela LOA, pelos restos a pagar bilionários e pelos créditos extraordinários criados por medida provisória no apagar das luzes do ano passado.

É provável que alguns deputados e senadores nem sequer tenham a dimensão das dificuldades causadas pelas alterações no PPA e na LOA, com as quais acabaram concordando ao não derrubar os vetos. No entanto, alertados como estão pelas consultorias da Câmara e do Senado, além das entidades que acompanham as despesas públicas, caso não tomem alguma providência, irão confirmar, com o silêncio e a omissão, as opiniões do ministro Joaquim Barbosa e de grande parcela da sociedade brasileira.

Expectativas de inflação - FABIO GIAMBIAGI

O GLOBO - 10/06

Se no passado a meta de inflação era de 4,5% e agora assiste-se complacentemente ela ser de 6%, que garantias há de que daqui a cinco anos ela não será de 8 %, e daqui a dez anos de 10%?


Em matéria de inflação, o Brasil ingressou nos últimos anos em terreno delicado. Durante 5 ou 6 anos, na segunda metade da década passada, o país ficou num meio termo relativamente aceitável, quando tinha uma meta de inflação de 4,5%, em geral respeitada. Não tínhamos aumentos de preços tão pequenos quanto os observados nos países “nota 10” em matéria de inflação — como Alemanha, Suíça ou, aqui perto, Chile ou México —, mas também éramos uma economia na qual o cidadão podia ficar razoavelmente seguro de que a inflação seria moderada e estável, e portanto não vivíamos em um lugar onde as pessoas temessem uma inflação alta. A pergunta que eu dizia nas palestras sobre conjuntura era: “Dá para botar a mão no fogo garantindo que daqui a 10 anos a inflação em hipótese alguma ultrapassará os 10%?” Até 2010, minha própria resposta a essa pergunta era um sonoro “Sim!” Confrontado com tal pergunta, um suíço teria dificuldades para entender o sentido dela: para ele, imaginar uma inflação de 10% no seu país é um despropósito tão grande como para um carioca responder se acha que vai nevar no Rio. Nesse sentido, estávamos virando um país normal. Já considerando o que estava acontecendo com a inflação entre 2011 e 2013, dava para hesitar antes de responder àquela pergunta.

O presidente da Fundação Agricultura Sustentável, opinando sobre questões agrícolas, disse certa vez que “o Brasil é um país em que as pessoas acham muito, observam pouco e não medem praticamente nada”. A frase vem a calhar para analisar o “oba-oba” em que se transformou a discussão de política monetária no Brasil, com “achismos” de todo tipo daqueles que torcem (como se fosse um jogo de futebol) para a Selic ser a menor possível.

Que os economistas erram muito, é de uma evidência que dispensa maiores comentários. Que a economia monetária está longe de ser uma ciência exata, é algo que ninguém nega. Porém, quando se tem dezenas de Bancos Centrais (BCs) no mundo acumulando experiência na matéria, milhares de artigos acadêmicos sobre tais questões avaliando todo tipo de situações e “n” especialistas testando modelos para melhor entender e prever a evolução de algumas variáveis chave da economia, é preciso ter certo respeito pelo trabalho técnico daqueles que dedicaram anos ao estudo do tema. Como disse certa vez Alan Blinder, um proeminente acadêmico dos EUA e ex-Diretor do Banco Central daquele país (o FED), “você pode tomar decisões sobre política monetária recorrendo aos melhores modelos que existem, mesmo sabendo que há uma incerteza sobre os seus resultados; ou você pode decidir consultando o seu tio”.

Uma das coisas que nós economistas aprendemos nas últimas décadas é sobre o papel fundamental que as expectativas passaram a desempenhar na economia. E nesse sentido, a chamada “desancoragem das expectativas de inflação” produzida no atual Governo ameaçava ser o pior legado que Dilma Rousseff deixaria para o vencedor das eleições de 2014 — eventualmente, a própria. Anos atrás, quando se perguntava aos participantes da pesquisa Focus que inflação eles esperavam 2 ou 3 anos à frente, todos cravavam 4,5%. Nos últimos anos, isso mudou. No começo de 2012, a inflação prevista pelo mercado para 2014 era de 4,9% e recentemente chegou a 5,8%. Pior: mesmo a inflação prevista para 2016 passou a ser de mais de 5% (5,2%).

Para entender as raízes do processo, temos que lembrar a frase de Leon Festinger, psicólogo autor da teoria da dissonância cognitiva, segundo a qual o ser humano tem a propensão a ignorar a realidade quando ela vai contra suas crenças. Dizia ele que “uma pessoa com convicção dificilmente muda de opinião. Mostre-lhe fatos e números e ela questionará suas fontes. Se você utilizar a lógica, ela não o entenderá”. A teimosia ideológica estava começando a levar a inflação por caminhos perigosos. A pergunta que não queria calar era: se no passado a meta de inflação era de 4,5% e agora assiste-se complacentemente ela ser de 6%, que garantias há de que daqui a 5 anos ela não será de 8 % e daqui a 10 anos, de 10%? É preciso que a meta oficial de inflação volte a ser crível. É por isso que o BC voltou a subir a Selic, já que a inflação precisa retornar aos 4,5%. Resta esperar que ele não deixe a tarefa pela metade.

'Derrepentemente', mais engenheiros - MIGUEL JORGE

O Estado de S.Paulo - 10/06

O Brasil parece ter acordado para o sério problema da escassez de mão de obra em Medicina e Engenharia. Levantamento do governo mostra que faltam 50 mil médicos em todo o País e deveriam se formar ao menos 70 mil novos engenheiros por ano para acompanhar o número de projetos nas mais diversas frentes de trabalho. Passando ao largo da carência de médicos e da polêmica em torno da proposta de importar profissionais de outros países, uma boa notícia ganhou espaço nos jornais.

Pela primeira vez, o número de calouros em Engenharia superou o de Direito. Em 2006, segundo o Ministério da Educação (MEC), 95 mil estudantes ingressaram na área (5% do total de calouros das faculdades). Em 2011 já eram 227 mil (10% do total) e a quantidade de calouros em Direito caiu 4%. Esse crescimento na procura por Engenharia reflete a demanda aquecida por profissionais da área, necessários para superarmos os graves gargalos na infraestrutura, que atravancam nosso crescimento e desenvolvimento.

Os números mostram que os estudantes estão atentos ao mercado e às oportunidades geradas pelo crescimento, que estimula projetos na construção civil, siderurgia, metalurgia, automação, telecomunicações, petroquímica, etc. Mas é preciso cautela na avaliação desse avanço. O próprio ministro da Educação, Aloizio Mercadante, foi realista: os ingressantes em Engenharia são insuficientes para resolver a carência da área.

O déficit é expressivo: foram 45 mil graduados, em 2011, para uma necessidade de 70 mil a 95 mil engenheiros todos os anos, até 2020. A Coreia do Sul, com 49 milhões de habitantes (aqui somos cerca de 190 milhões), forma 80 mil engenheiros ao ano. Não há solução milagrosa: para garantir o crescimento e obter o mínimo de competitividade no cenário internacional, é fundamental reverter nosso cenário de 2,48 engenheiros para cada 100 mil habitantes. No Japão são 17, e na China e nos EUA são 13,8 e 9,5, respectivamente.

Mas o mais preocupante é constatar que menos da metade dos estudantes de Engenharia consegue se formar, em razão de um velho problema de nossa educação: o despreparo e a falta de domínio dos conteúdos exigidos para um desempenho adequado na educação superior. Os estudantes chegam às universidades sem conhecimentos essenciais para a qualificação profissional. Recentemente, o presidente do Instituto de Engenharia, Aluízio de Barros Fagundes, reconheceu que as escolas de Engenharia gastam o primeiro ano para ensinar fundamentos de Matemática, Física e Química.

Não por acaso, dados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) de 2009, da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apontam que é muito baixo o porcentual de nossos estudantes com habilidades mínimas em Matemática. O exame, que avalia o desempenho em leitura, Matemática e Ciências, foi feito por cerca de 470 mil estudantes de 15 anos em todo o mundo.

Os resultados mostram, de forma contundente, o enorme déficit de habilidade em matemática entre nossos estudantes: coube-nos um triste 57.º lugar. O teste avalia os alunos em seis categorias, com níveis progressivos de dificuldade, e a grande maioria de nossos jovens (88%) situou-se até o nível 2. Só 3,8% conseguiram nível 4 para cima (no 6, o mais alto, nosso resultado foi de 0,1%), e este, sem dúvida, é um dos requisitos capazes de garantir sucesso a alunos das áreas de exatas e tecnológicas.

Os países da OCDE, que reúne as economias mais avançadas, tiveram desempenho bem superior: enquanto somamos 386 pontos, a média dos países foi de 495. Na Coreia do Sul, 51,8% dos alunos estão acima do nível 4 na avaliação de Matemática do Pisa. No Canadá são 43,3% e na China, 71,2%. Isto é: proporcionalmente, esses países têm pelo menos dez vezes mais alunos aptos para as áreas de exatas e tecnológicas que o Brasil.

Mais grave é que nossas autoridades parecem ainda não se dar conta da urgência e da gravidade de nossos problemas na educação. É evidente a necessidade de investimento eficiente, consistente e focado nos anos iniciais de aprendizagem, pois o problema começa nesta etapa. Precisamos melhorar a base, os anos iniciais do ensino fundamental, pois a insuficiente aprendizagem ao longo da educação básica impede que se adquiram as habilidades esperadas, em cada série, em disciplinas básicas como Português e Matemática.

Voltando aos dados do início, é importante repetir que a quantidade de calouros em Direito caiu 4% - uma boa notícia, pois já temos uma reserva de profissionais mais que suficiente para atender à demanda na área. Com uma agravante: há problemas recorrentes de qualificação, como demonstram os resultados do 9.º Exame da OAB, divulgados em março. A reprovação foi de 89,7%: dos 114.763 candidatos, só 11.820 foram aprovados, ou só 1 em cada 10 inscritos conquistou o direito de advogar.

Os números da área são superlativos. Temos 754.685 advogados (1 profissional para 256 habitantes), segundo a OAB, a mesma proporção dos EUA (1 para 253). Ainda segundo a OAB, 100 mil pessoas se formam em Direito anualmente. Levantamento do Inep mostra que, entre 1999 e 2011, a quantidade de matriculados foi de 328,7 mil para 722,8 mil, crescimento de 120%.

Nos últimos 20 anos, o número de faculdades de Direito passou de cerca de 200 para 1.260, ante 1,1 mil em todo o mundo (!). Além disso, mais de cem instituições esperam por autorização do MEC para entrar no mercado - e tudo indica que esperarão por muito tempo, pois o próprio Ministério diz que não autorizará novos cursos de Direito. A medida, correta, chega tarde.

Entre os profissionais de Direito, o excesso de oferta, somado à falta de qualificação, resulta, no mínimo, em ataques brutais à língua portuguesa, como o que surpreendeu um amigo dia destes, em correspondência de seu advogado: o profissional garantiu que "derrepentemente" o juiz poderia encerrar a causa.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP - 10/06

Intenção de compra cai ao nível de setembro de 2009
A propensão ao consumo do paulistano caiu 8,3% em maio, ante o mesmo período do ano anterior, e atingiu o menor patamar desde setembro de 2009, de acordo com índice da FercomercioSP que varia de 0 a 200.

O indicador ficou em 128,2 pontos --valores acima de cem significam que a população está satisfeita.

O declínio da intenção de compra é decorrentes da alta dos preços, segundo Guilherme Dietze, assessor econômico da entidade.

"A inflação pode estar em 6,5%, mas a específica de alimentos e bebidas chega a quase 14%. Isso tem um impacto muito grande nas famílias, principalmente nas de baixa renda", afirma Dietze.

"O crescimento dos preços corrói o poder de compra e a população adota uma posição mais defensiva."

Na tentativa de manter o padrão de consumo de bens básicos, os paulistanos estão recorrendo ao crédito para complementar a renda, diz.

Em abril, o endividamento na cidade aumentou cinco pontos percentuais na comparação com março, também de acordo com levantamento da FecomercioSP.

"A sorte é que temos quase pleno emprego, o que permite que a inadimplência fique baixa", acrescenta.

Com menor possibilidade de adquirir novos bens, a população diminuiu o gasto com produtos mais caros.

Entre os subitens que compõem o índice de intenção de consumo, o "momento para [bens] duráveis" registrou queda de 9,7% na comparação com maio de 2012.

O nível de compras atual recebeu avaliação ainda pior, com 94,2 pontos --retração de 11,7%.

Foram entrevistadas cerca de 2.000 pessoas na cidade de São Paulo.

COMPARADOR DE RENTABILIDADE
A XP Investimentos lança uma plataforma de renda fixa, que, semelhante ao home broker na negociação de ações pela internet, permite comparar a rentabilidade de vários produtos e comprar títulos públicos e privados.

Além disso, o cliente poderá acompanhar diariamente os seus investimentos, como em um extrato.

"Para renda fixa, não tinha cotação. Precisava ligar para um por um, era difícil comparar", diz Guilherme Benchimol, fundador e CEO da XP Investimentos.

"Fornecedores de todo tipo de produto, como LCA (Letra de Crédito do Agronegócio) e debêntures diversas, estão ali. Isso é inédito no país. O cliente compara e, ao apertar um botão, já pode transacionar."

A plataforma dá transparência ao investidor pessoa física, defende. A ferramenta começou na última terça-feira, e o número de contas abertas na semana passada dobrou, afirma. A XP encerrou 2012 com 60 mil clientes.

"A meta é dobrar a base neste ano. No início de 2012, buscávamos entre R$ 70 milhões e R$ 80 milhões ao mês. Hoje, são quase R$ 500 milhões mensais."

Taxas de juros para instituições financeiras no país sobem 10%
Com os juros em baixo patamar no primeiro trimestre deste ano, as taxas de seguros para instituições financeiras cresceram 10%, ante o mesmo período de 2012, segundo a corretora Marsh.

"Quanto menores forem os juros, menor será a rentabilidades dos bancos, que precisarão assumir riscos maiores, de forma mais agressiva, para conseguirem a rentabilidade de que necessitam", afirma o diretor-executivo da empresa, Eduardo Takahashi.

"As operadoras acabam tendo de se proteger", diz.

"A alta da Selic pode trazer um alívio nesse sentido, mas, normalmente, quando se emite um seguro, não se faz uma análise econômica muito profunda. O principal item levado em consideração é o histórico das instituições financeiras", acrescenta.

Dos 20 países analisados pela corretora, nove registraram alta nas taxas de seguros, outros nove permaneceram estáveis e apenas dois tiveram queda (na Índia, a retração chegou a 10%, nos Emirados Árabes, a 20%).

Na Europa, a tendência foi de alta. "As instituições financeiras da região continuam enfrentando dificuldades, e os temores sobre a economia local geram preocupação entre as seguradoras."

CAÇA-TALENTOS
Em oito anos, a participação da América Latina no Page Group, multinacional de recrutamento, passou de 1% para 14%.

"O mundo está mudando e tentamos acompanhá-lo. Diversificamos nossa atuação e crescemos em regiões que não eram tradicionais para nós, como Ásia e América Latina", diz a diretora global de RH do grupo, Kate Chapman, que esteve no Brasil.

A executiva, porém, afirma que o market share da empresa no país poderia ser maior, especialmente em São Paulo.

"Conforme qualificamos profissionais, temos um maior potencial de expandir a marca."

INDENIZAÇÃO GARANTIDA
Dois seguros de responsabilidade civil começam a ganhar espaço no Brasil com o crescimento dos setores de animais domésticos e de pesquisas laboratoriais.

Um deles, da Chubb, é para os testes clínicos em seres humanos, ou "Clinical Trail", como é conhecido. A modalidade ampara os desenvolvedores do estudo por eventuais danos corporais causados aos voluntários.

"O Brasil faz 60% das pesquisas laboratoriais da América Latina e possui 600 laboratórios. A demanda por esse tipo de proteção aumenta no país", diz Acacio Queiroz, CEO da Chubb.

O outro, da AIG, é para animais de estimação. Criado para cães e gatos, a apólice garante indenização ao dono em caso de morte acidental do animal e cobre danos físicos e materiais contra terceiros.

"O seguro irá proteger o dono dos altos custos de possíveis indenizações e de serviços emergenciais", diz Henrique Faria, da AIG.

Cães de algumas raças, como pit bull, porém, não são aceitos na apólice.

REPASSE ENERGÉTICO
A cessão de excedentes de energia elétrica proporcionará contratos de maior duração entre o mercado livre (formado por grandes consumidores) e as geradoras, de acordo com a Anace (associação dos consumidores).

"Com a permissão de negociar o que não foi utilizado, o consumidor não ficará exposto a uma possível volatilidade do setor. Isso favorece a confecção de contratos mais longos", afirma Carlos Faria, presidente da Anace.

Uma portaria do Ministério de Minas e Energia criou o modelo que entra em vigor em fevereiro de 2014.

"Com a portaria, os contratos de longo prazo deverão crescer 20%", diz Faria.

O repasse do insumo energético trará também maior liquidez ao setor, conforme Marcello Mello, CEO da Brixx.

"A medida nos possibilitará oferecer o excedente ao mercado com um valor justo e negociar conforme o interesse de cada um."

Lupa... Um grupo de trabalho começará nesta semana a fiscalizar se empreendimentos imobiliários construídos no litoral cearense possuem licenças ambientais em dia.

...imobiliária A mobilização é do Ministério Público Federal no Ceará e da Polícia Federal, em parceria com órgãos da área ambiental, com o intuito de flagrar irregularidades.

Prejuízo... Uma audiência pública na Câmara dos Deputados vai debater, no próximo dia 12, o desperdício de energia eólica por falta de linhas de transmissão em parques do país, como na Bahia, no Ceará e no Rio Grande do Norte.

...eólico Foram convidados representantes do Ministério de Minas e Energia, da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), da Chesf (Companhia Hidro Elétrica do São Francisco) e do Ministério Público Federal.

Sangue na água - JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO

O Estado de S.Paulo - 10/06

O governo, através de seu líder, Arlindo Chinaglia (PT-SP), calcula que só 150 deputados são fiéis à presidente Dilma Rousseff. É menos de 30% da Câmara. Parece pouco, mas é muito. O Basômetro mostra que a fidelidade canina à presidente é menor. Bem menor.

No seu primeiro ano de governo, Dilma podia contar com 306 deputados federais e 37 senadores em nove de cada dez votações de interesse do governo no Congresso. Em 2013, esse "núcleo duro" de apoio está reduzido a 103 deputados e 31 senadores. Só dois de cada três contabilizados por Chinaglia são mesmo fiéis.

"Identidade ideológica e política com o governo"? Ok, mas pode chamar de petista: dos 103 deputados que votaram 90% das vezes ou mais a favor do governo este ano, 79 são do PT. Os outros raros 24 se dispersam entre PMDB, PP, PTB, PR, PC do B, PV, PSC, PDT e DEM (sic). Nenhum do PSB. Nenhum do PSD.

Em 10 anos de dinastia petista, o "núcleo duro" nunca foi tão pequeno. De uma bola de futebol em 2011, virou uma bolinha de tênis em 2013. Nem na crise do mensalão, em 2005, o coração do lulopetismo pulsou tão fraco no Congresso. Por quê?

"Talvez Lula dedicasse maior tempo ao contato com as lideranças políticas. E Dilma talvez dedique menos tempo a esse tipo de ação", especula Arlindo Chinaglia. Talvez?

É certo que Dilma não gasta seu tempo como Lula. Não é certo que essa seja a raiz da crise na base governista. Crise? Que crise?

Dilma perdeu três de 36 votações nominais na Câmara este ano - metade do que perdeu em 2012. Perder nunca é bom, mas três derrotas não configuram uma crise. A crise é a ameaça permanente de crise.

Políticos farejam oportunidades de aumentar seu poder tão rapidamente quanto tubarões percebem sangue num aquário. Um governante ferido é uma fonte irresistível de proteína para as ambições dos selachimorphae brasilienses. E Dilma está ferida?

Mesmo após perder 8 pontos no Datafolha desta semana, a presidente ainda tem mais popularidade do que qualquer antecessor na mesma altura do mandato. Mas o que vale é a perspectiva de poder, não o passado. Os adversários e aliados de ocasião olham para frente e enxergam um filete vermelho.

O cheiro de sangue percebido pelos tubarões do Congresso vêm de duas fontes: 1) sinais de que a inflação e o pibinho devem se estender até o ano eleitoral de 2014; 2) pesquisas anteriores, não divulgadas, que já apontavam menor apoio popular à presidente. Isoladas, significam pouco. Juntas, dão margem às oscilações da base governista que alavancam Cunhas e Eduardos.

Para sangrar o governante, os tubarões não precisam impingir derrotas sucessivas. Basta criar a expectativa da derrota. Foi o que aconteceu com Dilma na interminável votação da MP dos Portos: o governo ganhou, mas de forma tão sofrida que reforçou a imagem de fragilidade. É o mesmo roteiro que o líder do PMDB, Eduardo Cunha, ameaça repetir na votação dos vetos presidenciais.

Em 2011, 67 deputados do PMDB irrigavam o coração do apoio a Dilma na Câmara: votaram mais de 90% das vezes com a presidente. Em 2013, os 67 viraram 8, e nenhum dos que eram 100% Dilma no primeiro ano do governo continua no "núcleo duro" do dilmismo. A criação de dificuldades para venda de facilidades explica boa parte da mudança de comportamento peemedebista.

Não é o mesmo caso do PSB de Eduardo Campos. Quando ele era só o governador de Pernambuco, o PSB tinha 92% de governismo e 26 de seus 30 deputados integravam o "núcleo duro" de apoio a Dilma na Câmara. Em 2013, com Campos presidenciável, a taxa média de governismo do partido desabou para 75% e nenhum deputado socialista permanece no clube dos fiéis à presidente.

Comercialização de facilidades e fricções eleitorais só tendem a aumentar. Junho terá mais pesquisas sobre a popularidade da presidente. Outra queda equivaleria a sangue na água - com potencial de deflagrar uma espiral muito mais desagradável para Dilma do que as turbulências do avião presidencial.

A aposta certa - RAUL VELLOSO

O GLOBO - 10/06

A volta de um giro de apenas duas semanas em países menos desenvolvidos da Europa mostrou na carne como nossa infraestrutura é precária e inferior à do resto do mundo. Além disso, a leitura da mídia atrasada revela como a percepção sobre o desempenho econômico brasileiro vem se deteriorando nos últimos tempos. Essas coisas estão fortemente interligadas.

As condições caóticas que os brasileiros estão enfrentando na área de transportes mostram que os governos foram longe demais no abandono aos assuntos da área. Só se tem pensado em aumentar gasto corrente e, com exceção da fase 1995-2002, a postura das autoridades é claramente hostil ao investimento privado. Isso é muito curioso, pois se dá exatamente na hora em que os investidores mais preparados deveriam ser cortejados para suprir as deficiências da gestão pública com investimentos de alta qualidade.

Na economia, a queda dos investimentos e do crescimento do PIB mostram que o modelo exacerbado pró-consumo, que vem sendo idolatrado nos últimos tempos, já não tem mais vez. Ele se alimenta primeiro do gasto público corrente, cujo forte crescimento pressiona a carga de impostos para cima, sufocando o setor privado, e deixa o investimento em transportes de fora. Não é de hoje que o gasto público corrente cresce tanto. Mas só foi possível levá-lo agora aos píncaros por conta das reformas e ajustes que vieram com o Plano Real. Só que estamos de novo às vésperas de perder o controle sobre a dívida pública.

O modelo se alimenta também da forte expansão do crédito, que era muito baixo em 2002 e cujo peso no PIB já dobrou! Qualquer um percebe que essa parte da rota já se estreitou. Não há como um país suportar um crescimento tão forte do crédito para o resto da vida. Dentro de um modelo pró-consumo, uma hora falta produto ou serviço para entregar à demanda explosiva, e aí vem a inflação.

A terceira peça-chave do modelo pró-consumo é o forte crescimento da massa salarial que tem resultado de todo o processo recente, e que, no fundo, é a menina dos olhos do marketing governamental, pelo que implica em termos de ganhos de popularidade. Mas não há lanche grátis. Uma hora isso também bate na inflação.

O forte crescimento do consumo num mundo abundante em divisas e onde os mercados de industrializados são dominados fora do Brasil leva ao forte crescimento do setor serviços, incluindo os respectivos salários e emprego, pois não há como importar serviços em geral e é fácil importar os primeiros.

O aumento de salários resvala para os demais setores, onde a indústria tende a crescer menos por não poder pagá-los, mas felizmente a agricultura desempenha um papel crucial. Na indústria, são as importações que desempenham papel estratégico, para tristeza de seus defensores. Já na agricultura, como, ao contrário e talvez por consequência, os preços sobem lá fora, agradeçamos a Deus nossa forte vantagem comparativa na dotação de recursos (temos, inclusive, a maior área agricultável ainda não ocupada no mundo) e por termos sido capazes de desenvolver ou absorver tecnologias que nos tornaram campeões. Assim, a despeito dos altos custos da infraestrutura precária, temos crescido fortemente a produção agrícola e gerado empregos e as divisas adicionais que dão vida bem mais longa ao modelo pró-consumo.

O aumento do preço de serviços em relação aos da indústria equivale a uma apreciação real da taxa de câmbio, que passa a ser a sua tendência natural. E, num mundo abundante em capitais baratos, essa tendência só se acentua.

A agricultura aumenta a vida útil do modelo, mas, resumidamente, o seu esgotamento se mostra: 1 — pelo descalabro das contas públicas; 2 — pelos altos índices de inadimplência; 3 — pela tendência à apreciação cambial real, que sufoca particularmente a indústria; 4 — pelo encolhimento relativo desta, cuja força política é desproporcional à sua participação relativa no PIB; 5 — pela tendência à pressão salarial, agravada pelos baixos índices de desemprego atuais; 6 — pela alta inflação dos serviços, em que pese a ajuda, na maior parte do tempo, da apreciação cambial; 7 — pelo aparente término da fase de preços favoráveis das commodities de exportação.

Assim, a ênfase da política governamental tem de ser redirecionada do consumo para o investimento, e a infraestrutura, sob liderança privada, tem, obviamente, de ser o carro-chefe do novo processo. Primeiro, pelo caos existente, que não tem como ser resolvido sem maiores investimentos locais, que surgiriam naturalmente se o governo agisse de outra forma. Segundo, pelos ganhos de produtividade que são inerentes à expansão dos investimentos nesse segmento. Só que não adianta apenas anunciar planos de expansão. É preciso sair do discurso à ação, despindo a camisa ideológica antimercado e pró-eleição que tem prevalecido, e que desde 2007 tem produzido empreendimentos de baixa qualidade ou nenhum. Como é difícil cortar gasto corrente e há competência, disposição e recursos abundantes na área privada, por que não jogar todas as fichas nessa aposta?

Volta Lula? - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 10/06

Os pessimistas com os rumos da economia preferem Lula a Dilma, segundo o Datafolha. Em um cenário com os mesmos adversários, o ex-presidente tem 43% das intenções desses votos contra 29% de Dilma. A preferência por Lula se repete entre os que temem a alta da inflação (48% x 40%) e a escalada do desemprego (48% x 39%). No geral, o estrago para Dilma é maior entre os eleitores preocupados com perdas no próprio orçamento (sua preferência cai de 51% para 31%).

Padrinho 1 Lula é o mais popular entre os menos endinheirados. Ele supera Dilma entre os que ganham até dois salários mínimos (62% x 56%) e na faixa de dois a cinco mínimos (54% x 47%).

Padrinho 2 Dilma vai melhor no grupo com renda entre cinco e dez salários mínimos (44% x 41%) ou mais de dez mínimos (36% x 31%).

Regionalista Aécio Neves (PSDB), candidato de oposição favorito na região Sudeste (21% das intenções de voto), destoa em São Paulo (16%), onde Dilma tem 47%.

Sabe-tudo Marina Silva dispara entre os eleitores com nível superior: passa de 16%, na média nacional, para 29%, chegando perto de Dilma, que cai de 51% para 34% nas intenções desse grupo.

Na base... Em São Paulo, a preferência por Geraldo Alckmin (PSDB), com 52%, na média do Estado, sobe a 56% entre os que ganham até dois salários. E cai para 42% entre os paulistas com renda superior a dez mínimos.

.. e no topo Na classe alta, Paulo Skaf (PMDB) encosta em Alckmin: passa de 16%, que tem no geral, para 35%.

De longe O ministro petista Aloizio Mercadante (Educação) é o que tem melhor desempenho entre o eleitorado com ensino superior completo, passando de 11% de intenção de voto para 18%. Oficialmente, o ministro diz que não é candidato.

Quem? Já o ministro Alexandre Padilha (Saúde), que é candidato, tem 6% das intenções entre os eleitores que declaram o PT como partido preferido. Em outros cenários, José Eduardo Cardozo (Justiça) foi citado por 7% dos pró-PT, Aloizio Mercadante por 22% e Lula por 45%.

Tô fora José Aníbal não participará do governo temporário de Guilherme Afif, grande adversário de seu grupo político. O secretário de Energia de São Paulo pediu licença até quinta-feira, quando Alckmin retorna de sua viagem oficial a Paris.

Imagem A propaganda que o PSDB de São Paulo exibirá na TV a partir do fim do mês tem como um dos focos a ética. O partido dirá que a gestão tucana gasta o dinheiro do contribuinte de maneira correta e transparente.

Caso a caso Em um esforço para aprovar o projeto que define o crime de terrorismo antes da Copa de 2014, parlamentares tentarão mudar o texto para evitar que protestos sejam enquadrados. O PT e o governo temem que atos do MST possam ser considerados terrorismo.

Lupa Advogados que acompanham o mensalão do DEM apontam erro do Superior Tribunal de Justiça, que desmembrou a ação penal na semana passada. A corte só julgará o caso de Domingos Lamoglia, conselheiro do Tribunal de Contas do Distrito Federal. Os demais 36 réus ficarão na primeira instância.

Onde pega Entre os denunciados está o ex-governador de Brasília José Roberto Arruda e três deputados distritais (Benedito Domingos, Rôney Nemer e Aylton Gomes). Seus defensores dizem que eles deveriam ser julgados pela segunda instância porque têm foro privilegiado.

tiroteio
"Quando coisas ruins entram na casa do povo, a reação acontece na hora. Essa é a pesquisa da inflação 6,5."
DO SENADOR JOSÉ AGRIPINO MAIA (DEM-RN), relacionando a queda de popularidade de Dilma Rousseff à expectativa de alta na inflação para 6,5%.

contraponto


Modéstia mineira
O pai do senador Aécio Neves (PSDB-MG), o ex-deputado federal Aécio Cunha, morto em 2010, telefonou certa vez para o presidente do PSDB de Teófilo Otoni (MG), que era dono de uma transportadora:

--Meu amigo, será que você me faria um favorzim'? Preciso transportar um feijãozim' aqui do sítio e, se você tiver um caminhãozim' sobrando aí...

--Claro, doutor Aécio, será um prazer --respondeu.

O motorista foi logo ao sítio, mas ligou para a empresa:

--Patrão, é melhor o senhor mandar uma carreta. Olha, nunca vi tanto feijãozim' assim na minha vida.