quinta-feira, maio 30, 2013

Zico, “craque do Maracanã”, transformou pecha em elogio - RENATO MAURÍCIO PRADO



O MELHOR JOGADOR DO MUNDO EM TODOS OS TEMPOS!


Vestiário do ginásio da Gávea (na época, o único do clube), após o treino do time de vôlei do Flamengo. O ano era o de 1971; o mês de julho. Buscava eu uma toalha, quando vislumbrei nosso roupeiro encolhido num canto, radinho de pilha colado ao ouvido, desligado do resto do mundo. Me aproximei e ele sussurrou, com um sorriso largo: “O Zico está estreando no time de cima”!

Claro, todo atleta rubro-negro sabia quem era o Zico. O lourinho da minha idade que fazia a torcida chegar mais cedo ao Maracanã, só pra assistir às suas diabruras, nos jogos do campeonato juvenil, disputados nas preliminares. Ele era a grande esperança da maior torcida do país, que vivia anos difíceis, de amplo predomínio do Botafogo, do Fluminense e até do Bangu — o último título do Fla tinha acontecido em 1965.

Naquela noite, o Fla venceu o Vasco por 2 a 1 e o gol da vitória foi do desengonçado Fio Maravilha, em passe de Zico. Simbólico: o início da carreira de um e o (o próximo) fim da história folclórica do outro. Prenúncio de troca de guarda. Estava chegando a era dos craques de verdade. Mas não tão rapidamente...

Lançado por "Don Fleitas Solich", Zico foi devolvido aos juvenis quando Zagallo assumiu, em 1972, ano em que o Flamengo voltaria a ser campeão, com um time em que pontificavam Paulo César Caju e o argentino Narciso Doval. Naquela temporada e na seguinte, chegou a fazer alguns jogos entre os profissionais, mas foi a partir de 1974, já com Joubert como treinador, que se firmou de vez, assumindo a camisa 10, que tinha sido de Dida, o grande artilheiro que era o seu ídolo.

Ir ao Maracanã deixou de ser, então, para os rubro-negros, sinônimo de sofrimento, como vinha sendo na maior parte dos anos 60 e início dos 70. Bem ao contrário, virou certeza de prazer.

Antes de me tornar jornalista, vi Zico campeão pela primeira vez em 1974. O time nem era tão bom, mas a dupla de ataque formada por ele e pelo Diabo Louro Doval enchia os olhos. E havia ainda Geraldo Assoviador no meio-campo. Um jovem de imenso talento, como Zico — que, infelizmente, morreria dois anos mais tarde numa simples operação de amígdalas.

Já como repórter, em 1976, eu estava atrás do gol à esquerda das tribunas quando o camisa dez perdeu o pênalti na decisão da Taça Guanabara contra o Vasco (Geraldo desperdiçaria outro, em seguida, sepultando as chances rubro-negras e dando o título aos cruz-maltinos). Mas desde o ano anterior (1975), Zico já começara a despontar como o artilheiro que se tornaria o maior da era do velho Maracanã, com a incrível marca de 333 gols em 435 jogos.

Foi a partir de 1978 que se iniciou a espetacular sequência de títulos do Flamengo, que culminaria com o Mundial Interclubes, em 1981, passando pela Libertadores (no mesmo ano) e por três títulos brasileiros (1980, 1982 e 1983). Dia de Zico era dia de show no “Maior e Mais Belo Estádio do Mundo”, como costumava repetir em seus bordões, o famoso locutor Waldir Amaral.

“Golaço, aço, aço!”, não se cansava de urrar outro grande “speaker” da época, Jorge Curi, assumidamente rubro-negro e fã do “Galinho de Quintino”, como inspiradamente o “batizou”. Difícil dizer quais foram seus gols mais bonitos. Raro era o “Galo” fazer um gol feio. Ou deixar de marcá-los.

Por causa de seu impressionante índice de aproveitamento no estádio, parte da imprensa paulista, movida por inveja e bairrismo, apelidou-o de “craque do Maracanã”, sugerindo que fora dele, pouco fazia. Pois sim. Nos três títulos brasileiros que ganhou antes de se transferir para a Udinese (e até no quarto, em 1987, após sua volta), Zico se cansou de balançar as redes do Morumbi, do Pacaembu, do Brinco de Ouro, do Moisés Lucarelli e de onde mais jogasse em São Paulo, ou em qualquer outro estado do Brasil. Nos campos da paulicéia, entretanto, parecia haver um gostinho especial, por causa da tola provocação do início de carreira.

O principal estádio carioca, contudo, acabaria se tornando mesmo o seu maior palco e a alcunha “Craque do Maracanã” deixou de ser pejorativa para se tornar justa homenagem. Foi lá que o vi fazer gols decisivos em três das quatro finais de Brasileiro das quais participou: 3 a 2, sobre o Atlético Mineiro; 1 a 1, no primeiro jogo contra o Grêmio (a taça viria após mais duas partidas no Olímpico) e 3 a 0 sobre o Santos, quando atuou contundido e já sabendo que estava negociado para o futebol italiano.

Com Zico em campo, o lado esquerdo do estádio estava sempre em estado de graça, pronto para explodir de emoção e alegria. Suas cobranças de falta se tornaram uma marca inesquecível e são citadas até hoje pelos craques que o sucederam (como fez Petkovic, naquele chute magistral, “à la Zico”, aos 43 minutos da decisão do Campeonato Carioca de 2001, contra o Vasco.

Seria exagero dizer que Arthur Antunes Coimbra foi o melhor jogador que vi no velho e inesquecível “Maraca” — afinal, diante dos meus olhos desfilou algumas vezes naquele gramado o Rei Pelé, o “Deus de todos os Estádios”, como o chamava Waldir Amaral. Mas que o “Galo” foi o supercraque que me permitiu contemplar, naquele campo, o maior número de lances sublimes pelo mais longo período de tempo, nem se discute.

Por isso, no coração dos rubro-negros que tiveram a benção de vê-lo em ação haverá sempre a doce lembrança da arquibancada estremecendo, quando no velho placar eletrônico surgia o número 10 e a voz rouca do locutor da Suderj, anunciava: ZICO.

(* Texto escrito para a revista especial sobre o Maracanã, publicada hoje no GLOBO)

Somos muitos ou somos poucos? - CONTARDO CALLIGARIS

FOLHA DE SP - 30/05

Vamos desaparecer por crescermos demais ou por extinção, como pandas que se reproduzem pouco?


Na sexta passada, imobilizado na av. Nove de Julho enquanto se aproximava a hora da sessão de cinema para qual tinha adquirido meu ingresso, eu pensava que, decididamente, somos muitos. Em compensação, sozinho, à noite, numa fazenda na região do Urucuia, em Minas Gerais, ou numa ilha de Angra, já me aconteceu de pensar que somos muito poucos.

No fim de semana, li o novo livro de Dan Brown, "Inferno" (editora Arqueiro). O romance me divertiu menos do que "O Código Da Vinci" e "Anjos e Demônios" (ambos da editora Sextante); mesmo assim, terminei em dois dias.

O tema da vez é o crescimento demográfico. O vilão da história acha que o mundo tem um único problema sério: a humanidade está crescendo de tal forma que, em breve, sua subsistência se tornará impossível.

Todas as inquietações ecológicas (a perspectiva da falta de água potável ou de alimentos, o aquecimento global etc.) seriam, de fato, consequências do crescimento enlouquecido de nossa espécie --fadada a desaparecer por seu próprio sucesso.

Quantos humanos nasceram na Terra desde a aparição do homem? Há estimativas para todos os gostos. Segundo uma delas, mencionada no livro, foram 9 bilhões desde o começo, e 7 desses 9 estão vivos hoje.

A boa notícia é que, se o Juízo Final fosse hoje e todos os mortos voltassem, haveria sem problema espaço para todos ficarmos sentados durante o julgamento divino. Mas o cálculo não deixa de ser inquietante.

Mesmo sem acreditar na estimativa que acabo de mencionar, é certo que o crescimento populacional se acelerou de uma maneira bizarra. Éramos 1 bilhão em 1804, levamos 150 anos para chegarmos a 3 bilhões (nos anos 60), e passamos dos 7 bilhões em 2011. Em 2050 poderíamos ser 10 bilhões.

Obviamente, num primeiro momento, nem todos sofreriam de forma igual --afinal, desde que viajo em classe executiva, nunca encontrei um problema de "overbooking".

Mas, no fim, será que vai caber todo mundo? Não seria honesto desejar grandes epidemias purificadoras?

Ora, enquanto Dan Brown me convencia de que somos muitos, a "Veja" de sábado passado publicou uma matéria de capa sobre as mulheres que decidem não ter filhos. O olho anunciava: "o número de famílias brasileiras sem filhos cresce três vezes mais do que o daquelas com crianças".

Em geral, quanto mais um povo se desenvolve cultural e economicamente (ou seja, quanto mais um povo se parece com o Ocidente moderno e desenvolvido), tanto menor é o número médio de filhos por família.

A explicação desse fenômeno (quase uma regra sem exceções) é que, na cultura ocidental moderna, os filhos são criados e amados na esperança de que realizem os sonhos frustrados dos pais.

E, se essa for nossa expectativa, melhor ter um ou, no máximo, dois filhos, para podermos concentrar nossos esforços na hora de fazê-los felizes. Isso sem contar o número (crescente em nossa cultura) de homens e mulheres que decidem não ter filhos e se concentrar em sua própria felicidade.

Enfim, para que a espécie não encolha, é preciso que, em média, haja 2,1 filhos para cada dois adultos --ou seja, se todos casarem, nove em dez casais devem ter dois filhos e um deve ter três. Uma boa metade da população da Terra (incluindo o Brasil) não está fazendo o necessário para repor seus mortos.

Temporariamente, haverá (já está havendo) deslocamento de populações dos lugares menos modernizados e mais pobres (onde a população ainda cresce) para os lugares mais ricos, onde ela diminui. Mas, e depois disso, se todos se "modernizarem"?

Em conclusão, quem tem razão, "Veja" ou Dan Brown? Vamos desaparecer porque estamos crescendo demais? Ou vamos desaparecer por extinção, como os pandas, que deixaram de se reproduzir como deveriam?

Não sei. Poderíamos sumir numa catástrofe ecológica antes de ter diminuído o suficiente para que a Terra nos aguente --ou antes de ter inventado uma nova maneira de viver, que a Terra aguente melhor. Ou, inversamente, poderíamos minguar até sumir.

De todo modo, a ideia do fim de nossa espécie é fascinante --um alívio, por tornar nossa morte individual menos relevante, e um horror radical, por nos condenar a morrer de novo e para sempre, no esquecimento.

Para meditar sobre nosso sumiço futuro, confira o "O Mundo sem Ninguém", no History Channel (www.migre.me/eLEu2) ou o original "Life After People" (no YouTube), com seu aplicativo para celular.

Mortalidade infantil - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 30/05

Será divulgado hoje o novo relatório do Unicef sobre a situação da infância no mundo. O Brasil aparece relativamente bem na fita.

O país reduziu em mais de 70% o índice de mortalidade de crianças abaixo dos cinco anos. Em 1990, a cada mil crianças nascidas vivas 58 morriam antes de completar cinco anos. O relatório mostra que hoje este número é de 16.

Ainda assim...
Isso ainda representa quase o dobro de países como o Chile, onde a taxa é de nove mortes para cada grupo de mil crianças que nascem vivas.

Miss negra Salvador
Salvador, cidade de maioria negra, vai sediar em junho de 2014 o concurso internacional para escolher a mais bela afrodescendente do mundo.

Também conhecido como Miss Malaïlca, que significa anjo em swahili, falado em vários países do continente africano, o concurso existe há mais de uma década e foi criado pelo empresário Ernest Coovi Adjovi, da África do Sul.

Cerveja sem álcool
A questão do rótulo das cervejas sem álcool começou a ser julgada ontem pela Quarta Turma do STJ.
O MP alega propaganda enganosa e exige a retirada da frase “sem álcool”. Uma perícia diz que não há cerveja totalmente sem álcool.

Nos diabéticos, o consumo pode provocar danos à saúde.

Joga arroz
Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown lançaram ontem na internet a música: “Joga arroz”.

A canção apoia o casamento gay. Veja só: “Seu juiz já falou/que o coração não tem lei/pode chegar para celebrar, o casamento gay/Joga arroz”.

No país dos cartórios
O ministro Marco Aurélio Mello, do STF, concedeu liminar à Federação Brasileira de Bancos acabando com a farra dos cartórios do Rio. Eles ganhavam uns R$ 500, veja só, por registro de cada contrato de alienação fiduciária na compra de um veículo.

Segundo o advogado Paulo Cesar Filho, com esta decisão, os contratos podem ser registrados no Detran.

A briga continua
O Ecad conseguiu suspender na Justiça Federal a multa de R$ 38 milhões determinada pelo Conselho Administrativo da Defesa Econômica.

Como se sabe, o Ecad foi multado por formação de cartel, em processo movido pela Associação Brasileira de Televisão por Assinatura. Mas o Cade pode recorrer da decisão.

Calma, gente
A União Nacional das Esposas dos Militares das Forças Armadas e a Associação Nacional dos Militares do Brasil estão organizando a Vigília da Família Militar dia 11, em Brasília.

A convocação fala em governo revanchista, comissão de meias verdades, sucateamento bélico e “terrorismo salarial”.

Efeito classe C
O curso YES! Idiomas vai abrir este ano filiais no Complexo do Alemão e no Morro do Vidigal. As duas deverão atender uns 1.500 alunos.

A unidade na Rocinha, veja só, tem 600 estudantes.

Jorge Selarón
A Secretaria de Conservação do Rio recuperou os mosaicos feitos por Jorge Selarón, o artista chileno, sob os Arcos da Lapa, no Rio.

Como a coluna mostrou, eles estavam cobertos por pichações.

Visão de ouro
Não é para qualquer um. A Cartier, junto com a Lunetterie, lança na semana que vem, no Village Mall, na Barra, óculos de ouro e pedras preciosas.

As armações custam a partir de R$ 20 mil e podem passar de R$ 150 mil.

Caraaaaaaamba!

Em alta
Veja como Neymar faz sucesso em todo o mundo. A versão americana do portal Goal.com, sobre futebol, criou um tópico só para o nosso menino-craque.

Além disso, a matéria mais lida é uma em que Neymar diz que jogar com Messi será uma honra.

Carnaval 2014

O MinC autorizou a União da Ilha a arrecadar, pela Lei Rouanet, R$ 1.566.000 para seu desfile de 2014.
Com o enredo “É brinquedo, é brincadeira: a Ilha vai levantar poeira”, a tricolor carioca, como se sabe, vai falar sobre o mundo dos brinquedos.

Peladão de Ipanema
Um morador de um prédio próximo ao Edifício Tiffany, na Rua Prudente de Morais, em Ipanema, tem desfilado peladão na varanda de seu apartamento.

Tem gente querendo comprar binóculos para assistir melhor à cena.

FAROESTE NA REDE - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 30/05

O filho de Renato Russo, Giuliano Manfredini, acionou advogados para tentar tirar do ar paródia contra Lula que usa a canção "Faroeste Caboclo", uma das mais famosas do cantor. O vídeo, postado no YouTube, chegou a ser retirado, mas ontem podia ser acessado novamente no site.

SEM CORTES
"Não quero que a obra do meu pai seja usada para atacar as pessoas. E ainda mudaram a letra. A obra dele é completa e eu tenho que preservá-la", diz Manfredini.

LETRA
No vídeo, uma pessoa desenha uma história enquanto a música diz: "Não tinha medo esse tal de Luís Inácio, era o que todos diziam quando ele se elegeu/Deixou pra trás todos os valores de esquerda que como sindicalista ele sempre aprendeu/Quando criança não pensava em ser bandido, ainda mais quando no torno um dedinho ele perdeu". Segue falando que Lula manda em Dilma e fazendo referências ao escândalo do mensalão.

NADA FEITO
Uma seguradora já chegou a fazer proposta de alguns milhões para usar "Faroeste Caboclo" numa campanha em favor do desarmamento. A família de Renato Russo recusou.

LINHA CORTADA
O STJ (Superior Tribunal de Justiça) reconheceu o "direito ao esquecimento" de um homem acusado, e depois absolvido, de envolvimento na chacina da Candelária, em que menores foram assassinados perto da igreja, no Rio de Janeiro, em 1993. Ele pediu indenização à TV Globo por ter sido citado no programa "Linha Direta", levado ao ar mais de dez anos depois. Vai ganhar R$ 80 mil. Não cabe recurso.

LINHA CORTADA 2
No mesmo dia, o STJ negou pedido semelhante de familiares de Aída Cury, jovem assassinada nos anos 50, também no Rio. A corte admitiu que a Globo não poderia fazer uma reportagem sobre o crime, de ampla repercussão pública, sem citar o nome da vítima. E concluiu que a tese do "direito ao esquecimento" deve ser aplicada caso a caso, e não de forma genérica.

FIM
Depois de oito anos de união, o publicitário Roberto Justus e a apresentadora Ticiane Pinheiro vão anunciar nos próximos dias a separação. O processo é amigável.
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Os dois, que são pais de Raffaella, que completa 4 anos em julho, foram à festa de 50 anos de Xuxa anteontem. Passaram todo o tempo juntos.

VAIVÉM
Os cofres da Secretaria Municipal de Educação de SP vão ganhar reforço de R$ 101 milhões. O dinheiro está saindo da Câmara Municipal, que retirou o valor de seu orçamento e o devolveu ao Executivo.
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O montante equivale a 17% do total que o Legislativo poderia gastar neste ano (R$ 580 milhões).
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AMOR É BOSSA NOVA, SEXO É CARNAVAL

O novo casal Cleo Pires e Rômulo Arantes Neto posou para um ensaio da revista "RG".
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Os atores falaram sobre traição. "Já desapliquei' muito. Mas, quando o fiz, não foi por desrespeito, foi carnal. Mas, quando está tudo certo, há manutenção, não tenho necessidade de trair", diz ele.
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"Também já desapliquei' muito e devem ter feito comigo", afirma Cleo. "Mas não acho que traição seja pré-requisito para falta de amor. Quando você fica com uma pessoa, às vezes é seu ego, autoafirmação, vontade de calar uma dor. Traição às vezes é um momento. Amor não."
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ILARIÊ
Xuxa promoveu jantar beneficente, anteontem, para comemorar seu aniversário de 50 anos, completados em março. O evento no hotel Unique contou com leilão e sorteios e teve a renda de R$ 3 milhões revertida para o Hospital de Câncer de Barretos e a Fundação Xuxa Meneghel. O publicitário Roberto Justus, acompanhado de Ticiane Pinheiro, foi mestre de cerimônias. Estavam na festa a top Izabel Goulart e a ex-modelo Luiza Brunet com o namorado, o empresário Lírio Parisotto.
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CURTO-CIRCUITO
A peça portuguesa "CabraCega" estreia amanhã, às 20h, no CIT-Ecum. Classificação não informada.

A Apae-SP arrecadou quase R$ 1 milhão em seu Leilão de Vinhos, na semana passada.

O Troféu Loba Romana, para pessoas da comunidade italiana, será entregue na segunda-feira, na Assembleia Legislativa de SP.

Frei Betto lança o livro "O que a Vida me Ensinou" no dia 13, às 19h, no shopping Pátio Higienópolis.

A caminho da estagflação - CLÁUDIO FRISCHTAK

O Estado de S.Paulo - 30/05

Ainda não foi desta vez. O crescimento do PIB do primeiro trimestre tocou no extremo do espectro das estimativas mais pessimistas, e é na realidade uma péssima sinalização para o restante do ano. A rigor, o ano de 2013 ainda não está "contratado", ou seja, ainda é cedo para se fazer previsões, mas as indicações são de que será melhor do que 2012, mas não muito - uma aposta numa expansão de 2% ou pouco mais estaria no limite do razoável, permanecendo contudo abaixo do potencial da nossa economia.

O que está arrestando o crescimento do País? Uma conjugação de perda acelerada de competitividade na indústria por força de uma escalada de custos de bens e serviços não transacionáveis, e uma inflação que vem corroendo o poder de compra principalmente daqueles que foram responsáveis pelo dinamismo do consumo das famílias nos últimos anos - a chamada nova classe média.

O resultado é que a economia brasileira se vê cada vez mais dependente, pelo lado da oferta, de setores com fortes vantagens comparativas capazes de compensar custos crescentes; e, pelo lado da demanda, do consumo das famílias e do governo. Quando uma dessas forças fraqueja, a economia perde o impulso. Nesse último trimestre a agricultura teve um excelente desempenho; o consumo estagnou; e o setor externo contribuiu negativamente para o crescimento do PIB.

E o investimento? Sem dúvida, junto com a agricultura, foi o componente (nesse caso dos gastos) que não frustrou as expectativas. A taxa de investimento chegou a 18,4% do PIB, um ganho de 0,3% ante os resultados de 2012. Mas infelizmente ainda não é hora de comemorar. A aquisição de máquinas, equipamentos e veículos vem sendo estimulada por preços e condições de financiamento excepcionais aqui e no exterior. Ampliar esses ganhos daqui para a frente vai depender do outro componente de investimento: a infraestrutura, onde continuamos sendo um ponto fora da curva.

Se o governo for bem-sucedido em deslanchar as concessões e atrair o setor privado, e superar as sucessivas dificuldades de formulação e operacionalização do programa, talvez seja possível que o investimento finalmente dê uma contribuição mais significativa ao crescimento do PIB.

No bambual - LUIS FERNANDO VERÍSSIMO

O GLOBO - 30/05


O Ibsen Pinheiro, grande frasista, diz que no futebol uma defesa se organiza e um ataque se inspira. Perfeito. O posicionamento e a mecânica de uma defesa – quem cobre quem, quem dá combate e quem fica na sobra, etc – podem ser sistematizados, diagramados e ensinados. Já um ataque vive de oportunidades fortuitas, de explorar as eventuais falhas de organização da defesa – enfim, das brechas que aparecerem e da inspiração do momento. Você pode instruir o ataque a ir por um lado ou pelo outro e, quando não dá, levantar a bola na área (o último recurso tão repetido) e confiar no entrevero. No confronto entre a organização e a inspiração, o que faz a diferença é a habilidade do atacante e sua vitória pessoal sobre o defensor. E apesar de estar provado que a jogada mais letal de um ataque é a que vem pelas pontas, atacantes insistem em tramar pelo meio, onde o trânsito é mais difícil e onde a concentração de defensores parece uma floreta de bambus.

Imagine jogar bola num bambual. Impossível, ou só possível a quem tem habilidade fora do comum. O sucesso do Messi se deve em grande parte à sua capacidade de sobreviver no bambual. De proteger a bola enquanto se esquiva de bambu atrás de bambu até chegar numa clareira e chutar a gol. O Neymar tem a mesma capacidade, embora ela não tenha aparecido muito ultimamente, principalmente na seleção. Se o Neymar for para o Barcelona e possível que ele e o Messi recuperem uma arte perdida do futebol, a da tabelinha. Já houve tabelinhas famosas. No Internacional dos anos 50 Larri e Bodinho faziam uma mortal, tramando pelo meio até um dos dois fazer o gol. E o protótipo de tabelinha pelo meio, claro, foi a de Pelé e Coutinho, no Santos. Mas naquele tempo o bambual ainda não tinha crescido tanto.

A dificuldade em atacar pelo meio teve duas consequências. Uma foi a prevalência, hoje, da bola alçada na pequena área para que uma cabeça providencial consiga o que não se conseguiu pelo chão. A outra foi transformar quem acompanha o futebol há tempo em irrecuperáveis nostálgicos. Temos saudades dos ataques com passes que desconcertavam, ou desorganizavam, as defesas. Havia mais espaço para as tramas e a inspiração. E, acima de tudo, menos bambus na entrada da grande área.

Corpus Christi! Feriado em latim! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 30/05

E tô adorando o Aécio contando piada no intervalo da novela. Concorrência com o Ary Toledo!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!

Feriadão Corpus Christi! E o que é Corpus Christi? Corpus Christi é feriado em latim. Não confundir com Porcos Tristes! Que é o Dia Nacional do Palmeiras.

Mas o Palmeiras não tá tão triste assim. Ganhou do Asa. Então o Palmeiras tá até voando: bateu Asa! Rarará!

E domingo é Corpus Alegres. Corpus Alegres é domingo, dia da Parada Gay!

E ano passado um taxista me desejou: "Bom habeas corpus, bom feriado". Rarará. Mas o taxista tá certo. Feriado é um habeas corpus. Habeas corpus coletivo.

E tô adorando o Aécio contando piada no intervalo da novela. É uma melhor do que a outra. Concorrência com o Ary Toledo.

E a manchete do "Piauí Herald": "Anderson Silva nega ter medo de Eduardo Paes". Rarará!

E eu tenho uma amiga tão carente que se apaixona até por telemarketing. "Você é muito importante para nós". Aí, ela acreditou, ficou emocionada, chorou e se apaixonou!

E eu tenho uma amiga tão carente que se apaixonou pelo churrasqueiro só porque ele chegou e disse: "Coração?".

E eu tenho um amigo tão carente que se apaixonou pela voz da mulher do Google Tradutor!

E a vizinha de um amigo meu viajou, mas esqueceu de desligar o despertador. Todos os dias, o bipe começa a tocar às 6h e só para às 6h59! Rarará!

E adorei essa piada pronta direto da Rússia: "Entregador é flagrado roubando as azeitonas das pizzas"! É mole? É mole, mas sobe! Ou como disse aquele outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece!

Os Predestinados! Mais dois para a minha série "Os Predestinados". Deu na coluna do Ancelmo que, num voo da Azul entre o Rio de Janeiro e Belo Horizonte, a comissária anunciou o nome do copiloto: Caio Pinto. E o povo gritava: "Ainda bem que é só o pinto!". E em Curitiba tem um guarda municipal chamado: Guardiano!

E o único brasileiro que não gosta de feriadão é o casado com mulher feia.

E, como dizia Nelson Rodrigues, "o brasileiro é um feriado"!

E o que abre e o que fecha no feriado? AS PERNAS! Rarará.

Nóis sofre, mas nóis goza! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Primeiro Mundo - CRISTINA GRILLO

FOLHA DE SP - 30/05

RIO DE JANEIRO - Pesquisa feita pela Embratur em 20 cidades constatou que o Rio está em terceiro lugar no ranking das tarifas hoteleiras de lazer, atrás de Miami e de Punta Cana (República Dominicana).

Em média, um dia de férias em um hotel da cidade custa US$ 246,71. A cidade conquista um honroso segundo lugar nos preços das tarifas de negócios --US$ 182,73--, perdendo apenas para Nova York.

Passar uma temporada de trabalho aqui é mais caro do que em Frankfurt, Tóquio ou Milão. Férias saem mais em conta em Londres, Paris ou Barcelona.

Tempos estranhos esses. Muitos de nós lembram de histórias de conterrâneos que, voltando de viagens à Europa, faziam relatos horrorizados sobre o preço de uma garrafa de água mineral ou de refrigerante.

Hoje, os autores desses relatos são os turistas que desembarcam no Rio e, dependendo do lugar que escolherem, podem pagar quase R$ 10 por um cafezinho pós-refeição.

Mas, além das praias, do Corcovado, do Pão de Açúcar, o que temos para oferecer ao visitante e justificar os preços assustadores?

Infelizmente, pouco. Experimente ir a um restaurante razoavelmente conhecido para o almoço de domingo e perguntar quanto tempo demora para se conseguir uma mesa. Meia hora, é a resposta padrão, mesmo que isso signifique 60 minutos.

Tente conquistar a simpatia de um motorista de táxi ao pedir que ele faça uma corrida curta. Como dizem os jovens cariocas, "não rola" --ou seja, prepare-se para um trajeto feito de mau humor. Isso, se conseguir convencê-lo a levá-lo.

Nem vale a pena falar da precariedade dos aeroportos, da superlotação dos transportes públicos, do despreparo de quem atende os turistas, da falta de sinalização nas ruas.

Conquistamos o topo no que diz respeito aos preços. Já quanto aos serviços...

Os desafios do gás não convencional - ADRIANO PIRES

O Estado de S.Paulo - 30/05

Passado o aguardado 11.º leilão de concessão de áreas exploratórias de petróleo e gás, as atenções se voltam para o leilão em que serão ofertadas áreas promissoras para a exploração de gás não convencional.

O interesse pelo tema é potencializado pela bem-sucedida experiência dos EUA, cujo aumento da produção de shale gas barateou fortemente o preço do gás natural, atraindo investimentos, gerando empregos e ajudando o País a sair da crise em que estava desde 2008. As projeções mostram que os EUA caminham a passos largos na direção da autossuficiência, podendo, eventualmente, tornar-se exportador de gás natural. Enquanto isso, no Brasil, a indústria patina na falta de competitividade e o barateamento do gás está sendo visto como um "ovo de Colombo" capaz de recolocar nosso setor industrial no caminho do crescimento.

Mas replicar o fenômeno dos EUA não é tarefa simples e não basta ter as reservas. O sucesso americano é resultado de um conjunto de fatores políticos, institucionais, econômicos, ambientais, geográficos e tecnológicos que propiciaram um ambiente atrativo a investimentos em exploração e produção de gás não convencional. Desde os anos 70, o aumento da produção americana resultou do apoio do governo com políticas fiscais e incentivo ao desenvolvimento da tecnologia de fraturamento e da infraestrutura existente para escoar a produção. Todos esses fatores se potencializaram pelo mercado por meio do elevado nível dos preços do gás na década de 2000, gerando o atual boom de produção do shale gas no mercado americano.

No Brasil, pelo menos até agora, não temos legislação específica para o gás não convencional nem incentivos fiscais/financeiros que aumentem a atratividade do investimento. Também não há estudos completos e detalhados sobre as reservas, o que aumenta o risco das empresas que vierem para essa empreitada. Temos, ainda, desafios no que se refere à cadeia de suprimento para a nova atividade. Enquanto a distância entre poços de uma área típica de produção de gás convencional é de alguns quilômetros, no caso do shale é de apenas centenas de metros, por causa da baixa permeabilidade. Com isso será necessário um grande número de sondas que não estão disponíveis no mercado doméstico, que não tem dado conta nem mesmo de produzir as sondas necessárias para a exploração convencional. Além das sondas, há que se criar uma logística para que os demais insumos possam chegar aos campos de perfuração. O processo de fraturamento exige a mobilização de uma centena de caminhões para transportar areia, compostos químicos e muita água. O que deveria levar a uma avaliação, se a atual política de conteúdo nacional é apropriada para o gás não convencional. Tudo isso sem contar a infraestrutura de escoamento insuficiente, que inviabiliza a monetização das reservas de gás convencional da Bacia do Solimões, que já poderiam contribuir para a oferta doméstica.

Outro aspecto técnico que a Agência Nacional do Petróleo (ANP) precisa considerar é o fato de os poços de shale gas apresentarem uma taxa de declínio muito acelerada, de 63% a 85% no primeiro ano de produção. Isso deveria levar a ANP a repensar duas questões: o prazo da concessão e o programa exploratório mínimo.

Ao comparar o Brasil com os EUA na questão da exploração e produção de gás não convencional, a conclusão é que faltam uma política de incentivo que viabilize o investimento no setor e uma definição sobre o papel e a atuação da Petrobrás. Ao contrário do mercado americano, onde há grande quantidade de empresas atuando em todos os segmentos da indústria do gás natural, no Brasil a Petrobrás é um monopólio vertical e horizontal, já que é a única produtora, importadora e transportadora e tem o monopólio da produção de todos os energéticos concorrentes ao gás natural. As reservas nós já temos. Se a produção vai se dar em 2 ou 10 anos, depende da vontade do governo de enfrentar os gargalos que prejudicam o mercado de gás no Brasil.

Não há plano B - GERSON TOLLER

O GLOBO - 30/05

Em agosto próximo o governo federal fará uma nova tentativa de encontrar interessados para a implantação do TAV. O leilão que vai definir o fornecedor de trens e sistemas começa no dia 13 daquele mês, desta vez com mais chances, agora que o processo amadureceu. Escaldado pela falta de interesse do primeiro leilão, em julho passado; prevenido contra os oportunistas de plantão, como a Italplan, cujo diretor, Moreno Gori - sabemos hoje - é procurado pela Polícia Federal; e contando desta vez com uma organização competente voltada para o planejamento de projetos ferroviários, a EPL, estamos longe das afirmações categóricas da então chefe da Casa Civil Dilma Rousseff, quando declarava com ênfase, em entrevista à imprensa, que "o trem de alta velocidade vai ser construído sem um centavo de dinheiro público". Caímos na real.

Obras ferroviárias podem, sim, contar com a participação da inciativa privada, contanto que o governo assuma a maior parte do custo - leia-se, das obras civis. Foi o que aconteceu na primeira e mais bem-sucedida PPP metroviária do Brasil, assinada em 2006, e que resultou na Linha 4 do Metrô de São Paulo. O governo construiu - está construindo - a infraestrutura, ao custo de R$ 2 bilhões, e o consórcio Via Quatro, formado pela CCR, Montgomery Participações (leia-se Odebrecht), Mitsui, Benito Roggio e RATP, está fornecendo e operando trens e sistemas, ao custo de R$ 1 bilhão. A primeira fase da Linha 4 está em operação desde maio de 2010, servindo à população paulistana com seus modernos trens sem piloto, que transportam perto de 700 mil passageiros por dia útil, e que chegarão a 1 milhão no fim do projeto. O sucesso foi reconhecido pela International Finance Corporation, do Banco Mundial, como a melhor PPP da América Latina.

A ficha caiu, e agora, na segunda tentativa, o custo da obra - e o projeto de engenharia - ficarão com o governo. No ano que vem, vai ser contratado, e pago pela União, o consórcio de empreiteiras responsável pela obra. Aos participantes do primeiro leilão, agora em agosto caberá, como no caso da Linha 4 do Metrô de São Paulo, fornecer os trens, sistemas, centro de controle, oficinas e - adicionalmente - barreiras acústicas em zona urbana. A Socie-dade de Propósito Específico para tanto criada gozará de financiamento do BNDES em condições favorecidas, Regime Especial de Incentivos, e, durante os 40 anos do prazo de concessão, isenção de ICMS, PIS e Cofins incidentes no faturamento. E a SPE terá participação da EPL em 45 % do seu capital.

O governo espera que essas facilidades constituam incentivo suficiente para garantir o sucesso do segundo leilão. Permanecem o risco da demanda e a necessidade de pagar a outorga - ao preço mínimo de R$ 10 bilhões em parcelas trimestrais ao longo de 40 anos -, valor este que vai definir o vencedor do primeiro leilão. Mas nada impede que, até agosto, novos aditivos sejam adotados e que tais condições sejam mitigadas. Como diz Bernardo Figueiredo, presidente da EPL, não existe plano B para o TAV: é fazer ou fazer.

Lei mais rígida já existe - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 30/05

Falta que as autoridades admitam o que é óbvio: o Brasil vive uma grave pane de segurança


Quer dizer, então, que o Congresso está examinando o aumento das penas para chefes do narcotráfico?

Parabéns, mas é tarde e nem seria necessário se as autoridades saíssem de sua letargia e aplicassem uma lei já existente, com punições mais severas do que as que estão em discussão no Congresso.

Trata-se, me informa um leitor, advogado que prefere manter o anonimato, da lei 7.170/83, que define crimes contra a segurança nacional e a ordem política e social, entre outras coisas.

Segurança nacional, ah, que horror, dirá logo você, que é incapaz de pensar fora do quadradinho.

Sim, segurança nacional. Não a dos tempos da ditadura, em que o Estado se dizia ameaçado pelos grupos armados --o que não era bem verdade, mas não é a discussão em causa. Segurança nacional definida como ameaça não ao Estado, mas à sociedade (que, naqueles velhos tempos, era ameaçada pelo Estado).

Que há uma emergência em matéria de segurança pública não dá para negar. A estatística é contundente: a taxa de homicídios por 100 mil habitantes no Brasil duplica a que a comunidade internacional considera ser epidêmica.

O artigo 12 da 7.170 estabelece pena para quem introduza no país armas ou material militar privativo das Forças Armadas (reclusão de 3 a 10 anos, pena que se aplica também a quem, "sem autorização legal, fabrica, vende, transporta, recebe, oculta, mantém em depósito ou distribui o armamento ou material militar" de que trata o artigo).

Preciso dizer que boa parte dos criminosos usa material privativo das Forças Armadas?

Já o artigo 15 prevê de 3 a 10 anos de reclusão para quem "praticar sabotagem contra instalações militares, meios de comunicações, meios e vias de transporte, estaleiros, portos, aeroportos, fábricas, usinas, barragem, depósitos e outras instalações congêneres".

Preciso dizer que os ataques a ônibus cabem nesse artigo, como cabem os atentados contra caixas eletrônicos, já que o parágrafo 1º aumenta em 50% a pena no caso de dano a, por exemplo, "serviços públicos reputados essenciais para a defesa, a segurança ou economia do país"?

A lei, portanto, está aí, com penas mais rigorosas que as habitualmente aplicadas (na verdade, não aplicadas, já que a impunidade é regra e um dos combustíveis que impulsiona a criminalidade).

Basta que as autoridades admitam o que é óbvio: há uma grave crise de segurança pública no Brasil.

Mas é bom deixar claro que penas, leves ou rigorosas, se tornam inócuas se não houver antes a transformação do aparelho policial. Não adianta o tipo de punição se poucos criminosos, comparativamente ao volume dos crimes, são levados aos tribunais. Com perdão pela obviedade, antes da pena tem que haver a prisão e a comprovação efetiva do crime praticado.

A polícia francesa conseguiu, em quatro dias, identificar o homem que atacou um soldado no sábado. Quantos dos que vira e mexe atacam ônibus são identificados? A polícia tem que ser parte da solução, não do problema.

Mea-culpa de Lula - ILIMAR FLANCO

O GLOBO - 30/05

O ex-presidente Lula está fazendo mea-culpa, no que lhe toca, pela antecipação da sucessão presidencial. Explicou, para um grupo de petistas, que sua motivação era a de interromper a onda do "volta, Lula". Muitos petistas estavam e estão descontentes com o "jeitão" da presidente Dilma. Um dos que estiveram com Lula justifica: "Mudou o estilo. Muita gente sente falta do carinho do Lula."

Dar tempo ao tempo
O marqueteiro João Santana aplicou uma pesquisa qualitativa na qual ele perguntava ao entrevistado sobre a vida das dez pessoas mais próximas. Queria saber se elas haviam melhorado ou piorado de vida nos últimos dez anos. Segundo seu relato, numa roda de petistas, de cada dez amigos citados, oito deles tinham melhorado de vida nos governos petistas. Sua conclusão é que a presidente Dilma deve centrar sua ação na gestão e manter o nível de aprovação do governo. Santana avalia que o debate prematuro da sucessão é "perda de tempo" e que, no ano que vem, mantidas a aprovação e a popularidade em alta, tudo se acomoda.



"A (presidente) Dilma não perdeu os eleitores que votavam nele e ganhou um monte de eleitores que não votavam no (ex-presidente) Lula"
João Santana, marqueteiro da presidente Dilma, apostando numa vitória no primeiro turno

Quem sabe faz a hora
O ex-presidente Lula avalia que a hora da verdade não chegou e que, agora, há muito blefe. Explica que é como no jogo de pôquer. "O jogador tá com um parzinho na mão, mas faz pose de quem tem um four de ases", relatou um petista.

A polêmica das MPs
O ex-presidente do STF, Nelson Jobim, uma vez definiu assim o uso de MPs: "Os técnicos do Executivo passam seis meses debatendo um assunto. Quando eles chegam a um acordo, redigem o projeto e aí sentenciam que é urgente e pedem a edição de uma MP". É assim: os sem voto debatem meses e os com voto têm só alguns dias para votar.

Empurra-empurra
Eles tentaram jogar tudo nas costas do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Mas, no Planalto, ficou a impressão de que os líderes petistas no Senado, Wellington Dias (PI) e José Pimentel (CE), têm pequeno poder de articulação.

Chama os bombeiros
Depois do bate-boca entre a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a presidente Dilma pediu ao ministro Aloizio Mercadante (Educação) que telefonasse para Renan e amenizasse a situação. A presidente não aceita que Renan, o PMDB e o Senado sejam tratados como inimigos. Por isso, não quer mal-estar com seus aliados.

A cantada
Na última cartada para tentar aprovar a MP da Energia, o governo disse que a AGU tinha parecer contrário à reciclagem de uma MP em outras. Renan deu de ombros e reagiu dizendo que era só uma forma de pressão para que ele lesse a MP.

Um partido de tendências
Na reunião de emergência, de articulação, na terça-feira de manhã no Planalto, alguns petistas reclamaram que o PMDB era um partido dividido e que era preciso negociar com vários grupos. Como se não soubessem o que é isso!

A candidata do PP ao governo gaúcho, senadora Ana Amélia, já teve duas conversas com o governador Eduardo Campos, candidato do PSB ao Planalto.

De Minas para o Brasil - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 30/05

O programa de TV do PSDB que vai ao ar hoje é uma tentativa de apresentar Aécio Neves como alguém capaz de dialogar de igual para igual'' com o eleitor mais pobre. Usando camisa para fora do jeans, o presidenciável tucano viaja de van pelo interior de Minas, conversando com artesãs, um agricultor e estudantes. O mote são programas criados por ele no governo do Estado. A crítica ao PT é focada na inflação: Aécio diz que o PSDB construiu a estabilidade, que estaria ameaçada.
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Símbolo Na roda de conversa sobre a volta da inflação, que toma 2 dos 10 minutos do programa tucano, uma eleitora diz que "o tomate chegou a dez reais o quilo''.

SP O aceno à ala paulista do PSDB fica por conta de trechos dos discursos de Geraldo Alckmin, Fernando Henrique Cardoso e José Serra durante o evento em Brasília.

Não tá no gibi Do líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), sobre Tereza Campelo ter viajado no auge da crise com o Bolsa Família, que coordena: "Para ver o Pateta, a ministra não precisava ir à Disney. Bastava visitar a presidência da Caixa''.

Na mira Acostumados a criticar a condução política de Ideli Salvatti (Relações Institucionais), peemedebistas agora apontam Gleisi Hoffmann como principal alvo de queixas no Planalto.

Escudo Henrique Eduardo Alves (RN) questionou a ministra da Casa Civil sobre as críticas feitas por ela ao PMDB em reunião de petistas anteontem, no Planalto. Ela se disse surpresa com a divulgação da declaração "fora de contexto'' e disse saber da importância do partido.

Opa Gleisi ainda discutiu com Renan Calheiros (PMDB-AL) devido à votação da MP da redução na conta de luz. Ao cobrá-lo por ter sido informada pela imprensa de que não haveria votação, teria ouvido de Renan que o presidente do Senado era ele.

Multiplicação Colaboradores da Rede estimam já ter recolhido cerca de 5.000 assinaturas para a criação do partido de Marina Silva em igrejas evangélicas. Foram distribuídas cerca de 60 mil fichas de apoio nos templos.

Pressão O PTB mobilizou dez prefeitos para fazer um périplo por gabinetes da Assembleia paulista, na semana que vem, defendendo a proposta que reduz o poder de promotores, de autoria do presidente estadual do partido, Campos Machado.

Pode ser A CUT (Central Única dos Trabalhadores), ligada ao PT, solicitou estudo do Dieese e análise do seu departamento jurídico para decidir se acompanha a Força Sindical ação na Justiça pedindo a revisão do FGTS para filiados a seus sindicatos.

Álibi A Força Sindical diz que a reivindicação não é uma tentativa de desgastar o governo Dilma e usa o fato de a CUT estudar aderir à ação judicial como prova.

Sinto muito "Não tem a ver com quem apoia governo ou não. Se tivermos parecer dizendo que a questão lesa os trabalhadores, entraremos com ação", diz o presidente da CUT, Vagner Freitas.

Veja bem A Procuradoria-Geral de Justiça do Estado de São Paulo diz que a proposta de revisão da Lei Orgânica não é sigilosa e pode ser consultada pelos procuradores no site do órgão.

Visita à Folha Fábio Jatene, presidente do Conselho Diretor do Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), visitou ontem a Folha, a convite do jornal, onde foi recebido em almoço. Estava com Edison Tayar, diretor-executivo do Incor.

com ANDRÉIA SADI e LUIZA BANDEIRA
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tiroteio

"Este novo Pibinho' de 0,6% representa exatamente a nota que o governo medíocre da presidente Dilma Rousseff merece receber."
DO DEPUTADO RUBENS BUENO, líder do PPS na Câmara, sobre o resultado do PIB, divulgado ontem, que aponta crescimento de 0,6% no primeiro trimestre.
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contraponto

Quem é o chefe?
O ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) explicava a ausência do ex-presidente Lula em evento com moradores de rua em São Paulo anteontem.

Disse que acabara de falar com ele por telefone e que ex-chefe havia lamentado não poder comparecer ao ato, no qual também estava o prefeito da capital, Fernando Haddad (PT), uma vez que se identificava com a causa.

--Ele me disse: Gilberto, eu até gostaria de ir, mas como já apareci ao lado do Haddad na segunda-feira, daqui a pouco vão dizer que sou subprefeito dele!' --justificou o ministro, citando as palavras do petista.

O ambiente exige respeito - CARLOS ALBERTO SARDENBERG

O GLOBO - 30/05

Por que o empresário da construção civil não constroi mais prédios se os juros estão baixos e há estímulo ao comprador? Ele até quer fazer mais, mas é tomado por uma ponta de dúvida: essas regras, essas circunstâncias valem até quando?


"Confiança, o senhor sabe, não se tira das coisas feitas ou perfeitas: ela rodeia, é o quente da pessoa" (Guimarães Rosa)

Quando estimam o crescimento da economia, os economistas estão, claro, imaginando o futuro. Mas com boa matemática. Vem tudo encadeado. Uma área plantada de tantos hectares, mais um determinado consumo de sementes, deve levar a uma safra de tantas toneladas de grãos. Acrescente-se aí um ganho de produtividade pelo uso de novos equipamentos já encomendados e uma previsão de bons preços internacionais, o que anima o produtor a plantar, e a safra pode acrescentar tantos pontos ao Produto Interno Bruto do próximo ano.

Do mesmo modo, com carros. Estímulos do governo, juros baixos, renda da população, capacidade instalada da indústria mais ganhos esperados com novas fábricas e máquinas - soma-se isso tudo, dá uma determinada produção e consumo de automóveis, o que equivale a tantos pontos do PIB.

Ou a Copa. Observa-se a lista de obras - incluindo estádios, aeroportos, transportes em geral, novos hóteis, telecomunicações, etc - coloca-se no calendário e, pronto, mais um pedaço de PIB. Sabe-se que um avanço determinado na construção civil deve dar um ganho de tanto no PIB.

Mas por que, então, os erros são tão frequentes, para menos e para mais? Primeiro, porque são milhares de hipóteses a serem formuladas, um exercício passível de falhas mesmo com os melhores e maiores computadores. Segundo, porque nem sempre é possível recolher todas as informações necessárias. E terceiro porque, bem, porque estamos lidando com pessoas.

Ok, os juros estão baratos, os preços estão melhorando, vai se colocar mais etanol na gasolina - de modo que está na hora de investir na reforma do canavial e da usina. Será mesmo? - vacila o agricultor lá na sua subjetividade. E se o governo, tocado por pessoas, como se sabe, mudar tudo de novo na política do álcool/açúcar?

O resultado é menos investimento. Segue-se toda a sequência, e dá menos PIB.

Considerem a Copa. Os investimentos em curso já são menores do que os estimados anteriormente porque muita coisa atrasou e muitas outras foram deixadas de lado.

Ou as telecomunicações. Para atender as necessidades da Copa - desde a transmissão dos jogos em HD, com dezenas de câmeras, até os torcedores nos estádios mandando milhares de fotos - é preciso instalar novos equipamentos, entre os quais mais de dez mil torres para celulares. Mas em muitas cidades do país, muita gente ainda acha que essas torres podem dar câncer. Vai daí, menos PIB.

Como se pode perceber, é difícil medir, mas o ambiente, o jeitão da coisa, o grau de confiança das pessoas, onde quer que estejam, determinam o crescimento de um país. Daí as falhas de previsão, que podem ser para mais ou para menos.

Para tomar um exemplo clássico: olhando pela matemática, pelos fundamentos econômicos e pela capacidade de gestão do governo brasileiro, a idéia de construir Brasília, tirar uma cidade do nada e colocá-la no meio do nada, parecia um completo delírio. Mas saiu, sabe-se lá como. Sabe-se, porém, que a força motriz foi o clima de extrema confiança dos anos JK. Pode-se até dizer, hoje, que era uma confiança desmedida, fora de proposito. Mas foi assim que funcionou.

Hoje, parece ser o contrário. As pessoas do governo Dilma estão inconformadas. Com tanto estímulo ao consumo e ao investimento, presenteados pelo governo, como é que o país não cresce? A presidente já chegou a dizer que não estaria satisfeita com crescimento menor que 4,5% anual. Hoje, tenta salvar dois e alguma coisa - e não está fácil.

É o ambiente, o jeitão da coisa, a falta de confiança. Por que o empresário da construção civil não constroi mais prédios se os juros estão baixos e há estímulo ao comprador? Ele até quer fazer mais, mas é tomado por uma ponta de dúvida: essas regras, essas circunstâncias valem até quando?

O investidor privado que precisa construir um porto gostou das novas regras do setor, que favorecem isso. Mas também fica com uma ponta de dúvida: as novas regras prejudicaram o investidor privado que já havia investido em portos públicos. Podem mudar de novo, não é mesmo? E reparem que estamos falando de investimentos de 30 anos.

E o dólar? O governo segurou, puxou até R$ 2,10, deixou cair, está subindo de novo. E os juros? Entraram na propaganda como em queda, mas estão subindo de novo.

Os economistas ressaltam sempre a importância de um ambiente regulatório consistente, claro e seguro. É tudo que não temos. Aí fica muito na dependência de decisões pessoais. E aí ....

A Argentina se subdesenvolve - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 30/05

O caráter autoritário e hegemônico do governo K desorganiza a economia, destrói referências da população e esgarça o tecido social. O país se isola no contexto internacional


A trajetória de Néstor Kirchner na política argentina é sui generis. Elegeu-se governador da província de Santa Cruz, em 1991 (o primeiro de três mandatos consecutivos), por 2 mil votos. Em 2003, teve apenas 22% dos votos no primeiro turno das presidenciais e venceu porque o primeiro colocado, Carlos Menem, desistiu. Traumas sucessivos abalavam a Argentina: derrota na Guerra das Malvinas (1982), hiperinflação (1989) e desordem político-financeira (2001), que levou o país a ter cinco presidentes em 12 dias. Kirchner iniciou ali uma dinastia política que acaba de completar dez anos no poder.

Presidente de um país quebrado, Néstor teve sucesso nos primeiros anos, retomando um período de alto crescimento do PIB, de redução da inflação, de diminuição da pobreza — que alcançara 50% na crise —, de reformas sociais e de emulação dos direitos humanos. Mas a fórmula kirchnerista desandou, como tem mostrado O GLOBO na série “Liberdade amordaçada”, compartilhada com os jornais que integram o Grupo de Diários América (GDA). O caráter autoritário e populista se manifestou já no governo de Néstor e se aprofundou no de Cristina. A Casa Rosada trabalha a todo vapor para obter a hegemonia sobre a vida do país. Uma das primeiras vítimas foi a imprensa, à qual resta aderir ao kirchnerismo e obter polpudas somas em publicidade oficial ou tentar se manter independente e sofrer ataques do governo, que luta, com obsessão, para calar especialmente o Grupo Clarín e o La Nación.

No mandato de Cristina, ampliaram-se as denúncias e os escândalos de corrupção. Em dez anos, o patrimônio declarado do casal cresceu 27 vezes. Vários amigos e colaboradores se tornaram milionários. E uma casta de empresários ligados ao poder se locupleta. O povo perdeu referências com a manipulação das estatísticas oficiais, como a da inflação, e padece com a política de dificultar ao máximo a compra de dólares, devido à falta de divisas. Perdeu-se a noção de valores relativos, pois os preços ou estão congelados ou sobem ao sabor de uma inflação que, em 2012, foi mais de duas o índice oficial de 10,8%. A economia se desorganiza. Um dos efeitos perversos é o isolamento da Argentina. Devido à moratória de 2001, e as heterodoxias kirchneristas, o país não consegue empréstimos externos e fica à margem da formação de novos blocos de comércio, à exceção do Mercosul, cujas regras ele atropela. Neste, trabalha contra o principal parceiro, impondo barreiras aos produtos brasileiros. O saldo comercial do Brasil com a Argentina foi de US$ 1,5 bilhão em 2012, queda de 73% em relação a 2011. As empresas nacionais deixam o país — 150 nos últimos cinco anos.

Ao se aproximar mais do chavismo, anular valores de referência na economia, impor a verdade oficial via imprensa “amiga” e pairar acima de tudo e todos, o modelo K vai destruindo por dentro o tecido social argentino. O país caminha para grave crise institucional.

Decepcionante - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 30/05

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, lembrou ontem sua cara de paisagem, criada em 2011 para enfrentar reivindicações da Bolsa. Foi com ela que tentou esconder sua frustração com os resultados do primeiro trimestre. Como fez outras vezes, Mantega olhou para os números das Contas Nacionais divulgadas pelo IBGE e tentou convencer o resto do País de que as coisas refletem mais o copo cheio do que o vazio:

"Estamos crescendo este ano mais do que no ano passado", disse ele na entrevista que deu logo depois de conhecidos os dados do PIB. No primeiro trimestre de 2012, o Brasil cresceu apenas 0,1%; no primeiro trimestre deste ano, cresceu 0,6%. Como ao longo de todo o ano de 2013, o PIB vai crescer bem mais do que o medíocre 0,9% registrado em 2012, o ministro não deixa de ter uma dose de razão. Mas, convenhamos, para quem apostava num avanço do PIB de 4,0% a 4,5% neste ano, os resultados do primeiro trimestre são de amargar.

A nota positiva é a melhora do investimento que, nas Contas Nacionais, leva nome e sobrenome mais comprido: Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF). Acusou avanço de 4,6% no primeiro trimestre sobre o anterior e de 3,0% quando medido sobre o primeiro trimestre de 2012. O ministro garantiu que tem a ver com certa mudança de ênfase da política econômica, do consumo para o investimento. Ainda assim, reflete mais o grande crescimento da frota de caminhões e da construção civil do que inversões de capital em aumento da capacidade de produção. Além disso, o investimento continua baixo, de apenas 18,4% do PIB. Para garantir crescimento sustentável, da ordem de 3,5% a 4,0% ao ano, tem de ser superior a 24% do PIB, mas estamos longe disso.

Excelente surpresa é o desempenho da agropecuária: crescimento de 9,7% de um trimestre para outro e de 17,0%, em comparação com o primeiro trimestre de 2012. O problema é que o setor não pesa mais do que 5% no PIB e nas contas finais não chega a fazer diferença.

A indústria é que continua na pior. Em vez de avançar, recuou: queda de 0,3% em relação ao quarto trimestre e de 1,4% em relação ao primeiro trimestre do ano passado. A recuperação sustentável do setor precisa de muito mais do que desonerações pontuais e refrescos caseiros fornecidos pelo governo.

O principal imprevisto foi o baque no consumo, até recentemente o carro-chefe da política econômica. Cresceu apenas 0,1% no trimestre e 3,0% em um ano. Nesse campo, o fator negativo é o que ontem veio no diagnóstico da gerente da Coordenação de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis. O consumo, advertiu, perdeu fôlego porque a inflação vai deixando menos salário para as compras do mês. Quer dizer, o governo tem de levar mais a sério o combate à inflação se não quiser ver mais corrosão.

Não é só isso, aí vai o lado bom da moeda mais fraca: se é verdade que o governo mudou a ênfase e passou a cuidar mais do investimento do que antes, o mau desempenho do PIB pode prenunciar mudanças na condução da política econômica. Mas esse é assunto a ser analisado nesta Coluna na edição de amanhã.

BC enfrenta a inflação - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 30/05
O Banco Central escolheu combater a inflação a tentar preservar o crescimento que, durante o dia, teve um número decepcionante. Foi uma atitude corajosa que provocará muitas críticas dos empresários e dentro do governo, mas o que está derrubando o PIB é a inflação. Esse foi o entendimento. O PIB começou o ano crescendo, mas num ritmo abaixo do previsto. Apesar disso, a inflação tem estado alta, resistente e espalhada.

Há fatores que vão derrubar a inflação nos próximos meses, mas há pontos que podem complicar, como, por exemplo, o dólar, que ontem subiu bastante. A economia americana em recuperação, com redução dos estímulos monetários, pode mesmo produzir mais inflação. De qualquer maneira, o que o BC quis deixar claro é que tem autonomia para lutar contra a alta de preços e quer que a queda de preços no atacado seja repassada ao varejo. A decisão unânime fortalece ainda mais a instituição.

A decisão acontece num dia difícil. O PIB divulgado pelo IBGE ficou abaixo do que o governo gostaria, o mercado previa, e o BC tinha calculado. A economia brasileira parece um carro sem potência tentando subir uma ladeira. Os dados dos trimestres anteriores mostram isso.

O PIB do primeiro trimestre repetiu a taxa de 0,6% do trimestre anterior e há boas e más notícias: o consumo das famílias caiu fortemente, a indústria encolheu, os setores de mineração e petróleo despencaram, o setor de serviços cresceu pouco, o investimento subiu, a agricultura teve um desempenho exuberante.

A maioria dos economistas e dos departamentos econômicos dos bancos errou. Poucos acertaram o PIB do primeiro trimestre. A Gradual Investimento e a MB Associados acertaram. No começo do trimestre, quando a maioria dos grandes bancos e consultorias previa um ano começando forte, o economista José Roberto Mendonça de Barros tinha outra visão. A recuperação começaria mais lenta e pegaria mais ritmo ao longo dos trimestres, mas, de qualquer maneira, não seria um ano brilhante. Suas previsões eram de 0,6% no primeiro trimestre; 0,7%, no segundo; e ainda precisaria de dois trimestres de 1% para se chegar ao crescimento de 2,5%. Ontem, a equipe da MB Associados informou que as previsões devem ser revistas para baixo. Pode ser menor que 2,5%.

Aliás, ontem começou uma onda de revisão das previsões de crescimento nos bancos que apostavam em 0,9% ou até 1,1% para o primeiro trimestre. O ano será melhor do que 2012, mas de novo será de baixo crescimento.

A produção industrial ficou no negativo. Caiu a produção de petróleo e a mineração. O setor de serviços, de um trimestre para o outro, desacelerou de 0,7% para 0,5%. É bom lembrar que a inflação do setor está em 8%. O consumo das famílias se mantém em terreno positivo, mas o ritmo desabou: de 1% no quarto trimestre para 0,1%. De novo, a culpada é a inflação, que no fim do trimestre estava em 6,59% no acumulado de 12 meses. A agricultura teve um crescimento de 9,7% em relação ao último trimestre. A melhor notícia depois da agricultura foi o investimento, que teve uma alta forte de 4,6%. A maior parte desse número é explicada pela compra de caminhões.

A taxa de investimento, como proporção do PIB, foi a mais baixa para um primeiro trimestre desde 2009, em 18,4%. A taxa de poupança é a menor desde 2003, em 14,1%. Esse é o resultado de anos de política econômica que deu prioridade ao consumo e criou instabilidade regulatória para as empresas. Mas a maior das incertezas é a inflação. Ela reduz o consumo e dificulta o planejamento das empresas. Foi isso que levou o BC a acelerar a alta de juros para 8%.

Renovar a zona franca - MARCELO MITERHOF

FOLHA DE SP - 30/05

A zona franca tem quase 50 anos e desmobilizá-la significaria piorar o desequilíbrio regional


A repercussão da coluna passada sobre a zona franca de Manaus refletiu a acirrada disputa que há em torno do tema. Felizmente, houve também os que mostraram preocupação em como conferir sustentabilidade à ZFM.

Criada em 1957, a zona franca foi consequência de um movimento político que reivindicava uma ação federal para combater o vazio econômico gerado pela decadência da borracha natural, substituída por compostos sintéticos.

Entretanto, sua regulamentação e efetiva criação foram ocorrer apenas em 1967, quando a ditadura militar, incorporando preocupações geopolíticas, colocou em prática a Operação Amazônia, um conjunto de ações para garantir a ocupação da região, que também contou com a criação da Sudam e do Basa.

Uma gênese como essa ajuda a entender as dificuldades em torno da ZFM e por que a discussão em torno dela é tão difícil.

A experiência da borracha exemplifica os riscos de basear uma economia apenas em produtos primários. Portanto, é justa a reivindicação de maior equilíbrio regional no desenvolvimento industrial que o Brasil avançava no pós-guerra.

No entanto, não era -e continua não sendo- fácil desenvolver cadeias industriais em uma região remota e pouco populosa, especialmente se há o objetivo de preservar florestas e populações indígenas.

Claro, um projeto industrial mais equilibrado não significa que a indústria precise ser relevante em todo o país. No Brasil, o Nordeste -com população de 53 milhões, segundo o Censo de 2010- precisa se industrializar para gerar emprego e renda compatíveis com o objetivo de o país se tornar desenvolvido.

Com 3,5 milhões de pessoas no Estado do Amazonas e 16 milhões em todo o Norte, a região poderia participar do desenvolvimento nacional por meio de ocupações de Estado, como a segurança de fronteiras e a pesquisa voltada para a biodiversidade amazônica, além da exploração sustentável da floresta etc.

Mas a Zona Franca existe há quase 50 anos. Hoje, desmobilizá-la significaria piorar o desequilíbrio regional. O problema é que sua sustentabilidade continua dependendo das desonerações tributárias do poder central. Sem elas -e o episódio dos royalties do petróleo mostra que a reversão é possível-, não seria difícil que as empresas instaladas trocassem a localização de suas atividades manufatureiras.

Quer dizer, a ZFM precisa elevar o custo de desmobilização do Polo Industrial de Manaus (PIM), lutando por iniciativas que permitam à região se transformar num polo tecnológico, adensando a cadeia produtiva de eletroeletrônicos.

Isso significa que é preciso melhorar a qualificação profissional, atrair profissionais para ter cursos de engenharia de primeiro nível -além de química, biologia, entre outros- e garantir a realização local de pesquisa e desenvolvimento.

Com o montante de desonerações envolvidas, recursos não faltam. Tampouco há carência de demanda no PIM por esse tipo de atividade e por fornecedores qualificados, embora atualmente as estratégias das empresas nele instaladas não favoreçam que eles sejam localizados em Manaus.

Para reverter tal quadro, a Suframa deveria tomar a iniciativa de aperfeiçoar sua governança, mostrando como as exigências -por exemplo, as de aplicação em P&D- são fiscalizadas e planejadas.

Além disso, as exigências de P&D, que existem para as TIC (tecnologias de informação e comunicação) como decorrência da Lei de Informática, deveriam ser estendidas para eletrônica de consumo (a outra perna dos eletroeletrônicos), que é bem mais importante para o PIM dos que as TIC.

Talvez a ZFM devesse renunciar às TIC, que historicamente se concentraram fora do PIM e, por isso, são hoje o grande foco de tensão com os demais Estados.

Como contrapartida, pode-se buscar arranjos tributários e investimentos federais para agregar tecnologia e valor a cadeias como a farmacêutica e de biotecnologia, cujas matérias-primas costumam sair em estado bruto da floresta para serem processadas em outros lugares do Brasil e do mundo.

Essas são meras reflexões, que precisam ser mais bem discutidas e especificadas para se concretizarem. O certo é que é possível atender às legítimas aspirações da região e ter contrapartidas dela. A renovação da ZFM, prevista para este ano, é uma boa chance para mudar o padrão de discussão em torno dela.

Seguro eleitoral - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 30/05
Os petistas fizeram seus cálculos e descobriram que a tendência de apoio do PMDB aos seus candidatos é mínima
Desconfiados das reais intenções do PT em vários estados, os peemedebistas preparam carreira solo nos grandes colégios eleitorais do país. São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul, Goiás, Mato Grosso do Sul e por ai vai. Assim, o maior aliado do governo Dilma Rousseff começa a fechar uma espécie de "rota de fuga", para poder buscar outro caminho, caso algo dê errado logo ali na frente.

Embora os peemedebistas reclamem do PT, a verdade é que o mapa de prováveis alianças para 2014 indica que os petistas estão muito mais dispostos a apoiar o PMDB do que o inverso. Há boa vontade em apoiar um nome do PMDB em pelo menos seis estados: Pará, Rondônia, Alagoas, Sergipe, Amazonas e Amapá.

No caso desse último, entretanto, ainda depende do rumo que tomará o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, uma vez que o governador do Amapá, Camilo Capiberibe, é do PSB e o vice é do PT. Eduardo Campos é visto hoje, entre os políticos, como a peça mais importante que falta para clarear o quadro dos estados, nessa corrida tão antecipada.

Enquanto isso, no PT...
Os petistas fizeram seus cálculos e descobriram que a tendência de apoio do PMDB aos seus candidatos é mínima. Existe, hoje, apenas no Piauí e no Distrito Federal, onde o vice de Agnelo Queiroz é o peemedebista Tadeu Filippelli. Em conversas reservadas, há quem diga que Filippelli poderia até lançar-se em uma candidatura alternativa, de forma a não ficar tão destoante da maior parte do partido, país afora. Mas a cúpula nacional do PMDB trata essa hipótese como "intriga sem fundamento", uma vez que a ordem em Brasília é repetir o desenho da aliança nacional.

Diante desse quadro de pouco apoio nos estados, o presidente do PT, Rui Falcão, tem dito aos peemedebistas que, se eles quiserem suporte no Rio de Janeiro, por exemplo, deveriam arrumar um jeito de ajudar a reeleição de Tarso Genro, no Rio Grande do Sul. O PMDB, todavia, tem candidato próprio lá.

Por falar em "intrigas"...
O presidente do PMDB, senador Valdir Raupp, de Rondônia, faz questão de alertar que essa situação de candidaturas próprias do seu partido não representa riscos para o cenário nacional. Ele tem dito que o vice-presidente da República, Michel Temer, conseguiu construir um leque de apoios desses palanques à chapa Dilma-Michel. "Está melhor do que foi na última eleição", assegura.

O problema é que, entre as garantias do presidente em exercício do PMDB e o calor da campanha, a distância é grande. Essa estratégia peemedebista indica, para muitos políticos, a tal "rota de fuga" referida acima. O partido, aliás, sempre foi craque nessa construção. Sempre tem um pedaço enorme em uma banda e grupos menores que abrem trilhas para outras candidaturas.

Para completar, tem sempre uma terceira turma peemedebista disposta a criar fatos e situações que deixem qualquer governo dependente da boa vontade do partido. Vide o pedido de CPI da Petrobras, já referido aqui na coluna em outras oportunidades, e o elenco de matérias que o governo não quer nem ouvir falar - PEC 300 (dos policiais), fator previdenciário, orçamento impositivo e outras "coisinhas" mais.

E no PSB...
O jogo fica cada vez mais nebuloso. A última forma foi um freio na troca de partido por parte do vice-governador de Pernambuco, João Lyra Neto. Além de Carlos Lupi pedir a ele que não saísse do PDT, o PSB ainda pesa prós e contras dessa filiação. Tudo porque, à primeira vista, poderia parecer que Eduardo Campos desistiu de ter o PDT na sua chapa. Nem o governador pernambucano deseja mostrar suas cartas agora e nem os pedetistas estão interessados em fechar desde já. Como esse baile ainda está no começo, a ordem de cada um é valorizar o passe.

E tem mais!
O gingar das medidas provisórias no Congresso indicam que o governo passa agora a depender de "gambiarras", como a inclusão da medida provisória da energia elétrica em outras correlatas que tramitam na Casa. Afinal, não está descartado que outros textos terminem sem prazo para votação no Senado, como ocorreu com a MP que trata da redução dos valores da conta de luz. Sendo assim, ou Dilma acerta logo o passo na Câmara, ou a legislação brasileira ficará cada vez mais confusa, com leis misturando alhos e bugalhos. Essa, entretanto, é outra história.

Nem tanto enérgico - JANIO DE FREITAS

FOLHA DE SP - 30/05

Até a caduquice da MP, ficaram cinco dias e meio para a votação no Senado. No nosso calendário


Mau uso de uma boa razão --assim se define a preferência do senador Renan Calheiros, presidente do Senado, por caducar a medida provisória que reduziu o custo da energia elétrica.

Não havendo a Câmara deixado sete dias ao Senado para discutir e votar a MP, que caduca na segunda-feira, Renan optou por não a submeter ao plenário. Tal como dissera que faria, para forçar a Câmara a não remeter ao Senado medidas e projetos já nas vésperas de expirarem. Como se deu há duas semanas com o complicado projeto do novo sistema portuário.

A palavra política do senador Renan já sofreu, dele mesmo, maus-tratos que a desacreditariam para sustentação assim firme. Mas, sobretudo, só na aparência a atitude de Renan atinge a Câmara de algum modo. O prejuízo é todo da população, ainda que, lá adiante, o governo fabrique um remendo para restabelecer a redução eliminada.

Por trás da palavra defendida por Renan há, porém, algo de fato mais apropriado ao presidente do Senado. Entre a aprovação da MP na Câmara e sua caduquice na segunda-feira, ficaram, digamos, cinco dias e meio para a votação pelos senadores. No nosso calendário. No instituído pelos parlamentares brasileiros para o seu desfrute, seria um dia ou seria nenhum.

A habitual chegada da turma para uma sessão a meia-bomba na terça e saída de Brasília na quinta, o mais cedo possível, alterou-se para melhor com o feriado de hoje. Então, contar com que senadores, velhos carrascos, fossem a Brasília para passar a terça e cair fora na quarta, em vez do enforcamento antes e depois do feriado, seria mais do que temeridade. Ou não seria Renan.

Com disposição de votar a MP, em benefício da população, haveria até a possibilidade de convocar o Senado, se necessário, para sessões extraordinárias no feriado. Necessidade que só ocorreria caso os senadores se dessem ao trabalho de debater e negociar em torno da MP. Mas a quarta, sem a perspectiva do enforcamento, daria para a votação.

À palavra de Renan não bastou ser perversa para se exibir coerente. Precisou ser, também, a conhecida cortina já de tantos encobrimentos.

EMPREITADA

Notabilizado como dono ou "dono" da empreiteira Delta, dada como parte do esquema operacional de Carlos Cachoeira, Fernando Cavendish foi agora condenado a quatro anos e meio por malversação de dinheiro público e superfaturamento no que seria a despoluição da lagoa de Araruama. A sentença permitirá, se confirmada, o regime semiaberto.

Mas não esqueçamos: Cavendish é empreiteiro. Um tipo de ser que a Justiça brasileira tornou naturalmente incompatível com a reclusão, nem mesmo para apenas passar a noite.

Está em discussão, no Judiciário, o fim do recolhimento noturno pelos condenados a regime semiaberto, por escassez de vagas. No máximo, haveria o recolhimento noturno à própria casa. Se não houver a dispensa total da pena.

ERRO E ERRO

A readmissão, para cargos altos, de dois exonerados na tal limpeza feita por Dilma Rousseff no Ministério da Agricultura contém um de dois erros. Ou o ministro Antonio Andrade deixou de explicar à opinião pública a readmissão por estar provada a inocência dos dois, ou os readmitiu apesar de não inocentados.

A primeira hipótese é posta em dúvida por estarem Ricardo Pamplona e Marcos Leandro Junior ainda respondendo a inquérito. A segunda, se confirmada, não pode concluir-se na demissão só dos dois.

Dilma entre dois flancos - TEREZA CRUVINEL

CORREIO BRAZILIENSE - 30/05
As adversidades na economia e na política vão tornando a candidatura da presidente Dilma à reeleição cada vez mais dependente de sua própria popularidade
Ontem foi um dia de realidades adversas para a presidente Dilma Rousseff e seu governo. Na economia, a repercussão frustrante de um crescimento inferior ao esperado no primeiro trimestre. Mais uma vez, o ministro da Fazenda teve que rebaixar suas previsões para o ano, seguindo o que já fizera o mercado. Na política, finalmente começaram todos a colocar um dedo numa ferida que vem sendo tratada com subterfúgios, a crise de compromisso da base parlamentar. Paradoxalmente, a presidente que enfrenta esses problemas mantém o mais índice de popularidade da era democrática, segundo as últimas pesquisas a respeito.

Deixemos a economia para os especialistas - que, por conta do "pibinho" e apesar da inflação de alimentos, apostavam ontem em alta mínima dos juros - e fiquemos na política. Por algum tempo, o Planalto fingiu desconhecer os problemas em sua base de sustentação parlamentar. Por alguns dias, foi mais cômodo apontar o líder do PMDB, Eduardo Cunha, como bruxo da vez. Se criou problemas, foi graças ao problema maior existente. As cúpulas do PT e do PMDB usaram os analgésicos que puderam, esperando uma resposta do governo. Como ela não veio, e a febre continuou subindo, nas últimas horas começaram todos a colocar o dedo na ferida: ou Dilma muda de atitude em relação à coalizão, ou terá problemas pela frente. Já está tendo.

O problema aflorou no jantar de segunda-feira à noite, entre os senadores petistas e o presidente do PT, Rui Falcão, foi objeto de uma reunião, anteontem, entre líderes governistas e ministros palacianos, e ontem foi escancarado por declarações do líder petista na Câmara, José Guimarães, e pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, direitíssimo ao ponto. "Não adianta tapar o sol com a peneira. Algo não vai bem na base governista."

Se, na segunda-feira à noite, dos 423 deputados que teoricamente integram a base, pelo menos 257 (metade da casa mais um) tivessem comparecido à sessão noturna, teriam sido aprovadas em tempo hábil as medidas provisórias 601 e 605. Mas só havia 210 deputados em plenário, parte deles, da oposição, que aproveitou para obstruir. Às 22h, Alves encerrou a sessão. Os governistas não iriam chegar para votar. Deixaram para pegar o avião para Brasília no dia seguinte. O nome disso é descompromisso. As MPs foram votadas no dia seguinte pela manhã, mas deixando menos de sete dias de prazo para a apreciação do Senado. E como Renan Calheiros havia se comprometido com seus pares, ao votar a MP dos Portos faltando quatros horas para a perda de validade, que não colocaria novas propostas em votação com prazo de tramitação inferior a sete dias, teve que honrar a palavra, impondo um grande prejuízo ao governo. Uma das medidas trata da redução da tarifa de energia. Outra da desoneração de encargos trabalhistas para alguns setores empresariais. Vai-se dar um jeito de salvar as matérias enfiando-as como emendas em outras MPs. É analgésico, mas não é remédio.

Que problemas são esses na base? São difusos, mas podem ser resumidos com a palavra insatisfação. A interlocutora oficial, a ministra Ideli Salvatti, nunca foi devidamente empoderada por Dilma para negociar com o Congresso. Quem ocupa o postos precisa ter autonomia para firmar acordos, e tais acordos precisam ser honrados. Os deputados sentem-se como meros apertadores de botão e os líderes como mandaletes do Planalto. Há demandas não atendidas, seja na liberação de emendas ou no preenchimento de cargos, mas, quando o ânimo subjetivo é bom, problemas desse tipo vão sendo resolvidos sem gerar crise. Eles decorrem, em grande parte, da personalidade altaneira da presidente, de sua falta de familiaridade com o funcionamento do Congresso e seu centralismo, que pode ser benéfico à gestão (num país onde a burocracia impõe o passo de cágado), mas é nocivo à política. Foram agravadas pelas disputas eleitorais antecipadas nos estados, entre o PT e PMDB. Nessas circunstâncias adversas, na política e na economia, a candidatura de Dilma à reeleição passa a depender, cada vez mais, de sua própria popularidade.

Sem cerimônia
Os senadores petistas e o presidente do partido, Rui Falcão, no jantar em que avaliaram a conjuntura, concluíram que o governador Eduardo Campos reduziu sua movimentação pública, mas acelerou as articulações nos bastidores, perdendo completamente a cerimônia ao investir sobre bases do PT e dos partidos aliados. O movimento mais ousado foi no Ceará: segundo senadores do PT, ele convidou a ex-prefeita petista de Fortaleza Luizianne Lins a ingressar no PSB e para concorrer ao governo. Com isso, sinalizou que espera ou conta com a saída dos irmãos Cid e Ciro Gomes do PSB. Anteontem, ele teve um encontro com Ciro Gomes em Recife, sobre o qual nada declararam, por ora. Ciro e seu irmão, o governador Cid, como é sabido, preferem apoiar Dilma. E não perdoam Campos por ter impedido a candidatura presidencial de Ciro em 2010, forçando o apoio a Dilma com o argumento de que o ciclo de poder do PT ainda não havia se esgotado.

Campos poderia dizer, porém, que o PT abriu fogo primeiro, ao barrar adesões ao PSB, como fez em Goiás, desviando para o PMDB a filiação do empresário José Batista Júnior, o "Júnior da Friboi". Mas é certo que, entre os dois partidos, acabou-se a cerimônia e deve começar a guerrilha. Os petistas estão cercando os governadores do PSB. Camilo Capiberibe (AP) externou preferência por Dilma, e Renato Casagrande (ES) tem dito que pode não apoiar ninguém para presidente, ao disputar a reeleição. "Eduardo não terá a unanimidade no PSB, mas posso garantir que terá o apoio de uma significativa maioria", diz o senador Rodrigo Rollemberg (DF), um de seus articuladores no Congresso.