segunda-feira, maio 27, 2013

Zero mais zero - J. R. GUZZO

REVISTA VEJA


Consta que Galeno, o maior médico da Roma amiga, chegou cena vez a uma cidade atingida pela peste, onde foi recebido com grandes esperanças pelos notáveis locais. Que sorte a nossa, pensaram todos —justo nesta hora, eis que nos aparece o grande Galeno, o homem que mais conhece o corpo humano em todo o império e consegue curar as doenças mais infames em circulação por aí. Galeno olhou um pouco à sua volta, pensou por um minuto e deu sua receita para o tratamento da peste: "Vão embora daqui o mais rápido que puderem. Vão para o lugar mais longe possível. Voltem o mais tarde que conseguirem". Houve um certo desapontamento: mas é só isso que o nosso grande doutor tem para dizer"." Sim. era só isso. e Galeno foi o primeiro a aplicar a sua própria terapia: montou no cavalo, saiu a galope e nem olhou para trás. Não há informações mais precisas nessa história, mas uma coisa é certa: ninguém que optou por obedecer à sua prescrição morreu. E não era isso. exatamente, o que esperavam dele?

O episódio permanece, no anedotário da história, como uma prova de que é perfeitamente possível aproveitar a própria ignorância para obter um benefício importante — importantíssimo, na verdade. para os que salvaram a sua vida seguindo a recomendação recebida. Galeno não tinha a mais remota ideia de como curar a peste, algo que só seria descoberto uns 1600 anos depois, mais ou menos. Mas sabia algumas coisas interessantes. Sabia, por exemplo, que a doença aparecia numas cidades e não em outras, que permaneciam totalmente imunes â epidemia. Por quê? Pergunta inútil. raciocinava ele, já que não havia tempo de ticar fazendo pesquisas científicas quando centenas de pessoas morriam todos os dias nas cidades atingidas pela peste. Sabia, também, que um indivíduo ainda não contaminado permanecia plenamente saudável quando se mudava para algum lugar livre da praga. Não se importava nem um pouco, enfim, em admitir sua ignorância sobre o assunto: ao contrário dos seus colegas, que ticavam receitando remédios absurdos, rezas e mandingas para esconder o fato de que não sabiam nada sobre 0 tratamento da doença, preferia salvar pela observação lógica aqueles que ainda não estavam condenados.

Galeno, na escuridão do século II, não sabia muita coisa. Era capaz, entre outras proezas, de desmontar um macaco inteiro numa autópsia e, em seguida, colocar cada peça de volta exatamente no lugar em que estava. Mas dizia que isso lhe ensinava muito sobre macacos, e pouco sobre o homem. Achava, por exemplo, que o sangue se originava no fígado, e tinha dúvidas sobre a disposição dos músculos do corpo humano: hoje. provavelmente, não o deixariam clinicar num posto de saúde do interior do Ceará. Mas Galeno era um ás em servir-se da sua inteligência para vencer a sua ignorância. Ao recusar-se a ficar inventando falsas respostas para questões que desconhecia, e por limitar-se a aplicar ao paciente o que de fato sabia, forçava a si próprio a aprender mais, e a aprender com mais certeza. O resultado é que acabou se tomando um farol para a medicina por mais de 1000 anos após a sua morte.

Em muita coisa, no Brasil de hoje. vivemos um momento oposto ao do mundo mental de Galeno — a ignorância serve para derrotar a inteligência. Grandes vultos do nosso mundo cultural, político, social e outros abarrotam seus sites com cursos, mestrados, pós-graduações e outros feitos d"armas que atribuem a si próprios: infelizmente, não informam o que aprenderam. Sem isso,o que se tem é zero mais zero. No papel o sujeito é um crânio, e se comporta com aquela arrogância que só a falta de mérito pode comprar — mas, na hora de mostrar o que realmente sabe, apresenta um diploma em vez de uma resposta. Em outros casos, sai-se na direção oposta: a ignorância é promovida a virtude, e a falta de estudo vira um certificado de sucesso na vida. Gente desse tipo é convidada a dar aulas ao mundo, aceitar tarefas incompatíveis com os seus conhecimentos e até a receber títulos de doutor honoris causa, aqueles que exigem um chapéu estranho que fica sempre torto na cabeça do homenageado. Um cidadão de mínimo bom-senso, em tal situação, diria: "Muito obrigado, mas não posso aceitar, porque não entendo nada deste assunto. Não há causa para a honoris.

Mas quem faria isso? O título, os aplausos de platéias tidas como sofisticadas e a canonização do ignorante valem mais que o mérito. Quanto menos o indivíduo sabe, tanto menos quer saber. Por que haveria de querer? Não se mexe em ignorância que está ganhando.

As mentiras, os fatos e o tornado Joaquim - RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA

Brasil também tem seu tornado e ele se chama Joa­quim Barbosa. Por muitas vezes ainda, o presidente do Supremo Tribunal Federal exercitará seu temperamento ex­plosivo. Essa impulsividade cobra um preço alto em sua coluna lombar. E joga destroços no lombo de muita gente no Planalto. Acho sensacional quando o redemoinho da ver­dade atinge nossos políticos.

O tornado Joaquim só espalha o que todo mundo diz. Que os partidos são “de mentirinha”. Que “o grosso dos brasileiros não vê consistência ideológica e programática em nenhum dos partidos”. Que “os partidos e seus líderes não têm interesse em ter consistência” e “querem o poder pelo poder”. E que o Congresso prima pela ineficiência e submissão ao Executivo.

Joaquim falou como professor, em palestra no Instituto de Educação Superior de Brasília. Não é desculpa. Ele pode ser tudo, menos ingênuo. Sabe que qual­quer coisa que fale, ainda mais espinafran­do, tem hoje o peso da toga e da posição no STF. O juiz supremo recebeu bordoada de todo lado. O presidente da Câmara,

Henrique Alves, disse que “uma declaração desrespeitosa como essa não contribui para a harmonia constitucional”. O presi­dente do Senado, Renan Calheiros, disse que a declaração não ajuda “o fortaleci­mento das instituições”.

Joaquim é pelo primeiro nome que o povo o conhece e o aplaude nas ruas - não negou nem vol­tou atrás, apenas afirmou ter falado como acadêmico em recinto fechado. Ora, ministro, paredes não resistem a tor­nados. Joaquim acha mesmo tudo o que disse. Na concepção de Alves e Renan, temos então no STF um golpista, um re­volucionário, um juiz que joga contra a democracia e quer ver o circo pegar fogo. Menos, menos.

O roteiro da costura de alianças para 2014 é pior que na última novela da Globo, Salve Jorge. Estamos assistin­do a “Salve-se quem puder”. É constrangedor acompanhar as cambalhotas de PT, PMDB, PSDB e PSB em busca de votos e palanques. Todas as declarações para a imprensa têm um quê de ameaça, chantagem, destempero, falsos beijos e tapinhas nas costas. Os slogans são pífios, os dis­cursos são gritados. Como seria bom mandar todos os candidatos para a Capadócia, dar um tempo no noticiário político. Há uma imensa carência de ideias e programas. Capítulo após capítulo, vemos uma guerrinha de perso­nalidades, saias justas, jantares conspiratórios.

Acompanhamos boquiabertos a manipulação de estatís­ticas jogadas para baixo - como os índices de inflação e o total de miseráveis. No fundo, a realidade dos políticos é rasa. A governadora Roseana Sarney só pressiona por mais uma ajudinha de R$ 1,5 bilhão para o Maranhão, o Estado que desmoraliza o índice de Desenvolvimento Humano (1DH). Pensando bem, o pedido de Roseana não é nada para um governo federal que gasta com 39 ministérios, em 17 prédios, a fortuna anual de R$ 58 bilhões, mais que o dobro do Bolsa Família. Falar contra esse escândalo do toma lá dá cá também atenta contra a democracia? Essa gastança é imposta a todos nós, que já sentimos a inflação pesar a cada visita ao supermercado. Não dá para enganar todos o tempo inteiro.

Será que o comportamento errático do Congresso e de nossos partidos colabora para “o fortalecimento das insti­tuições”? Esqueçam Joaquim e olhem para seu próprio um­bigo. Ah, a Justiça também tem sua parcela de culpa. Várias decisões do STF nos últi­mos anos contribuíram para tornar os par­tidos pouco representativos. As falhas do Judiciário não desmerecem, porém, o dis­curso de Joaquim por um Legislativo mais eficaz. Com objetivos mais nobres, que honrem o espírito público, É só ter mais coerência e princípios. Mentir menos. Tudo isso ajudaria, sim, na democracia. Ajudaria a votar com gosto e convicção.

As críticas de Joaquim aos partidos en­contram um eco poderoso no mais novo indicado ao STF: o advogado Luís Roberto Barroso. Ele sempre defendeu uma reforma política abrangente, “que desça à raiz do pro­blema” e combata “a corrupção e o fisiologismo”. Barroso critica Fernando Henrique Cardoso e Lula: “Nem FHC nem Lula tentaram mudar o modo como se faz política no Bra­sil. (...) Eles aderiram a esse modelo de presidencialismo sem base ideológica, com eleições em que se vota em can­didatos, e não em partidos”. Traduzindo para o português corrente: nossos partidos são de mentirinha.

O tornado é um intenso redemoinho de vento que ocor­re quando uma nuvem em movimento alcança a terra. No Brasil, esse fenômeno costuma ocorrer quando se dá o microfone a Joaquim.

Dilma, por favor, aprenda a chutar a bola, e não o gramado. O mundo está de olho na senhora.

O novo banco federal - MAÍLSON DA NÓBREGA

REVISTA VEJA


Apesar da forte participação estatal no mercado de crédito, o governo federal dá a entender que vai mais um banco oficial, que funcionaria disfarçado de fundo a ser gerido pelo Tesouro Nacional. Trata-se de um grande equívoco, como se verá adiante.

Bancos existem desde a Antiguidade. Eles atuavam na Babilônia, na Grécia antiga e no decorrer do Império Romano. Na Idade Média, durante a Renascença italiana, bancos em Florença. Veneza e Gênova financiavam comerciantes e governos, neste caso para custear guerras. Muitos quebravam quando os reis não pagavam as dívidas.

Na forma atual, os bancos surgiram na Holanda e na Inglaterra entre os séculos XVI e XVII com a expansão do comércio derivada dos grandes descobrimentos e com as mudanças institucionais da Revolução Gloriosa (1688). que limitou o poder dos reis ingleses, promoveu a segurança jurídica e criou o ambiente de negócios típicos do sistema capitalista.

O crédito se expandiu na esteira dessas e de outras inovações, mas também experimentou instabilidades. A maior oferta de financiamento acarretava surtos de euforia e desastrosas bolhas especulativas. A mais famosa delas foi a das tulipas. na Holanda (1636-1637). Uma tulipa chegou a valer dez vezes o salário anual de um artesão. Em alguns momentos, o preço dessa bela flor equivaleu a 25 toneladas de trigo.

A disseminação dos bancos e de sua capacidade de receber depósitos trouxe outro problema: a corrida bancária. Nos momentos de pânico, os depósitos eram sacados de uma vez. Sem poderem receber antecipadamente os empréstimos, os bancos quebravam em cadeia. Estouro de bolhas e corridas bancárias interrompiam subitamente o crédito, provocando efeitos devastadores para a economia e a sociedade.

Os bancos haviam se tornado fonte valiosa de desenvolvimento, mas era preciso limitar a assunção irresponsável de riscos e estabelecer mecanismos para lidar com corridas bancárias. Nos séculos XIX e XX. foram criadas instituições para regular o sistema financeiro e estabelecer regras prudenciais. visando a evitar crises ou limitar seus efeitos. Hoje. essas regras integram os chamados Acordos de Basiléia — ora na terceira edição —. coordenados pelo Banco de Compensações Internacionais, com sede nessa cidade suíça. As respectivas normas são aprovadas em cada país.

Mesmo assim, as crises acontecem. Bancos conseguem contornar restrições para a expansão de seus negócios, enquanto a má regulação e dificuldades de detectar riscos pelos reguladores criam as situações em que acontecem os desastres. O aprendizado com as crises é permanente e o processo de regulação, interminável.

Em resumo, a economia requer um bom sistema financeiro. Se os mercados não cumprem bem esse papel, particularmente no investimento, a falha deve ser suprida pelo governo, via instituições estatais. Também não se pode dispensar a regulação, em especial a que trata de normas prudenciais, dos riscos e da relação destes com a base de capital dos bancos.

Desafiando a experiência de quatro séculos, o governo sinaliza que vai criar um banco no Tesouro Nacional sem os requisitos de prudência que o Banco Central exige do sistema financeiro. A nova instituição, disfarçada de fundo, financiará a infraestrutura via repasse de recursos a bancos. Para suprir tais recursos se recorreria a uma indesejável ampliação da dívida pública. O fundo não teria base de capital para enfrentar os riscos típicos de operações de crédito. Ademais, o Tesouro dificilmente dispõe de pessoal habilitado a avaliar tais operações.

Mesmo que não fosse preciso elevar a dívida federal bruta, que nos últimos anos tem aumentado para que bancos estatais expandam seus programas de financiamento, a maior oferta de crédito para a infraestrutura deveria caber ao BNDES, que acumulou longa experiência na matéria.

Suspeita-se que o novo "banco" vise a contornar as normas que a regulação prudencial impõe ao BNDES, como capital mínimo e limite por cliente. No Tesouro, isso pode ser negligenciado. Por incrível que pareça, o governo terá de contar com a prudência dos bancos para evitar a assunção inconsequente de riscos e seus efeitos na economia. Não dá para acreditar.

Os pobres pagam mais - J. R. GUZZO

REVISTA EXAME

A crise no mundo rico e a falta de gente qualificada em países como o Brasil provocam uma inversão inédita de salários dos executivos. Eles têm perspectiva de ganhar mais aqui do que lá.


O quadro não é novo, mas hoje está mais claro do que em qualquer outra época. Pela primeira vez na história, possivelmente, trabalhar como executivo — em português simples, como chefe de alguma coisa, e não como operário imigrante — pode estar sendo melhor no mundo pobre, ou pelo menos no que se chama de “emergente”, do que no mundo rico. A regra não é clara, mas os números são. Os resultados da pesquisa mundial mais recente sobre o tema, fruto de estudo feito por 20 000 especialistas em remuneração que trabalham em 70 países, comprovam que os executivos dos quatro Brics, e algumas dezenas de nações com características parecidas, terão em 2013 altas salariais maiores do que em qualquer lugar do Primeiro Mundo. Dentro de três anos, os salários dos executivos na Ásia deverão ser superiores aos dos Estados Unidos. Já agora, na China, um gestor vindo de fora ganhará logo de saída 30% mais do que recebia no país rico de onde veio. O Brasil, nesse pelotão, é um dos que apresentam os maiores aumentos. Tirando os mandarins da primeiríssima linha das megaempresas americanas e multinacionais, sobretudo na área financeira, a remuneração dos executivos no Brasil está se aproximando, já igualou ou passou à frente da que é paga a profissionais do mesmo nível em países ricos. E precisamente isso, por sinal, que tem trazido ao Brasil e países semelhantes um número cada vez maior de executivos estrangeiros. A compensação para os riscos provocados pelas incertezas políticas do mundo “emergente” (com o consequente risco para a manutenção do emprego), as ameaças sempre presentes da inflação e o crescente aumento do consumo nesses países estão na base do movimento que está à vista de todos.

Os grandes vetores dessa “transferência mundial” dos rendimentos mais altos, porém, parecem claramente movidos por duas forças: a oferta maior que a demanda dos empregos superiores, fruto da ruindade geral da educação em países como o Brasil, e o marasmo, às vezes quase o estado de coma, no mercado de trabalho no mundo desenvolvido. A primeira situação está mais do que demonstrada na economia brasileira: falta, pura e simplesmente, gente qualificada para ocupar os postos oferecidos. A indústria, principalmente, não consegue encontrar os profissionais de que precisa, seja para projetos de expansão, seja para a simples manutenção de suas operações normais; mesmo para um crescimento econômico que não chega nem a 1% ao ano, as empresas vivem à procura, sempre demorada e frequentemente malsucedida, de executivos que sejam realmente capazes de executar as tarefas exigidas por seus cargos. Falta pessoal em centenas de atividades, sendo a área de engenharia a mais dramática. O ambiente na maioria dos países ricos, porém, já é coisa cercada por nevoeiro grosso.

A França talvez seja o melhor exemplo dessa situação. A renda média, número algo discutível diante de sua cohabitação com uma “renda mediana” criada pelos estatísticos, é geralmente colocada em 2 400 euros por mês, ou cerca de 6 250 reais. Só 10% das famílias ganham mais do que o equivalente a 14 000 reais por mês — havendo contas ainda mais rigorosas, segundo as quais os 90% restantes recebem mensalmente menos de 3 300 euros, ou 8 500 reais. Enfim, apenas 1% ganha mais do que 7 600 euros, ou 20 000 reais por mês. São cifras altamente equilibradas, às quais se juntam excelente educação e serviços públicos de primeira qualidade. No entanto, nunca os franceses estiveram tão insatisfeitos com seu bem-estar — e têm demonstrado isso com as pernas. Contando apenas os que se registram nos consulados, há hoje 1,6 milhão de franceses vivendo no exterior, um número que pode estar próximo a 3 milhões, na contabilidade real. Não querem os poucos empregos que a França pode oferecer e não se interessam pelo estado de bem-estar social que tanto esforço, tanto imposto e tantas décadas custou ao país. É um caso que dá o que pensar.

Fator Tiririca - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 27/05

A turma do Partido da República anda preocupada com a chance de o deputado Tiririca desistir da política.
O partido estima que, se isso ocorrer, a legenda perderia uns dois milhões de votos, montante capaz de eleger uma pequena bancada. Por isso, a cúpula do PR marcou uma reunião de emergência, amanhã, com o palhaço.

Dia do Fico...
Tiririca, assíduo na Câmara, pedirá ao partido empenho na defesa de algumas causas, como a dos palhaços.
E ele disse a um amigo: “Mas só os palhaços profissionais, os de circo. Os amadores que a gente vê por aí não devem contar comigo.”

Ah, bom!

Novo amor
Na recente eleição para o cargo de diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), a Nicarágua votou no candidato apoiado pelos EUA, que perdeu para o brasileiro Roberto de Azevedo.

Segue...
O que se diz é que o presidente Daniel Ortega, outrora guerrilheiro do grupo sandinista, tem procurado se aproximar de Washington.

É uma tentativa de viabilizar a construção de um canal entre os oceanos Atlântico e Pacífico, a exemplo do Canal do Panamá.

Quem avisa amigo é
Muito se fala da importação de médicos de Portugal, e o coleguinha André Luiz Azevedo, correspondente da TV Globo em Lisboa, alerta que, também no caso da medicina, a língua não é bem a mesma.

Exemplos: câncer é cancro, resfriado é constipado, band-aid é pense rápido, cólica é dor do período, paciente é utente, camisinha é durex e injeção é... pica.

Ainda o bônus do pré-sal
Entre empresários do setor de petróleo, a estimativa é que o governo vai fixar em uns R$ 10 bilhões o bônus para o leilão do Campo de Libra, no pré-sal, em outubro.

Bem menos que os US$ 15 ou 20 bilhões estimados pelo consultor Adriano Pires. Mas, ainda assim, é muita grana.

Calote do BNB
No Brasil, com a profusão de recursos processuais, é difícil cobrar de um devedor, mesmo o caloteiro sendo rico de marré deci.

Em 2009, a 30ª Vara Cível do Rio condenou o Banco do Nordeste do Brasil a indenizar uma cliente em R$ 25 mil por danos morais.

Novela que segue...
Após uma série de recursos, o BNB deu como garantia um imóvel em Minas, mas até hoje não pagou nada.
Agora, a Justiça ordenou a retenção da grana devida. Só que, semana passada, o Banco Central avisou que o BNB, cujos ativos somam uns R$ 32 bilhões, não dispõe desse dinheiro. Tadinho...

Porto em alta
Servidores estão recebendo um folheto de anúncio do lançamento do residencial Porto Vida, no Porto do Rio. O prédio tem apartamentos de 2 e 3 quartos. Uns a partir de R$ 420 mil.

Trata-se de um valor acima do preço médio cobrado na Ilha do Governador ou em São Cristóvão, e quase igual ao preço médio na Tijuca.

Sinal de riqueza
Não é raro encontrar policial em carro de luxo, cujo valor é bem acima de suas posses. Agora, a Corregedoria Geral Unificada (CGU) promete investigar a evolução patrimonial de policiais civis, militares e bombeiros do Rio.
Para isso, está criando a Comissão de Sindicância Patrimonial.

Aviso prévio
Sabe as lojinhas no térreo do Edifício Praia Vermelha, aquele em frente à entrada no Pão de Açúcar, na Urca? Pois bem, vão acabar. O Exército deu até 30 de dezembro para os comerciantes saírem de lá. A mudança afeta 150 famílias.

Cena carioca
Dois turistas ingleses estavam, quinta, num ônibus da linha 332 (Centro-Taquara) quando um vendedor de balas entrou no veículo e um deles perguntou a um passageiro:
— Aqui, no Rio, os ônibus possuem serviço de bordo?
Há testemunhas.

Custo CR7
Dia destes, em Madri, um carioca foi a uma loja comprar uma camisa do Real Madrid. O vendedor explicou que custaria 59,90 euros se ele quisesse colocar nome e número. E acrescentou:
— Se for o número 7, com o nome do Cristiano Ronaldo, custa mais 15 euros.
Seja feliz, Neymar
A turma da coluna, os cariocas e, por que não dizer?, o Brasil o abraçam.

Millôr desenhista - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 27/05

RIO DE JANEIRO - Um dia perguntei a Millôr Fernandes quem viera primeiro, o escritor ou o desenhista, ou qual nele se revelara mais cedo. Ele disse: o desenhista. Fiquei surpreso porque, para mim, se Millôr nascera para escrever, o desenho parecia algo que ele tivera de aprender. Eu ainda não sabia o suficiente de André François, James Thurber e Saul Steinberg para entender que gênios do desenho, como eles, dispensam a linha reta, a limpeza, o retoque.

Millôr me contou que, em sua memória mais remota, nunca se viu sem desenhar, ao passo que se lembrava de quando começara a ler e a escrever. Donde seu instrumento primordial era o lápis, não a caneta. Não será surpresa se o mergulho em seu acervo gráfico, a cargo de Ivan Fernandes, revelar que o artista Millôr foi tão grande ou maior que o escritor.

Seja como for, é esta última faceta que estará no monumento em sua homenagem a se inaugurar hoje no Rio, a um ano de sua morte: um banco de calçada, projetado pelo arquiteto Jaime Lerner, em que a silhueta recortada de Millôr, traçada por Chico Caruso para lembrar "O Pensador" de Rodin, atravessa uma placa de aço e permite ver o mar e o pôr do sol.

O banco fica no recém-batizado largo do Millôr, junto à pedra do Arpoador, um espaço que ele pisou todos os dias, em seus 58 anos de Ipanema, depois de correr ou caminhar em marcha acelerada pela areia dura, como o atleta que também era.

Desenhista, pensador, atleta. Mas só agora percebo que dois presentes com que me honrou tinham a ver com desenho: uma coleção de sua revista "Pif-Paf" (os oito números originais, de 1964, não a edição fac-símile, de 2008) e o guache com que ilustrou um artigo que escreveu em 1999 sobre meu livro "Ela é Carioca - Uma Enciclopédia de Ipanema", no qual seu verbete foi o mais difícil de fazer. Ele não cabia em verbetes.

GATO ESCALDADO - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 27/05

O conselho de contribuintes do Rio de Janeiro decidirá em junho quem deve pagar a conta por ligações clandestinas de luz nos bairros da cidade: se a Light, que distribui a energia, ou o governo do Estado. O total da ação passa de R$ 1 bilhão.

GATO 2
O governo quer empurrar o pepino para a Light, obrigando a empresa a pagar ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias) sobre os quilowatts desviados pelos "gatos" instalados por moradores, que "roubam" a energia dos vizinhos para não pagar por ela. Já a empresa acha que a obrigação de fiscalizar as ligações clandestinas é do Estado, que deve então ficar com o prejuízo. E diz que não pode desembolsar o dinheiro, já que nada recebe pela energia desviada.

FRONTEIRA
Em sua defesa, a Light afirma que, ao cobrar o ICMS dos "gatos", o governo faz o equivalente a cobrar impostos de uma loja que teve seus vestidos roubados numa vitrine. A decisão pode reabrir debate em SP, onde cobrança semelhante do governo foi suspensa pela Justiça.

PUXADINHO
A Geo Eventos, empresa das Organizações Globo que produz shows, vai trocar sua sede de três andares nos Jardins pelo mezanino da editora Globo, no Jaguaré. Na semana passada, a companhia demitiu mais de 40 pessoas, cerca de metade de seu quadro funcional.

PUXADINHO 2
E a Geo pode transferir a realização do festival de música Lollapalooza, que vai até 2015, para a gravadora Som Livre, também da Globo, caso tenha problema para realizar o evento.

ALÉM DO RISO
O humorista Fábio Porchat (Porta dos Fundos) fechou contrato com a produtora Mixer e vai rodar ainda neste ano o filme "Um Homem entre Abelhas".

No drama, Porchat, que também assina o roteiro, será um homem que se isola do mundo. Ian SBF vai dirigir.

UM BRINDE
São Paulo terá dois voos semanais diretos para Mendoza, na Argentina, a partir de setembro. A ideia é atrair turistas brasileiros para a rota do vinho. A província se compromete a garantir 20% dos assentos. Outros 60% serão bloqueados por um pool de operadoras do Brasil, para que ofereçam a clientes. O restante será comercializado pela Aerolíneas Argentinas.

VENHAM TODOS
De olho também nos turistas brasileiros, que têm gasto dólares e mais dólares no exterior, a Cubana de Aviación já anunciou um voo semanal direto para Havana, em Cuba, a partir de julho.

À PROCURA
Bruna Lombardi lança campanha na internet para encontrar atores para seu novo longa, "Amor em Sampa", com direção de Carlos Alberto Riccelli. Os candidatos poderão se inscrever na página da comédia no Facebook.

EU PARCELO
O financiamento para a compra de imóveis usados em SP cresceu 28,8% no primeiro trimestre, segundo pesquisa da administradora Lello. O total de casas e apartamentos negociados com empréstimo bancário foi de 58%, contra 45% no mesmo período de 2012.

É IMPOSSÍVEL SER FELIZ SOZINHO
José Maurício Machline, idealizador do Prêmio da Música Brasileira, organizou em sua casa, no Rio, um sarau com artistas que vão participar do evento, a ser realizado no próximo dia 12, no Theatro Municipal carioca. Os cantores João Bosco, Leila Pinheiro, Zé Renato e Zélia Duncan, o cenógrafo Gringo Cardia e os atores Marisa Orth e Murilo Rosa, com sua mulher, a modelo Fernanda Tavares, participaram. A 24ª edição da premiação vai homenagear Tom Jobim.

CURTO-CIRCUITO
O cônsul-geral de Israel em SP, Ilan Sztulman, recebe hoje a medalha Anchieta e o diploma de gratidão da cidade de São Paulo. A homenagem foi proposta pelo vereador Floriano Pesaro (PSDB-SP). Às 19 horas, na Câmara Municipal.

O Vivo EnCena, com gestão de Marcelo Romoff e curadoria de Expedito Araujo, recebe hoje homenagem no Prêmio Aplauso Brasil, em SP.

Fechado para a montagem da exposição "Crisálidas", da fotógrafa Madalena Schwartz, o Centro da Diversidade, na estação República do metrô, vai reabrir nesta quinta.

Um futuro para poucos - LÚCIA GUIMARÃES

O Estado de S.Paulo - 27/05

NOVA YORK - Quando o tumblr, a plataforma de microblogs, foi vendido ao Yahoo por US$ 1,1 bilhão na semana passada, tinha 178 funcionários.

O honorável Boston Globe, o principal jornal de Boston, emprega, só na área editorial, cerca de 470 pessoas. O New York Times não vê a hora de se livrar do Boston Globe, que comprou, em 1991, pelo mesmo preço pago pelo Tumbler, $ 1.1 bilhão. As propostas estão sendo examinadas e o Times estaria aceitando, segundo jornalistas da área econômica, até ofertas de $ 80 milhões.

Quando a Kodak reinava na indústria da fotografia tinha mais de 140 mil funcionários e valia $ 28 bilhões. Quando o Instagram foi vendido por $ 1 bilhão para o Facebook, em 2012, empregava 13 pessoas. Estes últimos números abrem o novo livro de Jaron Lanier, um dos primeiros personagens apelidados de "visionário da era digital", um cientista de computador e otimista confesso.

Em Who Owns the Future?, o autor de Gadget, Você Não É Um Aplicativo, lançado no Brasil em 2010, considera o poder da internet de destruir a classe média e o emprego estável, numa economia que concentra poder de maneira sem precedente.

"O clamor pela atenção online só gera dinheiro para uma minoria, entre as pessoas comuns", escreve Lanier. O autor lembra que uma minúscula minoria sempre se beneficia. São os grandes sistemas que transformam cada ação ou escolha que você faz nas grandes fortunas da história. Lanier diz que escreveu Who Owns the Future? para propor uma alternativa em que a nossa participação na rede digital seja uma avenida de mão dupla.

Ele argumenta que os13 empregados do Instagram não eram gênios ou super-homens. O valor pago pelo Facebook para adquirir o Instagram reflete as escolhas de milhões de usuários. Todas estas companhias start ups precisam da nossa adesão em massa para ser avaliadas na casa dos 10 dígitos. E, quando isto acontece, só um punhado de pessoas é remunerado.

Lanier ressalta que, quando fala de "rede digital", não se refere apenas à web e à internet mas também a instituições financeiras e agências de inteligência. Os que controlam os sistemas mais centrais impõem a profunda desigualdade econômica desta era da informação.

"Eu adoro a tecnologia e adoro mais ainda as pessoas", diz Lanier. É a conexão entre os dois que está fora de compasso. Ele teme que possamos entrar num período de hiper desemprego, em que grande parte da produtividade será mediada por softwares, como impressoras 3D e caminhões ou automóveis dirigidos por programas. E sugere que devemos parar agora, para considerar este cenário em que a economia da informação dispensa empregos.

"As pessoas são tratadas como pequenos elementos de uma grande máquina de informação", escreve Lanier, "quando, de fato, as pessoas são as únicas fontes e destino da informação, ou de qualquer significado."

Na semana passada, estava pesquisando uma pauta e tive que voltar a fazer uma assinatura de uma veneranda revista americana que não é parte habitual da minha dieta de leitura. Os $ 30 foram digeridos como um custo de produção da reportagem. Pois não passou um dia e comecei a ser bombardeada com e-mails de dita revista da "velha mídia" com todo tipo de pedido para participar de pesquisas e escrever sobre minhas expectativas. Em suma, queriam que trabalhasse para o departamento de marketing. Respondi que tinha cometido o crime de pagar por uma assinatura por necessidade de trabalho, o que, num passado recente, isso bastava. Agora, esperam me engajar como se fosse membro de uma brigada cívica subnutrida da Coreia do Norte. Além de pagar para acessar um conteúdo, sou transformada em mão de obra grátis para um dos grandes conglomerados de mídia do país.

Lanier espera que a evolução da tecnologia resulte numa economia menos abstrata do que a nossa, que favorece tão poucos. Informação não é sinônimo de realidade. Ele acredita que há mais de uma maneira de construir a economia da informação e, no momento, estamos escolhendo a opção autodestrutiva.

Lanier lamenta a diminuição das nossas expectativas. "Tenho saudades do futuro", diz ele.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 27/05

Alta da Selic deve seguir no nível de abril, diz economista
A elevação da taxa Selic em 0,25 ponto percentual a cada reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) é uma política que "veio para ficar".

A análise é de Octavio de Barros, diretor do departamento de estudos econômicos do Bradesco.

Em maio, após seis meses sem alterações, a taxa subiu 0,25 ponto. Mais quatro ou seis aumentos desse porte poderiam ocorrer, afirma o economista.

"Chegaríamos a um máximo de 9% ao final do ciclo atual de normalização monetária. Cenário mais provável, 8,75% -nível mais baixo atingido na era Lula", diz.

"Se houvesse uma situação de emergência, uma mudança de ritmo possivelmente faria sentido, mas certamente não é o caso atual."

O economista acrescenta que o desânimo empresarial se agravaria -"em um momento de resignação"- caso houvesse mudanças mais bruscas na Selic.

Barros diz ainda que a inflação deve ficar em 0,37% em maio. Até agosto, deve oscilar ao redor dos 0,28%, segundo projeções do banco.

"As expectativas só vão se acalmar quando a inflação de curto prazo se mostrar efetivamente mais baixa, em um ritmo condizente com a meta central. Isso é o que esperamos de maio a agosto."

Sobre o mercado de trabalho, o economista afirma que a baixa taxa de desemprego é decorrente da desaceleração do crescimento populacional e da queda do número de jovens.

"[Os dois fatos] sustentam um já duradouro descompasso de oferta e demanda de mão de obra. Desde 2004, a oferta cresce a 1,5% ao ano, ao passo que a demanda se expande em 2,4%."

EXPANSÃO FARMACÊUTICA
A rede de farmácias Pague Menos vai inaugurar em outubro seu segundo centro de distribuição no país, próximo a Goiânia (GO), um investimento de R$ 50 milhões.

Atualmente, o centro de Fortaleza (CE) atende as 607 lojas da rede espalhadas por todos os Estados do país, além do Distrito Federal.

A obra, já com a construção em andamento, faz parte do plano de expansão da empresa, que pretende abrir mais de 70 lojas neste ano e chegar a mil em 2017, segundo o presidente da Pague Menos, Deusmar Queirós.

"Vamos investir R$ 150 milhões na criação de lojas e estoques só neste ano", diz Queirós. "Nosso foco é crescer principalmente no Centro-Oeste e no Sudeste."

A expectativa é que o novo centro de distribuição, assim que esteja concluído, atenda as duas regiões e ainda o Sul do país.

O complexo já existente, em Fortaleza, ficará responsável pelo fornecimento às farmácias localizadas da Bahia ao Acre.

O lucro líquido da empresa foi de R$ 107,4 milhões no ano passado.

Empreendedor tem dificuldade de acesso ao crédito, diz estudo
Não falta crédito no país, mas ele raramente chega aos pequenos empreendedores e às start-ups, aponta estudo da Fundação Dom Cabral.

Em escala de zero a cem -na qual cem significa maior acesso ao capital-, a avaliação de disponibilidade de crédito passou de 61,2 em 2007 para 70,9 em 2011 (último ano que tem dados disponíveis).

Em Hong Kong, região definida como referência nesse quesito, a pontuação foi de 85,6 em 2011.

Quando se trata de disponibilidade de capital de risco, porém, o resultado é diferente. Entre 2007 e 2012, a avaliação mal variou, ficando entre de 2,5 e 2,9 (a pontuação vai de um a sete).

"Existem fundos de investimentos no país, mas eles querem a certeza da viabilidade do projeto. Aí é quase um private equity, e não um venture capital (que investe em empresas iniciantes)", diz o coordenador do estudo, Carlos Arruda.

"Os investidores querem que a companhia esteja em um estágio mais avançado e não na fase inicial, na qual se encontram normalmente as start-ups", acrescenta.

O perfil do empreendedor é, de acordo com o professor, o critério principal utilizado pelos fundos na hora de decidir a empresa que receberá o aporte.

"Os investidores não se preocupam tanto com o plano de negócios. Eles buscam pessoas que consigam achar uma saída rápida caso o projeto não dê certo."

CARTEIRA ASSINADA
A parcela de empresas que contrataram novos funcionários no Brasil caiu dos 41% registrados no primeiro trimestre de 2012 para 29% no mesmo período deste ano, segundo levantamento realizado pela Grant Thornton.

O resultado ficou próximo da média global, de 24%, e o país passou do sétimo para o 17º lugar no ranking dos 44 países pesquisados.

Quando o assunto é reajuste salarial, os brasileiros ocupam a sétima posição entre os que mais pretendem dar aumento aos seus funcionários nos próximos 12 meses.

Dos 300 executivos que responderam a pesquisa, 21% disseram que devem elevar as remunerações em patamar acima da inflação -a média global foi de 15%.

Os dados refletem a preocupação do empresariado diante da baixa oferta de mão de obra qualificada.

"Boa parte dos trabalhadores mais especializados foi contratada em 2012. Agora as companhias fazem de tudo para não perder talentos", diz Leandro Scalquette, sócio da Grant Thornton.

Energia... A Finep, vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, selecionou 117 empresas líderes para a primeira etapa do Inova Energia, para fomento na área energética.

...moderna O resultado final das três linhas, entre elas fontes alternativas e veículos híbridos, sairá em junho.

Parceria... O Instituto Abramundo fechará hoje nova parceria com a BG Brasil para projetos em escolas públicas de Angra dos Reis (RJ).

...matemática A iniciativa vai expandir a atuação de um programa de ciências e iniciar outro voltado ao ensino da matemática.

Ponciopilatismo - ROBERTO LUIS TROSTER

O Estado de S. Paulo - 27/05

A inflação é uma preocupação crescente para todos. O IPCA, que é o índice que mede a alta dos preços para famílias com rendimentos de até 40 salários mínimos, registrou 6,49% no acumulado em 12 meses; o INPC, que é o índice da classe de renda até 5 salários mínimos, superou-o, está em 7,16%, angustiando ainda mais os mais pobres.

Já a inflação de quem ganha salário mínimo, a da cesta básica calculada pelo Dieese, subiu 21,9% em um ano. Como essa classe de renda teve um reajuste de 9%, ficou mais pobre, a sacola da feira está mais leve do que no ano anterior. Esses dois números (21,9% e 9%) mostram que a alta descontrolada de preços prejudica mais quemganhamenos.Nãoénovidade, sempre foi assim. Tem mais.

A inflação funciona como um imposto (ruim) que diminui o poder de compra de todas as camadas de renda e com isso há impactos adversos no consumo e na inadimplência. No acumulado deste ano, as vendas em supermercados e hipermercados subiram apenas 1,8% em relação ao que passou. Feitos os devidos ajustes em razão do aumento da população e na pirâmide de rendimentos, é razoável afirmar que os mais pobres estão ficando com uma fatia menor do bolo.

Outro problema inflacionário é a inadimplência. Como a renda real caiu, alguns pagamentos são postergados. O Banco Central informa que, de cada R$ 3,00 devidos no cartão de crédito, pelo menos R$1,00 tem o pagamento atrasado em mais de 15 dias. As dificuldades financeiras já são uma preocupação da sociedade, que observa a formação de um circulo vicioso com financiamento baixo e crescimento.

Se a situação atual da inflação preocupa, as perspectivas angustiam ainda mais. Sua dinâmica está se transformando. As projeções de alta de preços subiram, e é comum que o mercado faça estimativas para mais ou para menos. Entretanto, em nove das dez últimas projeções mensais, apesar de maiores, os analistas estimaram um valor menor que o IPCA real. Subestimaram o índice 90% das vezes. É um sinal inequívoco de que a dinâmica inflacionária está piorando.

Há mais indicadores de que o processo de preços não está tão controlado comoafirmam alguns. A expansão monetária, medida pelo papel-moeda em poder do público, está crescendo 14,3% ao ano. A dívida pública aumentou de 53,3% para 59,2% do PIB em apenas dois anos e três meses do atual governo. É uma trajetória que desperta preocupações. Entretanto, há inúmeras referências de que a dívida líquida está caindo, sem mencionar que de fato a pressão fiscal na economia está aumentando. É oportuno recordar que na literatura econômica as expansões de gastos excessivas do governo têm consequências recessivas causadas pelo efeito deslocamento.

Também conhecido como crowding out, refere-se a situações em que o setor público desloca a produção e o consumodo setor privado (daí o nome deslocamento). Como a produtividade dos investimentos do governo é menor do que a dos particulares e há menos dispêndios em razão de impostos maiores, o crescimento da economia é mais baixo. Resumindo, no quadro atual, quanto maiores forem os gastos fiscais, menor será o crescimento.

Há outras distorções na economia brasileira, como a perda de competitividade da indústria e a deterioração do equilíbrio externo. O ponto é que os indicadores macroeconômicos estão piores do que poderiam estar em função de sua condução.

O título do artigo faz referência a isso. Vem do ato de lavar as mãos de Pôncio Pilatos. Em política, o termo está associado a quatro atitudes: 1) eximir-se de responsabilidades; 2) tratar como iguais coisas diferentes; 3) ceder a pressões populares para agradar à multidão de imediato; e 4) não fazer o que é claramente certo.

1) É fato que parte da deterioração do quadro econômico se deve a fatores exógenos - fora do controle do governo, como a alta de preços agrícolas (que beneficia o agro) e o que acontece no resto do mundo (que em média está crescendo mais que o Brasil). Entretanto, o restante é de responsabilidade interna. Se outros países com menos condições estão conseguindo fazer mais, indica que é possível desempenhar melhor aqui dentro. Lavar as mãos culpando o resto do mundo não é a saída.

2) Não poderia haver igualdade mais desigual que a de um criminoso conhecido como Barrabás e um inocente. É importante dar os pesos corretos quando colocados na balança uma alta temporáriados juros com um agravamento da dinâmica inflacionária ou o aumento de gastos públicos com seus benefícios para o País.

3) Há situações em que se deve ceder a pressões - não era o certo, no caso histórico. Todavia, um governante não pode ficar refém de pesquisas de opinião e de popularidade no curto prazo. Juros mais baixos e mais gastos públicos são desejos de todos, mas dentro de limites viáveis. Exageros têm o efeito oposto ao desejado no médio prazo. O desempenho recente da economia prova.

4) O receituário parafazer o Brasil crescer é conhecido, é o RT, as Reformas e o Tripé das políticas cambial, monetária e fiscal. Há espaços para uma reengenharia institucional, mas insiste-se numa lei cambial e trabalhista da década de 1930, em regulamentações que emperram a produção nacional e num arcabouço fiscal tributário que beneficia a poucos em detrimento de um futuro melhor para o País.

A economia brasileira como um todo tem mais pontos positivos do que negativos. O País vai crescer 3% este ano e um pouco mais em 2014 e o governo tem méritos. Mas é pouco, pode-se e deve-se ambicionar mais, é possível e é viável.

É paradoxal, mas um aperto monetário efiscalno atual quadro macroeconômico teria um impacto expansionista, em vez de recessivo. Sinalizaria ao setor empresarial o comprometimento do governo com o tripé. Se a isso for adicionado o início de um ciclo de reformas, pode-se esperar um desempenho compatível com o potencial do Brasil. É hora de torcer.

O terror da ambivalência - LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 27/05

A janta e a normalidade do cotidiano sempre valeram mais do que qualquer vida humana


Você esconderia judeus em sua casa durante a França ocupada pelos nazistas? Não, não precisa responder em voz alta.

Melhor assim, para não passarmos a vergonha de ouvirmos nossas mentiras quando na realidade a janta, o bom emprego e a normalidade do cotidiano sempre valeram mais do que qualquer vida humana. Passado o terror, todos viramos corajosos e éticos.

Anos atrás, enquanto eu esperava um trem na estação de Lille, na França, para voltar para Paris, onde morava na época --ainda bem que tinha minha família comigo porque Paris é uma cidade hostil--, li a resenha de um livro inesquecível na revista "Nouvel Observateur".

Nunca li esse livro, nem lembro seu nome, mas a resenha era promissora. Entrevistas com filhos e filhas de pessoas que esconderam judeus em casa durante a Segunda Guerra davam depoimentos de como se sentiram quando crianças diante dos atos de coragem de seus pais e suas mães.

A verdade é que essas crianças detestavam o ato de bravura de seus pais. Sentiam (com razão?) que não eram amados pelos pais, que preferiam pôr em risco a vida deles a protegê-los, recusando-se a obedecer a ordem: quem salvar judeus morre com eles.

Podemos "desculpar" as crianças dizendo que eram crianças. Nem tanto. Adolescentes também sentiam o mesmo abandono por parte dos pais corajosos. Cônjuges idem.

Está justificada a covardia em nome do amor familiar? Nem tanto, mas deve-se escolher um estranho em detrimento de um filho assustado?

Tampouco dizer que os covardes também seriam vítimas vale, porque o que caracteriza a coragem é exatamente não se deixar fazer de vítima --coisa hoje na moda, isto é, se fazer de vítima.

Não foi muito diferente aqui no Brasil durante a ditadura, guardando-se, claro, as diferenças de dimensão do massacre.

No entanto, não me interessa hoje essa questão da falsa ética quando o risco já passou --a moral de bravatas. Mas sim a ambivalência insuportável que uma situação como essa desvela, na sua forma mais aguda.

Ou meu pai me ama ou ama o judeu escondido em minha casa, ou, ele me ama, mas não consegue dormir com a ideia de que não salvou alguém que considerava vítima de uma injustiça, e por isso me põe em risco. Eis a razão mais comum dada por esses pais, quando indagados, da razão de pôr em risco sua vida e família: "Não conseguia fazer diferente". Mas a ambivalência da vida não se resume a casos agudos como esses.

Freud descreveu os sentimentos ambivalentes da criança para com o pai no complexo de Édipo: amo meu pai, mas quero também me livrar dele, e também sinto culpa por sentir vontade de me livrar dele.

Independente de crer ou não em Freud plenamente (sou bastante freudiano no modo de ver o mundo, e Freud foi o primeiro objeto de estudo sistemático em minha vida), a ambivalência aí descrita serve como matriz para o resto da vida.

Os pais amam os filhos (nem sempre), mas ao mesmo tempo ter filhos limita a vida num tanto de coisas (e hoje em dia muita mulher deixa para ser mãe aos 40 por conta deste medo, o que é péssimo porque a mulher biologicamente deve ser mãe antes dos 35). Apesar dos gastos intermináveis, no horizonte jaz o possível abandono na velhice por parte destes mesmos filhos "tão" amados.

Mas, ao mesmo tempo, não ter filhos pode ser uma chance enorme para você envelhecer como um adulto infantil que tem toda sua vida ao redor de suas pequenas misérias narcísicas.

Casamento é a melhor forma de deixar de querer transar com alguém devido ao esmagamento do desejo pela lista infinita de obrigações que assola homens e mulheres, dissolvendo a libido nos cálculos da previdência privada.

Mas, ao mesmo tempo, a liberdade deliciosa de transar com quem quiser (ficar solteiro), com o tempo, facilmente fará de você uma paquita velha ridícula sozinha que confunde pagar por sexo com um homem mais jovem com emancipação feminina. E, no caso do homem, o tiozão babão espreita a porta.

E, também, terá razão quem disser que mesmo casando você poderá vir a ser uma paquita velha ou um tiozão babão.

Quantas ambivalências espera você nessa semana?

Aliança do Pacífico preocupa no Brasil - SERGIO LEO

VALOR ECONÔMICO - 27/05

Vista como ameaça ao Mercosul, por sua capacidade de criar uma zona de livre comércio entre México, Peru, Colômbia e Chile, com uma população equivalente a do Brasil e 33% do comércio da região, a Aliança do Pacífico é, por enquanto, um projeto, ainda que em avançada negociação, apoiado por entusiasmada declaração de intenções de engajados chefes de Estado. E já assusta os empresários brasileiros. Eles veem na iniciativa aspectos que faltam na política comercial brasileira. Enquanto o Mercosul empaca em uma agenda de acesso a mercados típica do século passado, andinos e o México buscam seu lugar nas cadeias globais de produção.

Reunidos nesta semana em Cali, na Colômbia, os chefes de Estado dos quatro aliados comemoraram a entrada da Costa Rica na aliança e a adesão, como observadores, de sete novos países (entre eles o Paraguai, que se soma ao Uruguai, já observador). Também festejaram um acordo para dispensa de visto nas viagens entre eles - algo que o Brasil pode se vangloriar de já ter com todos. Anunciaram também um acordo que reduzirá a 90% as tarifas de importação entre si, num primeiro momento, com prazo "razoável" para liberar os 10% restantes - mas falta ainda negociar os detalhes. O prazo para o acordo, já adiado uma vez, é 30 de junho.

"Nossa preocupação é que não está em pauta, não se vê pronunciamento de nenhum dos ministérios no Brasil sobre o que acontece na Aliança do Pacífico, algo que ainda não reconhecemos", desabafa o presidente do Centro Empresarial da América Latina (CEAL), Ingo Plöger. Ele e outros executivos brasileiros voltaram do último Fórum Econômico Mundial na América Latina impressionados com o entusiasmo dos empresários dos quatro países da Aliança. "Há uma dinâmica incrível, vontade política dos governantes e participação dos empresários", descreve.

Diferentemente do modelo da Organização Mundial do Comércio (OMC), as negociações da Aliança para o Pacífico têm maior senso de urgência: os acordos são assinados à medida que ficam prontos, sem esperar conclusão em todos os temas. Há 17 grupos de trabalho, com objetivos bem além do corte de taxas de importação. Discutem reconhecimento mútuo de certificações sanitárias e até propostas de liberalização de serviços em medicina, com permissão de atuação dos médicos de um país no outro.

Para Plöger, a falta de iniciativas no Mercosul capazes de polarizar as atenções como a Aliança do Pacífico mostra que o Brasil perde liderança nesse campo, e vacila na criação de uma agenda capaz de ampliar a ação das empresas brasileiras na região. Ele dá como exemplo a falta de acordos de bitributação com relevantes países sul-americanos, que obriga empresas brasileiras a criar holdings no Chile, com quem o Brasil tem acordo, se quiserem investir na Colômbia. Boa parte das conversas entre os países da Aliança do Pacífico trata exatamente da melhoria do ambiente de negócios entre os respectivos mercados.

"Eles estão com uma visão de que, ao ter um determinado ambiente institucional com características comuns, podem montar estratégias de captura de pedaços de cadeias de valor global", descreve o diretor-executivo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), José Augusto Fernandes. "É um raciocínio diferente do que prevalece do nosso lado do continente, no Atlântico", afirma.

Os aliados negociam, por exemplo, as chamadas "janelas únicas" de comércio exterior, que permitirão a exportadores e importadores realizarem transações entre os países buscando autorização em um só guichê. Também buscam regulamento único para cosméticos e farmacêuticos. Os quatro governos pretendem concluir um acordo de liberalização de serviços e proteção a investimentos até o fim de junho, incluindo o setor financeiro, transporte marítimo e aéreo, telecomunicações e serviços profissionais.

"Essas negociações vão engendrar um padrão de comércio e investimento na região que vai muito além das regras da OMC", comenta o diretor-executivo do Ceal, Alberto Pfeifer. As novas normas tendem a criar vantagens comparativas na disputa por investimentos, acreditam os empresários. "Hoje, no comércio, o que mais importa são as regras não-tarifárias, na lógica do investimento de longo prazo", diz Pfeifer, que reconhece a ameaça de extinção para as empresas menos competitivas, como as têxteis, nesses países.

Para José Augusto Fernandes, da CNI, há um lado positivo: o clima de negócios criado nos países da Aliança pode ser proveitoso para empresas brasileiras com planos de internacionalização. "Empresas como Natura e Gerdau já atuam na região", lembra. "E o Brasil aproveita oportunidades de investimento em áreas de mineração e construção pesada no Chile, por exemplo, onde tem vantagem comparativa."

A lógica no Mercosul, muito influenciada por concepções de substituição de importações, produção local e proteção de mercados, porém, parece, para os empresários, em descompasso com a tendência global de fragmentação das etapas de produção industrial.

É bom ter cautela nas comparações com os aliados do Pacífico. A exportação dos quatro países da Aliança à Ásia foi de US$ 71 bilhões em 2011, quase US$ 7 bilhões inferior às vendas do Brasil à região; já a importação de bens asiáticos, de US$ 155 bilhões, foi mais que o dobro das feitas pelo Brasil no mesmo ano. Os dados mostram como o Brasil vai bem na venda de commodities, preferidas pelos asiáticos, e como é bem mais fácil a países como México, Peru e Chile abrir-se à invasão de produtos do Oriente.

Muitos pontos da negociação ainda estão em aberto e o Brasil, que tem acordos de livre comércio com os andinos e tenta um de serviços com a Colômbia, não está obrigado a seguir exatamente o mesmo rumo dos governos excitados no litoral Pacífico. Mas precisa apontar uma alternativa viável a esse movimento, que deve criar uma zona dinâmica de comércio e investimentos capaz de abater ainda mais a competitividade de uma indústria mal abrigada pela barreira tarifária do Mercosul.

Efeitos ocultos - PAULO GUEDES

O GLOBO - 27/05
A economia e a política oferecem muitos exemplos de expedientes oportunistas cujos efeitos não intencionais acabam se revelando trágicos para seus próprios autores. Tornaram-se clássicos de boas intenções anunciadas com péssimos resultados os casos de tabelamento de preços de alimentos. As tentativas de garantir comida barata para as classes mais baixas pelo controle de preços sempre desembocam no desaparecimento de produtos alimentícios das prateleiras dos supermercados, como ocorre hoje na Venezuela dos despreparados socialistas bolivarianos.
Outro exemplo de desastrosos efeitos não intencionais para registro dos futuros manuais de ciência política é a emenda de reeleição presidencial patrocinada pelos tucanos. Preterindo reformas impopulares de modernização para investir seu capital político na emenda de reeleição, os tucanos criaram uma armadilha que se revelou letal para o próprio partido. Reeleita Dilma Rousseff, Lula pode ainda sair do banco de reservas e entrar em campo para mais dois mandatos. A emenda de reeleição teria perpetuado seus arqui-inimigos petistas no poder.

Mais um exemplo é o drama atual da economia europeia. Inconformados com o poderio dos americanos, os franceses atacaram primeiro a paridade do dólar contra o ouro. A força fiduciária da moeda americana à época reduziu o ataque especulativo à irrelevância. Em nova manobra política, apoiados pela formidável massa crítica de uma Alemanha reunificada, renovaram seu desafio ao dólar com o lançamento do euro. Os efeitos não intencionais dessa artimanha têm se revelado excruciantes: da disciplina imposta por uma moeda supranacional ao desnudamento de um conflito entre pais com aposentadorias generosas e filhos desempregados.

Preocupam-me também os riscos de uma escalada inflacionária no Brasil, após o mergulho das classes baixas nos mercados de crédito.

Particularmente pelo rápido aumento do endividamento para a compra de bens duráveis e moradias. A aceleração da alta de preços pode trazer em poucos anos os temíveis efeitos não intencionais da própria expansão excessiva do crédito. Com as prestações em alta e os empregos em risco pela reaceleração inflacionária, o relaxamento do governo com as metas de inflação cria uma enorme ameaça para o futuro.

Efeito Barroso - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 27/05

A cúpula do PMDB no Senado estuda propor emenda constitucional impondo prazos para que o presidente da República indique membros do Supremo Tribunal Federal. A ideia, discutida com advogados, é que, caso a escolha não seja feita em 30 dias pelo presidente, o Senado teria dez dias para indicar alguém para uma vaga aberta. Dilma Rousseff demorou seis meses para definir o nome do advogado constitucionalista Luís Roberto Barroso como substituto de Carlos Ayres Britto.

Onde pega A justificativa é que, sem o time completo, os demais ministros do Supremo ficam sobrecarregados e a pauta acaba travada.

2014... Silas Malafaia, um dos responsáveis por colar em Dilma a defesa do aborto durante a campanha de 2010, promete voltar à carga no ano que vem graças à indicação de Barroso para o Supremo.

... é aqui "Quando ela escolhe um cara desses, que apoia o aborto e vai contra valores que são tão caros a mim, ela está me dizendo: essa é a sinalização de ministro que você acha bom?", afirma.

Troco Ele diz ainda que na eleição terá o "direito'' de se manifestar contra a candidata do PT. "Como posso apoiar alguém que diz estar pensando o oposto de mim?"

Operação... Um dia após o anúncio de que o PMDB havia coletado assinaturas suficientes para a CPI da Petrobras, a estatal divulgou nota, na sexta-feira, anunciando desistência de vender ativos na Argentina. Deputados afirmam que o tema seria um dos objetos da comissão.

...abafa Além da desistência da Petrobras, parlamentares enxergam na antecipação do primeiro leilão do pré-sal para outubro uma estratégia do governo para esvaziar o discurso e evitar a agenda negativa da CPI.

De qualquer jeito Se a CPI for engavetada por Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), peemedebistas garantem que as investigações contra a estatal serão realizadas por uma comissão mista, com senadores e deputados.

Registro Roberto Freire quer oficializar nesta semana a fusão do PPS e do PMN na Justiça Eleitoral. O MD ainda não existe oficialmente.

Sorte Na entrevista em Adis Abeba (Etiópia), no final de semana, a fitinha do Senhor do Bonfim de Dilma se rompeu justamente quando um repórter perguntava sobre os problemas na relação do governo com o PMDB.

Pausa O feriado de quinta-feira deve adiar para a semana que vem a reunião de líderes da oposição na Câmara com o diretor-geral da PF, Leandro Daiello Coimbra, para falar das investigações de boatos sobre o Bolsa Família.

Na base O ex-deputado Celso Russomanno (PRB) confirmou presença na posse de Rogério Hamam (PRB)na pasta de Desenvolvimento Social de SP, amanhã. A cerimônia foi marcada para as 12h e não vai atrapalhar a gravação ao vivo de seu quadro na TV, durante a tarde.

Comigo... A "bolsa anticrack" Cartão Recomeço deve ser uma das estrelas das propagandas estaduais do PSDB que estreiam em junho.

...não tá Geraldo Alckmin vem martelando que o governo federal é responsável pelo aumento do tráfico de drogas porque faz o policiamento das fronteiras.

Caipira Na semana passada, a sigla decidiu fazer comerciais diferentes para cada região do Estado. Serão mostradas na TV obras viárias, leitos de hospitais inaugurados e "vitrines" da gestão como unidades do Poupatempo e Fatecs de cada local.

com ANDRÉIA SADI e LUIZA BANDEIRA

tiroteio
"Esse boato foi uma jogada de marketing para promover a reestreia de um programa que, envelhecido, precisava se reapresentar."
DO SENADOR JOSÉ AGRIPINO MAIA (RN), presidente do DEM, sobre a revelação de que a Caixa liberou pagamentos do Bolsa Família um dia antes dos boatos.

contraponto


Unidos venceremos
O plenário da Câmara discutia, na semana passada, uma emenda à Lei da Política Nacional de Drogas que retirava a determinação de incluir frases e imagens de advertência nos rótulos de bebidas alcoólicas.

O deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) defendeu a manutenção dos comunicados. Foi quando o deputado Costa Ferreira (PSC-MA), adversário ferrenho das propostas de direitos homossexuais defendidos por Jean, exclamou:

--Enfim vamos votar juntos, Jean! Não estamos assim tão distantes em tudo...

Apesar da união de opostos, a medida foi aprovada.

É inevitável o suicídio coletivo? - RUBENS RICUPERO

FOLHA DE SP - 27/05

Se algo não mudar, vamos chegar ao fim do século com mudança de clima que ameaça a civilização


Em 10 mil anos de história, é a primeira vez que a humanidade tem o poder de cometer suicídio coletivo. Era essa a tese central de Emmanuel Mounier em "O Grande Medo do Século 20". Publicado em 1947, o livro se referia à ameaça de uma catástrofe atômica, angústia constante na fase aguda da Guerra Fria entre EUA e URSS. Passaram-se 66 anos e conseguimos evitar o pior.

Na época de Mounier não se sabia que os homens poderiam liquidar o mundo não só com bombas, mas com o aumento desenfreado da produção econômica e do abuso dos combustíveis fósseis. Quinze dias atrás, ultrapassamos o sinal amarelo no rumo da destruição. A atmosfera registrou 400 partículas de dióxido de carbono por um milhão.

É preciso recuar 4,5 milhões de anos para encontrar concentração comparável. O clima era então muito mais quente, quatro ou cinco graus a mais em média. No ritmo atual, não existe nenhuma possibilidade de limitar o aquecimento global a dois graus como decidido em Copenhague. Se algo não mudar, vamos chegar ao fim do século com 800 partículas e mudança de clima de dimensões que ameaçam a sobrevivência da civilização tal como a conhecemos.

A violação da marca simbólica de 400 por milhão não provocou nenhuma declaração ou alerta de chefes de Estado. Um dia depois, os jornais esqueceram o assunto e voltou-se ao dia a dia como se nada tivesse acontecido. Como explicar tal indiferença diante da morte anunciada que espera o mundo dos homens?

O silêncio é inexplicável numa sociedade na qual a ciência substituiu a religião como crença unificadora. Ora, a ciência climática não permite dúvidas: de 12 mil estudos científicos sobre o tema em 20 anos, 98,4% confirmam as previsões!

Há muitas explicações para a inércia. Uma delas tem a ver com a natureza da ameaça. Crises como a dos mísseis de Cuba em 1962 precisam ser resolvidas em horas ou dias. Se o presidente Kennedy tivesse hesitado, em poucos dias seria tarde demais. Já o desastre ambiental é como um câncer de expansão lenta: sabe-se que ele está lá, que se nada se fizer, a morte é inevitável. Mas não se sabe o dia nem a hora. Isto é, uma catástrofe em futuro indeterminado carece da força para precipitar soluções difíceis.

O provável por isso é que só haverá ação decisiva para evitar o colapso definitivo depois de uma sucessão de calamidades espantosas. Quando isso suceder, muitas das consequências já se terão tornado irreversíveis como o derretimento das geleiras, a elevação do nível dos oceanos, a inundação de cidades, a desertificação, a extinção de milhares de espécies.

Toynbee lembrava num dos seus últimos livros que nisso os homens deveriam invejar insetos como as formigas, condicionados do ponto de vista psicossomático a agir coletivamente por instinto de sobrevivência. Estudo recente comprovou que os peixes já estão migrando para o norte em busca de águas mais frias. Enquanto isso, os seres humanos se deslumbram com o avanço em produzir e queimar mais gás a partir do xisto...

A razão talvez esteja com o poeta T.S. Eliot: o mundo acaba não com um estrondo, mas com um gemido.

Por que os brasileiros gastam tanto no exterior? - EDMAR BACHA

O GLOBO - 27/05
Deu nos jornais que o déficit das transações correntes do Brasil com o resto do mundo atingiu níveis recordes no mês passado. Entre as razões para esse déficit, sobressaem os gastos de turistas brasileiros no exterior. Segundo pesquisa do governo americano, os turistas brasileiros estão entre os que mais gastam em compras nos Estados Unidos, só perdendo para os japoneses e os britânicos. A situação parece preocupar o governo brasileiro que, segundo os jornais, estuda aumentar os impostos e adotar outras medidas para restringir os gastos dos brasileiros no exterior.

Antes de o governo adotar mais medidas protecionistas, talvez seja bom se perguntar por que é mesmo que, em vez de desfrutarem mais das belezas desse país tropical bonito por natureza, os brasileiros preferem gastar dólares em navios-cruzeiros ou em compras nos shoppings de Miami? A resposta parece óbvia, se considerarmos que os turistas brasileiros não parecem estar atrás de bens culturais inexistentes no País. Numa enquete do governo americano, 95% dos turistas brasileiros dizem que vão lá para comprar.

O que os brasileiros compram nessas viagens aos Estados Unidos está em geral disponível no Brasil. Só que custa até o dobro ou o triplo do preço, e a qualidade é com frequência inferior.

Por isso, vale a pena pagar o custo da passagem aérea internacional, mesmo porque ela também é bem mais barata por quilômetro voado do que a nacional.

A resposta à pergunta por que os brasileiros gastam tanto no exterior é que o Brasil se tornou um país caro. Quem pode, gasta lá fora - os ricos sempre puderam e sempre o fizeram; agora a classe média ascendente vai atrás e por isso cresce o déficit nas transações correntes. Quem fica por aqui são os pobres, para quem estão reservados os produtos mais caros, a não ser quando descolam um contrabando paraguaio de qualidade duvidosa no comércio informal.

Por que o Brasil se tornou tão caro? Por muitas razões, mas uma das principais delas é o protecionismo - os altos impostos sobre bens e serviços importados, as taxas alfandegárias e os custos portuários, as regras de conteúdo nacional, os padrões diferentes de nossas tomadas elétricas e bens duráveis de consumo, e por aí a lista vai. Tudo isso faz com que os bens e serviços vendidos no país, tanto importados como nacionais, sejam caros.

Se o problema é o protecionismo, não é com mais protecionismo que o governo devia tentar resolvê-lo. É verdade que mais impostos e restrições às compras externas podem tirar a classe média de Miami. Mas isso somente faria agravar o apartheid social brasileiro, contra o qual a ascensão dessa classe média é o melhor antídoto. Que tal pensar em como produzir bens e serviços melhores e mais baratos para todos os brasileiros?

Rugido ou miado? - VALDO CRUZ

FOLHA DE SP - 27/05

BRASÍLIA - "BC: inflação baixa, estável e previsível é condição para crescimento sustentável." Esta era a manchete do Blog do Planalto no dia 6 de janeiro de 2011, início do governo Dilma, da primeira entrevista de Alexandre Tombini como presidente do Banco Central.

Próxima de completar dois anos e meio de mandato, Dilma Rousseff viu seu governo conviver com inflação alta, instável e sem previsibilidade. Resultado: não houve crescimento sustentável no período.

Agora, às vésperas da eleição e com a oposição explorando o tema, o governo parece ter descoberto que estava brincando com fogo. Pelo menos o Banco Central.

Tanto que Tombini voltou a falar grosso desde o início do ano e retomou o tom da fala inaugural. Passou ainda a alertar que o combate à inflação vai contribuir para fortalecer a confiança de empresários e consumidores na economia.

Recado com endereço certo, o Palácio do Planalto: a inflação alta ajudou a adormecer o espírito animal de empresários e a corroer o poder de compra dos eleitores.

O BC distancia-se, assim, da imagem de alinhamento com a visão petista de que, para não sacrificar o crescimento, é possível tolerar uma certa inflação elevada.

O próprio banco flertou com tal linha no ano passado, na crença de que a inflação cederia no médio prazo. Só que ela ficou nas alturas por tempo demais e recua num ritmo aquém do recomendável.

Daí a subida de tom nas falas de Tombini, que já desperta de novo o fogo amigo no governo e levou o mercado a apostar que a taxa de juros deve subir numa dose mais salgada nesta semana --com aval e sem reação contrária do banco.

O risco é o rugido do BC virar um miado caso os juros subam no mesmo ritmo do mês passado. Nunca é demais lembrar, porém, que 2014 é ano de eleição. Ao PT, em vez de bater no BC, pode interessar mais que todo serviço seja feito agora.

Boato, tomate e ferrugem - JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO

O Estado de S.Paulo - 27/05

Nem boato, nem tomate. O que desgasta a popularidade de Dilma Rousseff é a perda de otimismo do consumidor. Sem vender esperança de que melhores ventos virão, nenhum capitão consegue manejar o leme à vontade por muito tempo. É a confiança de que o barco está no rumo certo que evita o motim da tripulação.

Boatos fabricados e tomates exorbitantes passam. Já a lenta mas constante perda de poder de compra da base eleitoral tem efeito corrosivo na imagem de qualquer governante. As ondas chacoalham, mas é a ferrugem que afunda o navio no longo prazo. Marola quase imperceptível no oceano de notícias sobre o boato, a nova queda da confiança do consumidor registrada na sexta é ferrugem.

Antes, porém, uma espiada na comoção coletiva e efeito manada.

O descomunal interesse sobre o Bolsa Família provocado pelo boato de que o programa iria acabar ficou documentado na página de tendências do Google - o Google Trends. O volume de buscas pela expressão "bolsa familia" (assim mesmo, sem acento) foi recorde no domingo 19 de maio: dez vezes maior do que de hábito. Mas durou pouco. Em três dias a preocupação voltou ao normal.

O vagalhão produzido por mensagens fraudulentas enviadas a celulares de beneficiários do Bolsa Família - por empresa de telemarketing carioca, segundo a Polícia Federal - dissipou-se tão rapidamente quanto chegou. Arrastou multidões aos caixas eletrônicos, mas deixou para trás apenas a desconfiança - menos sobre a continuidade do programa do que sobre a origem do boato.

No fim, a armação pode ter o efeito contrário ao previsto, porque o boato não encontrou respaldo na realidade. É diferente da busca coletiva pelo tomate perdido de quarenta dias antes.

Preços impagáveis elevaram o tomate à categoria de fenômeno digital em 5 de abril. As buscas por "tomate" no Google chegaram ao pico no dia seguinte, um sábado, e persistiram por mais uma semana. Embora o auge não tenha sido tão intenso quanto no boato do Bolsa Família, o efeito mais prolongado acabou gerando, no acumulado, mais buscas - um indicativo de maior interesse.

A diferença é que ao chegar à feira as pessoas encontravam o preço do tomate exorbitantemente alto. Embora isso não fosse símbolo de inflação - era apenas escassez -, dava respaldo ao que se lia na internet e na imprensa. Não era boato. Mas o interesse acabou dissipando-se quando o preço voltou ao normal.

Boato e tomate foram factoides de pouca consequência. Talvez tenham sido uma prévia do que o governo verá quando a campanha eleitoral começar para valer. Mas não tiveram força para mudar o destino de Dilma na Presidência. A queda da confiança do consumidor, porém, não é boato nem efeito manada. É tendência.

O ICC da Fundação Getúlio Vargas vem em queda desde abril do ano passado, se olhado pela média trimestral. Os últimos três índices ficaram abaixo da referência histórica. O que está arrastando a confiança do consumidor para baixo é a perda do otimismo. Ele olha para frente e já não vê tudo azul como via há alguns meses. Tem dúvidas sobre o futuro.

O fenômeno é mais agudo em São Paulo, mas a tendência se repete, ainda que com menor intensidade, em outras regiões do País - como mostra outro índice que mede a mesma coisa, o INEC da Confederação Nacional da Indústria. A ferrugem não se limita à expectativa do consumidor. As medições sobre o mercado de trabalho feitas pelo IBGE e pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados mostram que o desemprego segue excepcionalmente baixo, mas a oferta de vagas desacelera. E a renda dos trabalhadores está começando a cair. Some-se inflação e o resultado é perda de poder de compra.

Até o PT já percebeu que mais do mesmo não levará Dilma ao segundo mandato. A presidente vai precisar restaurar o otimismo do brasileiro se quiser arear sua popularidade.

Ruy Mesquita e a imprensa sem peias - PAULO BROSSARD

ZERO HORA - 27/05

"O Estado de S. Paulo" é o maior, mas não o mais antigo jornal do país, embora o seja de São Paulo, pois antes dele entraram a circular e continuam circulando pelo menos duas folhas, o Diário de Pernambuco e o Jornal do Comércio, do Rio de Janeiro. Estas lembranças me vieram à mente acerca do falecimento de Ruy Mesquita que, desde a morte de seu irmão, Júlio de Mesquita Neto, passou a ser a primeira figura do grande jornal, ele que fora o fundador e diretor do "Jornal da Tarde". A morte do jornalista ensejou fosse apreciada sua dimensão entre os profissionais da imprensa, bem como a posição que lhe cabia no plano nacional e internacional. E foram de louvor, sem discrepância, as apreciações acerca de sua dedicação ao mundo do jornal.
Como uma ideia puxa a outra, dei-me conta de que o "Estadão", como veio a ser popularmente denominado, converteu-se em uma espécie de escola de jornalismo, e entre outras notas distintivas, primou em guardar acentuada homogeneidade. Esta me parece derivar da circunstância de, em mais de século, ter sido confiada a uma família de jornalistas. Sem contar os anos iniciais da propaganda, ao tempo da "Província de S. Paulo", a partir da República, esteve sob a direção sucessiva de Júlio de Mesquita, Júlio de Mesquita Filho, Francisco de Mesquita, Júlio de Mesquita Neto e Ruy Mesquita, à exceção do período em que o jornal, confiscado, exilados seus diretores, perdeu seu caráter próprio. A permanência da família, sem solução de continuidade, não impediu que Nestor Pestana e Plínio Barreto, jurista, homem público e jornalista, fossem seus diretores.
Em outras palavras, de 1891 a 2013 o jornal viveu sob a direção de três gerações de uma família, ligadas não só por seus laços, mas também por vínculos culturais em seu mais amplo sentido, de modo que o pecúlio imaterial que se foi formando, a despeito das imensas transformações do mundo, fosse se enriquecendo num prolongamento orgânico das linhas iniciais do empreendimento; a fidelidade aos padrões originários assegurou a homogeneidade nascente perpetuada até hoje.
Se é exato que a empresa jornalística necessita de estrutura em tudo adequada às suas necessidades, de modo a zelar por sua funcionalidade material, ela não exclui a singularidade peculiar, pois se o jornal não dispensa imprescindível saúde financeira, seu escopo não será exclusivo ou mesmo predominantemente econômico, pois não poderá desligar-se de suas preocupações específicas, marcadamente imateriais.
Por estas ou aquelas razões, o certo é que o fenômeno "Estado" aparece como uma eminência no meio em que nasceu e cresceu até tornar-se entidade nacional de expressão internacional, e Ruy Mesquita foi a derradeira personalidade da terceira geração da família Mesquita, que se confunde com a empresa centenária a partir de 1891 e, dadas suas qualidades, herdadas e adquiridas, veio a imprimir significativo contributo à antiga instituição, aditando e enriquecendo o singular patrimônio acumulado em mais de século, com naturalidade e descortino, segurança e firmeza.
Na apreciação dos que o conheceram no dia a dia de alguns anos, que não foram poucos, ele se afirmou sem alarde e quase sem esforço à altura de seus antecessores. A mim parece que o jornalismo brasileiro perde em Ruy Mesquita uma de suas expressões mais completas e harmoniosas.
Embora não passe de velharia, ainda existe entre nós quem defenda a "regulamentação" da imprensa que, em verdade, não passa de pseudônimo do domínio sobre a livre informação. Na simpática República Argentina, por exemplo, seu governo se afoita em hostilizar frontalmente o seu maior complexo noticioso, repetindo a selvagem agressão de outro governo contra dois ornamentos da nação irmã, La Nacion e La Prensa. É a razão por que foram oportunas as homenagens ao jornalista falecido por sua fidelidade à imprensa sem peias, internacionalmente reconhecido.