quinta-feira, maio 16, 2013

EFEITO ROBERTO - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 16/05

A editora LeYa decidiu engavetar livro sobre a vida de José Dirceu que publicaria ainda neste ano. Motivo: a lei brasileira que proíbe o lançamento de biografias sem a autorização do biografado seria tão drástica que poderia gerar multas e punições que colocariam em risco a própria existência da empresa no país. O parecer foi dado pelo departamento jurídico da editora portuguesa.

FORO ÍNTIMO
"Não houve ameaça do José Dirceu. Nós é que tivemos dúvidas e decidimos consultar advogados. Mas o direito à reserva da vida privada é considerado absoluto no Brasil, o que faz com que seja impossível publicar livro sobre qualquer personagem histórico do país", diz Maria João Costa, editora-executiva da LeYa. "Até personagens secundários citados em fatos irrelevantes poderiam processar a editora."

DÁ UM FILME
A obra é assinada por Otávio Cabral, jornalista da revista "Veja". "Cada linha do livro poderia ser provada. Já tínhamos comprado os direitos", diz a executiva. "É absolutamente frustrante e algo que não ocorre em outros países democráticos. Aqui tudo é proibido. Histórias fantásticas não poderão ser contadas no Brasil." Como a vida de Dirceu, que, segundo Maria João Costa, "é digna de cinema".

NA GAVETA
Entre os precedentes que assustam a LeYa estão a vitória do cantor Roberto Carlos, que já conseguiu recolher e incinerar a edição de um livro sobre sua vida, e o processo que o dono de uma academia de boxe moveu contra editora que lançou a biografia de Anderson Silva.

ÁGUAS DE MARÇO
O vereador Ricardo Young (PPS-SP) quer obrigar a prefeitura a enviar mensagens de alertas de chuvas via SMS para os paulistanos. O projeto já estava na pauta para ser votado na Câmara Municipal. O prefeito Fernando Haddad (PT-SP) ainda pode vetar a ideia.

NOME LIMPO
O MinC (Ministério da Cultura) chegou a um acordo com a Fundação Bienal de São Paulo para tirá-la do cadastro de inadimplentes da pasta. A entidade, que deve cerca de R$ 30 milhões e está com as contas bloqueadas desde o ano passado, vai ressarcir R$ 12,2 milhões ao MinC, ao longo de 60 meses.

NOME LIMPO 2
Com o pagamento, a Bienal poderá novamente captar recursos via leis de incentivo e firmar convênios com a pasta. A negociação, que se intensificou desde setembro, quando Marta Suplicy virou ministra, deve ser finalizada na próxima semana.

PIPOCA DOCE
O programa Encontros com o Cinema Brasileiro, da Ancine, já selecionou os dez filmes que serão exibidos a curadores de festivais internacionais: "Os Amigos" (Lina Chamie), "Amor, Plástico e Barulho" (Renata Pinheiro), "Entre Vales" (Philippe Barcinski), "Estação Liberdade" (Caito Ortiz), "A Gente" (Aly Muritiba), "A Montanha" (Vicente Ferraz), "Uma Passagem para Mário" (Eric Laurence), "Riocorrente" (Paulo Sacramento), "Rio Cigano" (Julia Zakia) e "Tatuagem" (Hilton Lacerda).

TORNEIO FAMILIAR
Depois de celebrar os 25 anos de sociedade no escritório Chiaparini e Bastos Advogados, Marcos Chiaparini embarca para a Europa. Vai ver o torneio de Roland Garros. Já sua filha Fabiana Chiaparini, 24, representará o Brasil na Olimpíada Universitária, na Rússia.

LÁ EM CASA
O músico uruguaio Jorge Drexler, que está em turnê em São Paulo, fez um show para convidados no projeto Na Cozinha ou No Jardim, da cantora Tiê, na casa dela, anteontem. O cineasta Heitor Dhalia, o cantor Marcelo Jeneci, as apresentadora Marina Person e Roberta Martinelli e a artista Rita Wainer, entre outros, estavam na plateia instalada no jardim.

JOGO DO BICHO
José Wilker, diretor e protagonista de "Giovanni Improtta", esteve na pré-estreia para convidados do longa anteonteom. Os atores André Mattos e Thelmo Fernandes, o cineasta Cacá Diegues, que produz o filme, e o diretor de fotografia Lauro Escorel também compareceram à sessão no shopping Market Place.

CURTO-CIRCUITO
O advogado Pierpaolo Cruz Bottini faz palestra amanhã na 16ª Conferência Anual sobre Crimes Transnacionais, em Miami.

O restaurante Arola Vintetres recebe hoje, às 20h, os chefs Dieter Koschina e Hans Neuner para o jantar Portugal dos Sabores.

Sonho de inverno? - SONIA RACY

ESTADÃO - 16/05

Há quem esteja sugerindo que o ministro Guido Mantega escolha um nome do mercado financeiro para ocupar a vaga aberta por Nelson Barbosa na secretaria executiva do Ministério.
Entretanto, segundo fontes privadas ouvidas ontem, isso implicaria em ajuste de rota da política macroeconômica. O que dificilmente acontecerá.

Aviso aos navegantes
Nelson Barbosa era a favor de afrouxamento fiscal – coisa que Mantega é contra.

Black smoke
A indústria tabagista terá de atualizar as imagens de advertência nos maços de cigarro – que passarão a exibir o novo número do Disque Saúde, 136.

A resolução da Anvisa foi aprovada terça-feira.

Quero, não
E mais: das dez fotos em uso, uma sairá de circulação e outra terá de ser atualizada porque as modelos não quiseram… renovar contrato.

Triiim
O contrato da Tim com o Corinthians acaba em junho. O clube está prestes a renová-lo, até 2016, por R$ 10 milhões.

Eu sozinho
Conselheiros do CNJ foram surpreendidos com a atitude de Joaquim Barbosa de colocar em pauta sua resolução sobre casamento gay, terça.

O assunto não foi tratado sequer na reunião administrativa da véspera – quando temas polêmicos são discutidos.

Troco
Aliás, depois de Barbosa dizer que advogados acordam tarde, circulou em Brasília foto do presidente do STF… cochilando.

Com a frase: “Acordo cedo, mas durmo no plenário”.

A conferir
Circula reserva da mente: Serra sairá do PSDB até o fim da semana. Às vésperas da eleição de Aécio para a presidência do partido. Consultado, o tucano negou.

Jorge salva
A um dia do fim de Salve Jorge– é, a novela acaba amanhã – a secretaria de Justiça de SP atesta sua influência na população: aumentaram significativamente as denúncias de tráfico de pessoas.

Nos primeiros quatro meses do ano, cresceu 106% o número de pessoas traficadas para exploração sexual ou trabalho escravo, na comparação com o mesmo período do ano passado.

Foram 124 vítimas entre janeiro e abril – 64 a mais do que em 2012.

Divisor na Ásia
Lygia Pape recebe homenagem dupla na Ásia, durante a Art Basel Hong Kong. Amanhã, o centro de arte independente Para/Site promove a performance, idealizada em 1968 pela artista carioca, na Charter Road.

No dia 24, os participantes tomam conta do centro financeiro local, integrando a cidade à poderosa feira de arte suíça.

Contra-mão
Enquanto a Prefeitura apaga grafites pela cidade, a O2 colocou à disposição de grafiteiros três trechos do muro externo da sua sede, na Vila Leopoldina.

Os artistas interessados podem se cadastrar e indicar o trecho do muro que gostariam de pintar.

Pop
Angelina Jolie superou o tema “Síria” em número de procuras no Google depois de revelar ter feito uma mastectomia – segundo o Google Trends.

Na frente
Na corrida para ser o candidato do PMDB ao governo de SP, Paulo Skafganha espaço na Globo. Ele é um dos convidados do Esquenta, de Regina Casé, em homenagem aos 20 anos do AfroReggae. Gravou ontem, no Rio.

Jaime Pinsky lança o livro Por que Gostamos de História, dia 10, na Cultura do Conjunto Nacional. Entre os temas, a diferenciação do trabalho do historiador e do jornalista.

Ferretti Group arma coquetel para lançar a revista Universo Ferretti. Hoje, na Tools and Toys.

Meire de Oliveira lança livro. Dia 16, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional.

E os moradores do Morumbi devem surpreender Fernando Haddad hoje. Ao tomarem conhecimento de que o prefeito vai almoçar no Jockey, se organizaram para fazer – in loco – um protesto contra a arena de shows que lá está
sendo construída.


Abusos e incompetência - CONTARDO CALLIGARIS

FOLHA DE SP - 16/05

Idealizamos a inocência da infância: só podemos manipular as denúncias de abuso feitas por crianças


Uma vez, fui contaminado pelo transtorno de um paciente. Aconteceu muitos anos atrás, em Paris. Um jovem era aterrorizado pela possibilidade de ser acusado de um crime com o qual ele não teria nada a ver. Incapaz de provar sua inocência, ele passaria a vida preso ou se escondendo.

Apesar de meus esforços, as fantasias de meu paciente permaneceram frequentes e assustadoras --apenas se tornaram mais ativas.

Ou seja, em vez de se ver mofando numa prisão ou num esconderijo, o jovem passou a imaginar que lutaria para provar sua inocência --como o Dr. Kimble, acusado do assassinato de sua mulher em "O Fugitivo", série televisiva dos anos 1960, que o paciente não conhecia, mas da qual eu me lembrava bem (o filme homônimo, que retomou a história, só chegou em 1993).

O medo de meu paciente encontrou um terreno fértil na minha desconfiança anarquista dos poderes constituídos. Ainda hoje, a ideia de ser a vítima indefesa da Justiça de um Estado não me faz rir.

Por causa disso, custei para assistir ao filme "A Caça", de Thomas Vinterberg. Sabia que era imperdível, mas tentava evitar o mal-estar que me produziria o espetáculo do sofrimento de Lucas, injustamente acusado de abusar sexualmente de uma criança.

Ora, ao longo do filme, ri repetidamente, e não foi "de nervoso". Os outros espectadores devem ter achado que havia um louco na sala. Mas era incontrolável: a incompetência da diretora da escolinha, do psicólogo que vai "ajudá-la" e dos pais eram verídicas, terrificantes e criminosas, mas estúpidas a ponto de ser cômicas.

O filme, aliás, deveria ser matéria de ensino nas faculdades de psicologia e nas escolas de polícia, com o pedido de que os alunos reparem os erros primários de educadores e outros adultos.

Em tese, deveríamos ter aprendido alguma coisa com tragédias jurídicas dos anos 1980 e 1990, em que crianças foram sugestionadas e manipuladas por pais e autoridades a ponto de formular coletivamente fantásticas acusações de abuso.

Houve as crianças "lambendo manteiga de amendoim no sexo da professora", na Wee Care Nursery School, em Nova Jersey, e a "Kombi-motel na escolinha do sexo", na Escola Base, em São Paulo.

Desde então, em alguns lugares do mundo, foi criada uma especialidade acadêmica em interrogatório de menores supostamente abusados. Aconselha-se que o interrogatório seja sempre por uma pessoa só (e filmado usando um espelho falso). Pede-se um teste específico que verifique o entendimento pela criança da relação entre verdade e mentira.

O entrevistador não deveria ter NENHUM conhecimento prévio da acusação. O uso de bonecos para mostrar como foi o abuso é considerado perigosamente lúdico. Enfim, a preferência é para entrevistas rigorosamente estruturadas, com perguntas preestabelecidas e, portanto, menos sugestivas.

Mesmo assim, ainda hoje, muitos textos básicos sobre interrogatório de crianças começam com a observação de que elas são relutantes a falar de abuso sexual. Só depois, e nem sempre, observa-se que, às vezes, as crianças se servem de acusações de abuso como meio de expressão: por exemplo, para assinalar aos adultos que elas podem ser desejáveis ou, justamente, para se vingar de um adulto que não foi seduzido por elas.

Não sei o que acontece, hoje, nas nossas delegacias especializadas, mas, de qualquer forma, nossa cultura é destinada a manipular a denúncia infantil de abuso.

Negamos a sexualidade infantil e idealizamos a inocência (e a "sinceridade") das crianças: só nos resta linchar os supostos abusadores antes que os detalhes dos casos nos revelem que a infância não é aquela terra dos anjos com a qual insistimos em sonhar.

No filme (e na vida real), é proposta aos pais uma lista de sintomas que indicariam que uma criança está sendo exposta a um trauma.

É fácil imaginar os efeitos da lista nos pais, assim como é fácil entender sua inutilidade: a sexualidade não é o efeito de um desenvolvimento interno e autógeno, ela é sempre efeito de traumas.

A menina de "A Caça" não foi abusada pelo homem que ela acusa, mas não lhe faltam traumas com os quais (graças aos quais?) "crescer". Trauma é a própria rejeição por Lucas, que lhe faz inventar que Lucas a deseja. Trauma é a pornografia no iPad dos amigos do irmão. Trauma é o questionamento pela corte de idiotas que a interrogam e sobre quem, manifestamente, ela deve se perguntar: mas o que será que eles realmente querem de mim?

Castelo de cartas - CORA RÓNAI

O GLOBO - 16/05

Se a série fosse um filme e eu estivesse escrevendo uma crítica, daria um Bonequinho aplaudindo sentado


Frank Underwood, líder do governo no Congresso, é um homem poderoso. Ajudou a eleger o presidente dos Estados Unidos e esperava ser, em troca, o próximo Secretário de Estado. Pouco antes da posse, porém, foi despachado sumariamente pela futura chefe de gabinete: o presidente eleito estava ocupado demais para dar-lhe a má notícia em pessoa. Grave erro! Naquele momento, Underwood decidiu dedicar toda a sua energia a sabotar a administração.

Frank Underwood é Kevin Spacey, protagonista da série “House of cards”. É um personagem shakespeariano na ambição, na falta de escrúpulos e na capacidade de manipular pessoas. O roteiro não esconde o jogo. Assim que o conhecemos, ele estrangula o cachorro do vizinho, que foi atropelado; antes do fim do primeiro episódio, tantas terá feito que se provará digno do congresso brasileiro. Apesar disso, torcemos por ele. Mérito de Kevin Spacey, que é um ator extraordinário, e da trama, emprestada de uma série inglesa que, com o mesmo nome, fez sucesso há coisa de vinte anos. Para quem tiver curiosidade em conferir: basta procurar por “House of cards + UK” no YouTube. São quatro episódios e todos estão lá.

A nova “House of cards” é uma série original da Netflix, que até outro dia era apenas locadora. Ela foi lançada de forma curiosa: em vez de apresentar um episódio por semana, a produtora disponibilizou logo toda a primeira temporada, composta de 13 episódios. Com isso, confundiu a imprensa especializada dos Estados Unidos, que até agora não sabe muito bem como reagir a uma série em bloco. Como escrever sobre episódios que ninguém sabe quando serão vistos? Como comentar o que acontece ao longo dos vários episódios sem estragar a surpresa de quem ainda não os assistiu?

O resultado é que a forma de lançamento de “House of cards” mereceu tanto espaço nos jornais e nas revistas quanto o seu conteúdo. Ela não representa propriamente uma nova forma de ver televisão, já que assistir a temporadas inteiras de uma vez é hábito consagrado por espectadores do mundo inteiro. Mas ela talvez represente uma nova forma de conversar sobre televisão: afinal, quando a turma da maratona chega às coleções completas das séries tradicionais em DVD, cada episódio já foi devidamente destrinchado e analisado a seu tempo. O que fazer, porém, com um monte de episódios sem tempo?

Nós, brasileiros, que volta e meia recebemos seriados muito depois do lançamento, já estamos mais acostumados a lidar com uma profusão de episódios. Ainda assim, a título de comparação, o que faríamos se todos os capítulos de uma novela inédita ficassem disponíveis simultaneamente? Por onde começaríamos a conversa?

Há quem ache que a estratégia da Netflix foi equivocada. Lançando toda a série de uma vez, ela teria perdido a onda que põe as séries tradicionais em evidência na imprensa e nas redes sociais, semana após semana, e, em tese, ajuda a consolidar a audiência. Não tenho tanta certeza disso. Acho que as séries semanais precisam da divulgação para garantir a audiência de um episódio ao outro; já uma que chega em bloco só depende de si mesma.

Ao apresentar os 13 episódios de “House of cards” por atacado, a Netflix ganhou em dramaturgia e em agilidade. Não precisou de flashbacks nem de resuminhos dos capítulos anteriores, uma vez que tudo estava bem fresco na cabeça de quem assistiu. Como espectadora, só tenho elogios para o sistema: não tenho paciência para assistir a séries aos pedaços. Prefiro assim, como se estivesse assistindo a um filme muuuuuito comprido, com um breve intervalo a cada hora.

Frank Underwood é casado com Claire, uma loura gelada e calculista interpretada por Robin Wright, que me pareceu vagamente familiar. Claro: ela foi a princesa Buttercup em “A princesa prometida”, um dos meus filmes favoritos. A diferença é que no filme ela era péssima, e na série está esplêndida. Kate Mara, que faz a jornalista Zoe Barnes, também está ótima (só não entendi por que mora naquele muquifo: não é uma moça de sucesso?). O elenco é um dos pontos fortes de “House of cards”; a produção é outro. Se a série fosse um filme e eu estivesse escrevendo uma crítica, daria um Bonequinho aplaudindo sentado.

(Se você ainda não assistiu e não gosta de spoilers, pare a leitura aqui: a gente se encontra de novo na quinta que vem.)

Apesar de ter visto os 13 episódios com prazer, impliquei com dois pontos do roteiro. Frank Underwood é bem articulado demais para que a bobagem que diz na entrevista com a CNN seja plausível; ele também não precisaria matar Peter Russo. O assassinato foi uma solução fácil demais para um vilão tão inteligente e sofisticado; Underwood não precisaria dar cabo de ninguém com as próprias mãos para que soubéssemos como é mau. O fato de que nada o detém já tinha ficado bastante claro. Sublinhá-lo de forma tão óbvia é subestimar o espectador. Se eu estivesse acompanhando “House of cards” em capítulos semanais, teria desistido aí. Felizmente os dois últimos episódios crescem quando Frank encontra no milionário Raymond Tusk (Gerald McRaney) um oponente à sua altura. Que venha a segunda temporada!

Dois Joaquins - EUGÊNIO BUCCI

ESTADÃO - 16/05

Anteontem, em Brasília, durante reunião do Conselho Nacional de Justiça, o ministro Joaquim Barbosa, que preside o órgão, fez mais uma de suas piadinhas contra os advogados. Ao discutir a norma adotada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo estabelecendo que o horário de atendimento só comece às 11 da manhã, disparou: "Mas a maioria dos advogados não acorda lá pelas 11 horas mesmo?".

A brincadeira ficou sem resposta. De poucos meses para cá, nas ocasiões mais inesperadas, o célebre relator do processo do mensalão (oficialmente chamado Ação Penal 470), que em novembro assumiu a presidência do Supremo Tribunal Federal, alfineta, perfura ou esquarteja a imagem e a paciência dos causídicos. Entre uma risadinha e um resmungo, vai fixando seu estilo singular de proferir observações que atordoam o interlocutor. Sobra até para jornalistas. Em 5 de março, abespinhado com as perguntas dos profissionais da imprensa, ofendeu um repórter deste jornal com o seguinte disparate: "Me deixa em paz, rapaz. Me deixa em paz. Vá chafurdar no lixo como você faz sempre. Estou pedindo, me deixe em paz. Já disse várias vezes ao senhor".

Depois, ainda bem, pediu desculpas, alegando que estava cansado e com dores nas costas. Desculpas aceitas, o Estado preferiu não encompridar o mal-estar e, como de costume, o excesso togado foi relevado. Ficou por isso mesmo.

Aqui, no Brasil, Joaquim Barbosa conta com o respeito dos advogados, dos repórteres, dos foliões de carnaval que se divertem com máscaras que reproduzem seu rosto implacável. Em terras estrangeiras também arrasa: em abril a revista Time elegeu-o como uma das cem personalidades mais influentes do planeta. Só que tem isto: o homem perde a calma com enorme facilidade. Olhos apertados, cenho tenso, por vezes um esgar vem retesar-lhe a boca. Pronto: a coluna vertebral o incomoda. A deusa Têmis sua frio. Dali pode sair um desaforo de uma hora para outra.

Mesmo assim, o ministro tornou-se o astro-rei político da imprensa brasileira. É um herói nacional. Tem admiradores em todas as classes, é aclamado em lugares públicos. Se quisesse, teria eleitores aos milhões. Sua conduta inflexível durante o julgamento da Ação Penal 470 lhe rendeu essa aura redentora, mais que de juiz, de justiceiro. A imagem de Joaquim Barbosa é a de um magistrado sanguíneo, inabalável. Se isso é bom ou ruim ainda não se sabe. O que se sabe, com toda a certeza, é que seu nome virou símbolo de credibilidade e de firmeza, enaltecido e festejado pelos órgãos de imprensa mais tradicionais e mais sérios do País.

Eis aí o primeiro Joaquim Barbosa: um juiz bravo, preparado, rabugento e honesto. Desempenhou um papel tão central na construção da altivez da Justiça brasileira que todos os seus destemperos estão perdoados por antecipação.

Mas há um outro Joaquim Barbosa. Se o primeiro já é bem complicado, o segundo talvez seja uma equação ainda mais intrincada, de mais difícil solução. Este não gosta muito da imprensa que celebrizou o primeiro: anda dizendo que é uma imprensa de direita. Traduzindo: o amor dos veículos de comunicação por Joaquim Barbosa parece que não é correspondido.

No início do mês ele compareceu a um seminário sobre liberdade de imprensa organizado pela Unesco em San José, na Costa Rica. Em sua conferência, lida em inglês, criticou a falta de "pluralismo" e a "fraca diversidade ideológica" dos "três principais jornais nacionais impressos" brasileiros, "todos mais ou menos inclinados para a direita no campo das ideias".

Também falou sobre racismo: "No Brasil, negros e mulatos representam de 50% a 51% do total da população, mas não brancos são bem raros nas redações, nas telas de TV, sem mencionar a quase abstenção deles nas posições de controle ou liderança na maioria dos veículos de comunicações. É quase como se eles não existissem no mercado de ideias".

Em tempo, o presidente do Supremo avisou que falava na condição de "cidadão livre e consciente", procurando separar com rigor a sua visão pessoal das suas decisões de magistrado. A preocupação procede. Mesmo assim, é nesta altura que a equação do segundo Joaquim Barbosa mergulha num contorcionismo dialético labiríntico. Se ele está correto no diagnóstico que faz dos jornais brasileiros, somos obrigados a concordar que o primeiro Joaquim Barbosa é um ídolo da direita, uma direita à qual o segundo Joaquim Barbosa diz faltar pluralidade de opinião e diversidade étnica. Logo, o segundo Joaquim Barbosa é contra o culto do primeiro Joaquim Barbosa, pois ele vem de uma imprensa distorcida, parcial.

Mais: se ele reclama das "inclinações à direita" que enxerga nos jornais, isso significa que o segundo Joaquim Barbosa, "cidadão livre e consciente", tem uma inclinação de esquerda. Ao que você, leitor, vai perguntar: "Mas como pode ser? Então, quer dizer que o grande responsável pela condenação dos réus do mensalão - muitos dos quais se declaram de esquerda - é ele mesmo de esquerda? E votou como a direita gostaria que ele votasse?"

As respostas para isso existem, mas elas nos levariam a outras dialéticas distantes, que aqui não vêm ao caso. O Brasil é assim mesmo: ministros da Corte Suprema, como outras autoridades da República, atuam como críticos de mídia. De resto, que há uma "inclinação à direita" na área de opinião dos "principais jornais" brasileiros já sabemos há tempos. De seu lado, os próprios "principais jornais" acharam por bem não perder muitas linhas com o media criticism do segundo Joaquim, pois talvez isso também fosse uma pirraça raivosa a deixar para lá.

É bem verdade que poderíamos ter jornais melhores, mais variados, mais plurais. A vida ficaria ainda mais movimentada: o primeiro Joaquim Barbosa brilharia nos diários inclinados à direita, enquanto o segundo faria a festa dos inclinados à esquerda. Mas esses não existem.

Eles só agem sob pressão - JORGE MARANHÃO

O GLOBO - 16/05
Os jornais noticiam diariamente o espetáculo de terror encenado pelos ônibus no trânsito da cidade, avançando sinais, parando fora do ponto, ignorando chamadas de passageiros, soltando-os no meio da rua, ultrapassando outros ônibus em fila dupla e tripla, usando acelerador como buzina, quando não jogam o tamanho de sua covardia de um Golias de aço contra um David ciclista em cima de sua magrela, com total destemor e certos de sua impunidade. Mas, a despeito disto, ou mesmo por causa disto, têm aumentado as manifestações dos ciclistas contra a impunidade de motoristas e empresas de ônibus do Rio.

Numa delas, testemunhei um dos ciclistas comentando com o outro: enquanto empresas de ônibus financiarem campanhas de políticos nada será feito e todos permanecerão impunes. Surpreendido com a lucidez do ciclista, pensei comigo mesmo: este é o retrato do estado de nossa cidadania, pois temos a mais absoluta consciência das razões últimas de nossa barbárie e achamos que não podemos fazer nada.

Com os códigos de processo penal e civil que temos, apenas uma parcela ínfima das ações propostas se conclui e pode ter suas sentenças cumpridas. Ou seja, ao contrário de outros países de cidadãos politicamente mais atuantes, o crime no Brasil compensa. Para além daquela manifestação, será que aqueles ciclistas cidadãos estavam acompanhando e assinando os manifestos pela reforma política que corriam nas redes sociais, inclusive com propostas específicas contra o financiamento de campanhas eleitorais por empresas? Será que estavam acompanhando também a ação proposta pela OAB ao STF, desde o ano passado, arguindo a inconstitucionalidade das leis que autorizam doações financeiras por empresas a candidatos e a partidos políticos? Ou seja, será que a consciência do nexo das grandes questões políticas nacionais e o fato ali concreto de mais um assassinato de um companheiro não os animaria à ação política contra as causas da impunidade e não apenas contra a mesma?

Afinal, por que os presidentes da Câmara e do Senado, numa única semana, optaram por esvaziar a iniciativa da PEC 33, que queria transferir do Supremo para o Congresso a última palavra em alterações à Constituição? Assim como a PEC 37 que pretendia retirar o poder de investigação do Ministério Público?

Torna-se vital a articulação das organizações da sociedade que monitoram o processo político, pois nossos legisladores só agem sob pressão e só assim rompem o ciclo vicioso da omissão.

Brasil - a visão de um Nobel de Economia - ROBERTO BARBOSA

ESTADÃO - 16/05

Passou pelo Brasil o economista americano Christopher Sims, um dos agraciados com o Nobel de Economia de 2011. Veio para uma conferência e falou ao jornal Valor de 9/5, quando foi indagado sobre a conjuntura macroeconômica brasileira. Foi correto ao responder falando da experiência de seu país e do inter-relacionamento de causas e efeitos subjacentes, assuntos que domina.

Cabe aos brasileiros interpretar o que disse relativamente ao atual quadro macroeconômico nacional. Suas opiniões referendam as predominantes entre economistas brasileiros fora do governo. Mas mesmo nele dissensões foram identificadas, pois um dos principais membros da equipe econômica, Nelson Barbosa, secretário executivo do Ministério da Fazenda, está de saída. Segundo o noticiário, por discordar de aspectos da atual política econômica.

Sims não disse nenhuma novidade, mas como é Prêmio Nobel, e o Brasil sempre gostou de celebridades e do que vem de fora, inclusive opiniões, vale a pena divulgar mais o que disse na esperança de que receba maior atenção.

Afirmou que aqui a situação macroeconômica é a pior possível para quem lida com política econômica. Como se sabe, a economia voltou a dar sinais de estar de novo grávida de uma nova taxinha para seu "Pibão" (recuso-me a me a usar o termo pibinho, pois o nosso PIB é enorme, ainda que não o per capita). Ao mesmo tempo, e isso foi o que atraiu sua atenção, enfrenta desemprego baixo e uma inflação preocupante que vem batendo no teto da meta governamental. E é um teto de hall de entrada, de 6,5% ao ano, bem mais alto que o de países mais preocupados com a inflação, cerca da metade disso.

Períodos de baixo crescimento são usualmente acompanhados de inflação moderada e de desemprego maior. Mas aqui o mercado de trabalho está pressionado por uma oferta que se expande com menor intensidade que no passado. Além disso, a expansão do emprego, que pressiona os salários e a inflação, é mais forte no setor de serviços, no qual a produtividade é mais baixa e cresce muito pouco. Isso pressiona salários e preços não só nesse setor, como em outros. Na indústria esse quadro é outro fator a prejudicar sua fraca competitividade internacional.

Sims assinalou que nos anos 1970 os Estados Unidos enfrentaram situação parecida, pois a inflação era alta e o desemprego, baixo. Mas a preocupação com a inflação preponderou e a opção foi pelo caminho de aceitar momentaneamente o desemprego para controlá-la. Nas suas palavras: "Um ponto que precisamos aceitar é que controlar a inflação pode significar desemprego mais alto temporariamente".

E o que foi feito? Sims argumentou que, embora os juros mais altos tenham influência amortecedora sobre os preços, "(...) essa influência só será duradoura e saudável se combinada com uma política fiscal que assegure o controle do déficit governamental no longo prazo". A ênfase é minha, e note-se que ele não fala do superávit primário, conceito tupiniquim que, entre outros males, aqui serve para esconder o déficit fiscal ou final. Também disse que antes de o governo optar pelo efetivo controle da inflação na década de 70, e também na de 80, houve episódios que reduziram a inflação, mas não de forma sustentável. E assinalou: "Acho que a experiência pode ser explicada, em parte, porque a situação fiscal dos EUA estava em desordem". E mais: "(...) a política monetária pode trazer a inflação para baixo no curto prazo, mas se não há política fiscal apoiando não funciona permanentemente. (...) sem o controle do déficit fiscal no longo prazo, a desconfiança acaba se instalando. (...) se os mercados começarem a duvidar, a política monetária pode criar apenas um alívio temporário da inflação".

Ora, aqui, no Brasil, a ação do governo em matéria de economia só aproveitou a primeira letra desse termo e daí tomou o rumo da eleição de 2014. O efetivo combate à inflação não é prioritário, a taxa de juros teve só um aumentozinho, e talvez tenha outros. Falar de algum impacto negativo, mesmo que transitório, no desemprego é pecado político, pois a transição que interessa é a da eleição. À área fiscal se aplica no presente a avaliação dada por Sims à dos EUA no período que analisou, uma desordem. É de fato um termo apropriado à natureza da política fiscal brasileira: continua expansionista, pois, além de gastar mais e não ajudar a política de juros, é mal administrada e não consegue ampliar os tão necessários investimentos. Essa desordem também inibe investimentos privados, pois gera desconfiança entre quem pensa em realizá-los.

Para concluir, sintetizo minha visão diante do quadro macroeconômico atual. Usando a imagem do tripé macroeconômico - política de metas de inflação centrada na taxa básica de juros, câmbio flutuante e meta de "superávit primário" -, esta última haste claramente ruiu em face da desordem apontada. Carece de substituição por outra com metas de menor déficit fiscal ou final, e de contenção do custeio e ampliação dos investimentos. Sem isso um dos méritos do governo, o de enfrentar a alta taxa básica de juros e os altos "spreads" bancários, não terá sustentação, o mesmo acontecendo com o controle da inflação a juros módicos.

Além disso, a esse tripé precisa ser acoplado um zoom que contemple a visão de uma economia maior no médio prazo, de modo a definir uma estratégia claramente voltada para esse objetivo, e bem articulada nas suas táticas, e não nesse andante e desconexo mexe-mexe setorial de parcos resultados.

O conhecimento acumulado da análise econômica não pode ser ignorado mediante improvisações na montagem desse tripé com zoom. Christopher Sims já se foi, mas que suas lições fiquem e frutifiquem entre os incrédulos nos ensinamentos da teoria e da boa prática da política econômica.

Os cães da guerra - LUIS FERNANDO VERÍSSIMO

O GLOBO - 16/05

A Convenção de Genebra pode ser vista como um monumento à hipocrisia. Ela propõe regras para a barbárie e infere que o que Shakespeare chamou de "os cães da guerra", uma vez soltos, podem ser controlados. E que guerras podem ser cavalheirescas, desde que regulamentadas. Um conceito que por pouco não morreu na Segunda Guerra Mundial. Ao mesmo tempo, as convenções de Genebra, desde a primeira, no século 19, tentam preservar o que, numa guerra, nos distingue de cachorros raivosos. No caso, a hipocrisia é necessária. É outro nome para civilização.

Uma das regras explícitas na atual Convenção de Genebra diz respeito ao tratamento de prisioneiros. O argumento principal de quem defende a repressão e seus excessos durante a ditadura militar no Brasil é que se tratava de uma guerra aberta entre o regime e seus contestadores armados, que sabiam no que estavam se metendo. Só aos poucos estamos conhecendo as atrocidades cometidas na luta contra a guerrilha no Araguaia, da qual a maioria não sobreviveu nem seus corpos foram encontrados. Mas quanto ao que aconteceu nas salas de tortura da repressão não existem dúvidas ou apenas suposições, está vivo na memória dos torturados e suas famílias. Foi quando os cães sem controle da guerra estraçalharam o que poderia haver de simples humanidade no tratamento de prisioneiros, ou o simples respeito a regras convencionadas, por um estado civilizado.

Se a discussão entre os que sustentam que salvaram o Brasil com seus excessos e os que querem que o Brasil conheça a verdade enterrada sem lápide daqueles tempos parece um diálogo de surdos, o grande mudo desta história toda é a instituição militar, que nunca fez uma autocrítica consequente, nunca desarquivou voluntariamente seus arquivos ou colaborou nas investigações sobre o passado, o dela e o nosso, para evitar a cobrança atual. E o que foi feito não era inevitável. Na Itália, por exemplo, na mesma época, o governo enfrentou uma violenta contestação armada sem sacrificar um direito civil, ameaçar uma instituição democrática ou recorrer ao seu próprio terror. Sem, enfim, soltar os cachorros.

A diferença, claro, é que lá era um governo legítimo.

Palmeiras! Porco sabor frango! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 16/05

E sabe o que significa o KIA na camiseta do Kleina? "Kleina, Infelizmente Acabou!"


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Pensamento do dia: o Palmeiras comeu um frango e escapou de levar uma surra do Galo. Isso que é sorte! Rarará!

E a vinda do papa ao Brasil? Acho difícil encontrar os cinco brasileiros pra se confessar com o papa. Assim, espontaneamente, pra um argentino? Uma amiga minha vai se confessar assim: "Papa, eu pequei, dei pra um argentino". Rarará!

E a MP dos Portos? Naufrágio do Congresso Nacional! Baixaria! Vexame. Político brasileiro parece jukebox --só funciona se botar moedinha.

E a Dilma: "Maaaaantega, traz o talão que eu preciso negociar com o Congresso".

E eu já disse que o PMDB é o Partido do Mensalão Disfarçado do Brasil. E o PSDB parece o PT de dez anos atrás, só vota contra.

E o PT tá pior que amendoim em boca de desdentado. Partido dos Trapalhões! Aliás, amendoim em boca de desdentado é o Palmeiras!

Eu não sabia que porco gostava de frango. Aquele goleiro Bruno não engoliu um frango, engoliu um McChicken de oito andares! Engoliu uma avícola inteira.

E depois do jogo ainda gritou: "Para no Frango Assado que eu ainda tô com fome". Rarará!

Mas o Palmeiras tem um plano B: ficar na série B! Rarará! E sabe o que significa o KIA na camiseta do Kleina? "Kleina, Infelizmente Acabou!"

E o site CornetaFC revela a revolta do Valdivia: "Mas justo agora que eu ia começar a jogar?". Acredite quem quiser! Rarará!

E a manchete do Piauí Herald: "Eike Batista vence licitação para convocar a seleção brasileira". Tem que ter no mínimo seis parlamentares do PMDB! Rarará!

E diz que o Maracanã vai se chamar Maracanax! É mole? É mole, mas sobe!

O Brasileiro é Cordial! Placa em Chácara Santana: "Por favor, não coloque seu lixo ou móveis velhos na minha casa, se eu pegar, o chicote vai estralar até duas da manhã! Sem Mais...". Sem mais ou tem mais? Rarará!

E esta faixa em Azurita, Minas Gerais: "Quem roubou as minhas galinhas e o meu galo, favor devolver, caso contrário está completamente amaldiçoado". Esse deve ser atleticano! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

A vacina - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 16/05

No programa de TV do PSDB que vai ao ar em 30 de maio, o candidato à Presidência Aécio Neves vai defender o aprofundamento dos programas sociais massificados nos governos petistas. Ele quer evitar que colem nele a imagem de adversário dos pobres. O PSDB vai apresentá-lo ao país, e ele convidará o eleitor para dialogar sobre dramas nacionais, tais como inflação e desindustrialização.

Primeiro desafio: superar Marina
As pesquisas eleitorais do PSDB mostram a candidata Marina Silva (Rede) à frente de Aécio Neves. O Instituto Ideia ouviu cinco mil pessoas, de 27 de março a 5 de abril, para orientar o programa de TV que vai ao ar. Aécio aparece atrás da presidente Dilma e de Marina, mas está entusiasmado com seu desempenho na classe A, formadora de opinião. Nela, Dilma tem 33,8%; Aécio, 32,8%; Marina, 22,6%; e Eduardo Campos (PSB), 7,1%. Na classe C, maioria do eleitorado (57%), Aécio tem 11% (C1) e 8,4% (C2); Eduardo, 2,7% e 3,4%; Marina, 17% e 14,7%; e Dilma, 59,6% e 63,2%. Hoje, nem a presença de Campos (PSB) levaria a disputa para o segundo turno.


"A estabilidade monetária está ameaçada. As bolsas (sociais) se eternizando, e isso é sinônimo de seu fracasso. Está se esgotando o crescimento da economia. É o pilar da democracia sendo corroído"
Cristovam Buarque Senador (PDT-DF)

O conselheiro
Após ser derrotado na votação da MP dos Portos, o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), recebeu ligação do vice Michel Temer, e ouviu: "Você não teve sucesso na emenda aglutinativa, não vai agora ficar confrontando o governo".

O olheiro
No início da noite de ontem, o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), telefonou para o vice Michel Temer para relatar a conduta do líder Eduardo Cunha e arrematou suas impressões dizendo: "Ele está colaborando".

Marcar pontos
Os líderes da oposição no Senado, José Agripino (DEM-RN) e Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), foram avisados ontem cedo, pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), de que ele iria acelerar a votação da MP dos Portos tão logo a Câmara a enviasse. Explicou que não ficaria com o peso da queda de uma medida provisória.

O protesto
Depois de passar dois dias em combate, o líder do PR, Anthony Garotinho (RJ), não gostou do acordo do governo, pressionado pelo tempo, com o PMDB. "Quem fica com cara de palhaço sou eu!", bradava Garotinho no meio do plenário.

O diagnóstico
A intensa troca de acusações no plenário durante a votação da MP dos Portos fez o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) criar uma nova palavra: "Sincericídio". Chico explica seu significado: "O sincericídio é definido pela troca de acusações pesadas de uns contra outros e pela percepção incômoda de que, via de regra, todos têm razão."

Do senador Romero Jucá (PMDB-RR): "A bola (MP dos Portos) tem que chegar ao Senado. Ela pode vir quadrada, furada, mas tem que chegar aqui".

Pôquer interminável - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 16/05

A votação da MP dos Portos na Câmara foi conduzida como um jogo de pôquer entre o Palácio do Planalto e o líder do PMDB na Casa, Eduardo Cunha (RJ). O governo comemorava ter vencido o deputado quando teve de engolir uma das emendas mais polêmicas defendidas por ele. Com os blefes de ambos os lados, a aposta agora é que Dilma Rousseff vai vetar o dispositivo que prevê a renovação de contratos de arrendamento firmados depois de 1993, caso a MP seja aprovada.

Truco! Quem convenceu Eduardo Cunha a retirar o apoio à emenda de Paulinho da Força (PDT-SP), que obrigava portos privados a contratar trabalhadores por meio dos Órgãos Gestores de Mão de Obra, foi o vice-presidente da República, Michel Temer.

Seis! "Se deram um truco, não foi em mim: foi no Michel", reagia ontem o líder do PMDB, antes da reviravolta que levou o governo a ceder para viabilizar a votação.

Água... Em tempos de ânimos exaltados e troca de xingamentos no plenário, a Câmara abriu licitação para comprar 70 toneladas de açúcar cristal, com preço-base inicial de R$ 2,16 por quilo.

... com açúcar Segundo indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da USP, no mercado atacadista a saca de cinco quilos de açúcar sai por R$ 5,56, ou R$ 1,11 por quilo.

Caudilho Miro Teixeira (PDT-RJ) relatou ontem à Executiva do partido almoço que teve com o senador Aécio Neves (PSDB-MG), candidato ao Planalto em 2014. Na conversa com Teixeira, Aécio disse ter muita afinidade com o partido de Leonel Brizola.

Ele é carioca Para ter palanque no Rio, Aécio pode apoiar a candidatura de Miro Teixeira, caso o deputado leve o projeto adiante. Os tucanos também estudam lançar candidato próprio no Estado ou se aliar ao vereador e ex-prefeito César Maia (DEM).

In concert O ex-titã e ex-tribalista Arnaldo Antunes será a surpresa do show de hoje em São Paulo em favor da Rede de Marina Silva. Além dele, cantam Adriana Calcanhoto e Nando Reis.

Em rede Aliados da ex-senadora se mobilizaram ontem para negar que ela tivesse defendido Marco Feliciano (PSC). Em duas horas, produziram uma charge e postaram nas redes sociais várias mensagens, entre elas o trecho da palestra em que Marina diz ter sido mal interpretada.

Tô fora Apontado como possível nome paulista para assumir a secretaria-geral do PSDB, o deputado Emanuel Fernandes avisou a Aécio Neves que não pretende ocupar o cargo por motivos pessoais. Com isso, a vaga pode ficar para Vanderlei Macris.

Tartaruga Com a demora recorde de seis meses de Dilma para nomear o novo ministro do STF, está parado o processo do chamado mensalão mineiro, cujo julgamento o PT cobra como demonstração de isonomia às condenações de petistas.

Bonde 1 PSDB e DEM se estranharam na disputa pela presidência da cobiçada Comissão de Transportes da Assembleia paulista, que fiscaliza estradas, pedágios e transportes sobre trilhos.

Bonde 2 O posto era ocupado por um nome do DEM, mas, com a redução da bancada do partido, foi reivindicado por tucanos. A votação ficou para quarta-feira e deve confirmar vitória do PSDB.

Chame o ladrão Uma equipe da TV chinesa CCTV News teve uma mochila com R$ 30 mil em equipamentos de vídeo roubada na Exposec, feira internacional de segurança realizada no Centro de Exposições Imigrantes.

com ANDRÉIA SADI e PAULO GAMA

tiroteio
"Ao apelar para todo tipo de recurso para aprovar a MP dos Portos, Dilma expõe sua fragilidade e desastrosa articulação política."
DO DEPUTADO RONALDO CAIADO, líder do DEM, sobre pedido de ajuda do Planalto a Roberto Jefferson, delator do mensalão, na votação de anteontem.

contraponto


Sua hora vai chegar
Durante ato pelos dez anos de governo do PT, anteontem em Porto Alegre, Lula discursava quando quis tomar água, mas não encontrou garrafas no palanque.

Brincando, virou-se para Dilma Rousseff, que estava sentada à mesa de autoridades, e disse no microfone:

-- Dilma, você se cuide, porque um dia você também vai ser ex-presidente. Quando eu era presidente, só faltava me afogar de tanta água que me davam... Agora vou trazer minha própria garrafinha!

Dilma caiu na gargalhada e se serviu de água, que estava à sua disposição.

FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA

O GLOBO - 16/05

VAREJO TEVE O PIOR 1º TRIMESTRE DESDE 2004
Vendas cresceram apenas 3,5% sobre um ano antes. Nem no início de 2009, ano de crise, resultado foi pior
Oprimeiro trimestre deste ano foi o pior desde 2004 para o varejo brasileiro.

De janeiro a março de 2013, as vendas do setor subiram 3,45%,o menor resultado da série da Pesquisa Mensal de Comércio, do IBGE. Nem no início de 2009, fase aguda dos efeitos da crise que começou nos EUA em 2008, o desempenho (3,67%) foi tão baixo. A alta da inflação dos alimentos nos super e hipermercados afetou o comércio, diz Reinaldo Pereira, responsável pela PMC. Em dois meses, fevereiro (-1,4%) e março (-2,1%), as vendas no segmento caíram o dobro do registrado de fevereiro a maio de 2012 (-1,7%), a última sequência de queda. Tudo a ver com a escalada dos preços. Nos 12 meses encerrados em março, a alimentação no domicílio subiu 15,2%, contra IPCA de 6,59%.

SOLAR
A marca feminina Tempo4 apresenta hoje, no showroom, as imagens da coleção de verão “Rota do Sol”. Fê Pinheiro fotografou Maria Golob. As fotos vão circularem catálogo e nas lojas. Dona de duas unidades, a grife espera crescimento de 20% nas vendas. As peças também sãovendidas em mais de 120 multimarcas no país.

SÓ PARA MULHERES
A Eva (Foto 1) prevê dobraras vendas no atacado com a coleção deverão. Até amanhã, a marca feminina do Grupo Reserva participa do Salão Bossa Nova. Agrifedeve abrira primeira loja própria no 2° semestre. A Mara Mac é outra que está no evento de moda. Lança hoje campanha para web (Foto 2). Quervender40% mais. Já a loja virtual Powerlook (Foto 3) lança o 1° lookbook hoje. Ontem, pôs no araplicativo para smarphones. Investiu R$120 mil. Espera alta de 20% nasvendas.

O PRIMEIRO JOGO
O Boticário estreia no mundo dos games. Põe no ar hoje o site e as versões And roid e IOS/iPhone do Desafio Quasar Quest. É jogo para homens jovens, alvo dalinha Quasar. Haverá também informações e promoções para os usuários. AAquiris criou e a W3Hausgerencia.

Lanchonete
A Quiznos, americana de fast-food, chega ao Recreio semana que vem. Será a 39 loja do Rio. Até dezembro, serão dez lojas na cidade, num aporte total de R$ 3,5 milhões. Hoje, no Brasil, são 22. Quer abrir 150 até 2015.

Bar
A Espetto Carioca inaugura a 79 unidade até o fim do mês, na Barra. A rede de bares investiu R$ 700 mil. Espera fechar o ano com 13 no Rio.

e-Perdas 1
Grandes redes de varejo podem ter perdido R$ 7,5 milhões em vendas via web no Dia das Mães, diz o Google. E R$ 2,5 milhões deixaram de entrar nas lojas físicas, por causa dos clientes que pesquisam na internet.

e-Perdas 2
O levantamento mostra que os anúncios das redes só surgem em 40% das buscas por eletroeletrônicos. Dá 1,3 milhão de visitas a menos nos sites.

Livre Mercado
O Brasil foi 2º no mundo em desempenho de usinas nucleares, em 2012. Com 92% de utilização da capacidade do complexo de Angra, só perdeu para a Romênia (92,6%). O ranking é da AIEA.

A Coca-Cola vai destinar parte das vendas, de 19 a 26, a projetos socioambientais. Prevêarrecadar mais de R$ 6 milhões.

O Exército Brasileiro usará sistema de radiocomunicação da Motorola Solutions na segurança da Copa das Confederações.

Éo hojeo lançamento da Lab 77. Na loja virtual de camisetas, haverá peças com estampas do designerGuilherme Pecegueiro. Investimento de R$ 800 mil.

Funcionários do Super Prix farão flash mob nas lojas de Icaraí e Tijuca, pelos 15 anos da rede. Hoje e 5ª quevem, vão parar o trabalho e dançar uma valsa.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 16/05

Aprovação de Dilma é menor entre microindustrial
Enquanto 65% da população brasileira em geral considerava, em março, o governo Dilma ótimo ou bom, nem 40% dos micro e pequenos industriais do Estado de São Paulo avaliavam a administração federal do mesmo modo.

Em abril, a aprovação caiu ainda mais entre esses empresários e chegou a 27%, de acordo com levantamento do Simpi-SP (sindicato do setor) feito em parceria com Datafolha, KPMG e Universidade Mackenzie.

"A análise do estudo mostra que um dos motivos para essa redução foi o fato de a presidente ter desonerado apenas as empresas de médio e grande porte. A inflação também pesou", afirma o presidente do Simpi, Joseph Couri.

Uma medida do governo permitiu que companhias deixassem de recolher 20% de contribuição previdenciária sobre a folha de salários para, no lugar, pagar 1% sobre seu faturamento bruto.

Para as micro e pequenas, no entanto, não houve modificações e a contribuição continua entre 2,75% e 4,6%.

"Parece até que há uma punição para as pequenas", diz o presidente da entidade.

Em relação ao governo estadual, a avaliação melhorou. Em março, 39% dos micro e pequenos industriais disseram que a administração era boa ou ótima. No mês passado, foram 46%.

"Não vejo nada específico que justifique esse aumento."

A última pesquisa estadual, de 2011, mostrava que 48% da população em geral aprovava o governo.

Construção de hidrelétrica está atrasada, aponta Aneel
A maioria das hidrelétricas projetadas pelo governo federal está com o calendário atrasado, segundo um relatório concluído ontem pela Aneel (agência de energia elétrica).

Das 27 usinas programadas para gerar energia nos próximos anos, 20 têm cronograma em ritmo mais lento do que o previsto na concessão.

Entre elas, estão algumas das obras mais importantes do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que já tinham problemas nos últimos relatórios mensais.

A usina de Belo Monte, que está sendo construída desde 2011 no rio Xingu (PA), teve de interromper os trabalhos por causa de decisões da Justiça e invasões de índios.

A hidrelétrica de Jirau, no rio Madeira (RO), parou quando operários incendiaram alojamentos e fizeram greves. As obras começaram em 2009, e a geração de energia deve iniciar neste ano.

EM MÃOS ITALIANAS
A italiana Salvatore Ferragamo, uma das grandes grifes globais de moda de alto padrão, assumiu o controle de suas lojas no Brasil.

A empresa negociava desde o ano passado com a Brasil Fashion, que operava as lojas da marca nos shoppings Iguatemi e Cidade Jardim, em São Paulo, e Leblon, no Rio, desde 2005.

A transação faz parte da estratégia da Ferragamo de retomar o controle das operações em mercados estratégicos para o grupo, segundo o CEO Michele Norsa.

"O Brasil tornou-se importante como mercado em si e, principalmente, como imagem, porque os brasileiros viajam o mundo."

Entre os planos está renovar as lojas paulistas em 12 meses, investir em comunicação e vender todas as categorias de produtos.

"Remodelaremos no Brasil como fizemos em Londres, Nova York e, agora, em Chicago e São Francisco, com mais espaço para expor produtos com tecnologia em iluminação e materiais", afirma.

Norsa diz que, após aprimorar as lojas já existentes, a marca avaliará a abertura de outras unidades.

Os calçados da grife são os itens preferidos dos brasileiros. "É uma característica da América Latina, essa identidade com sapatos, mais do que na Ásia e na Europa", diz.

282 milhões euros

foi a receita total do grupo no primeiro trimestre de 2013, o equivalente a R$ 735,50 milhões

9%

foi a alta no faturamento ante o mesmo período de 2012

13%

foi a expansão do faturamento na América Latina

48 milhões euros

foi o Ebtida (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização)

600

são as lojas em todo o mundo

3. 000

é o número de funcionários

LUZ TECNOLÓGICA
O sistema elétrico brasileiro segue uma tendência global: a troca das medições eletromecânicas por redes inteligentes, conhecidas como "smart grid".

A Itron, empresa voltada a soluções na gestão de energia e água em 130 países, diz que o sistema melhora a eficiência no monitoramento do consumo e na correção de falhas, o que é bom para concessionárias e consumidores.

O presidente e CEO da empresa, Philip Mezey, afirma que uma iniciativa criada pelo governo federal facilitará a mudança.

A Finep, agência vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, vai financiar e apoiar estudos na área.

Das três linhas de pesquisa, a que envolve "smart grid" atraiu o interesse de 60 instituições e 211 empresas. A seleção será divulgada na próxima semana.

"É muito animador ver o Brasil destinando recursos para inovação em energia, com projetos para smart grid' e também em outras formas de geração", diz Mezey.

Ele está no Brasil para uma conferência da Itron que começa hoje com entidades e estudiosos do setor. A empresa atua há 50 anos no país.

A presidente Dilma na era do atropelo - MARCO ANTONIO ROCHA

ESTADÃO - 16/05

Os leitores já se deram conta de que o governo da presidente Dilma está num frenesi de iniciativas realizadoras que ameaça levá-lo a tropeçar nos próprios pés. E não é apenas por estar de olho na reeleição, embora isso alimente o atropelo. Mas qualquer outro governante brasileiro teria de saltar em seu cavalo branco e disparar em todas as direções, pois o País está ficando para trás em tudo.

O motivo pode ser resumido numa palavra: atraso. Tudo era para ontem no Brasil. Tudo o que faz um país ou uma economia avançar está atrasado. A evidência do atraso, que se apresenta para todos nós, em praticamente todos os setores de atividade, é especialmente exasperante para os governantes que têm diante de si, na melhor das hipóteses, só oito anos para tirar décadas de atrasos, em alguns casos, mais de cem anos.

E o pior é que as reviravoltas da política nacional geram novos e desnecessários atrasos - como ocorreu com os leilões para exploração de áreas possivelmente petrolíferas, paralisados durante cinco anos porque o governo Lula achou que petróleo era um negócio que deveria ser exclusivo da Petrobrás, e não o queria entregue à iniciativa privada, eventual ponta de lança do "imperialismo ianque" e das "sete irmãs" (que nem existiam mais).

Agora que os fatos da vida deram uma clara comprovação de que a Petrobrás nunca conseguirá recursos suficientes para a imensa tarefa de que o governo pensava incumbi-la, é possível que até áreas do pré-sal acabem leiloadas para o setor privado. Mas o tempo perdido é a coisa mais cara do mundo, por irrecuperável.

Além de recursos materiais, qualquer país, para igualar-se aos níveis, ao menos medianos, de desenvolvimento do mundo atual, precisa empenhar-se firmemente em algumas coisas fundamentais e mantê-las up to date: educação, é a principal; saúde-saneamento; justiça; segurança pública - essas quatro são da esfera, principalmente, das instituições e dos governos. O quinto fator de desenvolvimento, que também depende dos governos, no que se refere à sua regulamentação, mas que pode ser tocado com sucesso pela iniciativa privada ou em regime misto, é a infraestrutura.

Convido o leitor desapaixonado a se distanciar de suas preferências políticas, pelo tucanato, pelo petismo, pelo peemedebismo, pelo socialismo, pelo capitalismo, ou qualquer outro ismo, e dar uma olhada naquelas cinco coisas no Brasil para dizer, de sã consciência, em qual delas estamos, como país, atualizados.

Em nenhuma delas. Estamos atrasados em tudo o que é fundamental para entrar na era do desenvolvimento sustentado, de que falam e prometem nossos governantes e nossos candidatos a governantes.

Na verdade, todos os governantes - da União, de Estados e municípios - só têm uma resposta para o público e os jornalistas que apontam para os atrasos em quase tudo: "estamos providenciando", ou, estamos construindo tantas escolas, tantos tribunais, tantas creches e postos de saúde, tantas cadeias, tantas estradas.

Ou seja, só daqui a não se sabe quantas décadas o País estará minimamente estruturado. Se os deuses colaborarem, porque, na verdade, já ficou para trás até na comparação com vizinhos da América do Sul.

Não temos os meios, as ferramentas para ingressar na era do desenvolvimento sustentado, por isso tivemos, recentemente, a partir dos governos FHC, Lula e agora Dilma, de entrar na era do atropelo. Na era de tentar fazer em 5 anos ou menos o que deveria ter sido feito e não foi nos últimos 50. Os portos decadentes, as ferrovias decadentes, as estradas, aeroportos e até estádios de futebol decadentes - são o hardware do Brasil, que até se pode consertar com muito dinheiro. O problema é o software: educação, justiça, segurança, saúde, manejado hoje por pessoas que receberam educação deficiente.

A presidente quer que todo o dinheiro do pré-sal vá para educação? Ótimo, um dia é preciso começar.

Não tem nada de mais... - CARLOS ALBERTO SARDENBERG

O GLOBO - 16/05

Um político com o passado e a ideologia de Afif se integra ao governo petista de Dilma que, anteontem, esculhambou a direita liberal, as elites e os velhos políticos


A gente já sabia que isso de programa e doutrina não era exatamente uma preocupação dos políticos brasileiros, mas Guilherme Afif Domingos conseguiu levar essa postura, digamos assim, a um nível máximo. Para ele, não tem nada de mais ser ministro do governo Dilma e vice-governador de São Paulo, Estado administrado por um tucano de primeira linha, Geraldo Alckmin.

Para falar a verdade, o ministro/vice admite que haverá um probleminha. Quando Alckmin precisar deixar o governo - para uma viagem ao exterior, por exemplo - ele, Afif, teria que assumir o governo estadual. Aí sim, admite, seria incompatível acumular com o ministério.

Por razões doutrinárias? Porque seria impossível combinar a gestão de governos liderados pelo PT e pelo PSDB? Nada disso. É por uma questão prática.

Ocorre que o vice-governador não faz nada, observa Afif. Assim, se não faz nada como vice, pode prestar um bom serviço como ministro. Por outro lado, se precisar assumir como governador, que faz alguma coisa, não conseguirá tocar o serviço de ministro. Ou inversamente.

Solução? Simples. Quando precisar assumir o governo, ele vai se exonerar do cargo de ministro. Mas só um pouquinho. Será uma "exoneração temporária", como explicou. Quando voltar a fazer nada em São Paulo, retorna ao batente em Brasília. Tudo dentro do "espírito da lei", garantiu.

Afif, é verdade, nunca foi tucano. Pertence hoje ao Partido Social Democrático, fundado por Gilberto Kassab, ex-prefeito de São Paulo, para ser uma agremiação assumidamente nem de direita, nem de esquerda, nem de centro. Mas os dois foram dos partidos Liberal e, depois, do Democratas, de uma longa aliança com o PSDB desde o governo FHC. Afif, em especial, apresenta-se como militante da livre iniciativa.

Ficamos assim, então: um político com esse passado e essa ideologia se integra ao governo petista de Dilma que, ainda anteontem, em festa partidária em Porto Alegre, esculhambou a direita liberal, as elites, os velhos políticos.

Não tem nada de mais, não é mesmo?

E por falar nisso: se vice-governador não faz nada mesmo, por que não eliminar essa boquinha? Pelo menos se economizariam uns trocados com a eliminação dos salários do vice e dos funcionários de seu gabinte, que o assessoram a não fazer nada.

Legalidade

Já o governador do Acre, Tião Viana, declarou ser contra a corrupção e pela transparência, em nota da útima sexta-feira, quando soube que secretários e funcionários de de seu governo haviam sido presos na Operação G7 da Polícia Federal, juntos com empresários que trabalham para sua administração.

São todos acusados de fraudar licitações e, assim, desviar dinheiro público. O governador sugeriu que não há provas e que ele não tem nada com isso.

Mas a história seguiu e apareceram transcrições de grampos, nos quais Tião Viana diz a um empresário - agora preso - que o Banco do Estado do Sergipe tinha uma linha especial de crédito para empreiteiras, "sem amarras" e sem necessidade de garantia de obras. E que ele, Viana, faria a mediação entre empresários e banco.

Não prova nada, assegurou o secretário de Comunicação do Acre, Leonildo Rosas. E se Afif recorreu ao "espírito da lei", Rosas, baseou-se na "legalidade" para defender seu governador.

É verdade que Tião Viana não é alvo da investigação. Mas o que deve dizer um governador quando nove homens de confiança vão em cana? Reparem: não é uma investigação qualquer, mas uma operação da PF, como autorização e mandados de prisão assinados por juízes.

Não tem nada de mais, parece.

E a conversa sobre o crédito do banco? Não tem nada de mais, o governador apenas buscava recursos para o Estado.

E quer saber? Tião Viana tem até razão quando sugere que os financiamentos bancários normais têm "amarras" e exigem muitas garantias. Deve ser mesmo possível agilizar os processos, mas de que jeito? Aliás, a diretoria do Banco de Sergipe apressou-se a dizer que lá não tem moleza e que exige garantias, sim.

E tem mais. A PF diz que o governo acreano é "leniente com o referido cartel".

E daí? Por enquanto, não tem nada de mais, tal é o sentido da resposta do governador e seus assessores, os que não estão detidos.

Na verdade, nessa história, tem uma coisa dentro da estrita legalidade: a investigação da PF.

Paradeira na Europa - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 16/05

As estatísticas não revelaram nada de muito diferente do que já se esperava, mas o reconhecimento oficial de que a área do euro vive a maior recessão de sua ainda curta história (14 anos) tem tudo para ser suficiente para exasperar os ânimos que já estavam à beira da exasperação.

O conceito de recessão envolve certo grau de arbitrariedade, mas não há melhor. Os economistas estabeleceram a convenção de que um país ou região entra em recessão quando a atividade econômica (PIB) se contrai (crescimento negativo) por três trimestres consecutivos. Na média dos seus 17 países, o euro está em recessão há 6 trimestres.

A gritaria deve crescer. Há enorme cansaço físico e político provocado pelo prolongado aperto de cintos. Dirigentes políticos da área batalham para reduzir o ritmo do ajuste combinado no bloco, que implica contração das despesas públicas, sacrifício e desemprego. E, nesse jogo de pressões, o maior foco de críticas é a Alemanha, da chanceler Angela Merkel, campeã das exigências por mais austeridade.

Uma recessão tão prolongada como esta traz efeitos perversos. A redução da atividade econômica diminui a arrecadação dos tesouros públicos, porque os impostos são cobrados sobre produção e vendas. Ao mesmo tempo, aumenta as despesas públicas, porque o fechamento de postos de trabalho amplia as despesas do Estado com seguro-desemprego, especialmente altas na Europa, onde os níveis de proteção social são elevados.

Quando uma economia está excessivamente endividada, é preciso cortar salários para baixar custos de produção e estimular o setor produtivo. O corte de salários se obtém por meio da recessão, que esfria o mercado de trabalho e cria desemprego. Se cada país tivesse sua própria moeda, o ajuste seria menos notado e menos doloroso. Bastaria desvalorizar a moeda nacional, os salários cairiam e a produção ficaria mais barata em moeda estrangeira, as exportações aumentariam e, em princípio, a economia se recuperaria. Como o bloco tem uma moeda comum, não dá para recorrer à desvalorização cambial.

As queixas contra a recessão e o desemprego não resolvem o problema de fundo, que é a cobertura das dívidas. Sempre chega, como já chegou, o momento em que o credor desiste de financiar os rombos orçamentários e passa a cobrar juros mais altos, que agravam o endividamento.

A paradeira europeia castiga não só europeus. Ela derruba as encomendas ao resto do mundo. Mas a falta de perspectiva de ajuste castiga ainda mais, por adiar indefinidamente a recuperação.

Os níveis de desemprego seguem altos, como mostra o Confira. Esses números escondem algo ainda mais terrível: a falta de perspectiva profissional para os recém-formados. Na Espanha, por exemplo, um em cada dois jovens não consegue trabalho.

Se fosse somente econômico, o problema teria soluções técnicas relativamente fáceis. O diabo é que é também político, numa situação em que os políticos não têm proposta melhor do que a distribuição de sacrifícios em doses cada vez mais insuportáveis.

O nó do ICMS - MARCELO MITERHOF

FOLHA DE SP - 16/05

As indicações são de que o governo vai desistir de mudar o ICMS, no que faz bem


A dificuldade de reformar o ICMS é uma evidência do quão complexo é, numa jovem democracia como a brasileira, viabilizar um projeto visando ao desenvolvimento e à redução das disparidades regionais. Os mecanismos do ICMS são intrincados. Tento explicar o essencial. Para tanto, recorri à ajuda de minha colega economista Erika Araújo.

O ICMS é um tributo estadual cuja divisão da arrecadação, quando uma transação comercial é feita entre diferentes Estados, obedece a um princípio misto de origem e destino. O Estado onde ocorre o consumo cobra a diferença entre a alíquota total do ICMS (o padrão é 17%) e o valor cobrado na origem.

Hoje, o tributo na origem é 12%, ficando 5% para o Estado de destino. A exceção é quando a venda é feita de um Estado do Sul/Sudeste, fora o Espírito Santo, para outro localizado nas demais regiões, em que a tributação na origem é de 7%.

A guerra fiscal ocorre pela concessão unilateral de isenções tributárias, que são ilegais, pois precisam da aprovação de todos os Estados. Para atrair investimentos, um Estado oferece à empresa o direito ao crédito de um tributo que não recolheu na origem. Assim, é dada uma vantagem em relação aos concorrentes no Estado de destino, o que permite reduzir preços e/ou elevar as margens de lucro.

A generalização da guerra fiscal --que não é feita só pelos Estados menos industrializados-- fez com que todos perdessem arrecadação.

Para se defender, cada Estado passou a reagir isoladamente, glosando créditos indevidamente concedidos na origem. Porém essas glosas viram disputas judiciais, criando uma incerteza que pode prejudicar novos investimentos.

O STF tem decidido pela ilegalidade de isenções unilaterais, mas em geral elas são recriadas com outros nomes. Uma súmula vinculante pode ser estabelecida.

Para mitigar o problema, o governo editou a MP 599, que, ao gradualmente reduzir as alíquotas de origem até se unificarem em 4%, diminuiria o espaço da guerra fiscal. E foram previstos dois fundos para os Estados --um para compensação de receitas e outro de desenvolvimento regional --, que em 20 anos podem consumir R$ 400 bilhões.

A MP apontou na direção certa. Mas houve problemas. Ela não tratou do acúmulo de créditos que tende a ser gerado pela redução das alíquotas de origem, algo que a limitação do espaço não permitirá tratar. Mais importante, é problemático ter mantido a alíquota de origem da Zona Franca de Manaus (ZFM) em 12%.

Valeria a pena uma empresa de eletrônicos transferir sua produção para a ZFM, elevar as compras externas de insumos, que contam com isenção do imposto de importação e também poderão contar com até 12% de redução do ICMS que o Estado do Amazonas terá a chance de continuar concedendo.

O Senado ainda mudou a proposta da MP: nas vendas para o Sul e o Sudeste, a alíquota de origem nos Estados das demais regiões cairia apenas até 7%. Ademais, algumas cidades de Estados do Norte também manteriam a alíquota de 12%.

Não basta reduzir as alíquotas de origem. Sem eliminar as diferenças entre elas --até ampliando-as em alguns casos--, é difícil acabar com a guerra fiscal. O governo federal ainda tem que arcar com a compensação aos Estados. É provável que cresçam as distorções provocadas pelo ICMS.

Por isso, as indicações são de que o governo vai desistir de mudar o ICMS, no que faz bem. Mas o problema da guerra fiscal persiste.

Sua tragédia é que, em vez de ser uma forma de reduzir o desequilíbrio produtivo regional, seu pretenso objetivo inicial e condição crucial para o Brasil se tornar desenvolvido, ela tem tido o efeito oposto: perda fiscal generalizada, mais burocracia, incerteza jurídica, desincentivo ao investimento e esvaziamento das cadeias produtivas.

A inclusão social recente deveria ser uma alavanca para reduzir disparidades produtivas regionais. Hoje, investir no Nordeste, por exemplo, é algo que o mercado exige da estratégia de muitas empresas.

Entretanto, falta alinhar um projeto de industrialização, que faça o crescimento do consumo ser mais bem aproveitado pela indústria nacional. Se seus estímulos em boa parte vazam para as importações, o investimento escasso faz os Estados continuarem numa disputa federativa pouco dinâmica e fratricida, que nem a oferta de compensação financeira pela União é capaz de conter.

Ao mar e à deriva - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 16/05

Não há quem não queira portos eficientes no Brasil e não concorde que esse é um dos nós do país. Desse consenso, o governo produziu um dissenso histérico. Nos últimos dias, o país acompanhou um debate em que se tinha a impressão de que a grande questão é quem tem piores credenciais na Câmara dos Deputados. Todos os contendores pareciam certos sobre os adversários.

Mas o que interessa não é o patamar moral bem conhecido de algumas excelências. O que se quer é portos eficientes. Há muito a fazer nessa área. Certamente não é criando vantagens para algumas empresas em detrimento de outras que se vai chegar a isso. O Brasil precisa de todo o investimento que puder mobilizar para melhorar a logística.

A MP foi apresentada como uma panaceia, uma segunda abertura dos portos às nações amigas. Os portos isoladamente não resolvem o nó logístico. É preciso que eles sejam interligados a ferrovias, rodovias, hidrovias e tenham um calado com a profundidade compatível com os grandes navios de contêineres ou os graneleiros de hoje.

Nove grupos privados operam doze terminais, hoje, em concessões feitas pela antiga Lei dos Portos, de 1993. Eles pagam outorga, tarifas para acessar o canal, têm que contratar trabalhadores através do Órgão Gestor de Mão de Obra (Ogmo). Os empresários se queixam de não poder treinar trabalhadores avulsos. É impossível melhorar os portos sem acabar com distorções criadas por essa obrigatoriedade de se contratar trabalhadores pelo Órgão Gestor.

Os novos investidores não pagarão as mesmas taxas e outorgas e, além disso, vão poder contratar pela CLT. Suas concessões poderão ser renovadas indefinidamente e, se desistirem do negócio, serão indenizados pelos investimentos que fizeram. O primeiro grupo, se a concessão não for renovada, tem que deixar para a União os investimentos feitos.

Essa diferença de tratamento dentro do setor privado não prejudica apenas os atingidos. Confirma a impressão de um governo intervencionista e discricionário. A insegurança jurídica criada se espalha como aversão a investimentos, seja em que área for.

Se o governo não está feliz com os atuais operadores de terminais privados em portos públicos pode usar seu poder concedente e não renovar, ou até cassar a concessão se tiver como provar que eles não cumpriram as obrigações. Mas é difícil explicar para qualquer investidor que o governo mudou uma lei, que foi discutida durante três anos no Congresso, através de uma MP, e que se ela não for aprovada a tempo vai legislar por decreto.

O governo não teve coragem de enfrentar a necessidade de modernização da relação capital-trabalho nos portos, e então decidiu que futuros empreendimentos - ou aqueles que estão em construção - poderão ter liberdade. Segundo os atuais operadores, só nesse ponto a diferença de custo é de 20%.

Os novos entrantes no mercado, investidores no mercado de portos privados, argumentam que eles têm que fazer muito mais investimentos do que os que se instalaram nos portos com seus terminais no antigo regime, por isso é justo que não paguem outorga e algumas das tarifas. Difícil explicar, no entanto, a diferença na contratação de mão de obra.

Quando o governo criou a estatal Empresa de Planejamento Logístico (EPL) e a entregou a um dos assessores favoritos da presidente Dilma, Bernardo Figueiredo, acreditou-se que a logística seria pensada como um todo. Os empresários que tentaram dialogar com o governo tiveram poucas reuniões na EPL. Foram direcionados à Casa Civil, onde alegam não ter tido qualquer chance de diálogo. Não é desta forma que se alavancará investimentos no país.