segunda-feira, abril 15, 2013

Efeitos Colaterais - J. R. GUZZO

REVISTA VEJA

O governo brasileiro viciou-se em confundir estatísticas com realidades. Está escrito em algum papel oficial? Então é verdade. Como fomos todos informados pela presidente Dilma Rousseff, não há mais miseráveis no Brasil desde o dia 31 de março, quando foi riscado do cadastro federal o nome do último cidadão brasileiro com renda inferior a 70 reais por mês. A partir daí, quem ganha 71 mensais deixou de ser miserável, pois para a ciência estatística a miséria acaba naqueles 70 reaizinhos — ou cerca de 1,25 dólar por dia, pela média dos critérios internacionais. Daí para a frente o sujeito é promovido a pobre e deixa de incomodar tanto. "O cadastro foi zerado", anunciou Dilma. Conclusão: como não existem mais nomes no cadastro, não existem mais miseráveis no Brasil. Ah, sim, ainda há um probleminha com gente que ganha menos de 70 reais por mês e que não estava inscrita na lista oficial; é mera questão de tempo até o governo encontrar todo mundo, dar um dinheirinho a mais para eles e acabar não apenas com a "miséria cadastrada", como falam os técnicos do Palácio do Planalto, mas com o problema inteiro.

Nada disso faz nexo no mundo do bom-senso, mas o governo tomou-se dependente de um outro vício — massagear números aqui e ali e fazer uso deles para tratar como retardado mental todo brasileiro que foi à escola, prestou um pouco de atenção às aulas e acabou aprendendo alguma coisa. O problema de meter-se por essa trilha é que, com frequência, os especialistas em fazer mágicas aritméticas têm de experimentar o próprio veneno. Acaba de acontecer, mais uma vez, com as últimas cifras da ONU sobre o índice de Desenvolvimento Humano em 187 países — uma medida que informa o nível de bem-estar da população, e não da "economia". em termos de vida saudável, acesso ao conhecimento e padrão de vida decente, traduzido em dinheiro no bolso do povo. O Brasil pegou o 85° lugar em 2013, dezesseis postos abaixo do Cazaquistão e outras potências do mesmo quilate. Não é um desastre. É apenas aquilo que realmente somos — a mediocridade em estado puro. Só na América Latina, ficamos atrás de Argentina, Chile, Uruguai. Cuba, Panamá. México, Venezuela e Peru, com a Colômbia prometendo passar à frente já no próximo levantamento. Sobra o quê, aqui em volta? Só os casos de subdesenvolvimento que já estão num leito de UTI.

A coisa não para aí. Já que o negócio é ficar refogando números, como a presidente Dilma tanto gosta, por que não servir a salada inteira? Em 1980, mais de vinte anos antes de o ex-presidente Lula decidir que o Brasil tinha sido inventado por ele, o IDH brasileiro era de 522, numa escala que começa no zero e chega ao máximo de 1000; subiu sem parar nesse tempo todo, chegando a quase 700, ou perto de 35% a mais, no Ano I da Nova História do Brasil — 2003 —, quando Lula começou sua primeira Presidência. Nestes dez anos de Lula, Dilma e PT, o índice foi para os 730 onde está hoje. Mais: durante os dois anos do governo Dilma, o IDH brasileiro ficou perto do nível de pressão zero por zero. com crescimento praticamente nulo. O que toda essa tabuada está dizendo, no mundo das coisas reais, é o contrário do que diz o mundo da propaganda oficial: com a sexta ou sétima maior economia do mundo em volume, o Brasil simplesmente não consegue repassar o bem-estar dessa grandeza, nem de longe, para os brasileiros que a constroem.

O governo, assim que recebeu os últimos números, entrou no seu modo habitual de indignação automática: a ONU está errada, as cifras são injustas etc. Quer que a população acredite na demência segundo a qual um cidadão que ganha 71 reais por mês não é mais miserável; ao mesmo tempo, não quer que acredite nos números da ONU. Mais que tudo. ignora o fato de que "a revolução na renda" registrada nos governos petistas. e patenteada como invenção pessoal e exclusiva de Lula, é uma mentira: o mundo inteiro, mesmo nos casos mais desesperados da África, viveu uma rápida e inédita redução da pobreza durante os dez anos de governo lulista. De 2000 para cá, 70 milhões de pessoas saem da miséria a cada ano pelo mundo afora. Em apenas seis anos, de 2005 a 2011, a pobreza mundial foi reduzida em meio bilhão de seres humanos. Desde 2003, os países pobres vêm aumentando em 5% ao ano, em média, a sua renda per capita. De onde Lula e Dilma foram tirar a lenda segundo a qual fizeram o que ninguém jamais havia feito? Vá com calma ao mexer em estatísticas, presidente. É um produto que pode ter efeitos colaterais indesejáveis.

Ele não sabe o que faz - RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA

Mais um assassino covarde tira proveito da lei paternalista no Brasil, que considera os menores de 18 anos incapazes de responder criminalmente por seus atos. Como não sentir vergonha diante dos pais do universitário Victor Hugo Deppman, assaltado e morto na calçada de casa em São Paulo? Como convencê-los a se conformar com o Estatuto da Criança e do Adolescente, que protege o homicida de 17 anos que deu um tiro na cabeça de seu filho após roubar seu celular? Como conviver com a perda brutal de um filho e saber que seu algoz será internado por no máximo três anos porque “não sabia o que estava fazendo”?

Não consigo enxergar jovens de 16 anos como “adolescentes” ou “menores”. Eles votam, fazem sexo, chegam em casa de madrugada ou de manhã. Por que considerá-los incapazes de discernir o certo do errado? Ao tornar jovens de 16 anos responsáveis por seus atos diante da Justiça, o objetivo não é encarcerar todos os delinquentes dessa idade, mas, quem sabe, reduzir os crimes hediondos juvenis. A mudança na lei reforçaria o status que eles próprios já reivindicam em casa diante dos pais: “Eu não sou mais criança”. E não é mesmo.

Para quem argumenta que de nada adiantará reduzir a maioridade penal para 16 anos, respondo com uma pergunta: longas penas para assassinos adultos acabam com o crime bárbaro? Não, claro. Então, vamos acabar com as cadeias porque elas são custosas e inócuas? Não, claro. Longas penas servem para reduzir a impunidade e dar às famílias de vítimas a sensação de que foi feita justiça. Não se trata de “vingança”. É um ritual civilizatório. Matou? E ainda por cima por motivo torpe? Tem de pagar.

Um argumento popular contra a redução da maioridade penal para 16 anos é: e se um adolescente de 14 ou 15 anos matar alguém, mudaremos de novo a legislação? Sempre que escuto isso, lembro um caso na Inglaterra, em 1993. Dois garotos ingleses de 10 anos foram condenados à prisão perpétua por ter mutilado e matado um menino de 2 anos. A repercussão foi tremenda. Os assassinos foram soltos após oito anos de prisão. Mas não foram tratados com benevolência no julgamento. O recado para a sociedade era claro: não se passa a mão na cabeça de quem comete um crime monstruoso. Mesmo aos 10 anos de idade.

Outro argumento comum no Brasil contra a redução da maioridade penal afirma que só com boa educação e menos desigualdade social poderemos reduzir a criminalidade juvenil. Essa é uma verdade parcial. Há muitos países pobres em que jovens assaltam, mas não matam por um celular ou uma bicicleta. Eles têm medo da punição, medo da Justiça. Também acho injusto atribuir aos pobres uma maior tendência ao crime bárbaro. Tantos ricos são bandidos de primeira grandeza... Melhorar a educação e reduzir a pobreza são obrigações. Isso não exclui outra obrigação nossa: uma sociedade que valoriza a vida e a honestidade precisa acabar com a sensação de que o crime compensa. Para menores e maiores de 18 anos.

Os filósofos de plantão que nunca perderam o filho num assalto apelam à razão. Dizem que não se pode legislar sob impacto emocional. Ah, sim. Quero ver falar isso diante de Marisa e José Valdir Deppman, pais enlutados de Victor Hugo, que ouviram o tiro de seu apartamento, no 9º andar. Uma família de classe média que livrou o filho da asma com plano de saúde privado e investiu com esforço em seus estudos. A mãe falava com Victor Hugo todos os dias pelo celular. “Eu sempre falava para ele não reagir, porque a vida não vale um celular ou um carro. Ele não reagiu, mas foi morto. Estou estraçalhada por dentro.”

Victor Hugo, o Vitão, era santista fanático, um dos artilheiros do “Inferno vermelho”, apelido do time da Faculdade Cásper Libero, onde estudava rádio e TV. Sonhava em virar locutor esportivo e estava apaixonado. A câmera do prédio mostra o momento em que sua vida acabou. Mostra a covardia do rapaz, cujo nome nem pôde ser divulgado por ser “inimputável”. Na sexta-feira passada, o assassino de Vitão, infrator conhe- cido na Febem, completou 18 anos.

Seu futuro pode ser o mesmo do menor E., que, aos 16 anos, ajudou a matar no Rio de Janeiro, em 2007, o menino João Hélio. Ele pertencia ao bando que arrastou João Hélio pelas ruas, pendurado na porta de um carro que havia sido roubado de sua mãe. Após três anos numa instituição para jovens infratores, foi libertado. A Justiça o incluiu temporariamente num programa de proteção a adolescentes ameaçados de morte, o PPCAAM. Ridículo. Ezequiel Toledo de Lima foi preso em março de 2012, aos 21 anos, por posse ilegal de arma, tráfico e corrupção ativa. Ezequiel não tinha antecedentes criminais como adulto - apesar de ter matado com requintes de crueldade um menino de 6 anos. É ou não é uma inversão total de valores?


Dança do Passinho - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 15/04

Luciano Huck, observador atento das manifestações culturais nas favelas, está impressionado com o sucesso da Dança do Passinho, que junta elementos de funk e frevo.

— Pelas minhas andanças nas comunidades, é o movimento cultural mais forte que vi nestes últimos dez anos.

Campeonato...
Huck acredita que se trata de um movimento cultural pós-UPP:

— Os bons dançarinos ocuparam o posto de “reis do morro”, os “desejados do pedaço”, que no passado foi dos traficantes.

O apresentador vai levar para o programa o primeiro campeonato nacional de passinho.

A favor da oferta
O ministro Guido Mantega não concorda com os que dizem que as desonerações do governo são para estimular o consumo.

Diz que, do total de R$ 70 bilhões previstos para este ano em desonerações, R$ 30 bilhões são para estimular a oferta (desoneração da folha e do IPI de bens de capital, entre outras), e R$ 20 bilhões, para a demanda (IPI para automóveis e linha branca).

Nosso dinheiro nos EUA
Um parceiro da coluna ouviu de um funcionário do Consulado dos Estados Unidos no Rio:

— Para cada oito vistos concedidos a brasileiros, um emprego é criado... nos EUA.

Lá fora é um sucesso
Após o primeiro lugar na lista da livraria Barnes & Noble, o livro de Paulo Coelho “Manuscrito encontrado em Accra”, que não deslanchou no Brasil, chegou ao terceiro lugar de ficção capa dura da Publishers Weekly, a mais importante lista dos EUA.

Confissões de Daniel
Quinta agora, Daniel Filho começa a filmar “Confissões de adolescente”, baseado no sucesso editorial, teatral e televisivo dos anos 90.

O elenco principal será formado por: Sophia Abrahão, Malu Rodrigues, Isabella Camero e Clara Tiezzi.

O filme contará ainda com Cássio Gabus Mendes e participações das quatro da série da TV Cultura: Deborah Secco, Daniele Valente, Georgiana Goes e Maria Mariana.

Aliás...
Maria Mariana, autora do livro “Confissões de adolescente”, vai fazer um documentário sobre o tema.

Réu danadinho
A Quinta Turma do STJ julgou semana passada uma ação inusitada.

Um réu do Paraná, que contrabandeou 50 caixas de Viagra, o remedinho da saliência, pediu para que a ação penal fosse trancada. Alegou que era “uma questão irrisória”.

O tribunal manteve a ação.

Carnaval 2014
Christiane Torloni deve ser a rainha da bateria da Grande Rio.

Perigo que vem do ar
A administradora Maria Eduarda Oliveira deu queixa na 14ª DP (Leblon) contra a operadora do heliponto da Lagoa, Helisight, depois de ter sido derrubada de sua bicicleta pelo deslocamento de ar de um helicóptero.

Na hora ela não estava pedalando na ciclovia. Tinha parado atendendo ao alerta de um funcionário do heliponto.

De volta
O ex-PM Marcos Vieira Souza, o Falcon, aquele que hasteou a bandeira do Brasil na conquista do Complexo do Alemão, será reintegrado à corporação.

Acusado de ser ligado a uma milícia, ele foi absolvido pelo Conselho Disciplinar e também pelo juiz André Ricardo de Francisco, da 28ª Vara Criminal do Rio.

Jornada Mundial
A jovem Karen Keldani foi escolhida pela Arquidiocese do Rio para cantar na missa de abertura da Jornada Mundial da Juventude, dia 23 de julho, em Copacabana.

Ela foi revelada na Igreja da Ressurreição, no Arpoador.

Viva Tom!
O Prêmio da Música Brasileira vai homenagear Tom Jobim, dia 12 de maio, no Teatro Municipal do Rio.

Depois, haverá uma turnê itinerante do prêmio, patrocinado pela Vale. No Rio, o show será no dia 10 de julho, na Cidade das Artes.

Noite brasileira
O Lutetia, hotel cinco estrelas em Paris, está fazendo uma homenagem ao Brasil.

Na noite de quinta-feira, com o saxofonista Raul Mascarenhas tocando pelas galerias do hotel, foi inaugurada a exposição “Magic Brésil”, com cinco artistas brasileiros, entre eles Tuca Reinés e Tina Machado, que expõe fotografias do Rio.

Loucos de antigamente - JOSE DE SOUZA MARTINS

O Estado de S.Paulo - 15/04

O prédio do Hospício de Alienados ainda está lá, no Parque Dom Pedro II, erguido em taipa socada, vazio e abandonado, à espera de que num dia destes um temporal o ponha abaixo. Entristece as noites paulistanas como fantasma de outros tempos, assombra nossa consciência e nossa desmemória. Mulheres e homens que ali penaram e ali morreram ainda sussurram em seus corredores e cômodos os lamentos de sua solidão e de seu abandono, prisioneiros que foram de sua própria mente. Considerados loucos, foram ali confinados até o fim de seus dias.

"De músico, poeta e louco, todos têm um pouco", diz o refrão popular. Mas, só há pouco mais de 150 anos é que aqui em São Paulo os loucos passaram a ser considerados propriamente loucos, isto é, doentes. Até então, louco era considerado criminoso e colocado na cadeia, junto com ladrões e assassinos. Antes disso, no século 18, loucura era crime contra a religião. Coisa de hereges, de dissidentes e pactários, gente que fizera pacto com o diabo e ficara endemoninhada. Um sapateiro e traficante de escravos, Antonio da Costa Senra, imigrado dos Açores, foi aqui preso em 1782 e enviado para a Inquisição, em Lisboa, para eventualmente ser queimado vivo, porque se considerava enganado por Deus, que o fizera pobre em vez de fazê-lo rico. Dizia coisas sem nexo contra a religião. Era suspeito de ter vendido a alma a satanás em troca de riqueza.

Só em 1851 ganhou corpo a consciência de que loucura é doença e de que os loucos precisavam ser separados dos condenados. Alugou para isso o governo um sobrado na Rua de São João, esquina da Rua Aurora, contratando um médico para tratar dos enfermos. Prédio acanhado e impróprio, foram os loucos transferidos, em 1862, para o casarão ao pé da Rua da Tabatinguera, onde estivera antes o Seminário de Educandos, à beira do Rio Tamanduateí. Com adaptações, é o casarão que lá existe até hoje. Recebia pobres e ricos, escravos e livres, adultos e até crianças consideradas loucas! Muitos, trazidos do interior. Louco era o demente, isto é, o sem mente, e as consideradas pessoas de "miolo amolecido", diziam os diagnósticos da medicina de então, o "miolo mole", da linguagem popular de ainda hoje.

Ali morreu de meningite o poeta abolicionista Paulo Eiró, em 1871, que enlouquecera de amor por uma prima que se casara com outro. Mas ali morreu, em 1876, também louco, seu irmão, o padre Casimiro Antonio de Matos Sales, que fora coadjutor de Santo Amaro e político liberal. Morreram relativamente moços e foram sepultados no Cemitério da Consolação. Em versos de amor, Paulo Eiró dissera: "Pobre! Não chegará à primavera: aguarda sem gemidos, sem um grito, que uma réstia do sol da eterna esfera te arranque ao sonho aflito".

O Hospício foi transferido para uma fazenda no Juqueri, em 1903.

Nostalgia - LÚCIA GUIMARÃES

O Estado de S.Paulo - 15/04


Doutor, o homem da 'ciclopédia' tá na porta.

Ouvia a sola de borracha dos sapatos Vulcabrás cruzando apressados o corredor para a sala de visitas, onde o homem já estava instalado no sofá meio puído. O nome a gente não lembrava, afinal, mais do que um Francisco ou um João, ele era o homem da Britannica. Meu corpo franzino ficava tenso. Por que a chegada do homem plantava gotinhas de suor na testa do meu pai?

Porque o valor das 24 prestações era assustador para um médico funcionário público que tivera cinco filhos. Porque o vendedor não ia embora nunca sem arrancar a assinatura do meu pai, vencido por seu horror a confronto, envergonhado por não ganhar melhor. O ritual se repetia a cada três ou quatro anos, quando o homem voltava para nos convencer de que a família precisava de uma Britannica zero quilômetro. Nunca tivemos a nova edição de um carro, meu pai comprou seu primeiro automóvel aos 70 anos. Mas a nossa Britannica, de tempos em tempos, era zero quilômetro e a estante ocupava lugar de destaque maior do que o da cristaleira.

Quando uma edição comemorativa trouxe como bônus a réplica da primeira Enciclopédia Britannica, só faltou vestirmos roupa melhor para abrir a caixa. Eram apenas três volumes que haviam sido publicados em série, entre 1768 e 1771, como Um Novo e Completo Dicionário de Artes e Ciências. O nervosismo com a nova dívida contraída foi combatido com longas sessões de assombro diante da clareza da cultura científica estampada nas páginas artificialmente amareladas. "Leia o verbete Brasil, com 's'!", dizia o meu pai, mantendo a TV desligada. Eu obedecia, não porque estivesse fascinada com o inglês arcaico, descrevendo a colônia "de onde sua majestade portuguesa tira uma renda muito considerável". Se o orçamento da casa tinha de ser apertado para acomodar uma coleção de livros que raramente resolviam minhas dúvidas nos trabalhos de escola, havia ali um valor transcendente, estampado na expressão paterna e era preciso demonstrar apreço pela aquisição.

Acabo de me dar conta, pela primeira vez, de que a réplica da Britannica do século 18 repousa hoje próxima a uma cristaleira na minha sala de jantar. Faço refeições olhando para ela. Continuo não consultando a enciclopédia.

O prefácio começa assim:

"Utilidade deve ser a principal intenção de toda publicação. Onde esta intenção não aparece com clareza, nem os livros nem os autores terão o menor direito à aprovação da espécie humana".

O princípio, expresso por autores impregnados do Iluminismo, reunidos para compilar o conhecimento humano naquele século, não me perturba. Não abro mão da presença dos volumes que perderam a função utilitária. Mas não a sua relevância. Se a sua noção do proveitoso abraça mais do que um abridor de garrafas ou um caixa automático, o leitor há de entender por que a enciclopédia continua lá.

Esta semana assisti, pela enésima vez, a Maridos e Esposas, de Woody Allen. A reação angustiada de Gabe, vivido pelo diretor, me chamou mais atenção do que de costume: "Mudança é igual à morte", proclama ele, ao ouvir Mia Farrow se queixar da mesmice do casamento, quando, na verdade, está mais do que pronta para cair fora. Mudança não é igual à morte, naturalmente, mas o protesto do personagem Gabe soa cada vez mais sensato. Ele não defende a volta a um tempo em que não existia penicilina. Mas mudança pode ser a morte do que nos é caro. E a morte do que nos é caro, a despeito de ser ou não inevitável, só pode ser enfrentada com luto.

QUESTÃO DE TEMPO - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 15/04

Nove em cada dez pessoas com câncer de estômago e esôfago que diagnosticam a doença em estágio inicial conseguem se curar, segundo estudo que será apresentado amanhã em SP. A pesquisa, feita com 653 pacientes do hospital A.C.Camargo entre 2000 e 2012, mostra, porém, que a detecção precoce ocorre em apenas 25% dos casos.

QUESTÃO DE GÊNERO
Do total, 64% dos pacientes eram homens, segundo o cirurgião Felipe Coimbra. A instituição intensificará campanhas informando que azia e mal-estar recorrentes devem ser investigados. E que a prevenção começa na alimentação. Deve ser reduzido o consumo de sal, carnes defumadas, condimentos, álcool e bebidas muito quentes, como chás e chimarrão. O cigarro também aparece como vilão.

DILMA LÁ
A ordem de auxiliares da presidente Dilma Rousseff de disseminar no Congresso Nacional que a indicação de Luiz Fux para o STF (Supremo Tribunal Federal) foi "herança" de Lula não decola no PT. O ex-presidente sempre torceu o nariz para o magistrado. Dizia que uma pessoa apoiada ao mesmo tempo por Delfim Netto e João Pedro Stedile, líder do MST, como era o caso, não poderia ser confiável.

DILMA LÁ 2
O próprio Fux, em entrevista à Folha, disse que foi escolhido por Dilma e que Lula não o apoiou. Usava o argumento para negar que havia prometido absolver José Dirceu no caso do mensalão e mostrar que o petista não trabalhou por ele. Caso contrário, o ex-presidente o teria nomeado em 2010.

PALOCCI GARANTE
Antes de ser escolhido, já no governo de Dilma, Fux foi recebido por ministros do governo dela como José Eduardo Cardoso, da Justiça, e Antonio Palocci, então poderoso ministro da Casa Civil. A palavra que mais pesou para que a presidente nomeasse Fux foi a de Palocci, que trabalhou arduamente para que ele fosse o escolhido.

POÇO
A Petrobras investirá R$ 247 milhões em 176 projetos de cidadania e ambientais. Ao primeiro segmento serão dados R$ 145 milhões; ao segundo, R$ 102 milhões. O anúncio simultâneo será feito na quarta no Rio, em Salvador e em Brasília.

SAMBA E SPRAY
O grupo Sambô, que canta "Toda Forma de Amor", de Lulu Santos, tema de abertura da nova novela das sete da TV Globo, "Sangue Bom", se apresentará na festa de lançamento da trama, na quarta, em São Paulo.

A dupla Os Clandestinos, da canadense Shalak e do brasileiro Smoky, vai grafitar um painel de 2 m inspirado no protagonista Bento (Marco Pigossi) durante a noite.

A GENTE NÃO QUER SÓ COMIDA
Luis Terepins, presidente da Fundação Bienal, e Danilo Santos de Miranda, presidente do Sesc-SP, costuraram parceria para levar obras da 30ª Bienal a São José do Rio Preto, Bauru, Araraquara e Campinas a partir de amanhã.

"Juntamos a fome com a vontade de comer", diz Terepins. Com a circulação de trabalhos de 35 artistas, as duas instituições "dão uma oportunidade que raramente é oferecida a quem mora no interior do Estado", completa Miranda.

DILEMAS DE FAMÍLIA
A peça "Deus da Carnificina, Uma Comédia sem Juízo", com Julia Lemmertz, Deborah Evelyn, Paulo Betti e Orã Figueiredo, estreou temporada popular na quinta, em São Paulo. As atrizes Lucy Ramos e Ellen Roche e o diretor teatral José Possi Neto compareceram à sessão, no teatro Sérgio Cardoso.

MAGAZINE
A loja inglesa Topshop Topman inaugurou filial no shopping Iguatemi. Os diretores criativos da grife, Kate Phelan e Gordon Richardson, receberam a atriz Priscila Sol, o cantor Wilson Simoninha, a apresentadora Cuca Lazarotto e o arquiteto Matheus Ribeiro na festa, que teve show da banda Stop Play Moon e discotecagem de Luca Lauri.

CURTO-CIRCUITO
A exposição "Olhar a Toda Prova", com fotos de esportes olímpicos, será aberta hoje, às 19h30, no centro cultural da Fiesp, na avenida Paulista.

"Hoje", filme de Tata Amaral, terá estreia para convidados às 19h30, no Espaço Itaú do Frei Caneca.

Os institutos 5 Elementos e Alana fazem debate sobre educação e consumo, às 19h, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional.

O Sesc Pompeia abre mostra do turco Hüseyin Bahri Alptekin a partir do dia 25.

A Mostra Black, de arquitetura e paisagismo, será entre maio e julho, com patrocinadores como WTorre, Dellano e Deca.

O mal-estar na civilização dos anjos - LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 15/04

Pinker confundiu a felicidade de um circo com ar-condicionado com evolução da paz


O otimismo está na moda com o novo livro do psicólogo cognitivista Steven Pinker, "Os Anjos Bons de Nossa Natureza", da Cia. das Letras. Sou um admirador do seu já clássico "Tábula Rasa" (o título do livro remete a conhecida tese empirista segundo a qual somos inteiramente frutos do meio).

No "Tábula Rasa", gosto em especial da parte denominada "Vespeiros", dedicada às polêmicas contra as ciências humanas e sua defesa ideológica da "tábula rasa" a ser preenchida pelas modas ideológicas do momento, do tipo meninos e meninas não existem a não ser como construção social. Risadas?

Considero o evolucionismo e a ciência cognitiva ganhos enormes para a compreensão do comportamento humano. Mas, me pergunto se ele, com este novo livro, não está fazendo mais um panfleto de marketing moral do que um livro "científico".

Não aceito plenamente suas conclusões a partir daquilo que ele oferece como uma "ciência cognitiva do otimismo". E, infelizmente, suspeito que Pinker tenha sucumbido a pressão para ser legal, pressão esta que todo mundo que atua como agente do pensamento público sente hoje em dia.

Essa é a praga do politicamente correto: tão invisível como um pó que cai sobre nosso cérebro e não percebemos até nos tornarmos zumbis intelectuais com medo de pensar o impensável.

Temo que assumir que melhoramos porque os americanos passaram de Bush a Obama, e porque existe a ONU e os shopping centers, é mais ideologia (o que Pinker normalmente critica) do que "ciência". Mesmo a "estatística do bem" só convence quem crê em estatística aplicada a seres humanos.

Dá até a impressão de que o autor se convenceu que o mundo é mesmo igual às regiões mais ricas dos Estados Unidos, onde ele vive.

O conforto e a segurança podem ser mesmo um grande viés a entortar nossas conclusões. Pinker confundiu a felicidade de um circo com ar-condicionado, lanchonetes e ONGs com evolução da paz.

A tese de Pinker em seu novo livro é que a humanidade está, desde o século 19, ficando menos violenta fisicamente. Não é de todo absurdo dizer isso se levarmos em conta que grande parte da humanidade hoje em dia se ocupa com ganhar dinheiro, comprar casas e carros, comer uma alimentação saudável e combater as rugas, afora se conectar às redes sociais e falar besteiras quase o tempo todo.

Trata-se da paz como resultado da banalidade do pequeno sucesso e das horas vazias preenchidas com imposto de renda, divórcios e faturas do cartão de crédito.

Mas, suspeito que esse sucesso da paz se dá antes de tudo porque, além dessa ocupação com um cotidiano que vai da TV a cabo às angústias com a previdência privada, as instituições da democracia representativa e da sociedade de livre mercado (que os comunistas gostam de chamar de capitalismo) representam de fato um ganho, contendo nossa vocação para violência, que agora adormece, cândida, babando nos bares, restaurantes, free shops e ONGs para pandas.

Estamos em paz porque compramos muito, comemos muito e somos muito narcisistas. Estamos muito próximos dos personagens felizes e idiotas do "Admirável Mundo Novo" de Aldous Huxley.

O otimismo "científico" de Pinker me lembra outro otimista, Francis Fukuyama, e seu "fim da história", porque segundo este, não há possibilidade de retrocedermos para uma sociedade sem democracia liberal. Será?

Esses dois autores, Pinker e Fukuyama, parecem não levar em conta que estamos votando em candidatos duvidosos, comprando computadores, pílulas e Viagra há pouquíssimo tempo e que assumir "200 anos de história da paz do consumo" contra 1 milhão de anos (grosso modo) de sofrimentos intermináveis é como julgar a vida de um homem de mil anos pelos dois últimos segundos passados.

Por último, retornaria ao clássico freudiano "Mal-Estar na Civilização" (recusado pela moda cognitivista). Mesmo Norbert Elias, referência essencial para um dos "bons anjos" de Pinker, sabia bem que o processo civilizador cobra um preço alto pela repressão da "besta em nós".

Resta saber qual seria o "retorno do reprimido" deste mundo de bons anjinhos.

GOSTOSA




Olhos de Calígula - MARCELO DE PAIVA ABREU

O ESTADÃO - 15/04

O passado recente, com as mortes de Chávez e de Thatcher, tem reprovado, à esquerda e à direita, o dito latino de que não se deve falar mal dos mortos. Em artigo no jornal The Guardian, Glenn Greenwald enfatizou que ele certamente não deve ser aplicado a figuras públicas, pois não é razoável assegurar monopólio às louvações. Por outro lado, regozijos, à direita ou à esquerda, são lamentáveis.

Em editorial, o Financial Times destacou Thatcher entre os primeiros-ministros britânicos em tempos de paz desde Gladstone. A avaliação preserva Winston Churchill e seu papel na guerra. Alguns diriam que Thatcher foi, de fato, primeira-ministra em tempos de guerra: a guerra das Falkland/Malvinas, embora curta, foi crucial na consagração de sua reputação de "dama de Ferro" e assegurou a vitória eleitoral em 1983, longe de assegurada.

O mesmo editorial ressalta como é difícil recordar, depois de três décadas, o lamentável estado da Grã-Bretanha em 1979, ano zero do thatcherismo. Depois de sete décadas, é mais difícil ainda, como bem demonstra por omissão o editorial, lembrar o que era o Reino Unido em 1945, devastado, endividado, passando o pires em Washington para adaptar-se aos tempos de paz, lambendo as feridas dos duros anos 1930.

Clement Attlee, o primeiro-ministro trabalhista de 1945 a 1951, tem merecido, em pesquisas realizadas em momentos menos emotivos, avaliações que o equiparam à baronesa. 1979 e 1945 foram duas datas decisivas no que se refere à reorientação do modelo econômico britânico. É preciso resistir a tentações anacrônicas: as esperanças trabalhistas quanto à superioridade da gestão estatal, que se revelaram infundadas, eram resposta ao desastroso desempenho econômico britânico no entreguerras. Além disso, o governo Attlee teve seus pontos altos na criação do National Health Service e na gestão da independência da Índia, especialmente se for levada em conta qualquer conjectura razoável sobre o que teria feito um governo Churchill, caso eleito em 1945.

Não há muito a criticar quanto à substância das reformas de Thatcher, embora haja amplo espaço para divergências quanto a intensidade e estilo. Fracassos retumbantes como a taxação por capitação (poll tax), ou mesmo moderados, como na privatização ferroviária, foram raros. A reversão do Welfare State foi possivelmente exagerada, abrindo espaço para que o trabalhismo de terceira via se apropriasse do "lado bom" do thatcherismo e obtivesse inédita sucessão de vitórias eleitorais a partir de 1997.

A contenção da inflação era objetivo essencial, embora o sucesso obtido ofusque lembranças penosas quanto à posição de extremistas como Keith Joseph e Alan Walters. A gestão pública de diversas indústrias beirava o calamitoso e abriu espaço para a privatização maciça com grande apoio popular: carvão, siderurgia, ferrovias, telecomunicações, entre outros setores. O poder político dos sindicatos em indústrias declinantes desde a Segunda Guerra e mesmo antes, especialmente carvão, transformou-os em alvo prioritário da política de enfrentamento gradual adotada pelo governo Thatcher e culminou na derrota na greve de 1984-1985. A sobrevivência do setor dependeria de aportes substanciais de recursos e o governo foi eficaz ao tornar isso evidente para o contribuinte.

O desempenho da economia britânica na era Thatcher foi muito bom, o melhor entre as grandes economias maduras, com a exceção da Itália (PIB per capita, Banco Mundial, método Atlas). De qualquer forma, a comparação relevante é com um contrafactual difícil de ser quantificado: o que teria sido o desempenho da economia britânica sob o velho trabalhismo. Muito provavelmente, lamentável.

O retrospecto político da baronesa é pior do que o econômico. Teve papel secundário, mas importante, no processo que levou ao fim da União Soviética. Mas grande dificuldade em digerir a reunificação alemã, a despeito da opinião de muitos de seus assessores. Seria sua a frase: "Derrotamos os alemães duas vezes e eles estão de volta". Na guerra das Falkland/Malvinas, mostrou bravura e, também, truculência irresponsável. François Mitterrand, o presidente francês, teria cedido a suas pressões para entregar códigos relativos aos foguetes Exocet, depois da ameaça de que Buenos Aires poderia ser alvo de ataque nuclear. Não é à toa que lhe atribuía olhos de Calígula e boca de Marilyn Monroe.

A guerra resultou também em cooperação militar intensa com o Chile: inimigos de meus inimigos são meus amigos. Mas não justificava o entusiasmo com o general Pinochet como quem "sem dúvida salvou o Chile e ajudou a salvar a América do Sul". Seu retrospecto quanto à África do Sul foi lamentável. Insistiu em que a Grã-Bretanha não aplicasse sanções ao regime do apartheid e avaliava que o Congresso Nacional Africano era composto de terroristas.

Thatcher teve o grande mérito de consolidar como quase consensuais novas posturas quanto ao escopo para ação do Estado. Boa parte de suas políticas seria copiada pelo New Labour, de Tony Blair, e pelo mundo afora. Infelizmente, a única herança de Thatcher que parece ter sido absorvida por Brasília tem a ver com a irascibilidade de Dilma Rousseff em reuniões ministeriais.

Política ambiental em risco - BRUNO COVAS

FOLHA DE SP - 15/04

Sem recursos do petróleo, o Fundo Clima perde de R$ 250 milhões a R$ 700 milhões por ano. Fica difícil criar um mercado nacional de carbono


O Estado de São Paulo possui desde 2009 uma importante lei ambiental. Além de estabelecer uma meta de redução de emissões de dióxido de carbono, a Política Estadual de Mudanças Climáticas prevê instrumentos como o zoneamento ecológico econômico, a avaliação ambiental estratégica, os planos para transportes sustentáveis e ações para a adaptação aos eventos climáticos extremos.

Muitos dos encargos estaduais e municipais são conexos às mudanças climáticas: saúde pública, mobilidade urbana, defesa civil e proteção do ambiente. O governo do Estado tem feito grandes esforços para cumprir a lei, investindo pesadamente no metrô e fomentando a bioenergia, entre outras medidas.

Contudo, não devemos trabalhar sozinhos. O governo federal pode e deve agir. Enquanto nossas crônicas deficiências se perpetuam por subsídios a combustíveis fósseis e ao rodoviarismo ineficiente, sem que se enxergue o quadro mais amplo, muitos se rendem aos apelos sedutores dos programas assistencialistas.

Isso é reflexo do centralismo fiscal, que causa dependência financeira em relação à União. Esta já arrecada 70% dos tributos do país e vem retirando receita dos demais entes da Federação.

Recentemente, um duro golpe foi aplicado na política ambiental nacional: durante a tramitação no Congresso Nacional do projeto de lei nº 2.565/2011 e da medida provisória nº 592/2012, foram retirados os artigos que garantiriam recursos do petróleo para o Fundo Clima, com perdas da ordem de R$ 250 milhões a R$ 700 milhões por ano.

O fundo mal havia iniciado suas atividades em 2011, com recursos não reembolsáveis operados pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e os reembolsáveis operados pelo BNDES. Ele recebia até 60% da participação especial que cabia ao MMA por conta da Lei do Petróleo.

Um novo projeto de lei (nº 2.565/2011) aprovado pelo Congresso reformulou a distribuição dos ganhos, colocando as questões climáticas em disputa com várias outras áreas, em uma lista indefinida que cobre de tudo. O Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas encaminhou uma moção à presidente, visando reestabelecer tais recursos ao fundo.

Sem recursos, fica difícil criar de fato um mercado nacional de carbono, não só com a oferta de créditos (florestais inclusive) mas também com fomento à demanda por esses créditos como estratégia de inovação e competitividade da economia.

Isso faz parte de uma estratégia ampla nacional, que envolveria uma série de medidas. Em primeiro lugar, o governo federal deveria desenvolver o Registro Público de Emissões dentro do Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente (Sinima), previsto há 30 anos pela Política Nacional do Meio Ambiente e que até agora não saiu do papel.

Em segundo lugar, a União deveria harmonizar as leis climáticas do país, propondo metas convergentes para os entes da Federação que sejam mensuráveis, reportáveis, verificáveis, absolutas (sem truques numéricos baseados em cenários futuros incertos) e setoriais (por melhores tecnologias). Compatíveis com o desenvolvimento do país, essas metas estimulariam a competitividade e a inovação, com base na eficiência e no desenvolvimento das fontes renováveis de energia.

Leis harmônicas devem conter efetivos mecanismos de proteção de nossos biomas. Devem prover meios de incorporar externalidades e cobenefícios --como as melhorias da mobilidade e da qualidade do ar-- por meio de combustíveis mais limpos, melhores tecnologias e enfoques sistêmicos urbanos.

Copa: bom negócio? - GASTÃO VIEIRA

O Globo - 15/04

No final de março, estive num evento em São Paulo com o ministro do Turismo da África do Sul, Marthinus van Schalkwyk. O jornalista William Waack perguntou-lhe se seu país ficara com "elefantes brancos" depois da Copa de 2010. "Nós sabíamos que havia o risco", disse meu colega. "Mas o que era melhor: ter elefantes brancos ou não ter a Copa?"

A resposta está num dado simples: a receita com turismo internacional na África do Sul saltou de US$ 7,5 bilhões em 2009 para US$ 9,5 bilhões em 2011. O país ganhou novos aeroportos e hotéis. Consolidou-se como marca e destino global. Elevou a qualidade de sua recepção ao viajante. Após a Copa, emergiu.

Quem estava pensando em retorno imediato para os US$ 7 bilhões investidos, porém, frustrou-se: até hoje os acadêmicos debatem o ganho real da Copa para o PIB sul-africano. Alguns estádios não se pagaram ainda. E há dúvidas até sobre a cifra oficial de 300 mil turistas estrangeiros a mais no país. São informações que exigem reflexão, à medida que o Brasil embarca na dispendiosa aventura de sediar uma Copa do Mundo.

Megaeventos esportivos nem raramente trazem grandes ganhos financeiros no curto prazo. Alguns dão megaprejuízos, como as Olimpíadas de Montreal, em 1976. Se uma Copa ou uma Olimpíada serão ou não um bom negócio é algo que depende de como o legado desses eventos é gerido: do que eles deixam para a população além dos estádios e vilas olímpicas; do quanto eles conseguem unir o país e projetar uma imagem positiva para o mundo nos anos seguintes.

A África do Sul é um exemplo admirável. A visão estratégica do país desde o início foi voltada a aumentar as receitas com o turismo, ampliar a demanda e a capacidade de oferta de produtos turísticos. Gargalos de infraestrutura e problemas de imagem relacionados à violência foram atenuados.

No Brasil, há estimativas otimistas sobre o retorno da Copa do Mundo de 2014. Uma delas fala em R$ 142 bilhões. Torço para que esses números se realizem, mas o retorno virá, sobretudo, por meio do incremento das receitas do turismo em médio e longo prazos. E ele não virá se nós aplicarmos os R$ 33 bilhões do custo estimado da Copa e deitarmo-nos em berço esplêndido. Precisamos aproveitar o momento para consolidar o Brasil como marca internacional, para além de sol e praia. Precisamos qualificar nossa mão de obra no pós-Copa, gerando excelência nos cursos de turismo e hotelaria. Precisamos qualificar nossos meios de hospedagem, como fizeram os sul-africanos. Por isso o Ministério do Turismo trouxe de volta as estrelas aos nossos hotéis, com o Sistema Brasileiro de Classificação de Meios de Hospedagem. Precisamos de um marketing agressivo, de transparência na execução das obras e de soluções criativas para a gestão posterior dos estádios das quatro cidades com menos tradição futebolística.

E precisamos - governo, setor privado e sociedade civil - pensar a longo prazo, uma dificuldade notória do brasileiro. Para o turismo no Brasil, a Copa do Mundo não se encerra quando o juiz aponta o centro do campo na última partida. O apito final é apenas o começo de um longo trabalho.

Fim da tolerância inflacionária? - JORGE J. OKUBARO

O ESTADÃO - 15/04

Em preocupante processo de alta, a inflação conseguiu a proeza de cair na boca do povo - literalmente. Da mesa dos brasileiros, da comida por eles ingerida, surgiram algumas das pressões mais acentuadas sobre a inflação, que, em março, talvez para espanto de algumas autoridades, acabou estourando o limite de tolerância de uma meta inflacionária já tolerante demais para os padrões internacionais.

Quem imaginaria que a prosaica farinha de mandioca, indispensável na mesa de milhões de compatriotas e em pratos como farofa, pirão e bolos, pudesse causar danos à credibilidade da política econômica do governo Dilma? E quem imaginaria que, com a farinha, formando essa espécie de frente alimentar-inflacionária, estivessem o tomate, a batatinha, a cebola, o alho, entre outros vegetais tão corriqueiros na nossa alimentação? É espantosa a alta de mais de 150% da farinha de mandioca, de mais de 120% do tomate e de quase 100% da batata inglesa em 12 meses constatada pelo IBGE, responsável pelo cálculo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, o IPCA, que baliza a política de meta inflacionária. Alguns jornais chegaram a publicar a intrigante informação de que já há contrabando de tomate - vindo da Argentina, mas passando, é claro, pelo Paraguai.

A galhofa com que boa parte da população recebeu esse tipo de informação - e da qual o uso de um valioso colar de tomates pela apresentadora Ana Maria Braga em seu programa matutino de televisão é o exemplo mais notável - reflete seu bom humor e sua despreocupação. Mas, apesar de seu caráter lúdico, esse tipo de reação talvez sintetize o aspecto mais pernicioso da atual alta inflacionária, que é sua tácita aceitação pelos brasileiros. É como se, apesar de tudo, as coisas estivessem bem.

Não estão - e é disso que precisamos nos dar conta. A inflação acumulada nos 12 meses encerrados em março ficou em 6,59%, acima do teto da banda da política de meta inflacionária. É muito, e as projeções de que nos próximos meses voltará a se confinar nos limites da banda não chegam a ser animadoras. Mais uma vez, o resultado do ano ficará bastante acima do centro da meta. É o que tem acontecido com frequência preocupante há bastante tempo.

Desde 2003, quando o PT chegou ao poder, raramente a inflação atingiu o centro da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional ou ficou abaixo dela. Desde 2010, tem ficado sistematicamente acima, embora dentro da faixa de tolerância. Observe-se, complementarmente, que a manutenção do centro da meta em 4,5% desde 2005 - acima da inflação média de 3% observada em outros países em desenvolvimento, com poucas exceções - deixa claro que o governo considera esse o nível adequado, desde que, obviamente, seja computada a margem de tolerância de 2 pontos porcentuais.

É como se, estimulados pelo comportamento tolerante do governo, estivéssemos nos acostumando às remarcações. Embora fatores sazonais e dificuldades de infraestrutura expliquem parte dos aumentos dos últimos meses, outra parte se deve à aceitação dessas altas como normais por uma parcela dos consumidores. Há o risco de a disseminação desse comportamento realimentar e acelerar as altas.

O governo Dilma pouco tem ajudado no fortalecimento das resistências à inflação. Na verdade, por algumas declarações desastrosas, como as feitas pela presidente da República durante sua viagem a Durban, na África do Sul - quando ela sugeriu que o crescimento não poderia ser prejudicado por medidas anti-inflacionárias, como se houvesse necessariamente um conflito entre crescimento e estabilidade -, o governo enfraquece as ações voltadas a conter a alta média dos preços.

Nesse aspecto, não se pode culpar o governo do PT genericamente. Ao longo de seus dois mandatos, o ex-presidente Lula teve a sabedoria de assegurar ao Banco Central a autonomia operacional para cumprir seu papel e para executar a política de metas inflacionárias.

Nas últimas semanas, felizmente, a presidente, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e outras autoridades têm evitado fazer comentários sobre medidas de combate à inflação, na tentativa de reconhecer que a autoridade a quem cabe tratar do assunto é o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini.

Na sexta-feira, por exemplo, quando lhe perguntaram se, ao dizer que o governo não hesitará em tomar medidas impopulares para conter a inflação, estava antecipando a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) a respeito dos juros básicos, o ministro da Fazenda disse o que dele se espera: não fala sobre alta de juros nem antecipa decisões que afetem o comportamento do mercado financeiro.

Tendo sua autoridade e seu papel colocados em questão por declarações infelizes de outros membros do governo, nas últimas semanas Tombini, de sua parte, tem-se dedicado, com razoável êxito, à tarefa de recompor a imagem da instituição que dirige e de reafirmar seu compromisso com a política de metas.

Numa reunião de presidentes de bancos centrais do continente realizada no Rio de Janeiro, Tombini foi claro: "Não há nem haverá tolerância com a inflação". Assegurou, em seguida, que o Banco Central está acompanhando com atenção a evolução de todos os indicadores "e, obviamente, no futuro, vamos tomar decisões sobre o melhor curso para a política monetária".

O futuro está logo aí. O Copom reúne-se a partir de amanhã para decidir o nível da taxa básica de juros que vigorará até o fim de maio. E decidirá num momento em que a inflação alta já afeta as vendas do comércio e a atividade econômica, como constatou o próprio Banco Central, continua a patinar.

Pela permanência da Justiça Militar - IVES GANDRA DA SILVA MARTINS

FOLHA DE SP - 15/04

Seria um desserviço a extinção da corte que há 205 anos cumpre sua missão no exame de infrações e delitos contra as Forças Armadas


Há ainda de forma incipiente uma clara campanha, algumas vezes veiculada pela imprensa, para a eliminação da Justiça Militar da União, sob a alegação de que a Justiça comum poderia tratar de seus jurisdicionados com a mesma eficiência. Alicerça-se em uma boa dose de desconhecimento.

Criado o Conselho Supremo Militar e de Justiça por alvará de dom João 6º, em 1º de abril de 1808, completa a Justiça Militar no Brasil neste ano seu ducentésimo quinto aniversário. João Barbalho, em "Constituição Federal Brasileira - Comentários", em 1924, ao justificar sua existência, afirma que a infração do dever militar "por ninguém pode ser melhor apreciada que por militares mesmo".

É que, em qualquer país democrático e civilizado, as Forças Armadas têm a função de preservar a nação do inimigo externo, assim como a ordem e a lei, internamente, sempre que sua violação venha desestabilizar as instituições. É, de rigor, o que está escrito no artigo 142 da Constituição Federal.

A hierarquia e a disciplina são os fundamentos das Forças Armadas brasileiras, com minucioso elenco de obrigações na lei suprema, as quais diferem daquelas do poder civil.

Desde a sua criação, a Justiça Militar existe para julgar, exclusivamente, as infrações militares, razão pela qual, na composição do Superior Tribunal Militar, dos 15 ministros, 10 procedem da carreira militar, entre oficiais das três armas de mais alta patente (4 estrelas), e 5 são reconhecidos juristas, indicados pela presidência e aprovados pelo Senado Federal.

A predominância de oficiais de longa carreira decorre de terem vivido mais intensamente as exigências próprias do estatuto militar.

Hoje, no Brasil, as Forças Armadas são compostas de aproximadamente 330 mil cidadãos, sendo que 220 mil estão no Exército, 55 mil na Aeronáutica e 55 mil na Marinha. São, pois, os jurisdicionados da Justiça Militar da União.

Evaristo de Moraes Filho afirmou certa vez que o "o milagre brasileiro foi a Justiça Militar, porque ela funciona" e Sobral Pinto declarou: "Eu tenho confiança na Justiça Militar". Técio Lins e Silva, no livro "Os Advogados e a Ditadura de 1964", escreve, ao citar os depoimentos acima, que "a Justiça Militar ajudou a salvar muitas vidas".

Quando da prisão, em 1970, do advogado Heleno Cláudio Fragoso, o Tribunal Militar ameaçou parar se ele não fosse solto.

Num curto artigo, é difícil enumerar o que tem a Justiça Militar feito de positivo, nestes 205 anos de existência. Pessoalmente, apesar de não atuar junto a Suprema Corte Militar, estou convencido de que uma Justiça especializada para as Forças Armadas é uma necessidade que, de resto, os países civilizados reconhecem, ostentando-a entre suas cortes, alguns inclusive, intitulando-as de Cortes Marciais.

É, pois, a Justiça Militar a mais antiga do país. Sempre teve preocupação e respeito pelos direitos humanos, até por força da Convenção de Genebra e do Direito Humanitário, este para tempo de guerra. A utilização de habeas corpus e mandado de segurança é nela habitual.

A própria crítica de que são os poucos os processos que o Superior Tribunal Militar tem a julgar, não procede, lembrando-se que julga, anualmente, pelo menos o dobro de processos julgados pela Suprema Corte dos Estados Unidos.

Entendo que seria um desserviço à Justiça brasileira a extinção da Justiça Militar, que há 205 anos cumpre sua missão no exame de infrações e delitos contra as Forças Armadas, cuja estrutura difere profundamente das organizações públicas e privadas da sociedade brasileira.

Terrorismo inflacionário - AMIR KHAIR

O ESTADÃO - 15/04

Com o resultado da inflação de março, de 0,47%, ocorreu o que os analistas e o governo já sabiam, ou seja, seria rompido o teto da meta de 6,50%. Nos últimos 12 meses encerrados em março o IPCA registrou 6,59%. O que ressalta são as fortes elevações de preços nos alimentos in natura (verduras, legumes, frutas, etc.).

Isso está gerando forte pressão do mercado financeiro sobre o Comitê de Política Monetária (Copom) pelo aumento da taxa Selic, em mais uma tentativa de recuperar lucros dos bons tempos da farta Selic. A pergunta é: deve o Copom elevar a Selic para combater a inflação? Não creio.

Como se sabe, o Banco Central (BC) sempre afirmou que qualquer alteração da Selic leva de 6 a 9 meses para surtir efeito, e as previsões de experientes analistas indicam queda da inflação nos próximos dois meses. Daí para a frente, as previsões costumam falhar.

Assim, qualquer precipitação em elevar a Selic joga por terra a "cautela" recomendada na última reunião do Copom. A maior parte dos analistas já admite que a elevação não será agora, na reunião do dia 17/4, mas alguns ainda apostam que isso ocorrerá no dia 29/5, na outra reunião do Copom. Não creio.

Não há razões técnicas para elevar a Selic e, mesmo que fosse elevada em um ou dois pontos, em nada alteraria o crescimento ou a inflação, muito menos os alimentos in natura. Vale observar que as expectativas inflacionárias são comandadas tecnicamente pela inflação de curto prazo e essa é cadente desde o início do ano.

O que se espera nos próximos meses, pois, é o retorno do IPCA para abaixo do teto da meta.

BCs no mundo. Desde dezembro, nenhum (!) banco central no mundo elevou a taxa básica de juros e oito a reduziram, pois a decisão é enfrentar o impacto da crise, que arrefeceu o crescimento. Além disso, a política dos bancos centrais é posicionar a taxa no nível da inflação, que na média dos emergentes está próxima a 5% ao ano. No caso dos países desenvolvidos, essa taxa tem sido inferior à inflação.

Ao que tudo indica, essa pressão parece ter viés político, como apontou o jornalista José Paulo Kupfer (Estadão, 11/4, B4) no artigo Preço arrefece, mas decisão sobre juros ganha viés político. O preço do tomate está sendo usado como símbolo para isso.

A questão política é marcada pelo que a oposição ao governo ganharia com o argumento que vem sendo apresentado, de que a presidente usou seu voluntarismo para reduzir a Selic e olha no que deu: elevou a inflação. Esse argumento não resiste aos fatos, pois metade da inflação se deve aos alimentos que sofreram choque internacional de oferta, que está progressivamente se dissipando. O índice das commodities agrícolas saiu do máximo de 155, no final de julho, para 121, no dia 9 deste mês.

Na realidade, o que parece desejar o mercado financeiro é voltar aos velhos tempos da Selic dos dois dígitos. Vale lembrar que, nas últimas gestões de presidentes do BC, a Selic foi caindo de 23,8% (Gustavo Franco, 1996 a 1998) para 19,8% (Armínio Fraga, 1999 a 2002), 14,9% (Henrique Meirelles, 2003 a 2010) e, na gestão Alexandre Tombini, caiu de 11,8%, em 2011, para 8,6%, em 2012, e 7,25%, neste ano.

Crescimento. Não creio no efeito de alteração da Selic para influir no crescimento. O que influi é a taxa de juro ao tomador, e esta é bem superior e não sofre estatisticamente influência da Selic.

Os sinais da baixa atividade econômica são claros: 1) indústria quase estagnada; 2) crédito perdendo força; 3) mercado de trabalho desacelerando; 4) volume de vendas do varejo estável desde outubro; e 5) crise internacional jogando a Europa na recessão, com a Alemanha, locomotiva da eurozona, amargando previsão de crescimento de 0,3% e o Japão parado há tempo.

Perspectivas. A consequência do impacto internacional é de continuação da queda nas commodities e nos preços internacionais. O mundo desinflaciona. A derrubada dos preços dos alimentos in natura já começou, pois a oferta agora é crescente e firme tanto no Brasil quanto nos principais países produtores. O BC acompanha isso e considera importante, ao tomar sua decisão.

Combate. A forma de impacto imediato de combate à inflação é a que o governo vem fazendo com desonerações, que reduziram as tarifas de energia elétrica e os produtos da cesta básica, e segurando os preços defasados dos combustíveis, sacrificando a Petrobrás. Fato é que o governo vai continuar as desonerações e, com isso, vai segurar a inflação para não romper o limite superior da meta. Nota-se o deslocamento da responsabilidade exclusiva do Banco Central pelo controle inflacionário para a equipe econômica (Fazenda e BC), coordenada pela presidente.

O momento é de pôr o pé no acelerador, reduzindo juros básicos e, principalmente, ao tomador, desonerando os produtos de consumo popular, depreciando o câmbio, completamente fora de lugar, e ampliando políticas de renda.

Que o governo não caia na armadilha de 2011, quando o terrorismo inflacionário gerou as medidas macroprudenciais que seguraram o crescimento. É preciso firmeza do governo para enfrentar o que se assemelha a uma nova edição desse terrorismo.

O caminho do meio - RICARDO FERRAÇO

O GLOBO - 15/04
O menino franzino que chorou ao depor na 2ª Vara da Infância e Adolescência do Rio de Janeiro não aparenta mais de 10 anos de idade. Tem 14 e faz parte do bando que assaltou e estuprou uma turista americana numa van na Zona Sul do Rio. Em São Paulo, um adolescente prestes a completar 18 anos matou um universitário à queima-roupa com um tiro na cabeça para roubar um celular. Os dois menores, protegidos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), vão cumprir medida socioeducativa de no máximo três anos de internação.

A notícia da agressão à turista correu o mundo e manchou a imagem do país que vai sediar a Copa de 2014. A morte do jovem paulista engrossou o coro contra a impunidade. Os dois crimes inflamaram de vez um debate que já vem pegando fogo há tempos: a redução ou não da maioridade penal.

Assustados com o número crescente de meninos e meninas que engordam estatísticas da violência, muitos acreditam que aliviar a responsabilidade de um menor capaz de roubar e matar é deixar a população refém da criminalidade.

Outros ponderam que jogar adolescentes na prisão junto com adultos perigosos seria negar uma chance de resgate social a quem ainda não consegue avaliar as consequências de seus atos. Pior: quanto mais se reduzir a maioridade penal, mais cedo esses meninos entrarão no mundo do crime, aliciados por adultos.

A sabedoria do caminho do meio, cultivada há milênios no Oriente, aponta verdades e exageros dos dois lados. As medidas socioeducativas do ECA realmente não funcionam; instituições para menores infratores primam pela precariedade e a reincidência nas infrações é rotineira. Mas não dá para negar que cadeia no Brasil costuma ser escola do crime. Nem para subestimar o poder do tráfico, capaz de seduzir meninos mal saídos da infância.

Não é justo carimbar como criminoso um garoto que comete pequenos furtos, por exemplo. Mas é ingenuidade apostar no resgate social de adolescentes como Champinha, que já passara por várias instituições de menores quando comandou sequestro e morte de um casal em São Paulo.

A redução da maioridade penal pode fragilizar ainda mais menores já em situação vulnerável. Mas insistir nas regras atuais diante de Crimes hediondos é estimular a impunidade, ignorar limites e atropelar o senso de justiça.

O caminho do meio pode ser a Proposta de Emenda Constitucional 33/12, do senador Aloysio Nunes. Ditada pelo equilíbrio, ela não reduz de maneira horizontal a maioridade penal. O limite cai para 16 anos só nos casos graves e de reincidência, quando a conduta violenta se mostra irreparável - o que deve ser avaliado do ponto de vista médico e jurídico.

Não é desafio simples conter a criminalidade juvenil. Sem ampliar o acesso à educação e ao mercado de trabalho não há chance de ganhar essa briga. Sem planejamento estratégico e foco no combate ao tráfico, também não.

Reforçar o atendimento psicopedagógico nas instituições para menores infratores é essencial, assim como reformar o sistema prisional.

Mas isso é trabalho a médio e longo prazo. Estamos a anos luz de uma sociedade ideal. E é nessa sociedade imperfeita e em permanente construção que precisamos encontrar soluções. Se não as ideais, as melhores possíveis.

Solução terceirizada - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 15/04

Para evitar novo embate com o Congresso, o governo articula para que a Procuradoria-Geral da República assuma a reação à criação dos quatro novos tribunais regionais federais aprovados pela Câmara. Na semana passada, Luís Inácio Adams (Advocacia-Geral da União) e Roberto Gurgel conversaram em busca de uma saída. Segundo interlocutores, Gurgel vai analisar, mas só deve se pronunciar se Renan Calheiros (PMDB-AL) promulgar a proposta de emenda à Constituição.

Me dê motivo Alguns membros do STF apresentam como argumento que a ideia só poderia ter sido iniciativa de algum representante do Judiciário. Além disso, eles afirmam que a proposta do Congresso incentiva a criação de outros tribunais, como no Maranhão e no Ceará.

Silêncio incômodo Integrantes do Judiciário acusam o presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça) de omissão sobre a PEC. Felix Fischer será responsável pelo projeto de lei que criará cargos para os novos tribunais.

Climão 1 Em reunião na semana passada para discutir a MP dos Portos, Eduardo Braga (PMDB-AM) e Gleisi Hoffmann (Casa Civil) se estranharam. Ao saber que o acordo que havia costurado com parlamentares não seria cumprido, Braga reagiu e disse que só assinaria o relatório porque era líder do governo no Senado, mas seria uma "derrota vergonhosa".

Climão 2 Segundo relatos, Braga perguntou ainda à ministra se ela não sabia que o Brasil era um estado democrático e que existia o parlamento, ao defender negociação para aprovar a medida.

Segundo round Hoje, ministros, o vice-presidente, Michel Temer, e Braga se reunirão novamente para discutir a MP. Peemedebistas acusam Ideli Salvatti (Relações Institucionais) de intrigar o partido com Dilma na discussão para modernizar o setor.

Consulta Romero Jucá (PMDB-RR) conversou na semana passada com Gilmar Mendes em busca de contribuições para comissão no Congresso que pretende atualizar leis brasileiras. Na AGU, o ministro do STF fez um estudo sobre o assunto. Jucá também pediu audiência com Joaquim Barbosa.

Tesoura A discussão sobre o contingenciamento do Orçamento de 2013 divide integrantes do governo. Assessores afirmam que a ministra Miriam Belchior (Planejamento) quer cortar R$ 30 bilhões, enquanto o secretário Arno Augustin (Tesouro) defende redução de R$ 50 bilhões. O redimensionamento sairá em duas semanas.

Em casa O PSB será representado no seminário de hoje do PT em Belo Horizonte pelo presidente mineiro da sigla, Walfrido dos Mares Guia. Visto como o integrante mais lulista do partido de Eduardo Campos, o ex-ministro deve discursar no evento que terá Lula e a presidente.

Campo minado O prefeito Luiz Marinho irá hoje à Escola Superior de Guerra, no Rio. O petista negocia investimentos da indústria da defesa em São Bernardo.

Balança Fernando Haddad, que completou os cem primeiros dias na prefeitura paulistana, tenta cumprir mais uma meta: há duas semanas dedicado à dieta da proteína, o petista perdeu 4 kg dos 8 kg adquiridos na campanha do ano passado.

Medalha O governador da Bahia, Jaques Wagner, recebe na quinta-feira, em Washington, comenda do Banco Mundial pela construção do Hospital do Subúrbio, em Salvador, o primeiro no modelo de PPPs no país.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio
"A derrocada do bolivarianismo passa pelo treino de Capriles contra Maduro e começa com a vitória de Aécio sobre Dilma em 2014."
DO DEPUTADO FEDERAL MARCUS PESTANA (PSDB-MG), comparando o embate entre candidatos na Venezuela com a futura disputa presidencial brasileira.

contraponto


Passa no RH


Na cerimônia de formatura de alunos do Pronatec na sexta-feira, em Porto Alegre, Dilma Rousseff começou o seu discurso com a lista de cumprimentos e saudou os dois mil formandos de cursos profissionalizantes. Em seguida, citou as autoridades presentes. Quando finalmente encerrou a fala, alguém da plateia gritou:

--Presidenta, a senhora esqueceu os professores!

Ao perceber o engano, Dilma respondeu, provocando risos dos presentes:

-- Muito bem lembrado! Por isso, vou te contratar para ser do meu protocolo!

Inflação: de volta ao passado? - LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

VALOR ECONÔMICO - 15/04

É muito triste para o analista acompanhar o debate atual sobre a política monetária do Banco Central (BC). Este sentimento nasce principalmente em função da volta da inflação para o centro das discussões, depois de mais de dez anos de esquecimento por parte da sociedade. Esta nossa sensação de "déjà vu" fica reforçada pelo aparecimento de velhos protagonistas de corte heterodoxo - com suas mesmas ideias e soluções do passado - ao lado de novos economistas liberais, com os mesmos erros e utopias de seus colegas mais velhos. Ou seja, em mais de 30 anos, os membros destes dois grupos não esqueceram nada, mas também não aprenderam nada de novo.

Como escrevi acima, considero um retrocesso voltar à questão da inflação nos termos que vêm sendo colocados pela mídia, aqui e no exterior. Em um extraordinário trabalho a quatro mãos, os presidentes Fernando Henrique Cardoso e Lula conseguiram convencer a sociedade brasileira que a estabilidade de preços é uma condição absolutamente necessária para que o crescimento econômico seja perene. Mais do que isto, que para atingir este objetivo é preciso ter um Banco Central comprometido com uma meta clara para a inflação e com um mínimo de independência para persegui-la ao longo do tempo.

Não serão só medidas clássicas como a alta da Selic que vão tirar os preços da perigosa trajetória atual

Aliás, é bom lembrar que foi por conta deste compromisso que a economia brasileira cresceu continuadamente entre 1994 e 2008, apesar das crises que enfrentamos. Nestes 14 anos, a renda real do brasileiro cresceu mais de 3,5% ao ano e a parcela da sociedade que vive na economia de mercado passou de 34% para mais de 60%. Um resultado incrível e que ganhou reconhecimento internacional. Pensava eu que, por isto, estivessem sepultadas de vez as teorias alternativas que sempre fizeram parte do programa de ação do Partido dos Trabalhadores e de parte da esquerda brasileira.

Também por isso me surpreendeu quando a presidenta Dilma começou a deixar de lado este compromisso com o aparecimento de alguns entraves ao crescimento da economia. Ela não percebeu que o problema tinha sua origem em questões estruturais não enfrentadas adequadamente nos anos Lula e no início de seu mandato. No começo, estas mudanças foram sutis, mais relacionadas a intervenções pontuais do governo. Mas, a partir da frustração com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no ano passado, as ações passaram a ser mais abrangentes, enfraquecendo o arcabouço macroeconômico que havia prevalecido até então.

Nos anos Lula o governo considerava os mercados como um instrumento de ação do governo na busca da geração de renda para, a partir daí, alterar a natureza da distribuição dos frutos do crescimento. De certa forma, o governo Lula utilizou-se da mesma estratégia que os chineses desenvolveram nos últimos anos para construir uma nova economia.

Já a presidenta Dilma colocou a ação do governo como peça central da política econômica, sujeitando a ação privada a um papel apenas complementar e secundário. Ao fazer isto recolocou o ideário do PT tradicional - e também do PDT brizolista - novamente no comando de suas ações. Daí o teor de suas declarações recentes de que não concorda com a utilização dos juros como instrumento de redução do consumo privado no combate à aceleração da inflação. E foi mais longe ainda, ao resgatar a antiga e desgastada imagem do remédio matando o paciente.

Mas vamos também olhar de forma crítica para o outro lado do espectro ideológico e que procura vender a imagem de que estamos próximos a um total descontrole da inflação. O gráfico abaixo mostra, de forma clara, dois momentos distintos dos números do IPCA nos últimos anos. No primeiro, que corresponde à passagem do ponto A para o B, temos um período de desinflação em função da valorização do real e da existência de espaços produtivos ociosos no tecido econômico, como o índice de desemprego de dois dígitos. Por isto a inflação chega a ficar momentaneamente abaixo do centro da meta do BC entre 2006 e 2007.

Já entre B e C temos um período em que pressões inflacionárias por conta da ocorrência de vários choques externos - câmbio e commodities - em um ambiente de redução rápida dos espaços ociosos na economia, levam a inflação a mais de 6% ao ano.

Em resumo, nos últimos anos, mesmo durante o período de um Banco Central ortodoxo e com liberdade de ação, a inflação no Brasil nunca ficou abaixo dos 5% ao ano por um período mais longo. Um sinal claro de que não conseguimos sair da armadilha de um sistema de preços indexados à inflação passada e, portanto, ultrassensível a choques externos de oferta. Por isto, quando voltamos agora a uma situação limite e perigosa, temos que buscar uma política de combate a inflação menos rudimentar do que a proposta pelos dois lados do espectro ideológico que domina o debate econômico nestes dias.

Não serão apenas medidas clássicas como a elevação da taxa Selic que vão tirar a dinâmica de aumento de preços da perigosa trajetória atual. Temos que voltar os olhos ao Plano Real e buscar na sua agenda um conjunto abrangente de medidas de política econômica.

Moquiço na saúde - LIGIA BAHIA

O GLOBO - 15/04
O recado da presidente Dilma aos responsáveis pela qualidade das casas do programa Minha Casa Minha Vida - "Não fui eleita para construir moquiço" - "mandou bem". Não precisou pompa e nenhuma cerimônia especial, bastou mencionar a qualidade dos pisos de cerâmica para definir o rumo de uma política pública. Como dizer não é fazer, pode dar certo ou não. Mas nesse caso ficou registrado que o governo consideraria inaceitável que as palavras sejam diferentes das coisas.

Na saúde, está valendo tudo, sequer a Constituição de 1988 oferece obstáculos às tentativas de arrancar nacos maiores do fundo público. A ausência de sinais explícitos do governo e a proliferação de ações de privatização permitem que cada grupo de interesse particular se apresente como o único, ou no mínimo o melhor defensor do interesse público. Só o que varia entre os lobistas é a proximidade com os centros de decisão. A intimidade com o palácio autoriza a emissão de discursos no estilo oráculo. As previsões sobre a "quebra" de empresas e hospitais e caos na prestação de serviços essenciais, ou a respeito de como a saúde no Brasil será fantástica, desde que mais recursos públicos sejam generosa e seletivamente transferidos para esses adivinhadores, são exageros típicos das visões de futuro oferecidas pelas premonições. Oráculos emaranham omissões, informações enviesadas e desejos. São incapazes de prever vias alternativas, efeitos inesperados de revelações.

As proposições para obter mais recursos públicos para empresas de planos de saúde, hospitais e unidades de diagnóstico privados desvelaram, para quem ainda tinha dúvidas, um mercado dependente do Estado. Quem sempre está por cima da carne-seca não vacila: mudam os tempos, trocam-se os templos. Antes o mercado era superior ao Estado, agora nada é mais lógico do que precisar recursos públicos para ser privado. Mas, para aqueles que acreditaram na conversa fiada da separação entre Estado e mercado, que os planos privados faziam bem ao SUS, o assunto é muito sério e preocupante. Se as reivindicações do autodenominado mercado competem com as necessidades de valorização e verbas governamentais para Santas Casas, hospitais universitários, estados e municípios, como encontrar um jeito para dar mais recursos só para alguns?

Interesses divergentes na saúde vêm sendo manejados como abóboras grandes e pequenas numa carroça, se acomodam conforme os solavancos do caminho. A marcha da política de saúde, embora lentíssima, mas sem interrupções, dependeu da articulação dos grupos empresariais com partidos e lideranças políticas, investimentos das empresas em litigações judiciais e de um esforço governamental, consciente ou não, para evitar a todo custo o debate sobre a saúde e não sobre o dinheiro para a saúde. As oportunidades de contato com a Presidência da Republica e com os gabinetes ministeriais estão diretamente correlacionadas com o vulto dos recursos públicos solicitados e não com os problemas de saúde a serem resolvidos. Entidades de diversos segmentos da saúde foram convocadas uma única vez para uma reunião conjunta, antes da posse de Dilma, depois nunca mais.

Por que não convidar todos os comensais de recursos públicos envolvidos com saúde para se sentarem juntos à mesa para examinar as alternativas para o sistema de saúde brasileiro, inclusive aquelas que estão sendo negociadas mano a mano? Uma simples inversão nos termos do que tem se discutido nos últimos dias já imprimiria um ritmo mais veloz e moderno à gestão das necessidades de saúde. Se a saúde e a vida são tão valiosas e deixar de ofertar atenção e cuidados a todos que necessitarem é injusto, a garantia efetiva desse direito requer que todos, direta e indiretamente afetos à prestação de ações e cuidados, assumam compromissos sanitários.

Aumentos dos planos de saúde, superiores à inflação geral e setorial, o pagamento por procedimentos e diferenciado conforme o órgão afetado e pela quantidade e marcas de órteses, próteses e de alguns equipamentos e medicamentos estimulam uma falsa produtividade, e não a responsabilidade pela resolução dos problemas de saúde. Qualquer conta de trás para a frente evidencia que a desoneração de empresas privadas de saúde não salva a pátria. Em vez de calcular quanto deveria ser repassado para salvar as empresas, deveria ser equacionado o impacto dos planos de saúde nos orçamentos das famílias. O que está acontecendo é que o diferencial de elevação das despesas com saúde, especialmente para idosos, impede inclusive que o aumento da renda seja plenamente comemorado. As enormes e crescentes proporções de salários e aposentadorias gastos com saúde constituem um problema que não pode ser contornado.

As palavras planos e empresas não deveriam servir para encobrir coisas cujo conteúdo e continente são exclusivamente financeiros. A confusão serve para manter uma divisão de trabalho totalmente desfavorável à saúde pública. O combalido e subfinanciado SUS fica com as tarefas de enfrentar problemas de crack, álcool, saúde mental, dengue, violências, atendimentos de emergência, cânceres, transplantes e fornecimento de medicamentos. Quando não consegue é incompetente. Quem não pede dinheiro e expõe ideias e conhecimentos sobre a organização do sistema de saúde vive levando passa-fora, pelo excesso de "filosofia", por querer difundir valores e pautar políticos segundo critérios de justiça social. Os empresários da saúde ficam com o atendimento de jovens, dos não portadores de doenças crônicas e de preferência transformarão o SUS em empresa mal gerida, mas funcional para ressegurar os planos sem cobertura. A frase de Lloyd George, em 1918, então primeiro-ministro da Inglaterra ("Como erguer um império A1 com uma população C3?") no contexto da guerra e consolidação do seguro social e necessidade de dar respostas aos problemas de saúde dos militares e civis entrou para a história. Não precisaria chegar a tanto. Dizer que o teto e piso do SUS ficam de pé, que saúde não é moquiço, está de bom de tamanho.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 15/04

Brasileiro diversifica investimentos no exterior
A captação em fundos de investimentos que investem em ativos estrangeiros cresceu em alguns casos mais de 130% neste ano.

"Dá uma ideia de como esse movimento está animado", diz Joaquim Levy, diretor-superintendente da Bradesco Asset Management.

Em apenas um de seus fundos, entraram cerca de R$ 80 milhões em quatro meses.

O ingresso mais intenso nessas aplicações ocorreu entre o final do ano passado e o início de 2012, de acordo com dados de gestores.

Perdas em aplicações de renda fixa e de renda variável, mudanças no câmbio e queda de juros explicam a atratividade desses produtos com sotaque estrangeiro. Quando os juros estavam muito altos no Brasil e o Ibovespa (o principal índice da Bolsa paulista) tinha um desempenho satisfatório, as pessoas se perguntavam, para que diversificar, lembra Artur Wichmann, responsável pela área de fundos internacionais do Credit Suisse Hedging-Griffo.

"Havia uma percepção de que o câmbio era unidirecional, só apreciava ou ficava parado. Havia pouca razão para o investidor aplicar fora."

Quando o padrão mudou, e os investidores se viram diante de um CDI muito menor e o câmbio foi de R$ 1,60 para mais de R$ 2, uma parte deles tomou um susto. "Viram que o câmbio podia subir ou cair", acrescenta.

"A reação de muitos foi: tenho de ter algum investimento em dólar ou em outra moeda, alguma diversificação", afirma Wichmann.

O S&P (índice americano) subiu 11,9% (neste ano, até o dia 11), contra queda de 9,11% do Ibovespa.

As perspectivas para a Bolsa nos EUA é positiva, diz Levy. "Apesar de a economia estar meio devagar, não há, por ora, nenhum grande risco."

"Mesmo estando positivo em relação ao Brasil, ter 100% dos investimentos no país em real não é a alocação ótima. A Bolsa é Vale, Bradesco, Itaú, Lojas Renner, Localiza, mas é também Walmart, Google, Volkswagen. É muito mais do que esse universo relativamente pequeno brasileiro."

"Ativos nacionais ficaram um pouco limitados. A curva longa de juros anda desfavorável e as ações sofrem até pela desaceleração do consumo. Grandes empresas não se recuperaram. Petrobras, Vale, elétricas, cada setor tem uma historinha. Temos procurado alternativas fora do Brasil"

CULTURA E GESTÃO
O escritório Demarest comemora nesta semana 65 anos e os resultados de uma nova governança corporativa, com um sistema de rendimento dos sócios baseado na mensuração das atividades dos advogados.

"Quando entrei no escritório, em 1965, éramos quatro advogados, tamanho na época considerado grande. Hoje são 250", diz Altamiro Boscoli, um dos mais antigos do Demarest, já aposentado, mas ainda atuante. Boscoli considera positiva a aposentadoria compulsória de sócios aos 65 anos. Eles podem ser convidados a permanecer pelos mais jovens.

"Permite renovar e atrair novos talentos", afirma. "Essa cultura mantém o escritório unido e crescendo."

Uma diretoria com dois sócios e um CEO profissional se ocupa do dia a dia.

"A cogestão permite que os sócios não se afastem da advocacia", diz o sócio Paulo Rocha.

Atualmente na gestão, Rocha destaca a nova forma de remuneração. O sistema implantado ajudou no crescimento de 15% da banca em 2012 ante o ano anterior.

Ferro-velho
As exportações de sucata ferrosa atingiram 140 mil toneladas no primeiro trimestre de 2013 e a previsão é que cheguem a 560 mil toneladas no final deste ano, número 26% maior que o de 2012.

Apesar do crescimento, só 3% do material ferroso brasileiro é destinado ao exterior, segundo dados do Inesfa, instituto que reúne as empresas de sucata.

Hoje, não há tributação para exportar, mas existe uma proposta do Instituto Aço Brasil, representante das siderúrgicas nacionais, para taxar as vendas destinadas a outros países.

"As indústrias de aço no exterior se mostram mais competitivas que as nacionais. As brasileiras só pedem incentivos", diz André de Almeida, diretor do Inesfa.

O Instituto Aço Brasil declarou, em nota, que "no Brasil, 11 empresas produtoras de aço e mais de 1.000 empresas de fundição demandam toda a sucata disponível no mercado do país."

Menos... Na semana de 8 a 12 de abril, a Junta Comercial de São Paulo (Jucesp) expediu 32,5% dos CNPJs de todo o país. O tempo médio para a emissão caiu de quase 20 dias para uma semana.

...burocracia Minas Gerais executou 13,5% das emissões e o Rio Grande do Sul, 9,4%, de acordo com balanço da Receita Federal.