sábado, abril 06, 2013

Salamê minguê - MARCELO RUBENS PAIVA

O Estado de S. Paulo - 06/04

É mais ou menos assim que funciona o mundo digital do qual você é escravo: um impulso elétrico encontra dois caminhos, faz “uni duni” velozmente, dispensa o “te” e segue. O processo se repete, se repete, se repete. Linguagem binária não aceita “salamê mingue”. Segue. Zero ou um, sim ou não, aceito ou rejeito, nada de talvez, indecisão, pensamento dialético, “sorvete colorê”. Aqueles que pensam muito perdem o bonde da história, ou melhor, a conexão. O escolhido não foi você.

O GPS registra nossos espaços com tanta determinação, que não tem mais discussão: é em frente, direita ou esquerda. Heil GPS! Sites de buscas, mapas fotografados, Google Earth, a cidade registrada por cima, por baixo, em que podemos passear com mouse, dar um zoom, formam os aplicativos que não deixam dúvidas. Nossos tataranetos poderão ver onde e como moramos, por onde circulamos, as casas em que fomos e foram gerados, rirem de pedestres tropeçando, bêbados golfando, gente em quintais e lajes fotografadas por satélites invasivos e invisíveis, que não respeitam a privacidade das sombras.

O Google Maps me ignorou. Estava na Ponte Engenheiro Roberto Rossi Zuccolo, mais conhecida como Ponte Cidade Jardim. Vi na direção contrária o carro com a câmera no teto. Até acenei. Queria me eternizar. Acabei de checar. Não estou na foto. Como também sumiu meu amigo O Pensador. Sumiu!

A Universidade de Stanford se gaba por ter 200 esculturas de Rodin espalhadas pelo campus. Estão lá O Pensador e Burghers de Calais. Originais. Era um clichê O Pensador pensar entre as duas bibliotecas, Mayer e Green. Durante o ano em que vivi ali, o encontrava todos os dias. Pensava, pensava, pensava, enquanto turistas o observavam. O que tanto pensava?
A estátua causava um frisson em todos os calouros e visitantes. Afinal, era dos poucos originais do escultor, assim, ao relento, como nós. Muitos almoçavam nos bancos para ter a companhia de alguém (algo) tão ilustre. Mas, depois de um tempo, ganhava a relevância de um hidrante ou poste a ser desviado por ciclistas, cadeirantes, pedestres, já que ficava no meio de uma ladeira.

No fim da minha bolsa, passei a registrar cada visão, paisagem e prédios de arquitetura espanhola, que sofreram danos no terremoto de Loma Prieta de 17 de outubro de 1989 (7,1 na escala Richter), com saudade antecipada. Numa tarde ensolarada cheirando a feno seco de começo de verão, decidi pela primeira vez parar e ouvir o que dizia a guia turística a uma dezena de pessoas em férias diante do The Thinker.

Depois de expor obviedades, como por que a estátua estava diante da biblioteca e de costas para ela, perguntou se reparamos em algo estranho. Ninguém reparou. Nunca reparei, nas centenas de vezes que passei por ali sob sol, chuva, de dia, de noite, bêbado, com pressa, distraído ou atento. Era apenas a figura mitológica impressionista, de bronze, enorme, pensando com a mão no queixo, rejeitada pela escola de Belas Artes de Paris, parte da obra Os Portões do Inferno, inspirada em Dante, que também está em Stanford. Indica paz, reflexão, refletindo infinitamente, persistente, alimenta centenas de interpretações, o longo caminho a ser percorrido pelo homem, que pensar talvez não seja apenas um processo, mas a essência, penso, logo existo, não?

“Tá apoiado no joelho errado”, ousou a menininha de uns 6 anos.

A monitora apontou para ela, exultante. Poucos, talvez ninguém respondera àquela pergunta que tantas vezes fizera, já que estavam mais interessados em fotografar do que reviver tempos de escola em que professores assustam com perguntas repentinas que atravessam a sala como flechas e furam a testa dos distraídos. “Repete, queridinha, por favor.”

Nada. Timidez. Se escondeu atrás dos pais, como se tivesse feito uma travessura num ambiente clerical. “Sim, ele está apoiado no joelho errado. Numa posição extremamente desconfortável. Estão vendo?”, a monitora apontou. Examinamos os cotovelos e joelhos da estátua. Estranho. A mão no queixo, OK. O braço dobrado, OK. Mas o cotovelo direito não está apoiado no joelho direito, como seria o natural, mas no joelho esquerdo!

Automaticamente, todos do grupo se entortaram, alguns se agacharam e tentaram imitar a posição. É preciso hiperestender o deltoide, relaxar o tríceps. O Pensador está naquela posição há mais de 130 anos! Suas costas devem estar em frangalhos. A dor na nuca, o supraespinhal forçando o manguito rotador...

“A posição é relaxada?”, perguntou a monitora.

“Não”, respondemos unânimes.

“Não?”, repetiu.

Como coreografados e numa classe do primário, fizemos o não com a cabeça, incrédulos por nunca termos notado algo tão revelador.

“E o que o artista quis dizer?”

O quê? Ninguém aguentava mais aquele interrogatório. O suspense fazia parte do show. Era a peripécia de Aristóteles, que antecede a revelação. Experiente, manteve o timing perfeito. Que manteve em todas as visitas monitoradas que fez. Sabia já como reagiriam à novidade. Talvez aquela garotinha fosse parte da performance, do complô!

Congelou a expressão como uma caricatura. Enquanto a de Rodin, sóbria, a monitora tinha o rosto esquisito, como O Grito, de Munch. Quando enfim sorriu, respirou fundo e anunciou, o ponto de virada, como se ela mesma tivesse descoberto, o que o artista quis dizer:

“Pensar requer esforço, raciocinar é um desgaste também físico, pode trazer sofrimento, dor, que a humanidade passou por muitos traumas para chegar aonde estamos, que filósofos se contradisseram, um movimento artístico negou o anterior, que guerras foram travadas, para haver paz, justiça, que...”

A essa altura, com raiva de ter passado por aquela escultura obstáculo tantas vezes, examinei o dorso, o quadril, as costelas à mostra, o braço esquerdo apoiado naturalmente, e o direito completamente tencionado. Pensei se O Pensador tinha consciência do começo, meio e fim e, portanto, do tempo. Pensar, só pensar, leva à ação? Deixa pra lá. A escultura de uma tonelada, instalada ao ar livre em 1988, foi removida para um ambiente fechado, o Cantor Arts Center. Descobri casualmente essa semana aqui, no Sumaré, passeando pelo campus pelo Google Maps e me surpreendendo com o vazio entre as bibliotecas.

Foi pensar sem ser incomodado. Será que assim chega a uma conclusão?


Na aula com Nabokov - SÉRGIO AUGUSTO

O ESTADÃO - 06/04

Não se deixa prova em branco, qualquer estudante sabe disso. O vazio nada rende, é zero na certa, e denota não apenas desconhecimento do assunto em questão, mas também falta de empenho e imaginação. Preencher o vazio com algo que demonstre esforço e inteligência pode até proporcionar ao aluno uma nota razoável. Ao se exercitar no que batizei de ars embromatoria (a arte de embromar), o aluno testa a sensibilidade do professor, que, se de fato sensível e sensato, só não irá recompensá-lo se a algum disparate (a inclusão do hino do Palmeiras numa redação sobre a imigração no Brasil, por exemplo) somar-se um aluvião de erros de ortografia e concordância verbal, como recém aconteceu numa prova do Enem.

Quando estudante, exercitei-me na ars embromatoria com notável galhardia - façanha considerável levando-se em conta que estudei no exigentíssimo Colégio Pedro II. No então denominado terceiro ano ginasial, surpreendido pelo tema sorteado para a dissertação de uma prova de Geografia, "O fundo do mar", ponto de atroz aridez reduzido na minha memória a um arquipélago de termos vagos com os quais não saberia montar duas frases com um mínimo de sentido, não recolhi as velas. Salpicando uma "era mesozoica" aqui, uma "planície abissal" ali, um "talude continental" acolá, enchi duas ou três folhas de papel almaço com uma divagação sobre a riqueza dos oceanos que aprendera devorando Vinte Mil Léguas Submarinas, de Jules Verne. Arranquei um 7, a nota mais alta da turma.

Lembrei-me desse episódio escolar não por causa do Enem, mas de uma reminiscência do jornalista Edward Jay Epstein, publicada na última New York Review of Books. Em setembro de 1954, Epstein estudava na Universidade de Cornell, onde Vladimir Nabokov ensinava russo e literatura europeia. Era o "121". O professor Nabokov só identificava os alunos pelos números de seus assentos na sala. Não queria intimidades e era durão com eles (ir ao banheiro no meio da aula, só com atestado médico); e se os proibia de identificar-se com qualquer personagem das leituras selecionadas, liberava-os de conhecer-lhes o contexto histórico. Os romances, dizia, são obras de pura ficção, cujo único propósito é encantar o leitor.

Porque preferencialmente articuladas em torno de personagens e situações da obra em foco, em suas provas os leitores de orelhada dançavam feio. Epstein, que nunca havia lido Anna Karenina, gelou ao saber que teria de "descrever a estação de trem em que Anna e Vronski se viram pela primeira vez". Para não deixar o teste em branco, descreveu a estação que conhecia da versão para o cinema, estrelada por Vivien Leigh e dirigida por Julien Duvivier. Nos mínimos detalhes - muitos dos quais, descobriu depois, não existiam no romance.

Gélida e brumosa, com gente agasalhada da cabeça aos pés e operários atravessando as linhas do trem, o chefe da estação com seu gorro colorido, a premonitória morte de um agulheiro esmagado por uma composição que recuava - só isso guardei do primeiro encontro de Anna e Vronski, na estação de trem de Moscou, tal como Tolstoi, e não Duvivier, o descreveu. Ah, sim, e os brilhantes olhos cinzentos de Anna que tão intensamente chamaram a atenção do futuro amante. Que nota o professor Nabokov me daria por essa descrição?

Ao "121" ele deu a nota máxima. Encantado com a ars embromatoria do pupilo, ainda por cima o convidou para seu conselheiro cinematográfico. Epstein passou a assistir a quatro filmes no meio da semana, dos quais dava conta ao professor, que só então escolhia o que ia ver na noite de sexta-feira. Epstein ainda era pago por isso.

Se eu fosse professor de literatura, tentaria implantar aqui - se é que já não implantaram - o método Nabokov de avaliação. Como ele, só permitiria, nas provas, o uso de um dicionário. Apenas o aluno, com seus conhecimentos, sua memória, sua imaginação, e mais nada, submetido ao desafio de demonstrar que leu a obra abordada ou que é capaz de sair pela tangente de forma criativa, na corda bamba da ars embromatoria.

Já que o objetivo maior de todo professor é obrigar os alunos a mergulharem nos livros abordados em aula, certos testes tentariam de propósito dificultar ou mesmo inviabilizar a segunda opção. Não é tarefa difícil; basta ser específico, evitar generalidades, aludir a situações particulares. Como cascatear uma redação que nos obrigasse a descrever, por exemplo, o homônimo cão de Quincas Borba ou a redação do jornal em que Isaías Caminha trabalhava ou o encontro de G.H. com a barata se não lemos - ou lemos na diagonal - os respectivos romances de Machado, Lima Barreto e Clarice Lispector?

Tampouco de oitiva ou colando no Google pelo celular poderíamos descobrir, no afã de uma prova, como Macunaíma se cura de um sarampão, de quem é o sangue que o padre Nando encontra no ossuário de Quarup e onde Paulo Simões, o anti-herói de Pessach: A Travessia, de Carlos Heitor Cony, celebra seu aniversário de 40 anos.

A quem interessar possa, Quincas Borba é um cão de tamanho médio, pelo cor de chumbo, malhado de preto; a redação do matutino de Recordações do Escrivão Isaías Caminha tem uma sala pequena, mais comprida que larga, com duas filas paralelas de mesas minúsculas, ocupadas pelos redatores e repórteres; G.H. depara com a barata dentro de um armário e custa um bocado a se livrar dela; Macunaíma cura o sarampão com a água milagrosa de um curandeiro chamado Bento; o sangue encontrado pelo padre Nando pertence a Levindo, atingido por um tiro numa manifestação contra o usineiro Zé Quincas; Paulo Simões "festeja" o aniversário na casa dos pais, onde ganha de presente três comprimidos de cianureto.

Fim do recreio.

A canhota de Dilma - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 06/04

Dilma, que tirou o sapato e inaugurou ontem com um chute de canhota a Arena Fonte Nova, na Bahia, vai, digamos, voltar a exercitar seus dotes futebolísticos no dia 27.
Ela confirmou presença na abertura do Maracanã.

Por falar em Dilma...

A presidente se encontra com Cristina Kirchner no dia 25. O Planalto empurrou com a barriga esse encontro, cancelado no mês passado em função da morte de Hugo Chávez. Acha que, depois da saída da Vale da Argentina, o clima ficou passional demais.

É que...

A mineradora, como se sabe, desistiu de uma mina de potássio, projeto de US$ 5,9 bilhões e que envolvia seis mil trabalhadores locais.

Por falar em Kirchner...

Até a chegada de Dilma, a presidente argentina tem mais raiva a destilar em relação a José Mujica. Partidários de Cristina Kirchner estão chamando o presidente uruguaio de "desbocado", "fajuto" e "viejito". Mujica, como se sabe, sem notar que os microfones estavam abertos, disse que "esta velha é pior que o caolho", referindo-se ao casal Kirchner.

Por falar em argentino...

Os argentinos podem ter o Papa e o Messi, mas gostam de passear no Brasil. Na tragédia da chuva na Argentina, o prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri, estava em Trancoso, na Bahia, e o prefeito de La Plata, Pablo Bruera, estava no Rio.

Ainda 'los hermanos'...

A Embratur vai pôr um telão em Buenos Aires durante a Jornada Mundial da Juventude. É para mostrar o argentino Papa Francisco no... Brasil.

HISTÓRIA DE PAIXÃO NO IMPÉRIO

"O castelo de papel" é o mais novo livro da historiadora Mary Del Priore, grande especialista no período do Império, que será lançado dia 13 agora pela Rocco. É uma biografia cruzada da princesa Isabel e de seu marido, o conde d´Eu, que conta a história do mundo (período tenso e de transição) por meio dos personagens. O livro retrata um casal apaixonado, apesar de o casamento dos dois ter sido arranjado para atender a interesses familiares. A historiadora mostra na obra, por exemplo, as cartas apaixonadas que os dois trocavam quando ele estava no campo de batalha, na Guerra do Paraguai, como o trecho em que a princesa escreveu: "Quando terei a felicidade de dormir com você em nossa pequena cama de Laranjeiras? Meu querido, meu bem amado, meu amigo, meu tudo." Sem rodeios, dizia-lhe que "sentia falta de suas carícias". Os dois tiveram três filhos homens. Entre eles, o primogênito Dom Pedro de Alcântara, como mostra a foto acima (a princesa, o conde e o primogênito) l

Em busca da paz

Dia 22 agora, Lula vai receber em Nova York o prêmio Em Busca da Paz pela ONG International Crisis Group (ICG), que tem entre seus membros o investidor George Soros.

Pé no jato


Aliás, Lula não para de acumular milhas. Depois de voltar de Montevidéu ontem, o ex-presidente já viaja novamente para o exterior. Segunda vai para a Inglaterra.

Jazz no mundo

Reinaldo Figueiredo, o Casseta, vai virar locutor de rádio. Terá um programa temático sobre jazz na Rádio Batuta (radiobatuta.com.br), do Instituto Moreira Salles, a partir do dia 17. O primeiro será "Jazz no mundo" com músicas de intérpretes contemporâneos de vários países.

É dengue

Quase metade das 10.730 amostras de sorologia para dengue analisadas pelo laboratório Sérgio Franco, no Rio, em março, deu positivo.

Alô, Beltrame!

Lembra o Sandero cinza, placa LPN 4904, flagrado usando uma sirene para se livrar do trânsito na Barra? Pois bem, de 2010 pra cá, o veículo tem... 517 multas. O carro, cujo último licenciamento é de 2009, parece que pertence à Secretaria estadual de Segurança. Isso pode?

Aliás...

Por volta das 17h de quinta, o carrão particular C4, preto, da Citroën, placa KVO-5740, do Rio, que estava com um giroscópio aceso, parou na pista esquerda da Rua das Laranjeiras. O motorista desceu, retirou o giroscópio do teto, fechou o carro e... foi às compras numa loja em frente. O ano do último licenciamento desse carro é... 2011.

Alô, Carlos Osório!

Quinta à noite, na frente ao Shopping Gávea, uma fila comprida de clientes esperava por um táxi. Mas o atendimento não era por ordem de chegada. Os taxistas estavam escolhendo os passageiros. Era um tal de "Pra onde? Nem pensar, muito engarrafamento".

Esquecer, jamais

Amanhã completam-se dois anos da tragédia na Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, quando morreram 12 brasileirinhos. Haverá missa na Igreja N.S. de Fátima e São João, às 9h30m. Depois, amigos e familiares farão uma passeata pelas ruas do bairro defendendo o desarmamento.

Ox Bismarchi

Os três acusados de matar o cirurgião plástico Ox Bismarchi, em 2002, em uma tentativa de assalto, serão interrogados segunda agora na 11ª Vara Criminal do Rio.

Reage, Portela!

O barracão da Portela está com a luz cortada há dez dias.

Ponto Final

Num dos seus muitos sucessos, Roberto Carlos canta "Eu quero ter um milhão de amigos". Pelo visto, faltou, em 2006, um amigo para aconselhar o Rei a não censurar o livro de Paulo César de Araújo a seu respeito. De lá pra cá, o episódio virou símbolo, com razão, dos que lutam pela liberdade de publicar biografias não autorizadas. É pena.

O ônibus e a van - RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA

São dois crimes bem diferentes na essência: o ônibus que despencou de um viaduto, matando sete e ferindo nove, e o estupro coletivo de uma americana numa van. Duas coisas aproximam os crimes. A primeira é o cenário: a cidade do Rio de Janeiro, um dos destinos mais na moda hoje no mundo, sonho de consumo de jovens estrangeiros. A segunda é o caos do transporte formal e informal, a máfia de empresas legais e ilegais. O Rio costuma ser adorado pelos turistas, mas uma das críticas mais comuns é: “Os motoristas de ônibus e de van são loucos”.

Por “loucura”, entenda-se: andam em altíssima velocidade em carcaças velhas, saem costurando todo mundo, ultrapassam sinais vermelhos, aceleram nos amarelos, inclinam-se em curvas como se fossem pilotos de corrida, sobem na calçada, atropelam ciclistas e pedestres, não respeitam faixa, fecham os carros e os cruzamentos, não param nos pontos, dirigem falando ao celular, não têm paciência com passageiros idosos, trabalham irritados e cansados por horas extras e engarrafamentos. É claro que esse não é o retrato de todos os motoristas dos 8.777 ônibus do Rio. Mas os maus motoristas são suficientes para construir uma imagem de irresponsabilidade e insegurança. No caso do ônibus emborcado abaixo do viaduto da Avenida Brasil, via de acesso ao Rio, a principal causa pode ter sido uma briga entre um passageiro universitário e o motorista. O veículo já tinha 46 multas.

As vans, muitas caindo aos pedaços e irregulares, andam de portas abertas, gritam o destino, mexem com as moças que passam, cantam os pneus gastos, param subitamente sem sinalizar em qualquer ponto da avenida, alheias ao risco de acidentes. As 6 mil vans do Rio são um penduricalho aceito para suprir as deficiências do transporte público formal. Uma terra de ninguém sobre rodas. Isso quando não são dirigidas por bandidos, como os que violentaram a americana e algemaram seu namorado, agredindo-o com uma barra de ferro. Os dois jovens pegaram a van em Copacabana, a princesinha do mar, para ouvir música na Lapa, um dos programas mais recomendados pelos guias oficiais. O show foi de estupro, agressão e assalto. Não esquecerão o pesadelo.

Acabo de chegar de Nova York. Fiquei no bairro do Brooklyn e usei metrô o tempo todo, feliz da vida. Com um bilhete de viagens ilimitadas por uma semana, a um custo de US$ 29, percorri distâncias infinitas em horários mais e menos movimentados. Misturei-me a pessoas de todas as idades, de bebês a octogenários, de todas as ascendências, cores, nacionalidades e classes sociais, que dependem do transporte público para trabalho ou lazer. O metrô de Nova York tem pouco mais de 100 anos, pouco menos de 500 estações, espalha-se por 370 quilômetros. A média de viagens, na semana, é de 5 milhões por dia. Funciona 24 horas por dia, 365 dias por ano.

Sentada ou em pé nos vagões nova-iorquinos, antes dessas tragédias no Rio, eu já pensava na equação perversa do subdesenvolvimento: por que os países onde há mais pobres são os que menos investem no bem-estar público? Por que despejar tantos carros particulares a mais nas ruas se não há espaço para eles? Por que quase tudo que é público é tão ruim no Brasil, a sétima economia do mundo? Por que maltratar quem mais precisa de transporte, educação e saúde?

Como sou carioca, falo com tristeza especificamente deste momento do Rio: a cidade está infernal, barulhenta, intransitável, poluída, malcheirosa e mal-educada. Um dos maiores motivos do estresse é a falta de um transporte público amplo, fiscalizado e decente. É inconcebível que a rodoviária (indigna da cidade) e os aeroportos não estejam conectados com os vários bairros. Para sediar eventos internacionais com menos atropelos, o Rio precisa mesmo decretar feriado. Cria-se uma vida artificial temporária para fazer de conta que tudo funciona.

Não é só o Rio que pede socorro. Os paulistanos sabem muito bem disso, um ônibus despencou num barranco na Zona Sul na sexta-feira (“por causa da chuva”...) e motociclistas e ciclistas morrem como moscas no trânsito da capital. Os brasilienses também sabem disso, bastou um carro inocente ser parecido com um carro roubado para um universitário acabar morto com um tiro na cabeça, disparado por PMs ignorantes ou truculentos. José Pereira, de 27 anos, saíra da faculdade em Taguatinga e ia para casa de carona com amigos.

Nenhum país e nenhuma grande cidade estão livres de tragédias, mas o noticiário no Brasil está de lascar. Ficou muito difícil assistir a um telejornal sem se deprimir. Na cidade que vai receber o papa e a Olimpíada, está acesa uma luz vermelha.


Fim do trema, sucesso da @ - ZUENIR VENTURA

O GLOBO - 06/04
O trema está desaparecendo; aliás, oficialmente já desapareceu. A arroba está no auge de sua popularidade
Achei engraçadinhas as histórias antagônicas desses dois sinais gráficos. Um, o trema, está desaparecendo; aliás, oficialmente já desapareceu. O outro, a arroba, está no auge de sua popularidade. Do primeiro recebi, enviado por um amigo, uma sentida despedida. "Você pode nunca ter reparado em mim, mas eu estava sempre ali, na Anhangüera, nos aqüíferos, nas lingüiças, por mais de 450 anos. Fui expulso pra sempre do dicionário." Suas queixas não poupam o cedilha, que teria sido a favor de sua expulsão - "aquele Ç cagão que fica se passando por S e nunca tem coragem de iniciar uma palavra". E um conformado desabafo: "A verdade é que estou fora de moda. Quem está na moda são os estrangeiros, é o K e o W, 'kkk' pra cá, 'www' pra lá."

O estranho é não haver referência à arroba, muito mais em voga do que as letras citadas. Calcula-se que a @ - esse a com uma perna esticada fazendo um quase círculo - anda hoje em três bilhões de endereços eletrônicos, o que ainda é pouco, considerando que não é possível passar um e-mail sem ela. Antes, apenas como medida, ainda tinha alguma utilidade, pelo menos para comerciantes e estivadores dos armazéns dos cais do porto, já que servia para indicar a unidade de peso equivalente a 15 quilos.

É curiosa a vertiginosa carreira de sucesso da @, que nem existia nas primeiras máquinas de escrever. Conta-se que foi em 1971, graças ao engenheiro americano Ray Tomlinson, que ela começou a ganhar destaque, e por acaso. Encarregado do projeto que seria o precursor da internet, Ray precisava de um símbolo que ligasse o usuário do correio eletrônico ao domínio. Aí, olhando para um teclado, caiu de amores pela @, depois que seu coração balançou entre o ponto de exclamação e a vírgula.

A partir dos anos 90, com a massificação da internet, a arroba passou a ser provavelmente o símbolo gráfico mais popular do universo. Os emails podem viver sem tremas, sem pontos de exclamação, de interrogação, til, cedilha, reticências, mas nunca sem aquele sinalzinho que aparece em cima do 2 e precisa ser acionado apertando-se a tecla Shift. E mais: além de popularidade, ganhou prestígio. Em 2010, o Museu de Arte Moderna de Nova York adquiriu o símbolo @ para a sua coleção de design. "Uma aquisição que nos deixa orgulhosos", anunciou o MoMA em seu site. Agora mesmo é que a @ está se achando.

Alice e eu precisamos de DR, discutir a relação -uma relação de três anos e meio. Ela anda intratável. "Me deixa sozinha, estou irritada", disse outro dia, em mais uma crise de ciúme do irmãozinho Eric.

O resgate do planejamento - PAULO R. HADDAD

O Estado de S.Paulo - 06/04

As questões de desenvolvimento econômico e socioambiental que estão claramente definidas no atual contexto histórico do Brasil exigem perspectiva de longo prazo para serem equacionadas. Entre essas questões se destacam: a eliminação dos gargalos na infraestrutura econômica; o desenvolvimento das centenas de municípios e das inúmeras áreas economicamente deprimidas; a transição das políticas sociais compensatórias para as políticas de redução das desigualdades e assimetrias sociais; uma política de preservação e restauração da nossa base de recursos naturais; etc.

O hábito que se criou na burocracia estatal, desde o fim das últimas experiências de planejamento de longo prazo no fim dos anos 70, de atuar por meio de uma sequência interminável de intervenções casuísticas não pode perdurar. Jean Ladrière mostra que a lógica interna do sistema econômico pode chegar a absorver os agentes econômicos que exercem as atividades no seu quadro, à medida que estes se tornam incapazes de superar a sua própria condição. Identificando-se com os processos de que são os portadores, deixam-se conduzir pelas exigências que não cessam de nascer de suas próprias iniciativas.

Sem uma perspectiva de longo prazo em suas ações, os agentes e as instituições governamentais se entrelaçam nos mecanismos que eles próprios criaram e passam a ser conduzidos por uma espécie de processo acumulativo aparentemente sem limites. Ao sobrepor e acumular ações de curto prazo, desencadeiam forças que não podem controlar, induzem efeitos inesperados, promovem desencontros de expectativas e chegam à perda de confiabilidade perante a opinião pública.

Como evitar, pois, que as alternativas de políticas econômicas sejam, em última instância, comandadas pelas exigências das opções realizadas no passado, de tal forma que o sistema passa a subsistir em função de uma overdose de políticas de curto prazo de caráter pragmático? A necessidade dessa virada de mesa pode ser observada quando se constata o processo de deterioração que vem ocorrendo com as diferentes formas de capital de interesse público de nossa sociedade.

Algumas dessas deteriorações são visíveis, como a perda de qualidade de nossos recursos naturais (degradação de nossas bacias hidrográficas, a dramática perda da biodiversidade) ou de nossa infraestrutura econômica. Outras perdas são intangíveis, como a deterioração no capital institucional (baixa capacidade de gestão e de implementação de projetos pelas nossas instituições públicas, loteadas para atender sem critérios de mérito aos interesses velados e clientelísticos da base aliada) ou no capital humano, quando tem prevalecido no sistema educacional a regra de mais e mais insumos por menor produção de pessoal qualificado.

Um bom sistema de planejamento de longo prazo (mais indicativo, mais flexível, mais exato, mais rápido, mais descentralizado, mais participativo) pode ajudar a construir uma sociedade mais competitiva sistemicamente, mais justa socialmente e com melhor contrato natural. Mas esse planejamento não deve ser considerado só como método, mas, principalmente, como processo.

Como método, o nosso progresso em matéria de planejamento se destaca internacionalmente. As equipes técnicas do governo, das instituições universitárias e das empresas de consultoria têm produzido excelentes sistemas de indicadores de desenvolvimento sustentável, modelos de projeção com uso de metodologias na fronteira do conhecimento, relatórios profundos sobre o estado da arte de nossos ecossistemas, etc.

Contudo, as nossas experiências mais recentes mostram também o fracasso do planejamento como processo, em que a grande maioria das políticas, programas e projetos tem descarrilhado não nas etapas iniciais de formulação ou de mobilização das expectativas e aspirações dos beneficiários, mas na etapa da arte de implementação. Sem dúvida, uma indicação de nosso subdesenvolvimento político.

GOSTOSA

O DEPUTADO JEAN WILLYS, NÃO GOSTA DESSE TIPO DE FRUTA.


Dilma cuida da imagem em SP - JORGE BASTOS MORENO - Nhenhenhém


O GLOBO - 06/04

O mistério do sumiço da Dilma em São Paulo está sendo mais divulgado do que se a agenda da presidente em São Paulo tivesse sido pública.

Os agentes públicos não aprendem: fazer coisas escondidas só favorece os inimigos, a criatividade dos fofoqueiros e os interesses dos oportunistas. Isso quer dizer que tudo o que a Dilma não fez em São Paulo pode aparecer como fato acontecido.

Fora a megarreunião secreta com 15 pessoas num hotel em São Paulo, espalha-se que a presidente tenha ido fazer uma revisão física e estética, numa espécie de check-up pré-campanha. Sua maior reunião teria sido com o dermatologista Guilherme Almeida, que é o mesmo de todos os políticos pacientes do cardiologista Roberto Kalil, inclusive do Serra. O que mostra que ela é muito corajosa: vai que Almeida troca as receitas e dá a ela os remédios do Serra?!

Isso pode já estar acontecendo. As queixas de Campos contra Dilma são as mesmas de Aécio contra Serra.

Loucura
Este é o país da fantasia. Estamos em plena campanha eleitoral, com os candidatos cruzando os céus de norte a sul e com a mídia cobrindo tudo atentamente. E os políticos falam, repórteres escrevem, e colunistas analisam a indefinição do quadro sucessório.

Chimarrão

Semana passada, Campos fez campanha no Nordeste. Esta semana foi a vez da Dilma. Na próxima semana, precisamente na segunda-feira, Campos desembarca no Rio Grande do Sul para um grande evento em Porto Alegre. São esperadas mais de duas mil pessoas para a festa, disfarçada de comemoração de aniversário do deputado Beto Albuquerque.
Depois, Campos se reúne com o empresariado gaúcho, no “Fórum da Liberdade”.

Presente

Três dias depois, quem é que desembarca em Porto Alegre? Ela mesma, mas apenas por coincidência. Dilma tinha prometido dar umas retroescavadeiras para o Tarso Genro há muito tempo. E, para que o governador não pense que ela está de má vontade com ele, resolveu ir ao estado.

Felipe Bronze

Na terça-feira, Dilma e Campos se estranharam na reunião da Sudene. Enquanto o governador discursava, a presidente tricotava o tempo todo com Cid Gomes. Campos achou isso uma deselegância sem limite. Mal falou com a Dilma, depois do evento. Ficou de cara amarrada. Cobrei da Dilma, via amigos comuns. A resposta:
— Deselegância seria se ela interrompesse o Cid, justo no momento em que ele ensinava uma receita de lagostim gratinado.
Na moral Por ter se referido à ditadura militar de 64 como “revolução”, o candidato Aécio Neves ganhou ontem destaques nos principais jornais do país. Em defesa dos fatos, não do Aécio Neves, é bom lembrar que o senador vem de um berço onde quase ninguém se referia ao golpe de 64 como “ditadura”. No Congresso ou nos jornais, os democratas usavam mesmo o termo “revolução”. No máximo, “regime”.
A favor de Aécio, agora sim, há o fato de que seu avô, Tancredo Neves, foi um dos poucos democratas da época que votaram contra a posse do primeiro presidente da Ditadura, o então general Castello Branco, de quem era amigo pessoal.
Não o fez por questões éticas: era líder do governo deposto.
Mas aí, como diz o colunista Ancelmo Gois, é outra história.

Provocação
Desembarcam em Brasília na próxima semana, para uma conferência da Assembleia de Deus, 24 mil pastores, 350 ônibus e 30 Boeings.
Até aí, tudo bem. Parabéns aos organizadores. E que rezem para que a Renata Vasconcelos amoleça esse seu duro coração.
O problema é que tudo isso será pretexto para um grande evento de solidariedade ao Feliciano.
Gente, não faça piquenique na cratera do vulcão!

Tomara!
A verdade é que Feliciano, mais para o mal do que para o bem, está mudando costumes. Muita gente se assumindo.
Não estranhem se, daqui a pouco, até o Eduardo Cunha resolva sair também de dentro do... cofre.

FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA

O GLOBO - 06/04

Empregadores e autônomos preferem se definir como comerciantes. Pacificação, para eles, só teve efeito na segurança

O Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets) mergulhou no mundo dos microempreendedores de comunidades com UPP, num estudo para o Sebrae/RJ, em 2012. A pesquisa joga luz em percepções e necessidades desses empregadores e autônomos que, para começo de conversa, rejeitam a nomenclatura vinda do asfalto. Preferem ser chamados de comerciantes ou negociantes, pontua Maurício Blanco, um dos responsáveis pelo trabalho. A equipe investigou 20 comunidades pacificadas, do Santa Marta à Cidade de Deus e à Rocinha. De cara, descobriu que, na visão do grupo, as UPPs só tiveram impacto positivo significativo na segurança (melhorou para 35% a 40%). A avaliação geral é de que não houve aumento nas vendas nem nos lucros; custos não diminuíram; a relação com fornecedores não mudou, sublinha Manuel Thedim, também do Iets. Cezar Vasquez, do Sebrae/RJ, que elabora pacote de serviços sob medida para empreendedores das comunidades, diz que a pacificação é precondição para a formalização e a reorganização dos negócios: "A experiência em áreas não pacificadas mostra que é difícil começar a trabalhar. A UPP derruba essa barreira".

4,6% têm assessoria contábil

Os empreendedores valorizam a assistência em gestão, marketing, contabilidade, mas não têm acesso aos serviços. Sebrae/RJ montará oficinas e designará "tutores" para empresas em comunidades. 

A caminho
De cada quatro empresas inscritas na ANP para a 11ª Rodada, uma (26%) é estreante em leilões no país. A agência cadastrou 71 companhias, 19 são petrolíferas de primeira viagem. Elas vêm de 13 países; três são do Brasil.

Na camisa
Os 12 maiores times de futebol do Brasil devem arrecadar R$ 240 milhões com patrocínios em camisa este ano. É queda de 30% sobre 2010, mostra estudo da Traffic Sports. A falta de habilidade dos clubes para gerir marcas será tema de curso, no Rio, mês que vem.

À luta
Rodrigo Minotauro e Wanderley Silva serão palestrantes do iPlanet, evento de TI, 4ª feira, em SP. Foram contratados pela Officer para estimular profissionais do setor a seguirem na luta. O maior cachê chega a R$ 50 mil.

Casa portuguesa
A Judice &Araujo, de imóveis de alto luxo, fechou com a imobiliária Porta da Frente, de Portugal. Vão integrar bancos de dados e atendimento.

Residencial
A Odebrecht Realizações Imobiliárias lança semana que vem residencial na Estrada dos Bandeirantes, perto da Vila dos Atletas, no Rio. O Wind terá 260 unidades e deve bater R$ 100 milhões em vendas. 

Dormentes
A Vale vai transformar dormentes da ferrovia Vitória a Minas (EFVM) em carvão vegetal para siderúrgicas. Fornecerá 72 mil toneladas a uma empresa de Aracruz (ES). O carvão produzido equivale a 200 mil pés de eucalipto. A Vale vai economizar R$ 10 milhões e ganhar R$ 180 mil.

Geradores
As receitas mundiais da Aggreko, de fornecimento temporário de energia, bateram R$ 4,839 bilhões ano passado, alta de 13% sobre 2011. Os lucros somaram R$ 1,186 bilhão, contra R$ 1,042 bi em 2011. Espera repetir a expansão de dois dígitos nos próximos cinco anos.

On/Off - SONIA RACY

O ESTADÃO - 06/04

Cresce o temor, entre integrantes da iniciativa privada, de apagão elétrico no País. A pior coisa que poderia acontecer para a candidata Dilma.

Indagado, o ONS informa que a situação mais crítica é a do reservatório de Sobradinho, que abastece 58% do Nordeste: está com 38,76% de sua capacidade – ultrapassando o limite de segurança.

No Sudeste, o cenário mais delicado é o do reservatório de Nova Ponte (de onde sai mais de 11% da energia da região).

On/Off 2
No Planalto, a informação é de que o empresariado não está levando em conta a entrada de Jirau e Santo Antonio no mercado – ainda este ano.

Dois lados
Tem brasileiro apavorado com o vazamento de contas no exterior, em paraísos fiscais. Os documentos, batizados de “Offshore Leaks”, expõem a identidade de milhares de pessoas de mais de 170 países.

Quem mandou dinheiro para fora legalmente teme ser confundido com os ilegais. Já os ilegais... bem, é melhor contratarem advogado.

Pente fino
Ricardo Teixeira, secretário do Verde, decidiu: vai reavaliar os processos de fiscalização do departamento onde Renato José Paes – preso por pedir propina - – trabalhava. Designou seis técnicos para tanto.

Terão dois meses para concluir o trabalho. “Estou com um gosto amargo na boca”, desabafou Teixeira.

À procura
Juca Ferreira busca terrenos nas periferias das zonas sul e leste da cidade. Para construir dois centros culturais.
E mais. O secretário de Haddad conversou com Marta Suplicy sobre erguer os CEUs das Artes e dos Esportes.

Special for you
Jorge Mautnerfoi o primeiro a ganhar autógrafo de Gilberto Gil no lançamento de Culturapela Palavra, anteontem, na Livraria Cultura. “Jorge, para você que é fã desse período do ministério, alguma lembrança. Até”, escreveu o cantor.
A obra reúne textos e discursos de Gil e Juca Ferreira quando ministros da Cultura.

Arco-íris
E o que Gil achou de Daniela Mercury assumir relacionamento com Malu Verçosa? “Podia ter feito de outra forma, mas decidiu levantar abandeira do arco-íris e sair do armário.”

Mais um
O cantor Naldo é o mais novo contratado da 9ine. O carioca esteve no escritório de Ronaldo, na quarta-feira, para acertar os últimos detalhes da negociação.

Para cinéfilos
David Lynch ganha mostra para chamar de sua. A partir do dia 16, na Caixa Cultural, serão exibidos os principais filmes do cineasta e vídeos raros com suas entrevistas.

Mão na massa
Dois projetos que envolvem a cidade fazem uso do financiamento coletivo para saírem do papel.

O Coruja busca R$ 25 mil para a construção de decks, mesas, manutenção das flores e canteiros paraárvores do Parque das Corujas, na Vila Madalena.

Mão na massa 2
Já o A Pompeia Que Se Quer foi bem sucedido na arrecadação de R$ 30 mil para uma mobilização em prol do bairro.
A intenção é reunir ideias dos moradores para impedir a verticalização do lugar e o desaparecimento de áreas verdes.

Mercado modelo
Roberto Abdenur, presidente do Etco (Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial) – que completa 10 anos –, avisa estar preparado para um desafio do tamanho da Copa do Mundo de 2014: combater a pirataria de produtos associados ao tatu-bola Fuleco e cia.

A entidade, que ele dirige há cerca de um ano, luta por um ambiente de negócios mais saudável no País e ajudou a criar, entre outros, o Programa Cidade Livre de Pirataria e a Nota Fiscal eletrônica – “mas os desafios à frente ainda são muitos”, avisa.

Ex-embaixador em Pequim e Washington, Abdenur conversou com a coluna na sede do instituto, em SP, e fez questão de ressaltar: “Não existe bala de prata que resolva todos os problemas do País”.

 O Etco luta por uma economia e um mercado mais justos. Como se faz isso? 
Principalmente, combatendo a sonegação fiscal, porque ela priva os governos de recursos para políticas públicas essenciais e distorce as condições de funcionamento da economia. Quem sonega impostos obtém vantagens indevidas, ilegítimas, em relação a quem cumpre suas obrigações.

 Mas a carga tributária não é excessiva? 
Ela não atrapalha a vida de quem quer ser ético? Sem dúvida nenhuma. É injustamente alta. A carga média de tributos sobre medicamentos, por exemplo, é de quase 34%. Isso leva à ideia de que temos um estado vampiro – que suga o sangue das pessoas das quais deveria tratar.

A mais recente ação do Etco é o código bidimensional de rastreabilidade para remédios. Como está isso?
A Anvisa acaba de abrir consulta pública. Esses são problemas muito sérios – a falsificação de medicamentos, a sonegação e o roubo de cargas de remédios. Com esse código, que será impresso em todas as embalagens, será mais fácil rastrear os lotes. Evitando esses problemas, a indústria vai gastar menos com seguro, por exemplo.

 O Etco é a favor da política de queda de IPI para alguns setores da economia? 
Desonerações setoriais são importantes, e o governo já percebeu a necessidade disso. Mas ainda vivemos dos chamados voos de galinha, temos de recuperar o tempo perdido.

 Na opinião de um ex-embaixador em Pequim, como o empresariado brasileiro faz para concorrer com a China?
A China é inevitável. Está em todas as partes. Nosso problema não é erigir barreiras contra produtos chineses. Precisamos é tratar da nossa capacidade produtiva.

 Qual a palavra-chave para o Brasil mudar?
Transparência. Temos de ampliar a consciência de maior ética, de compliance, de responsabilidade social e administrativa. Criar um ambiente de negócios em que a virtude compense mais do que o pecado. Pecadores sempre haverá, mas tendo a crer que os virtuosos estão prevalecendo.

GOSTOSAS

EU SOU DO TEMPO QUE HOMEM GOSTAVA DE MULHER


A infelicidade de Feliciano - CACÁ DIEGUES

O GLOBO - 06/04

Suspeito que Marco Feliciano não seja um homem feliz. ‘Infeliciano’ não deve dormir em paz


Outro dia, meu neto de 7 anos me disse excitado que tinha um presente para mim. Era uma lata de Coca-Cola que havia encontrado com meu nome, Carlos, inscrito nela. Tive a sensação de que meu neto havia-me achado no meio da multidão e me propunha celebrar minha existência.

Como quando nomeamos alguém estamos identificando sua singularidade, me dei conta de que um dos produtos mais universais do planeta, um dos signos fundadores da globalização, havia sacado a necessidade de reconhecer a existência do indivíduo e sua diferença. A humanidade não é uma massa anônima e informe, mas o encontro entre seus indivíduos, a única coisa concreta que existe. O resto (língua, sociedade, moeda, nação, estado, cultura, o que mais for) são abstrações necessárias que inventamos para poder melhor conviver com o outro.

É claro que essa operação de marketing do produto que minha geração, em sua juventude irreverente e bem-humorada, chamava de “a água suja do imperialismo”, é apenas uma fantasia que não vai melhorar a vida de ninguém. Mas é significativo que a marca máxima de um modo de vida planetário reconheça a necessidade de lembrar nossa individualidade, nossa diferença, nossa singularidade.

Somos indivíduos responsáveis pelos outros e essa responsabilidade começa pelo respeito ao que o outro é ou quer ser. A democracia é o único regime político em que esse comportamento se encontra em seu cerne. Sem ele, ela perde o sentido. Segundo Tocqueville, o grande pensador da democracia moderna na primeira metade do século 19, o regime democrático é uma ditadura da maioria, abrandada pelos direitos de manifestação das minorias. É tão simples e profundo quanto isso.

Nosso Congresso Nacional está deixando que essas ideias indiscutíveis sejam negadas pela ação nefasta do deputado Marco Feliciano, à frente da Comissão de Direitos Humanos. E esse desastre não tem apenas o deputado como único culpado; grosso modo, a câmara inteira é responsável pelo grave erro.

A democracia representativa fica comprometida quando os partidos dão prioridade a seus arranjos funcionais, em prejuízo da representação popular. Apesar de grosseiro, medieval e inaceitável, o deputado tem o direito de pensar como quiser, para agradar seus eleitores específicos. Mas não tem o de impor, por delegação de seus pares, as consequências segregadoras desse pensamento sectário à população inteira, que inclui os que são discriminados.

Todos os partidos deixaram que isso acontecesse quando negociaram, segundo seus interesses táticos, a formação das diferentes comissões no Congresso. A culpa não é só do partido de Feliciano, o PSC, que o indicou; os outros também preferiram o conforto próprio, em detrimento da segurança social da população. Quando isso aconteceu, onde estavam o PT e seus “progressistas”? Por onde andavam os “democratas” do PSDB? Que faziam os “socialistas” do PSB? E os “liberais’ do DEM? O único congressista que vi se manifestar desde a primeira hora, com coragem e firmeza, sem se preocupar com as conveniências regimentais da Casa, foi o deputado Jean Willys.

Suspeito que Marco Feliciano não seja um homem feliz. Ele deve viver atormentado pelos fantasmas do porre de Noé, do pecado de Cam, da maldição divina sobre a África e os negros. Feliciano não pode gastar relaxado o dízimo de seus fiéis, enquanto houver no mundo aborto, homossexuais, casamento gay e gente que não pensa como ele. “Infeliciano” não deve dormir em paz.

Mas confesso que não admiro nem um pouco o modo de reação de alguns ativistas contra ele. Numa democracia, não se deve fazer política invadindo reuniões, subindo nas mesas, agredindo quem passa pela frente, impedindo o interlocutor de se manifestar. A democracia é também um processo civilizatório, como foi a justa manifestação recente na ABI, organizada por Jean Willys, com a presença de Caetano Veloso, Wagner Moura, Preta Gil e tanta gente que lotou aquele auditório para discutir o assunto.

É evidente que hoje, no mundo inteiro, vivemos uma grave crise da democracia representativa. Talvez pelo crescimento da população em todos os países; talvez pela distância cada vez maior entre representantes e representados; talvez até mesmo pela crescente superação do poder do estado pela força natural da sociedade. Não sei encontrar solução para essa crise. Mas ela não pode ser a democracia direta que nos leve à aventura irresponsável do populismo, nem o voto distrital que torna clientelista o resultado de uma eleição, eliminando o debate ideológico que organiza o futuro. É preciso começar a discutir uma reforma política democrática que contemple todas essas novidades.

Para certos crentes, nosso mundo real é sempre provisório, o paraíso se encontra muito mais à frente, bem adiante de nós. Depois é que é sempre bom e, para chegar lá, devemos suportar dor e sofrimento, a fim de nos tornarmos merecedores da graça no futuro e punirmos os que ousam desejar ser felizes por aqui mesmo. Mas temos o direito de exigir que nos deixem ser o que somos, que nos garantam, aqui e agora, nossa felicidade de cidadãos, nossa “felicidadania”.

Reação imediata - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 06/04

Um dia depois de Eduardo Campos (PSB) lançar um slogan em que se apresenta como o "novo", o PT inicia hoje a distribuição de propaganda pró-Dilma Rousseff. O panfleto estampa o título: "Dilma atinge recorde de aprovação popular: 79% dos brasileiros apoiam a presidenta. Por que será?". A peça cita a redução da conta de luz, a desoneração da cesta básica e programas como Brasil Sem Miséria e Minha Casa, Minha Vida. Outro capítulo trata da queda do desemprego.

Vácuo 1 O espaço que Campos e Aécio Neves (PSDB) tiveram no congresso de prefeitos paulistas evidenciou desconforto com o tratamento dado pelo governo federal aos municípios.

Vácuo 2 O Comitê de Articulação Federativa, criado para atender as demandas das prefeituras, se reuniu só uma vez na gestão Dilma, em 2011. Sob Lula, foram seis encontros. O entendimento de prefeitos, inclusive do PT, é que o Planalto não dá prioridade à agenda municipalista.

Sofá "Temos uma boa sala de visitas no Planalto, mas a verdade é que, no atual governo, a execução de medidas que envolvem mais de uma pasta é mais lenta", diz um prefeito aliado de Dilma.

Sem gás Na tentativa de responder ao setor, a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) pilotará rodada de encontros estaduais com prefeitos. Ainda assim, a iniciativa é considerada tímida.

Termômetro 1 Na comparação entre Campos e Aécio, o pessebista conseguiu arregimentar mais claque e mais políticos de vários partidos (além do PSB, havia representantes de PPS, PDT, PV e PTB) para assistir seu discurso perante os prefeitos.

Termômetro 2 O trunfo esgrimido pelos tucanos, em contraposição à supremacia numérica do pernambucano, foi o engajamento do governador Geraldo Alckmin, considerado vital para a decolagem do mineiro no Estado.

Almoço grátis? A mobilização para ver o pessebista não foi 100% espontânea. Uma ''militante'' vestindo camiseta com o novo slogan disse ter recebido R$ 50 para ir de São Vicente a Santos e brandir uma bandeira em frente ao local do congresso.

Fica a dica Do ministro Ricardo Lewandowski à coluna, diante do esforço do Supremo Tribunal Federal para dar privacidade ao depoimento de Marco Feliciano (PSC-SP) ontem: "Embora se alegue que ele desrespeita os direitos humanos, a Justiça tem o dever de respeitar os direitos humanos dele''.

Agenda... Na audiência, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara disse que deu mais de 270 palestras em 2008, ano em que deixou de comparecer a evento para o qual havia sido contratado no Rio Grande do Sul -e que originou o processo por estelionato a que responde no STF.

... cheia Feliciano afirmou que houve um erro de programação e que imediatamente devolveu aos organizadores os R$ 8.000 que recebeu com juros e correção, num total de R$ 13 mil.

Paredão Diante das especulações sobre uma possível ação casada de PT e PMDB para impedir sua candidatura ao governo do Rio em 2014, o senador Lindbergh Farias (PT) ouviu de um aliado: "É como no Big Brother: quanto mais tentam te tirar, mais você se fortalece".

Visita à Folha Arthur Virgílio, prefeito de Manaus (AM), visitou ontem a Folha, a convite do jornal, onde foi recebido em almoço. Estava acompanhado de Humberto Michiles, secretário de Governo, e de Márcio Noronha, secretário de Comunicação.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio
"Lula e Dilma ficaram mais de seis horas falando de Eduardo Campos. Nunca um aliado consumiu tanto tempo do divã do PT."
DO DEPUTADO MÁRCIO FRANÇA (PSB-SP), sobre o encontro da presidente e do antecessor em que discutiram o papel do governador de Pernambuco em 2014.

contraponto


Balança, mas não cai


Ao apresentar Aécio Neves em congresso de prefeitos, anteontem, o presidente da APM (Associação Paulista de Municíos), Celso Giglio (PSDB), disse ter conhecido o senador mineiro no episódio da queda de Mário Covas de um palanque em Osasco, em 1998. Aécio brincou:

-Geralmente, os políticos se conhecem em cima de um palanque. Nós nos conhecemos embaixo de um palanque.

O presidenciável tucano emendou um agrado à plateia:

-Agora a situação é bem diferente. Estamos num sólido palanque. Até porque as propostas do municipalismo são muito consistentes.

PPS rumo a Eduardo Campos - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 06/04

O PPS vai realizar, em maio, um Congresso Extraordinário, para desembarcar de sua aliança com o PSDB. A maioria do partido está a caminho de uma coligação ou de uma fusão com o PSB, caso se confirme a candidatura ao Planalto do governador Eduardo Campos (PE). A fusão implica muitos ajustes regionais, mas, se ocorrer, o novo partido já teria até nome: “PS40”.

O flerte do PTB com Dilma
O PTB, que em 2010 apoiou José Serra ao Planalto, também está abrindo sua aliança com o PSDB. Estão em curso conversas para sua integração ao governo Dilma. O atual presidente, Benito Gama, foi sondado para assumir a vice-presidência de Governo do BB. O partido gostaria de ter o ministro da Integração ou outra pasta, em setembro, quando o PSB pode sair do governo. Isso foi tratado em reunião da cúpula do PTB no Rio. Mas a aproximação com Dilma envolve um tema delicado: o presidente licenciado, Roberto Jefferson, que denunciou o mensalão. Petebistas acham que ele poderia facilitar abdicando de parcela de seus poderes.

“O senador Lindbergh Farias (PT) vai ser candidato ao governo. Vamos trabalhar por um divórcio amigável com ogovernador
Sérgio Cabral (PMDB-RJ)” Alberto Cantalice, vice-presidente nacional do PT e ex-presidente do partido no Rio

De olho em Zeca Pagodinho
O ex-governador do Rio Anthony Garotinho (PR) mandou um emissário procurar Zeca Pagodinho. Ele o quer de vice em sua chapa para o governo. O mote do cerco é que, uma vez eleito, poderá fazer mais pelas vítimas da tragédia em Xerém.

Volta às aulas
Depois de 11 anos licenciada do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Ceará, a ex-prefeita de Fortaleza Luizianne Lins (PT) retoma segunda-feira, dia 8, sua atividade de professora. Ela foi convocada a reassumir a cátedra e vai ministrar três disciplinas, com uma jornada semanal de trabalho de 12 horinhas.

Carteiraço
O candidato do PSDB ao Planalto, senador Aécio Neves (MG), credenciou o ex-presidente do DEM deputado Rodrigo Maia (RJ) para ser um de seus interlocutores junto ao empresariado, a entidades sociais e aos políticos fluminenses.

Esvaziando a bola
Na avaliação feita pela presidente Dilma e pelo ex-presidente Lula, ambos menosprezam o potencial eleitoral de Marina Silva (Rede). Acham que ficará em 4º lugar em 2014. Também não acreditam no taco da senadora Ana Amélia (PP) e que a única ameaça à reeleição de Tarso Genro ao governo do Rio Grande do Sul seria a candidatura do prefeito de Porto Alegre, José Fortunati (PDT).

O contribuinte paga a conta
Amanhã, em Copacabana (RJ), no Posto 4, o deputado Otávio Leite (PSDB-RJ) vai coletar apoio a projeto que institui dedução de 30% no Imposto de Renda, em benefício dos patrões pelo pagamento dos direitos das domésticas.

O telefone toca...
E o ministro Aldo Rebelo (Esportes) pede para registrar: “A presidente Dilma não interferirá nos assuntos internos do Comitê Organizador Local da Copa e da CBF”. Dito isso, o presidente da CBF, José Maria Marin, tenta se aproximar do Planalto.

A CARTILHA com dez propostas por um sistema tributário mais justo, do Sindifisco e do Dieese, será adotado como bandeira da Força Sindical.


Acúmulo de equívocos - ARNALDO CARRILHO

FOLHA DE SP - 06/04

Fosse ainda vivo, o teórico da propaganda política e da publicidade comercial Edward Bernays franziria o cenho diante das invectivas bélico-nucleares do governo norte-coreano contra o norte-americano.

Por outro lado, as reações de Washington à mobilização gigante e à declaração de guerra do país fundado por Kim Il-sung e dirigido por seu neto Kim Jong-un revelam inegável preocupação com uma das nove nações nuclearizadas do planeta.

Jamais se chegou a um consenso sobre a origem da divisão da península coreana durante a Conferência de Potsdam (1945): partira de Stalin ou de Truman? Curiosa proposta essa, de criarem-se duas áreas de ocupação num país não beligerante.

Na prática, a divisão territorial de um povo muito antigo acoplada às explosões atômicas de Hiroshima e Nagasaki e às invasões soviéticas da Manchúria e do Japão marcaram o início da Guerra Fria. Na prática, convém repetir, porque a tomada de Berlim e a mentalidade antianarquista e anticomunista reinante nos EUA não devem ser esquecidas nessa ontologia guerreira de disputas ideológicas em aparência, conquanto intrinsecamente estratégicas.

Os EUA se empenhariam desastradamente em "não perder a China", conceito vezeiro no Departamento de Estado, de modo que os ocupantes designados teriam de ser implacáveis. Até 1948, data oficial da desocupação, registraram-se massacres de mais de 200 mil pessoas. Os massacres de esquerdistas e social-democratas, já empregando "mão de obra" nacional, estão inscritos como ultrajes históricos dos coreanos. Já da ocupação soviética ao norte comenta-se pouco, salvo quanto ao treinamento de tropas e entrega de equipamento militar.

Os norte-coreanos, e também multidões no mundo inteiro, forçoso reconhecê-lo, acham justo que, no processo de desenvolvimento nuclear, suas forças armadas contem com armas e explosivos originados em tais pesquisas.

Em outras palavras, como os cinco do Conselho de Segurança das Nações Unidas não puseram cobro ao aperfeiçoamento de seus artefatos nucleares, outros países asiáticos -Índia, Paquistão, Israel e RPDC (República Popular Democrática da Coreia)- decidiram adotá-los. Com a saída da última do TNP (Tratado de Não Proliferação) em 2006, nenhum deles se vê obrigado a proibir os engenhos, mas só um é sancionado, a Coreia do Norte.

O problema central da questão coreana é o da sua reunificação: duas ocupações depois de 1945, uma guerra em que pereceram 2,5 milhões de civis, um armistício com o sul que acaba de ser denunciado e uma fronteira tida como "desigual" pelo norte, na verdade, tornaram-se empecilhos menores que o causado pela falta de negociações de Pionguiangue (Pyongyang, em grafia prosódica inglesa) com Washington. Não que inexistam contatos.

Há, porém, equívocos, que se acumulam nas incursões diplomáticas que houveram. A militarista RPDC tem opositores em Washington, e não apenas nas hostes mais acirradamente anticomunistas dos republicanos: o Pentágono, eis aí.

Se a China é crescentemente visada e a Rússia passou a dispor de prioridades nas pranchetas de planejamento militar dos EUA, não é difícil inferir-se que o regime sem par da RPDC, verificando que é, mais que abandonado, acuado com severíssimas sanções das Nações Unidas, reage conforme suas prementes necessidades de fazer-se valer perante o mundo.

A questão coreana é um tema que merece mediações, envolvendo Washington principalmente, Moscou, Pequim, Seul e Tóquio. Por que não encarregar do assunto emissários especiais de países não nuclearizados e fora dos esquemas de alianças defensivas? Por que não um membro do mecanismo Brics?

Afinal, o vienense Edward Bernays precisa do seu merecido descanso, após 104 anos de existência.

Quanto vale o fim do medo? - SERGIO GUIMARÃES FERREIRA

O GLOBO - 06/04
O programa das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), iniciado em dezembro de 2008 com a ocupação da favela Santa Marta, já tem quatro anos completos.

O Instituto Pereira Passos promoveu, recentemente, um encontro para discutir a pacificação das favelas, com foco nos resultados de pesquisas em andamento que estudem os efeitos do programa. Na ocasião, o Banco Mundial divulgou o relatório "O retorno do Estado às favelas do Rio de Janeiro". O estudo se baseou em entrevistas com moradores para fazer uma análise qualitativa das diferenças entre favelas pacificadas e outras que na época não estavam com UPP. O Banco Mundial identificou que, dentre os moradores das áreas pacificadas, "a principal mudança associada à vida com a UPP foi a possibilidade de os moradores andarem pela favela com muito mais liberdade".

Oque se percebe pelo estudo é a importância do medo para o cotidiano da vida das pessoas em favelas sem policiamento pacificador. O medo influencia o horário em que se pode andar na rua, como no caso de uma moradora do Borel: "Antes (da UPP), quatro horas da tarde parecia que eles já sabiam a hora certa de começar os tiros. E era a hora mais complicada, porque a gente tinha que buscar as crianças na escola e não podia." Ou o efeito do medo sobre onde as pessoas podem ir: "Hoje, se eu quiser ir lá num canto do Chapéu, eu posso ir tranquilo porque sei que não vou encontrar um grupo armado", relatou um residente do Chapéu-Mangueira. Ou o efeito do medo sobre o direito a um sono tranquilo: "Antes eu ficava com medo até de dormir."

O direito de escolha com quem se engajar em relações comerciais também não existia. Como é bem sabido, o tráfico definia em alguns locais o monopolista na venda de botijão e até na venda de cerveja.

Qual o valor da restituição de todas essas liberdades? Economistas têm utilizado a valorização imobiliária como termômetro. O raciocínio é simples. Sendo a elasticidade de oferta de imóveis baixa, a variação brusca da demanda é quase completamente traduzida em aumento de valor do imóvel. Assim, a variação de curto prazo do preço do imóvel é uma ótima medida do valor presente do ganho de bem-estar esperado que decorre da pacificação.

Alguns estudos tentam estimar o efeito sobre o preço de imóveis de processos de pacificação em países, os chamados "dividendos da paz". Por exemplo, o efeito do acordo de "Downing Street" sobre os preços dos imóveis de Belfast teria variado entre 5% e 16% (Besley e Mueller, 2011).

Casos de aumentos imediatos de mais de 200% no valor dos imóveis transacionados em favelas como Vidigal ou Chapéu-Mangueira dão a medida aproximada do ganho de bem-estar com a mera recuperação de direitos civis básicos? Quais os dividendos da paz no Rio de Janeiro?

Cultura matemática - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 06/04

SÃO PAULO - Saiu mais um estudo mostrando que o ensino de matemática no Brasil anda em petição de miséria. A pergunta é: podemos viver sem dominar o básico da matemática? Durante muito tempo, a resposta foi sim. Aqueles que não simpatizavam muito com Pitágoras podiam simplesmente escolher carreiras nas quais os números não encontravam muito espaço, como direito, jornalismo, as humanidades e até a medicina de antigamente.

Como observa Steven Pinker, ainda hoje, nos meios universitários, é considerado aceitável que um intelectual se vanglorie de ter passado raspando em física e de ignorar o beabá da estatística. Mas ai de quem admitir nunca ter lido Joyce ou dizer que não gosta de Mozart. Sobre ele recairão olhares tão recriminadores quanto sobre o sujeito que assoa o nariz na manga da camisa.

Joyce e Mozart são ótimos, mas eles, como quase toda a cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida prática. Já a cultura científica, que muitos ainda tratam com uma ponta de desprezo, torna-se cada vez mais fundamental, mesmo para quem não pretende ser engenheiro ou seguir carreiras técnicas.

Como sobreviver à era do crédito farto sem saber calcular as armadilhas que uma taxa de juros pode esconder? Hoje, é difícil até posicionar-se de forma racional sobre políticas públicas sem assimilar toda a numeralha que idealmente as informa. Conhecimentos rudimentares de estatística são pré-requisito para compreender as novas pesquisas que trazem informações relevantes para nossa saúde e bem-estar.

A matemática está no centro de algumas das mais intrigantes especulações cosmológicas da atualidade. Se as equações da mecânica quântica indicam que existem universos paralelos, isso basta para que acreditemos neles? Ou, no rastro de Eugene Wigner, podemos nos perguntar por que diabos a matemática é tão eficaz para exprimir as leis da física.

A classe média quer TV - CELSO MING

O ESTADÃO - 06/04

A nova arrumação das classes de consumo ocorrida no Brasil nos últimos dez anos provocou mudanças em modelos de negócios que antes atendiam só as camadas mais ricas da população.

Nesse período, mais de 40 milhões de pessoas foram alçadas à classe C, perfazendo filão de mais de 100 milhões de consumidores ávidos por serviços. Além de contratar plano de saúde, viajar de avião e acessar a internet pelo smartphone, essa massa, agora com mais dinheiro no bolso, começa a ver TV por assinatura.

Entre 2011 e 2012 (os dois anos aferidos pela Agência Nacional de Telecomunicações, a Anatel), o volume de assinantes dos canais fechados no Brasil avançou 27% – veja o gráfico. Já são 17 milhões de pontos de acesso, que atingem um em cada cinco brasileiros. Nada menos que 48% dos atuais assinantes são da classe C.

Como apontam dados da Anatel, o setor ganhou mais espectadores no ano passado nas regiões do País onde está a maior parte dos consumidores recém-egressos das classes D e E: Norte, Nordeste e Centro-Oeste. É gente que sempre teve a TV como uma de suas raras opções de lazer e que, agora, busca programação mais diversificada e de maior qualidade.

A concorrência entre as prestadoras dos serviços está acirrada e os planos, cada vez mais acessíveis ao poder aquisitivo da clientela. A entrada dos grupos de telefonia no mercado colabora para maior disponibilidade de ofertas. Pacotes que incluem telefone fixo e internet rápida, além dos canais fechados (os chamados combos), chegam a ser oferecidos por R$ 80 mensais. Mas há planos mais simples, de R$ 50. O custo médio mensal da assinatura de TV no Brasil oscila em torno dos R$ 100.

A consultoria Ipso Marplan mostra que, em 2010, apenas 17% da classe C pagava para ver TV. Em 2012, esse índice subiu para 31%. Mais importante: 69% da classe C ainda não aderiu. É um bom pesqueiro a ser disputado pelas sete grandes da área (Sky, Net, Oi TV, GVT, Claro TV, CTBC TV e Vivo TV) e pelas outras 200 de menor porte.

Mas o assinante não parece satisfeito. De 2011 para 2012, as queixas à Anatel aumentaram nada menos que 94%. Por um lado, há a falta de prática dos novos clientes: parte das reclamações, de acordo com a Anatel, são dúvidas sobre o funcionamento dos serviços. Mas isso não é tudo porque a ineficiência é alta: cobranças indevidas; dificuldades para cancelamento de assinaturas; e reparos descuidados ou instalações malfeitas de cabos ou receptores de sinal via satélite são os principais problemas relatados.

Para o presidente executivo da Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA), Oscar Simões, o setor está fortemente empenhado em reverter esse quadro. “Faremos investimentos de R$ 2 bilhões até dezembro, em infraestrutura, atendimento e comunicação com os clientes.” Em mensagem enviada à Coluna, a Anatel se compromete a acompanhar esse Plano de Ação e Investimentos, apresentado em outubro de 2012 pelas sete grandes do segmento. E aposta em que, “até o final deste ano, ocorrerá considerável melhoria da qualidade”. É esperar para ver. / COLABOROU GUSTAVO SANTOS FERREIRA

A primeira-dama chinesa e a moda - MARCOS CARAMURU DE PAIVA

FOLHA DE SP - 06/04

O que definitivamente não se pode é, também nessa área da economia, ser indiferente à China


A China não está acostumada a primeiras-damas. As mulheres dos governantes nunca aparecem.

Contudo, no final de março, em mais uma manifestação de que a política está mudando de tom -e de hábitos- o presidente Xi Jinping, em sua primeira viagem internacional, desceu do avião em Moscou ao lado da mulher, Peng Liyuan.

Os chineses notaram, com surpresa, que, ao invés de ostentar as grandes grifes estrangeiras que estão no imaginário das pessoas bem-sucedidas, Peng vestia marcas nacionais.

Foi o suficiente para que o Weibo (Twitter local) corresse a divulgar quem produziu suas peças e, a partir daí, começasse uma grande discussão sobre "buy China".

A primeira-dama Peng Liyuan é uma figura conhecida. Militar, general de brigada, cantora nas Forças Armadas, integra o Comitê Consultivo do Partido. Sempre se achou que ela adicionaria leveza à figura do presidente. Mas nunca que sua primeira aparição pública tivesse tanto impacto.

No meio de comparações de seu perfil com Carla Bruni e Michelle Obama, não faltaram artigos para lembrar que a China já teve produtos nacionais valorizados. De repente, apaixonou-se pelo que vem de fora. Mas isso pode mudar.

A China é uma grande exportadora de vestimentas e acessórios. As vendas externas desses itens totalizaram US$ 159 bilhões em 2012. O que sai não tem marca. Ganha etiquetas coladas por quem importa.

Ao mesmo tempo, a febre do consumo fez dos chineses os segundos maiores compradores do luxo no mundo. O cálculo mais comumente divulgado é que eles consomem 25% dos bens nessa categoria, sendo que 55% dos consumidores das grandes grifes na Europa e nos Estados Unidos são turistas chineses.

O fator primeira-dama pode não mudar radicalmente o panorama do negócio da moda e da vestimenta. Mas traz um dado novo a um mercado já agitado.

Recentemente, alguns dos conglomerados internacionais do luxo começaram a investir em marcas chinesas de melhor qualidade, possivelmente antecipando um consumidor mais voltado para produtos locais. A Hermès, num movimento diferente, criou a Shang Xia, que nasceu em Xangai, estendeu-se a Pequim e está abrindo em Paris.

Na direção contrária, grupos chineses compraram marcas europeias que perdiam brilho, para levantá-las em casa. Os exemplos são vários: Cerruti e Gieves and Hawks, adquiridas pelo Trinity, o Lanvin, pelo taiwanês Shaw Lan Wang, a Sonya Rykiel pelo Fung Brands, a Miu Miu pelo fundo Fosun.

Em complemento a tudo isso, a China agora ganhou uma defensora poderosa das suas próprias grifes, ainda muito desconhecidas dos nacionais, apesar de algumas delas já estarem abrindo na Europa. E os analistas mais alertas dizem aos designers estrangeiros que passem a olhar o gosto oriental.

Na esteira da São Paulo Fashion Week, não há como ignorar o que está ocorrendo no negócio da moda do outro lado do mundo. Tudo leva a crer que haverá espaço para todos, inclusive para os que ainda não chegaram. O que definitivamente não se pode é, também na moda, ser indiferente à China.

Circo Brasil - ROLF KUNTZ

O ESTADO DE S. PAULO - 06/04
Se o céu ajudar, os ventos forem favoráveis e os fatos confirmarem a projeção mais otimista em circulação na praça, a economia brasileira crescerá 3,2% em 2013 e 6,94% nos três primeiros anos da presidente Dilma Rousseff. Isso equivalerá a uma média anual composta de 2,26%. Talvez ainda se possa falar de espetáculo do crescimento. Circos mambembes também anunciam espetáculos. Mas cobram pouco pelo ingresso e seus dirigentes evitam equiparar-se aos melhores do ramo.

Menos modesto e muito menos realista, o governo brasileiro insiste, no entanto, em se alinhar a emergentes muito mais dinâmicos,como se o uso de um crachá dos Brics fosse um atestado de competência e dinamismo. A presidente Dilma Rousseff esbraveja quando se cobra uma política mais eficaz contra a inflação, sem gastar um minuto para olhar outros latino-americanos, como Colômbia, Chile, Peru e México. Todos esses países têm crescido mais que o Brasil, nos últimos anos, com preços muito menos instáveis.

Este é outro detalhe do show mambembe: a inflação prevista para o ano está na vizinhança de 5,7% e mesmo essa projeção pode ser furada se as contas públicas forem administradas como até agora. Mais de uma vez, desde o fim do ano passado, o Banco Central chamou a atenção para a tendência expansionista das finanças federais. Esses componentes bastariam para fazer da exibição do Circo Brasil uma das mais constrangedoras, mas o programa oferecido ao distinto público é bem mais rico.

Outra grande atração do programa é a depredação das contas externas. O desastre poderá demorar um pouco, mas será inevitável se as tendências dos últimos seis ou sete anos forem mantidas. A partir de 2007 as importações têm sido mais dinâmicas que as exportações. Entre 2007 e 2012 o valor exportado aumentou 51%,de US$ 160,65 bilhões para US$ 242,58 bilhões, enquanto o custo dos bens importados cresceu 85%, de US$ 120,62 bilhões para US$ 223,15 bilhões. Esse poderia ser o efeito normal de uma estratégia de abertura econômica, mas a história é outra. Durante esse período o governo elevou as barreiras comerciais e o País se tornou muito mais protecionista. Esse protecionismo é parte da impropriamente chamada política industrial, mas os resultados têm sido abaixo de pífios. Com essa orientação o governo conseguiu, entre outros efeitos discutíveis, inflar os custos da Petrobrás, dificultar as compras de equipamentos para petróleo e favorecer a acomodação de alguns setores beneficiados.

Com ou sem barreiras de proteção, a indústria brasileira continua sujeita à concorrência de fabricantes mais competitivos e a erosão do saldo comercial amplia o déficit em conta corrente.

Durante algum tempo o problema foi atribuído ao real valorizado. A valorização cambial atrapalhou, de fato,masas demais desvantagens comparativas são muito mais importantes, a começar pela tributação incompatível com uma economia ligada,mesmo com limitações, ao mercado internacional. É até grotesco insistir na história do câmbio quando os caminhões se enfileiram nas estradas e o agronegócio brasileiro, um dos mais eficientes do mundo, mal consegue enviar seus produtos aos portos.

A deterioração das contas externas continua. De janeiro a março o País acumulou um déficit comercial de US$ 5,15 bilhões. Para tapar esse buraco e alcançar o superávit de US$ 15 bilhões ainda estimado pelo BC, o Brasil terá de conseguir nos nove meses restantes um saldo positivo de US$ 20,15 bilhões, maior que ode todo o ano passado, US$ 19,43 bilhões. A mediana das previsões do mercado financeiro estava em US$ 12,4 bilhões na semana passada. Em seu último informe conjuntural a Confederação Nacional da Indústria (CNI) reduziu para US$ 11,3 bilhões o saldo estimado para o ano. Em dezembro a projeção ainda era de US$ 18,1 bilhões.

O quadro fica mais feio quando se olham os detalhes: a exportação prevista é de US$ 253,4 bilhões,mais uma vez inferior à de 2011 (US$ 256 bilhões). No ano passado o valor ficou em 242,6 bilhões. A importação, US$ 242,1 bilhões, continuará em alta e será 7,03% maior que a de dois anos antes. Mesmo com o cenário internacional adverso, as vendas do agronegócio continuarão sustentando o resultado comercial. O PIB industrial, mesmo com crescimento previsto de 2,6%, continuará muito fraco, por causa das limitações estruturais. Os incentivos adotados pelo governo continuam favorecendo mais o consumo do que o investimento e a produção, mas o governo - por falha de percepção, por interesse eleitoral ou por uma combinação dos dois fatores - insiste nas medidas de curtíssimo alcance já experimentadas nos últimos dois anos.

O investimento deve aumentar 4% neste ano e puxar a expansão econômica de 3,2%,segundo a CNI. A projeção é bem menor que a divulgada em dezembro (7%), mas pelo menos indica uma composição mais saudável que a do ano passado. Se a previsão estiver correta, o valor investido mal compensará a redução de 4% registrada em 2012. Além disso, o País continuará aplicando muito menos que o necessário para sustentar durante alguns anos um crescimento econômico igual ou pouco superior a 4%. Se o Brasil investir 4%mais que em 2012 e a economia avançar os 3,2% estimados, a relação entre o investimento e o produto interno bruto (PIB) passará de 18,14% para 18,28%. Será uma variação irrisória. Além disso, o valor investido continuará muito longe dos 24% ou 25% apontados por muitos economistas como indispensáveis a um dinamismo mais parecido com o de outros emergentes.

O espetáculo mambembe do crescimento ainda se completa com cenas grotescas de avacalhação da máquina governamental. O número de ministérios aumenta, mais uma vez, para a acomodação de aliados, e mais estatais de valor muito duvidoso são criadas. O loteamento continua, com a participação de siglas e de líderes partidários afastados na faxina encenada em 2011. Mas uma boa parte do distinto público aplaude como se assistisse a um espetáculo de classe mundial.