domingo, março 31, 2013

Aprovação a Dilma mostraque o Brasil "encherga" bem - GUILHERME FIUZA

REVISTA ÉPOCA
Moradias do programa Minha Casa Minha Vida oferecem como bônus minhas goteiras, minhas rachaduras na parede
Há uma grita injustificada no caso das provas semianalfabetas do Enem. Não dá para entender tanta indignação. Há anos o governo popular vem preparando o Brasil para a grande revolução educacional, pela qual a norma culta se norteará pelo português falado nas assembléias do PT. Como se sabe, depois de uma blitz progressista da presidente Dilma Rousseff e do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, livros didáticos passaram a ensinar que é certo escrever "nós pega o peixe", entre outras formulações revolucionárias. Alguns especialistas teriam argumentado que o certo seria "nós rouba o peixe", mas isso já é discussão interna deles.

Numa das redações que levaram nota máxima no Enem, o candidato escreveu "enchergar" - com "ch" em vez de "x". Não há reparo a fazer, está perfeito o critério. Depois de três anos deixando o Enem à mercê dos picaretas, pois estava muito ocupado com sua agenda eleitoreira, Haddad elegeu-se prefeito. Um fenômeno desses jamais aconteceria num país que enxerga - só num país que "encherga". Está corretíssima, portanto, a observação por parte do estudante da nova norma culta.

Os que vêem algum erro nisso não sabem acompanhar as velozes mudanças da língua, comandadas pela nova elite. O relato de Dilma Rousseff sobre seu encontro com o papa Francisco também mereceria nota máxima no Enem. Contou a presidente: "Ele estava me "dizeno" que espera uma presença grande dos jovens (na Jornada da Juventude), na medida em que ele é o primeiro papa, ele é várias coisas primeiro". Os corretores progressistas do Enem só dariam nota 1.000 a uma construção dessas porque não existe 1.001.

O novo recorde de aprovação que acaba de ser batido pelo governo e pela "presidenta" só comporta duas explicações possíveis: ou o Brasil está "enchergando" bem, ou o Brasil está "enchergano" bem. Qualquer das duas hipóteses, porém, garante imunidade total à "presidenta" (que também é várias coisas primeira). Ela pode passear de helicóptero sobre as enchentes de Petrópolis e depois pousar, como uma enviada do Vaticano, para rezar pelas vítimas. Os desabrigados de dois anos atrás na mesma região continuam sem as casas prometidas pelo governo popular. Há famílias morando em estábulos. Alguns quilômetros serra abaixo, casas oferecidas pelo governo popular para removidos de áreas de risco foram inundadas pelas últimas chuvas. Moradias do programa Minha Casa Minha Vida oferecem como bônus minhas goteiras, minhas rachaduras na parede.

O povo deve estar "enchergano" tudo isso, porque acolhe o helicóptero de Dilma como um disco voador em missão turística e reza com ela na igreja local, pedindo proteção a não se sabe quem.

A aprovação popular ao estilo governamental de Dilma é comovente. Quem distribui as verbas federais contra enchentes é o ministro da Integração, Fernando Bezerra Coelho - aquele que mandava cerca de 80% do dinheiro para Pernambuco, por acaso seu domicílio eleitoral. As enxurradas podem levar casas e povoados inteiros, mas nada arranca Bezerra do cargo. A cada nova intempérie, é ele quem surge para rechear os comícios chorosos de Dilma com cifras voadoras, que servem basicamente para drenar as manchetes. Ainda de Roma, a chefa suprema da nação declarara que tomará "medidas drásticas" para remover os teimosos que insistem em morar em áreas de risco. O Brasil merece isso tudo.

A população culta também está "enchergano" bem. Todos chocadíssimos, batendo panela contra o pastor acusado de homofobia - nomeado para presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Quem manda na Câmara? Quem fica caçando votos dos evangélicos, distribuindo vantagens a seus líderes, como o famigerado Ministério da Pesca? "Nós pega o peixe e entrega ao pastor", reza a norma culta do governo popular. Quanto maior o rebanho, melhor a boquinha. Comissão de Direitos Humanos é troco.

Evidentemente, uma redação do Enem que enxergasse, com "x", que o Brasil e suas instituições estão emprenhados de ignorância pela indústria do populismo levaria nota zero. A revolução petista não tolera esses arroubos elitistas. Prefere receita de miojo.

Bem longe do Brasilzão - J. R. GUZZO

REVISTA EXAME

É uma ironia que a presidente Dilma Rousseff esteja falando do Ministério dos Transportes agora. Nas conversas sobre a reforma ministerial, a última coisa em que os políticos estão pensando é em melhorar os transportes

OS BRASILEIROS TIVERAM OPORTUNIDADE DE VIVER NESTES ÚLTIMOS DIAS um dos grandes momentos de uma disciplina que poderia muito bem entrar nos currículos das nossas faculdades de economia e administração. Título: "O Brasil segundo o governo e o Brasil que existe para quem vive no mundo das realidades". No Brasil oficial, a presidente Dilma Rousseff, o copresidente Lula e a tropa toda que prospera em volta deles estavam envolvidos na tarefa, altamente estratégica, de mexer daqui para lá nos ministérios. Seus labores, nessa questão, parecem incluir a criação de mais um - isso mesmo, mais um - ministério, o que nos leva a um total de 39, pelas últimas contas, e reforça a perspectiva de atingir o sonho dourado de Dilma e da companheirada: 50 ministérios ao todo, ainda em nosso tempo. No Brasil das realidades, enquanto isso, o maior comprador de soja da China, o grupo Sunrise, anunciou o cancelamento da compra de 2 milhões de toneladas de soja brasileira (valor: 1,1 bilhão de dólares) porque dos 12 navios que deveriam entregar a soja em janeiro e fevereiro só dois chegaram à China até agora. E, em português claro, o que se chama de quebra de contrato - e, por causa disso, a Sunrise pretende cancelar o negócio inteiro.

É exatamente esse o Brasil que existe para os brasileiros. O motivo do desastre com a soja é o mesmo que estava aí dez anos atrás, quando Lula e Dilma descobriram o Brasil pela segunda vez - pura, simples e grosseira incompetência na ação do governo na área de transportes. A presidente, há algum tempo, desafiou tudo e todos: "Não herdamos nada", disse ela. Parece que também não vão legar coisa nenhuma.

Em matéria de transporte, é certo que não fizeram nada de útil se nosso ritmo de entrega de grãos está na base de dois navios atracados no porto de chegada, ante 12 que foram contratados. O Brasil de verdade não consegue, simplesmente, levar a soja colhida até os portos - principalmente o de Santos, o maior de todos eles. Há imensas quantidades de soja perdidas em Mato Grosso, pois não se sabe como tirá-las de lá. Os caminhões levam nove dias para percorrer uma distância de 2 200 quilômetros, e não há a alternativa de utilizar linhas ferroviárias - invento que está para completar 200 anos de existência, mas não foi bem entendido até hoje pelos governos brasileiros. Os caminhões que conseguem chegar ao destino formam filas apavorantes, pois a capacidade de escoamento dos portos é uma piada. A possibilidade de armazenar a soja é outra: para 180 milhões de toneladas de grãos colhidas, a capacidade atual dos silos brasileiros não chega a 150 milhões.

E uma notável ironia que justo neste momento a presidente da República esteja falando muito a respeito do Ministério dos Transportes, dentro das conversas sobre "reforma" ministerial - mas a última coisa em que ela, Lula e os políticos à sua volta estão pensando é em melhorar o que quer que seja nos transportes brasileiros. Nem sabem (e não querem ficar sabendo) que há filas de caminhões nos portos, que mais de 1 bilhão de dólares foi jogado fora nas operações de exportação de soja para a China ou que há grãos apodrecendo no pé nas áreas produtoras. Seu único e exclusivo interesse é decidir quem vai para o emprego de ministro; o tema "transporte", para todos eles, começa e acaba aí. O resto do mundo em que vivem não é melhor. O deputado Valdemar Costa Neto, atualmente condenado a sete anos e dez meses de cadeia por corrupção, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, terá voz na "reforma" de Dilma, na sua condição de grão-comendador do PR? O ex-ministro do Trabalho Carlos Lupi, demitido por suspeitas de ladroagem, parece que está mandando de novo no pedaço. Anuncia-se a criação do Ministério das Pequenas Empresas, a última coisa neste mundo que pode servir a uma pequena empresa - seu problema não é a falta de um ministério, e sim o excesso de fiscais de todos os tipos que a extorquem dia após dia.

Este, sim, é o nosso Brasilzão.

Por que o homem é galinha? - WALCYR CARRASCO

REVISTA ÉPOCA
 O homem quer é um harém. Sua educação segue o modelo apache - quanto mais escalpos, melhor

Tenho um amigo que foi casado por quatro anos. É ator, embora não famoso. Aprontava. Nas viagens de um espetáculo em que atuava, fazia a festa com as colegas de elenco. O casamento entrou em crise. A mulher quis ter um filho. Ele se recusou, sob o argumento de que o momento não era apropriado. Pretendia investir na carreira de ator, entrar para a televisão. Ela se separou. Voltou a se relacionar com um antigo namorado. Em dois meses, estava grávida. O garoto já nasceu, e seu novo casamento continua sólido. Meu amigo se lamenta até hoje. Sente-se traído: - Como ela pôde gostar de outro tão depressa? Pura frustração. Sabe perfeitamente que o culpado foi ele. Primeiro, por sair com outras em todas as oportunidades. Segundo, por se negar a ter um filho em função de seus objetivos pessoais, sem oferecer espaço para um projeto em comum do casal. Sofre até hoje, mas não mudou de atitude. Nem quer mais um relacionamento, só transas eventuais. Se a garota telefona nos dias seguintes, não dá conversa. Faz de tudo para não se envolver.

Meu amigo segue o padrão de comportamento masculino tradicional. Espera-se que um homem conquiste muitas mulheres. É um modelo pré-histórico, quando o troglodita simplesmente arrebatava a fêmea. Ou, como aconteceu em várias civilizações, quando os sultões montavam haréns. As coitadas passavam o tempo brigando e tratavam de ficar belas para atrair a atenção do poderoso. Montar um harém, eis o desejo masculino. A figura do marinheiro que tinha uma mulher em cada porto ainda preenche a imaginação. Ou melhor, a lendária figura de Don Juan, para quem toda mulher é objeto de desfrute.

A educação de um garoto segue o modelo apache: quantos mais escalpos, melhor. O menino é ensinado a conquistar, sem dar atenção aos sentimentos alheios. Isso é tão forte na formação de um homem que, muitas vezes, o padrão permanece, mesmo que o sujeito tenha orientação sexual diferente. Amigos gays já me contaram, triunfantes, suas relações rápidas em saunas e baladas. Em 1998, o cantor George Michael, no auge do sucesso, foi preso por atentado ao pudor num banheiro público. Existe lugar menos romântico que um banheiro público? lésbicas procuram um relacionamento estável. Segundo uma piada, duas lésbicas se conhecem numa noite e, no dia seguinte, uma leva a mala para a casa da outra. E dois gays... que dia seguinte? Sei que os heterossexuais se assustarão com a comparação.

Mas é o que digo: homens são incentivados a ser galinhas. Boa parte segue essa trilha ao longo da vida. Muitos se sentem mais satisfeitos em fazer alarde de sua última conquista tomando cerveja com a turma do que com qualquer outra coisa. É uma reunião de pavões abrindo as caudas, em que cada um fala da mulher com quem saiu.

- Tive de usar a maior lábia, mas rolou.

- No início ela era difícil, mas sou bom nesse negócio. Adoram se fazer de difíceis:

- Ela tá pegando no meu pé, mas não tou a fim.

- Não gosto de mulher que corre atrás.

Muitos se orgulham de não assumir compromissos:

- Quero minha liberdade.

- Não gosto de cobrança.

Como se fosse possível ter um relacionamento em que um faz o que quer, sem que a outra metade tenha direito de reclamar.

Galinhas, tenho uma má notícia! A mulher está dando a contrapartida. Mulher galinha sempre existiu, é claro. Mas era malvista. As amigas falavam mal. Muitas preferiam nem se relacionar com alguma conhecida que adotasse esse comportamento. Hoje não. Já conheci duas garotas que vão a baladas para "pegar" algum homem. Se interessadas, dão em cima. Conquistam. Até fiquei chocado, quando soube que uma delas às vezes sai com um, vai para o motel. Depois, volta para a balada e agarra outro. Não, não é profissional do sexo. Sente-se tranquila em contar para as amigas.

- Peguei aquele lá.

Não quer saber de compromisso - como muitas de suas amigas. Nem pensa em ter filhos tão cedo. Se o rapaz liga no dia seguinte, diz que está ocupada. Estar junto se torna algo ainda mais eventual.

Sempre achei que o homem galinha trata a mulher com falta de dignidade. O surgimento da mulher que vai à luta consolida a liberação feminina. Na minha opinião, está longe de ser um avanço. Fugir de relacionamentos não torna a pessoa excessivamente superficial? A emoção pra valer, o coração que bate mais forte, cadê?

Amar, dividir a vida, ainda é o melhor que pode acontecer com uma pessoa.

A exumação de um cadáver - CLÁUDIO DE MOURA CASTRO

REVISTA VEJA

"Esperava-se que os profissionais fossem para empregos cujo nome se assemelhava ao do curso. Hoje ocorre a "desprofissionalização" dos diplomas"



Quando parecia sepultada e descansando de uma vida maldita, exuma-se a idéia de que o estado deve regular a oferta de cursos superiores privados. Ou seja, impedir que os incautos proprietários de faculdades invistam errado, pois o MEC sabe onde está o mercado para advogados ou médicos. Pensemos: quem sabe de mercado, o dono da faculdade que arrisca sua empresa ou um funcionário do MEC, pontificando sob o manto da impunidade -e sabe-se lá com que agenda latente?

Em Brasília, o representante de uma associação médica declarou: "Não há mais mercado para médicos, assim mostram os indicadores da OMS". Ironia do destino, nesse evento, falou antes dele Jarbas Passarinho. Narrou que, em sua gestão como ministro da Educação (1970), foi procurado pela mesma associação, ouvindo idêntica afirmativa. Desde então, o número de faculdades de medicina cresceu quatro vezes. O mercado deveria estar ainda mais saturado, pois a população cresceu muito menos. Conmdo, não há estatística sugerindo saturação dos mercados. Pelo contrário, a carreira é recordista de candidatos por vaga.

Se novas faculdades fossem para onde há poucos doutores por habitante, não existiriam os grandes centros médicos. E as escolas localizadas em regiões pobres formariam profissionais de qualidade ainda pior (o papel de andar na contramão do mercado é para o ensino público).

Como definir se um mercado está saturado? Pela teoria econômica, será o caso se os salários dos graduados não são comensuráveis com os custos de estudar ou, no limite, se eles estão desempregados. Segundo as pesquisas, quatro anos de faculdade dobram os salários e não há desemprego significativo nesse nível.

No passado, esperava-se que os profissionais fossem para empregos cujo nome se assemelhava ao do curso. Hoje, tal como nos países ricos, ocorre a "desprofissionalização" dos diplomas. Exercem a profissão menos de 20% dos advogados, 10% dos economistas e 5% dos filósofos. Haveria que cortar 95% das matrículas em filosofia? Não. pois os quatro anos de graduação se converteram, para a maioria, em uma educação "genérica", que prepara para exercer ocupações meio indefinidas. Nada errado.

Os lobbies médicos disfarçam a retranca na abertura de cursos como proteção da qualidade. Pura falácia- mal escondendo um conluio entre governo e corporativismo. Em vez de definir a geografia da demanda, o certo é impor padrões de qualidade rígidos aos novos cursos. E, sem apertar o cerco aos cursos e profissionais ruins que aí estão, adia-se para a próxima geração um atendimento correto. Ou seja, fechar a torneira dos novos cursos é apenas garantir o monopólio dos velhos, livres da concorrência de intrusos.

A boa solução é conhecida de todos e temida pelos menos confiantes na sua competência: filtrar pelo Enade. E também por exames de ordem para médicos - como fazem os advogados. Assim se faz nos Estados Unidos e nessa direção caminha o estado de São Paulo.

A prova da OAB é uma bela solução. Formam- se muitos bacharéis em direito. Alguns vão vender terrenos, outros trabalharão na empresa do pai. Os melhores passam nas provas da ordem, assegurando um nível mínimo de competência nas cones de Justiça. Todos ganham.

Curiosamente, há na OAB quem não abençoa o seu belo sistema e quer fazer a mesma besteira das associações médicas: restringir a criação de cursos, decretando onde não há demanda. No mundo real, quem acha a demanda são os novos advogados e médicos, não os governos e lobbies. Se fossem piores os mercados nas regiões pobres, mesmo os profissionais que lá se formassem tampouco ficariam.

Para melhorar a qualidade dos cursos, há o Enade e outras provas, em paralelo a um acompanhamento rigoroso do MEC. A retranca para a abertura de faculdades-como ocorre hoje no ensino a distância - em nada beneficia a qualidade, embora impeça a saudável concorrência entre os cursos. Não passa de uma ação visando a beneficiar financeiramente quem já entrou, sejam faculdades, sejam profissionais. Protege o interesse deles e não da sociedade.


O que os homens esperam das mulheres - RUTH DE AQUINO

REVISTA ÉPOCA

Tenho a impressão de que eles gostariam apenas que elas parassem de reclamar deles


"Talvez os homens sejam realmente mais básicos ou tenham expectativas mais reais. De minha parte, espero sobretudo que minha mulher me ame, seja companheira, leal, que me motive a andar para a frente, e que sejamos felizes juntos.”

Reproduzo acima o que ouvi de um amigo após a edição da revista ÉPOCA com um especial dedicado a 50 anos de feminismo. O título era “O que as mulheres esperam dos homens”. Em 1963, a mulher tentava escapar da armadilha de mãe doméstica, submissa e dependente, sem direito a divórcio. Era a pré-história da pílula anticoncepcional.

Hoje, meio século depois, me incomoda a maneira como meninas e meninos são educados pelas mães e pelos pais. A menina, desde que nasce, é “a princesinha”. Veste rosa, pinta as unhas e faz festa de castelo encantado. De tanto ouvir que é princesa, desejará um príncipe mais tarde. O menino é tratado como um super-herói, um durão. Seu nome raramente é falado no diminutivo em casa. Mimamos a “Flavinha” e estimulamos o “Paulão”. Por que a família e a escola perpetuam esses papéis e o desencontro na vida adulta?

Como o homem costuma falar menos e ocupa as posições de poder, a mídia relega os machos a um segundo plano. Isso até os favorece, porque não são tratados como um bloco homogêneo. Segundo estudos, a mulher fala 20 mil palavras por dia, e o homem 7 mil. O triplo, será? Para alguns especialistas em linguagem, isso não passa de mito. Se levarmos a generalização ao extremo, os assuntos favoritos costumam ser diferentes.

“Homem fala de futebol e mulher. Mulher fala, fala, fala...De empregada, filhos, sapatos, bolsas, cabelos, homens.” Esse é o comentário de um amigo poeta e provocador. Perguntei o que ele espera de uma mulher. “Que seja inteligente, sedutora, não fale muito e seja boa de cama.” Machista ou básico? Também prefiro homens que não sejam tagarelas e apreciem a cama não só para dormir. Mulheres que se queixam de falta de preliminares devem perguntar-se: eu me debruço sobre o corpo de meu parceiro ou fico deitada aguardando carinhos? Mãos à obra, moças.

Reportagens sobre gêneros costumam concluir que “eles” estão confusos, perdidos e precisam de uma revolução, já que “elas” fizeram a sua. Será que os homens concordam? Duvido. Tenho a impressão, nada científica, de que os homens gostariam apenas que as mulheres parassem de reclamar deles o tempo todo. Ou reclamam deles ou da falta deles.

“As mulheres nunca parecem satisfeitas com nada. Se eles fazem o lanchinho do bebê, elas acham que não fazem direito. Se buscam o filho na escola, ah... por que não corrigiram o dever de casa? Uma lamúria sem fim”, disse uma amiga minha, mãe e profissional bem-sucedida, após ler ÉPOCA. “Acho as mulheres muito chatas. E os homens, à medida que vão se parecendo mais com as mulheres, ficam também cada vez mais chatos.”

Perguntei a um amigo, separado, pai de adolescentes e recém-casado novamente, como ele se sente. “De fato, é muito difícil ser esse macho ideal, que mata um leão por dia no trabalho e ainda precisa levá-la para jantar, cortejá-la, diverti-la e comê-la ardorosamente”.

O que a mulher espera de um homem mudou pouco. Encontrei, num mercado do Brooklyn, em Nova York, um cartão-postal de 1941 sobre “your ideal love mate” (seu amor ideal). A imagem é de um homem de cabelos bem cortados e gravata – bem parecido com o da capa de ÉPOCA. A descrição: “O companheiro ideal é um homem com coração grande, caloroso. Impulsivo, mas com profundo senso de valores. Assume riscos, mas não riscos tolos. Encara suas responsabilidades sem hesitar, é honesto e gentil. Tem um talento real para aproveitar a vida e ajuda sua mulher a aproveitar a dela”. Esse perfil tem mais de 70 anos. Semelhante ao de agora?

O homem deseja o mesmo de sua mulher. Indagado sobre o segredo de 50 anos de casamento com a mesma mulher, tema de um de seus livros, o escritor americano Gay Talese respondeu: “Paciência e bom sexo”. Concordo. De ambos os lados. O ponto alto do especial de ÉPOCA é a entrevista com a socióloga americana Stephanie Coontz. O feminismo do século XXI é sobre defender pessoas e não gêneros. Há quem acredite na besteira de que o mundo é diferente quando dirigido por mulheres. Não sei onde.

A melhor pergunta hoje – especialmente quando vemos o mala do pastor Feliciano agarrado à função insustentável de defensor de direitos humanos – seria: “O que as pessoas esperam das pessoas?”. Que não sejam hipócritas é um bom começo
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O grande mito - CAETANO VELOSO

O GLOBO - 31/03

Se a Comissão fizer algo útil e justo, mesmo sob Feliciano, aplaudirei a Comissão. O que não quer dizer que aplaudo a escolha do seu presidente.


A pauta da primeira reunião da Comissão de Direitos Humanos e Minorias sob a presidência de Marco Feliciano foi o grave caso da contaminação por chumbo na cidade de Santo Amaro da Purificação, no estado da Bahia. Feliciano disse aos reclamantes que eles teriam sucesso em suas demandas se tivessem o apoio de ruidosos manifestantes, como os que desejam destituí-lo. Bem, ele não o disse nessas palavras, mas redigi como pude o que captei do sentido de sua fala. Participei de uma manifestação pela saída de Feliciano e já mencionei brevemente aqui que acho inapropriada a escolha do seu nome para o cargo. Mas usei muito mais espaço quando, faz algum tempo, tratei da questão do chumbo em minha cidade. Nossas respostas públicas ao andamento dos fatos políticos são quase inevitavelmente desproporcionais. Nesse caso, a minha não foi: dou muito maior importância à questão da violência ambiental que Santo Amaro sofreu e sofre do que ao disparate que é a escolha do presidente da Comissão. Não estou dizendo que aquela questão é objetivamente mais importante do que esta (talvez o seja), mas que pessoalmente dou muito maior importância à questão santamarense. Se a Comissão fizer algo útil e justo a respeito, mesmo sob Feliciano, aplaudirei a Comissão. O que não quer dizer que aplaudo a escolha do seu presidente.

Vi Feliciano no programa “Agora é tarde”, de Danilo Gentili. Achei boa a entrevista. Tanto o apresentador quanto o entrevistado se saíram bem. Gentili foi irreverente e um tanto obsceno (parece que é esse o tom do programa), e Feliciano foi firme (sem deixar de ser levado pela ousadia de Gentili, tendo chegado, na ânsia de mostrar que não se assombrava com coisa nenhuma, a soar um tanto obsceno ele próprio). Gentili conseguiu dizer diretamente a ele coisas que a maioria das pessoas que veem seu programa (e muitas que não veem) gostariam de poder dizer. Numa determinada altura, por causa da história de não admitir que suas filhas se expusessem a ver “dois homens barbados e com as pernas raspadas se beijando”, Feliciano disse que a sociedade brasileira não está preparada para isso. Bom, o passo seguinte seria: então preparemo-la. De fato, a frase do pastor esconde um “ainda”. O diálogo aberto entre Gentili e ele, na TV, pareceu contribuir consideravelmente para essa preparação. O melhor momento do pastor foi quando ele disse que é um deputado eleito com muitos votos e, portanto, representa um aspecto da mentalidade do povo. O pior foi quando, tendo de responder sobre sexo anal heterossexual (que Gentili chamou de “transar pela bunda”, expressão que foi, pelo menos em parte, repetida por Feliciano), ele se saiu com uma restrição higiênica, chamando o ânus de “um esgoto”. Agostinho já notara, com muito maior elegância, que nascemos “entre fezes e urina”.

Vi hoje na internet (estou gripado) uma briga bastante feia entre, de um lado, Marco Feliciano e Silas Malafaia, e, de outro, Edir Macedo. O bispo editou imagens de umbanda (que ele chama de “sessão espírita”) ao lado de cenas de possessão pelo Espírito Santo de fiéis de igrejas pentecostais. Estampando a pergunta: “Qual a diferença?” Com isso dizendo que esses rodopios e esse lançar-se ao chão dos evangélicos é algo tão suspeitamente demoníaco quanto os rituais afro-brasileiros. As respostas dos dois pastores são muito bem articuladas. Vale a pena ver no YouTube: basta escrever “Feliciano responde a Edir Macedo” (Silas aparece logo ao lado). Ambos dizem que a Universal de Macedo já fez e faz muita coisa igualmente parecida com aqueles ritos. Mais sério: Moisés faz o galho virar serpente, os feiticeiros do faraó também fazem, mas a serpente de Moisés engole as deles: Deus é maior que quaisquer manifestações do demônio. Os três líderes religiosos parecem estar lutando por clientela. Para um homem não religioso como eu, é o que fica evidente.

Vi Mautner no Jô. Sou um homem não religioso? Ouvi-o dizer que o Brasil e sua amálgama são a nova coisa, que salvaremos o mundo. Na luta contra os malditos que envenenaram minha terra, invoquei Nossa Senhora da Purificação. Lendo “O mundo líquido”, de Bauman, aprendi que os países em desenvolvimento estão fadados à desgraça. Mas tendo a pensar que a política econômica mal explicada de Dilmantega (sugestões como as de André Nassif , Carmem Feijó e Eliane Araújo sendo cruamente rejeitadas) nos atrasa em relação aos outros países para nos resguardar de um sucesso dentro do que ainda não é o que devemos ser. Nossa Senhora da Purificação de Santo Amaro, o Jesus de Nazaré do Mautner, o Dom Sebastião de Agostinho, é isso que minha alma intui que nos guia a algo acima dessa lixeira.

EDUARDO E DILMA - AGAMENON

O GLOBO - 31/03

Devido à minha idade provecta e avantajada, O Globo me mandou fazer um check up completo (“compreto é 100 real) para avaliar o meu estado físico e mental. Quando estava no posto do SUS tirando sangue, um enfermeiro acertou a minha veia poética e, por isso mesmo, a minha coluna hoje não é para ser lida mas para ser cantada. E cantada com a melodia imortal de “Eduardo e Mônica”, o clássico da banda Religião Urbana celebrizado na voz do inesquecível poeta Renato Tá Russo.

EDUARDO & DILMA

Quem um dia irá dizer que a situação
Vai virar oposição? E quem irá dizer
Que foi em pleno sertão?

Eduardo abriu o verbo e resolveu se candidatar
Seus deputados então se dispuseram
Enquanto Dilma partiu pro ataque
Num palanque da cidade
Que os elegeram

Eduardo e Dilma um dia se estranharam sem querer
E conversaram muito tempo pra tentar se reeleger
Foi um carinha do governo do Eduardo que disse
-Tem uma vaga legal e a gente quer se divertir
Vaga estranha, com gente esquisita
-E a presidenta não é nem bonita
E a Dilma riu do neto do Arraes
O boyzinho de olho azul, que queria impressionar
E o Eduardo, meio tonto, só pensava no Minha Casa
-Essa mulher é macho, eu vou me ferrar

Eduardo e Dilma pegaram o microfone
Depois discursaram e resolveram se enfrentar
O Eduardo sugeriu às sete
Mas a Dilma disse que tinha que viajar
Se encontraram então no PAC da cidade
A Dilma tem mais voto e o Eduardo tem apelo
O Eduardo achou estranho e melhor nem comentar
Mas a Dilma só queria espremê-lo

Eduardo e Dilma eram super parecidos
Ela tem 65% e ele o Serra nem tem 16%
Ela coçava o saco e tinha um vozeirão
E ele, coitado, é descendente de holandês
Ela gostava do Lula e do Brizola
Da Ana Carolina, da Gadu
Da Bethânia e do Rimbaud
E o Eduardo quase amarela
Pensando na galera que votou no seu avô
Ela mandava em todo o Planalto Central
Em autarquia e em repartição
E o Eduardo ainda estava
No esquema escola, hospital, poço e inauguração

E, mesmo ela sendo dirigente
E ele pouco influente
Alguém pagou pra ver
E os dois se descascavam todo dia
E a raiva crescia
Mais que a do FHC

Eduardo e Dilma fizeram transposição, fotografia
Teatro, artesanato e foram se catar
A Dilma explicava pro Eduardo
Como os ministérios podem se multiplicar
Ele parou de tremer, deixou o cabelo cair
E decidiu se lançar
E ela se tocou no fim do mês
Que ele um dia ia lhe largar
E os dois pensaram no assunto
E juraram de pés juntos que vão se ver depois
E todo mundo diz que ele vai jantar ela e vice-versa
Que nem baião de dois

Quase armaram um barraco uma semana atrás
Mais ou menos quando as cheias vieram
Batalharam verba convocaram geral
Os puxa sacos todos que puderam
Eduardo e Dilma querem ficar em Brasília
E o resto é intriga da situação
Só que em 2014 não vão se esbarrar
Porque o netinho do Arraes
Quer ganhar a eleição

Quem um dia irá dizer que a situação
Vai virar oposição? E quem irá dizer
Que foi em pleno sertão?

***

Vejam só o estádio a que chegamos! A Defesa Civil interditou o Engenhão depois de descobrir que ele está ameaçado de desabar. E o que é pior: a obra custou o triplo do que já tinha sido roubado.

Agamenon Mendes Pedreira não é o coelhinho da Páscoa mas deu de presente uma cenoura e dois ovos para a Isaura, a sua patroa.

Na parede - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 31/03

Existem diversas maneiras de se conhecer uma pessoa, não só através do que ela diz, mas também através de seus gostos, atitudes, preferências, escolhas. Por exemplo, uma das maneiras de sermos traduzidos é avaliarem o que penduramos na parede. O que as suas paredes revelam sobre você?

Lembro do quarto da minha infância. Na parede atrás da cama havia o quadro de uma menininha de tranças, com as palmas das mãos unidas, rezando ao lado do seu gatinho. Não era escolha minha, mas eu não desgostava, era uma imagem que me transmitia conforto e segurança. Aí veio a adolescência, e a menininha rezando foi trocada por um pôster do David Cassidy. Começava ali a manifestação pessoal das minhas transformações internas.

Assim que minhas filhas tiveram seus próprios quartos, permiti que usassem as paredes como preferissem. A casa é dos pais, mas o quarto é território de livre expressão, onde seu ocupante começa a criar o quebra-cabeça da sua identidade.

Circulam por suas paredes cartazes de shows, fotos de amigos, desenhos de próprio punho, cartões-postais. Aliás, cartões-postais é uma paixão familiar: no meu escritório, emoldurei dezenas deles reunidos. Nenhum com imagens de cidades, nada de paisagens convencionais – são cartões artísticos que trazem propagandas de filmes, fotos em preto e branco, estímulos visuais os mais variados. Cada um desses cartões reflete as coisas que amo: cinema, música, poesia, humor, erotismo, cotidiano. Um caleidoscópio estimulante e que me situa – olho para eles e me sinto em casa, mesmo.

Pessoas usam as paredes para pendurar calendários, relógios, fotos de família, espelhos, objetos trazidos de viagens, mandalas, telas de seus pintores preferidos, imagens ligadas ao esporte, tudo que traga substância e prazer para conduzir os dias. Ou mantém as paredes nuas, que também é uma forma de expressão – o minimalismo comunica tanto quanto. A parede é o antepassado do Facebook, só que é uma página mais íntima e acolhedora: apenas têm acesso aqueles que fazem parte do nosso universo real, off-line.

Desperdício é quando a parede é utilizada com um fim apenas decorativo, sem nenhuma sintonia com os sentimentos e com a identidade do morador. O uso das paredes de forma protocolar, burocrática, torna a casa mais triste do que alegre, por total falta de inspiração do proprietário.

Use suas paredes. Troque as cores de vez em quando. Mude os quadros de lugar. Crie os seus. Invente moda. Acabo de encomendar com o superdiretor de arte Moisés Bettim uma tela que traz Woody Allen pintado ao estilo Andy Warhol – viva a pop art. Onde pendurarei?

Sei lá: na sala, no quarto, no banheiro, na cozinha, na sacada ou possivelmente no nicho que me serve de escritório – os cartões-postais hão de gostar da companhia. E a casa, preenchida de uma atmosfera tão diversa, habitada por tantos apelos e referências, ficará ainda mais parecida comigo.

Todo cuidado é pouco - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 30/03

O secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, desde o episódio em que teria dito que o Brasil precisaria de um “chute no traseiro” para acelerar os preparativos da Copa, pensa duas vezes... antes de não dizer nada.

Mas este episódio do Engenhão acendeu a luz vermelha na Fifa em relação à correria para completar os estádios.
Técnicos ligados ao Comitê Local foram acionados para fazer uma rigorosa inspeção nos aspectos estruturais dos campos.

Aliás...
O canal National Geographic já fez um programa sobre a “maravilhosa cobertura do Engenhão”.

Mas...
O fato é que, embora não faça parte dos estádios da Copa, a interdição do Engenhão fez um estrago na imagem do Brasil no exterior.

Por falar em Copa...
A Rússia quer aproveitar a Copa no Brasil para realizar alguns eventos de promoção do Mundial 2018, que será lá.

Imortal FH
O que se diz é que FH já tem 30 votos num colégio eleitoral de 38 para ingressar na ABL.
A conferir.

De mãos dadas
Dilma marcou para este mês de abril um encontro com Lula.

Vão conversar sobre economia e pesquisas eleitorais.

Salve, Glória
“Salve Jorge”, pela escolha do tema principal, o tráfico humano, foi elogiada no site italiano Infooggi.it.
A reportagem fala sobre a ousadia de Glória Perez em tratar do tema.

Fome de viver
Ruy Castro entregou os originais de seu novo livro à editora Foz.

Chama-se “Morrer de prazer”. Revela a paixão do autor pelos anos 60, pelo cinema, pelas mulheres, pelas cidades, enfim, sua fome de viver.

Vai ser lançado em junho, numa turnê por várias capitais do país.

Família Callado
Antonio Callado vai ganhar uma fotobiografia. Está sendo organizada pela viúva, Ana Arruda, e por Heloísa Bulcão.
Dois netos do autor de “Quarup”, Júlio e Clara, também fazem parte da equipe de criação.

O livro vai ser lançado pela Companhia Editora de Pernambuco.

Sonhos do lenhador
A Galerinha Record vai relançar a obra infantojuvenil de Malba Tahan com novo projeto gráfico. “Os sonhos do lenhador” e outros três livros chegam às livrarias em edição ilustrada e colorida.

Malba Tahan, para quem não sabe, é o pseudônimo do professor Júlio César de Mello e Souza (1895 a 1974), que ficou famoso com o livro “O homem que calculava”.

As centenárias 
O Centro Psiquiátrico do Rio de Janeiro, na Gamboa, recebeu este tesouro. Três irmãs de 101, 98 e 95 anos, preocupadas 
com o futuro do seu acervo de dois mil LPs, doaram tudo para a instituição. Entre as raridades, há este disco acima de Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade. Nele, os poetas recitam suas poesias.

A ideia é transformar o acervo em CDs e formar uma grande discoteca, que ficará à disposição dos pacientes.

Peça do Papa
O musical “Enlace, a loja do ourives”, baseado em peça escrita pelo Papa João Paulo II, estreia em julho no Centro Cultural João Nogueira, antigo Imperator, na Zona Norte do Rio.

A peça de Karol Wojtyla, o Papa, foi escrita em 1960. Ele foi ator na juventude e teve uma forte ligação com o teatro.

Segue...
O musical, sem conteúdo religioso, conta histórias de amor passando por momentos fundamentais da História.

No elenco, estará Cláudia Ohana. A superprodução faz parte da programação da Jornada Mundial da Juventude.

Só para perucas
O salão Maison Vitalícia, em Ipanema, contratou um profissional de corte, lavagem, secagem e penteados especiais de perucas.

Os cortes mais pedidos são o franjão de Michelle Obama e o curtíssimo corte de Ana Maria Braga.

Elis, em musical
Dennis Carvalho vai dirigir “Elis —o musical”, que a Aventura Entretenimento estreia em outubro.
O texto é de Nelson Motta.

Tentativa de compreensão - FERREIRA GULLAR

FOLHA DE SP - 31/03

Esse revolucionarismo retardado, na maioria dos países, foi uma fantasia passageira


Talvez que, para melhor entender o atual neopopulismo que chegou ao governo de alguns países latino-americanos, convenha lembrar o que ocorreu antes, logo após a Revolução Cubana, de 1959.

A tomada do poder pelos guerrilheiros de Fidel Castro levou alguns setores da esquerda latino-americana a embarcar na aventura da luta armada, de desastrosas consequências. Os Estados Unidos, que haviam aprendido a lição cubana, trataram de induzir os militares da região a substituir governos eleitos por ditaduras militares.

Nesse quadro, a exceção foi a chegada ao poder, pelo voto, de um partido de esquerda, elegendo Salvador Allende, no Chile, com o apoio da Democracia Cristã, que dele se afastou quando o viu refém da extrema esquerda.

O resultado disso foi o que se conhece: Allende foi deposto e morto, dando lugar à ditadura de Augusto Pinochet. Todos os movimentos guerrilheiros foram sistematicamente dizimados nos diversos países onde surgiram, e com eles a esquerda moderada.

As ditaduras militares, durante décadas, lançando mão da tortura e eliminação física dos adversários, tornaram inviável a vida democrática nesses países. Mas se desgastaram e tiveram que, finalmente, devolver o poder aos civis.

Em cada país isso ocorreu em momentos diversos e com características próprias. No Brasil, por exemplo, essa passagem se fez mediante um acordo que resultou em anistia geral e irrestrita, o que, sem dúvida, facilitou a reimplantação do regime democrático.

Não obstante, aqui como noutros países, esse retorno à democracia não significou o abandono, por todos, dos propósitos revolucionários.

Em alguns deles, os antigos guerrilheiros se reorganizaram em partidos que, implícita ou explicitamente, ainda que disputando eleições, visavam a implantação do regime socialista a que, antes, tentaram alcançar pelas armas.

Esse é um fenômeno curioso, especialmente porque se manteve mesmo após a derrocada do sistema socialista mundial e quando, com o fim da União Soviética, o regime cubano entrou em visível decadência e passou a fazer concessões ao capital norte-americano, que, então, voltou a explorar a hotelaria e o turismo, o que, para os revolucionários de 59, havia transformado Cuba num prostíbulo.

Mas esse revolucionarismo retardado, na maioria dos países, foi uma fantasia passageira, uma vez que, na disputa eleitoral, ficou provado que a maioria da opinião pública rejeitava as palavras de ordem radicais.

No Brasil, após várias derrotas, Lula exigiu que o PT abrisse mão do radicalismo, ou ele não se candidataria mais. Sem outra alternativa, o partido o atendeu e publicou uma Carta ao Povo Brasileiro, em que abria mão do revolucionarismo de palavra e, graças a isso, conseguiu ganhar as eleições de 2002.

Mas não parou aí, pois, para governar, Lula teve que aliar-se até com os evangélicos, numa total negação de seus princípios ideológicos. Claro que, para aparentar fidelidade a suas origens e satisfazer discordâncias internas, estatizou tudo o que pode, enquanto usava o dinheiro público, por meio do BNDES, para financiar grandes empresas privadas.

Esse é o dilema dos neopopulistas latino-americanos: usam discurso de esquerda e governam fazendo acordos e concessões que sempre condenaram. No discurso de Hugo Chávez, por exemplo, os Estados Unidos apareciam como o capeta, mas é para eles que a Venezuela vende quase todo o seu petróleo.

Sei que é impossível fazer política sem fazer concessões. Não é isso que critico, portanto. O que pretendo mostrar é como a esquerda, que se dizia radicalmente comprometida com os princípios anticapitalistas, ao perceber a inviabilidade de seu projeto ideológico, converteu-se, na prática, em seu contrário, mantendo, não obstante, o mesmo discurso de antes.

O mais patético exemplo disso é mesmo o chavismo, que, agora sem o Chávez, deve tomar um rumo imprevisível.

É certo, também, que o neopopulismo, valendo-se do assistencialismo e do discurso esquerdista, inviabilizou a esquerda moderada, que ficou sem discurso. O Brasil é exemplo disso. Lula se apropriou dos programas sociais e econômicos do governo anterior, contra os quais lutara ferozmente, e ainda os qualificou de herança maldita.

Adeus ao trema - LUIS FERNANDO VERÍSSIMO

O ESTADÃO - 31/03

A reforma ortográfica acabou com o trema, e só então me dei conta de que eu nunca o tinha usado. Sempre o ignorei. Os revisores, se quisessem, que acrescentassem os tremas onde cabiam. Por vontade própria, nunca botei olhos de cobra em cima de nenhum u.

E agora que o trema desapareceu oficialmente, fiquei com remorso. Como me penitenciar? Peço só mais uma oportunidade para compensar meu descaso com o trema usando-o num texto. Li que, com a reforma, o trema só continua a ser usado legitimamente em nomes estrangeiro como Müller e Anaïs. Uma história para Müller e Anaïs, portanto. Atenção, revisor: mantenha todos os tremas.

Uma história com seqüência e conseqüência.

Talvez uma história policial: a dupla Müller e Anaïs atrás de delinqüentes.

Ou uma história de excessos eqüestres levando ao uso freqüente de ungüentos.

Ou uma simples cena doméstica. Müller e Anaïs na cozinha do seu apartamento, eqüidistantes de um pingüim em cima da geladeira. Müller acaba de chegar da rua com um pacote.

- Anaïs, esse pingüim...

- Quequitem?

- Eu não agüento esse pingüim, Anaïs.

- Ele está aí há cinqüenta anos e só agora você nota?

- Cinqüenta anos, Anaïs?

- Está bem, cinco. Um qüinqüênio.

- Um qüinqüênio?

- Um qüinqüênio. E vai ficar aí outro qüinqüênio.

- Não se usa mais pingüim em geladeira, Anaïs. É uma coisa do passado. Como o trema.

- Pois eu gosto e está acabado. O que você trouxe nesse pacote?

- O que mais poderia ser? Lingüiças. As ultimas com trema que tinham no super.

Pronto. Acho que estou redimido. Adeus, trema. E desculpe qualquer coisa.

SEIOS

Lembro de ter lido, há algum tempo, que um carregamento de seios postiços a caminho da Austrália tinha desaparecido. Não posso descrever minha alegria ao ler a notícia. Abandonei, imediatamente, toda preocupação com desastres naturais e econômicos e me entreguei a especulações sobre o fato insólito, ou, no caso, fofo. A notícia não trazia muitos detalhes. Aparentemente, tinham perdido contato com um navio carregado com 120 mil seios postiços – ou 60 mil pares, não sei. A localização do navio quando desaparecera não era revelada.

Se fosse no Oceano Indico – especulei alegremente – a explicação podia ser um ataque de piratas da Somália, que teriam ocupado o navio, aberto os seus porões, mergulhado de ponta-cabeça na carga, gritando “Alá seja louvado!” e no momento discutiam o valor do seio postiço no mercado para cobrar o resgate.

O navio poderia ter naufragado, o que imediatamente sugeria a imagem de 120 mil seios boiando no oceano.

– Piloto de avião de busca para base: acho que localizei destroços do naufrágio, boiando sugestivamente na superfície. Cambio.

Náufrago abandonado na proverbial ilha deserta vê seios e mais seios chegarem na praia. Olha para o céu, abre os braços e grita: “Que parte do meu pedido você não entendeu, Senhor?!”

Mas o maior mistério de todos era: o que 120 mil seios postiços iam fazer na Austrália? Neste ponto deixei de me divertir com a notícia. Tive uma visão pungente de 60 mil travestis australianos esperando, inutilmente, no porto.

O oceano e uma conchinha - FABRÍCIO CARPINEJAR

ZERO HORA - 31/03

Encontrei uma senhora com sacolas de mercado subindo as escadas do hospital.

Perguntei se poderia ajudar. Minha mãe sempre me ensinou que não custa nada ser educado.

Carreguei as sacolas até o terceiro andar. Ela se despediu com um beijo em minha testa.

– Vá com Deus, meu anjo.

Fiquei levemente encabulado, minha testa estava úmida, e ela secou meu suor com seu beijo.

Içara, soube mais tarde, acompanhava seu marido André.

Ele tem câncer em estado avançado, metástase nos ossos. Situação grave.

Os dois partilham um casamento de 30 anos. São amigos de minha amiga Cíntia Moscovich.

Já testemunhei o casal abraçado, tomando vinho, comendo risoto, cantando músicas em bar no Moinhos de Vento.

Não lembrei de sua feição na hora. Quando ofereci ajuda, jurei que era uma estranha.

Mostrava-se toda abatida, acuada pela tristeza, as olheiras de coador de café.

Eu me desculpei quando a revi subindo a ladeira da Ramiro Barcelos. Expliquei que não a reconheci naquele dia.

Ela concordou comigo.

– Tampouco me reconheço, querido.

Sua simplicidade, sua humildade, sua honestidade me desarmaram.

Já não queria carregar suas sacolas, mas seus olhos.

Içara sofre monstruosidades. Sofre essa viuvez devagar. Essa viuvez vindo. Essa viuvez injusta informando seu coração pouco a pouco da tragédia.

Içara vive sendo enganada pela esperança e não desiste de acordar, dormir, acordar, dormir.

Com a fé exausta, me encarou profundamente. Colocou as mãos em meus ombros e pediu para que eu rezasse por uma coisa.

Uma única coisa. Nem era capaz de pedir para seu marido melhorar. Nem era capaz de suplicar o retorno da rotina.

Nem era doida de encomendar milagre, de que eles possam viajar para Grécia, admirar os afrescos da Itália, partilhar novamente de música, gastronomia e literatura.

Içara pede uma só coisa, uma só coisinha: dormir mais uma noite de conchinha com seu marido. Uma só noite soletrando a respiração do seu homem.

Uma só noite com as pernas entrelaçadas, as cabeças encostadas para igual horizonte. Uma só noite com a paz dos lençóis de casa e os travesseiros lavados. Uma só noite despertando ao mesmo tempo, com a mesma vontade de mate e varanda.

Só dormir de conchinha mais uma vez. Uma noite fora do hospital, do soro, do medo de morrer.

Uma noite absolutamente normal. A normalidade no amor é a perfeição.

A arte e o artista - TOSTÃO

FOLHA DE SP - 31/03

Messi, pela média muito maior de gols e pela regularidade, está, tecnicamente, acima de Maradona


Uma correção. Na coluna anterior, escrevi que a seleção tem vários problemas, mas que não está tão ruim nem totalmente desatualizada na parte tática. Retiraram a palavra totalmente. Ficou como se a seleção estivesse atualizada. Mudou o sentido. Escrevo, há mais de dez anos, que o futebol brasileiro não sabe marcar por pressão, deixa muitos espaços entre os setores, atua com zagueiros encostados à grande área, que há muita distância entre o jogador mais recuado e o mais adiantado e que depende demais das jogadas aéreas e de lances individuais e esporádicos.

Espanha e Alemanha são as duas melhores seleções. O Brasil não está entre as quatro melhores, mas, por jogar em casa, é a quarta com mais chances de ganhar a Copa. A Argentina é a terceira. Se o Mundial não fosse em casa, as possibilidades do Brasil seriam mínimas.

A Espanha, mesmo sem um ótimo atacante, é a melhor. Sobram craques no meio-campo, além de vários excelentes defensores. Contra a França, como na Copa de 2010, a Espanha, fora de casa, dominou a partida, ficou quase todo o tempo com a bola, fez um gol e segurou o placar.

Critiquei, várias vezes, Vicente del Bosque por escalar dois volantes (Busquets e Xabi Alonso) mais Xavi. O Barcelona atua com Xavi e um volante (Busquets). Agora, compreendo o técnico. Além de melhorar muito a marcação, Xabi Alonso é excepcional, mestre no passe rápido, para a frente e para o atacante livre, antes que chegue o zagueiro.

A Alemanha possui um ótimo conjunto, como a Espanha, porém tem menos craques. Nas duas últimas partidas, o técnico, por causa das contusões dos dois centroavantes, Mario Gómez e Klose, colocou, mais à frente, o jovem e brilhante meia de ligação Götze, reserva de Özil. O técnico deve ter gostado. Ele tem a chance de escalar mais um craque.

A Argentina possui o melhor quarteto ofensivo entre as seleções, formado por Messi, Higuaín, Agüero e Di Maria. Faltam reservas à altura dos quatro. A Argentina, após a chegada do treinador e a saída dos zagueiros veteranos, arrumou a defesa, que era o ponto fraco.

Messi sabe que precisa ser campeão e brilhar intensamente para ficar na história acima de Maradona. Tecnicamente, já está, por ter uma média muito maior de gols e pela regularidade. Messi é humilde, simples, discreto, mas é também ambicioso, como todo craque.

O maior compromisso de um grande talento, em qualquer atividade, é com sua arte, com sua paixão. Não é com o sucesso, a fama e o dinheiro. Por isso e para evoluir, o craque precisa se dedicar bastante à sua técnica, além de atuar ao lado e contra os melhores atletas e times. Imagine se Messi jogasse em uma grande equipe da Argentina. Seria excepcional, mas não seria Messi. Seria um Neymar.

Peitos pelo progresso - JOÃO UBALDO RIBEIRO

O GLOBO - 31/03

Como já tive oportunidade de comentar aqui diversas vezes, Itaparica sempre esteve na vanguarda e não raro puxou o bonde nacional. Assim foi quando, depois de os aturarmos durante quase um ano, na época do padre Vieira, enchemos o saco de tantos vanderdiques e vanderleis e botamos os holandeses da ilha para fora — e tudo às carreiras, tanto assim que vários ficaram para trás, para usufruto das conterrâneas mais necessitadas ou mais assanhadinhas, assim se originando as flores que são nossas mulatas de olhos verdes, as quais vem gente de todo o mundo para conhecer. Quase dois séculos mais tarde, se não fosse a ilha, talvez não houvesse independência, pois a convicção dos historiadores sérios é de que o grito do Ipiranga não passou de gogó e sair mesmo no tapa com os portugueses foi na ilha e redondezas.

E não é somente nessa história mais remota que nos destacamos, mas, por exemplo, finado Lamartine, Deus o tenha, contava que um certo coronel Veiga, do tempo em que Lamartine era menino, recebeu um telegrama do Rio de Janeiro, enviado no dia 9 de novembro de 1889, dizendo o seguinte: “MEU CORONEL VG COUSA ESTAH FEIA PT PROCLAMO OU NAO PROCLAMO REPUBLICA INT AGUARDO PREZADAS INSTRUCCOENS PT SAUDACOENS VG SEU CRIADO DEODORO.” Quis, todavia, o dedo ingrato do destino que esse 9 de novembro caísse num sábado, o que atrasou um pouco o telegrama, que só chegou no sábado seguinte, dia 16, quando a desgraça, quer dizer, a república já estava feita. Lamartine lembrava que o coronel xingou o telégrafo até morrer, argumentando que o atraso o fizera cometer uma desfeita contra Pedro II, com quem sempre tivera bom trato.

Em matéria de modas, das filosóficas e artísticas às de aparência e comportamento, tampouco ficamos atrás. Manda a honestidade reconhecer que nunca fomos ditadores da moda, se bem que, no tempo em que o navio atracava na ponte em frente à pensão de Anita, o desfile das moças à espera do desembarque fosse mais elegante e colorido do que em muitas passarelas do Sul do País. Mas também se frise que, embora acompanhemos as preferências mais modernas, jamais incorremos em imitação servil e até por vezes marchamos, como se diz hoje em dia, na contramão de certas tendências, como o que aconteceu com a discutida questão da qualidade de vida.

A qualidade de vida até que pareceu que ia pegar e Beré de Babau chegou a fundar uma academia de ginástica aeróbica com trilhas sonoras de Michael Jackson, mas diz o povo que Babau ficava espiando as alunas e aí Beré deu uns cachações nele e se despediu da carreira de magistério. Sobrou somente Badego que todo dia, chova ou faça sol, sai andando acelerado de costa a contracosta, mas se sabe que Badego, excelente e educadíssima pessoa, por todos admirado, nunca regulou bem da ideia, qualquer um no Mercado corrobora. Gugu Galo Ruço, que é várias vezes rico milionário em Salvador e vem à ilha treinar deitar na rede, me esclareceu a posição que prevalece na terra.

— O problema — disse ele — é que, para garantir qualidade de vida, a gente tem que sacrificar muito a qualidade de vida. Faz cada exercício medonho, come regrado, não come açúcar, não come gordura, não come carne vermelha, não come conserva, metade do prato é capim, não fuma, bebe uma merreca de um dedal de vinho por dia, não perde noite, não toma porre, passa o dia inteiro bebendo água, tem que ter muita abnegação.

— Mas assim você garante uma boa qualidade de vida na velhice.

— E na velhice eu vou poder fazer todas essas coisas?

— Não, claro que não. Não é isso o que…

— Quer dizer, não faço nem na mocidade nem na velhice, é isso? Assim, ou eu vivo ou tenho qualidade de vida. Eu cheguei à conclusão de que viver é preferível.

Mas pelo menos uma moda contemporânea parece que vai ter melhor destino, a julgar pelo que foi revelado em primeira mão, no largo da Quitanda, por Zecamunista. Ele, sempre muito interessado no papel político das mulheres, vem acompanhando com grande interesse os protestos, cada vez mais numerosos, em que elas aparecem com os seios à mostra, para denunciar leis iníquas, abusos de poder e discriminação de todos os tipos.

— Ontem mesmo eu vi na internet uma manifestação fantástica — contou ele. — Uma coisa de um vigor impressionante, não há massa que não fique mobilizada. Tinha uma delegação norueguesa muito boa, até agora estou impressionado.

— E a manifestação era contra o quê?

— Bem, eu não me lembro, na hora eu não percebi, também não se pode assimilar tudo, vou ter que ver mais algumas vezes ainda, vou precisar.

— Vai precisar?

— Não se meta a engraçado, eu sou um homem sério e um feminista de respeito, um paladino das mulheres. Eu vou canalizar o potencial das mulheres aqui da ilha, mais uma vez. Vou fundar uma ONG chamada Peitos Cívicos da Ilha e tenho certeza de que em breve seremos uma das entidades mais temidas do Brasil. Os poderosos tremerão, quando anunciarem que as soldadas dos Peitos Cívicos chegaram, vai ser mais devastador do que a cavalaria para os índios americanos, vai ser peito pulando por todos os lados, um massacre!

— Eu não acredito que isso dê certo.

— Nem eu — disse ele. — Mas tem muita mulher precisando de uma desculpa correta para mostrar os peitos. É uma colaboração da minha parte, eu sempre procuro apoiar a mulher.

"Big Data" - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 31/03

SÃO PAULO - Acaba de sair nos EUA o ótimo "Big Data: Uma Revolução que Transformará Vidas, Trabalho e Pensamento", de Viktor Mayer-Schonberger e Kenneth Cukier. Apesar do subtítulo grandiloquente, não se trata de um daqueles exageros bem ao gosto de editores.

A dificuldade de obter dados sempre foi um obstáculo para a ciência. Foi para contorná-la que desenvolvemos conceitos como amostragem e as ferramentas estatísticas para interpretá-los. Mas hoje, com o avanço das tecnologias da informação, é relativamente fácil armazenar quantidades antes inimagináveis de dados e analisá-los, descobrindo correlações das quais nem suspeitávamos.

As possibilidades são tremendas. Buscas no Google indicam com rapidez e precisão o avanço de epidemias, o Twitter diz quais filmes serão "blockbusters", sabemos até que é mais seguro comprar um carro usado laranja do que de outras cores (por alguma razão, seus donos são mais cuidadosos). Isso muda a forma de fazer ciência e de ganhar dinheiro.

O sucesso da Amazon (onde comprei meu "Big Data") está em oferecer ao cliente aquilo que o algoritmo diz que ele vai comprar. Funciona.

Os autores, embora reconheçam virtudes no "big data", não são evangelistas. Eles apontam os muitos riscos envolvidos. No plano epistemológico, vale lembrar que correlação não é causa e, para descobrir o porquê das coisas, ainda precisaremos de teorias e experimentos controlados.

Na seara da filosofia, as coisas são mais inquietantes. À medida que os modelos se sofisticam, ficam melhores em prever comportamentos. Já conseguimos identificar motoristas com maior probabilidade de provocar acidentes, pessoas mais propensas a ficar doentes e criminosos com mais chance de reincidir. Como devemos usar essas informações? Podemos punir preventivamente o sujeito que está prestes a cometer um delito? Será que a autonomia e o livre-arbítrio sobrevivem à era do "big data"?

O assunto do dia - DANUZA LEÃO

FOLHA DE SP - 31/03

Assim é essa PEC; imperfeita, e dando pânico de contratar uma nova funcionária


Quem sempre teve uma relação correta com sua empregada está tranquilo. Afinal, férias, 13º, INSS, são coisas que nem precisariam de lei para existir, e além de serem justas, fazem com que as relações entre empregada/empregador sejam amenas e pacíficas, o que torna a vida melhor para todos.

Mas nenhuma lei é perfeita, vide a proibição de dirigir depois de beber; se é possível se recusar a fazer o teste, que lei é essa?

Uma das coisas mal resolvidas é a carga horária. A ideia é que sejam até 44 horas semanais, praticamente nove horas de trabalho de segunda a sexta, o que é demais para qualquer mortal, já que esse trabalho é, na maior parte das vezes, físico, e descansar uma hora, no meio do expediente, como, onde? Na sala, vendo TV?

Por outro lado, não há quem precise de uma doméstica tantas horas seguidas, a não ser uma família com pai, mãe e quatro filhos, em que ninguém arruma sua cama, as roupas são largadas pelo chão, cada um almoça e janta na hora que quer, e aí nem as nove horas diárias vão ser suficientes. Já pensou, explicar aos adolescentes -e seus amigos, já que eles só andam em turma- que não dá para pedir vários lanchinhos várias vezes por dia?

Por tudo isso e mais alguma coisa, acho que esqueceram de falar, nessa nova lei, da remuneração por hora de trabalho. Afinal, o horário de uma diarista varia: existem as que trabalham duas horas, três, quatro ou cinco -e outras, nove.

Os que moram em apartamentos grandes vão precisar de uma empregada em tempo integral e vão pagar por isso; mas para quem vive num quarto e sala, duas horas de trabalho, duas vezes por semana, são mais do que suficientes.

É claro que o preço para duas horas não é o mesmo que para nove, e quem tem um emprego de duas horas, duas vezes por semana, pode perfeitamente ter mais dois ou três (empregos).

E mais: se o empregador tiver que pagar auxílio-creche, auxílio-colégio, salário família e estabilidade em caso de gravidez, então só sendo milionário para poder ter uma empregada. Aliás, só pra saber: se for estipulado o preço da hora de trabalho, o preço vai ser o mesmo para quem mora em Caxias e o quem tem uma cobertura com piscina na Delfim Moreira? Só pra saber.

Tenho passado as noites em claro, apavorada, já que sou totalmente dependente de uma ajuda doméstica. Já tive vários tipos de vida, desde morar em apartamento grande e ter três empregadas, a um pequeno conjugado onde alguém vinha uma vez por semana dar aquele toque de talento que Deus não me deu.

Que felicidade, entrar numa casa, seja ela imensa ou mínima, e sentir que por ali passou uma abençoada mão de fada. Eu troco essa ajuda por qualquer vestido, qualquer carro, qualquer viagem, qualquer joia, porque para mim esse é o maior dos luxos: uma casa bem arrumada e cheirosa.

E espero que as novas leis me permitam, sempre, pagar o que merece a dona desse talento, que para mim vale ouro. Mas a partir de agora vou prestar atenção e contratar mães de filhos já crescidos, até porque em qualquer lugar do mundo a obrigação de dar creche e colégio é do governo.

Assim é essa PEC; imperfeita, e dando pânico de contratar uma nova funcionária. E se não der certo? Demitir vai sair tão caro que trabalhar como arrumadeira será praticamente ter estabilidade no emprego, como os funcionários públicos; e demissão, praticamente, só por justa causa.

Aliás, o que é que caracteriza a justa causa? As empregadoras não sabem, mas pergunte a qualquer candidata a um emprego doméstico; todas elas sabem, na ponta da língua, o que não podem fazer, para não correrem o risco de uma justa causa.

É curioso o mundo moderno: um marido pode ser dispensado por incompatibilidade de gênios, e uma empregada doméstica não.

Sobre dores e alegrias - IVES GANDRA MARTINS FILHO

CORREIO BRAZILIENSE - 31/03
Num domingo de Páscoa, passado o sofrimento da Paixão de Cristo, recordado nas cerimônias da semana santa, o contraste entre a dor do início e a alegria do final é matéria de reflexão, pois o alternar de dias "fas" e "nefas", alguns de angústia profunda e outros de euforia contagiante, parece ser característico da condição humana. O romance de G. K.Chesterton (1874-1936) O homem que foi quinta-feira, de 1908, pode servir de fio condutor para essa reflexão, na linha do estudo feito sobre a obra por Ian Boyd (Revista Communio, junho 2009).

Gabriel Syme, o personagem central, alista-se no serviço secreto de combate ao anarquismo, infiltrando-se na principal organização anarquista mundial, comandada por conselho também secreto, formado por pessoas que levam o nome dos 7 dias da semana, cabendo-lhe a quinta-feira.

Ao passar pelas aventuras mais inverossímeis, as perseguições mais
estressantes e sofrimentos atrozes, revolta-se contra quem comanda as duas organizações. Após um dos membros do conselho perguntar ao misterioso Domingo, com a simplicidade de um menino, "por que fui tão maltratado", Syme também questiona o chefe: "E o senhor? Já sofreu alguma vez?"

Em todo o livro, a única citação bíblica é dada nesse momento pelo Domingo: "Ouviu-se uma voz distante recitar um lugar-comum ouvido antes nalguma parte: Podes beber na mesma taça em que eu bebo?"

Syme acaba por intuir a explicação de todos esses sofrimentos e angústias, de todas as suas aventuras, ao fim das quais não sabia de que lado realmente estava. E brada no conselho dos dias: "Mas escutem! Vou lhes dizer qual é o segredo do mundo. É que, do mundo, só conhecemos as costas. Tudo é visto por trás, e isso é brutal... Não veem que tudo está voltado de costas e esconde o rosto? Se pudéssemos dar a volta e ficar de frente..."

Chesterton nos quer dizer, não só nesse romance metafórico, mas em toda a extensa obra da qual Ortodoxia, publicado no mesmo ano de 1908, é a joia suprema, que a vida só se compreende numa perspectiva criacionista, de um Deus que fez tudo benfeito, mas deu liberdade às criaturas racionais como única forma de saber se O amavam. E o mau uso da liberdade levou à desordem universal, de cujos efeitos todos nós padecemos.

No capítulo "A moral do país das fadas", de Ortodoxia, Chesterton enuncia seu "princípio da felicidade condicional": tudo nos é permitido, desde que aceitemos a única coisa que nos é vedada. O mistério das limitações morais não é maior do que o mistério da própria Criação, fantástica e estonteante em suas maravilhas. Nesse sentido, imagina um diálogo surrealista entre Cinderela e a fada madrinha:

Por que tenho que voltar à meia-noite?, questiona-se Cinderela, como petulante adolescente.

Então me responda primeiro porque podes ficar lá até a meia-noite?

 Se a dádiva da carruagem, vestidos, cavalos e cocheiros é fantástica e não questionada, a condição para recebê-los não será menos incompreensível. Mas existe. E, se a condição é quebrada, o mundo vira de pernas para o ar...

Só um Deus para consertar tudo isso, vindo participar das vicissitudes humanas, sofrendo mais do que todos e resgatando o que havia se perdido. É o Domingo, Senhor que promove o bem e permite o mal para dele tirar um bem maior. Em geral, os romances e novelas mais cativantes são os mais dramáticos.

Chesterton dirá que, se a vida é um pesadelo (A nigthmare é o subtítulo do The man who was Thursday), é um pesadelo agradável. Quaisquer que sejam os sofrimentos, eles são incidentais. É o otimismo visceral de quem vê o mundo em perspectiva cristã, no qual se abraça a cruz de cada dia com bom humor à prova de bomba.

Assim, se do mundo só conhecemos as costas, pois a face de Deus nos está oculta, podemos clamar: "Senhor, quero ver o teu rosto", mas não sem antes responder que "podemos" e queremos acompanhá-lo ao beber o cálice da dor. Voltamos, desse modo, à paradoxal alegria chestertoniana, que nos faz recuperar, purificadas, todas as coisas, tendo começado por correicionar a nós mesmos.

Mente e matéria - MARCELO GLEISER

FOLHA DE SP - 31/03

O desafio é que não podemos investigar a mente de fora para dentro. A mente tem de entender a si própria


Continuando minha discussão sobre as "Três Origens", após a origem da vida e do Universo nas semanas anteriores, hoje trato do tema talvez mais complexo: nossa mente. Minha intenção é apenas levantar alguns pontos que, espero, poderão inspirar debates sobre o assunto.

Foi Descartes quem, no século 17, famosamente escreveu "penso, logo existo". Para ele, mente e matéria eram coisas separadas. Nossa capacidade de reflexão não poderia ser reduzida a processos meramente materiais. A essência da razão é o pensamento, e a da matéria é a extensão.

E já que a física lida com processos materiais, a mente não é uma entidade física. O dualismo de Descartes garante que a física pode ser aplicada à matéria sem se enrolar tentando explicar a mente.

Hoje, essa separação não vinga. Existe apenas matéria, ou pelo menos não temos razão para supor que exista uma entidade imaterial capaz de interagir com a matéria. Do ponto de vista científico, algo imaterial não pode interagir com a matéria. Se existe uma interação, deve ser descrita pelas leis da física. Num exemplo meio prosaico, se alguém crê ter visto um fantasma, esse fantasma emitiu radiação eletromagnética no visível. Para ser visto, o fantasma interagiu com seu sistema visual e é uma entidade física, não tendo nada de sobrenatural.

Nosso cérebro, pesando em torno de 1,3 kg e com 86 bilhões de neurônios-um número que, graças à pesquisa de Suzanna Herculano-Houzel, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é bem menor do que os populares 100 bilhões- é a entidade mais complexa que conhecemos. A questão central das ciências cognitivas é saber como a rede neuronal, coligada através de trilhões de sinapses, gera a mente. Outra, é saber como a mente gera a consciência, que pode ser definida como a capacidade que temos de refletir sobre nós mesmos.

De certa forma, existe um paralelo entre a origem da mente e a da vida. Podemos entender a vida como uma propriedade emergente da matéria, algo que ocorre quando as reações químicas em um volume isolado (a célula) tornam-se capazes de se alimentar e de se reproduzir de forma autônoma. Seguindo o paralelo, a mente é uma propriedade emergente do cérebro, que ocorre quando o cérebro atinge um certo nível de complexidade neuronal. Ninguém sabe como ainda.

Existe também o aspecto evolucionário, as mudanças no cérebro desde espécies mais primitivas até o homem. A inteligência atua em níveis diversos, e defini-la é um problema. Existe o conceito de inteligência coletiva (formigas e abelhas), inteligência emocional e inteligência como capacidade de adquirir e aplicar conhecimento. A inteligência vem da arquitetura cerebral e está relacionada de forma não óbvia com o tamanho e nível de atividade neuronal. Se entendêssemos inteligência, já teríamos fabricado inteligência artificial.

O desafio que a mente nos apresenta é que, tal como o Cosmo, não podemos investigá-la de fora para dentro. A mente tem de entender a si própria. Mas atualmente não sabemos nem menos se a mente começa e termina no indivíduo ou se existem ligações entre indivíduos ou mesmo entre o indivíduo e o Cosmo. Mas isso fica para outra semana.

O pastor é pop - VERA MAGALHÃES

FOLHA DE SP - 31/03

O PSC tem razões eleitorais para manter Marco Feliciano (SP) à frente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara até o limite. O partido calcula que o pastor, sob fogo cerrado de militantes que o acusam de racismo e homofobia, triplicará em 2014 os 211 mil votos que teve em 2010. Com isso, ajudará a eleger uma bancada paulista da sigla, da qual é hoje o único deputado. Um dado corrobora o cálculo: o aumento de filiações desde que começaram os protestos para derrubá-lo.

Em casa 1 Em reunião com os diretórios regionais, na semana passada, a direção do PT colheu diagnóstico de que Eduardo Campos sofrerá resistência nos Estados governados pelo PSB para levar adiante sua postulação à Presidência em 2014.

Em casa 2 Petistas relataram que os governadores de Amapá, Espírito Santo, Piauí e Paraíba teriam dificuldades de se reeleger sem PT e PMDB nas alianças locais, a despeito de declarações públicas de apoio à candidatura própria.

Campanha já A Juventude do PSB criou uma fanpage de Eduardo Campos no Facebook. Na apresentação do pessebista na Associação Paulista de Municípios, em Santos, na sexta-feira, devem aparecer os primeiros gritos de guerra e material impresso com referências a 2014.

Festa no interior Depois de promover ato festivo em prol de Aécio Neves na semana passada, o presidente do PSDB-SP, Pedro Tobias, organizará rodada de "imersão" do senador mineiro e presidenciável tucano com deputados estaduais, vereadores e prefeitos da sigla no Estado.

Rede VIP A Rede, de Marina Silva, criou um perfil no Instagram com fotos de várias personalidades assinando o manifesto em favor do novo partido. Foram clicados os músicos Paulo Tatit e Jorge Mautner, a atriz Letícia Spiller e a apresentadora de TV Marina Person, entre outros.

Hospitalidade Durante visita do ex-presidente Lula a Doha, no Qatar, em 2011, a embaixada brasileira enviou telegrama ao Itamaraty reclamando da falta de recursos. Pedia verbas para "despesas extraordinárias" com a chegada do petista, como "compra bebidas alcoólicas, caras em países muçulmanos".

Queimando... O governo federal estuda um pacote de medidas para conter a onda de assaltos a caixas eletrônicos no país. O plano prevê a troca do dispositivo que libera tinta vermelha nas notas em caso de roubo por outro, que queima e inutiliza cédulas automaticamente.

... dinheiro Esse método está em uso, ainda em fase de testes, nos EUA. Interlocutores do governo afirmam que o processo passa por análise jurídica. Para ser implementado, depende também de aval do Banco Central.

Câmera lenta Na volta do feriado, ministros de tribunais esperam que Dilma Rousseff decida sobre as indicações paradas para a Justiça desde o ano passado. Além da vaga de Carlos Ayres Britto no Supremo Tribunal Federal, há três listas para cadeiras no Superior Tribunal de Justiça sobre a mesa.

Gaveta cheia Além das indicações para os tribunais superiores, a presidente tem de deliberar sobre mais de 30 promoções de juízes para tribunais federais e eleitorais. Mais: outro ministro do STJ se aposentará em julho.

Sem axé Mal chegou à Secretaria da Fazenda de Salvador, o ex-titular das Finanças da Prefeitura de São Paulo Mauro Ricardo já é foco de queixas dos políticos, graças ao projeto de reforma tributária que o prefeito ACM Neto (DEM) mandou para a Câmara e a ordem do secretário para fechar a torneira de gastos.

Leão O prefeito de Campinas, Jonas Donizete (PSB), enviou projeto de lei à Câmara para que ele, os secretários e ocupantes de cargos de confiança informem anualmente a evolução patrimonial declarada no Imposto de Renda. Hoje só se faz isso no início e no fim do mandato.

Tiroteio
PMDB e PDT podem indicar deputados para o ministério, mas o PR não pode. Por quê? Sendo assim, melhor deixar o Paulo Passos.
DE LUCIANO CASTRO (RR), deputado federal do PR, sobre a resistência de Dilma Rousseff de aceitar um nome da bancada para a pasta dos Transportes.

Contraponto


Santo de casa


Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann convidaram o casal Ideli Salvatti e Jefferson Figueiredo para jantar em sua casa, em Brasília. Receberam de presente garrafas de cerveja tipo escura, da cervejaria artesanal do marido da ministra da articulação política. Bernardo tomou a bebida no dia seguinte, e mandou um torpedo agradecendo.

-Gostei muito, mas ainda prefiro a loira -opinou, sendo gentil tanto com a colega quanto com a mulher.

Atrás da cortina - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 31/03

O governo Dilma não está se mexendo ostensivamente nem vai colocar a mão na massa, mas tem interesse na reforma política. Os petistas têm dois objetivos básicos: deixar sem tempo de TV partidos a serem criados (como o Rede) e abrir uma janela para a troca de partidos. O objetivo: criar obstáculos para a candidatura de Marina Silva e criar condições para minguar a oposição.

Com o ‘JN’ na cabeça
A candidata do partido Rede, Marina Silva, precisa que a criação de seu partido esteja aprovada pelo TSE até 20 de setembro para que ele tenha pouco mais dez dias para filiar futuros candidatos em todo país. Seus dirigentes avaliam que sua única possibilidade de aliança é com o PPS. A despeito disso não temem o pouco tempo de propaganda na TV. Foi 1m23s nas eleições de 2010.O deputado Alfredo Sirkis (RJ) diz que “o fundamental é todos os dias aparecer no Jornal Nacional” (TV Globo). E explica: “Os eleitores prestam mais atenção no noticiário que no horário eleitoral”.


“O meu futuro político depende do saldo que eu tiver depois de realizar as Olimpíadas de 2016”
Eduardo Paes Prefeito do Rio de Janeiro

Mudança de guarda
Os novos líderes do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), e na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), querem colocar os seus no governo Dilma. Um dos alvos de cobiça é a Infraero.

Tinha uma pedra
O secretário-geral do PSD, Saulo Queiroz, conta que seu partido foi formado em quatro meses, por isso
avalia que Marina Silva tem condições de viabilizar seu partido, o Rede. Mas alerta: é preciso colocar a mão na massa. E explica: “Nós enfrentamos brutal oposição. Tivemos que recolher mais de 800 mil assinaturas para que fossem validadas 550 mil”. Ele não crê que o Rede enfrentará tantas barreiras. 

Drama da oposição
Pesquisas encomendadas pelo DEM constatam que Dilma não tem o carisma do ex-presidente Lula nem a mesma rejeição ou oposição. Dilma tem mais intenções de voto nas elites e entre os ricos do que Lula teve.

Marinho é o ponto de convergência
A candidatura de Luiz Marinho ao governo de São Paulo ganha musculatura no PT.

O prefeito de São Bernardo do Campo continua dizendo publicamente que não quer ser o adversário do governador Geraldo Alckmin (SP). Mas a cúpula do PT paulista está se curvando ao ex-presidente Lula e por lá são muitos os que dizem que é a “melhor alternativa” e “o candidato mais viável”.

A oposição tem pressa
Os aliados do candidato tucano ao Planalto, senador Aécio Neves (MG), querem que ele organize logo os palanques de seus aliados nos estados. Alegam que ele precisa cacifá-los para ter quem ajude a puxar votos. Justificam: um candidato a governador que hoje tem 15%, sem apoio, cai para 8%.

O que vai pelo mundo
É conhecida a rixa entre o COI e a FIFA e a rivalidade entre os eventos Copa do Mundo e Olimpíadas. O Brasil não podia ficar de fora dessa disputa de vaidades. No COB, corre solto que “A Copa do Mundo é o evento teste das Olimpíadas”.


O MINISTRO Edison Lobão (Minas e Energia) está tirando o time de campo. Ele não pretende disputar o governo do Maranhão. Alega que é hora de renovar.

Lenta piora na situação macroeconômica - JOSÉ ROBERTO MENDONÇA DE BARROS

O Estado de S.Paulo - 31/03

As condições macroeconômicas vêm piorando lenta e firmemente no Brasil. Minha percepção é de que isso vai se consolidar ainda mais ao longo do ano. Os gráficos acima ilustram o que foi dito. Comecemos pelo setor externo: a balança comercial vem se enfraquecendo repetidamente, pois de um saldo de quase US$ 50 bilhões em 2007, atingimos US$ 14 bilhões para os 12 meses terminados em fevereiro.

Na MB, projetamos um número de US$ 7,5 bilhões para o ano de 2013, decorrente da ampliação do déficit do petróleo (inclusive por conta de mais de US$ 4 bilhões em compras internadas no ano passado, mas só registradas neste exercício), do contínuo enfraquecimento das exportações de manufaturados (que caíram 19% em fevereiro frente o mesmo período do ano passado) e de uma expansão mais modesta da receita da venda de produtos básicos ao exterior, em razão de menores cotações.

O possível colapso cambial da Argentina, a difícil situação da Venezuela na área externa e a significativa piora no cenário europeu reforçam nossa percepção, inclusive reduzindo o estímulo ao crescimento do PIB. Ao mesmo tempo, o déficit de conta corrente vem piorando significativamente, como se vê no gráfico 1. Nos 12 meses terminados em fevereiro, o déficit já atingiu US$ 63,5 bilhões e o próprio Banco Central projeta US$ 68 bilhões para este ano.

Nós, na MB, trabalhamos com um déficit de US$ 72 bilhões. Certamente esse número ainda é financiável sem grandes dificuldades, mas, pela primeira vez, o déficit não será coberto pela entrada de investimento direto, que projetamos encerrar o ano com US$ 55 bilhões, inferior aos US$ 63,7 bilhões apurados nos 12 meses encerrados em fevereiro. O enfraquecimento contínuo da nossa competitividade e a menor atratividade do País como o destino de investimentos levam a essa situação.

A segunda área onde a tendência de piora é evidente é a da inflação. O gráfico número 2 mostra a contínua elevação dos preços desde meados do ano passado, tendo o IPCA-15 em 12 meses atingido 6,4% em março. Pior que isso é a contínua elevação do índice de difusão, segundo o qual 75% das 365 categorias de preços e serviços tiveram elevação neste mês. E não é uma elevação qualquer, pois nada menos que 30% de todas as categorias de preços subiram mais de 10% nos últimos 12 meses. Ou seja, estamos falando de uma elevação generalizada de preços.

Finalmente, a política fiscal é cada vez mais expansionista e mais opaca. O festival de truques contábeis já passou há muito tempo do razoável, e é responsável, por exemplo, por uma ressalva no balanço no BNDES, exigido pelos auditores, como mostrou o Estadonesta semana. Ao mesmo tempo, o verdadeiro orçamento paralelo em que se transformaram os restos a pagar do Tesouro Nacional tornam de muito pouco valor a estatística do resultado primário como indicador válido da política fiscal. É por isso que, como muitos outros analistas, olhamos para a evolução da dívida bruta como indicador da sanidade das finanças e, neste caso, há uma piora evidente, como se vê no gráfico número 3.

Não é de surpreender que a confiança do consumidor esteja francamente em baixa há vários meses, a despeito da reduzida taxa de desemprego que temos até agora. Do lado da produção, a confiança da indústria também não decola (gráfico 4). É por isso que a perspectiva de elevação dos investimentos é cada vez menor, exceto pela forte recuperação da demanda de caminhões em virtude da grande safra agrícola atual. O teto para o crescimento do PIB continua em 3%.

A qualidade da política econômica vem caindo, assim como a da regulação. É bastante evidente que a antecipação da campanha presidencial recém-ocorrida só piora esta trajetória, uma vez que todas as ações de política econômica passarão antes pelo critério de impacto eleitoral. Dois exemplos dão abundantes evidências dessa proposição, a saber, a política anti-inflacionária e a questão das tarifas de energia elétrica.

A administração de preços passou a ser o centro da política anti-inflacionária e depois da cesta básica parece que virão medidas tentando evitar elevação das tarifas de ônibus. Ora, no ambiente de alta mais ou menos generalizada de preços e custos, essas medidas são claramente inócuas no que tange à redução da inflação.

Os cigarros representam um caso que vale a pena observar: no IPC do IGP-M de fevereiro, o item despesas diversas subiu 17% (em 12 meses), resultado de uma elevação de 30% dos cigarros no período. Apenas para lembrar, essa elevação deveria ter ocorrido em dezembro de 2011, mas não ocorreu para evitar que a inflação do ano ultrapassasse os 6,5%.

Mesmo no caso de reduções de impostos que sejam definitivas, a desoneração tem um efeito limitadíssimo sobre a dinâmica dos preços, pois ocorre uma vez só e, em geral, não é totalmente repassada ao varejo. Isso porque as empresas têm enfrentado uma elevação generalizada de custos e uma redução persistente de margens, algo que todas as análises de balanço de empresas abertas e fechadas revelam. Dessa forma, a redução de imposto é rapidamente compensada por alguma elevação de custos recentemente ocorrida.

É por isso que a frenética sucessão de pacotes administrando preços não produz efeitos significativos sobre a inflação. É o fracasso de uma visão "contábil" da inflação, ilustrada num artigo recente de um entusiasmado analista que disse que, se não fosse o choque agrícola do ano passado, a depreciação do real em relação ao dólar e os aumentos de 25% a 40% nos fretes rodoviários, a inflação de 2012 teria ficado abaixo de 4,5%!

A questão dos preços de energia elétrica ilustra a perda de qualidade na política econômica, pois, para evitar o repasse dos custos decorrentes do uso das térmicas (que levaria a uma elevação de algo como 12% nas tarifas, com potenciais problemas eleitorais), as autoridades de área estão fazendo barbaridades regulatórias, tão bem ilustradas no recente artigo de Claudio Sales aqui no Estado (10/03).

Em suma, estamos mesmo presos a uma armadilha de crescimento baixo, à qual tenho me referido mais de uma vez neste espaço.