segunda-feira, janeiro 28, 2013

Nós que temos filhos - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 28/01


Por uma infelicidade tremenda, fui ler os comentários de um site sobre o acontecido em Santa Maria e dei com uma criatura funesta que falou coisas impublicáveis. Um só. Um único demente entre tantos solidários, e pensei: precisa mais que um para lamentarmos a falta de compaixão? Porque essa foi a palavra que me invadiu desde as primeiras horas de um domingo ensolarado lá fora e nublado aqui dentro: compaixão.

Qualquer pessoa que tenha um filho ou uma filha não tem como não se colocar no lugar dos pais, dos avós, dos tios daquela garotada que saiu no sábado à noite para se divertir e que foi vítima do destino – poderíamos também chamar de descaso, insensatez, irresponsabilidade –, mas é cedo para diagnósticos precisos. Destino é uma palavra mais abrangente.

Tenho duas filhas que comumente saem à noite, dançam, se divertem em lugares fechados, e eu não faço vistorias prévias, não peço laudos, não investigo, simplesmente confio que elas estarão em segurança. Quem pode garantir? Alguém deveria, mas o destino não se responsabiliza. Nunca se responsabilizou.

Sei de dois irmãos e de um casal de namorados que tinham relações com amigos meus e que estão entre as vítimas. De íntimo, eu não conhecia ninguém. Isso me afasta da tragédia? Nada nos afasta dessa tragédia, a não ser que não tenhamos compaixão. Essa palavra não me sai da cabeça. Um mundo individualista como o nosso precisa abraçar esse conceito, esse sentimento: compaixão. Se colocar no lugar do outro. Dói, mas é necessário.

Quem não tem filhos sofre. Quem tem se arrebenta. Não é algo que se explique. Nenhum racionalismo conforta. É um soco que nos tira o ar e nos faz lembrar o que tanto buscamos esquecer: que somos todos vulneráveis diante da fragilidade da vida.


Acervo à deriva - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 28/01


RIO DE JANEIRO - Entre 1967 e 1975, passei três vezes pela "Manchete", como repórter ou redator. Conheci a Redação da rua Frei Caneca e a do Russell. E já contei aqui como nelas trabalhavam alguns dos maiores profissionais da imprensa brasileira. Só não contei que, grandes ou pequenos, todos éramos tratados como seres de segunda classe pelos patrões.

As estrelas do império Bloch eram as Rolleiflex e as Hasselblad, as câmeras de que saíam as fotos que se ampliavam nas insuperáveis páginas da "Manchete". Às vezes, um fotógrafo deixava sua máquina em cima de uma mesa. O que aconteceria se alguém esbarrasse e ela caísse e se quebrasse? No mínimo, fuzilamento ao amanhecer -para ambos.

Saí muitas vezes com os fotógrafos de "Manchete", para cobrir de passeatas estudantis ao Carnaval na avenida. Dali a pouco, os 35 mm e 6x6 estavam na mesa de luz de Justino Martins, diretor da revista. Ele escolhia as que sairiam e estas iam para o editor de arte. As demais, para o acervo, onde eram classificadas, protegidas e arquivadas.

Para Adolpho Bloch, só as fotos eram sagradas. Por elas investia-se pesado em câmeras e química de última geração. O próprio acervo era um modelo de controle de temperatura e de luz, para que os negativos e cromos atravessassem a eternidade. Paulinho, um de seus responsáveis, passava mais tempo dentro dele do que com sua família -e adorava o que fazia.

A Bloch faliu em 2000. Desde então, o acervo de 12 milhões de imagens, construído durante 48 anos, andou para lá e para cá. Nenhuma instituição ou empresa gráfica quis comprá-lo. Em 2010, um desconhecido arrematou-o num leilão por reles R$ 300 mil, e o guardou sabe-se lá onde e em que condições ou mesmo se o está comercializando -sem a autorização de seus proprietários morais: os fotógrafos. Nele jaz a história do Brasil.


Durma-se com um brilho desses - LULI RADFAHRER

FOLHA DE SP - 28/01


Por mais que fascine, é preciso limitar o uso do tablet na cama; sua luz reduz o hormônio do sono em 22%


Estamos cercados de retângulos brilhantes. Dos pequenos displays nos micro-ondas e rádios às TVs cada vez maiores, passando por videogames, desktops, notebooks, tablets, celulares e smartphones, praticamente não há momento em que se viva distante deles. É só uma questão de tempo, creio, para chegarem ao fundo de piscinas e mares.

Novos fabricantes desenvolvem, a cada ano, versões mais leves, econômicas, resistentes e versáteis dessas telinhas, que a partir deste ano serão até dobráveis. Nos carros, TVs para motoristas já não causam espanto. Dividem sua preciosa atenção com as telas do painel, do GPS, do celular e, de vez em quando, até com o que acontece na rua.

Nossa relação com a luz é tão intensa que parece que vivemos de fotossíntese. Nas hiperluminosas residências modernas, algumas noites ficam mais claras do que os dias.

Pena que o cérebro humano, esse primitivo, não esteja preparado para tanto brilho. Luz, para as mentes consolidadas desde os primeiros hominídeos, vem do céu, do fogo ou de raridades como um vaga-lume ou um metal radiativo. Luz branca, ainda mais rara, só vem de um raio ou do Sol ao meio-dia. LEDs, LCDs, plasmas e outras iridescências causam estranheza a nossos mecanismos de atenção. Como gatos expostos ao flash de uma câmera, ficamos meio paralisados diante eles.

Isso não impede a exposição cotidiana a dezenas de retângulos brilhantes, deixando a mente em estado de constante estímulo. Por instinto, quem passa muito tempo em frente às telas permanece desperto até o momento em que não resta ao corpo outra opção se não desligar os disjuntores e desmaiar, até o sono ser interrompido pelo brilho do despertador. Como quem vive no fuso horário da Califórnia, o impulso de alguns brasileiros tecnológicos é deitar perto das 3h e acordar às 11h. A maioria, que não pode dar-se esse luxo, acaba dormindo pouco.

E mal. Um estudo publicado no periódico técnico "Applied Ergonomics" revela que duas horas de exposição à luz brilhante de um tablet ou equivalente antes de dormir reduzem os níveis de melatonina, o hormônio do sono, em cerca de 22%.

Essa carência provoca, além de noites ruins, o aumento dos riscos de obesidade, diabetes e problemas cardiovasculares. A falta de sono diminui a produtividade, aumenta o risco de acidentes, prejudica o raciocínio e mata a libido. Por mais que fanfarrões afirmem ser capazes de dormir poucas horas, não há argumentos médicos que defendam essa tese, muito pelo contrário.

Aplicativos para smartphone se propõem a medir a qualidade do sono de seus usuários com base no movimento captado por seus acelerômetros. A intenção é nobre, embora seja fácil prever alguns resultados. Quem checa mensagens ou visita websites antes de dormir pode levar preocupações do trabalho para a cama. Quem joga ou interage com redes sociais tende a ficar mais alerta. Até mesmo quem assiste a um vídeo bobo no telefone fica exposto a uma luminosidade sem precedentes. Mal dormidos, vários acordam no meio da noite e checam suas redes. Não pode fazer bem.

Por mais que aparelhos eletrônicos fascinem, é preciso limitar seu uso antes de ir para a cama. Talvez seja um excelente motivo para retomar o antigo hábito de conversar.

Dois vexames brasileiros em 14 anos - ROLF KUNTZ


O Estado de S.Paulo - 28/01


Pela segunda vez em 14 anos, o Brasil foi o patinho feio da reunião do Fórum Econômico Mundial. No meio da desgraça geral, todos os países com resíduos de seriedade puderam reportar algo positivo - a lenta retomada americana, apesar dos obstáculos políticos, o penoso ajuste no Sul da Europa, o início da unificação bancária na zona do euro, o esforço japonês para vencer a deflação, a nivelação chinesa depois de um ano de indicadores mais fracos. Até os latino-americanos, recém-chegados ao mundo da economia adulta, vêm-se mostrando capazes, com algumas exceções, de enfrentar sem grandes danos a turbulência.

O Brasil destoou, e seus poucos representantes oficiais contaram histórias típicas de Zé Carioca. O esforço foi inútil e desmoralizante, porque os números básicos eram conhecidos. Além disso, as últimas estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI) foram divulgadas durante a semana e comentadas numa sessão especial por sua diretora-gerente, Christine Lagarde. Os dois fiascos brasileiros, em 1999 e em 2013, têm pelo menos duas semelhanças. Ocorreram depois de alguns anos de boas notícias e pareceram encaixar-se, facilmente, em uma longa tradição de esforços animadores terminados em fracassos.

Em janeiro de 1999, Brasília abandonou a banda cambial, deixou desvalorizar-se a moeda e preparou-se para enfrentar um novo surto de inflação. O plano de ajuste iniciado cinco anos antes pareceu, afinal, apenas mais um vexame de um país condenado à frustração. "O real tornou-se virtual", disse num jantar o professor Lawrence Summers, secretário-assistente e futuro titular do Tesouro americano. Para eliminar qualquer dúvida, ele explicitou a piada: a moeda brasileira havia-se convertido em "real ponto com". Summers estava errado.

O episódio foi superado, a economia venceu outros solavancos, o crescimento ganhou impulso, a imagem dos Brics consolidou-se e o País tornou-se um dos queridinhos dos investidores. Com alguns tropeços, a nova fase durou até 2010. Vieram depois dois anos de crescimento baixo, inflação alta e deterioração das contas externas - um quadro indigno de um Bric. Não houve piada nem trocadilho, desta vez; apenas perplexidade. A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, confessou-se intrigada diante do problema brasileiro.

Até há pouco, no entanto, o pessoal do Fundo imaginava entender o Brasil. Por isso apoiou a política de redução de juros anunciada em agosto de 2011. Os dois argumentos apresentados pelos dirigentes do Banco Central (BC), na ocasião, foram aceitos facilmente. Primeiro, a crise internacional continuaria em 2012, derrubaria os preços das matérias-primas e as pressões inflacionárias seriam atenuadas. Segundo, o afrouxamento da política monetária seria compensado por uma política fiscal mais austera. Ao manifestar seu apoio, os especialistas do FMI negligenciaram pelo menos quatro pontos importantes:

1)Deixaram de perguntar se os juros seriam de novo aumentados, caso as previsões sobre os preços agrícolas fossem erradas e as pressões se intensificassem. Quanto a esses pontos, a história do ano passado é clara. As cotações internacionais oscilaram, voltaram a subir no segundo semestre e novamente afetaram o custo da alimentação. O pessoal do BC reconheceu esses fatos, mas apenas para usá-los como desculpa. Os juros básicos, porém, continuaram em queda e enfim se estabilizaram em 7,25%;

2) Atribuíram a mudança de rumo do BC a uma decisão técnica, passível de correção se as condições se tornassem adversas. Deixaram de perceber o essencial: a decisão era sobretudo política e ajustada ao estilo da presidente Dilma Rousseff. Não haveria recuo, mesmo diante de uma inflação resistente, se o número ficasse dentro da margem de tolerância. Essa margem deveria servir para acomodar oscilações inesperadas, mas foi usada no pior sentido da palavra tolerância, como se a meta fosse qualquer ponto entre 4,5% e 6,5%. Ao reinterpretar a meta dessa maneira, a cúpula do BC mudou disfarçadamente o regime da política monetária;

3) Aceitaram sem discutir o diagnóstico proposto pelo BC, de uma inflação provocada basicamente pelo aumento das cotações de matérias-primas. Mas ao mesmo tempo chamaram a atenção, mais de uma vez, para a expansão do crédito e do gasto público. Seria fácil atribuir a inflação a fatores mais importantes que um choque de oferta, pela extensão e pela duração de seus efeitos;

4) Admitiram sem desconfiança a previsão de austeridade fiscal. Não houve política austera. A gastança continuou, dentro dos limites possíveis. O impacto orçamentário da crise e os cerca de R$ 45 bilhões de renúncia fiscal explicam apenas em parte a deterioração das contas públicas. Para eliminar qualquer dúvida sobre a real disposição da presidente Dilma Rousseff, bastaria examinar a marretação contábil do fim do ano e os novos lances armados no governo para desmontar as normas de responsabilidade fiscal.

Em janeiro de 1999, as autoridades brasileiras, humilhadas, acabaram engolindo comentários arrogantes de Lawrence Summers e conselhos de Domingo Cavalo, ministro da Economia da Argentina, estimulado por alguns empresários brasileiros a mostrar o caminho da luz e da salvação. Em uma reunião com brasileiros e investidores estrangeiros, o ministro argentino pregou longamente com o entusiasmo de um profeta. Um respeitado economista de origem alemã propôs a Brasília o modelo da política argentina, com câmbio fixo e emissão de moeda condicionado à variação de reservas internacionais.

O perigo, agora, é alguém dar de novo um palpite absurdo e o governo brasileiro aceitar. A presidente Dilma tem deixado transparecer, em muitas ocasiões, a ambição nem tão secreta de ser uma Cristina Kirchner brasileira. Como também é uma admiradora da política bolivariana, talvez possa adotar uma linha eclética. Nossa Senhora Aparecida e todos os anjos e arcanjos protetores do Brasil estão merecendo um aumento.

Regulamentação da mídia (2) - ROBERTO ROMANO

O ESTADÃO - 28/01


Como fruto de meu último artigo (Regulamentação da mídia, 15/1), recebi uma torrente de insultos anônimos em meu endereço eletrônico. A reação prova a tese: os autoritários ignoram a fronteira do coletivo e do particular. Em vez de responder publicamente, eles ameaçam e insinuam retaliações. Volto ao tema sob outro ângulo para melhor determinar o que dele penso.

A imprensa surge com o Estado moderno. O mesmo ocorre com as táticas do poder para impedir a sua livre expressão. A importância dos panfletos políticos e religiosos é certa nos séculos 16 e 17. Basta recordar os libelos puritanos e textos como Le Reveille-Matin des François, que ampliaram rebeliões aristocráticas ou populares. No plano oposto surgem os jornais controlados pelo governo, criados para popularizar o poder oficial.

Richelieu (cardeal, primeiro-ministro de Luís XIII de 1628 a 1642) já domina o maniqueísmo da propaganda. "Aos que qualificavam a razão de Estado de 'razão do diabo' ou 'razão do Inferno' os panfletários de Richelieu replicam acusando-os de adotar 'a mais negra Teologia do Diabo'" (Thuau, Etienne: Raison d'État et Pensée Politique à l'Époque de Richelieu).

Thuau analisa estratégias cuja doutrina se resume em "governar e fazer acreditar" pelo controle estatal da palavra escrita. Diz ele: "É uma verdade reconhecida que a autoridade é inseparável das ideologias, dos mitos e das representações que os homens formam a seu respeito. O poder repousa na aliança do constrangimento e das crenças". O autor recorda Gabriel Naudé nas Considerações Políticas sobre os Golpes de Estado (1640): para manter a governabilidade o príncipe seria obrigado a mentir ao povo, "manejá-lo e persuadi-lo com belas palavras, seduzi-lo e enganar pelas aparências, ganhá-lo e colocá-lo a serviço de seus alvos por pregadores e milagres sob pretexto de santidade, ou por intermédio de bons escritores, silenciando os livrinhos clandestinos e manifestos, para levá-lo pelo nariz e fazê-lo aprovar ou condenar, só com a etiqueta da sacola, tudo o que ela contém".

O marketing político inicia ali a carreira cujo ápice ocorre sob Joseph Goebbels (ministro da Propaganda de Adolf Hitler). Controlar a imprensa é tarefa da grande ou mesquinha razão de Estado. Se o rótulo tem forma adocicada ("regulamentação social") ou ácida (censura), não importa. O alvo é calar a dissonância, silenciando críticas aos palácios e adjacências.

Richelieu reúne os auxiliares para examinar documentos oficiais, definindo a forma pela qual eles deveriam surgir como "notícias" no setor público, com o disfarce necessário. Ele já conhece a arte de reescrever a História e seus próprios textos. Os procedimentos usados no totalitarismo germinam no Estado absoluto. Ao reeditar seu discurso aos Estados em 1614, o cardeal modifica-o porque não coincide mais com sua nova política. Aqui não temos o único aspecto na genealogia que vai do Estado absoluto ao totalitarismo. Os "processos políticos" de Richelieu transformam os juízes em instrumento de terror contra os adversários. Para aquilatar a extensão e a profundidade dessa herança temos o livro de Hélène Fernandez-Lacôte Os Processos do Cardeal Richelieu, Direito, Graça e Política sob Luís, o Justo.

A função política ou econômica da imprensa, revolucionária ou governista, nem sempre suscita análises compreensivas. Basta recordar, no século 20, o crítico Karl Kraus. Em artigo intitulado A imprensa como alcoviteira, Kraus compara a jovem prostituta e o jornalismo oficialista, da Bolsa ou dos Palácios. A rameira seria moralmente superior ao que vende sua pena, pois ela "nunca sugeriu, como ele, assumir altos ideais". (Uso a tradução italiana, Morale e Criminalità.) A imprensa, com suas virtudes e seus defeitos, longe de ser odiada apenas pelos que agora se vendem ao governismo brasileiro, tem uma história densa e contraditória.

Recordo o autoritarismo dos que visam a impor silêncio a quem foge ao controle da norma formatada pelo marketing político e ideológico. Carl Schmitt, na luta contra a livre imprensa, chama os democratas de "classe discutidora", retirando o epíteto de Juan Donoso Cortés, autor do Discurso sobre a Ditadura, que inspira o fascismo. E também alimenta as ditaduras do século 20 na América do Sul e no Brasil. Com os tanques a discussão termina, vem o golpe de Estado "redentor". Mas nem todo golpe é cruento. A maioria é feita no silêncio dos gabinetes, nos acordos espúrios, nas alianças nefastas cujo nome ainda é "governabilidade". Quem aplica golpes eficazes conta com o sigilo cúmplice de todos, inclusive dos governados. É aí que os periódicos incomodam. Num país movido pela propaganda, desde a era Vargas com o DIP até hoje, a popularidade dos governantes é alvo perene, obtida à custa de ouro.

A mídia passa hoje por graves modificações. Se na cultura impressa existiu a figura do pedante, hoje na internet o pedantismo assume amplitude inaudita, unido à repetição de slogans e aos ataques às subjetividades que defendem posições adversas ao poder. Tudo indica que levará tempo para que a humanidade alcance uma síntese nova na ordem teórica e prática. Os jornais vivem uma situação inédita, com o aumento inusitado da comunicação eletrônica. As teses sobre a regulamentação da mídia, no Brasil, seguem a via coberta de ódio e dogmatismo.

Monopólios devem ser tratados com leis específicas, não podem servir de pretexto para impor ao público a visão de partidos ou seitas. Alguns veículos de comunicação, sobretudo na internet, se arrimam com ajuda oficial, reduzem seu papel à propaganda do governo e ao afogamento da crítica. Como se fosse destino, eles retornam ao tempo em que Richelieu pagava a jornais e jornalistas para combater os adversários do Estado.

Sobram ilhas de crítica e rigor intelectual na imprensa, mas é possível prever tempos escuros para as mentes lúcidas e honestas. Quem viver verá.

Camada de cinza - PAULO BROSSARD

ZERO HORA - 28/01

São os pais que não ouvirão mais as vozes de seus filhos, nem verão o brilho dos seus olhos



Há substantivos que dispensam adjetivos para realçar o que enunciam. Tragédia é um deles. Diante de uma tragédia, tudo o que se disser é ocioso. Não precisa do socorro da adjetivação para agravar seu significado. De modo que, para sublinhar uma tragédia, pode-se dizer quase tudo em poucas palavras. É nessa situação que me encontro diante da sugestão que recebo da Redação de Zero Hora no sentido de trocar o artigo entregue ao jornal na sexta-feira, como de costume, por outro que se aproxime do luto que domina a edição funérea em tudo e por tudo.
Sinto-me despojado de qualquer elemento que me possa explicar o acontecimento, mas, em verdade, ele não tem explicação, nem essa seria consolo para ninguém. A tragédia não se explica, não tem lógica nem desfecho aceitável. Dela fico com a surpresa que no caso é vizinha do terror. Refugio-me em velhas lembranças e me lembro da cidade cujas ruas percorri tantas vezes em diversas cruzadas. Dos amigos desaparecidos, por todos Alberto Tomás Londero, cidadão, professor, cientista. De sua catedral, cujos silêncios tantas vezes ouvi. De sua gente, da cidade universitária por excelência que atraía crescente e variada população jovem, principalmente jovem. Nada sei sobre o local, mas verifico se tratava de uma festa onde reinavam a alegria, a música, a dança. Mais não sei. E me ocorre um fato que me tem impressionado: a violência que se filtra e infiltra nas situações menos compatíveis com ela. O canto, a música, a dança cheiram a antítese do que a ela se relaciona. O ritmo da música, o ríctus das faces, o marcial dos movimentos traduzem fenômeno a espelhar a desordem das emoções sentidas e externadas em desalinho. Não sei se devera mencionar isso, mas por uma associação de ideias repercutiram em meu espírito como ressoa na tristeza dos meus dias tristes.
A brutalidade do ocorrido em uma casa de espetáculos na noite de sábado se me apresenta como uma camada de cinza que apagou de repente o alarido de um bando de moças e rapazes, reduzindo-os ao silêncio definitivo para tantos que apenas madrugavam para as aventuras e desventuras da vida. Do que era promessa, resta o luto. O infortúnio foi tão inesperado, que imagino a mágoa a incorporar-se à antiga alacridade da vida universitária. Contudo, a vida continua em sua implacável sucessão de alegrias e tristezas, mas as marcas desse momento nunca serão esquecidas para a cidade. Mas Santa Maria é um universo e dentro dele existem e sobrevivem algumas pessoas. De cada uma delas eu me lembro, embora não as conheça pessoalmente. São os pais que não ouvirão mais as vozes de seus filhos, nem verão o brilho dos seus olhos.
Quando falo em pais, englobo todos os que _ pais, avós, irmãos, namorados, noivos, amigos _ formam o universo afetivo que acompanha cada um de nós.

Pisada na bola - GEORGE VIDOR

O GLOBO - 28/01


Basta ver o que acontece na Argentina para se ter ideia do que significa perda de credibilidade da política econômica



A equipe econômica iniciou uma contraofensiva para tentar desfazer a avaliação quase generalizada nos meios financeiros que aponta para uma deterioração das finanças públicas. A manutenção de superávits primários expressivos, em valores equivalentes a mais de 3% do Produto Interno Bruto, sempre foi considerada um dos vértices do tripé que possibilitou a transformação benigna dos chamados fundamentos macroeconômicos do país. Esses superávits pavimentaram o caminho para a redução das taxas de juros, dando partida a um ciclo de redução do endividamento público líquido, especialmente quando comparado ao PIB. Esse índice recuou para a faixa de 35% - o que é invejável diante dos percentuais das dívidas de países europeus mergulhados na crise - pois de tudo que o setor público teria a pagar a credores, são descontados vários créditos, entre os quais as reservas cambiais acumuladas pelo Banco Central. Reservas, aliás, que teriam sido acumuladas em decorrência da recuperação de credibilidade da economia brasileira junto ao mercado financeiro internacional e à reação das exportações a partir da desvalorização sofrida pelo real em 1999.

Ou seja, os vértices se interligam, e daí a preocupação nos meios financeiros quanto ao risco de deterioração na trajetória das finanças públicas. A contraofensiva do governo envolve uma discussão retórica sobre se em 2012 o governo maquiou a contabilidade para melhorar os resultados. Como foi uma conta de chegar, formalmente se conseguirá cumprir as metas de superávit primário, porém nada convincente. O argumento que o governo vem tentando usar a seu favor é que efetivamente a relação dívida líquida/PIB permaneceu em queda, ainda que pequena, no ano de 2012.

A redução das taxas básicas de juros contribuiu muito para isso, e com espaço que ganhou no conjunto do orçamento, o governo pôde abrir mão de impostos e ampliar programas de assistência social. No entanto, já no início do segundo semestre, pelo andamento dos superávits mensais, percebia-se que as metas originais não seriam atingidas. E com o mau exemplo vindo de cima, estados e municípios também ficaram à vontade para não dar sua quota parte na composição do superávit consolidado do setor público.

A justificativa para o descumprimento é que a economia desacelerou e sem estímulos ao consumo o país cairia em recessão, o que teria sido pior.

FMI aceita descontar investimentos

O governo tem autorização legal para descontar do cálculo do superávit primário um determinado valor carreado para investimentos. Essa prerrogativa foi negociada ainda no governo Fernando Henrique nos tempos dos acordos com o Fundo Monetário Internacional e tinha uma razão: para atingir o superávit primário proposto em um ambiente orçamentário muito apertado, o setor público vinha sacrificando investimentos, entre os quais vários que poderiam levar a economia a uma recuperação mais rápida. Um projeto piloto foi aprovado, selecionando-se investimentos que poderiam entrar nessa conta. Desde então, mesmo sem os acordos com o FMI, a prerrogativa foi mantida, e de fato tem sido usada como exceção.

Meses atrás a equipe econômica admitiu que usaria a prerrogativa em 2012. Até aí fazia parte da regra do jogo. A contabilidade criativa começou a se enrolar com repasses adicionais de títulos do Tesouro ao BNDES - emissões caracterizadas como empréstimos, e que não têm impacto sobre a dívida líquida, pois geram um crédito em igual valor para as contas públicas - que possibilitariam ao banco antecipar pagamento de dividendos à União, antes do encerramento do exercício e da apuração final do lucro da instituição financeira. E como se tratava de uma conta de chegar, o Tesouro sacou grande parte do que havia acumulado (excedentes de superávit primário) no chamado Fundo Soberano, com uma venda, não usual, de ações da Petrobras para a Caixa Econômica Federal e o BNDES, a fim de não reduzir a participação governamental no capital da empresa estatal.

Foi demais. Ou como se diz na linguagem do dia a dia, uma pisada na bola.

Agora só com um teste São Tomé

Os mercados cobram agora retratos mais realistas das finanças públicas. O governo parece que percebeu o elevado custo da perda de credibilidade da política econômica (não é preciso ir longe para ver o que acontece em função disso; basta acompanhar o que está acontecendo na vizinha Argentina, onde os índices oficiais viraram motivo de galhofa). Ainda não é tarde, mas para reconquistar o espaço perdido a política econômica terá de passar por um rigoroso teste São Tomé em 2013

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP - 28/01

Cresce número de fusões na região Nordeste
A região Nordeste do país é a que tem ganhado mais espaço nos últimos três anos nos negócios de fusões e aquisições de empresas, segundo levantamento da consultoria PwC Brasil.

Das transações fechadas em 2010, 5,26% foram nessa região. No ano passado, elas chegaram a 8,31%.

"O Nordeste é uma região que tinha um deficit. Existia uma carência por produtos e infraestruturas, e agora as empresas estão percebendo", afirma o sócio da empresa Alexandre Pierantoni.

"Os planos do governo de distribuição de renda também fizeram com que a demanda por serviços e produtos aumentassem, o que impacta nas empresas."

Acompanhando o aquecimento do varejo, as fusões e aquisições desse setor foram as que mais cresceram no ano passado. Enquanto em 2011, foram 52 transações, em 2012, foram 77 -alta de 48%.

"Toda a economia está se estruturando e o varejo é a ponta do consumo. Ainda não há grande concentração no setor. Os grupos locais podem se transformar em regionais, e esses, em nacionais."

O setor de TI, que costuma liderar o volume de negociações, expandiu-se em 21,5%. Ao todo, ocorreram 96 transações na área (13% do total).

Outro destaque nas fusões e aquisições dos últimos anos são os private equity, que participaram de 37,5% das operações do país -a média global é de 25%.

Em 2007, esse tipo de investidor atuou em 108 transações. Três anos depois, ele apareceu em 331. No ano passado, esteve em 289 -retração de 12,68%.

"Não é uma queda significativa. É mais estatística", diz.

Segundo o sócio da consultoria, a participação dos private equity em grande parte das operações é decorrente do grande volume de empresas que ainda necessitam de capital, já que a economia brasileira ainda não está amadurecida como nos países desenvolvidos.

Outro fator é que, no Brasil, os private equity não se utilizam dívidas para fazer fusões e aquisições, como ocorre no exterior.

Alemã em viracopos
A concessionária Aeroportos Brasil Viracopos, gestora do aeroporto de Campinas, assina hoje novo contrato com a Munich Airport.

A companhia alemã passa a colaborar em programas operacionais, de gestão e de segurança do aeroporto campineiro.

A empresa também irá atuar no desenvolvimento do novo terminal de passageiros.

A administradora do aeroporto de Munique já tem uma parceria com a concessionária desde outubro de 2011.

No último ano, a Munich Airport trabalhou no design do futuro terminal, na transferência da operação do setor público para o privado e no desenvolvimento de projeções de tráfego aéreo.

Redesconto
Chamou atenção nos dados referentes ao volume de dinheiro circulando na economia, divulgados pelo Banco Central, uma movimentação de mais de R$ 10,3 bilhões na linha de redesconto do BC (uma espécie de cheque especial que os bancos têm no BC e usam quando não conseguem fechar suas contas no final do dia captando dinheiro junto ao público ou com outras instituições).

O empréstimo foi tomado e quitado entre os dias 24 e 26 de dezembro. O BC não quis dar detalhes e se limitou a dizer, por meio de sua assessoria de imprensa, que foi "um movimento padrão".

No entanto, acompanhando a evolução da conta nos últimos meses essa não é uma movimentação comum, sobretudo, dado o volume de recursos.

Em setembro do ano passado, por exemplo, o redesconto fechou o mês com um saque de R$ 53 milhões. A operação foi feita no dia 14, mesma data de anúncio da liquidação do banco Cruzeiro do Sul, e não teve uma devolução do montante dentro do mesmo período.

Em dezembro, ocorreram dois saques: um de R$ 342 milhões, no dia 20 (a mesma quantia foi devolvida no dia seguinte) e outro de R$ 10,355 bilhões, no dia 24.

No dia 26, há registro de um ingresso de R$ 10,361 bilhões, o que significou um saldo positivo de R$ 5 milhões no final do mês.

CARNE GAÚCHA
O gaúcho Frigorífico Silva investirá R$ 25 milhões para ampliar sua capacidade de abate de 650 cabeças de gado por dia para 850.

Com o aporte, serão construídas câmaras de resfriamento que poderão armazenar um maior volume de carne. A empresa atua hoje no máximo de sua capacidade.

Mesmo com a maior produção, o frigorífico deverá manter a taxa de exportação em até 25%.

"O mercado externo é inconstante, não vamos ficar na dependência dele", afirma o sócio da empresa Gabriel Silva, que também afirma que o frigorífico não foi prejudicado com os últimos embargos à carne brasileira.

"Quando um país proíbe [a carne], vendemos para outro onde já temos licença."

As obras de expansão devem ser concluídas até julho.

O frigorífico faturou cerca de R$ 300 milhões no ano passado. Há oito anos, a receita da companhia ficava em torno de R$ 50 milhões. No período, foram investidos cerca de R$ 100 milhões para ampliar a empresa.

Integração 
A USC (University of Southern California) vai abrir um escritório em São Paulo. A ideia é atender estudantes que tenham interesse em ingressar na universidade e promover integração entre pesquisadores.

SALA DE AULA
O grupo educacional Impacta terá duas filiais em Angola e no Peru.

A decisão da empresa pela introdução das novas unidades se baseia na falta de profissionais qualificados, principalmente na área de TI.

Em Angola, será realizada uma parceria com o Centro Cultural & Empresarial MWYNY. No Peru, o acordo é com a Universidade San Ignacio de Loyola.

O grupo brasileiro vai enviar profissionais que darão os treinamentos, além de tecnologia.

Estranho, muito estranho... - PEDRO GILBERTO GOMES

O GLOBO - 28/01

Existe algo de estranho no reino do exame de Ordem dos Advogados do Brasil. A paráfrase de Shakespeare vem à mente quando abrimos as páginas de nossos jornais diários e encontramos que mais de 80% dos alunos que se submeterem à primeira fase do Exame de Ordem da OAB foram reprovados. Antes de qualquer consideração mais abalizada, brota a afirmação: os cursos de Direito no Brasil primam pela mediocridade. Certa está a ordem em propor que se fiscalize com mais rigor as instituições de ensino superior que possuem bacharelado em ciências jurídicas no país. De fato, é necessário realizar uma séria avaliação, bem como dar um basta à expansão desenfreada desses cursos. As universidades são chamadas a realizar um profundo exame de seu agir pedagógico e da qualidade do ensino ministrado ao longo do país.

Entretanto, a resposta não pode ser simplificada. Todo e qualquer professor honesto sabe que, se 80% dos seus alunos são reprovados em sua disciplina, o problema não pode ser creditado apenas a eles. Por certo, um professor em tal situação será chamado pela coordenação pedagógica da escola para uma séria avaliação. Nenhuma escola pode, impunemente, aceitar a reprovação de mais de 80% de seus alunos.

Ora, há anos a OAB vem realizando o exame, sempre com resultados catastróficos. O diagnóstico inevitavelmente cai na péssima qualidade de ensino, na excessiva proliferação dos cursos e na inoperância do MEC para realizar uma avaliação séria e um controle mais acurado. Por isso, a OAB alvora-se em guardiã da qualidade e da excelência do ensino jurídico. Entretanto, não se observa um real esforço da entidade em buscar uma solução para o problema.

Afinal, onde está o equívoco? Serão os cursos, que cresceram desmesuradamente, ou o exame, que, para muitos, não é feito para bacharéis recém-formados, mas para advogados de larga experiência profissional? Afinal, para que é realizado o exame? O que a OAB deseja: medir o conhecimento teórico que diz que o novo bacharel possui as condições necessárias para iniciar a sua vida profissional, ou eliminar o maior número de candidatos para não inflacionar o mercado de trabalho? Parto do pressuposto que a resposta correta está na primeira assertiva. Preocupada com o nível de ensino, com a qualidade profissional, a Ordem realiza um exame com vistas a contribuir para o bom desempenho dos cursos de Direito no país. Não obstante, parece que a realidade desmente o pressuposto favorável, pois não se percebeu nenhum movimento de parte da OAB para conversar com aqueles que são, em última análise, os responsáveis pela formação dos novos bacharéis em Direito, os pró-reitores de graduação das instituições de ensino superior. Todo movimento em prol da qualidade do ensino superior brasileiro passa pelo Fórum. Todavia, parece que a Ordem está mais preocupada com rankings e selos do que contribuir seriamente para a qualificação dos cursos .

Fica o convite para que a OAB, sua comissão de avaliação e os pró-reitores de graduação se encontrem para resolver o impasse que se estabeleceu nos últimos anos. É inaceitável o fato de que mais de 80% dos bacharéis em Direito sejam reprovados na primeira fase do exame da Ordem. O que sobrará para a segunda fase?

Lincoln, Obama e Bono Vox - LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 28/01


Lincoln está mais para Bibi Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, do que para Barack Obama


Obama não tem nada a ver com Lincoln. Ele quer se vender como o Lincoln negro, mas é festivo demais para sê-lo. Ele é um Carter que tem a sorte de ser negro.

Obama é um presidente fraco, demagogo e oportunista. O Chávez dos EUA (apesar de que Chávez tem mais "cojones" do que Obama). Compará-lo a Lincoln é uma piada.

Obama está mais para Bono Vox, que ganha muita grana com fotos de crianças da África, dizendo coisas "legais" para gente que tem uma visão de mundo de 12 anos de idade -coisa em voga hoje.

Lincoln foi um presidente que levou os Estados Unidos a uma guerra que matou cerca de 2 milhões de americanos, uma "sangueira patriótica", como dizia o crítico Edmund Wilson. A Guerra de Secessão, o Norte contra o Sul, não foi uma disputa ao redor da abolição da escravidão nos EUA.

O que estava em jogo não era a escravidão acima de tudo, era o Sul querer sair da União. Era o Sul querer ser livre para seguir seu modo de vida pré-moderno.

Mesmo se os confederados (o Sul) tivessem aberto mão dos escravos, Lincoln os teria devastado, porque o que estava em questão era o controle político e militar do território e a expansão do modo moderno de economia e sociedade.

Incrível como o pensamento público cai nesse papo de Lincoln "liberal". Ser abolicionista na época não era ser liberal; no Brasil, o conservador Joaquim Nabuco foi abolicionista. A "inteligência liberal" deve deixar Lênin, Stálin e Fidel, nada festivos, muito irritados.

Lincoln está mais para Bibi Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, do que para Obama. Lincoln invadiria os territórios palestinos e os anexaria.

A guerra foi o modo pelo qual o Norte, industrializado, capitalista, cético, materialista, portanto, moderno, invadiu e destruiu a civilização aristocrática, rural, tradicional, pré-moderna sulista. Os "ianques" (o Norte) conquistaram o Sul, assim como espanhóis, portugueses, ingleses e franceses conquistaram as Américas e a África. Os confederados queriam a independência. Lincoln disse "não, o Sul também é nosso", e levou os EUA à guerra que fez do país definitivamente uma nação moderna.

Lincoln era um cabra macho. Os "ianques" massacraram o Sul, roubaram suas terras, mataram seus homens, violentaram suas mulheres. Soldado sempre foi para guerra para ganhar dinheiro e violentar as mulheres dos vencidos. Foi nessa guerra que inventaram a metralhadora, para matar mais gente de modo mais eficaz.

Obama não seria capaz disso porque ele gosta de coquetel beneficente e falar para jovens sobre música afro-americana. Ele jamais tomaria uma decisão como essa, ele é fraco demais (paralisou os EUA no Oriente Médio), preocupado em agradar o marketing liberal americano ("liberal" é "progressista" nos EUA) e passar para a história como o cara mais legal da América.

O máximo que ele faria seria levar os americanos para um show do Bono Vox. Se Obama não fosse o primeiro presidente negro da história, não teria sido reeleito, e depois de 48 horas do término do seu mandato seria esquecido na lata de lixo da história.

Sua relação com Lincoln é a ideia de que ele seria um presidente a deixar uma América "liberal", assim como Lincoln. Mas Lincoln não era "liberal", ele não queria que os EUA perdessem território e grana.

Acho importante que as pessoas sejam iguais perante a lei, pouco importa se são héteros ou homos.

Minha crítica ao Obama não está em seu possível legado "progressista" (que não é dele, mas dos Kennedy) em termos políticos, mas sim a sua ideia errada de que os EUA devam seguir um modelo europeu centralizador.

Os EUA são o que são porque nunca foram centralizadores, e o governo nunca esmagou o cidadão comum fazendo dele um retardado mental econômico e moral como no Estado de bem-estar social europeu.

O problema com Obama é sua têmpera "liberal". Esta têmpera, cozida em campus acadêmico, gosta de festa, greves de estudantes e professores (ninguém está nem aí para esse tipo de greve porque a sociedade no seu dia-a-dia passa muito bem sem alunos e professores universitários) e boa vida.

Eleição de suspeitos - RICARDO NOBLAT


O GLOBO - 28/01

"As medidas provisórias mostram o autoritarismo do governo e a preguiça do Congresso de legislar".
Senador Álvaro Dias

Nunca antes na história do Congresso a eleição para presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados reuniu, no mesmo ano, candidatos tão descaradamente suspeitos de corrupção - no caso, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e o deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Uma vez eleitos, o mais comum é que os ocupantes dos dois cargos acabem acusados por crimes menores. Do tipo emprego de parentes.


HOUVE UMA exceção recente: Severino Cavalcanti (PP -PE), conhecido, na época, como o Rei do Baixo Clero, renunciou à presidência da Câmara porque se tornou público, em 2005, que recebera um mensalinho de R$ 10 mil pago por um concessionário de restaurantes. Baixo Clero era a turma dos políticos fisiológicos dedicados a extrair vantagens financeiras do mandato.


A TURMA CRESCEU tanto que a denominação perdeu o sentido. O Senado, que não tinha Baixo Clero, hoje tem. Algum culpado em especial? Bem, José Sarney estava destinado a passar à história como o presidente da redemocratização do país. Goste-se ou não dele, Sarney contribuiu para remover o entulho autoritário deixado por 21 anos de ditadura, e alargou o quanto pôde os limites da liberdade.


NÃO IMPORTA que assim tenha procedido mais por fraqueza do que por força. Poderia ter atrapalhado se quisesse. Não quis. Tinha direito a um mandato de seis anos, por exemplo. Tentaram subtrair-lhe dois anos. Cedeu um. Agora, Sarney parece conde-nado a passar à história como o presidente da desmoralização do Senado. Ninguém presidiu tanto o Senado e influenciou tanto o seu destino, nos últimos 17 anos, como Sarney.


O PRIMEIRO MANDATO dele como presidente do Senado transcorreu entre 1995 e 1997. Sarney fez seu sucessor - Antonio Carlos Magalhães, que presidiu o Senado por dois mandatos consecutivos. Renunciou ao segundo mandato para não ser cassado . Violara o sigilo dos votos durante uma sessão . Sarney votou em Jáder Barbalho , Ministro da Previdência Social do seu governo, para suceder a Antonio Carlos.


ACUSADO DE ligação com o desvio de dinheiro do Banco do Estado do Pará, Jáder acabou obrigado a renunciar ao mandato para escapar de ser cassado por quebra de decoro. Edison Lobão, homem de confiança de Sarney, presidiu o Senado em seguida. E aí deu lugar novamente a Sarney entre 2003 e 2005. Renan Calheiros comandou o Senado de 2005 a 2007 apoiado por Sarney.


NÃO CHEGOU a completar o mandato: renunciou à presidência para driblar o risco de perder o manda-to de senador . Descobriu-se que o lobista de uma empreiteira pagava a pensão devida por Renan à mãe de um filho dele fora do casamento. Renan tentou provar que tinha gado suficiente para justificar seu patrimônio. A Polícia Federal constatou que não. Na última sexta-feira, o procurador-geral da República denunciou Renan ao Supremo Tribunal Federal por uso de notas fiscais frias.


POR MAIS duas vezes, Sarney presidiu o Senado - de 2009 até hoje. Renan está prontinho para sucedê-lo. Nada o ajudou mais a se eleger outra vez presidente do Senado do que a CPI do Cachoeira. Ali, ele se empenhou em salvar a pele dos governadores Marconi Perillo (PSDB-GO) e Agnelo Queiroz (PT-DF); de Fernando Cavendish, dono da construtora Delta ; de jornalistas e do próprio Cachoeira. E conseguiu.


A GARANTIA DA eleição de Renan para a presidência do Senado e a de Henrique para a presidência da Câmara repousa na identificação irretocável dos dois com a esmagadora maioria dos seus pares.

CASO DO PORSCHE - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 28/01

Denúncia apresentada pelo Ministério Público pede que Marcelo Malvio Alves de Lima, 37, seja acusado por homicídio doloso (com intenção de matar) no acidente em que a advogada Carolina Cintra Santos morreu, aos 28 anos, em julho de 2011, na rua Tabapuã, em SP. Na noite da colisão com o Tucson de Carolina, o engenheiro dirigia seu Porsche, segundo laudo do IC (Instituto de Criminalística), a 116 km/hora.

CASO DO PORSCHE 2
O promotor Rogério Zagallo escreve: "Esse crime foi praticado por motivo torpe, ou seja, o funesto desejo de Marcelo em se exibir perante as pessoas que estavam em busca de diversão no bairro do Itaim-Bibi".

E completa: "Destilando naquele boêmio bairro o poder de sedução que exala de seu Porsche [...] Marcelo, mesmo após ter ingerido, em comparsaria com uma mulher, uma garrafa de vinho, deliberou acelerá-lo inconsequentemente pela rua".

CASO DO PORSCHE 3
O advogado do engenheiro, Celso Vilardi, afirma que a denúncia é absurda. "É tão desproporcional que facilita o trabalho da defesa. A peça omite que a vítima avançou o sinal vermelho e estava alcoolizada. É homicídio culposo", diz. Para Cláudio Daólio, que defende a família de Carolina, o texto do promotor "abrange pontos importantes como o excesso de velocidade e a ingestão de álcool por parte de Alves de Lima".

LEÃO FAMINTO
O apresentador Ratinho entrou na Justiça para tentar reverter multa de R$ 100 milhões aplicada pela Receita Federal. Foi autuado junto com outros artistas, esportistas e jornalistas contratados como pessoa jurídica antes de 2005. Já o técnico Luiz Felipe Scolari preferiu pagar a multa de R$ 26 milhões, após ter confirmada a autuação pelo Conselho Administrativo de Recursos Fiscais.

A assessoria de Scolari diz que é "assunto velho e encerrado". A de Ratinho informa que o processo corre em sigilo e os advogados não vão se manifestar até o julgamento.

PARABÉNS
A ministra da Cultura da França, Aurélie Filippetti, enviou carta parabenizando a equipe do Museu d'Orsay, em Paris, pela exposição "Impressionismo: Paris e Modernidade", que trouxe ao Brasil pela primeira vez algumas peças do acervo. A mostra foi toda patrocinada com os benefícios fiscais da Lei Rouanet: R$ 10 milhões.

CHAVE DE CADEIA
O doutor Drauzio Varella escreverá um terceiro livro sobre o universo das cadeias. "Ainda não comecei, mas já tem título: 'Prisioneiras', e é sobre mulheres no cárcere."

EM INGLÊS
O americano Christopher McCormick, chefe de serviços acadêmicos da EF Education First, líder mundial em educação internacional, chega ao Brasil no fim do mês. Vai se encontrar com autoridades e representantes de universidades para divulgar fórum de proficiência em idiomas aqui em março.

EM INGLÊS 2
A EF do Brasil registrou aumento de 147% no número de alunos enviados ao exterior para estudar idiomas. Atualmente, 1.500 adolescentes brasileiros estão em cursos de férias lá fora.

SERÁ FANTÁSTICO?
No segundo semestre, o cenário do "Fantástico" deve passar a mostrar a redação do programa, nos modelos do "Jornal Nacional". A mudança também chegaria aos quadros. A Globo diz que o programa tem "renovação constante" e que "novidades estão sendo estudadas".

MUSEU DO CARNAVAL
Helio Oiticica, Lygia Clark, Jesús Rafael Soto e Victor Vasarely serão os artistas homenageados na cenografia do Bailes do Rio. As festas de Carnaval neste ano acontecem no MAM.

UM PRATO DE TRIGO
O circo Tihany chegou a SP com dois integrantes a menos. Os tigres brancos, usados no espetáculo em outros países, não vieram ao Brasil para a turnê de quatro anos. A espécie é proibida por lei de trabalhar em circos.

AMIGOS? SÓ A FAMÍLIA
Grazi Massafera, 30, volta à TV na próxima novela das seis da Globo, "Flor do Caribe".

A atriz fala à revista "RG" sobre a filha Sofia, de oito meses: "Depois dela, me sinto plena. Tenho uma história de vida atípica, anormal, nunca imaginei conquistar o que conquistei".

Grazi comenta também a união com o marido, Cauã Reymond. "Como eu e Cauã não passamos por nenhum grupo de teatro que se lançou ao mesmo tempo, acabamos fazendo apenas colegas de profissão, não verdadeiros amigos."

BAILA COMIGO
Sabrina Sato foi a mestre de cerimônias do décimo baile de Carnaval da "Vogue". As modelos Mariana Weickert e Marcelle Bittar foram ao hotel Unique para o evento. A atriz Thaila Ayala e a estilista Ana Gequelin circularam na última quinta pela festa, que pedia traje black tie ou fantasia.

Curto-circuito
O presidente da Funarte, Antonio Grassi, virou diretor consultivo do Midem (Mercado Internacional do Disco e da Edição Musical). Em 2014, o Brasil será homenageado no evento.

O restaurante Miya promove amanhã e quarta jantar mexicano com a chef Lourdes Hernandez.

A Miu Miu abre hoje sua segunda loja no Brasil, no shopping Cidade Jardim.

Começa hoje a venda de ingressos para os dois primeiros concertos da Bachiana Sesi-SP em 2013, que acontecerão em março.

O "Almanaque do Santos FC" será lançado hoje, na Vila Belmiro, estádio do time de Santos (SP).

Incluir não é fácil - RENATO JANINE RIBEIRO


Valor Econômico - 28/01


Circulou muito no Facebook uma recomendação do blog "Viajando com os filhos", que consistia em conselhos para lidar com a babá. A autora, que em São Paulo se hospeda num dos melhores hotéis da cidade, discutia passagem, hospedagem, comida e bebida de sua empregada. O texto é detalhista e chocante. A patroa chama a babá de gênero de "terceira necessidade" e fala dela como se fosse um animal. Curiosamente, não parece mesquinha: paga um excelente quarto de hotel para a empregada; o problema é que não tem noção de como lidar com um ser humano.

Por que discutir esse tema numa coluna dedicada à política? Porque, sem querer, o texto - que foi retirado do ar, quando o blog se deu conta da péssima publicidade que angariou com ele - mostra as dificuldades para se aceitar algo que, reconheço, é difícil: a inclusão social. Não me juntarei àqueles que - com razão - condenam a autora. O que quero entender é o que passa na cabeça de alguém que vive no privilégio e não consegue sequer entender o que é a passagem ao mundo do direito. Ou que, tendo a vantagem da riqueza numa sociedade com alto teor de exclusão, não percebe que, um dia, isso acabará. Antes que me chamem de petista, é bom lembrar que tal nível de exclusão acabou faz tempo nas grandes economias capitalistas. Se a autora vivesse nos Estados Unidos, Reino Unido ou França, primeiro, dificilmente escreveria o que escreveu; segundo, se o fizesse, pagaria por isso.

O assunto faz lembrar a declaração de Delfim Netto, em abril de 2011 (quem teve empregada doméstica, que é um "animal em extinção", teve; quem não teve, não terá) ou o artigo de Danuza Leão, de novembro, observando como viagens a Paris perdem o valor quando todos podem fazê-la. Mas são casos bem diferentes. Com seu conhecido humor e inteligência, o ex-ministro anotou um fato: os empregos domésticos se extinguem, justamente porque uma pessoa cuidar da vida íntima de outra é quase humilhante e por isso, nos países desenvolvidos, se encarece ou se extingue. Danuza Leão dizia que há prazeres que dificilmente comportam o acesso de todos: o Louvre não pode, gostemos ou não disso, receber 100 mil pessoas por dia. Daí, ela conclui - o que endosso - que ler um livro pode ser bem melhor. Delfim e Danuza disseram coisas pertinentes, ainda que a formulação não tenha sido feliz. Já o post da blogueira não é reflexão, é sintoma, e suscita outra discussão.

A inclusão social mexe em nosso imaginário

Ao longo dos séculos e milênios, o que hoje chamamos de inclusão social se estagnou, cresceu raramente e com frequência recuou. Mas, nas últimas décadas, a integração dos miseráveis na sociedade (civil? de consumo? a diferença é importante) se acelerou intensamente - em muitos países. Aqui, em cinco anos do governo Lula, 50 milhões passaram das classes D e E para a C. Esse aumento de justiça social impõe mudanças de atitude radicais no interior da sociedade. Os mais vulneráveis se fortalecem. Socialmente, o dado principal é que recusam o papel subalterno ou subserviente que sempre foi o dos pobres em nosso país.

Se esse processo é amplamente positivo, ele tem seus senões, também pensando no plano social. Um diz respeito à própria condição dos ex-miseráveis. Eles parecem dar maior importância ao aumento do consumo, e junto com ele ao do crédito e do endividamento, do que ao acesso à educação e à cultura - da mesma forma, por sinal, que os gestores da economia e da política. Daí que a conquista de espaços sociais pela nova classe média continue frágil. Hoje, pode ser que muitos salários estejam subindo mais porque a economia está aquecida do que porque os seres humanos, que eventualmente chamamos de "mão de obra", se qualificaram como sujeitos de sua existência. Mas há outro problema, eticamente mais grave. Para as classes tradicionalmente ricas - ou "dominantes" - o ingresso em seu território de quem era não pessoa é chocante. Isso não quer dizer que os privilegiados sejam maldosos, de tão egoístas. O que falta é noção dos limites recíprocos que constroem uma sociedade decente. Obviamente, não merece elogio, nem sequer pena, quem age assim. Até porque essas pessoas, se viajam a países ricos, sabem que não podem tratar dessa forma as pessoas lá, mesmo as menos ricas. Seguem então um duplo padrão - assim como respeitam a lei de trânsito na Flórida e não no Brasil. Mas quem deseja mudar a sociedade não pode ficar na condenação ou no repúdio. É preciso compreender. Sem entender o que está ocorrendo, é difícil agir para mudar. Este é um campo importante para a pesquisa.

Mesmo assim, há medidas concretas e urgentes a tomar. Têm que ficar claros, para todos os brasileiros, valores como a liberdade e a igualdade. Isso depende do "governo", dos órgãos de defesa dos direitos humanos, do Ministério Público e do Judiciário mas, mais que tudo, do esforço da sociedade. É preciso difundir a ética nas escolas. Ela não pode ficar nas mãos só das Igrejas e das famílias; deve ser estudada, com uma abordagem leiga e universal, no ensino básico, isto é, da alfabetização até a conclusão do ensino médio. Deve haver também uma preocupação das empresas, que são responsáveis por boa parte da socialização das pessoas. Uma corporação ou organização não pode tolerar atitudes antiéticas de seus funcionários, sobretudo de seus dirigentes. Estas são políticas públicas, não apenas estatais. Além disso, politicas de combate aos privilégios devem ser adotadas - tanto de quem usa um cargo público para levar vantagem, quanto de quem utiliza sua riqueza para desprezar o próximo. Porque a batalha se trava, afinal, nos corações e mentes.

Reinventando tradição - LÚCIA GUIMARÃES

O Estado de S.Paulo - 28/01


"Eu tenho desprezo por quem fala de tendências", disse a convidada e pausou, olhando fixo o anfitrião no palco. A plateia do pequeno teatro lotado por 250 pessoas, riu, o jornalista entrevistador se desculpou, um tanto nervoso, pela pergunta que é tão comum, mas exposta ali como tão crassa.

A reação de Jill Abramson, a primeira mulher a ocupar o cargo de editora executiva do New York Times - portanto, a figura mais influente do jornalismo tradicional em língua inglesa -, foi apenas uma das que desafiaram a promessa da noite, oferecida para um público seleto como uma conversa sobre "O Futuro Inesperado da Mídia".

O título mais apropriado teria sido "O futuro imediato da revista centenária comprada por um zilionário que ajudou a fundar o Facebook ainda adolescente". Nesta segunda-feira, a New Republic está sendo relançada em papel e múltiplas plataformas depois de ter sido comprada por Chris Hughes. Ele saiu do Facebook para dirigir a mídia social da primeira campanha presidencial de Barack Obama em 2008. Hughes tem cara de bebê, é intenso e invariavelmente cordial, aos 29 anos. Ao abrir a noite, ele se apresentou como alguém que quer retomar a missão expressa pelo fundador da New Republic, em 1914: "Iniciar pequenas insurreições no território das convicções dos leitores". A julgar por parte do elenco editorial mantido pelo empresário que dividia o quarto com Mark Zuckerberg em Harvard, é esperar para ver.

No fim do ano passado, Hughes disse à revista New York que há muito tem fascínio pela ideia de "como o jornalismo sério poderia sobreviver na era digital". Quando a ironia reina sobre boa parte da nossa cultura, por que não ter o nosso ofício resgatado em alto-mar por um dos arquitetos do planeta do "curtir" e do exibicionismo patológico, da informação sob medida, o inventor do "cutucar" que, por essas façanhas, acumulou uma fortuna de US$ 600 milhões?

Estou com a Blanche Dubois, de Um Bonde Chamado Desejo. Não me importo de depender da bondade de estranhos, ainda que minha profissão não seja tão antiga quanto a dela.

A escolha dos dois convidados da noite destinada a atrair atenção para a reinvenção da New Republic não poderia ser mais "velha mídia". Além de Jill Abramson, do Times, o outro entrevistado era Richard Plepler, presidente da HBO, a rede pioneira da TV a cabo, com mais de 140 milhões de espectadores em todo o mundo. Ao escolher o mais influente jornal americano e a produtora do melhor conteúdo da TV americana como termômetros do tal futuro inesperado, Hughes dá um recado sobre a qualidade que não faz concessões.

E Abramson se encarregou de martelar a mensagem em comentários como, "Eu me recuso a me referir ao New York Times como uma marca. O meu papel e falar do jornal", mesmo admitindo que o Times é visto como marca em jornalismo.

Por ter comprado uma revista quase moribunda, com um público restrito ao eixo de poder Nova York-Washington e cujo declínio está diretamente ligado à revolução digital, Hughes se posiciona, no conforto de sua fortuna, como um empresário quase na contramão de seus pares muito mais velhos e frequentemente mais dados a previsões apocalípticas. Prefiro um milionário, mesmo um milionário ingênuo, disposto a bancar o jornalismo que ele identifica como sério, a jornalistas arfando na corrida para descobrir o que querem seus caprichosos e volúveis leitores, como certa editora que acaba de enterrar uma revista semanal.

Mas Jill Abramson deixou claro que mesmo o destino do New York Times está cada vez mais nas mãos do público. A receita de anunciantes só cobre metade dos custos do jornal. Alguém na plateia perguntou a Abramson se o discurso cívico e a circulação democrática de informação podem ser afetados num futuro em que, por causa da tecnologia digital, haverá castas de informados, dependendo de quem pagar mais por doses de conteúdo. Ela disse que tem esse dilema em mente. Mas a noite foi logo encerrada. A conversa sobre o futuro incerto da mídia ficou para outra noite, quem sabe, num futuro próximo ou distante.

Os “doidos” e Dilma - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 28/01

O ônibus alugado para levar os meninos a um simples passeio escolar estaciona no local designado pela escola. Não passam cinco minutos e, antes de as crianças entrarem, uma das mães “invade” o veículo, verificando o estado dos bancos, se tem cinto de segurança, etc. O motorista olha meio incrédulo para um dos monitores do passeio, como quem diz: “É doida”.

A cena acima aconteceu de fato. Não só comigo, mas com vários pais e mães que, às vezes, são tachados de malucos por aí apenas porque exigiram o mínimo de precaução para um caso de emergência. Invariavelmente, muita gente tacha de “doidos” aqueles que se preocupam com algo básico, como equipamentos de segurança e prevenção.

A boate Kiss, em Santa Maria (RS), é um exemplo da falta que faz um “doido”, digo, precavido. Uma cidade daquele tamanho jamais poderia admitir um estabelecimento com capacidade para mais de mil pessoas e apenas uma saída. O “esperto” há de responder: “Ah, depois de ocorrida a tragédia é fácil falar. O difícil é prever”. Mas é aí que entram os “doidos”. Ou, na melhor linguagem, os previdentes.

Talvez agora vire lei — temos tantas, uma a mais não faz diferença — que uma boate tenha saídas mais acessíveis em caso de incêndio, ou que os donos sejam obrigados a manter equipes de resgate a postos no local para atendimentos de emergência. E, se a prefeitura tem leis nesse sentido, que coloque fiscais “doidos”, capazes de cobrar os cumprimentos das medidas básicas de segurança.

O mesmo vale para as pessoas contratadas para trabalhar nesses locais. Quantas vezes não nos deparamos com verdadeiros “armários”, de pé nas portas das boates, apenas para evitar os “prejuízos”? Por um acaso foram treinados para lidar com situaçãoes desse tipo? Têm o bom senso de perceber uma situação de emergência em vez de simplesmente trancarem as portas a fim de evitar que as pessoas saiam sem pagar a conta? Ao que tudo indica, há muito por fazer em relação às casas de espetáculos. Enquanto isso, é melhor prestar atenção no que dizem os “doidos”.

Por falar em conta…

Talvez muitos critiquem a atitude da presidente Dilma Rousseff, de cancelar a agenda no Chile e voar até Santa Maria para prestar solidariedade aos familiares das vítimas da tragédia na boate Kiss. Mas, se alguém tiver o cuidado de ouvir a população, verá que a maioria aplaudiu o gesto presidencial. E, se há algo a se elogiar diante do jeitão da presidente, é a sua incapacidade de esconder emoções. Quando da tragédia da escola de Realengo, no Rio, Dilma falou com a voz embargada.

Ontem, sua tristeza era perceptível. Dilma tem um quê de quem não consegue disfarçar quando não gosta de algo, quando se emociona ou ainda quando uma conversa lhe agrada. Ponto para a presidente. Em meio a tantas tragédias que o país vive e viveu, é um alento ter alguém que esteja atento e sensível à realidade das pessoas e àquilo que as comove. Oxalá ajude para que isso não se apague daqui para frente.

No mais…

A semana, que seria marcada pelas eleições no Senado e na liderança do PMDB, agora será pautada pela apuração de responsabilidades sobre a tragédia. Em Rhode Island, nos Estados Unidos, em 2003, houve tragédia semelhante. Todas as pessoas envolvidas no evento foram punidas, dos patrocinadores e músicos aos donos da boate. Espera-se que por aqui não seja diferente. Meus sinceros e profundos sentimentos a todos os familiares das vítimas do incêndio na boate Kiss.


Saída de emergência - FÁBIO ZAMBELI - PAINEL


FOLHA DE SP - 28/01


Fernando Haddad pediu a secretários que revisem decreto baixado por Gilberto Kassab na esteira do desabamento de unidade da Igreja Renascer, aumentando o rigor de alvarás para imóveis que abriguem eventos com aglomerações de público. A equipe do prefeito estuda alterações de modo a explicitar a obrigatoriedade de brigadas de incêndio próprias em todas as casas noturnas da cidade. O petista planeja ainda normatizar os avisos de segurança para frequentadores.

Blitz Haddad pretende traçar um plano ostensivo de fiscalização, via Contru (Departamento de Controle de Uso de Imóveis), de prédios que abriguem shows noturnos. A ideia é avaliar, com a secretária Paula Motta Lara (Licenciamentos), se o efetivo do órgão é suficiente para uma varredura permanente.

Discagem rápida Dilma Rousseff foi comunicada sobre o incêndio que matou mais de 230 pessoas em Santa Maria (RS) por volta das 8h de ontem. O primeiro acionado pela presidente foi Alexandre Padilha (Saúde), orientado a se deslocar para o local. Quando Dilma chegou, o ministro já estava no Hospital da Caridade, onde parte dos feridos foi internada.

Substituto Após cancelar agenda no Chile, ela determinou a Antonio Patriota (Relações Exteriores) que a representasse na reunião da cúpula dos países da América Latina com a União Europeia e explicasse o ocorrido ao presidente Sebastian Piñera.

Amparo Em Santa Maria, Dilma soube que alguns familiares aguardavam do lado de fora, no sol, a entrada no ginásio onde estavam os corpos e determinou que fossem levados para esperar num local coberto, atendidos por assistentes sociais.

Trincheira Pilares da base governista, PT e PMDB se uniram para cobrar de Dilma espaço político e obras para Minas Gerais, reduto do tucano Aécio Neves, potencial rival da presidente em 2014.

Conta-gotas As siglas querem ampliar a cota do Estado no ministério e injeção de recursos emergenciais na malha rodoviária mineira, a maior do país. Sensível às queixas, o governo respondeu com a liberação de R$ 385 milhões para 40 obras.

Me chama... José Dirceu vai percorrer o país para difundir a mensagem de que foi condenado sem provas no mensalão. A ideia é aceitar convites da base petista para dar visibilidade à sua defesa.

...que eu vou O roteiro do ex-ministro pós-julgamento no Supremo Tribunal Federal começa no Rio, na quarta-feira, em evento da CUT (Central Única dos Trabalhadores). Após o carnaval, ele visitará o Nordeste.

Acarajé Gilberto Kassab reuniu anteontem a bancada baiana do PSD e costurou acordo para a vaga da sigla na nova Mesa Diretora da Câmara. O deputado José Carlos Araújo (BA) abriu mão de sua candidatura em favor de Fábio Faria (RN). Com isso, um deputado do Estado assumirá umas das comissões a que o partido tem direito.

Janeiro... Um ano após a polêmica desocupação do Pinheirinho, o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto ameaça deflagrar ocupações em São Paulo para protestar contra o domínio do PP, de Paulo Maluf, sobre a política habitacional nos governos Fernando Haddad (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB).

... vermelho O grupo, que se vê boicotado pelas ações da CDHU (estatal paulista de casas populares), já mapeia áreas que estão em litígio judicial nas regiões de Campinas, Taboão da Serra e também no ABC paulista.

Tiroteio
"Vivemos um momento inédito após o mensalão e o Congresso não ficará atrás. Renan terá a lucidez de retirar seu nome."
DO SENADOR PEDRO SIMON (PMDB-RS), comentando a decisão do Procurador-Geral da República de denunciar o candidato à presidência do Senado ao STF.

Contraponto


Convite camarada


Durante evento no Bandeirantes, o presidente da CBF, José Maria Marin, conversava com prefeitos, quando chegaram os secretários de Esporte do Estado e do município, respectivamente José Auricchio Jr. e Celso Jatene, ambos do PTB. Marin, que também é petebista, perguntou ao presidente estadual da sigla, Campos Machado:

-Quando você vai filiar o Aldo Rebelo? Só falta agora o ministro do Esporte no partido.

Um dos presentes emendou, em referência ao fato de Rebelo ser militante histórico do PC do B.

-Será que teremos o primeiro comunista no partido?


O projeto de poder é que vitamina esse discurso - MARCO ANTÔNIO ROCHA

O ESTADO DE S. PAULO - 28/01


Nossa presidente é de fato desafiadora e ama assumir riscos. Acaba de demonstrar essas qualidades, ou virtudes, no caso das contas de energia elétrica e dos desafios aos seus críticos e "pessimistas", como ela diz. Pois, apesar deles, tudo está dando certo.

Esse temperamento vem de longe. Ninguém entra numa luta armada contra o regime do país onde vive se não tiver espírito desafiador e se teme o risco. Ela ainda teve a influência de bravos gaúchos em sua vivência no Rio Grande do Sul. Gaúchos, em geral, são desafiadores e intimoratos - desde quando ainda não haviam decidido se seriam brasileiros, uruguaios, paraguaios ou argentinos e guerreavam contra todos esses vizinhos. Chegaram a tentar fundar uma República própria. Aceitaram ser parte do Brasil só depois de muito resmungo e graves tiroteios. Apacificação da província parece que só se impôs mesmo depois de Getúlio Vargas ter aportado no Rio de Janeiro.

De qualquer forma, Dilma gosta de fazer apostas. E não teme colocar o País como cacife. A Pe- trobrás está às tontas para saber de onde vai tirar dinheiro para cumprir os objetivos que a presidente quer que a empresa alcance, enquanto engole prejuízos. As empresas de energia elétrica concordaram, sim, em reduzir as contas de luz, mas a operação só foi aceita porque quem paga a conta é o contribuinte: R$ 19 bi- lhõesjáestão à disposição, no Tesouro Nacional, para cobrir o rombo. Como um grande número de brasileiros que pagam contas de luz não paga impostos, nem perceberão a esperteza.

Na verdade, as questões do preço da gasolina e a da diminuição das contas de energia, assim como a da queda forçada dos juros, não têm nada que ver, ou têm muito pouco que ver, com a ques- tão dramaticamente mais importante de dar condições de competitividade à economia brasileira, que está ficando para trás no contexto da economia internacional. E têm tudo que ver com o fato de serem dois passos importantes na caminhada da presidente para a reeleição. O projeto petista de 20 ou 30 anos 110 poder é a vitamina do voluntarismo de Dilma, como foi do seu antecessor.

Já tivemos um presidente voluntarista, embora menos exclusivista e mais democrático do que Lula e Dilma. Juscelino Kubitschek não queria ficar no poder por 20 ou 30 anos, mas queria porque queria que o Brasil caminhasse 50 anos em 5 e queria ficar na história com a construção de Brasília a qualquer preço. Contra muitos conselhos e opiniões da época, embrenhou-se nas duas "missões" e, de fato, conseguiu alguns importantes avanços para o Pais na área industrial e de infraestrutura. Mas nos legou uma tremenda desordem nas contas públicas. Passamos décadas tentando consertar um estrago que acabou nos levando àcrise da dívida externa e a um extenuante processo de montar, de fato, uma contabilidade pública que pudesse ser levada a sério.

Sem falar no processo inflacionário, que só pôde ser domado no final do governo Itamar - para dizer a verdade, quase que por um golpe de sorte política: uma boa idéia de uma brilhante equi- pedeeconomistas pôde ser aproveitada por um ministro da Fazenda que não entendia bulhufas do assunto, mas que, felizmente, acabou eleito presidente da República e deu continuidade à boa idéia. E quejá tinha havido tantas experiências fracassadas para conter a inflação, cujos resultados foram apenas muita turbulência pai a a população e desprestígio para ogoverno, que não custava experimentar a idéia um tanto heterodoxa esquematizada meio sem pretensões pela dupla Pérsio Árida e André Lara Rezende, no famoso projeto "Larida". Deu certo.

São exemplos, e não são únicos, de que às vezes a ousadia dá resultados positivos.

No discurso puramente eleitoral na televisão, com que nossa presidente apresentou a sua ousada decisão de baixar na paulada as contas de luz e desafiou "os que são sempre do contra" e "os pessimistas", além de garantir que não vai haver nenhum racionamento de energia elétrica - outra ousada aposta -, discorreu ainda sobre várias "realizações" do seu governo que ninguém consegue ver onde estão.

Foi um discurso para açular as falanges entusiasmadas do PT e prepará-las para a campanha que já começou.

O racionamento de energia já estaria havendo, se não fosse o "pibinho", ou seja, o baixíssimo crescimento da economia - obra mor dos seus dois anos.

Há mais de dois anos que "os do contra" e "os pessimistas" vêm dizendo que o crescimento da economia não pode depender apenas do aumento do consumo; que faltam investimentos; e que é preciso criar condições para eles, pois a maioria dos investimentos que alimentam o PIB vem da área privada.

Mas os resultados da destruição da política monetária, da queda forçada dos juros, da gestão fa- limentar de empresas estatais, do aumento dos déficits em conta corrente, da elevação da dívida pública e da emissão de títulos públicos para pagar juros públicos levam tempo para aparecer e afligir o público. Até lá, ela pode, sem dúvida, garantir a reeleição.

Aqueles - GUSTAVO PATU

FOLHA DE SP - 28/01


BRASÍLIA - "Senhor presidente: eu não sou daqueles que..."

Numa crônica de Fernando Sabino muito lembrada em aulas e testes de língua portuguesa, um deputado começava assim seu inflamado discurso, mas hesitava na concordância verbal. Daqueles que recusa ou daqueles que recusam?

Para ganhar tempo, a saída foi enfileirar orações. "Não sou daqueles que, neste momento tão grave", "sabendo perfeitamente os imperativos da minha consciência cívica" e por aí foi o político. Até que, pressionado pela hora, teve de concluir. "Em suma: não sou daqueles. Tenho dito."

Em discursos de improviso, Dilma Rousseff também tem o cacoete de intercalar orações antes de consumar um raciocínio. No mais recente pronunciamento de TV, porém, manejou com destreza a concordância ao fazer o seu ataque àqueles.

No caso, "aqueles que foram contrários à redução da tarifa" de energia elétrica e, pior ainda, "aqueles que são sempre do contra". Não foram poupados tampouco "os que não acreditavam que era possível crescer e distribuir renda", "os que não acreditavam que o Brasil virasse um país de classe média" e outros.

Em defesas públicas dos resultados da economia, a agressividade costuma ser inversamente proporcional à convicção. Os pilares de sustentação intelectual e institucional da política da presidente sofreram abalos importantes nos últimos dias.

Economista de maior relevo a apoiar a administração petista, o ex-ministro Delfim Netto mostrou os limites de seu respaldo. Criticou os artifícios para maquiar as contas do Tesouro, a formação de oligopólios e a proteção de determinados setores. Já o Banco Central de Alexandre Tombini divulgou preocupações com a inflação, a escalada de gastos do governo e a escassez de investimentos.

E Dilma parece atormentada tanto por aqueles que recusam o elogio incondicional como por aquele que recusa a condição de ex-presidente.

Os peemedebistas querem o poder, mas para que mesmo? - JOSÉ ÁLVARO MOISÉS


O ESTADO DE S. PAULO - 28/01

Em poucos dias, o comando do Senado e da Câmara dos Deputados estará em mãos do PMDB, o principal aliado do governo Dilma Rousseff. Em caso de impedimento da presidente da República, o partido deterá agora três cargos na linha de sucessão - basta lembrar que o vice-presidente é o peemedebista Michel Temer. Quase 40 anos após ter se apresentado ao eleitorado brasileiro com o slogan "Vote no MDB, você sabe por que", é preciso perguntar sobre os seus objetivos políticos: o partido quer o poder, ou melhor, quer compartilhar o poder, mas para que mesmo?

Partidos existem para disputar o poder, mas na democracia representativa a premissa é que essa disputa tem por objetivo realizar as preferências políticas dos eleitores. Isso deveria ser claro para um partido cujo papel na transição do autoritarismo para a democracia é a sua principal herança política, como lembra a ação de homens como Ulysses Guimarães, Franco Montoro e Mário Covas. Mas, desde que renunciou a disputar a Presidência da República, o PMDB assumiu um perfil mais fisiológico do que programático e apoia qualquer governo que se disponha a dar-lhe cargos em troca de apoio no Congresso Nacional, independentemente da ideologia ou do programa desse governo.

Embora legítimos, os acordos para a formação das coalizões de que tem participado o PMDB são feitos a portas fechadas, sem suficiente esclarecimento para os eleitores sobre as suas implicações, deixando a sensação de que os entendimentos visam apenas cargos públicos e não uma contribuição própria para as políticas públicas. O que o PMDB acrescentou, por exemplo, em termos de inovação ou aperfeiçoamento das políticas ao ocupar ministérios como o de Minas e Energia, Previdência, Turismo e outros? Aparte os escândalos da pasta do Turismo, essa pergunta não tem resposta.

A chegada de Renan Calheiros à presidência do Senado e de Henrique Alves à da Câmara só aumenta as preocupações. Ambos estão envolvidos em escândalos sobre uso irregular de recursos públicos e o primeiro acaba de ser denunciado pelo Ministério Público ao Supremo. Isso explica os movimentos nas redes sociais denunciando a impropriedade de políticos de ficha suja ocupar cargos de direção do parlamento, cujas distorções fazem dele uma das instituições menos confiáveis pelos brasileiros. E nem Renan nem Alves parecem talhados para adotar medidas necessárias à recuperação dos poderes do Legislativo, como cumprir a regra de que medidas provisórias só podem ser examinadas em caso de relevância e urgência, reivindicar o direito de o parlamento decidir em definitivo o Orçamento da União, acabar com os atos secretos e conter os excessos corporativistas dos parlamentares.