terça-feira, janeiro 22, 2013

Adrielly dos Santos Vieira: uma tragédia brasileira - MARCUS PESTANA

CONGRESSO EM FOCO - 22/01


“A pediatra fez o que pôde. O chefe do plantão não conseguiu a transferência. O sistema de regulação falhou. O SUS não agiu em rede. O cirurgião substituto chegou tarde demais. O Congresso não aprovou o aumento das verbas da saúde que o governo ameaçou vetar”

É inegável que o Brasil avançou desde os anos 1990 na superação da pobreza. Mas ainda estamos a léguas de distância de um país justo, que garanta à sua população os direitos humanos fundamentais.
O universo das elites guarda uma distância abissal do cotidiano do povo simples que habita a periferia das cidades e do interior do país. De um lado, mensalões, CPIs, “crises institucionais”, “Rosegates”, “Chateaus Petrus”, jatos particulares, carros importados, transações bilionárias. De outro, moradia inadequada, falta de saneamento básico, coabitação com o crime organizado, educação sem qualidade, acesso precário aos serviços de saúde. Em vez de análises ufanistas, seja de que lado vier, é preciso lembrar a permanência de uma inaceitável iniquidade social a nos desafiar. A indignação é o combustível da esperança. A esperança é o motor da ação transformadora.
Adrielly dos Santos Vieira tinha apenas 10 anos. Morava no morro do Urubuzinho, Zona Norte do Rio. Na véspera do Natal, provavelmente só esperava ganhar (ou não) uma boneca de presente. Encontrou em seu caminho uma bala perdida, figura já banalizada, diante de tantas balas perdidas, como se vivêssemos num verdadeiro faroeste sem lei. Em vez da ceia em casa com a família, foi levada, com a bala incrustada em sua cabeça, onde abrigava os sonhos infantis típicos de uma criança pobre da periferia das grandes cidades, para o Hospital Municipal Salgado Filho.
Esperou oito horas pela cirurgia. O dr. Adão Orlando Crespo Gonçalves, neurocirurgião de plantão, não estava lá. Pior, não ia lá há um mês por discordar da estrutura oferecida. Teria avisado isso ao diretor do hospital. Pediu demissão depois que Adrielly teve morte cerebral. É pouco, muito pouco. Por que não se afastou antes? Por que não compareceu ao plantão? E o diretor? Por que não o demitiu e providenciou sua substituição? Ah, sim, o mercado de trabalho, a dificuldade de conseguir especialistas, os salários baixos, o trabalho sem dúvida penoso. Tudo fica pequeno diante da morte da menina de 10 anos, que não escolheu estar no caminho de uma bala perdida, na véspera do Natal, onde provavelmente sonhava com a boneca que ganharia ou não.
A pediatra fez o que pôde. O chefe do plantão não conseguiu a transferência. O sistema de regulação falhou. O SUS não agiu em rede. O cirurgião substituto chegou tarde demais. O Congresso não aprovou o aumento das verbas da saúde que o governo ameaçou vetar. A sociedade cobra qualidade e resultados, mas não se mobiliza para que haja mais verbas e melhor gestão. Onde está a culpa? Quem apertou o gatilho? Que cumplicidade deplorável é esta? Tudo fica pequeno diante da morte de uma criança inocente.
A morte de Adrielly é mais um alerta às elites brasileiras. Há um mundo paralelo e distante onde desfila o cotidiano do povo brasileiro. A nós, homens públicos, é preciso lembrar sempre: é para cuidar das Adriellys espalhadas pelo país que fomos eleitos.

Netanyahu surpreendido - GILLES LAPOUGE


Netanyahu surpreendido
O Estado de S.Paulo - 22/01


Os eleitores israelenses elegem hoje os 120 deputados da Knesset, o seu Parlamento. A campanha eleitoral foi bastante apagada, o que é insólito neste país passional, muito politizado e dividido entre duas visões do futuro radicalmente opostas.

Essa inércia tem duas razões. A primeira é que, para os israelenses, "o jogo está feito". O atual primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, deverá, por lógica, se manter no cargo. A segunda razão decorre da primeira: para os israelenses, seja com entusiasmo ou resignação, a hipótese da criação de um "Estado Palestino" não está na ordem do dia. Na sua opinião, o processo de paz entre Israel e Palestina, mesmo que alusões retóricas sejam feitas nos discursos, está num estado de "morte clínica".

Devemos concluir que Netanyahu, ator e porta-voz da "direita nacionalista" de Israel, terá uma expressiva vitória? Não é certo. Na verdade, o premiê está sendo surpreendido, à sua direita, por personalidades ou partidos mais resolutos.

É o caso, por exemplo, do seu ex-ministro do Exterior, Avigdor Lieberman, líder da formação ultranacionalista "Israel Beiteinu (Israel Nossa Casa). Mas Netanyahu, que comanda o grande partido de direita Likud, associou-se com Lieberman.

Não, o perigo para o atual primeiro-ministro é representado por um outro partido, também de direita, a agremiação nacionalista religiosa Habayit Hayehudi (Casa Judaica). O líder deste partido de extrema-direita é um homem de 40 anos, Naftali Bennet, orador talentoso que dominou a campanha eleitoral. Não cessou de extrapolar os programas já rudes de Netanyahu. Por exemplo, prometeu não realizar nenhuma retirada de colonos dos territórios palestinos ocupados nos próximos quatro anos.

Seus rivais de direita deverão, portanto, limitar a provável vitória do Likud. O partido pode obter apenas 34 assentos na Knesset, frente aos 42 que detém atualmente. É provável, portanto, que Netanyahu, embora vencedor, tenha de forjar uma coalizão para poder governar. Que coalizão? Duas possibilidades apresenta-se uma aliança entre Binyamin Netanyahu, Avigdor Lieberman e alguns partidos de centro, partidários de uma retomada de negociações com os palestinos. Mas Netanyahu consentiria a contragosto tal possibilidade, aparentemente.

Mais coerente e mais provável seria uma coalizão de direita, abrangendo o Likud e Netanyahu, o partido de Lieberman, Israel Beiteinu, e também a Casa Judaica, de Naftali Bennet.

Podemos imaginar que, se uma coalizão deste tipo for constituída após as eleições legislativas no país, alguns rangidos de dentes serão ouvidos nas relações entre Israel e o presidente americano, Barack Obama, que nunca manifestou afeição por Netanyahu.
TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

A diplomacia está morta - ROGER COHEN

O Estado de S.Paulo - 22/01


Soluções eficazes requerem paciência, discrição e vontade de falar com o inimigo, tudo o que não temos hoje em dia



A diplomacia eficaz - do tipo que produziu o reatamento por Richard Nixon das relações com a China, o fim da Guerra Fria em termos americanos, ou o acordo de paz Dayton, na Bósnia - requer paciência, persistência, empatia, discrição, ousadia e uma disposição de conversar com o inimigo. Estamos numa uma era de impaciência, mutabilidade, tagarelice, indigência mental e uma falta de vontade de falar com os maus sujeitos.

Os direitos humanos estão na moda, uma coisa boa, é claro, mas o espaço para uma condução realista do tipo que produziu a paz bósnia em 1995 diminuiu. A realpolitik de Richard Holbrooke não era para melindrosos.

Há outras razões para a morte da diplomacia. Os EUA perderam sua posição dominante sem que nenhuma outra nação assumisse seu lugar. O resultado é um mundo de ninguém. É um lugar onde os EUA agem como um chefe cauteloso, alternadamente encorajando outros a tomar a frente e se preocupando com a perda de autoridade. A Síria tem sido uma lição pouco edificante do curso de uma crise quando a diplomacia está morta. A Argélia mostra como os mortos se empilham quando os entendimentos são descartados como perda de tempo.

A violência, do tipo que a diplomacia um dia resolvia, mudou. Como disse William Luers, um ex-embaixador na Venezuela e diretor de The Iran Project, ela ocorre "menos entre Estados e mais no trato com terroristas". Um resultado é que "os militares e a CIA estavam no assento do motorista nos entendimentos com governos por todo o Oriente Médio e nas relações de Estado para Estado (Paquistão, Afeganistão, Iraque)". O papel dos diplomatas oficiais encolheu.

Aliás, a própria palavra "diplomacia" ficou fora de moda no Congresso, onde suas associações frouxas - trocas, compromisso, flexibilidade, concessões - são evitadas pelos congressistas, que preferem rufar os tambores de confronto, rigidez e inflexibilidade do pós-11 de Setembro: que podem soar bem, mas não levam a parte alguma.

Stephen Heintz, presidente do Rockefeller Brothers Fund, escreveu: "Quando a política doméstica envereda para a polarização e a paralisia, o impacto sobre as possibilidades diplomáticas se torna desorganizadamente limitador". Ele citou Cuba e Irã como exemplos disso; eu acrescentaria israelense-palestina. Essas questões críticas de política externa são vistas menos como desafios diplomáticos do que como fontes potenciais de capital político doméstico.

Assim, quando me perguntei o que esperava que o segundo mandato de Barack Obama inaugurasse, minha resposta foi uma nova era de diplomacia. Ainda não é tarde demais para o presidente ganhar aquele Prêmio Nobel da Paz.

É claro que os diplomatas fazem muitas coisas valiosas mundo afora e mesmo no primeiro mandato houve algumas mudanças significativas - em Mianmar, onde a diplomacia americana paciente produziu uma abertura, e no instável novo Egito, onde a aproximação americana da Irmandade Muçulmana foi importante (e suscitou a questão de quando os EUA fariam o mesmo com o rebento da Irmandade, o Hamas). Mas Obama não conseguiu nenhuma grande ruptura. A calmaria da diplomacia americana está se aproximando do seu20.º ano.

Há algumas razões modestas para pensar que a tampa do caixão da diplomacia pode abrir uma fresta. Este é um segundo mandato. Obama está menos comprometido com os caprichos estridentes do Congresso. A direita republicana que não quer ceder um milímetro está mais fraca. Em John Kerry e Chuck Hagel, seus nomeados para secretário de Estado e secretário da Defesa, Obama escolheu dois profissionais competentes que já viram guerra o bastante para abominá-la. Eles sabem que a paz envolve riscos. As grandes guerras estão se retraindo. Os comandantes militares podem ceder algum espaço aos diplomatas.

Uma diplomacia inovadora não é conduzida com amigos. É conduzida com gente como o Taleban, os aiatolás e o Hamas. Ela envolve aceitar que, para se obter o que se quer, é preciso dar alguma coisa. Ou, coloque-se a questão como Nixon ao buscar um terreno comum com a China comunista: O que nós queremos, o que eles querem, o que ambos queremos? Obama experimentou uma série de enviados especiais no primeiro mandato. Não funcionou. Ele precisa dar poder ao secretário de Estado para fazer o trabalho duro sobre Irã e israelense-palestina. Luers sugeriu que uma "ideia para uma Nova Diplomacia seria Hagel e Kerry levarem junto senadores de ambos os partidos em suas viagens ao exterior e a locais problemáticos. Isso era uma prática comum. Ser ousado com o Senado e tentar aproximá-los".

Para a diplomacia ser bem-sucedida, o barulho precisa ser eliminado.

Há muitos cidadãos-diplomatas sonhadores hoje em dia por aí, tagarelando sobre soluções ilusórias de um Estado para a questão israelense-palestina, e coisas do gênero. A mídia social e a conectividade trazem benefícios imensos. Elas ajudaram a instigar a onda de libertação conhecida como Primavera Árabe. São multiplicadores de força para abertura e cidadania, mas podem desviar da diplomacia de realpolitik, focada, que trouxe as maiores inovações de 1972, 1989 e 1995. Já é hora de termos outra. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

Fator Hugo Chávez - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 22/01


As grandes empreiteiras brasileiras que têm na Venezuela seu principal mercado externo, com obras que totalizam US$ 3 bilhões por ano, estão muito apreensivas com a saúde de Hugo Chávez. Temem, daqui para a frente, uma mudança de rota no governo, mesmo que Chávez se recupere.

Fator Diosdado...
Para a turma do concreto, o vice-presidente Nicolás Maduro parece mais próximo do Brasil. Já o presidente do Congresso, Diosdado Cabello, militar nacionalista, parece hostil às multinacionais, inclusive as do Brasil. A conferir.

Explode coração
O amor dos governos petistas pela indústria automobilística é de doer o coração e o bolso dos contribuintes. Dentro do BNDES, que foi concebido para ajudar a produção nacional, tem quem não se conforme com o fato de o banco financiar montadoras multinacionais, que usam o dinheiro para importação de máquinas.

Dolce far niente
Como se não houvesse amanhã, o ex-banqueiro Luís Otávio Índio da Costa, acusado de lavagem de dinheiro, crimes contra o sistema financeiro e o mercado de capitais, passou o fim de semana passado, em Fernando de Noronha, PE.

No mais
Veja como é dura a vida de Obama. Ontem, quando o democrata tomou posse de seu segundo mandato na Casa Branca, um conhecido advogado carioca, que levou os netos para passear em Orlando, nos EUA, viu vários americanos vestindo camisas defendendo o uso de armas.

O MERGULHO DO BEM-TE-VI
Janeiro tem sido para os cariocas um mês marcado pelo revezamento de chuvas fortes e calor insuportável. Esta dobradinha perversa castiga não só os homens. Veja esta sequência de fotos do leitor Carlos Alberto de Brito e Cunha. O bem-te-vi de coroa (Pitangus sulphuratus), repare, mergulha na piscina da casa dele, na Barra. O veterinário André Sena Maia explica o espetáculo da natureza: “É comum eles beberem água em piscina ou tentarem comer insetos sobre água, mas acredito que esse ‘rapaz’ errou a manobra, fazendo uma aquaplanagem”. Que Deus proteja a natureza, dê um jeito no clima e a nós não desampare jamais.

Futebol e livros
O futebol tem, até hoje, uma presença na literatura brasileira muito aquém de sua importância na cultura do país. Mas, em tempo de Copa do Mundo por aqui, as editoras estão se movimentando.

Segue...
A Companhia das Letras, por exemplo, vai lançar dois romances, no meio deste ano, antes da Copa das Confederações, cujos enredos giram em torno do esporte mais popular entre os brasileiros. Os autores são Sérgio Rodrigues e Marcelo Backes.

Maria da Penha
O empresário da noite baiana Christiano Rangel, bonitão que já foi pivô da separação de um famoso casal de atores, está sendo acusado de espancar uma ex-namorada. Em Salvador, BA, a juíza da 1ª Vara de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, Márcia Lisboa, decretou medida protetiva determinando que ele mantenha distância de 300 metros da vítima, e que não vá nem à casa, nem ao trabalho da moça.

Zona Franca
O ministro Carlos Alberto Reis de Paula já é, ao contrário do que saiu aqui, ministro do TST. Ele será o primeiro negro a ocupar a presidência do tribunal, a partir do dia 5 agora.

A ESPN vai trazer 90 funcionários para a cobertura da Copa de 14.

Começa dia 25 uma exposição sobre Henfil, no Rioprevidência Cultural, no Maracanã. Hoje, a deputada Juliana Brizola participa do evento “Brizola 91 anos”, na Cinelândia.

O ator Paulo Betti está hoje no sarau itinerante “Sesc Casa da Gávea”, em Madureira.

Será lançado hoje, às 19h, no Tijuca T. C., o movimento “Zico 60 anos, um mundo rubro-negro”.

O Pérgula, do Copacabana Palace, recebe hoje o 298º almoço dos Companheiros da Boa Mesa. Ana Kurban estreia reality de remo, no Off.

Petrobras condenada
Ajuíza Nelise Maria Behnken, da 5ª Vara do Trabalho de Duque de Caxias, RJ, condenou a Petrobras a pagar R$ 300 mil a Álvaro Luis Pinto Alves, funcionário da Reduc. Por causa da presença de benzeno no trabalho, segundo a ação, ele contraiu uma doença que ataca a medula óssea. Causa ganha pelo Normando Rodrigues Advogados Associados.

Ao amigo Walmor
A atriz Camilla Amado, 71 anos, recebeu a notícia da morte de Walmor Chagas, seu melhor amigo, sexta passada, minutos antes de subir ao palco do Sesc Copacabana para a peça “O lugar escuro”. Entrou em cena “em nome do teatro e de Walmor”. Arrebatou a plateia.

Crime e castigo
O juiz Fábio Uchôa, da 2ª Vara Criminal do Rio, decretou a prisão preventiva dos 11 acusados de matar o torcedor Diego Martins Leal, em agosto de 2012, horas antes de um jogo entre Flamengo e Vasco.

Efeito Zeca
O presidente da CBF, José Maria Marin, enviou a Zeca Pagodinho cinco toneladas de alimentos e mais duas de água para ajudar as vítimas das chuvas em Xerém.

Blocos de rua
O coleguinha Gilberto Dimenstein, criador e coordenador do site paulista Catraca Livre, fechou parceria com o AfroReggae para lançar o aplicativo Blocos de rua. A ferramenta digital, gratuita, informa o bloco mais próximo e a agenda do carnaval de rua do Rio.

Cena carioca
Domingo à noite, uma madame, com roupa de ginástica, corria no calçadão da Praia da Barra, no Rio, seguida por um... segurança. O sujeito, todo suado, corria de calça jeans e pistola na cintura. Há testemunhas.

A hora é essa - SONIA RACY


O ESTADÃO - 22/01


Barack Obama iniciou ontem sua segunda estada na Casa Branca – garantia, segundo Gabriel Rico, CEO da Câmara Americana de Comércio no Brasil, de que teremos continuidade nas relações com os EUA. O executivo da Amcham, porém, concorda que o País precisa resolver gargalos para aumentar sua capacidade competitiva e diminuir a desconfiança.

O que mais aproxima os dois países atualmente?

Meio ambiente, a busca por energias renováveis e a necessidade de mais transparência na gestão pública. Outra questão que encontra eco no Brasil se refere às armas, que voltaram à mesa de negociações nos EUA.

A infraestrutura ainda é um problema. O que fazer?

Só para se ter ideia, os EUA investiram no mundo inteiro, em 2011, cerca de US$ 400 bilhões – e outro tanto em 2012. No Brasil, foram só US$ 10 bilhões. Ou seja, ainda temos muito a crescer.

Quer dizer, dinheiro existe.

Sim, mas o Brasil precisa aproveitar, principalmente porque a Europa está parada.

Companhias norte-americanas adquiriram muitas empresas brasileiras em 2012.

O que foi bom. Porém, temos de fomentar um ambiente que propicie a criação das chamadas startups – empresas criadas do zero.

Que gargalos impedem esse tipo de investimento?

O mais importante é reduzir o nível de desconfiança. Só assim se cria um cenário propício aos negócios.

A Amcham vai bater mais nesta tecla em 2013?

Nossa luta será pela simplificação do regime tributário e da legislação trabalhista; e pelo aprimoramento de mecanismos que incentivem mais as PPPs. /DANIEL JAPIASSU

Sessão extra
Há quem defenda que, com o Vale Cultura, os teatros brasileiros exibam peças também às terças, quartas e quintas-feiras. Isso possibilitaria um movimento maior e poderia baratear entradas no futuro.

Indagada a respeito, Marta Suplicy avisa: não interfere no mercado, mas vê com bons olhos a proposta. A ministra tem encontro com produtores culturais esta semana.

Data vênia
Ficou mais difícil para Rocha Mattos conseguir sua reinscrição na OAB-SP. Encaminhado para o Tribunal de Ética e Disciplina, o pedido terá de passar pelo crivo do conselho.

Vênia 2
E advogados vão ouvir as famílias de viciados. Para dar suporte ao projeto do governo de São Paulo que prevê internação compulsória de dependentes de drogas.

“Vamos tentar entender melhor os problemas dessas famílias”, diz Cid Vieira de Souza Filho, da OAB-SP.

Recomeçar
A Vai-Vai deixará o Bixiga. Motivo? As ruas ao redor da quadra ficaram apertadas para os ensaios. Ainda sem local definido, a agremiação também se antecipa à construção da Linha 6 do metrô – cujo trajeto passará pelo bairro.

Em tempo: domingo, Raul Cutait e José Luis Oliveira Lima curtiram ensaio da escola.

Na toca
Quem anda recluso é Luís Inácio Adams. Às vésperas da reforma no primeiro escalão do governo Dilma, aguarda conclusão da sindicância na AGU – prevista para o fim do mês.

Com base no pente-fino, a presidente decidirá se ele fica no cargo após as denúncias que derrubaram seu ex-braço direito.

Doce…
Alex Atala inicia ofensiva para regulamentar a venda do mel Jataí – produzido por pequenas abelhas brasileiras e utilizado no D.O.M.

A briga é antiga. E será abordada em palestra do chef no Madri Fusión. “A regularização vai gerar renda para quem precisa”, disse à coluna.

…mel
Aliás, o governo de MG mandou 60 kg de pão de queijo, 2,4 mil garrafas de cachaça, 90 kg de café gourmet e outras iguarias para o evento na Espanha.

Quer promover a culinária como… atrativo turístico.

Jogo sujo
Embalado pelo escandaloso caso de doping de Lance Armstrong, Thomaz Mattos de Paiva, presidente da Agência Nacional Antidoping do atletismo, reforça que a fiscalização no Brasil ainda é incipiente.

O País “precisa combater o problema de maneira sistêmica”, afirma Paiva. “Trata-se de uma questão social, não apenas relativa ao esporte. Há uma cultura de uso de substâncias nas academias”, diz o advogado.

Jogo 2
Favorável ao aumento da punição mínima em caso de doping, ele ressalta que o ciclismo, esporte de Armstrong, sempre foi bastante polêmico.

E defende um choque de gestão: “Muitos corredores do Tour de France já admitiram usar produtos ilícitos”, explica.

Jogo 3
O COB afirmou que não se pronunciará sobre o caso Armstrong e que tem uma política educativa com relação ao doping.

Segundo o comitê, são públicas no site cartilhas de orientação aos atletas, relacionando substâncias proibidas – bem como uma campanha de conscientização para os esportistas.

VIP NA COPA - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 22/01

O número de torcedores em espaços VIPs na abertura da Copa de 2014, no Itaquerão, vai chegar a 14 mil. Na final, no Maracanã, serão 16 mil. São convidados das 80 empresas que já compraram camarotes ou lounges do Programa de Hospitalidade da Fifa, vendido pela Match Hospitality, empresa suíça com exclusividade do serviço para pessoas jurídicas. Custam de US$ 700 (única partida) a US$ 2,3 milhões (camarote para 30 vips em uma série de jogos).

NA FAIXA
Além dos camarotes pagos, haverá outras duas superestruturas para convidados: a da Fifa, onde serão recebidas as autoridades em cada uma das 12 arenas, com capacidade para 60 a 100 pessoas; e os espaços do COL (Comitê Organizador Local), previstos para acomodar de 200 a 400 pessoas.

TÁ SERVIDO?
A Match estima em 17 mil os empregos temporários para atender aos camarotes durante a Copa: 13 mil na área de catering (garçons, cozinheiros e ajudantes) e 4.000 recepcionistas bilíngues.

MEU QUINHÃO
O pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, estima seu patrimônio em R$ 6 milhões, nem 2% dos US$ 150 milhões que a "Forbes" atribuiu a ele, em reportagem sobre os líderes evangélicos mais ricos do Brasil. Ele promete ajuizar ação contra a revista americana nos EUA. "Vou ferrar esses caras", diz. "Vivo de renda voluntária. Eles me prejudicaram. [O fiel] vê aquilo e pensa, 'ih, não vou [dar o dízimo], tá me roubando."

VEJA BEM
O grosso de seu patrimônio, diz Malafaia, são nove imóveis. Uma casa comprada por R$ 800 mil "e que hoje deve valer R$ 2,5 milhões" na zona oeste do Rio, onde é vizinho de Ary Fontoura e Fernanda Lima. E ainda: apartamento para os três filhos (R$ 400 mil cada um), quatro adquiridos na planta por R$ 450 mil e outro em Boca Raton, na Flórida (R$ 500 mil).

Diz que doou à igreja uma Mercedes blindada. "Presente de aniversário de um empresário rico, parceiro meu."

BEBEL INTEGRADA
Bebel Gilberto foi a convidada do show que Flávio Renegado fez no Sesc Pinheiros na sexta. A designer de joias Francisca Botelho e a relações-públicas Marina Morena foram assistir à apresentação do cantor mineiro, que teve samba-rap e hip-hop.

EM NOME DO ESPÍRITO SANTO
Os designers José Marton e Guto Lacaz foram à capela do Morumbi, onde foi inaugurada a instalação "Recuo", do artista Iran do Espírito Santo. A galerista Márcia Fortes e os artistas plásticos Fabio Flaks e Juliana Kase também passaram pelo evento, na tarde de sábado.

SUPERAMIGOS ATIVAR
O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Joaquim Barbosa, virou personagem do show de super-heróis que acontece todos os anos na piscina do hotel Transamerica Ilha de Comandatuba, na Bahia. O relator do julgamento do mensalão foi apresentado como o "juiz que colocou todo mundo na cadeia". Ao lado de Barbosa apareceram Super-Homem, Michael Jackson e Capitão Nascimento.

OBRA EM ANDAMENTO
Adriana Varejão, 48, será mãe de mais uma menina. A artista está grávida de quatro meses do produtor Pedro Buarque de Hollanda, 47, sócio da Conspiração e ex-marido da atriz Mariana Ximenes. Ela, que acaba de inaugurar mostra individual no MAM do Rio, já tem uma filha de sete anos do casamento com o empresário Bernardo Paz.

ANAS 'CAROLINDAS'
A cantora Ana Carolina voltou na semana passada ao bar em que fez sua primeira apresentação profissional, em Juiz de Fora (MG). Lá, se encontrou com o humorista Gustavo Mendes, que faz imitações dela na Globo. Tirou uma foto com ele e postou no Twitter: "Qualquer semelhança é mera coincidência".

MISTER JORGE
Seu Jorge, que se mudou para Los Angeles na semana passada, levou algumas canções prontas. Quer aproveitar a temporada nos EUA para gravá-las, além de investir na carreira de ator.

CURTO-CIRCUITO
Fábio Assunção e Gabriel Braga Nunes estarão hoje na pré-estreia de "País do Desejo", no Cinemark Cidade Jardim. 12 anos.

Tony Oursler, diretor do novo clipe de David Bowie, fará projeções no MAM hoje, às 20h. Na abertura do projeto Parede e da mostra "Circuitos Cruzados".

Marion Muehlen, do Centro de Controle e Prevenção de Doenças da União Europeia, reúne-se amanhã com o secretário da Saúde Giovanni Cerri.

Chieko Aoki apresenta às 19h, no Blue Tree Premium Faria Lima, novo empreendimento, em Macaé (RJ).

A margem preferencial dada à indústria nacional - EDITORIAL O ESTADÃO


O ESTADÃO - 22/01

A indústria brasileira produz a um preço elevado, em razão de diversos fatores sobejamente conhecidos, e exibe baixa produtividade. Foi por isso que o governo aceitou instituir, na compra de equipamentos, uma preferência que pode chegar a até 20% a mais do que o preço do produto importado.

Trata-se de uma margem importante, que mostra ser muito reduzida a competitividade de nossa indústria, mas o governo tomou essa medida com caráter provisório e fixando em R$ 15 bilhões, no máximo, os gastos nos leilões realizados para estimular a indústria nacional por meio das suas compras. A ideia dessa preferência ao produto nacional foi apresentada no governo Lula, mas se concretizou no de Dilma Rousseff. Até agora, foram gastos R$ 2,5 bilhões, sinal de que o sistema de preferências demora a deslanchar, o que, aliás, é uma característica das iniciativas do governo.

Mas interessa examinar quais foram os principais produtos comprados pelo governo com a margem de preferência, pois dão uma idéia de em quais ramos a indústria nacional ostenta uma produtividade melhor. São tratores, escavadeiras, caminhões, ambulâncias e uniformes escolares. São todos produtos para os quais a demanda interna é elevada, o que permite auferir as vantagens de uma produção de massa.

A maioria desses bens, no entanto, tem componentes importados, o que reduz o valor dos incentivos. Existem algumas dúvidas a respeito do efeito dessa margem preferencial no desenvolvimento de tecnologias inovadoras. As compras do governo, porém, estão possibilitando ganhos de produção efetivos, especialmente no caso dos tratores, que têm função importante no desenvolvimento da agricultura, assim como no caso das escavadeiras para a construção civil e obras de infraestrutura.

Porém, se consideramos que o gasto efetivo do governo foi até agora de apenas R$ 2,5 bilhões, não se pode considerar a preferência como fator de salvação da indústria.

Existe, ainda, o risco de que os setores favorecidos se acostumem a viver com a participação do governo e não se mobilizem para desenvolver inovações tecnológicas ou know-how que reduza o custo dos bens oferecidos.

Mas, já que isso tem caráter provisório, seria útil exigir que as empresas beneficiadas comprovem que a margem preferencial auferida permitiu investimentos que reduzem de maneira constante o preço e aumentem a qualidade dos produtos oferecidos, pois os 20% representam, de fato, um gasto da sociedade.

Ueba! Zizao melhor que o Messi! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 22/01


E já tá falando português: "Podemos jogar mais melhor". Tá aprendendo português com os mano!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Xenxaxional! Zizao, o chinês xing-ling do Timão, finalmente estreou! Com a camiseta com patrocínio Galeria Pajé! E tão dizendo que ele jogou melhor que o Messi. Vai ganhar o Pastel Xing-Ling da Fifa!

O Ronaldo Fofômeno disse que o Zizao brilhou! E o Stycer disse que o Zizao foi o melhor chinês que já jogou no Corinthians! Rarará!

E como sabem que o Zizao era o Zizao? Todo chinês é cópia pirata de outro chinês! E já tá falando português: "Podemos jogar mais melhor". Tá aprendendo português com os mano! O Zizao tá falando corintianês. Do mandarim pro manês! E o Zizao é fofo!

E a Dilma fantasiada de vaqueira no Piauí? Seguuuura, peoa! Deram um gibão pra ela. Mas ela não queria um gibão, ela queria um pibão. Pediu um pibão e ganhou um gibão. Rarará!

Adorei a charge do Jorge Braga com a Dilma e o Mantega no elevador: "Maaaaantega, você soltou um PIB?". "Foi um pibinho." Rarará!

E o ranking da revista "Forbes" dos pastores evangélicos mais ricos do Brasil? O Edir Macedo é o mais rico. EDÍRZIMO! Edírzimo Macedo!

E todos esses pastores se converteram. Se converteram de pobres em ricos. E na próxima encarnação eu queria Renascer mais rico que a bispa Sonia! Rarará!

E novidades da Chavezuela? O chargista Marco Aurélio mandou dizer que o Fidel mandou dizer que o Chávez tá encubado! Rarará!

E sabe por que o Lula não foi ao jantar do PT pra arrecadar fundos pros mensaleiros? Porque não sabia! Rarará!

E esta declaração do Alckmin Picolé de Chuchu: "Sensação de insegurança é normal". Típica declaração de um anormal. Rarará!

E o brasileiro é cordial! Ops, o Correio é cordial! Recebi a foto duma caneta Bic do menino do correio, escrita: quem pegar essa caneta é corno! Rarará! Adorei, vou botar isso na minha Bic que roubam o tempo todo. Quem pegar essa caneta é corno! Rarará. É mole? É mole, mas sobe!

Os Predestinados! Deu na revista "Exame": "Maior vendedor de ovos do país, Leandro Pinto". Isso é complexo de Édipo! Rarará!

E o goleiro do Bragantino: Rafael Defendi! Mas quem defendeu o pênalti do Barcos não foi o Defendi. Foi a trave! O Barcos bateu na trave. Titanic verde! Barcos à deriva! Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

A falta de coordenação política do governo - RICARDO GALUPPO

BRASIL ECONÕMICO - 22/01


A presidente Dilma Rousseff tem cobrado de seus ministros a definição de metas e ações capazes de produzir resultados até o final de seu governo. A cobrança é dirigida especialmente aos filiados ao PT - e que, por razões óbvias, são os que mais teriam a perder na hipótese de Dilma não ser reeleita em 2014.

Aparentemente, nada mais correto. Na prática, porém, o pedido revela certa falta de coordenação política daquele que, ao ser eleito em 2010, foi saudado como um dos mais sólidos governos no Brasil democrático.

Em primeiro lugar, as metas que Dilma solicita deveriam ter sido estabelecidas dois anos atrás e os resultados já deveriam estar sendo notados hoje. Deixar passar dois anos para fazer esse pedido revela, na melhor das hipóteses, uma falta de coordenação preocupante num organismo que deveria primar pela coesão.

E, pior do que isso, dá a impressão de que a primeira metade do governo foi um tremendo desperdício de tempo.

Além disso, ao dirigir o pedido única e exclusivamente aos ministros filiados à sua legenda, Dilma permite que se conclua que o resultado das outras pastas não são importantes para seu governo ou, então, que ela prefere que os aliados não tenham um sucesso que lhes permita aumentar o capital político.

O receio, talvez, seja o de que o sucesso dos partidos que lhe dão apoio em troca de posições no ministério depois se volte contra o próprio PT.

O modelo político brasileiro é defeituoso e permite que os ministros de hoje passem amanhã a liderar a oposição ao governo que lhes deu abrigo. Disso, todo mundo sabe. A cena política brasileira está repleta de pessoas e partidos que se aproximam do governo para obter vantagens, mas que não se comprometem com os resultados da administração que dizem apoiar.

A lista de gente que jurava amor a Fernando Henrique Cardoso e que depois, quando o vento eleitoral passou a soprar para o lado do PT, pôs a estrelinha no peito e virou lulista desde criancinha é extensa.

O problema é que Dilma, mesmo sabendo dessa trajetória e conhecendo os riscos dessa estratégia, preferiu manter o mesmo roteiro do toma lá dá cá traçado no governo Lula em lugar de se aproximar dos grupos que poderiam apoiá-la em nome de metas e interesses mais legítimos.

O governo tem pecado pela falta de articulação com a sociedade. Os empresários são cobrados por mais investimentos sem receber de Brasília a devida contrapartida na forma de políticas que satisfaçam a seus interesses, sobretudo no campo fiscal.

A relação do governo com a sociedade tem sido marcada por uma carga desnecessária de tensão, e o resultado que isso produz é uma espécie de hibernação das iniciativas que poderiam resultar, sem dúvida, no crescimento que Dilma tem cobrado de seus ministros. Ainda há tempo de mudar, para o bem da sociedade.

O que faremos em 2013? - ANTONIO DELFIM NETTO

Valor Econômico - 22/01


É difícil ignorar a estagnação do PIB per capita em 2012. É fácil transformá-la na "síntese" do fracasso da política social e econômica do governo Dilma Rousseff, o que, obviamente, é um equívoco.

O ano de 2012 distinguiu-se pelo enfrentamento de velhos e antigos obstáculos ao crescimento e um importante aumento dos gastos com educação e saúde, que são, na realidade, investimento para aumentar o futuro padrão de vida e a produtividade dos cidadãos. O "ativismo" que se critica está na direção correta. O que tem faltado é uma relação "arrogância-competência" mais harmônica dos agentes públicos que fazem a interface com o setor privado de infraestrutura. Isso não tem nada a ver com a qualidade da administração da política econômica!

Estamos no nascimento de 2013. O que será não está escrito nas estrelas e muito menos nos modelos de nossos catastrofistas. Será o que soubermos e pudermos fazer dele: o governo e o setor privado, cada um nos limites das competências fixadas pela Constituição.

O "ativismo" que se critica está na direção correta

Nenhum dos dois pode fazê-lo sozinho. Ao primeiro cabe formular os objetivos, mas resignar-se a sua baixa capacidade de executá-los fisicamente, e aceitar que seu bom desempenho depende de um tratamento amigável com relação ao segundo, transferindo-lhe, com leilões inteligentes, os investimentos de infraestrutura e controlando-o através de agências reguladoras, que estimulem a competição, sejam estáveis e blindadas à política partidária.

A passagem ao setor privado de monopólios "naturais" é uma questão política e técnica altamente complexa e contaminada pelo fato que eles, quando não controlados, são ainda mais cruéis nas mãos do setor privado. Mas é preciso lembrar que, quando os sindicatos desses setores combatem a privatização, não se trata de questão técnica e muito menos "ideológica": trata-se do "interesse" dos que sabem que vão perder o conforto dos benefícios que recebem à custa dos consumidores, que não têm alternativa.

Dentro do quadro institucional delineado por tais restrições, os estímulos ao setor privado devem ser universais e promovidos pelos preços relativos construídos no mercado. Os subsídios (que devem ser claramente consignados no Orçamento) devem ser reservados àqueles projetos que, sem nenhuma dúvida, possuem taxa de retorno social maior do que a do mercado, como é, seguramente, o caso de alguns projetos de infraestrutura.

Não há justificativa social ou econômica para subsidiar "ganhadores escolhidos" para criar gigantescos oligopsônios e oligopólios privados em detrimento, mais dia menos dia, dos interesses dos consumidores como já estamos vendo. E, muito menos, proteger fortemente setores de insumos básicos, sem levar em conta os seus efeitos sobre as tarifas efetivas dos bens que os consomem.

Todas essas preocupações parecem estar na atual política governamental ativa. Esta busca, ainda, aumentar a igualdade de oportunidades para todos os cidadãos e diminuir os efeitos cíclicos sobre o nível de emprego.

É uma ilusão pensar que, deixada a si mesma, a organização natural dos mercados levará a um equilíbrio eficiente. Ilusão maior ainda é imaginar que exista uma receita universal produzida pela "ciência econômica". Na organização do mundo, Deus foi duro com os economistas: deu-lhes como objeto de estudo o homem, um átomo que pensa, que imita, aprende, inova e transmite sua experiência. Dessa forma, em cada momento ele é mais rico e diferente do que no anterior, pela acumulação da informação e imersão social.

As implicações desse fato para a economia são fundamentais: nunca há equilíbrio. Nunca o futuro será igual ao passado. Cada observação de uma série de tempo não é uma amostra extraída ao acaso de uma "urna" que contém os seus estados possíveis. Não há, como no mundo físico, a estabilidade do universo observável, onde, para todos os fins práticos, o presente reproduz o passado e este antecipa o futuro, um processo ao qual se dá o nome de "ergódico".

Como o agente econômico incorpora as informações do passado, e está sempre aprendendo no presente, o futuro não poderá ser a repetição de nenhum dos dois. Ele vive um processo "não ergódico".

Essas observações pedestres tiram toda a esperança de que possa existir uma teoria econômica universal, independente da história e da geografia, que permita colocar a política social e econômica no "piloto automático", como, por exemplo, o famoso "tripé" a que se apegam com vigor quase religioso alguns de nossos mais notáveis sacerdotes.

Por outro lado, os enormes conhecimentos acumulados nos últimos 250 anos, e a experiência histórica vivida, não autorizam a pensar que o voluntarismo que os ignora possa manter um voo longo e bem-sucedido.

Com a estagnação do PIB per capita em 2012, é mais fácil distinguir o seu nível da sua taxa de crescimento. O nível é definido pelo que está aí: 1) a confiança entre o setor privado e o governo, as instituições, o ambiente macro e microeconômico e social; 2) o estoque de mão de obra empregado e a sua utilização; e 3) o estoque de capital (infraestrutura, máquinas, equipamentos etc.) e a sua utilização.

A taxa de crescimento depende da modificação para melhor dessas três condicionantes, todas sensíveis a manobras inteligentes do governo em 2013. É isso que o definirá.

Faltam líderes, dizem os líderes - CLÓVIS ROSSI

FOLHA DE SP - 22/01


Pesquisa mostra que o "povo de Davos" tem escassa confiança nos que fazem a governança global


ZURIQUE - Os senhores do universo, que há 43 anos se reúnem todo janeiro em Davos para o Fórum Econômico Mundial, assumem que estão em dívida com o mundo.

É a interpretação cabível para os resultados do Índice de Confiança Econômica, uma pesquisa que o Fórum fez com 390 especialistas, divulgada ontem, antevéspera da inauguração do encontro-2013.

Perguntados sobre seu teor de confiança em relação a cooperação, economia e governança globais, é neste último quesito que aparece a maior dose de desconfiança: a maioria (50,5%) diz ter pouca ou nenhuma confiança. Escassos 14,6% são otimistas. Os demais são neutros.

Como governança global é responsabilidade não só do governo, mas também das corporações, muitas vezes mais poderosas que os próprios governos, fica claro que há uma desconfiança planetária nos líderes.

Desconfiança que aparece também no quesito "cooperação global", outro ponto que depende de líderes fortes e competentes: apenas 24,6% dos pesquisados confiam em que haverá cooperação, contra 44,6% que têm pouca ou nenhuma confiança. Porcentagens parecidas surgem quando se fala em confiança na economia global: 22,6% confiam, 43,1% desconfiam.

Depõe Martina Gmür, chefe da Rede dos Conselhos da Agenda Global, um dos muitos braços do Fórum Econômico Mundial:

"Liderança emerge como o maior desafio para todo o ano de 2013 e além dele, o que talvez não seja surpreendente se se considerar que quase todos os líderes de hoje cresceram em um mundo totalmente diferente do que temos atualmente".

Reforça Pascal Lamy, chefe da Organização Mundial do Comércio: "Necessitamos governança global adequada e que tenha os necessários instrumentos, poder e energia para criar um campo de jogo mais equilibrado no nível internacional".

A anemia da liderança planetária ajuda a explicar por que a economia continua patinando cinco anos após eclodir a chamada Grande Recessão, ao menos na percepção dos pesquisados pelo Fórum.

É verdade que a confiança no estado da economia mundial melhorou algo neste início de ano: o Índice de Confiança Econômica subiu de 0,38 no último trimestre do ano passado para 0,43 agora, em uma escala de 0 a 1. Mas permanece em território negativo.

Para dobrar a esquina rumo ao positivo, é necessário alcançar 0,5, com o que se volta ao deficit de liderança: "Precisamos de liderança dinâmica para conduzir a economia para a frente e superar desafios", diz Martina Gmür.

É nesse ambiente morno que começa o encontro anual-2013. E começa, mais uma vez, com raquítica presença brasileira. Só um ministro (Celso Amorim, Defesa, área que não está no foco das preocupações). Da equipe econômica, só Luciano Coutinho, presidente do BNDES, em geral avesso a holofotes.

O governo perde, com isso, a chance de mostrar para os senhores do universo, o público de Davos, que a economia brasileira está longe de ser "moribunda", como chegou a dizer a "Economist", a revista mais lida em Davos.

O fim dos dois Estados - JOÃO PEREIRA COUTINHO

FOLHA DE SP - 22/01


Na teoria e na prática, o conflito israelense-palestino mudou de natureza - e mudou para pior


LONDRES - É um hábito meu: entro na livraria Foyles, de Charing Cross, subo ao segundo piso e encaminho-me para as estantes sobre o conflito israelense-palestino. Gosto sempre de ver quais são as últimas modas do momento.

Durante anos, o cenário era o mesmo: havia livros pró-Israel; havia livros pró-Palestina.

Mas, em todos eles, existia sobretudo uma finalidade comum: a existência de dois Estados, com fronteiras seguras e reconhecidas, e com Jerusalém como capital partilhada.

A diferença estava apenas na atribuição de culpas: para uns, era Israel que não aceitava os dois Estados; para outros, eram os palestinos. Mas o paradigma dos dois Estados era a linguagem de ambas as partes.

Claro que, por cima de tudo isso, pairava o problema dos refugiados palestinos das guerras de 1948 e 1967. Para os palestinos, os refugiados (e os filhos dos filhos dos refugiados) deveriam regressar para Israel.

Para os israelenses, seria impensável aceitar o retorno de 4 milhões de palestinos a um Estado especificamente judaico.

Mas até aqui havia propostas de compromisso: alguns refugiados regressariam a Israel (ao abrigo de programas de reunificação familiar); outros seriam indenizados por suas perdas em 1948 e 1967; mas a maioria teria um novo lar em uma nova Palestina.

Fosse como fosse, repito: a cartilha do debate continuava a ser a resolução 181 das Nações Unidas recomendando o estabelecimento de dois Estados; e uma Palestina independente existiria em Gaza e na Cisjordânia, dentro das fronteiras pré-1967. Só faltava saber como chegar lá.

Algo mudou entretanto. E o que mudou foi a conversa dos dois Estados. São vários os livros que começam com o abandono da premissa. E, como bem notou a revista "The Economist" na mais recente edição, esse abandono teórico apenas reflete a situação vivida no terreno.

Para os palestinos "moderados", e mesmo para alguns israelenses progressistas, se a solução dos dois Estados falhou continuamente, talvez seja a altura de pensar um único Estado binacional para judeus e árabes. Uma ambição estimável, sem dúvidas, sobretudo se esquecermos as lições da Iugoslávia pós-Tito. Ou, melhor ainda, do Líbano "multiétnico" ali tão perto.

Para os palestinos radicais, o problema dos dois Estados nem sequer é político. É sacrílego. Como disse recentemente Khaled Meshaal, líder do Hamas, a Palestina pertence aos palestinos -e apenas aos palestinos. Israel, em suma, deve ser riscado do mapa.

Para os israelenses, vira o disco e toca o mesmo: a quimera dos dois Estados pode fazer sentido em livros de história.

Mas, na prática, essa quimera morreu em 2000 quando Arafat recusou o pacote completo: um Estado palestino independente, com Jerusalém como capital partilhada e o retorno de alguns refugiados palestinos a Israel.

Esse funeral foi seguido por outro, ainda mais brutal: em 2005, Ariel Sharon retirava unilateralmente Israel de Gaza. O passo poderia ser o início de um retirada posterior da Cisjordânia, entregando aos palestinos a autonomia dos territórios e abrindo caminho a um Estado independente.

Azar: com a emergência do Hamas em Gaza em 2006; com a guerra civil "de fato" entre várias facções palestinas em 2007; e com os foguetes do Hamas a atingir território israelense com sazonal regularidade, a retirada da Cisjordânia ficou adiada "sine die". E, com ela, qualquer possibilidade de dois Estados soberanos e independentes. Os assentamentos na Cisjordânia são apenas a cereja no topo do bolo.

Hoje, quando os israelenses forem às urnas, eles não irão apenas dar a vitória a Benjamin Netanyahu e reforçar a direita integrista de Naftali Bennett. Eles vão enterrar de uma vez por todas a conversa gasta dos dois Estados, que nenhuma das partes está mais disposta a aceitar.

Na teoria e na prática, o conflito israelense-palestino mudou de natureza -e mudou para pior. Alguém deveria informar o pessoal da livraria Foyles que existem estantes inteiras de livros sobre a matéria que hoje só fazem sentido no latão do lixo.

A morte virou lugar-comum - ARNALDO JABOR


O Estado de S.Paulo - 22/01



Só se fala em morte, hoje em dia. Quantos morreram hoje na Síria? Só 130? Ontem foram 200. E na periferia de São Paulo, quantas chacinas? Só duas, com alguns feridos? Quando Hannah Arendt cunhou a expressão "banalidade do mal", ela não imaginava como a morte se tornou um fato corriqueiro no mundo atual, sem os trágicos acordes do Holocausto. Talvez haja nas matanças banais um desejo de desvendar o mistério da morte, bem lá no fundo do inconsciente.

Para além de vinganças, busca de poder ou dinheiro, ódio puro, prazer, há a vontade de 'naturalizar' a morte, de modo que ela deixe de ser a implacável ceifadora.

Tenho certeza de que os assassinos que passam de moto e metralham inocentes não têm consciência da gravidade de seus feitos - apenas mais um dia divertido de violências. Os filmes americanos buscam o tempo todo essa banalidade: tiros súbitos sem piedade, jorros de sangue ornamentais, a beleza fálica das superarmas automáticas. Nos brutos filmes de ação, nos videogames, nas notícias bombásticas de tragédias há um claro desejo de esquecer a morte, mostrando-a sem parar. Um desejo de matar a morte. Um desejo de entendê-la pela repetição compulsiva. Mas, nunca conseguiremos exorcizá-la, porque quando ela chega não estamos mais aqui. Gilberto Gil fez uma música genial sobre a morte, onde ele canta, numa toada fúnebre:

"A morte já é depois/ já não haverá ninguém/ como eu aqui agora/ pensando sobre o além. / Já não haverá o além/ o além já será então/ não terei pé nem cabeça/ nem fígado, nem pulmão/ como poderei ter medo/ se não terei coração?" É isso. Só se pode falar da morte pela ausência. Nós apenas saímos do ar. Desaparecemos.

Ela é tão banal que inventamos solenes rituais para dar-lhe consistência, religiões ou crenças materialistas para nos consolar: "O universo é a eternidade. Deus é o universo, a substância. Ele está nas galáxias e no orgasmo, nos buracos negros e no coração batendo..." "Grandes merdas" - penso hoje -, pois quando ela chega acaba a literatura. Aliás, falar sobre a morte também é um lugar-comum - mas agora, é tarde demais para mim -, tenho de ir em frente. Até o grande Guimarães Rosa caiu nessa: "Morremos para provar que vivemos". O Nelson Rodrigues me perguntava sempre: "Pelo amor de Deus, me explica essa frase! E qual a profundidade de "Viver é muito perigoso?"

A morte só tem "antes", não tem "depois" - no Ivan Ilitch, do Tolstoi, quando ela chega, acaba o conto. Ele diz no instante final: "A morte acabou". Dizem que o Muhammad Atta, o terrorista que comandou o ataque às torres de NY, era ateu, mas queria conhecer aquele instante que separava o avião da torre erguida. A morte não está nem aí para nós; ela tem "vida própria". A gente vai para um lado, o corpo para o outro. Ela nos ignora, nossos méritos, nossas obras. Mais um lugarzinho comum: "Só nos resta viver da melhor maneira possível até o fim. Tem mais é que curtir, gente boa..." Pois é; há muitos anos, pegou fogo no edifício Joelma em São Paulo, torrando dezenas de infelizes. Do prédio em frente, as teleobjetivas fotografaram todas as agonias. Até hoje, lembro-me da foto em cores de um homem de terno, pastinha 007, agachado numa janela do 20.º andar, com o fogo às costas. Seu rosto mostrava a dúvida: "O que é melhor para mim? Morrer queimado ou me jogar?" Ele curtiu até o fim - e se jogou.

O que me chateia é ficar desatualizado. As notícias vão rolar e eu nada saberei. Haverá crises mundiais, filmes que estreiam, músicas novas, e eu ficarei lá embaixo, sem saber das novidades. É insuportável a desinformação dos falecidos.

Meu avô me disse uma vez: "Acho triste morrer, seu Arnaldinho, porque nunca mais vou ver a Av. Rio Branco..." Isso me emocionou, pois ele ia diariamente ao centro da cidade, onde tomava um refresco de coco na Casa Simpatia. Por isso, quando me penso morto, eu, que não irei ao meu enterro, de que terei saudades? Ou melhor, que saudades teria se as pudesse ter?

Não terei saudades de grandes amores, de megashows da vida de hoje, excessiva e incessante. Não. Debaixo da terra, terei saudades de irrelevâncias essenciais, terei saudades de algumas tardes nubladas de domingo que só o carioca percebe, tudo parado, com os urubus dormindo na perna do vento, como dizia o sempre presente Tom, do radinho do porteiro ouvindo o jogo, terei saudades do cafezinho nas beiras dos botequins, de certos tons de roxo e rosa em Ipanema antes da noite cair, saudades do cafajestismo poético dos cariocas, saudades dos raros instantes sem medo ou culpa, de alguns momentos de felicidade profunda, sem motivo, apenas pela gratidão de respirar. Não terei saudades dos fatos e notícias, nada do mundo febril; só a quietude, o silêncio entre amigos na paz de um bar, papos de cinéfilo, risos proletários e camaradagem de subúrbio, do samba que nos envolve nas rodas pobres com a alegre sabedoria da desesperança, da Lapa, da Av. Paulista de noite, do jazz, pernas cruzadas de mulheres inatingíveis, terrenos baldios de minha infância, saudades da literatura, do prazer da arte, Fellini, Shakespeare, de Cantando na Chuva - o maior hino da alegria americana, saudades de Fred Astaire dançando Begin the Beguine com Eleanor Powell, felizes para sempre dentro do universo estrelado.

Há várias mortes. Há brutas tragédias, fomes e bombas, horrendos desastres, mas, na morte óbvia, comum, caseira, só temos duas escolhas: súbita ou lenta.

Você, frágil leitor, qual delas prefere? O rápido apagar do "abajur lilás" de um ataque cardíaco ou o lento esvair da vida, sumindo com morfina? Se eu pudesse escolher, queria morrer como o velho Zorba, o grego, em pé, na janela, olhando a paisagem iluminada pelo sol da manhã. E, como ele, dando um berro de despedida.

Obama 2.0 - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 22/01


Com uma demonstração de respeito pela Constituição, que diz que a posse deve ser no dia 20 de janeiro, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, tomou posse oficialmente no domingo perante a Suprema Corte e ontem foi a festa oficial diante do Congresso, com o discurso para o povo. Nem mesmo a "continuidade administrativa" justificaria a mudança de datas num país onde as instituições funcionam.

O cuidado é tanto que, em 2009, o presidente da Suprema Corte, juiz John Roberts, foi à Casa Branca para Obama repetir o juramento, pois errara algumas palavras na cerimônia do dia anterior. Ontem, Obama brincou com sua filha Sasha ao final do juramento em que não errou: "Consegui".

O nervosismo natural da primeira posse dá lugar a uma maior determinação do presidente reeleito, que terá pela frente projetos políticos delicados além dos problemas econômicos: o controle de armas (a que não se referiu no discurso) e a nova lei de imigração (que fez parte dos compromissos públicos assumidos ontem).

Por sinal, a juíza da Suprema Corte Sonia Sotomayor, nomeada por Obama, foi a primeira hispânica a participar da cerimônia de posse das mais altas autoridades do país ao tomar o juramento do vice-presidente Joe Biden.

O presidente Obama reiterou a disposição de seu governo de levar a democracia a todas as partes do mundo: "Nós vamos apoiar a democracia em todo o mundo. Porque simpatizamos com aqueles que defendem a liberdade, os EUA continuarão a ser a âncora de alianças fortes em todos os cantos do mundo. Porque nenhuma nação tem uma participação maior por um mundo pacífico do que sua nação mais poderosa."

Mas Obama terá, sobretudo, que enfrentar uma situação internacional conturbada por novos focos de terrorismo no norte da África, que muitos observadores atribuem à queda do ditador libanês Muamar Kadafi, o mesmo podendo acontecer em decorrência da luta para tirar do poder o ditador da Síria, Bashar Al Assad. Em ambos os casos, as forças da Otan apoiaram e apoiam, pelo menos informalmente, as forças rebeldes, formadas por diversos grupos extremistas islâmicos, alguns ligados à Al Quaeda.

Esses "efeitos colaterais" da Primavera Árabe, que derrubou as ditaduras do Egito, da Tunísia e da Líbia, estão sendo analisados agora como uma nova fonte de problemas para o governo americano, mas não há ainda um consenso sobre quão diretamente os Estados Unidos devem enfrentar a situação.

Uma reportagem do "International Herald Tribune" lembrava ontem que o ditador Kadafi, ao ver a derrota se aproximar, advertiu os líderes ocidentais de que, se ele fosse derrubado, "o caos e a guerra santa" tomariam conta do norte da África. O painel independente que analisou o ataque de Benghazi, na Líbia, onde foi assassinado o embaixador americano J. Christopher Stevens, acusou o serviço secreto dos Estados Unidos de ter falhado na identificação das diversas milícias terroristas da região, que estão em constante mutação. O fato é que tanto a crise dos reféns no campo de gás da Argélia quanto a ação da França em Mali estão sendo vistas como consequências da ação de grupos terroristas que estiveram envolvidos na guerra que acabou derrubando o ditador Kadafi.

Num mundo multipolar onde os Estados Unidos serão "a âncora segura", mas não ditarão as regras hegemonicamente, o presidente Barack Obama assume seu segundo mandato falando em união dos americanos para superar a crise econômica e, sobretudo, fala sobre o futuro com olhos para dois objetivos: a preservação do meio ambiente, que passa a ser uma prioridade, e as inovações tecnológicas que levarão os Estados Unidos, segundo Obama, a superar a crise econômica e a manter a liderança desse novo mundo.

Um cidadão acima de qualquer suspeita - MARCO ANTONIO VILLA

O GLOBO - 22/01


São abundantes os indícios que ligam Lula a um conjunto de escândalos. O que está faltando é o passo inicial que tem de ser dado pelo Ministério Público: a investigação das denúncias



Luís Inácio Lula da Silva se considera um cidadão acima de qualquer suspeita. Mais ainda: acha que paira sobre as leis e a Constituição. Presume que pode fazer qualquer ato, sem ter que responder por suas consequências. Simula ignorar as graves acusações que pesam sobre sua longa passagem pela Presidência da República. Não gosta de perguntas que considera incômodas. Conhecedor da política brasileira, sabe que os limites do poder são muito elásticos. E espera que logo tudo caia no esquecimento.

Como um moderno Pedro Malasartes vai se desviando dos escândalos. Finge ser vítima dos seus opositores e, como um sujeito safo, nas sábias palavras do ministro Marco Aurélio, ignora as gravíssimas acusações de corrupção que pesam sobre o seu governo e que teriam contado, algumas delas, com seu envolvimento direto. Exigindo impunidade para seus atos, o ex-presidente ainda ameaça aqueles que apontam seus desvios éticos e as improbidades administrativas. Não faltam acólitos para secundá-lo. Afinal, a burra governamental parece infinita e sem qualquer controle.

Indiferente às turbulências, como numa comédia pastelão, Lula continua representando o papel de guia genial dos povos. Recentemente, teve a desfaçatez de ditar publicamente ordens ao prefeito paulistano Fernando Haddad, que considerou a humilhação, por incrível que pareça, uma homenagem.

Contudo, um espectro passou a rondar os dias e noites de Luís Inácio Lula da Silva, o espectro da justiça. Quem confundiu impunidade com licença eterna para cometer atos ilícitos, está, agora, numa sinuca de bico. O vazamento do depoimento de Marcos Valério – sentenciado no processo do mensalão a 40 anos de prisão - e as denúncias que pesam sobre a ex-chefe do gabinete da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Noronha, deixam Lula contra a parede. O figurino de presidente que nada sabe, o Forrest Gump tupiniquim, está desgastado.

No processo do mensalão Lula representou o papel do traído, que desconhecia tratativas realizadas inclusive no Palácio do Planalto – o relator Joaquim Barbosa chamou de "reuniões clandestinas" -; do mesmo modo, nada viu de estranho quando, em 2002, o então Partido Liberal foi comprado por 10 milhões, em uma reunião que contou com sua presença. Não percebeu a relação entre o favorecimento na concessão para efetuar operações de crédito consignado ao BMG, a posterior venda da carteira para a Caixa Econômica Federal e o lucro milionário obtido pelo banco. Também pressionou de todas as formas, para que, em abril de 2006, não constasse do relatório final da CPMI dos Correios, as nebulosas relações do seu filho, Fábio Luís da Silva, conhecido como Lulinha, e uma empresa de telefonia.

No ano passado, ameaçou o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes. Fez chantagem. Foi repelido. Temia o resultado do julgamento do mensalão, pois sabia de tudo. Tinha sido, não custa lembrar, o grande favorecido pelo esquema de assalto ao poder, verdadeira tentativa de golpe de Estado. A resposta dos ministros do STF foi efetuar um julgamento limpo, transparente, e a condenação do núcleo político do esquema do mensalão, inclusive do chefe da quadrilha – denominação dada pelo procurador-geral da República Roberto Gurgel – sentenciado também por corrupção ativa, o ex-ministro (e todo poderoso) José Dirceu, a 10 anos e 10 meses de prisão. Para meio entendedor, meia palavra basta.

As últimas denúncias reforçam seu desprezo pelo respeito as leis. Uma delas demonstra como sempre agiu. Nomeou Rosemary Noronha para um cargo de responsabilidade. Como é sabido, não havia nenhum interesse público na designação. Segundo revelações divulgadas na imprensa, desde 1993 tinham um "relacionamento íntimo" (para os simples mortais a denominação é bem distinta). Levou-a a mais de duas dúzias de viagens internacionais – algumas vezes de forma clandestina - , sem que ela tenha tido qualquer atribuição administrativa. Nem vale a pena revelar os detalhes sórdidos descritos por aqueles que acompanharam estas viagens. Tudo foi pago pelo contribuinte. E a decoração stalinista do escritório da presidência em São Paulo? Também foi efetuada com recursos públicos. E, principalmente, as ações criminosas dos nomeados por Lula - para agradar Rosemary – que produziram prejuízos ao Erário, além de outros danos? Ele não é o principal responsável? Afinal, ao menos, não perguntou as razões para tais nomeações?

Se isto é motivo de júbilo, ele pode se orgulhar de ter sido o primeiro presidente que, sem nenhum pudor, misturou assuntos pessoais com os negócios de Estado em escala nunca vista no Brasil. E o mais grave é que ele está ofendido com as revelações (parte delas, registre-se: e os 120 telefonemas trocados entre ele e Rosemary?). Lula sequer veio a público para apresentar alguma justificativa. Como se nós, os cidadãos que pagamos com os impostos todas as mazelas realizadas pelo ex-presidente, fossemos uns intrusos e ingratos, por estarmos "invadindo a sua vida pessoal."

Hoje, são abundantes os indícios que ligam Lula a um conjunto de escândalos. O que está faltando é o passo inicial que tem de ser dado pelo Ministério Público Federal: a investigação das denúncias, cumprindo sua atribuição constitucional. Ex-presidente, é bom que se registre, não tem prerrogativa de estar acima da lei. Em um Estado Democrático de Direito ninguém tem este privilégio, obviamente. Portanto, a palavra agora está com o Ministério Público Federal.


Dilmistas? Que dilmistas? - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 22/01


BRASÍLIA - Todo dia, toda hora, surgem uma nota, um comentário e até reportagens sobre as relações entre Lula e Dilma, que devem se encontrar nesta sexta, em São Paulo.

Todos vão na mesma direção: o criador anda "preocupado" com sua criatura, depois de receber uma ladainha de reclamações sobre o estilo um tanto brusco, o excesso de centralização e as coisas que empacam no governo, a começar do próprio crescimento econômico.

Entre os que reclamam estão, além de empresários e aliados, os petistas e até ministros, que pedem a Lula que "faça alguma coisa". Equivale a dizer: dê ordem de comando. E Lula está convencido de que precisa intervir, para salvar o legado e garantir a vitória do PT em 2014.

O que não cabe é a versão de "lulistas" x "dilmistas". Quem é dilmista? Só o Pimentel (Desenvolvimento).

Pouco importa que tendências integrem o partido, as cúpulas do PT de ontem, de hoje e do futuro são todas lulistas, desde os mensaleiros liderados por José Dirceu até a turma do atual presidente, Rui Falcão.

Os próprios ministros petistas estão mais para Lula, a quem visitam e reverenciam. O melhor exemplo é Gilberto Carvalho, pau para toda obra e deixado no Planalto por Lula para ser seus olhos e ouvidos.

Paulo Bernardo (Comunicações) é dilmista? Gleisi Hoffmann (Casa Civil), mesmo com toda a sua lealdade a Dilma, pode ser chamada de dilmista? Alexandre Padilha (Saúde)?

Como Ideli Salvatti não conta, talvez os menos lulistas -ou melhor, mais dilmistas- sejam José Eduardo Cardozo (Justiça), Marta Suplicy (Cultura) e Aloizio Mercadante (Educação), que praticamente ficaram ao relento na era Lula e ganharam seu lugar ao sol com Dilma.

Mas Cardozo e Marta são independentes por índole e Mercadante sonha com o Palácio dos Bandeirantes. Adivinhe quem vai definir o candidato: Lula ou Dilma?

Logo, muita gente pode até estar com Dilma, mas o PT é Lula.

Obama e Dilma - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 22/01


É interessante ver como agem os presidentes em ano eleitoral e em seus discursos de posse. Especialmente, quando se trata de um presidente que não pode concorrer à reeleição, caso de Barack Obama. Ao assumir ontem seu segundo mandato como comandante dos Estados Unidos, ele citou todos os temas sobre os quais transitou cheio de cuidados durante a campanha presidencial no ano passado. Usou diversas vezes o verbo “to seize” (agarrar), “seize the moment” (agarrar o momento), ou seja, agarrar as oportunidades de desenvolvimento em vários sentidos.

Para quem não teve a chance de acompanhar o discurso, vai aqui um flash. Obama mencionou as necessidade de agir para mitigar os efeitos das mudanças climáticas — tema que evitou no ano passado, passando longe da Rio+20, em junho, quando estava em pleno tiroteio com os republicanos. Deixou passar a intenção de que deseja dar mais oportunidades àqueles que ainda buscam nos Estados Unidos o propalado “sonho americano” de “vida, liberdade e felicidade”, expressões bastante repetidas. Citou também os gays, que devem ter seus direitos respeitados em todos os sentidos.

Obama não tem nada a perder citando esses temas que seriam um campo minado na campanha presidencial, à qual ele começou com aprovação e reeleição duvidosas. Aos poucos, entretanto, os ventos foram dando ao presidente dos Estados Unidos a estabilidade para ser ele novamente a discursar na frente do Capitólio, em Washington.

Enquanto isso, no Brasil…

O calendário eleitoral está tão antecipado que Dilma passará não apenas um, mas dois anos pisando em ovos nas questões polêmicas. O aumento do preço da gasolina, por exemplo, citado desde o ano passado como necessário, vem sendo postergado, esperando que os resultados das medidas econômicas adotadas em 2012 sejam mais perceptíveis e, aí, essa notícia ruim possa ser absorvida sem tanto estardalhaço.

O mesmo vale para mudanças no ministério. Entre mexer em vários ministros e arrumar problemas, ela prefere esperar. Por agora, será apenas uma “mudança na decoração”, conforme avaliam aqueles mais próximos à presidente. A equipe econômica, embora esteja recheada de divergências, não muda. O Planalto considera normal que eles discutam as medidas internamente, desde que, é claro, não batam boca publicamente.

Em público, a intenção de Dilma é pintar o mundo não tão cor de rosa, mas mostrar que o governo está no caminho certo. Em toda a campanha, vale lembrar, o presidente dos Estados Unidos, com uma avaliação inferior à da presidente Dilma hoje, sempre dizia que, apesar das dificuldades, estava no rumo e isso foi crucial para garantir mais quatro anos. Ela agora quer repetir esse feito daqui. Falta combinar com o eleitor.

Por falar em combinar…

Os líderes petistas vão aconselhar o próprio partido a evitar um ato de desagravo ao ex-presidente Lula na reunião dos prefeitos marcada para a semana que vem. Afinal, o encontro é republicano, terá a presença de administradores eleitos por PSDB, DEM. Logo, a possibilidade de dar errado é grande. Portanto, avisam alguns, melhor evitar um carnaval fora de época, seja para os oposicionistas, seja para Lula.

Por falar em carnaval…

Só depois que os partidos da base aliada escolherem suas novas lideranças parlamentares é que a presidente Dilma Rousseff vai definir os nomes dos líderes do governo na Câmara dos Deputados, no Senado Federal e no Congresso — ou se os atuais interlocutores do Palácio no parlamento ficam ou não nos cargos. Há um consenso de que deve haver sintonia entre líderes governistas e dos principais partidos de apoio à Dilma: PT e PMDB. Por isso, a decisão sobre esses cargos — que dão muita visibilidade política — só vai sair, mesmo, depois do carnaval.

Imagem e semelhança - DORA KRAMER


O Estado de S.Paulo - 22/01


Não surpreende a sem cerimônia com que o Congresso se prepara para eleger presidentes de suas duas Casas um deputado e um senador cujas trajetórias colidem com o decoro formalmente exigido para o exercício da atividade parlamentar.

A razão da naturalidade é a pior possível: o Parlamento não se dá ao respeito e isso não causa espanto nem move forças suficientes para mudar o curso da triste história.

A menos que o inesperado faça uma surpresa, daqui a duas semanas Henrique Eduardo Alves e Renan Calheiros serão os escolhidos para presidir a Câmara e o Senado, respectivamente, pelos próximos dois anos.

Ungido por força de um acordo de rodízio entre PT e PMDB firmado ainda no governo Lula, na reta final Alves está envolto em atmosfera de irregularidades relativas à destinação de emendas e verbas de representação parlamentar.

Antes, em 2002, havia sido obrigado a abrir mão da candidatura de vice-presidente da chapa de José Serra em decorrência de informações dadas pela ex-mulher, Mônica Azambuja, em processo de divórcio litigioso, sobre depósitos de R$ 15 milhões em contas sem a devida declaração, em paraísos fiscais mundo afora.

No quesito folha corrida, Calheiros quase chega a dispensar apresentação. É alvo de investigações por crime ambiental, é suspeito de comandar emissoras de rádio por meio de testas de ferro, em 2007 foi processado por falta de decoro parlamentar porque uma empreiteira pagou a pensão da filha que teve com a jornalista Mônica Veloso, na ocasião apresentou documentos fraudulentos ao Senado para comprovar rendimentos e finalmente renunciou à presidência da Casa em troca da manutenção do mandato.

A maioria dos senadores aceitou o escambo e o inocentou na votação secreta em plenário. A maioria, agora, ao que tudo indica, não vê nada demais em reconduzi-lo ao posto para cujo exercício era tido como moralmente impedido há seis anos.

Tanto tem consciência do disparate, que Calheiros é candidato na condição de sujeito oculto: ainda não se lançou oficialmente para reduzir o tempo de exposição a eventuais protestos.

Ao que se vê, no entanto, medida cautelar desnecessária, pois a despeito de resistências aqui e ali e de tentativas de apresentar candidaturas alternativas, não há disposição, interesse, força nem capacidade para reações.

E que não se culpe Henrique Alves ou Renan Calheiros por almejarem posições para as quais se exigiria o cumprimento estrito do manual da boa conduta. Ambos jogam para o futuro de suas carreiras nos Estados de origem, Rio Grande do Norte e Alagoas, territórios dominados e desprovidos de massa crítica.

O problema aí não é de quem pleiteia, mas de quem aceita de boa vontade e compactua com o pleito: governo e Congresso.

Ao Planalto pode até desconfortar o excesso de poder nas mãos do PMDB, partido de Alves e Calheiros. Mas, convenhamos, não desagrada que os dois eleitos sejam líderes feridos, sem a plenitude da credibilidade.

Já o Congresso não vota o Orçamento, defende mandatos de condenados, não examina vetos presidenciais, faz troça do instituto da CPI, deixa o governo pintar e bordar com medidas provisórias, debita na conta do contribuinte imposto de renda devido por suas excelências, só se mobiliza em defesa dos próprios privilégios, submete-se ao Executivo em troca de qualquer cafuné.

Sendo assim, nada de novo no front: Alves e Calheiros são comandantes à altura de um Parlamento em situação falimentar.

Fantasia chavista. Barack Obama tomou posse ontem de seu segundo mandato. Que diria o mundo se, doente, internado em outro país, o presidente dos Estados Unidos fosse considerado empossado em regime de continuidade com o aval da Suprema Corte sob a justificativa de que a norma constitucional é mera formalidade?

Uma sociedade adolescente - RODRIGO CONSTANTINO

O GLOBO - 22/01


O comunismo foi o sonho adolescente de intelectuais que pariu o pesadelo real de milhões de pessoas



Em meu último artigo tratei do lado moral da crise que os países desenvolvidos enfrentam. Algumas pessoas podem estranhar o foco, pois sou economista. Gostaria de lembrar que Adam Smith, antes de escrever sobre a riqueza das nações, escreveu "Teoria dos Sentimentos Morais". Debater o crescimento de 1% ou 2% do PIB pode ter sua relevância; mas economia é muito mais que isso.

Eis porque retorno ao tema da crise de valores, desta vez priorizando o caso latino-americano. Se Japão, Estados Unidos e Europa passam por um declínio moral, parece que a América Latina, em especial o "eixo do mal" bolivariano, sequer experimentou uma fase de maturidade. Estamos estagnados na era do infantilismo.

É por isso que recomendo a leitura de "A sociedade que não quer crescer", do argentino Sergio Sinay. O livro disseca os perigos do fenômeno que podemos observar facilmente no Brasil também: adultos que se negam a ser adultos. São os "adultescentes".

Como a Argentina parece estar em estágio mais avançado da patologia, os alertas de Sinay tornam-se ainda mais importantes. A Argentina pode ser o Brasil amanhã, o que é uma visão assustadora. Não só porque a presidente exagera no botox, mas porque a volta ao passado populista se dá a passos largos.

O autor faz a ligação entre essa postura infantil de boa parte da população e a anomia em que vive seu país, cada vez mais bagunçado e autoritário. É o que acontece quando os adultos preferem agir como adolescentes, no afã de postergar ao máximo a velhice.

Maturidade exige renúncia, sacrifício, responsabilidade e compromisso. Tudo aquilo que muitos adultos modernos fogem como o diabo foge da cruz. Talvez para aplacar sua angústia existencial, esses adultos desejam permanecer jovens para sempre, e agem como tal. São colegas de seus filhos, e delegam a responsabilidade de educá-los a terceiros. Confundem seus caprichos com direitos. Nas palavras do autor:

"Uma sociedade empenhada em permanecer adolescente vive no imediatismo, na fugacidade, nas rebeliões arbitrárias que a nada conduzem, na confrontação com as regras – com qualquer regra, pelo simples fato de existirem – no risco absurdo e inconsciente, na fuga das responsabilidades, na ilusão de ideais tão imprevistos como insustentáveis, na absurda luta contra as leis da realidade que obstruem seus desejos volúveis e ilusórios, na rejeição ao compromisso e ao esforço fecundo, na busca do prazer imediato, ainda que se tenha que chegar a ele através de atalhos, na confusão intelectual, na criação e adoração de ídolos vaidosos colocados sobre pedestais sem alicerces".

Impossível não pensar em Chávez, Morales, Corrêa, Kirchner e Lula. Ou ainda nos artistas e atletas famosos que levam vidas altamente questionáveis do ponto de vista ético, mas ainda assim viram heróis nacionais. Eis o exemplo que Sinay usa do lado argentino:

"Uma sociedade é adolescente quando carece de critérios para distinguir entre as habilidades futebolísticas de seu maior ídolo esportivo, Diego Maradona, e suas condutas irresponsáveis, sua ética duvidosa, seus valores acomodatícios; quando acredita que aquelas habilidades justificam tais ‘desvalores’ e quando, assim como um adolescente, os vê como um tributo invejável".

Não podemos ridicularizar nossos "hermanos" nesse ponto. Basta pensar nos nossos próprios heróis. Para sair do futebol, que tal Oscar Niemeyer? Os brasileiros não souberam separar seu talento artístico do restante, e criaram a imagem de um grande humanista abnegado. Um humanista que, como já abordei nesse espaço, adorava o maior assassino de todos os tempos: Joseph Stalin.

Mas a simples constatação de que não se pode ser um grande humanista e um defensor de Stalin ou Fidel Castro ao mesmo tempo, bastou para gerar reações histéricas: "Quem você pensa que é para falar do grande mestre?"

O colunista Zuenir Ventura também reagiu: "Algumas críticas ideológicas a Oscar Niemeyer depois de morto revelam, de tão iradas, que no Brasil foi fácil acabar com o comunismo. O difícil é acabar com o anticomunismo". Resta perguntar: e devemos acabar com a oposição a esta utopia que trucidou dezenas de milhões de inocentes?

O comunismo foi o sonho adolescente de intelectuais que pariu o pesadelo real de milhões de pessoas. Combatê-lo é um dever moral. Hoje ele se adaptou, mudou, mas ainda sobrevive como "socialismo bolivariano", com que muitos brasileiros flertam.

Até quando vamos viver em uma sociedade adolescente, que se recusa a amadurecer e deposita no "papai" governo uma fé messiânica?


Crescimento SSS - CELSO MING


O Estado de S.Paulo - 22/01


A presidente Dilma Rousseff se mostra fortemente interessada em liderar uma virada da economia depois desses dois anos de resultados medíocres - sobretudo em avanço do PIB e em controle da inflação. Sexta-feira, em São Julião (Piauí), avisou que "em 2013 teremos crescimento sério, sustentável e sistemático". Até parece admitir a ausência dessas três qualidades em 2012.

No entanto, não se pode negar, existe uma mudança de atitude no governo. Há, por exemplo, o novo impulso às concessões de obras e de delegação de administração pública - de rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e petróleo. Essa atitude contrasta com a disposição anterior, que via com desconfiança as parcerias com o setor privado.

Aparentemente ainda falta um bom despachante. As coisas emperram nos organismos encarregados de licenciamento ambiental e na Justiça. Isso demonstra que as regras do jogo nem sempre são claras e consistentes. Mas são problemas de conserto relativamente fácil.

Nada pode criar tanta insegurança paralisante quanto desarrumações nos fundamentos da economia. Não há nada de errado em derrubar substancialmente os juros e em desvalorizar a moeda. Mas esses movimentos têm de vir acompanhados por fortalecimento das contas públicas - algo que não vem acontecendo.

Se o objetivo é obter "um crescimento sério", a presidente Dilma não poderia permitir que pairasse sobre a administração da economia a suspeita de tapeação na condução das contas públicas. Durante meses seguidos, as autoridades da área econômica garantiram que o governo cumpriria um superávit de 3,1% do PIB (parcela da arrecadação para pagamento da dívida). Depois, não conseguiu dar conta do recado e aceitou que o secretário do Tesouro, Arno Augustin, apelasse para a tal contabilidade criativa e para a tricotagem de "relações incestuosas entre Tesouro, BNDES, Banco do Brasil e Caixa" - como observou o ex-ministro Delfim Netto. Essas manobras causam estrago incomensurável na confiança que se precisa ter no governo.

O Banco Central, por sua vez, nega certos passos que dá. Assegura que tem cumprido religiosamente a meta de inflação e que opera sua política monetária (política de juros) tão somente para empurrar a inflação para dentro da meta (de 4,5%). Mas todos veem que há problemas na condução da política monetária. Algo parecido acontece no câmbio. O Banco Central trabalha visivelmente a cotações praticamente fixas. E, no entanto, as autoridades continuam afirmando que a política de câmbio flutuante se mantém rigorosamente intocada.

Não haveria nada de errado nisso, desde que houvesse mais sinceridade e que as autoridades admitissem que, nas circunstâncias atuais, foi preciso ajustar as coisas de outra maneira.

Às vezes paira a impressão de que o governo Dilma não sabe nem onde errou nem por que não consegue entregar mais do que uma sucessão de pibinhos e inflação anual perto do teto da meta. Até agora, por exemplo, ninguém admitiu que a política que deu excessiva prioridade ao consumo pode ter sido equivocada, por ter descuidado do investimento.