quinta-feira, dezembro 05, 2013

Questão de confiança - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 05/12

O governo reconhece que alguma coisa do baixo desempenho da economia tem a ver com a falta de confiança, não só do empresário, mas até mesmo do consumidor.

Reconhece, por exemplo, quando reclama do pessimismo destilado pelos formadores de opinião, que contamina tudo, leva o empresário e o consumidor a adiar decisões e a pisar nos freios ou a não acelerar. No entanto, em vez de agir na direção correta para reverter esse estado negativista, a reação do governo acentua a decepção.

Não foram os analistas nem os formadores de opinião que criaram o ambiente de desânimo. Eles só refletem a percepção geral de que a economia está travada por erros de condução de administração e por seguidas trapalhadas perpetradas pelos responsáveis pela política econômica.

O governo contribui decisivamente para o alastramento do pessimismo quando, por exemplo, nega a existência de problemas, insiste em tapar o sol com peneira e segue proclamando projeções irrealistas quanto ao futuro da economia. Mês após mês, trimestre após trimestre, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, por exemplo, segue anunciando a grande virada. Começou, por exemplo, cada um dos últimos três anos prometendo um crescimento do PIB superior a 4%. Em setembro deste ano anunciou um plano estratégico que garantia um avanço do PIB de 4% de 2013 a 2022. Quando as primeiras projeções apontavam para um fiasco em 2012, Mantega apressou-se a afirmar que "isso é uma piada". No fim, ninguém riu, porque o resultado foi o fiasco já conhecido.

A equipe econômica vem sendo sempre surpreendida, e isso sugere que não tem rumo. O desempenho do PIB, a inflação, o rombo nas contas externas, o comportamento das contas públicas e tanta coisa mais ficam sempre abaixo do projetado. Há nove dias, por exemplo, a presidente Dilma anunciou ao jornal El País que o crescimento de 2012 seria revisto de 0,9% para 1,5%. Os novos números divulgados terça-feira mostraram que não passou de 1,0%. Ou seja, a presidente estava desinformada ou mal assessorada, o que passa uma ideia de leviandade na administração da economia.

Há pouco mais de um mês, o ministro Mantega não soube explicar por que as despesas com seguro-desemprego saltaram para R$ 47 bilhões neste ano de emprego recorde. Atribuiu a anomalia a fraudes, no que foi prontamente desmentido pelo Ministério do Trabalho.

Qualquer análise independente sobre o comportamento deste governo identifica nele graves erros de diagnóstico e de estratégia, como a ênfase excessiva dada até recentemente ao consumo que apenas tardiamente começa a ser corrigida e a derrubada prematura dos juros básicos. Identifica também excesso de intervenção nas forças do mercado, má vontade com os interesses do setor privado e a renitente propensão a tomar medidas pontuais e provisórias (política dos puxadinhos).

Aos desencontros e trapalhadas, o governo reage com parlapatices, como se prevalecesse a ordem geral do "engane, diga qualquer coisa, que sempre alguém vai acreditar".

As justificativas e explicações para os resultados frustrantes causam ainda mais frustração porque nunca reconhecem a existência de problemas e nunca apontam para uma convincente mudança de rumos.

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