quarta-feira, dezembro 25, 2013

O papa e o Natal: oportunidade de renascimento - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 25/12
Um dos significados do dia de hoje é o da renovação. E é importante lembrar o conceito, que acompanha escolha importante ocorrida este ano, exatamente do ponto de vista religioso. O conclave que indicou Jorge Mario Bergoglio o 266º papa da Igreja Católica provocou certa apreensão. Primeiro, pelo ineditismo de o pontífice não ser originário do Velho Mundo. Depois, pela suposta ligação dele com a ditadura argentina. As atitudes do latino-americano, porém, mostraram que os receios eram infundados.
Ao escolher o nome de Francisco, o santo dos pobres, Bergoglio indicou que a palavra humildade poderia sair do dicionário cristão para tomar o mundo de forma real. Por seu lado, entrevistas como a do Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivez deram testemunho de que o argentino sempre foi crítico contumaz do sangrento regime militar no país (1966-1973) - mesmo que não o tenha dito abertamente, e em outras oportunidades criticasse a Teologia da Libertação, de fundo marxista.

Em seus primeiros dias de pontificado, Francisco fez renúncias. Deixou de lado o palácio antes ocupado por outros papas; passou a almoçar com trabalhadores comuns e padres no refeitório do Vaticano; pegou o mesmo ônibus que os cardeais após o conclave que o elegeu herdeiro do trono de Pedro. Em seu aniversário de 77 anos, no último dia 17, saiu para comemorar com os pobres.

O papa argentino tampouco limitou os discursos a uma doutrina amorosa para os fiéis. Cobrou dos religiosos postura menos cheia de clericalismo. Demitiu quem estava envolvido com escândalos no Banco do Vaticano. Adotou postura menos punitiva ao tratar de homossexualidade. Para muitos, porém, ainda faltam ações mais drásticas contra os pedófilos dentro da Igreja Católica.

Não é possível dizer que elas não virão. Afinal, outro discurso que sempre deixa os mais conservadores apreensivos tem sido constantemente lembrado por Francisco: o diálogo ecumênico. João Paulo II havia indicado o caminho da tão dogmática Igreja Católica ao visitar sinagogas e mesquitas. Bergoglio está a um passo de repetir as atitudes e, acima de tudo, avançar no assunto.

Em 28 de junho, em discurso ao Patriarcado de Constantinopla, igreja ortodoxa criada a partir do cisma com a irmã católica, o argentino foi enfático: "Não devemos ter medo do encontro e do verdadeiro diálogo. Isso não nos afasta da verdade; em vez disso, através de uma troca de dons, nos conduz, sob a orientação do Espírito da verdade, à toda a verdade".

A virtude, no caso, não está em fazer bela palestra positiva para esta ou aquela religião. Mas pedir sensatez e diálogo aos próprios católicos romanos. "É belo pedir ao Senhor Jesus esta graça: que nos envie o seu espírito de inteligência, a fim de que não tenhamos um pensamento frágil, um pensamento uniforme, mas um pensamento que brota da alma, do coração e que dá o verdadeiro sentido dos sinais dos tempos." A homilia, em 29 de novembro último, revela que, no primeiro Natal do novo papa, o pedido é de renascimento, de renovação.

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