domingo, dezembro 08, 2013

Gestão no futebol caminha para a modernização - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 08/12

Reivindicações de jogadores contribuem para o debate de ideias, mas calendário deve contemplar também as necessidades dos clubes de cumprir suas obrigações



Por longos anos, o futebol brasileiro foi ao mesmo tempo algoz e vítima de sua falta de organização. Se em campo os craques garantiram para o país papel de destaque no ranking das seleções, fora dos gramados a mistura de gestão ineficiente, interesses políticos, clubísticos ou pessoais, calendários que na verdade eram peças de ficção e falta de compromisso com a necessária profissionalização tornaram-se sério (e crônico) entrave à formação de um modelo que correspondesse administrativamente à força do esporte mais popular do país.

Em alguns aspectos, pontuais, este perfil ainda preocupa. Há, em clubes e federações, focos de resistência à modernização gerencial, que entravam a adoção, no futebol do país, de estruturas de gestão semelhantes às de bem-sucedidos modelos de praças mais avançadas, nas quais o esporte é sinônimo de organização, lazer e dividendos para atletas, agremiações e entidades. Mas muita coisa já mudou, aos poucos o arcaísmo vai sendo suplantado, graças a calendários mais bem ajustados, investimentos na melhoria de estádios, cobrança de ajustes na administração de clubes etc.

Neste sentido, boa parte das sugestões feitas pelos jogadores reunidos no movimento Bom Senso F.C. — algumas, inclusive, já parcialmente atendidas, ou em vias de serem implementadas — constitui importante contribuição ao debate de ideias sobre a questão. Uma das principais reivindicações do grupo diz respeito à adoção de um calendário mais enxuto, de modo a adequar competições regionais (campeonatos estaduais), nacionais (Brasileirão, Copa do Brasil) e internacionais (Libertadores, Sul Americana) a um período de atividades que deixe de sobrecarregar os atletas.

É o caso da proposta de acabar com jogos oficiais em janeiro, aumentando a pré-temporada, providência essencial para que os jogadores possam se preparar para enfrentar a maratona de jogos. Já se reduziu também, para algo próximo do que vigora na Europa, o número de partidas numa temporada. É possível enxugar mais o calendário, porém é claro que um time que chega à fase final de Libertadores, Sul Americana ou Copa do Brasil, acumulando com a participação no Brasileiro, acaba disputando mais partidas. Exceções precisam ser tratadas como tal.

É preciso ter o cuidado de preservar (antes, recuperar) a saúde financeira dos clubes. A chave é não prejudicar a capacidade das agremiações de gerar receita, até para pagar os bons salários dos jogadores. A discussão deve levar em conta, inclusive, a atipicidade de 2014, um ano de Copa do Mundo no Brasil, em que todo o calendário ficará subordinado à prevalência das datas da competição sobre qualquer outra atividade nos campos.

A urgência de encontrar respostas para as demandas também não pode atropelar normas. Há, por exemplo, prazos estabelecidos pelo Estatuto do Torcedor para a implantação de alterações em calendários, torneios etc. Isso é irrecorrível. O crucial é que todos os lados envolvidos na questão joguem como um time. Assim, ganha o futebol.

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