sexta-feira, dezembro 13, 2013

A era do consumo murcha - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 13/12

Apesar do ritmo ainda bom, comércio cresce no ritmo mais lento em quase uma década


AS VENDAS DO comércio não cresciam tão pouco desde junho de 2004, quando o país se recuperava da recessão de 2003, primeiro ano de Lula 1. É o que se depreende da pesquisa mensal de comércio do IBGE, relativa a outubro e divulgada ontem.

A receita do varejo cresce cada vez mais devagar porque basicamente acompanha a variação da massa salarial (total dos salários pagos), que também desacelera (levando em conta as variações em 12 meses).

Neste século, houve momentos em que a variação do consumo se descolou da variação do total dos salários, como entre o início de 2007 e o início de 2009, por aí.

Nesse período, as vendas do comércio subiam ainda mais rápido, e a massa dos salários desacelerava.

Como isso era possível? Crédito. O total dos empréstimos para pessoas físicas chegou a crescer a mais de 25% ao ano em meados de 2008, em termos reais (descontada a inflação). Agora, em outubro de 2013, crescia a 10%. Não é um ritmo de jogar fora, embora ritmo ditado pelo governo, que turbinou o crédito por meio dos bancos estatais.

A expansão do consumo é baixa?

Não. Apesar de desacelerar, as vendas do varejo estão crescendo a 4,5% (nos últimos 12 meses). Em dezembro, cresciam a 8,4% ao ano. Entre 2004 e 2012, em torno de 7%.

O salário médio sobe menos?

Sim. Cresce no ritmo mais fraco desde meados de 2006, desconsiderado o período de recuperação da recessão de 2009. Mas ainda cresce, acima da inflação.

Acontece mais ou menos a mesma coisa com a população empregada, que ainda aumenta, mas mais devagarzinho.

Neste ano, em particular, o crescimento da população ocupada desacelerou continuamente. Além do mais, há menos gente empregável e/ou interessada em trabalhar.

Por que o crédito cresce menos?

Porque as famílias ficaram mais endividadas. De resto, como a renda anda crescendo mais devagar, o espaço no orçamento para novas dívidas fica menos folgado. Por fim, em parte decorrência dos dois motivos anteriores, os bancos estão menos dispostos a emprestar. Em suma, os bancos, em especial os privados, jogaram mais na retranca por causa do aumento da inadimplência e devido às perspectivas de crescimento econômico mais fracas.

O que vai nos parágrafos acima é uma descrição breve dos motivos mais imediatos da ascensão e queda do "modelo" de crescimento brasileiro neste século.

O crédito vai crescer mais rapidamente no ano que vem?

Segundo os economistas dos próprios bancos, não (o dado saiu ontem numa pesquisa da Febraban).

O desemprego vai aumentar no ano que vem?

Segundo a média das previsões, não, ou muito pouco. Mas a população ocupada vai continuar a crescer mais devagar, assim como os salários, que ficaram relativamente altos, dado o nível de produtividade.

O consumo vai crescer mais rápido no ano que vem?

Há alguma controvérsia nas previsões. Mas não deve crescer muito mais do que neste ano.

O Brasil pode voltar a crescer no mesmo padrão da década passada?

Difícil o crédito e consumo crescerem tão rápido de novo; é impossível que o nível de emprego cresça tão rapidamente. O país precisará investir mais e ser mais produtivo para crescer a 4%. Vai levar algum tempo para isso acontecer de novo.

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