terça-feira, novembro 26, 2013

Retratos do Brasil na prisão de mensaleiros - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 26/11
O escândalo do mensalão gera desdobramentos extraordinários desde a entrevista do então deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) à Folha de S.Paulo , em 2005, na qual ele denunciou o esquema de compra literal de apoio político e parlamentar ao governo Lula.
Beneficiário daquela obra de engenharia financeira da baixa política projetada em altos escalões do primeiro governo petista, Jefferson viria a ser um dos condenados no processo que inicialmente arrolou 40 mensaleiros, um fato inédito na mais que centenária história da República brasileira.

E o ineditismo não parou por aí. Como nunca houve um banco de réus VIPs tão amplo, a história da Justiça nacional não aconselhava qualquer otimismo quanto a condenações. Pois aconteceu o oposto.

Apesar de todas as possibilidades de recursos protelatórios permitidos pela legislação - à disposição de alguns dos melhores e mais bem remunerados advogados do país -, ilustres terminaram condenados à prisão, outro fato pouco visto na vida pública. E neste sentido importa menos se o regime da pena é ou não de cárcere fechado do que o veredicto que pune poderosos, importante por si.

Expedidos, durante o feriadão da semana passada, os primeiros 12 mandados de prisão de mensaleiros condenados por corrupção, o processo do mensalão passou a gerar excentricidades. Como o primeiro escalão petista apanhado neste primeiro arrastão judicial se autodeclarar prisioneiro político . Não passa de reação risível, sob encomenda para militantes sectários, o ex-ministro José Dirceu, o deputado e ex-presidente do PT José Genoino e o tesoureiro petista Delúbio Soares se considerarem presos políticos devido à sentença de um Supremo tribunal Federal composto, em sua maioria, por ministros indicados pelos governos companheiros de Lula e Dilma Rousseff, e num processo que transcorre há seis anos, com o exercício de amplos direitos de defesa. Neste caso, Marcos Valério também seria um perseguido do regime? Bizarro. A reação dos petistas, coreografada por gestos de punhos cerrados como revolucionários de gibi, da primeira metade do século XX, denuncia uma faceta de uma certa esquerda brasileira - a de viver do passado. Já inaceitáveis privilégios com que os prisioneiros petistas têm sido tratados na Papuda, em Brasília, denunciam outra faceta: a do Brasil arcaico, aristocrático até a medula, do você sabe com quem está falando? . Deste Brasil, Dirceu, Genoino e Delúbio também fazem parte. Eles são mais iguais que os prisioneiros comuns - entre eles, cardíacos, com certeza - cujo sistema de visita é espartano, em contraste com o regime de portas constantemente abertas que tem valido para as personalidades petistas condenadas.

O velho Brasil das elites - ironicamente tão enxovalhadas por facções do PT - está expresso em cores fortes nos acontecimentos em torno das primeiras prisões de mensaleiros.

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