quinta-feira, outubro 10, 2013

O grande trunfo - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 10/10

Em todas as rodas do Congresso que discutem política o tema recorrente é a nova aliança entre Marina Silva e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, pré-candidato do PSB à Presidência da República. E há uma razão básica para isso: os dois juntos hoje formam uma dupla praticamente inatacável pelos adversários. Do ponto de vista estratégico, nem o PT de Lula e Dilma Rousseff nem o PSDB de Aécio Neves e José Serra podem se dar ao luxo de bater neles. Daí, a perspectiva de uma eleição de gigantes, muito além do “jogo dos anões” vislumbrado pelo marqueteiro João Santana que, por sinal, terá que se desdobrar para enfrentar antigos aliados de Lula.

No caso do PT, a impossibilidade de ataque vai além do embate político atual. Tanto Marina quanto Eduardo são frutos do processo político resultante do governo Lula. Marina, por exemplo, já foi tratada como “Lula de saias”. Eduardo, por sua vez, foi fundamental no momento em que o presidente enfrentou o processo do mensalão na pré-campanha pela reeleição, em 2006. O máximo que Lula pode dizer é que Eduardo está indo com muita sede ao pote, que Marina não tinha nada que ter brigado e por aí vai. Mas ele sabe que eles têm a legitimidade de defesa do governo Lula, daí a dificuldade de ataque.

O PSDB também evitará ataques por causa de um raciocínio diametralmente oposto. No papel de candidato a presidente da República, o senador Aécio Neves poderia até dizer que Eduardo e Marina são cópias melhoradas do governo Dilma, pois também são crias de Lula. Mas não o fará por um único motivo: O PSDB também pleiteia a vaga no segundo turno e, sendo assim, não baterá em quem pode virar um potencial aliado.

Nesse jogo, fica cada vez mais claro que os embates ferrenhos daqui para frente não se darão entre potenciais candidatos. A briga para valer terá como palco os estados, onde os adversários dessa nova construção política tratam de semear a discórdia no ambiente de Eduardo e Marina. Não faltaram deputados e senadores para dizer a José Antônio Reguffe, do Distrito Federal, que ele tem mais é que insistir na candidatura própria ao governo, ainda que se afaste do senador Rodrigo Rollemberg. Reguffe, até onde se sabe, não mordeu a isca. Tem dito apenas que prefere esperar para ver o que acontecerá lá na frente.

Enquanto isso, no Planalto...
A presidente Dilma Rousseff está ciente desses detalhes. Tanto é que já orientou o marqueteiro João Santana a deixar de lado adversários futuros, evitar entrevistas arrogantes e manter o trabalho focado nos resultados do governo. Ela não está brincando quando diz que qualquer sucesso eleitoral passa antes por realizações de projetos governamentais e pelo bom desempenho da economia. E, até aqui, pelo menos no que se refere à economia, o Copom sinaliza aumento de juros e, em termos de infraestrutura, as obras que parecem caminhar em maior velocidade são as dos estádios da Copa do Mundo.
Paralelamente à governança, a presidente avalia a reforma ministerial de dezembro. Já está praticamente definido que o Ministério de Portos ficará com o Ceará de Ciro e Cid Gomes. Ainda que a indicação seja técnica deverá ter o aval deles. O mesmo ocorrerá no caso dos outros 11 ministérios incluídos na reforma. A ordem com a consulta aos partidos é evitar que Eduardo Campos e Aécio Neves arrebanhem insatisfeitos com as mudanças no primeiro escalão.

E em São Paulo...
Enquanto Dilma trabalha com a reforma e a economia, Eduardo trata de seu programa. Hoje, ele se reúne com os economistas que apoiaram Marina Silva, André Lara Rezende e Guilherme Leal, da Natura. Começa aí a montagem do projeto de economia sustentável para apresentar em 2014. Aécio cuidou do tema em sua viagem a Nova York. É 2014 em plena avenida nessa reta final de 2013.

E por falar em 2013...
Muita gente estranhou a falta de um discurso da presidente Dilma Rousseff na cerimônia de comemoração dos 25 anos da Constituição de 1988, ontem na Câmara. Mas era para ser assim mesmo. Não estava previsto pelo cerimonial. Foi, aliás, o único momento de paz do parlamento nos últimos tempos. Tão logo terminou a solenidade, voltaram as rusgas em torno do Mais Médicos, do orçamento impositivo e da luta pelos cargos no governo, conflitos, que, sinceramente, ainda vão ocupar muitas páginas de jornal.

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