sábado, outubro 12, 2013

Mais mobilidade - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 12/10

Além de priorizar transporte público coletivo, São Paulo precisa reorientar seu desenvolvimento e desestimular uso de carros


Quando se trata de debater soluções para o trânsito das grandes cidades, especialistas em gestão urbana tendem a estar de acordo quanto a dois pontos. Primeiro: deve ser dada prioridade ao transporte público coletivo. Segundo: apenas essa medida não basta.

Pequim é um bom exemplo. A capital chinesa conta com 440 km de metrô, a maior parte dos quais construídos em anos recentes (São Paulo tem 74 km). Sem regular o uso do automóvel, porém, os cerca de 11 milhões de habitantes da cidade deslocam-se em ruas congestionadas e poluídas.

Ainda seria insuficiente impor restrições para os carros. Rodízio de veículos tem certo prazo de duração --seus efeitos em São Paulo, por exemplo, estão esgotados. Um sistema de pedágio urbano também precisa ser criado, mas sua implementação tampouco resolve todos os problemas.

Durante o Fórum de Mobilidade Urbana, organizado por esta Folha, em São Paulo, foi consensual a opinião de que, além dessas iniciativas, é preciso haver uma gestão eficiente da ocupação territorial. Trata-se de organizar a cidade de forma mais compacta, reduzindo a distância entre casa, comércio e trabalho, sem descuidar de ciclovias e calçadas amplas.

O diagnóstico já se repete há algumas administrações estaduais e municipais de São Paulo, e tanto o governador Geraldo Alckmin (PSDB) quanto o prefeito Fernando Haddad (PT), que participaram do fórum, concordam com a avaliação. Mas, em quase todos esses aspectos, o desenvolvimento da cidade tem escolhido caminho diverso.

Tome-se o centro de São Paulo, região em tese adequada para incentivar o adensamento populacional, por já dispor de ampla infraestrutura e oferta de empregos.

Os sucessivos planos de revitalização não tiveram os resultados esperados. Suas ruas, deterioradas, ficam desertas à noite. A Sala São Paulo, em edifício restaurado, se transformou numa espécie de "bunker", aonde a maioria dos frequentadores chega de carro.

Além de políticas mal executadas, normas municipais estão na contramão do que seria desejável. Em várias metrópoles do mundo, como Nova York, o uso do carro é desestimulado em certas regiões. A descabida legislação paulistana exige um número mínimo de vagas de garagem mesmo em prédios ao lado do metrô, e ruas comerciais muitas vezes têm uma faixa transformada em estacionamento.

O problema é antigo, mas não só. Nos últimos dias, foi aprovado um empreendimento comercial na marginal do rio Pinheiros. Com tamanho equivalente a cerca de três estádios do Pacaembu, terá grande impacto no trânsito local, já difícil. Solução? Construção de mais três faixas para carros.

Melhorar a mobilidade urbana leva tempo. Por isso mesmo, governo e prefeitura precisam, o quanto antes, dar ao tema a atenção que ele merece --na prática, e não só em exposições teóricas.

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