segunda-feira, outubro 07, 2013

Luz vermelha na academia - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 07/10
A queda da Universidade de São Paulo (USP) no principal ranking internacional deve ser encarada como alerta vermelho para o país. Em um ano, a instituição paulista passou do 158º lugar para compor um grupo que vai do 226º ao 250º. Perder pelo menos 68 posições no Times Higher Education (THE) tira o Brasil da relação dos 200 melhores do mundo.
Seis itens compõem os critérios de avaliação - ensino (30%), pesquisa (30%), citações (30%), internacionalização (7,5%) e dinheiro externo (2,5%). Os que mais pesaram no baque foram dois - enquete de reputação e impacto da pesquisa produzida. O primeiro, resultado de questionários enviados a acadêmicos dos cinco continentes, é contaminado, sem dúvida, por certa subjetividade. O segundo, porém, oferece dados objetivos que permitem repensar rumos.

O impacto da pesquisa é emblemático. Mostra os dois lados da moeda. Num, o esforço para aumentar a produção de artigos. O Brasil ocupa o prestigiado 13º lugar entre as nações que disputam espaço na divulgação de conhecimento. Noutro, a qualidade do saber levado à comunidade internacional. O baixo número de citações demonstra o óbvio - quantidade não significa excelência.

Um fato deve ser lembrado. Muitos textos, escritos em português, limitam o número de leitores. A língua de Camões e Machado, falada por 240 milhões de pessoas, não goza de prestígio na comunidade científica. Mais: a USP, como a maior parte das universidades brasileiras, negligenciou a internacionalização. Sem oferecer cursos em inglês - tendência crescente no mundo globalizado - fica duplamente marginalizada: pelo idioma (que restringe o intercâmbio) e pela localização distante dos grandes centros.

O rebaixamento, como não poderia ser diferente, cobra preço alto do país. De um lado, compromete a imagem das universidades brasileiras no exterior. Vale lembrar, a propósito, que a Unicamp também caiu no ranking. Em 2012, figurava entre a 251ª e a 275ª posição. Neste ano, ficou entre a 301ª e 350ª. De outro, põe em xeque a produção intelectual dos acadêmicos nacionais. Se eles publicam muito, mas não são citados, parece formarem um clube verde-amarelo.

Generalizar é injusto. Talvez seja o caso de o Brasil ser mais seletivo. Em vez de atirar a esmo, focar os alvos nos quais sobressai. É o caso das ciências biológicas, área em que o país figura entre os 100 melhores do planeta. No mundo globalizado não basta ser bom. Impõe-se ser melhor que os outros. Para ter chance na disputa, falar a língua geral constitui pré-requisito. Sem atendê-lo, as universidades protagonizam diálogo de mudos.

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