quinta-feira, outubro 31, 2013

Isolar o risco - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 31/10

Eike Batista vergou por seus próprios erros, mas há muito a aprender com o sinistro, como disse aqui ontem. Com a entrada da OGX em recuperação judicial, há grandes riscos para a OSX. As duas irmãs siamesas brigavam ontem em torno do tamanho das dívidas da OGX junto à OSX, mas o fato é que o estaleiro foi criado para fornecer à petrolífera e não recebeu pelos seus serviços.

O evento revela uma falha geral. Ontem, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) disse que limitaria o uso da mídia social pelas empresas de capital aberto. O argumento é que Eike era muito ativo nessas redes. Não é o uso do twitter o problema. O realmente irregular, e deveria ter tido atenção da CVM, foram suas declarações sobre a potencialidade dos campos petrolíferos que meses depois foram declarados improdutivos.

Eike fez projeções públicas que não se confirmaram. Houve furo de menos para afirmações demais sobre as potencialidades dos blocos prospectados. Era ali que ele deveria ter sido punido.

O mercado errou redondamente e não se pode dizer que entrou na euforia por engano. Ingenuidade não é o forte do mercado. Aquele clima de euforia foi muito bem aproveitado na especulação que levou à valorização excessiva. Quem vendeu na alta ganhou muito dinheiro.

Faltou ao governo conhecimento de como funciona o mundo dos negócios. Empresas que crescem com base em excessiva alavancagem e tendo uma expectativa de receita incerta e demorada são candidatas a terem problemas, mas o governo o apontou como exemplo.

Felizmente algumas empresas foram isoladas do desastre através da venda de ativos para grupos estrangeiros.

Assim, entraram novos acionistas nas era-presas de energia, mineração e logística.

Elas não estão blindadas, mas não estão tão perto do contágio quanto a OSX.

Os bancos públicos devem vir à público — principalmente o BNDES, que é financiado com endividamento do Tesouro — e informar o grau de sua exposição, o tamanho dos empréstimos, o percentual de suas participações e por quanto essas ações foram compradas e quanto valem hoje.

! A lição que fica é que não é criando um símbolo, um campeão nacional, um acumulador de riqueza que se incentiva o avanço do capitalismo brasileiro. Quem não tinha aprendido isso nos desastres dos I anos 1970 tem no momento atual uma segunda i chance de aprendizado. Mas há pessoas que, mesmo diante dos fatos, permanecem agarradas às suas ideologias. Tudo bem se isso não tem custo para | o Tesouro, mas quando tem, é diferente.

O maior erro foi do empresário, ao montar sua pirâmide de empresas. O excesso de otimismo é mais nocivo que o pessimismo. O pessimismo faz com que a empresa perca chances; o otimismo sem base de sustentação fomenta bolhas, nas quais o grande perdedor é o pequeno investidor. O realismo é a melhor forma de se crescer na economia.

É uma história triste para o Brasil. Eike continua com sua fortuna. Tem participações nas empresas que estão hoje com novos controladores e tem patrimônio pessoal nada desprezível. O país tem mais a perder. Porque isso pode ser somado a outras más notícias e levar investidores a quererem distância do Brasil ou financiadores a cobrarem mais nas captações de outras empresas brasileiras.

Por isso é importante isolar o evento e mostrar que foi um estilo de fazer negócios que naufragou, e não é o aumento do risco de fazer negócios no Brasil. No entanto, a queda de Eike traz danos à imagem do país. A melhor resposta é focar, ainda que tarde, na agenda de aumentar a eficiência e competitividade da economia para superar o desgaste que o evento nos traz. 

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