sexta-feira, setembro 13, 2013

Operação Esopo mostra mais do mesmo - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 13/09
É adequado chamar de Operação Esopo a desarticulação de esquema que atua no Ministério do Trabalho (MT). O nome remete ao intelectual grego que viveu cinco séculos antes de Cristo. As fábulas por ele contadas se perpetuam através dos tempos graças à universalidade das situações e dos ensinamentos que transmitem. Passam-se os anos, mas as histórias se mantêm atuais geração após geração.

A capacidade de permanência é o elo entre o autor do lobo com pelo de cordeiro e as fraudes que se repetem na Esplanada. Em 2011, veio à luz a montagem de organização criminosa de desvio de recursos públicos no MT. ONGs recebem verbas governamentais para levar avante projetos aptos a beneficiar determinados segmentos da população. Abre-se, então, ralo de boca larga e apetite incontrolável cujo trajeto se desvia do originalmente proposto.

Apenas este ano, R$ 3,7 bilhões saíram dos cofres federais e foram parar em entidades privadas sem fins lucrativos. Fiscalizar o caminho do dinheiro repassado seria a lógica elementar de qualquer instituição. Não é, porém, o que ocorre. Alega-se, acima de tudo, a descentralização do processo. União, estados e municípios firmam convênios com entidades não necessariamente idôneas. Sem mecanismos de fiscalização e sem profissionais qualificados para rastrear a aplicação do dinheiro, desconhecem o resultado do processo.

O mais recente esquema desbaratado pela Polícia Federal refere-se ao Projovem Trabalhador. O programa visa preparar o jovem para o mercado de trabalho formal ou para ocupações alternativas geradoras de renda. O alvo são rapazes e moças de baixa renda com idade entre 18 e 29 anos. Com previsão de 350 horas/aula, o curso deveria abrir portas para oportunidades de trabalho, negócios e inserção social.

Observa-se, porém, enorme fosso entre o ideal e a realidade. O hiato tem nome: é corrupção. A Operação Esopo mostra, mais uma vez, que a malversação dos recursos públicos não constitui acidente, mas projeto cuidadosamente arquitetado para beneficiar pessoas ou partidos. A finalidade social entra na trama para ocultar o objetivo que originou e deu curso à estratégia.

Como mostrou o Correio na terça-feira, o Instituto Mundial de Desenvolvimento e da Cidadania (IMDC), alvo da Polícia Federal, recebeu, desde 2007, R$ 12,9 milhões de cinco ministérios da Esplanada para executar atividades diversas. Algumas pastas cobram a devolução de parte dos recursos porque irregularidades foram encontradas nas prestações de contas apresentadas pela entidade.

 Na fábula vivida por personagens do Ministério do Trabalho com ramificações em 12 unidades da Federação, não há cordeiros. Lobos e raposas se locupletam para abocanhar o futuro de geração de jovens brasileiros que precisam do Estado para interromper o círculo de perpetuação da pobreza. Até quando?

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